Vitam Hidrorodrigo

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VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS*

Introdução
Em 1911, Casimir Funk isolou um composto cristalino do material extraído da casca do
arroz, utilizado para curar uma doença de pombos denominada polineurite. A este composto deu
o nome de vitamina em virtude de ser considerada uma substância vital e possuir a característica
química de amina. Esta vitamina, hoje em dia denominada vitamina B1, foi apenas a primeira de
uma série de 13 compostos que se descobriu que os seres humanos e muitos animais não são
capazes de sintetizar, sendo indispensáveis na alimentação, mesmo que em doses diminutas,
para garantir a realização de várias reações bioquímicas, além de serem agentes de patologias
diversas quando há uma carência nutricional (VIEIRA, 2003).

Vitaminas são compostos orgânicos não relacionados quimicamente, que não podem ser
sintetizados pelos humanos e animais e, portanto devem ser supridos pela dieta. As vitaminas
são requeridas para a execução de funções celulares específicas (CHAMPE, 2006).

Estas moléculas servem para as mesmas funções em quase todas as formas de vida, mas os
animais superiores perderam a capacidade de sintetizá-las no decorrer da evolução. As vias de
biossíntese de vitaminas podem ser complexas; assim, é biologicamente mais eficiente ingerir
vitaminas do que sintetizar as enzimas necessárias para construí-las a partir de moléculas
simples. Esta eficiência tem o custo da dependência de outros organismos para substâncias
essenciais à vida (STRYER, 2004).

Popularmente, as vitaminas são conhecidas como compostos energéticos e sinônimo de


saúde e vigor físico. Independente de seu caráter obrigatório na alimentação. Deve-se esclarecer
que as vitaminas atuam principalmente como cofatores de reações bioquímicas e não como
substrato das reações (VIEIRA, 2003).

Apesar algumas possuírem papel fundamental no processo de estabilização de radicais livres


(vitaminas C, E e A), logo importantes como atenuantes do processo de envelhecimento celular
e os processos relacionados aos radicais livres, a maioria das vitaminas possui ação terapêutica
inespecífica a sua ação biológica (VIEIRA, 2003).

Muitas vitaminas são nutrientes essenciais. Deficiências de vitaminas levam a síndromes


clínicas específicas. Elas podem ser causadas por desnutrição ou se manifestarem durante
doenças. Elas estão intimamente ligadas às síndromes de má absorção e podem também ocorrer
como resultado de complicações de problemas no trato gastrointestinal (BAYNES, 2010).

* Seminário apresentado pelo aluno RODRIGO SCHALLENBERGER GONÇALVES na disciplina


BIOQUÍMICA DO TECIDO ANIMAL, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2013. Professor responsável pela
disciplina: Félix H. D. González
As hipovitaminoses em geral podem ser resultantes de nutrição inadequada ou
desequilibrada; todavia, o organismo animal pode requerer maior quantidade de vitaminas em
situações especiais, como ocorrem durante o crescimento, lactação, infecções, distúrbios de
absorção por alterações do trato gastrointestinal, destruição da flora intestinal por antibióticos,
estados de convalescença, aumento de esforços físicos, estresse induzido pelo manejo ou pela
administração de medicamentos e outras condições (SPINOSA, 2006).

Reconhecidamente indispensáveis como importantes fatores nutricionais, as vitaminas


também têm aplicações médico-veterinário relevantes para fins terapêuticos específicos,
prevenindo ou eliminando as condições de hipovitaminoses que podem ocorrer nos animais
(SPINOSA, 2006).

A maioria das vitaminas age como coenzimas, por exemplo, a riboflavina nas reações de
oxidorredutase e a biotina nas reações de carboxilação. As vitaminas são classificadas em
lipossolúveis e hidrossolúveis. As hidrossolúveis são as vitaminas B1, B2, B5, B6, B12, folato,
biotina e vitamina C (BAYNES, 2010). Em medicina veterinária são citadas como vitaminas
hidrossolúveis as vitaminas C, B1, B2, B6, B12, ácido pantotênico, ácido fólico, niacina, colina e
biotina (SPINOSA, 2006).

As coenzimas são geralmente derivadas de alguma vitamina hidrossolúvel, principalmente


do complexo B. Normalmente atuam como transportadoras intermediárias de grupos funcionais,
átomos, ou elétrons. A coenzima incorporadora à estrutura da enzima recebe o nome de grupo
prostético (GONZÁLEZ, 2006).

Com exceção da vitamina C, todas as vitaminas hidrossolúveis podem ser agrupadas juntas
sob o nome de complexo B. Além disso, têm sido identificadas certas substâncias tipo-vitamina
que, embora não sejam classificadas como vitaminas verdadeiras, possuem as características
destas e são agrupadas dentro do complexo B. Entretanto as funções biológicas destas
substâncias ainda carecem de investigação (SPINOSA, 2006).

Dentre as substâncias tipo-vitamina, podem ser citadas: carnitina (vitamina BT), amigdalina
(vitamina B17), ácido pangâmico (vitamina B15), ácido orótico (vitamina B13), ácido lipóico,
ácido para-aminobenzóico (PABA), coenzima-Q (ubiquinona), inositol e bioflavonóides
(SPINOSA, 2006).

As vitaminas hidrossolúveis são solúveis em compostos polares. Estas têm menos problemas
na absorção e transporte. Não podem ser armazenadas, exceto no sentido geral de saturação
tecidual. As vitaminas B funcionam principalmente como coenzimas no metabolismo celular. A
vitamina C é um agente estrutural vital. As vitaminas hidrossolúveis são solúveis em água, são
difíceis de armazenar porque o excesso é eliminado pela urina. Essas substâncias são solúveis
no plasma sanguíneo e por isso não necessitam de compostos carregadores (BORGES, 2011).

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Embora sejam consideradas não tóxicas, algumas vitaminas hidrossolúveis mostraram, em
experimentos realizados com camundongos, efeitos sobre o desenvolvimento embrionário. A
vitamina C, por exemplo, inibiu este desenvolvimento mesmo em baixas concentrações, ao
passo que a vitamina B2 e a niacina o inibiram em altas concentrações, e outras vitaminas
hidrossolúveis não o alteram (SPINOSA, 2006).

Também se demonstrou que o diabetes experimental em ratos causou depressão nos níveis
de vitaminas hidrossolúveis em vários tecidos, principalmente de vitamina B1 e B6, ácido fólico,
niacina e ácido pantotênico, quando comparado com os ratos do grupo controle (SPINOSA,
2006).

Com exceção da vitamina B12, o corpo não possui capacidade de armazenar as vitaminas
hidrossolúveis. Consequentemente, todas as vitaminas hidrossolúveis devem ser regularmente
obtidas através da dieta. Todo o excesso dessas vitaminas é excretado pela urina. Ao contrário
das vitaminas lipossolúveis, não apresentam toxicidade se ingeridas em excesso (BAYNES,
2010).

Tiamina (vitamina B1)

Funções fisiológicas

O pirofosfato de tiamina (TPP) é uma forma biologicamente ativa da vitamina, formada pela
transferência do grupo pirofosfato do ATP para a tiamina. O pirofosfato de tiamina serve como
coenzima na formação ou na degradação de α-cetois pela transcetolase e na descarboxilação dos
α-cetoácidos (CHAMPE, 2006).

A tiamina, em sua forma ativa como tiamina-pirofosfato, é essencial para reações de


descarboxilação, para algumas reações catalisadas por tranferases e para o metabolismo
energético normal dos carboidratos. A tiamina é necessária para a reação da transcetolase na via
da hexose monofosfato (BAYNES, 2010).

Durante a absorção intestinal, é fosforilada a tiamina pirofosfato (TPP), sua forma ativa, que
vai ser grupamento prostético das enzimas 2-cetoglutarato desidrogenase e transcetolase. É uma
vitamina termolábil e sensível a variação de pH, sendo inativa em soluções alcalinas (VIEIRA,
2003).

A vitamina B1 é importante na transformação de carboidratos em lipídeos e participa


diretamente na excitação dos nervos periféricos. Esta vitamina funciona também como
coenzima importante no metabolismo energético da glicose, fazendo a conversão de glicose em
gorduras; atua na manutenção do apetite e do tônus muscular. A vitamina B1 também é
recomendada para a manutenção, o crescimento e a reprodução dos animais (SPINOSA, 2006).
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Bioquímica

O grupo ativo da TPP é o tiazol, e necessita também do Mg2+ como cofator. A TPP funciona
como coenzima em dois tipos de reações: na descarboxilação-oxidação do piruvato, com sua
conversão em acetil-CoA, e do α-cetoglutarato no ciclo de Krebs, formando succinil-CoA, e
também nas reações das transcetolases, na via das pentoses-fosfato (GONZÁLEZ, 2006).

Por outro lado, a TPP parece ter importante papel na transmissão do impulso nervoso: a
coenzima se localiza nas membranas periféricas dos neurônios, sendo requerida na biossíntese
de acetilcolina e nas reações de translocação de íons na estimulação nervosa (GONZÁLEZ,
2006).

Fontes principais

A vitamina B1 é encontrada principalmente em cereais (milho e outros), levedura de cerveja,


vegetais, frutas, batata, fígado animal, gema de ovo e leite (SPINOSA, 2006). Os animais
ruminantes e equinos adultos podem obter a vitamina B1 através das bactérias do rúmen ou
ceco, respectivamente, enquanto coelhos e ratos dependem da coprofagia como fonte desta
vitamina (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

A tiamina é instável no calor e em meios alcalinos, podendo haver a sua destruição em várias
etapas do processamento dos alimentos e a conservação. A tiamina também pode ser destruída
por tiaminases presentes na carne de alguns peixes e no processo de fermentação por algumas
bactérias. A deficiência de tiamina foi observada em raposas alimentadas com peixes e crus e
gatos alimentados tanto com peixe cru como em comida de gato enlatada. Rações enlatadas
preservadas com metabissulfito de sódio também causaram deficiência de tiamina em felinos. A
chamada síndrome da mortalidade precoce é uma doença não infecciosa que afeta a truta do
lago e outros salmonídeos associada à deficiência de tiamina (KANEKO, 2008).

Em herbívoros a deficiência de tiamina pode ocorrer a partir da ingestão de Marsilea


drummondii ou Pteridium aquilinum. A característica mais predominante da deficiência é a
poliencefalomalácia. A relação entre a produção excessiva de sulfeto de hidrogênio no rúmen e
a poliencafalomalácia foi recentemente demonstrada (KANEKO, 2008).

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A disponibilidade de tiamina nos alimentos é composta de elevados níveis de taninos. Como
exigência geral, os animais devem receber de 4 a 10 mg/kg de matéria seca ingerida (KANEKO,
2008).

Estrutura da tiamina na sua forma de vitamina: (a). Descarboxilação de α-cetoácidos (b). Transformação
de cetoses fosfatos na via da pentose fosfato (c). Fonte: KANEKO, 2008.

Riboflavina (vitamina B2)


As duas formas biologicamente ativas são flavina mononucleotídeo (FMN) e flavina adenina
dinucleotídeo (FAD), formadas pela transferência de um AMP do ATP para o FMN. O FMN e
o FAD são capazes de aceitar reversivelmente dois átomos de hidrogênio, formando FMNH2 ou
FADH2. O FMN e o FAD são fortemente ligados – algumas vezes covalentemente – a
flavoenzimas que catalisam a oxidação ou a redução de um substrato (CHAMPE, 2006).

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A riboflavina está ligada ao açúcar álcool ribitol. A molécula é colorida, fluorescente,
fotolábil e termoestável. É encontrada em oxidorredutases como flavina mononucleotídeo
(FMN) e flavina adenina dinucleotídeo (FAD), e é necessária ao metabolismo energético tanto
de açúcares quanto de lipídeos. A ativação da riboflavina ocorre via sistema enzimático
dependente de ATP, resultando na produção de FMN e FAD (BAYNES, 2010).

A forma ativa é o FAD (flavina adenina nucleotídeo) e o FMN (flavina adenina


mononucleotídeo), que recebem e prótons e elétrons, convertendo-se de formas oxidadas (FAD+
e FMN+) para reduzida (FADH2 e FMNH2). O FAD é um importante transportador de elétrons e
prótons na cadeia respiratória mitocondrial (VIEIRA, 2003).

É uma vitamina de cor amarelada, termoestável, porém fotolábil, que perde essa cor quando
exposta a luz ou submetida à radiação (um procedimento industrial comum para aumentar a
quantidade de vitamina D no leite) (VIEIRA, 2003).

Funções fisiológicas

A vitamina B2 atua no metabolismo energético e tem função essencial nas reações de


oxidação em todas as células do organismo, para liberação de energia, sendo necessária nas
dietas de animais não ruminantes ou monogástricos, pois os ruminantes a sintetizam através da
microflora ruminal e intestinal. É importante também no metabolismo de aminoácidos, ácidos
graxos e carboidratos (SPINOSA, 2006).

Ainda, a vitamina B2 é um componente do pigmento da retina; participa do funcionamento


da glândula adrenal e é importante para a produção de corticosteroides no córtex da glândula
adrenal (SPINOSA, 2006).

Há relato de que a vitamina B2, em associação com as vitaminas B1, B6, B12 e C, exerce
importante função na recuperação clínica de bezerros acometidos por ataxia, sem agente
etiológico conhecido (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

As formas coenzimáticas dos nucleotídeos flavínicos são o FAD (flavina adenina


dinucleotídeo) e o FMN (flavina mononucleotídeo). Pode-se dizer que as coenzimas flavínicas
não são nucleotídeos verdadeiros, pois, ao invés de pentose como açúcar, eles contêm ribitol. Os
flavonucleotídeos estão unidos fortemente à enzima, atuando como grupo prostético, podendo
esta união ser covalente como no caso da succinato desidrogenase. As flavoenzimas atuam

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como óxido redutases em muitos processos oxidativos, como do ácido pirúvico, dos ácidos
graxos e dos aminoácidos, bem como na cadeia de transporte eletrônico (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

A vitamina B2 é encontrada principalmente na pastagem fresca (alta concentração), leite,


fígado, rins e coração animal, músculo, peixe, levedura de cerveja, queijo, ovos, vegetais e
cereais (baixa concentração) (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

Necessidades de riboflavina são inferiores as da niacina e ácido ascórbico, devido à sua


grande afinidade com as enzimas a qual ela serve como cofator, na maioria dos animais a sua
meia vida é de várias semanas. As necessidades diárias são de 2 a 6 mg/kg na dieta (KANEKO,
2008).

A maior parte da riboflavina nas células está nas formas de FMN e FAD. Fonte: KANEKO, 2008.

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Niacina (vitamina B3)
Niacina, ou ácido nicotínico, é um derivado substituído da piridina. As formas
biologicamente ativas da coenzima são nicotinamida-adenina-dinucleotídeo (NAD+) e seu
derivado fosforilado, nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato (NADP+). A nicotinamida, um
derivado do ácido nicotínico, que contém uma amida substituindo um grupo carboxila, também
ocorre na dieta. A nicotinamida é rapidamente desaminada no organismo e, dessa forma, é
nutricionalmente equivalente ao ácido nicotínico. As formas reduzidas do NAD+ e do NADP+
são NADH e NADPH, respectivamente (CHAMPE, 2006).

A niacina é um nome genérico para o ácido nicotínico ou nicotinamida e ambos são


nutrientes essenciais (BAYNES, 2010).

A niacina é uma parte ativa da coenzima nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e


nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP), os quais participam das reações da
oxidorredutase. A forma ativa da vitamina necessária para a síntese de NAD e NADP é o
nicotinato, portanto a nicotinamida deve ser desaminada antes de tornar-se disponível para a
síntese dessas coenzimas. A niacina pode ser sintetizada a partir do triptofano e, portanto, não é
uma vitamina propriamente dita. A conversão é, entretanto, muito ineficiente e não consegue
suprir quantidades suficientes de niacina. Além disso, a conversão requer tiamina, piridoxina e
riboflavina, e em dietas pobres tal síntese seria problemática. As exigências de niacina estão
também relacionadas com o gasto energético (BAYNES, 2010).

Presente nos alimentos na forma de niacinamida (uma amida) e ácido nicotínico (ou niacina,
um ácido carboxílico), esta vitamina, que pode ser sintetizada a partir do aminoácido triptofano,
participa da molécula de NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo), importantíssimo
transportador de prótons e elétrons no metabolismo energético mitocondrial (VIEIRA, 2003).

Funções fisiológicas

Esta vitamina é um importante constituinte de duas coenzimas do organismo, a nicotinamida


adenina dinucleotídeo (NAD) e nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP),
importantes sistemas enzimáticos necessários para a respiração celular, processo que ocorre nas
mitocôndrias. A nicotinamida também participa do metabolismo de carboidratos, lipídeos e
proteínas. A sua síntese depende da conversão do triptofano em niacina (SPINOSA, 2006).

Nos ruminantes, as necessidades de nicotinamida são supridas pela síntese microbiana


ruminal, mas é essencial nas dietas de animais não ruminantes, para a prevenção de muitos
distúrbios metabólicos da pele, trato gastrointestinal e outros órgãos (SPINOSA, 2006).

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A niacina também tem efeito específico sobre o crescimento animal; diminui os níveis de
colesterol e protege contra o infarto do miocárdio (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

No sentido exato da palavra, a niacina não é uma vitamina, pois ela pode ser sintetizada no
organismo a partir de triptofano (Trp). Porém a conversão de Trp em niacina é relativamente
ineficiente e só acontece depois que os requerimentos de Trp estão cobertos. Por outro lado, a
biossíntese de niacina necessita de tiamina, riboflavina e piridoxina. Assim, em termos práticos,
tanto a niacina quanto o Trp são essenciais e precisam estar na dieta (GONZÁLEZ, 2006).

Os nucleotídeos NAD e NADP são chamados também nucleotídeos de piridina, pois a


nicotinamida é um derivado da piridina. Estes nucleotídeos atuam como coenzimas de muitas
enzimas óxido-redutases, as quais atuam como receptoras de elétrons de substratos específicos.
NAD+ e NADP+ (formas oxidadas) sofrem redução reversível em seu anel nicotinamida, devido
à oxidação de um substrato, que doa um par de átomos de H. O nucleotídeo oxidado recebe um
íon hidreto (H-), equivalente a um próton e dois elétrons, e transforma-se em NADH ou
NADPH (formas reduzidas). As formas reduzidas, por sua vez, podem doar H para reduzir
outros compostos e, assim, voltar a forma oxidada. A união do NAD à enzima é fraca (não
covalente). O nucleotídeo se movimenta através da superfície de uma enzima a outra, atuando
como um transportador de elétrons entre um metabólito e outro (GONZÁLEZ, 2006).

Existem aproximadamente 200 desidrogenases identificadas: as desidrogenases NAD-


dependentes participam da transferência de elétrons em processos oxidativos (catabólicos),
enquanto as desidrogenases NADP-dependentes participam da transferência de elétrons em
processos redutivos (biossíntese ou anabólicos) (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

A niacina é encontrada principalmente no milho e outros cereais, músculo, fígado e rim


(SPINOSA, 2006).

Requerimentos

A niacina é necessária em quantidades que variam de 10 a 25 mg/kg da dieta. Dependendo


da espécie, a conversão de 60 mg de triptofano produz 1 mg de niacina. Quando consumida em
excesso (acima de 100 mg/kg) a niacina pode causar vasodilatação (KANEKO, 2008).

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Estrutura da niacina. Fonte: KANEKO, 2008.

Piridoxina (vitamina B6)


A vitamina B6 é um termo coletivo para piridoxina, piridoxal e piridoxamina, todos
derivados da piridina. Eles diferem apenas na natureza do grupo funcional ligado ao anel. Todos
os três compostos podem servir como precursores da coenzima biologicamente ativa, o
piridoxal fosfato. O piridoxal fosfato funciona como uma coenzima para um grande número de
enzimas, particularmente aquelas que catalisam reações envolvendo aminoácidos (CHAMPE,
2006).

A vitamina B6 é uma mistura de piridoxina, piridoxal, piridoxamina e seus 5’-fosfatos. A


piridoxina é a principal forma da vitamina B6 na dieta, e o fosfato de piridoxal é a forma ativa
da vitamina. O piridoxal fosfato participa como cofator no metabolismo dos aminoácidos e
também na reação da fosforilase do glicogênio (BAYNES, 2010).

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Todas as formas da vitamina são absorvidas pelo intestino, e durante esse período ocorre
alguma hidrólise dos fosfatos. A maioria dos tecidos, no entanto, contêm a piridoxal quinase,
que resintetiza as formas fosforiladas necessárias para a síntese, metabolismo e interconversão
dos aminoácidos. A piridoxina também é necessária para a síntese dos neurotransmissores
serotonina e noradrenalina, além da síntese de esfingosina, um componente da esfingomielina e
dos esfingolipídios. A piridoxina também é necessária para a síntese do grupamento heme
(BAYNES, 2010).

Por causa do seu papel no metabolismo dos aminoácidos, as necessidades diárias de vitamina
B6 aumentam com o aumento da ingestão de proteínas (BAYNES, 2010).

É encontrada nos alimentos em três formas: piridoxina (um álcool), piridoxal (um aldeído) e
piridoxamina (uma amina). É coenzima em reações do metabolismo dos aminoácidos, como por
exemplo, as transaminações (VIEIRA, 2003).

Funções fisiológicas

A vitamina B6 atua na forma de coenzimas como o fosfato piridoxal e o fosfato


piridoxamina, as quais têm papel fundamental em muitas funções fisiológicas do organismo,
como no metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos. Esta vitamina é importante,
também, para o metabolismo de aminoácidos, sendo necessária principalmente na dieta de
animais não ruminantes, que requerem suplementação, sobretudo durante a fase de crescimento
e reprodução (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

São muitas as reações que dependem de piridoxina. Entre os processos mais importantes
com a participação desta coenzima, podem ser citadas: as reações de transaminação entre o
aspartato e oxalacetato, α-cetoglutarato e glutamato, e alanina e piruvato; as reações da
glicogenólise, nas quais a piridoxina é componente essencial da glicogênio fosforilase e se une a
resíduo de lisina, estabilizando a enzima; a biossíntese das aminas serotonina, noradrenalina e
histamina; formação de niacina a partir de triptofano; a biossíntese de ácido δ-aminolevulínico
(ALA), precursor do grupo heme; a biossíntese de esfingolipídeos, componentes da mielina
(GONZÁLEZ, 2006).

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Fontes principais

A vitamina B6 é encontrada principalmente no músculo, fígado e rim animal, cérebro, gema


de ovo, leite, levedura de cerveja e cereais, além de ser sintetizada pela microflora ruminal e
intestinal em animais ruminantes e não ruminantes (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

A necessidade de piridoxina pelos animais é diretamente proporcional com a ingestão de


proteínas e aminoácidos, no entanto, a deficiência de vitamina B6 é raramente observada.
Normalmente as necessidades diárias variam entre 2 e 6 mg/kg da dieta.

A reação mais comum é a de transaminação. Fonte: KANEKO, 2008.

Biotina
A biotina é uma coenzima nas reações de carboxilação, nas quais ela serve como carregador
do dióxido de carbono ativado. A biotina liga-se covalentemente ao grupo ε-amino de resíduos
de lisina nas enzimas dependentes de biotina (CHAMPE, 2006).

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A biotina é normalmente sintetizada pela flora intestinal. Ela funciona como coenzima em
complexos multienzimáticos envolvidos nas reações de carboxilação. Ela é importante na
lipogênese, na gliconeogênese e no catabolismo de aminoácidos de cadeias ramificadas. A
maior parte da necessidade de biotina no organismo é suprida a partir de sua síntese pelas
bactérias intestinais (BAYNES, 2010).

Também conhecida como vitamina H, é coenzima de enzimas carboxilases, descarboxilases


e transcarboxilases transportando o CO2 para os substratos (VIEIRA, 2003).

Funções fisiológicas

Esta vitamina é necessária em muitas reações do metabolismo de carboidratos, lipídeos e


proteínas. É uma importante coenzima para as reações de carboxilação metabólica e participa da
síntese de certas proteínas (como, por exemplo, a amilase) (SPINOSA, 2006).

Nos animais, em geral, a síntese microbiana intestinal de biotina é relativamente boa, porém
variável. As aves necessitam de grandes quantidades desta vitamina e nos suínos, a biotina
melhora o desempenho reprodutivo (SPINOSA, 2006).

A biotina é essencial no processo de queratinização, ou seja, para a formação e integridade


dos tecidos queratinizados (pele, pelo, unhas, cascos e chifres) (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

Constitui o grupo prostético de várias enzimas que participam em reações de carboxilação.


As mais importantes dessas enzimas são a piruvato carboxilase (que catalisa a conversão do
piruvato em oxalacetato), participando na via da gliconeogênese, e a acetil-CoA carboxilase
(que catalisa a conversão de acetil-CoA em malonil-CoA), participando na biossíntese de ácidos
graxos (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

A biotina é encontrada principalmente em vegetais, frutas, leite, tecidos em geral, farelo de


arroz, levedura de cerveja e sementes (SPINOSA, 2006).

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Biotina ligada covalentemente a um resíduo de lisina em uma enzima dependente. Fonte: CHAMPE,
2006.

Ácido pantotênico
O ácido pantotênico é um componente da coenzima A, a qual atua na transferência de grupos
acila. A coenzima A contém um grupo tiol que transporta compostos acila como ésteres de tiol
ativados. Exemplos de tais estruturas são a succinil-CoA, a acil-CoA e a acetil-CoA. O ácido
pantotênico é também um componente da síntese de ácidos graxos (CHAMPE, 2006).

O ácido pantotênico é uma parte da molécula de coenzima A (CoA), ele é amplamente


encontrado em animais e plantas, não havendo deficiências, exceto em dietas experimentais
(BAYNES, 2010).

Já foi denominada de vitamina B5, esta vitamina faz parte da molécula de coenzima A (CoA)
e é responsável por reações de acetilação (advindo daí o termo A da coenzima A). Outra enzima
que possui o ácido pantotênico é a proteína transportadora de grupamentos acil na síntese de
ácidos graxos (VIEIRA, 2003).

Entretanto, a CoA é a forma mais abundante e importante de ação dessa vitamina, sendo
responsável pelo transporte de grupos carbonados (como o acetil e o acil) para o metabolismo
energético (VIEIRA, 2003).

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Funções fisiológicas

Esta vitamina faz parte das enzimas coenzima A (CoA) e proteína carreadora de grupo acil,
importante para o metabolismo de ácidos graxos; é um fator antidermatite para as aves e fator
promotor de crescimento em ratos. Pode haver muita perda desta vitamina (cerca de 50%) entre
produção e o consumo dos alimentos (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

A coenzima A é derivada do ácido pantotênico. É um nucleotídeo de adenina que contém β-


mercaotoetilamina. O ácido pantotênico também é componente da porção fosfopanteteína da
proteína transportadora de grupos acila que atua na biossíntese de ácidos graxos. Pelo menos 70
enzimas utilizam a coenzima A ou a ACP, sendo uma coenzima importante no metabolismo de
lipídeos, proteínas e no ciclo de Krebs (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

O ácido pantotênico é encontrado principalmente no fígado, rim e músculo animal, cérebro,


arroz, gema de ovo, levedura de cerveja, cereais e legumes verdes (SPINOSA, 2006). Para a
maioria dos animais as necessidades diárias de ácido pantotênico são de 10 a 20 mg/kg da dieta
na matéria seca. Em animais, os sinais clássicos de deficiência são retardo no crescimento e
dermatite, como uma consequência secundaria do metabolismo dos lipídeos alterada.

Síntese da coenzima A. Fonte: KANEKO, 2008.

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Ácido fólico
O ácido fólico (ou folato), o qual desempenha um papel chave no metabolismo dos grupos
de carbono, é essencial para a biossíntese de vários compostos (CHAMPE, 2006).

O tetraidrofolato recebe um fragmento de um carbono de doadores, como a serina, a glicina e


a histadina, e os transfere para intermediários na síntese de aminoácidos, purinas e timina – uma
pirimidina encontrada no DNA (CHAMPE, 2006).

O ácido fólico (ácido pteroil glutâmico) tem um número de derivados conhecidos


coletivamente como folatos. Ele participa em reações de transferências de um único átomo de
carbono, por exemplo, as reações de metilação, importantes tanto no metabolismo quanto na
regulação da expressão gênica, em múltiplas vias, incluindo a síntese de colina, serina, glicina,
metionina e ácidos nucleicos. O ácido fólico é fisiologicamente inativo até ser reduzido a ácido
di-hidrofólico. Suas formas principais são tetraidrofolado, 5-metil-tetraidrofolado (N5MeTHF) e
N10-formiltetraidrofolato-poliglutamato derivado do 5MeTHF. Antes dos poliglutamatos
poderem ser absorvidos, eles devem ser hidrolisados pela glutamil hidrolase (conjugase) no
intestino delgado. A principal forma circulante do folato é o monoglutamato N5-THF
(BAYNES, 2010).

Células em rápido processo de divisão têm maio necessidade dessa vitamina, já que exercem
importante função na síntese de timina das purinas e pirimidinas, as quais são necessárias para a
síntese de DNA. Com base na toxicidade seletiva que ocorre em células de crescimento rápido,
por exemplo, células bacterianas e cancerosas, essa função do folato foi a principal base para o
desenvolvimento de análogos estruturais de folato (antagonistas do ácido fólico), os quais são
utilizados como antibióticos e agentes anticancerígenos (BAYNES, 2010).

Sua forma ativa é como tetrahidrofolato (THF) contém um carbono extra que doa em reações
enzimáticas. O THF é produzido a partir da ação da enzima tetra-hidro-folato redutase. Existem
seis formas de THF, dependendo da forma como o carbono extra que é doado durante a reação
por ela catalisada: -CH3 (metil), -CH2- (metileno), -CH=O (formil no N5 ou no N10 da
molécula), -CH=NH (formimino) e -CH= (metenil) (VIEIRA, 2003).

Funções fisiológicas

Esta vitamina é importante na formação de purinas e pirimidinas necessárias para a


biossíntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA), os quais são essenciais para a reprodução e
divisão celular (SPINOSA, 2006).

O ácido fólico tem função essencial como vitamina antianemia, pois participa da formação
do grupo heme (proteína que contém ferro e está presente na hemoglobina), além de ser
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importante como fator de crescimento animal e na formação dos aminoácidos tirosina, ácido
glutâmico e metionina, dentre outras funções (SPINOSA, 2006).

Há maior necessidade de ácido fólico durante a prenhez e lactação; além disso, as sulfas
frequentemente adicionadas em rações comerciais para aves aumentam a necessidade de ácido
fólico nestes animais (SPINOSA, 2006).

Bioquímica

Esta vitamina está envolvida com os processos da hematopoiese. Depois de ser absorvido no
intestino, o ácido fólico é reduzido a tetra-hidrofolato (H4folato) nos lisossomos, pela enzima
H2folato-redutase. Na circulação, a vitamina encontra-se com N5-metil-H4folato. Dentro das
células, o H4folato aparece na forma poliglutâmica, a qual é biologicamente mais potente,
sendo, dessa forma, armazenada no fígado (GONZÁLEZ, 2006).

O H4folato participa de reações biossintéticas como carreador de unidades 1 carbono. Assim


participa da biossíntese da colina, serina, glicina, metionina, purinas e dTMP. As duas últimas
são as reações mais significativas, pois tanto purinas quanto dTMP devem ser sintetizados,
enquanto os outros compostos podem ser fornecidos pela dieta (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

O ácido fólico é encontrado principalmente no fígado, rim e músculo animal, leite, queijo,
espinafre, couve-flor, legumes e germe de trigo (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

Os requerimentos de ácido fólico na dieta estão no intervalo entre 1 a 10 mg/kg da dieta da


maioria dos animais. Existem algumas situações que as necessidades de folato estão elevadas,
como por exemplo, na administração de medicamentos que são agonistas do ácido fólico da
dieta (KANEKO, 2008).

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Redução do folato a tetrahidrofolato. Fonte: MARKS, 2004.

Vitamina B12
A vitamina B12 é necessária para duas reações enzimáticas essenciais: a síntese de metionina
e a isomerização da metilmalonil-CoA, que é produzida durante a degradação de alguns
aminoácidos e de ácidos graxo com número ímpar de átomos de carbono (CHAMPE, 2006).

A vitamina B12 (cobalamina) tem uma complexa estrutura em anel similar ao sistema de
porfirina do grupamento heme, porém é mais hidrogenada. O ferro localizado no centro do anel
do grupamento heme é substituído pelo íon cobalto (CO3+). Essa é a única função conhecida do
cobalto no corpo. Essencial para a quelação do íon cobalto, um anel dimetilbenzilmidazol
também faz parte da molécula ativa. A vitamina B12 participa da reciclagem dos folatos e da
síntese de metionina (BAYNES, 2010).

A vitamina B12 é sintetizada apenas por bactérias. Ela está ausente em todas as plantas, mas
concentrada no fígado dos animais de três maneiras diferentes: metilcobalamina,
adenosilcobalamina e hidroxicobalamina (BAYNES, 2010).

Possui íon cobalto ligado a um anel tetrapirrólico no centro da molécula, muito semelhante à
ligação do ferro da hemoglobina e do Mn na clorofila. A forma mais comum é a de
cianocobalamina onde o -CN liga-se ao cobalto, existindo ainda as formas de

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hidroxicobalamina, aquocobalamina e metilcobalamina com o -OH, H2O e -CH3 ligados ao
cobalto, respectivamente (VIEIRA, 2003).

É cofator de reações de reorganização estrutural (conversão de metil-malonil-CoA em


succinil-CoA) e reações de metilação (conversão de homocisteína em metionina). A succinil-
CoA é fundamental para a síntese de ácidos graxos e de aminoácidos e a metionina é
indispensável para a síntese das purinas (adenina e guanina) e, por sua vez, para a síntese de
ácidos nucleicos (VIEIRA, 2003).

A vitamina B12 é sintetizada somente por micro-organismos, principalmente os presentes no


sistema digestivo de herbívoros. É a vitamina que é requerida em menor quantidade diária, fato
que, associado ao acúmulo no fígado e músculos em grandes reservas, torna o animal
independente de grandes fontes alimentares (VIEIRA, 2003).

As funções da vitamina B12 e do folato estão inter-relacionadas, e a deficiência de qualquer


um produz os mesmos sinais e sintomas. A reação que envolve ambas as vitaminas é a reação
de metilação, responsável pela conversão da homocisteína em metionina (BAYNES, 2010).

A vitamina B12 é necessária em apenas outra reação, que é a conversão de metilmalonil-CoA


em succinil-CoA. A forma de coenzima da vitamina, nesse caso, é a 5’-desoxi
adenosilcobalamina. Mecanismos específicos existem para a absorção e o transporte da
cobalamina (BAYNES, 2010).

Funções fisiológicas

A vitamina B12 tem ação sobre as células do sistema nervoso, medula óssea e trato
gastrointestinal, exercendo importantes funções como síntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA,
assim como o ácido fólico ou folato), formação de hemácias (é essencial na eritropoese),
manutenção do tecido nervoso e biossíntese de grupos metil (-CH3). Esta vitamina participa
também do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas e das reações de redução para
formação do grupo sulfidrila (-SH) (SPINOSA, 2006).

A vitamina B12 é essencial, ainda, para o crescimento animal, a reprodução e a produção e


fertilidade de ovos. Todas as espécies animais não ruminantes necessitam de vitamina B12 na
ração, embora quantidades necessárias sejam menores quando há fontes microbianas desta
vitamina no ambiente (como no esterco e estrume) e síntese bacteriana no trato gastrointestinal
(SPINOSA, 2006).

Trabalho experimental mostrou que ratos tratados com a vitamina B12, após a injeção de
cloreto de cádmio, apresentaram menor nível deste metal pesado no organismo (no fígado e

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rins) e maior sobrevivência em relação aos animais não tratados com esta vitamina (SPINOSA,
2006).

Bioquímica

A cobalamina contém um sistema de anéis corrina, que difere das porfirinas, pois dois dos
seus anéis pirrol estão ligados diretamente, em vez de o serem por meio de uma ponte de
meteno. O cobalto é mantido no centro do anel corrina por quatro ligações coordenadas com os
nitrogênios dos grupos pirrol. As demais ligações coordenadas do cobalto são com o nitrogênio
do 5-6-dimetilbenzimidazol e com o cianeto. As formas de coenzima da cobalamina são 5’-
desoxiadenosilcobalamina, na qual o cianeto é substituído pela 5’-desoxiadenosina (formando
uma ligação carbono-cobalto não usual), e a metilcobalamina, na qual o cianeto é substituído
por um grupo metila (CHAMPE, 2006).

A cianocobalamina está unida a uma proteína e para ser utilizada deve ser hidrolisada pelo
ácido gástrico, onde se combina com uma glicoproteína secretada pelo próprio estômago,
chamada fator intrínseco (o fator extrínseco é a cobalamina). Essa proteína transporta a
cianocobalamina até o íleo onde é absorvida (GONZÁLEZ, 2006).

Fontes principais

A vitamina B12 é encontrada principalmente no fígado, rins e coração animal e também na


gema de ovo. É a única vitamina sintetizada na natureza apenas por micro-organismos do trato
gastrointestinal (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

As necessidades de vitamina B12 na maioria dos animais estão entre 2 a 15 μg/kg da dieta.
Embora deficiências de B12 sejam incomuns, doenças que prejudiquem o pâncreas ou o
intestino, podem afetar a absorção desta vitamina. Deficiência de cobalto para ruminantes
também podem resultar em hipovitaminoses de B12 (KANEKO, 2008).

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Estrutura da vitamina B12. Fonte: MARKS, 2004.

Vitamina C
A vitamina C, ou ácido ascórbico, é um nutriente essencial para humanos, primatas
superiores, porquinhos-da-índia e morcegos frutívoros. Em todos os outros animais, existe uma
via específica para sua síntese. A vitamina C é lábil: é facilmente destruída por oxigênio, íons
metálicos, pH aumentado, calor e luz. A vitamina C serve como agente redutor, e sua forma
ativa é o ácido ascórbico, o qual é oxidado durante a transferência dos equivalentes redutores
em ácido desidroascórbico (que também pode atuar como fonte de vitamina). A Vitamina C
participa da síntese do colágeno, adrenalina, esteroides, degradação da tirosina, formação de
ácidos biliares, absorção de ferro e metabolismo ósseo. A principal função desse composto é
manter cofatores metálicos em seus menores estados de valência, por exemplo, Fe+2 e Cu+2. Esse
é o caso da síntese do colágeno, onde ele é necessário especificamente para a hidroxilaçao da
prolina (BAYNES, 2010).

Essa é a vitamina que possui a estrutura molecular mais simples, derivada da glicose e
presente na maioria de animais e vegetais. Na verdade, somente poucos animais (homem,
porquinho-da-índia, morcego das frutas e certas aves e peixes) não a sintetizam, isso devido à
ausência da enzima L-gulono-lactona, responsável pela sua síntese a partir de derivados da
glicose (VIEIRA, 2003).

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Sua principal função bioquímica é converter o aminoácido prolina em hidroxiprolina na
formação do colágeno. No entanto, é potente antioxidante, agindo como protetora da morte
celular por ação de radicais livres (VIEIRA, 2003).

A vitamina C não é usada como uma coenzima, mas é mesmo assim necessária para a
atividade continuada da prolil hidroxilase. Esta enzima sintetiza a 4-hidroxiprolina, um
aminoácido necessário ao colágeno, componente importante do tecido conjuntivo de
vertebrados; mas este aminoácido é raramente encontrado em qualquer outro local (STRYER,
2004).

Resultados de estudos de marcação radioativa mostraram que radicais de prolina no lado


amínico de glicinas nas cadeias nascentes de colágeno são hidroxilados. Este átomo de oxigênio
que se liga ao C-4 da prolina vem do oxigênio molecular O2. Outro átomo de oxigênio do O2 é
captado pelo α-cetoglutarato, que se transfere em succinato. Esta reação complexa é catalisada
pela prolil hidroxilase, uma dioxigenase. Ela é auxiliada por um ionte Fe2+, que fica firmemente
ligado e é necessário para ativar O2 (STRYER, 2004).

A enzima também transforma α-cetoglutarato em succinato sem hidroxilar prolina. Nesta


reação parcial, forma-se um complexo de ferro oxidado, que inativa a enzima. O ascorbato
(vitamina C) vem em socorro, reduzindo o ionte férrico na enzima inativada. No processo de
recuperação, o ascorbato é oxidado a ácido desidroascórbico. Assim, o ascorbato serve como
um antioxidante específico (STRYER, 2004).

O colágeno sintetizado na ausência de ascorbato é menos estável do que a proteína normal.


Estudos da estabilidade térmica de peptídeos sintéticos têm sido especialmente informativos. A
hidroxiprolina estabiliza a tripla hélice do colágeno formando pontes de hidrogênio entre os
filamentos. As fibras anormais formadas pelo colágeno com hidroxilação insuficiente
contribuem para as lesões cutâneas e para a fragilidade de vasos sanguíneos observada no
escorbuto (STRYER, 2004).

Funções fisiológicas

A vitamina C é uma importante substância antioxidante para o organismo, e uma das suas
principais funções é de cofator para a formação e manutenção do colágeno. A vitamina C é
também essencial para a formação e manutenção do tecido conjuntivo, ossos, cartilagens e
dentina, além de ter ação imune estimulante (SPINOSA, 2006).

Além da sua função como vitamina, é também usada como um agente que auxilia na
“detoxificação” em intoxicações exógenas. A vitamina C participa, ainda, do metabolismo dos
aminoácidos tirosina e triptofano, dos lipídeos e do ácido fólico; do controle do colesterol e da

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integridade dos dentes, ossos e vasos sanguíneos (SPINOSA, 2006). A vitamina C também
facilita a absorção do ferro da dieta no intestino (CHAMPE, 2006).

Fontes principais

Esta vitamina é encontrada principalmente em certos vegetais como o tomate, em vegetais


folhosos como a couve-flor e a alface, nas frutas cítricas e no fígado animal (SPINOSA, 2006).

Requerimentos

Para manter as funções normais do metabolismo as necessidades de ascorbato variam entre


10 e 60 mg para cada 1000 kcal utilizadas pelo corpo. Já para animais em lactação os
requerimentos são de 50 a 250 mg para cada 1000 kcal (KANEKO, 2008).

Síntese do ácido ascórbico. Fonte: KANEKO, 2008.

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Colina

Funções fisiológicas

A colina não é considerada uma vitamina verdadeira, mas sim um importante nutriente, cuja
suplementação é necessária em animais (SPINOSA, 2006).

É uma substância vital para a prevenção da esteatose hepática, para a transmissão de


impulsos nervosos, uma vez que participa na formação da acetilcolina, e para o metabolismo de
lipídeos. Apesar de ser sintetizada pelo fígado, a colina pode ser insuficiente para as aves em
fase de crescimento rápido ou para animais jovens de outras espécies, com rações deficientes
em grupos metil (-CH3) (SPINOSA, 2006).

Fontes principais

A colina é encontrada principalmente no ovo, germe de trigo, levedura de cerveja e fígado. A


síntese hepática de colina pode suprir as necessidades dos animais (SPINOSA, 2006).

Referências bibliográficas
BAYNES, J. W.; DOMINICZAK; M. H. Bioquímica médica. 3. ed. Rio de Janeiro (Brasil): Elsevier,
2010. 431 p.
BORGES, A. B.; CARBONI, D. R. Vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis. Disponível em:
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAABv3MAJ/vitaminas-hidrossoluveis-lipossoluveis>. Acesso
em: 30/05/2013.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 3. ed. Porto Alegre (Brasil):
Artmed, 2006. 371 p.
GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Introdução à bioquímica clínica veterinária. 2. ed. Porto Alegre
(Brasil): Editora da UFRGS, 2006. 38 p.
KANEKO, J. J.; HARVEY, J. W.; BRUSS, M. L. Clinical biochemistry of domestic animals. 6. ed. San
Diego (Estados Unidos): Elsevier, 2008. 710 p.
MARKS, A. D.; SMITH, C.; LIEBERMAN, M. Basic Medical biochemistry. 2. ed. Baltimore (Estados
Unidos): Lippincott Williams & Wilkins, 2004. 732 p.
SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia aplicada à medicina
veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro (Brasil): Guanabara Koogan S.A., 2006. 736 p.
STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L.; BERG, J. M. Bioquímica. 5. ed. Rio de Janeiro (Brasil): Guanabara
Koogan S.A., 2004. 228 p.
VIEIRA, R. Fundamentos de bioquímica. 1. Ed. Pará (Brasil): Laboratório de genética humana e
médica, 2003. 8 p.

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