Almanaque Conclab PDF
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A L
A
Carta Pero Vaz de Caminha - 1500
N
A
Q
U
E
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ALMANAQUE 2021
Língua Portuguesa,
É com grande satisfação e alegria que damos as boas vindas a todos os Confra-
da Língua Portuguesa.
Escrevo com espirito de gratidão, e sabendo que esse trabalho ficará imortaliza-
de Nossa Lusofonia.
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5
Maio
Dia Mundial
da
Língua
Portuguesa
3
desafios do presente e a reconstruir melhor.
Este Dia Mundial é um reconhecimento justo da re-
levância global da língua portuguesa.
Estou seguro de que o seu futuro continuará a ser
enriquecido pela diversidade e solidariedade de to-
das as suas vozes.
Muito obrigado.
Secretário-geral das Nações Unidas, António Guter-
res, fala sobre a importância do idioma falado das
Américas à Ásia por 285 milhões de pessoas; para
ele, a riqueza de uma língua mede-se pela diversida-
“Felicito à Comunidade dos Países de Língua Portu- de e pela inclusão das suas vozes.
guesa, a CPLP, por esta iniciativa de celebrar no
contexto das Nações Unidas, o Dia Mundial da Lín-
gua Portuguesa.
Esta data é também um exemplo daquilo que a
CPLP tem conseguido atingir no ano em que cele-
brará o vigésimo-quinto aniversário da sua criação.
Nas Nações Unidas, como noutras organiza-
ções internacionais, a língua portuguesa é uma via
privilegiada para chegar a vastos estratos populacio-
nais espalhados por todos os continentes.
O sucesso do serviço em língua portuguesa da
ONU News é nisso um bom exemplo.
“O líder da ONU constata que “a língua portuguesa
Celebramos este Dia Mundial num contexto vai-se construindo no dia a dia de vários povos, de
de desafios complexos. As línguas têm um papel todos os continentes, num constante enriquecimento
insubstituível enquanto traço da união entre povos, da sua multiculturalidade.”
onde a diversidade e a multiculturalidade ganham
O português é falado por mais de 260 milhões de
raízes.
pessoas nos cinco continentes, ou seja, por 3,7% da
Contudo a sua maleabilidade presta-se também à população mundial. Atualmente, é língua oficial dos
propagação de desinformação. nove países-membros da CPLP (Angola, Brasil, Ca-
O papel da língua portuguesa e de todas as lín- bo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçam-
guas na mobilização e disseminação do conhecimen- bique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-
to e da informação credível e verificada será particu- Leste) e de Macau, sendo também língua de trabalho
larmente importante no presente e no futuro. ou oficial de organizações internacionais como a
União Europeia, a União Africana ou o Mercosul.
A riqueza de uma língua mede-se pela diversi-
dade e pela inclusão das suas vozes. Esta presença global é destacada pelo secretário-
geral da ONU, que sublinha que o português tem
Permita-me uma palavra especial para mulheres e
vindo a assumir “um papel fundamental na mobili-
meninas que têm e perpetuam o português como lín-
zação do conhecimento, com uma presença cada vez
gua materna:
mais visível em várias facetas culturais, adicionando
Garantir a participação plena, significativa e valor nas dinâmicas globais da economia, da ciência
efetiva das mulheres e dos jovens em todos os pro- e das parcerias internacionais.” UNESCO, 2021.
cessos de decisão será a única forma de assegurar o
sucesso do nosso empenho em dar a resposta aos
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Adaljiza Marta Machado Cuan
São Paulo
5
Timor-Leste
São Tomé e Príncipe
Portugal
Moçambique
Guiné-Bissau
Cabo Verde
Brasil
Angola
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das características do passado como forma
Regionalismo de denunciar as falhas no presente.
Devido à época em que tiveram seu início, os
estudos sobre regionalismo são feitos come-
çando pelas obras de Gonçalves Dias, José
O regionalismo ocorre de Alencar e Bernardo Guimarães. Outros es-
quando há um grupo particular de elementos critores que representam esta escola literá-
linguísticos em uma localização geográfica ria são Alfredo d'Escragnole Taunay, Franklin
delimitada. Geralmente, origina-se de fatores Távora, José Lins do Rego, Graciliano Ra-
históricos da cultura regional, sendo o dialeto mos, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa.
uma de suas principais formas de expressão.
O Brasil, país com imensa extensão territorial,
No ano de 1872, José de Alencar publica
possui uma infinidade de regionalismos. Sua
a obra Til, onde são apresentados costumes
população foi formada pela mistura de diver-
regionais, vida no campo e linguagem local.
sas nacionalidades provindas da Europa e da
Além disso, são retratados aspectos como a
África, que, por sua vez, misturaram-se com
idealização da natureza, amor e inocência,
os nativos que habitavam a nação. Além dis-
subjetividade e a fragilidade.
so, o povoamento do país ocorreu de forma
desigual e em várias áreas diferentes e dis- Os principais livros regionalistas da épo-
tantes entre si. ca romântica são: A Escrava Isaura, de Ber-
nardo Guimarães, Inocência, de Visconde de
Por exemplo, em São Paulo houve a co-
Taunay e O Sertanejo, de José de Alencar.
lonização feita por diversos povos, entre eles
os italianos. Assim, nota-se a influência da Entre estes autores, encontram-se os
língua italiana no sotaque do paulista. O mes- sertanistas, que ajudaram a tornar o sertanejo
mo ocorre com os outros Estados, onde a ma- como um símbolo da autenticidade do Bra-
neira de falar e os dialetos são bastante ca- sil. Ele se torna a representação que rema
racterísticos. Os modos de expressão e repre- contra a influência do Europeu, principalmente
sentação de ideias ou histórias podem, muitas no Rio de Janeiro.
vezes, ter a intenção de atingir um mesmo
conceito ou sentimento, mas, são expressas
com uma gama infinita de variáveis da língua.
Foi no século XIX que ocorreu no campo
literário a produção de obras de cunho saudo-
sista. Naquela época, buscava-se retomar de
forma romântica do Brasil dos séculos anterio-
res (XVI / XVII / XVIII). Desta forma, diversos
autores começaram a traduzir as peculiarida-
des regionais em suas obras. Eles expressa-
vam a realidade social e momentos históricos
de determinada localização. O regionalismo
da época é dividido entre rural e urbano.
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Lélia Fernandes: nordestino não fica soltei- Alexandre Abafa o caso batido ... como reboco usa-se esterco de
ro, ele fica "solto na bagaceira". vaca ou cinza de fogão a lenha .
Alexandre Frase curta sai uma boa brinca-
nordestino não conserta, ele. "imenda". A Cobertura é de Sape ...
deira, essa a diversidade da lingua portugue-
nordestino não bate, ele 'senta-le' a mão.
sa que a nobre confreira Lelia nos brindou e [14:53, 26/05/2021] Miranez: Dom Alexan-
nordestino não bebe um drink, ele "toma
me provocou na mais simples brincadeira. der, reúna o quanto puder, de palavras, fra-
uma".
ses e expressões e mande vê um livro o Nor-
nordestino não é sortudo, ele é "cagado". Alexandre Cada coisa
deste agradece, o Brasil agradece !!!
(kkkkkk). Maria Rita Oxente, num fique avexado não, [14:54, 26/05/2021] Miranez: A ACCA, agra-
nordestino não corre, ele "dá uma carreira". capaz de comentarem mais, hômi. dece imensamente !!!
nordestino não percebe, ele "dá fé". ( a me-
lhor de todas). Alexander Comnene O Caiçara chama de Maria Rita; Gostei muito da sugestão.
nordestino não sai apressado, ele sai CaCHÓrra ao Cachorro Fêmea
Lélia: Eu apoio!
"desembestado". (adoro essa palavra) Alexandre To numa boa, suave na nave,
nordestino não aperta, ele "arroxa" . [14:54, 26/05/2021] Alexander: Já a Taipa é
beleza na represa.
nordestino não dá volta, ele "arrudeia". (a feito uma forma de madeira onde vai se
Alexander Arrelá caCHÓrra !!! fazendo as camadas das paredes de uma
melhor do dicionário)
nordestino não ouve barulho, ele ouve " uma casa ... no interior colocava-se conchinhas
Alexandre Arrela si minino
zuada". amassadas, palha de Milho, Cabelo Humano,
Alexander Traduzindo: Pára Cadela ... mas pelo de Animais, óleo de baleia e etc .
nordestino não quebra algo, ele "tora".
que coisa Cadela ..
nordestino não fica triste, ele fica
"encabulado". Alexander Traduzindo Arrela si minuno Esse [14:56, 26/05/2021] Alexander: Nas patedes
nordestino não desconhece seus conterrâ- Menino !!! de Taipas das Igrejas eram inumados cadave-
neos , ele pergunta "é Fii de quem?".
Alexandre Vixi sujou, nosso Presidente ta na res de pessoas ricas ... algumas pessoas eram
nordestino não dá bronca, dá "carão". inumadas de pé ... imagens quebradas tam-
área
nordestino quando não casa, ele fica bém eram enterradas nas camadas de taipas
"amigado". Alexandre Moio das Igrejas.
nordestino não é mulherengo, ele é
Alexander CÃrne = é assim que o caiçara [14:54, 26/05/2021] Alexander: Já a Taipa é
"raparigueiro".
fala carne ... feito uma forma de madeira onde vai se
nordestino não se dá mal, "se lasca todi-
[14:45, 26/05/2021] Alexander: Tipiti de fazendo as camadas das paredes de uma
nho".
Timbopeva = Cesto feito do cipó de Tim- casa ... no interior colocava-se conchinhas
nordestino quando se espanta não diz: -
bopeva, para prensar a massa da mandioca, amassadas, palha de Milho, Cabelo Humano,
Xiiii! Ele diz: Oxe! Oxente!
na fabricação da Farinha de mandioca caiça- pelo de Animais, óleo de baleia e etc .
nordestino não briga, "Quebra o pau".
nordestino não fica bravo, fica "virado". ra.
nordestino não fica apaixonado, ele "arrêia [14:46, 26/05/2021] Alexander O Tipiti de [14:56, 26/05/2021] Alexander: Nas patedes
os pneus". Timbopeva serve também para transportar de Taipas das Igrejas eram inumados cadave-
Agora... eu que mandei isso pra tu.. Vê se frutos do mar e peixes. res de pessoas ricas ... algumas pessoas eram
repassa pros nordestinos tudim...! Miranez Que português podre de rico, oh inumadas de pé ... imagens quebradas tam-
#OrgulhodesernordestinoEssa é nossa Língua coisa linda nosso idioma... bém eram enterradas nas camadas de taipas
Portuguesa!!!! das Igrejas.
[14:43, 26/05/2021] Alexander CÃrne = é
assim que o caiçara fala carne ... Alexander: Quem sabe esse Almanaque vire
um livro ...TÔ DENTRO !!!
Alexandre ehhh laskeiraaaaaa Tipiti de Timbopeva = Cesto feito do cipó de
Timbopeva, para prensar a massa da mandi- Lélia : Eu apoio
Lélia Lembrei-me de você! Kkkkkkkk
oca, na fabricação da Farinha de mandioca Maria Rita Eu tbm
Alexandre Aproveitei pra vir buscar um
caiçara.
forra bucho no mercado. Alexandre: Ehhhh laskeiraaaaa
[14:46, 26/05/2021] Alexander O Tipiti de
Voltando eu respondoooooo
Timbopeva serve também para transportar Lélia: Eu si divirto Massa Eita Laskeiraaa
Lélia Kkk é uma nova língua kkkk frutos do mar e peixes.
Katia Regina: Caraca esse papo é briga de
Adailton oh negoço do cabrunco Miranez Que português podre de rico, oh cachorro grande, mermão. Maneiríssimo !
coisa linda nosso idioma...
Alexandre kkkk Marrapiz
[14:48, 26/05/2021] Alexander Sapê - tipo
Lélia ispia de capim usado para fazer os telhados das
Casas Caiçaras
Grupo de Whatssapp CONCLAB
Débora Não sou capaz de opinar
Pau-a-pique = Casa feita de trançado de ma-
Alexandre Cuma é a historia?
deiras, cipós e bambu, preenchido por barro 26/05/2021.
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“Não me preocupo
muito em ter ou não
uma posição como ar-
tista. Literatura para
mim não é mercado.
É a minha festa, é on-
de eu me realizo. Digo
sempre: arte é missão,
vocação e festa. Não
me venham com essa
história de mercado”.
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w Sacolé
Mangar
Ochente
Buchuda h
Mê de um cheiro
g
Cafuné
Capar o gato
Amancebado Relho
Campo santo UAI
EiBc Abestado Vixi
Firmeza
Aff M k
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Um tributo !
Lembro-me do cheiro e do sabor do feijão cozido no fogão à lenha, na cozinha de pau-a-pique, do chei-
ro das carambolas, das goiabas e dos Araçás da chácara que cuidastes por mais de 30 anos no Morro do
Algodão.
Jamais me esquecerei das histórias do Sítio Velho, Pau d'alho, Ribeirão ...
Ah ... o peixe com banana verde, o cheiro da farinha de mandioca fresca ...
Lembro-me do Vô Maneco tecendo as esteiras de taboas e os jacás para as galinhas fazerem ninho....
Que saudade que deu hoje minha Bisa Paulina Ramos 'Rosendo' ....
Obs: Na chácara havia Casa de alvenaria, mas a Bisa nunca deixou de ter no quintal uma cozinha de
pau-a-pique, onde tinha o fogão e forno a lenha.
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CARIOQUÊS AMADO
E aê minha galera
Quê qui você quer saber?
Tem palavras que não posso
Sou carioca da gema
Repetir, por educação.
Tá beleza, podes crê !
Não falo querendo ofender
É meu jeito, mermão !
Nesse Almanaque que é 0800
Vou te dá uma moral.
E agora já vou saindo
Da minha língua falada
Nem te conto, foi legal.
Vou te contar uma legal.
Não sou malandro, nem prego
Levo tudo na moral !
Não vou deixar esfriar
Demorô, já tô irado
Caraca, como usei,
Desse momento maneiro
Minha fala sem igual.
Vou tirar o maior caldo.
Tô na área, vem prá cá
Partiu, sou alto astral !
Vim aqui nessa parada
Brincar um pouco com isto
Não vou perder a linha
Senão fica sinistro.
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APROPRIAR-SE DA LÍNGUA
Lagoa da Prata - MG
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Palavras Indígenas:
Tamanduá tocaia pororoca
Palavras Africanas:
Cachaça fubá dendê
quiabo cafuné Moleque
quitanda muvuca
cachimbo cafofo
ginga paparicar
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MINHA LÍNGUA É
MINHA PÁTRIA
Por isso, ela é minha pátria
E foi Deus que assim fez
Falo égua, Bah, Oxente,
Ela está em dez países Uai!, Tchê, e talvez
Como língua oficial Aprenda as mais de mil normas
Portugal, Moçambique, Angola Em todas diferentes formas
Brasil, Cabo Verde e Macau. De falar o Português.
Timor Leste, São Tomé e Príncipe.
Guinés, Bissau e Equatorial As diversas variações
Mas linguagens regionais
Quatrocentos milhões de bocas Demarcando territórios
Pelo mundo espalhadas E identidades culturais.
Cuidam de cada detalhe As nuances nos falares
Para deixa-la valorizada Nós diferentes lugares
Mudando a todo momento Os iguais e desiguais.
Traduzindo conhecimento
E deixando- a atualizada. Stou rumo ao progresso
Aprendendo a todo momento
Ela é rica de detalhes Com os acordos lusófonos
Conduz com graça e leveza Em constante movimento
Por cada lugar que passa Vou nessa evolução
Resquícios da realeza No processo de aquisição
Já destacou muitos mares E repasse de conhecimento.
Conhece infindos lugares
Ela é a língua Portuguesa.
Manoel Ramos
Bragança—Para
Bragança - Pará
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A LÍNGUA DO FATO
Rio de Janeiro - RJ
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André Tietzmann
"Manto de Maria" -
Técnica mista sobre papel—32 x 42 cm
Caraguatatuba—São Paulo
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O VOCABULÁRIO DE DONA SEVERINA
Dona Severina viveu na década de 20 e era Quando alguém convidava para uma festa popular
muito influenciada pela linguagem e cultura popular ela não pestanejava para dizer: eu vou naquela fu-
da sua época. zarca nada, é um fuá, um fuleijo e um furdunço hor-
Ela tinha um vocabulário extensivo, com um ríveis.
acervo muito interessante de expressões idiomáti- Assim que surgiu a moda dos cabelos compri-
cas. Algumas eram do falar do povo, outras ela dos nos homens ela falava com os filhos: Vocês não
adaptava, criava e era exímia para inventar neolo- me apareçam aqui com aquela chumaca não, viu,
gismos. que eu corto o cabelo na hora.
Uma das coisas que ela gostava era apelidar No seu repertório de palavras e expressões
as pessoas que moravam com ela. As mulheres ela idiomáticas ela usava ainda: cair dos quartos, guar-
chamava de Bilincreta, Cambrimba, Fulustreca, ain- dado em sete chaves (escondido), hora da morte
da bem que elas não se incomodavam com o (caro), latomia, lechéu (carro velho), crechéu
“bulling” que sofriam. Quando não sabia ou esque- (cachaça).
cia o nome de algum homem ela chamava de Zebe-
Nos últimos anos da sua vida sofreu muito
deu.
com enfermidades, mas mesmo assim não se deixa-
Era também muito crítica. Quando queria se va esmorecer. Quando as visitas lhe perguntavam:
referir a uma pessoa que tinha mal comportamento, Como a Srª está D. Severina? Ela respondia: Estou
ela logo dava o preço: fulana (o) não é flor que se sã pirita. Estou mel puro.
cheire; aquilo é o raio da silibrina, cheia de pataqua-
Hoje D. Severina está no céu, mas como uma
da, não tem um pingo de juízo, tem a ponta do rabo
linguagem pura e santa.
branco, uma língua ferina.
Era curta e grossa, pois o que tinha de dizer,
dizia na cara: “Esta menina parece um bicho do ma-
to, só anda de calundu, está com a barriga pegada
no espinhaço, se continuar assim, sem querer co-
mer, vai bater o loro (morrer). Como também quan-
do queria dar o perfil de alguém que ela não gostava
logo deixava a sua marca: Aquilo é ruim só carne de
pescoço, além disso é cheio de inhaca.
Quando visitava amigos ou vizinhos não dei-
xava passar nada: coitada vive num biongo, num
bodum, que ninguém aguenta, parece a casa de No-
ca, que todo mundo manda, cheia de bugiganga es-
palhada por todos os cantos.
D. Severina não suportava ver como os pais
criavam os filhos, naquela época. Os filhos são cria-
dos “à lá vonté”, parecem um custipio, não sosse-
gam, tomavam os mendengues que ninguém sabia
onde estavam, ainda davam chilique se perguntas-
sem o que estava fazendo ou com quem estavam,
quando eles crescerem os pais vão tomar no cedém.
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PROSA DI CABOCO
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Artista Nadilson Corrêa
Serra—Vitória—ES
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PARAÍBA, SIM SENHOR!
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RODA DE CHIMARÃO
bordoneio do violão, ouve-se o inspirado poema do
Vate “missioneiro” “ Meu amigo, meu irmão, de
Ainda se fazia noite quando Dom Juvenal, campo serra e fronteira / alma da terra e tronqueira
capataz da estância Nova Aurora, sentado à beira do da gáucha tradição / prepara teu chimarrão, pra que
“fogo de chão”, tendo ao seu alcance uma velha e o mundo inteiro tome/ mate amargo, santo nome na
inseparável “cambona” aquela água, tendo nas religião dos andejos / os que sentiram teus beijos,
mãos a cuia contendo a ervamate bem “cevada”, não podem morrer de fome”
bem ao gosto dos peões campeiros, para a tradicio- Essas estrofes, ainda soando nos ouvidos e na alma
nal e secular “roda de chimarrão”. O rádio de pi- daqueles vaqueanos, já montados em seus respecti-
lhas, já estava ligado na emissora em AM, que por vos cavalos seguem direto aos campos e potreiros,
todos era conhecida como a “Pioneira” das comuni- retomando suas lides com a cavalhada e o gado. A
cações na comunidade, colocando ao conhecimento sonoridade agora é a rotina e o trabalho, e escutam
os fatos e noticias ocorridas, interagindo assim com o mugido dos bois e vacas e o relincho das tropas
o campo e a cidade. O peão campeiro de nome Gau- de cavalos..., e o cântico do quero-queros!
dêncio, é o primeiro a se aproximar e diz:
“permisso” e “Buenos dias” Dom Juvenal. Dom
Juvenal responde: “buenos dias” Gaudêncio, passe
“adelante”, abanque-se, e vamos “proseando” e chi-
marreando, pois uma longa jornada nos espera, por-
que revisaremos e percorreremos as “invernadas” e Vocabulário Gauchês
os “potreiros” dos fundos da estância. Dom Juvenal
vê Anastácio e Felipe o “paisano” se aproximando e Fogo de chão – fogo aceso ao chão para aquecer
diz: Buenos dias “indiada”. Buenos dias, responde- água para o chimarrão ou cozinhar, ou assar chur-
ram os recém chegados. Tchê! Algum de vocês , me rasco. Bem cevada – bem preparada, feito com ca-
empresta um “naco” de fumo, para fazer um pricho, esmero. Peão campeiro – trabalhador que
“palheiro”? pois não é que estive lá na “venda” do executa o serviço montado em seu cavalo. Inverna-
“Seu Inácio”, e esqueci de comprar. Vocês sabem das e potreiros – locais do campo cercados para a
das últimas noticias? Vi os “guris” da Dona Filome- habitação e pastagem dos animais. Proseando –
na, a cozinheira, se dirigindo “pras bandas” do gali- conversando , dialogando. Adelante – avante , adi-
nheiro e o chiqueiro dos porcos, para cuidarem da ante. Pampeano – originário ou nascido no Pampa.
alimentação dos “bichinhos” que é a tarefa deles Quero-quero – ave, pássaro que habita os campos,
todas as manhãs – comenta o paisano Guadêncio, que emite um som estridente, sendo por isso consi-
falando no seu linguajar espanhol. Os primeiros si- derado “o sentinela dos pampas” Buenas – do idio-
nais dos raios solares anunciando o novo dia no ho- ma espanhol, adaptado ao linguajar da fronteira,
rizonte “pampeano”, surgem ao som do grito estri- equivalente à saudação de: bom dia , boa tarde ou
dente do “quero-quero”, a ave símbolo, que é a sen- boa noite.
tinela predominante e soberana nos campos sulinos.
Completando esse cenário, após uma série de co-
merciais e patrocinadores do programa “amanhecer
na querência”, o locutor anuncia: ouvintes, agora
finalizando esta programação, agradecemos a nobre
audiência, dedicando aos amigos lá da estância No- Jorge Silva dos Santos
va Aurora, e demais peões campeiros do interior, a
Payada de Jayme Caetano Braun, titulada Santana do Livramento
“Chimarrão do sem destino” então ao som do
RS
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ÓLEO SOBRE TELA 80 ×60 PRAIA GRANDE Nova Almeida ES - óleo sobre tela 80 +60 Praia da BARRINHA NOVA ALMEIDA (SERRA) ES
25
Nadilson Corrêa - ES
Eu, hein!
“Oxente, mainha!
Colé di merma?”
Já sou madurinha,
Esse ‘negócio de historinha”
Não cola.
“Oxê, até parece que nem é daqui”?
Juro que não dei liberdade a ele, mainha.!
Fiquei foi ‘retada’ com a situação.
‘O mano chegou
Cheio de graça’
E ‘não dei ousadia’,
Está me ‘estranhando’
Não sou “piriguete”, não!
Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
Ilha Bela
Litoral Norte—São Paulo
27
Caipira e caiçara
Em 2014, publiquei um livro chamado “Alma Caipira e Caiçara”, a caiçara era eu, o caipira era o
Manoel Lopes Pereira, o “Maneco” de São Luiz do Paraitinga. Logo depois, Ilhabela (SP) trabalhou es-
se livro no EJA - Educação de Jovens e Adultos, por isso fiz algumas palestras para os alunos.
Uma das coisas que eu fazia questão de falar era sobre a diferença da comida caipira para a comi-
da caiçara. A comida caipira leva em conta que a pessoa vai para a roça trabalhar e precisa ficar bem
alimentado pois o serviço é pesado. Então temos frituras e misturas pesadas e também farofas com miú-
dos, enfim, um tipo de comida feita no fogão a lenha que tem muito valor calórico.
Já a comida caiçara, é na maioria das vezes, sem muito tempero, o peixe é seco, o camarão é desi-
dratado a farinha de mandioca é torrada, mas leve e muita fruta: banana, cana, goiaba. A comida do cai-
çara traz a influência indígena, e principalmente é muito leve pois o caiçara trabalha no mar, e a qual-
quer momento precisa mergulhar para soltar a rede ou trazer o peixe que se entoca nas pedras, não pode
correr o risco de ter uma congestão.
Por isso quando os alunos me perguntavam sobre a diferença entre essas duas culturas eu já expli-
cava com detalhes a diferença na culinária que fica bem clara. Mas fazia sempre uma provocação, ve-
jam que essa mania de desidratar os alimentos que o caiçara faz é antiga e moderna, nós fazemos isso
por causa dos índios, mas os astronautas quando partem em uma expedição espacial levam a comida
desidratadas e quando vão comer reidratam exatamente como os índios faziam.
Isso despertava a curiosidade deles, e a maioria ia ver na internet, para saber se era verdade mes-
mo. Pode pesquisar, está lá!
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de
1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisado-
ra de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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Iris Soares Carmo
Título da obra:
Onça sonhadora (33cmx41cm) óleo sobre tela
Curitiba , Paraná
29
CALANGUEAR
I V
Se não o beber não mapeia Como fosse pica-pau Carcará voa à jurema
Muitos palmos nesse chão Na Caatinga e passo mal, Pra devorar sua presa
E pode até ter visão Se não vejo o salta-toco E a noite faz-se acesa
Fantasmagórica que assusta, Gritando sem ficar roco, Pela luz do vagalume,
Um gole d’água lhe custa Enquanto salta no arame Enquanto exala perfume
Seu progresso no Sertão. Farpado, que marca infame, Das flores da natureza.
Os limites do cercado
Neste ambiente é que ando Ferrado com sigla, nome. Quando deixar este mundo
Ou seguindo presa a eito, Sem folha, a vegetação Que esse ambiente me deu,
Qual o disfarce fatal Mas bode faz sua hora Saber em meu intelecto,
31
Saudades de lá
Tradução - Significados
Querência - lugar onde nasceu
Atucanada - nervoso, preocupada
Mui buena - Muito boa
Chinoca - mulher
Fado e vanerão - ritmos
Piazada - crianças reunidas
Cuzco - cachorro
Matambre - tipo de carne
Aplaco - apaziguar
32
Releitura da ilustração de Hans Staden sobre os
Tupinambás e Tupiniquins.
Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
Ilha Bela
Litoral Norte—São Paulo
33
Alegria de caiçara.
Vera Nardi
34
André Tietzmann
"Ribeirão no Canta Galo" . Acrílica . 70 x 47,5
cm
Caraguatatuba—SP
35
Os Trovadores da Paulistânia
No dedilhar da viola
Cantarolando seus versos
Criou-se brilhante escola
De mestres que a ti confesso
Moldaram meu coração!
Cateretê, cururu,
Batidão, moda de viola,
De boa música és tu
Semente que não se enrola
Cancioneiro colossal!
Bandeirantes sefarditas
Aguerridos, desbravaram
Nossas terras infinitas:
Nosso caráter moldaram
Nosso chão continental!
Jesuítas catequistas
A viola aqui meteram
Nossas raízes paulistas,
Nossa boa educação,
Anchieta e seus confrades!
Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
lha Bela
Litoral Norte—São Paulo
37
Da CASA GRANDE acrescentou detalhes da edifica-
ção para do Comitê da Acla -
dos vivos. Ainda lá está, silencio-
samente sombrio, contrastando o
Academia de Ciências Letras e branco dos seus muros com a to-
Artes de Columinjuba. nalidade ambiente... que edificara
Encarregados da Reconstru- com sua mão o fundador de Colu-
ção após 7 décadas, pois desabita- minjuba.
da ruiu em 1949, foram Paulo R. Aquele homem de vontade
Neves Pereira, Pedro João de férrea e atitudes inflexíveis, temi-
Abreu, Francisco Ribeiro de do dos homens e temente de
que João Honório de Abreu cons- Moura e Walter de Borba Veloso, Deus, falecido na sua casa sola-
truiu em 1808 como pioneiro de Francisco José Moreira Lopes e renga a 17 de outubro de 1866,
Columinjuba, nada restava, exce- Joana Darc da Silva com o apoio jaz ali enterrado. O mesmo recin-
to o Obelisco de 1951 do Instituto dos 63 acadêmicos e beneméritos. to murado, a mesma terra que
do Ceará marcando sua localiza- abrigava as cinzas da sua escrava-
ção como lugar de nascimento de ria, recebeu também aquela argila
Capistrano de Abreu em a que animara outrora uma impe-
23/10/1853, ele 1º neto deste des- tuosa energia. A morte nivelou-o
bravador. com os pretos....” (CÂMARA,
Segundo o irmão caçula de José Aurélio Sarava. “Capistrano
Capistrano, Sebastião de Abreu Achados arqueológicos a 20 de Abreu” Ed. Jose Olímpio: RJ
que a conheceu de pé “Era uma metros dela confirmam que “No 1969. 234 p).
casa modesta porém ampla, con- prolongamento da casa, entre esta
Há também no Cemitério de
fortável para o estilo de vida que e a senzala, localizavam-se a sala
Columinjuba o jazigo de seus pais
se levava então. Em toda a frente da disciplina e a sala do tronco,
e familiares.
se estendia um alpendre, orienta- com seus instrumentos de suplí-
do na direção norte-sul. Ao lado, cio, destinados aos castigos cor- Todavia como já dizia em
uma sala de grandes dimensões, a porais dos escravos, e cujas pare- 2005 seu Memorialista-
sala do oratório, que funcionava des e tradição descreve salpicadas Pesquisador Francisco Bedê
ainda como sala de visitas, refei- de sangue. Seguiam-se a senzala, “Esperançamos que um dia os
tório e dormitório de hóspedes. galpões, depósitos e a casa de fa- restos mortais de Capistrano de
rinha com bolandeira de tração Abreu venham repousar no solo
A um canto, isolado por animal. onde nasceu em Columinjuba,
tabiques de madeira com dobradi- Maranguape-Ceará.”
ças, ficava o oratório. Por trás A casa traduzia no seu com-
deste situava-se o quarto do bispo plexo místico-escravocrata o Que no
de Fortaleza, que anualmente vi- equilíbrio do sistema social vi- bicente-
sitava o sítio. Separava a sala do gente: a fé católica como funda- nário da
oratório do resto da casa, um cor- mento econômico do latifúndio. É Indepen-
redor que começava no alpendre assim, coerente com a moral da dência do
ladeado por dois quartos e se pro- época, senhor de baraço e cutelo Brasil em
longava até a cozinha, no primei- de seu feudo cabloco, o velho Jo- 2022 o
ro destes quartos nasceu João Ca- ão Honório rezava e criava os fi- consagra-
pistrano Honório de Abreu.” lhos, disciplinava os negros e do historiador nacional tenha sua
amanhava a terra. memória rediviva, notadamente
O último morador foi o pa- no Ceará.
rente Messias Honório de Abreu Não muito distante do solar
que ali nasceu e residiu até os 12 patriarcal, construíra ele um ce-
anos (1944), lúcido e morando mitério, de rústicas paredes de
alvenaria, o qual, como casa dos Paulo Roberto Neves Pereira
hoje no Distrito de Lages- Maran-
guape, confirmou a descrição e mortos, estava paradoxalmente
destinado a sobreviver à morada Fortaleza— Ceará
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Tristeza no olhar do pequeno índio.
Feira de Santana—BA
39
FLORESTA AMAZÔNICA
Eu vejo a floresta inerte, desalentada. A jaçanã tão pequenina voa sem direção procuran-
Aflita sofrendo pela devastação desumana do abrigo
Do ser humano alucinado pela ambição Na floresta mãe que tanto a amparou e protegeu
Os animais aos poucos não existirão vencidos pe- Variações Linguísticas regionais
lo inimigo Significados
Estão abandonados para sua total extinção Tucumã: palmeira cheia de espinhos chega a ter
E as gramidias que crescem nas cabeceiras dos 20 metros de altura, cada cacho tem cerca de 150
rios frutos.
Nunca mas existirão simplesmente pedras vazias Tracajá: Podocnemis unifilis é uma espécie de
sem proteção cágado de carapaça e pele negra com manchas
amarelas na cabeça, popularmente chamado de
tracajá na região amazônica.
Há! Caraíbas medíocres que despertam tanto ter-
Gramíneas: plantas forrageiras nativas das terras
ror
inundáveis da Amazônia
Não sabe o valor do tesouro que tem em mãos
Caraíbas: no vocabulário indígena significa ho-
No seu ímpeto de poder com sua mente na escuri- mem branco
dão
Jaçanã: é um pássaro destaque da Amazônia tam-
Acha que o dinheiro traz valor e ascensão. bém chamado de Pássaro Jesus Cristo, pois cami-
nha pelas águas.
COMUMENTE NA REGIÃO DO
NORDESTE BRASILEIRO.
2– Solto na bagaceira ou solto na buraqueira – 19– Tanger – fustigar animais para que andem,
sem amarras, livre, desimpedido. mandar sair.
3– Malino – levado, traquinas, que mexe em 20– Esturricar - secar demais, tostar, ressequir.
tudo. 21– Mãe do corpo – útero, as mães usam para
4– Pirangueiro - sovina, pessoa contida nos dizer que têm a sensação que o bebê está me-
gastos. xendo dentro do útero mesmo após o nascimen-
to.
5– Não dar fé – não perceber.
22– Tá com a febre do rato - com muita raiva,
6– Arrochar – apertar muito, comprimir com nervoso, furioso, exasperado.
força.
23– Lá em riba – lá em cima .
7– Cara arrochado- pessoa muito boa, solidária,
amigo leal. 24– Leriado – conversa mole, conversa fiada.
8– Virado num mói de coentro - com muita rai- 25– Cocorote – golpe aplicado na cabeça de
va, nervoso, furioso, exasperado. alguém com os nós dos dedos.
9– Tabefe- tapa, bofetada, safanão. 26– Rede para quatro mocotós- rede onde po-
dem ser acomodadas duas pessoas.
10– Mulambo – pedaço de pano velho, farra-
pos, roupa velha. 27– Olho de pitomba – pessoa com olhos proe-
minentes e grandes.
11– Cambito- perna fina.
28– Deu certo que nem caçoá em besta – qual-
12– Mangar – caçoar, fazer chacota, galhofa, quer coisa que se encaixe tão bem quanto os
desdém. cestos que usamos para transportar coisas em
13– Baião de dois- comida típica feita usando bestas ou burricos, coisa que deu muito certo.
feijão e arroz.
29- É pra torar - é a mesma coisa de dizer: é
14– Alfenim - doce feito com melaço de cana um absurdo.
de açucar. ...
15– Mocotó – pés de gente, comida típica feita
com pés de porco ou boi.
16– Trepeça – pessoa de mau caráter, coisa
sem muito valor.
17– Cacimba – buraco que se cava até atingir
um lençol de água subterrâneo.
GRAACE MACEDO 1
RECIFE/ PERNAMBUCO
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PALAVRAS E EXPRESSÕES USADAS COMUMENTE
GRAACE MACEDO 2
RECIFE/ PERNAMBUCO
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A Casa da Vó Borboleta
Meus pensamentos são borboletas a sobrevoar No final do corredor, próximo à cozinha (sempre
fotos antigas. No preto-e-branco amarelado das com doce de leite, sequilhos e broas de milho à
imagens, olho uma bela dama que me leva ao pas- mesa, que tinha toalha de plástico forrado com
sado. mais borboletas desenhadas), ficava um grande
Viúva, desde muito moça, minha avó Ma- relógio cuco, de coluna. Quando dava as horas, ele
ria cuidou sozinha dos 10 filhos, fazendo e venden- badalava e um passarinho saía cantando. Aquilo
do puxa-puxa. Eram 7 cabras machos e 3 cabritas era mágico para nós, crianças. Vovó dizia que um
fêmeas. Anos mais tarde, depois que casou todos, dia ele sairia voando e viraria...borboleta. O mais
ficava feliz tomando conta dos netos para os pais curioso é que quando ela morreu, o relógio parou
trabalharem. Seis comedorzinhos de rapadura. defuncionar e o cuco sumiu.
- Casulo de vó é grande como coração de mãe, di- Ao fundo, a casa se abria para um quintal, onde
zia ela, que era vidrada nessas mariposas do dia. ficava uma bomba braçal que puxava água até as
Falava prá gente que eram os espíritos dos que se torneiras. Ficávamos brincando com a alavanca,
foram para viver de assombração. Que nem histó- em movimentos de sobe e desce. Tudo era diver-
ria de Trancoso. são! Tinha pé de sapotis (meus preferidos), de seri-
guelas e de pitombas. Ah, e tinham as mamonas.
Era uma farra passar as tardes, depois da
escola na casa dela. Todos os irmãos e primos jun- A gente fazia umas guerras legais, muitas vezes
tos. Muita correria, muita gritaria. Mas, ela não se terminadas em choro. Mas, como tudo era bom ali,
avexava, ria da esculhambação. nos sentíamos parte da Natureza.
Na sala, tinha um quadro com uma enor- Minha memória hoje voa borboletando li-
me borboleta em xilogravura. Nas cortinas mais vre as lembranças felizes da infância. E a casa de
borboletinhas aplicadas. Vovó as amava. minha avó é onde eu gosto, vez em quando, de
pousar.
Da sala para a cozinha, tinha um corredor, com
duas portas, que davam para os quartos com camas
e beliches cobertas com colchas bordadas com co-
loridas borboletas.
Lisieux Beviláqua
Fortaleza/Ceará
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Lenda da Feiticeira
Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
Ilha Bela
Litoral Norte—São Paulo
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Ditados da época da escravidão
Em 1885, com a Lei dos Sexagenários, os escravos com mais de 65 anos foram alforriados e
passaram a trabalhar nos engenhos e fazendas em troca de moradia. Não tinham como sobreviver
diante da situação de saúde em que se encontravam.
Nessa época as olarias empregavam os escravos idosos. Nas olarias os escravos eram aprovei-
tados para moldar telhas antes de serem queimadas. Isso não quer dizer que a telha seria do tama-
nho da perna do escravo, a perna simplesmente era usada como molde (mais estreita de um lado e
mais larga de outro). Com isso acabavam ficando tortas e mal acabadas. Isso criou um ditado que é
conhecido até hoje: “Feito nas coxas”.
Esse ditado também foi muito usado, pois na época não havia como evitar a gravidez e os ho-
mens antes de ejacular, saiam de dentro da vagina da mulher e ejaculavam na coxa. Quando a
mulher engravidava sem querer as pessoas falavam: “Esse filho foi feito nas coxas”. Na maior parte
das vezes entre escravas e patrões. Outro ditado dessa mesma época é: “Para inglês ver”. Esse dita-
do era por que os navios negreiros chegavam cheios de escravos, mas faziam a desova dos escravos
nas praias do litoral brasileiro e chegavam ao porto do Rio ou de Santos, vazios.
Chegavam vazios “para inglês ver” pois o fim da escravidão era fiscalizado pela Inglaterra.
Os cônsules e embaixadores ingleses faziam oposição ao tráfico, mas o Brasil seguiu fazendo tráfi-
co e foi o último país a acabar com a escravidão.
45
Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
Ilha Bela
Litoral Norte—São Paulo
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“BORA” SER FELIZ!
Na boa...
Fiquei boiando quando ele me olhou daquele jeito
E a galera me zoando o tempo inteiro
Pois, eu não tinha pegado a visão!
Nova Friburgo
Rio de Janeiro
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A Gíria É A Cultura do Povo
Bezerra da Silva - RJ
Composta Elias Alves Junior e Wagner Chapéll.
https://noize.com.br/bezerra-da-silva-para-ver-ouvir-e-ler-10-anos-da-morte-do-sambista/
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A VOZ DO SERTÃO
Tradução das expressões ou pala-
Assunta bem, vou falar do nordeste vras regionais nordestinas mencio-
Ondonde nasceu Jorge Amado e Lampião
Da terra seca, saiu outros grandes nomes
nadas no poema
Cantando e escrevendo, por este mundão.
No solo rachado, nasce meu verso rasteiro ASSUNTA BEM - Preste muita atenção
Sou cabra de fé de mão calejada ONDONDE - Onde.
Matuto, vaqueiro que veste o gibão RACHADO - Solo seco com fendas devido a seca.
Minha casa é humilde de taipa de mão. VERSO RASTEIRO - Verso simples, sem nobreza.
Meu ouvido afiado, escuita de longe CABRA DE FÉ - Homem temente a Deus.
O grito da terra no bico do pássaro MÃO CALEJADA - Mão de pele calejada pela li-
da.
Zuadento ecoa no ar, onde o vento faz a curva.
MATUTO - Caipira, pessoa de lida rural.
Se Bem-Te-Vi é bão pro meu povo,
GIBÃO - Casaco de couro usado por vaqueiros.
É sinal que vai caí pé d’água, moiando o chão.
TAIPA DE MÃO - Construção de barro com ma-
Se escuito do Cauã o terrível canto
deira.
Entonce faço cruz-credo e peço proteção
OUVIDO AFIADO - Que ouve bem.
Dele não quero escuitá canto não
ESCUITA - Escutar, ouvir.
Quando ele canta o chão esturrica
ZUADENTO - Barulhento.
Seca o açude, vem fome então
VENTO FAZ A CURVA - Bem longe.
Castigando com seu canto o nosso sertão.
BÃO PRO - Bom para.
Luiz Gonzaga, fio da seca
PÉ D’ ÁGUA - chuva.
Cantava sobre o cauã
MOIA - molhar.
Em sua voz afinada, bunita canção.
CAUÃ - Pássaro que habita na região nordestina,
Assim vou falando meu verso, sem papel na mão sendo seu canto de mau agouro.
Pois nem meu nome sei assiná ENTONCE - Então.
Deixando na brenha minha poesia CRUZ-CREDO - Interjeição, expressão de espanto.
Que o vento espaia na voz do sertão. ESTURRICA - Secar excessivamente.
AÇUDE - Barragem para represar água.
FIO - Filho.
VOZ AFINADA - Cantor que consegue reproduzir
perfeitamente o som musical.
Nazareth Ferrari BUNITA - bonita.
ASSINÁ - Assinar.
Taubaté-SP BRENHA - Lugar distante, de difícil acesso.
ESPAIA - Propagar.
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Leandro Passos
Escritor e Ilustrador
Ilha Bela
Litoral Norte—São Paulo
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LÁ NA BAIXADA CAMPISTA
Romero Siqueira
Serra - ES
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Encantos da Cidade Mãe
Olhem para este arco de metal Em Sergipe D’el Rey, num caixote sob a lama
Ele descreve uma cidade sem igual A imagem de Senhor dos Passos foi encontrada.
É na região Nordeste, Maria Rita – a Santa Dulce dos Pobres sua história
começa aqui,
No Estado de Sergipe
Num abraço de amor e deu seus primeiros passos
É a quarta cidade mais antiga do Brasil
de fé.
Casarios ladeiras, rios.
E nesse encantamento por todos os cantos
Aqui tem mata nativa e maré
Vejam quão lindos são os brincantes da caceteira
Também tem sob esse céu azul anil, de dona Biu,
O Cristo Redentor, mais antigo do Brasil. Do samba de côco de dona Madalena da Ilha,
Viaje nos cantos e encantos da minha terra. Vem lá o mestre Jorge do estandarte e no reisado o
Acompanhe a vendedora da moqueca de folha que Mestre Satú
sobe a ladeira, Não se aperrêie não
Gritando: Olha a moqueca de folha! Aqui é poesia todo dia!
Saboreie, mas continue subindo a ladeira Não resista!
Na cidade alta saboreie também a queijada de Ma- Tão logo os seus olhos penetrem nesta cidade,
riêta,
Renda-se aos seus encantos,
prove os licores, tem de muitos sabores.
nem se avexe pra partir
Visite a casa das bonequeiras,
parta devagar
visite a Casa do Cordel
Perceba este poetisar.
e a Casa do Folclore.
Descubra, a Cidade guardiã da Praça São Francisco
Patrimônio Mundial da Humanidade
Conheça suas ruas centenárias,
O Porto da Banca, onde pescadores vendem o peixe
Pescado em praiamar.
Aqui o Rio Paramopama passeia
e deságua no Vaza Barris.
Maria Rita dos Santos
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SANTANA MINHA SANTANA
SOU GAÚCHA DO RIO GRANDE DO SUL.
Os pampas são lindos, o sol brilha internamente e o vento minuamo é de renguear cus-
co. Minha cidade é chamada a capital da paz, aqui agente fica meio caborteiro. De um lado
Livramento e do outro lado Rivera, todos somos irmãos e falamos o portunhol, só nos separa
o Obelisco ai fica assim um pé em Livramento e outro pé em Rivera. Quando queremos
comprr perfume importado e roupas chiques vamos a Rivera e quando queremos comida e
pedras preciosas viemos a Livramento, pois aqui tudo tem aqui e só alegria.
Vou terminar minha prosa para não alongar demais.
Saudações.
Juntos somos mais fortes.
ELIETI SOUZA
Santana do Livramento - Rio Grande do Sul
53
Samba do Arnesto
Muitas foram as lendas que se formaram em torno da soberana Norma Culta. No tempo das mo-
narquias absolutistas, por exemplo, corria à boca miúda que fora ela, e não o Rei Sol, quem primeiro
proclamou a famosa frase L´état c’est moi; e isso quando o enxotava do seu quarto por não lhe agradar a
noite de amor.
O fato, porém, é que seu poder e influência eram tão grandes que excederam os limites da Velha
Terra, cruzaram o Atlântico, e desembarcaram em terras brasileiras.
E como encontrasse solo fértil, onde “em se plantando tudo dá”, pôs-se a cultivá-lo com esmero,
seduzindo os intelectuais, entusiasmando os literatos, e cativando um seletíssimo público. – e viva o Par-
nasianismo!
Ocorre que sua ambição não tinha limites. Daí que sua vontade começou a chocar-se com a dos
súditos que aqui viviam, chamados Regionalismos, posto que não aceitassem ver suas tradições profana-
das.
Ora, como fosse uma déspota não esclarecida, pouco ou nenhuma importância dava às suas reivin-
dicações. E tratou de ordenar o encarceramento dos insubmissos.
Não demorou muito, portanto, para que a insurreição eclodisse!
De primeiro, quatro foram os focos de resistência. No Sul, os orgulhosos Bah Tchê, cuja participa-
ção de sua cavalaria na quarta expedição a Canudos marcaria o início da queda do Conselheiro; no Su-
deste, os insubmissos Orra Meu, que a história mostraria não ter sido vã a morte de quatro de seus estu-
dantes (M.M.D.C.), e os come-quietos Uai, que um dia teriam o privilégio de ver no filho mais dileto de
Diamantina a personificação do progresso; e no Nordeste, os sossegados Oxente, que se por um lado
eram admirados pela elaboração da iguaria acarajé, por outro, seriam temidos, pois saberiam usar da pei-
xeira quando o sangue lhes subisse à cabeça.
E se é verdade que as investidas da realeza produziam muitas vítimas, não menos exata é a afirma-
ção de que as incursões dos insurretos acarretavam perdas consideráveis.
Só que à medida que a opressão recrudescia, e alastrava-se, outros Regionalismos começaram a
interessar-se pela revolta. E ao cabo de alguns meses, todo o Brasil uniu-se em torno de uma mesma
bandeira – era preciso derrubar o reinado de Norma Culta.
Depois de perder praças cruciais, e temendo por sua vida, a monarca achou prudente recuar; pelo
menos até que conseguisse reagrupar suas tropas.
Em um esforço desesperado, dois de seus ministros, o barão Gongorismo e o conde Quevedismo,
mandaram publicar, nos principais jornais do país, manchetes conclamando os eruditos a que defendes-
sem Norma Culta...
Dias Campos
São Paulo
55
Apenas Olavo Bilac respondeu ao chamado. E ofe- Parnasianismo: Escola Literária onde se buscava o
receu às partes em contenda a Última flor do Lácio, sentido para a existência humana por meio da per-
inculta e bela, com que homenageou a língua portu- feição estética. Três escritores formavam a “Tríada
guesa, considerando-a a última das filhas do latim. Parnasiana”: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Ra-
imundo Correia.
Houve um verdadeiro alvoroço! menos pela subli-
midade do soneto do que pela compreensão quanto Bah Tchê: Expressão de espanto ou admiração uti-
aos adjetivos finais. – o que não deixava claro se o lizada pelos gaúchos. Sendo “bah”, diminutivo de
poeta tomara ou não algum partido. barbaridade, e “tchê”, palavra herdada dos índios
tupi-guarani, que significa “meu”.
Daí que Sua Majestade sentiu-se profundamente
ultrajada, visto que se achava bela, sabia-se a culta. Orra Meu: É uma interjeição de espanto bem carac-
Já os Regionalismos deliciaram-se, pois mes- terística do Estado de São Paulo, principalmente na
mo que a beleza da rainha tivesse sido enaltecida, o capital.
Príncipe dos Poetas Brasileiros atrevia-se a chamá- Come-quieto: É alguém que não expõe as suas tra-
la de ignorante. vessuras para todo mundo e acaba sendo interpreta-
do como uma pessoa certinha.
E como a celeuma permanecesse, alternativa não
teve Olavo Bilac senão a de explicar o que preten- Uai: Expressão característica de Minas Gerais que
dera. diz com espanto, surpresa, dúvida, impaciência,
Começou dizendo que a palavra “inculta” re- admiração e até susto.
feria-se ao latim vulgar, ao falado pelos soldados, Oxente: Termo usado principalmente na região
pelos camponeses, pelo povo em geral. Diferia, Nordeste do Brasil, para expressar surpresa, excla-
portanto, do latim clássico, o empregado pelas clas- mação.
ses mais esclarecidas. Gongorismo: O mesmo que Cultismo. Foi um estilo
No entanto, fosse utilizada por estas, fosse literário que foi muito utilizado no período Barroco,
dita por aqueles, o que importava, em verdade, era em que se empregam descrição, termos cultos
que a língua portuguesa continuava a ser bela! (preciosismo vocabular), linguagem rebuscada e
ornamental.
E terminava perguntado quem aproveitaria uma
guerra se a parte mais prejudicada seria sempre a Quevedismo: O mesmo que Conceptismo. Foi ou-
Flor do Lácio? tro estilo literário muito empregado no Barroco.
Nele, a retórica aprimorada, bem como a imposição
Como caíssem em si, firmaram um armistí-
de conceitos é notória, a qual se produz através da
cio.
apresentação de diversas idéias.
E desde aquela época, Regionalismos e Nor-
ma Culta convivem em harmonia, contribuindo,
cada um à sua maneira, para que a nossa Flor torne-
se cada dia mais viçosa.
Dias Campos
São Paulo
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Tiradentes
Liberdade que rompe amarras,
De um povo preso na exploração,
Sugam seu ouro e prata,
Num sistema de dominação.
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Albert van der Eckhout (Groningen, Holanda,
ca.1610 - idem, ca.1666). Pintor, desenhista. Inicia seus
estudos em pintura com Gheert Roeleffs, seu tio. A serviço
do conde Maurício de Nassau (1604 - 1679), governador-
geral do Brasil holandês, Echkout viaja para o Brasil, onde
permanece por sete anos (1637-1644)
58
TRAÇOS HISTÓRICOS DE PORTUGUESES NA INDONÉSIA
A história reuniu os portugueses com várias etnias na Indonésia. Os encontros entre diferentes etnias
ou diferentes nações sempre deixam vestígios históricos em forma de patrimônio cultural que podemos
testemunhar e sentir até hoje (...)
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2. Influências no campo da linguagem: 2. Pengaruh dalam bidang bahasa:
O povo português deu muitas contribuições Bangsa Portugis banyak memberikan sumbangan
valiosas na forma de novas palavras na língua indo- berharga berupa kata-kata baru di dalam bahasa
nésia que se originaram do português. Um especia- Indonesia yang asal-usulnya berasal dari Bahasa
lista em línguas revelou que cerca de 75 palavras Portugis. Salah seorang ahl bahasa mengungkapkan
indonésias vêm do português. Essas palavras inclu- bahwa sekitar 75 kata-kata dalam Bahasa Indonesia
em: berasal dari Bahasa Portugis. Kata-kata tersebut
antara lain:
risco (resiko), garfo (garpu), Resiko, garpu, pesta, kaldu, meja, jendela, bendera,
festa (pesta), caldo (kaldu), boneka, roda, kepala, keju, mentega, terigu, tapi-
oka, maizena, renya, gereja, minggu, ajuda, sabtu,
mesa (meja), janela bolu, caramel, meriam, sepatu, bangku, blangko
dan kata kata lainnya.
(jendela), bandeira
(bendera),boneca (boneka), Os portugueses também são creditados por
dar os nomes às ilhas indonésias ou popularizar os
roda (roda), cupola (kepala), queijo nomes de algumas ilhas na Indonésia. Eles deram o
(keju), manteiga (mentega), nome de "Flores" a Pulau Ular ou Nusa Nipah, uma
ilha que se retorce como uma cobra. Inicialmente
trigo (terigu), tapioca chamaram a ilha de “Cabo das Flores”, porque vi-
ram naquela época muitas árvores floridas bonitas
(tapioka), maizena ao longo da costa da ilha das Flores. Da mesma for-
ma, deram o nome de ilha de Timor porque quando
(maizena), rainha (renya), visitaram a ilha de Timor, os indígenas tremeram
de medo ao avistar os portugueses. Tremer de me-
Os portugueses eram uma grande nação marítima naquela época. Eles viajaram o mundo sem trazer
suas esposas ou namoradas. Muitos deles acabaram por se apaixonar por mulheres indígenas, de modo
que havia descendentes de portugueses na Indonésia que eram chamados de povo mestiço ou
"topáz" (derivado da palavra "topázio", que significa tradutor em bengali). Os holandeses os chama-
vam de "zwarte portugijs" ou "portugueses negros" porque geralmente eram de pele negra. Uma vila
em Jacarta chamada Kampung Tugu foi construída pelos descendentes dos portugueses negros depois
que eles foram libertados pelos holandeses. Eles se tornaram pessoas livres ou "Mardijkers" em holan-
dês. Até agora, o povo da Vila Tugu ainda mantém os costumes e a cultura de seus ancestrais. Os des-
cendentes de portugueses da vila de Larantuka, na ilha das Flores, chamavam-se povo Larantuka ou
"Larantuqueiros". Eles foram os principais membros da fraternidade ou "confraria" que permaneceram
fiéis ao catolicismo durante a difícil era colonial holandesa na ilha de Flores, embora não houvesse
padres católicos na ilha de Flores naquela época. Naquela época os portugueses foram forçados pelos
holandeses a se mudarem para a ilha de Timor.
Muitas pessoas de Flores, Timor, Moluccas e residentes de Kampung Tugu em Jacarta ainda usam
nomes de família derivados de nomes portugueses, por exemplo:
da Costa, Da Silva, Da Gomez, Dos Santos, Pereira, Gonçalves, Gonzales e outros nomes até hoje.
5. Campo culinário:
Os portugueses também deixaram as suas marcas em vários tipos de cozinha indonésia. No início, os
indonésios não conheciam os garfos e os portugueses foram os primeiros a trazer "garpu" para a Indo-
nésia. Da mesma forma, os indonésios não estavam familiarizados com manteiga, queijo, farinha mai-
zena, farinha de trigo e tapioca. A sopa também é chamada de "kaldu". A palavra "caldo" é sopa em
português. Da mesma forma, palavras como "bolu", "karamel" e "pastel" são nomes de petiscos intro-
duzidos pelos portugueses. "Pie susu" em Bali veio de um bolo típico português chamado Pastel de
Nata, que foi alterado para ser mais fino e menor para atender aos gostos indígenas da Indonésia. Da
mesma forma, os vários tipos de cozinha existentes nas ilhas de Molucas e na aldeia de Kampung Tu-
gu em Jacarta são influências dos portugueses na cozinha indonésia do século XVI.
5. Bidang kuliner:
Orang orang Portugis juga meninggalkan jejak dalam berbagai jenis masakan Indonesia. Mula mula
orang Indonesia tidak mengenal garpu dan-orang Portugis yang pertama kali membawa garpu ke In-
donesia. Demikian pula orang indonesia sebelumnya tidak mengenal mentega, keju, tepung maizena,
terigu dan tapioka. Kuah disebut juga "kaldu." Kata "kaldu" adalah kuah dalam Bahasa Portugis. De-
mikian juga kata-kata seperti bolu, karamel, pastel adalah nama jajan-jajan yang diperkenalkan oleh
Bangsa Portugis. Pie susu yang ada di Bali berasal dari kue khas Portugis yang bernama Pastel de Na-
ta yang diubah menjadi lebih tipis dan kecil supaya sesuai dengan selera pribumi di Indonesia. Demi-
kian juga berbagai jenis masakan yang ada di Kepulauan Maluku dan Kampung Tugu di Jakarta me-
rupakan pengaruh Bangsa Portugis dalam bidang makanan pada abad XVI.
61
7. Um cronista de Portugal 7. Penulis sejarah asal Portu-
Flávia Mariath
CONCALB - Portugal
63
Tantas pátrias numa língua
Cidade Viva—acrílico/tela
Luanda - Angola
65
NA ÁFRICA
ADÃO ZINA
Eu sou África.
Luanda - Angola
66
Brasi Caboco (Zé da
Luz) Paraíba
[...] A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Severino de Andrade Silva
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo O qui é Brasí Caboco?
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil É um Brasi diferente
Ao passo que nós do Brasí das capitá.
O que fazemos É um Brasi brasilêro,
É macaquear sem mistura de instrangero,
A sintaxe lusíada [...]" . um Brasi nacioná!
[...]. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais pro-
funda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração."
Guimarães Rosa
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RETRATOS DO TEMPO
Correm os passos
No tempo Partem as lembranças
No passado e o futuro
Passa o tempo nos passos Nasce na esperança da
Correndo Nova partida
Kibuku Kiajinje
Malanje/Angola
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Adão Guimarães Mussungo
Luanda - Angola
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Singela Canção
Maputo - Moçambique
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(ANTES DE MIM)
Rasgado farrapo
Pó encarnado
Lado a lado o fardo
Sujeito eleito em peito.
Dança á pança
Corre em cores
Negro ego
Luta curta
Justa luta
Surda muda.
Nascido lindo
A arte em parte
Joga agora em hora
Roda força
Nota solta em música.
Tateando ando
Em universo escrito
Insisto existo
Mundo mudo
Fraco falho
Em dom dado.
Baralho malho
Sabedoria híbrida Adão Zina(2019)
Inteligente mente
Aberta conhece Luanda - Angola
A poesia vazia
Dita o poeta
Desperta alerta
Consciente mente.
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Meu caro Magno bom dia e abraço
Aqui vai em acróstico o poema
Generoso convite seu merece resposta
No Português e no Crioulo de Santiago de Cabo
Verde
O poema fala de MORABEZA e com Saudades
Déuz di Séu... morabeza dja da’n sòdádi.. Deus de Céu... A morabeza já me deu saudades...
Imposibel atxa traduson undi ê ka ten.., Impossível é encontrar tradução onde ela não existe
João Furtado
https://
joaopcfurta-
do.blogspot.com
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Canção do Exílio
Vício na fala
bem.
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CAIPIRA ( é um registro autobiográfico de orgulho do Autor, pela sua vida
dedicada a terra).
Eu sou Nico...
Nico de Antônio e de Dita ...
...é, sou bem assim!
Sou feito o capim!
...Simples assim!
Sou aroma de alecrim.
Canto a alma do caboclo,
feito canário em voo sem fim!
Sou a água de rio a refletir sol e lua,
no "sentir" das cores,
feito flores em jardim!
Ah! Sou pleno... Faço da vida um poema, sem fim!
Cheiro de terra há em mim!
Poeta de nascença,
canto, a Fé, a Esperança, a Caridade,
com a fala de Francisco de Assis
e o amor feito carmim.
De fundo, sou Paz e Harmonia sem fim!
José Antônio Custódio Barreto, o NICO, criado nas matas de Penedo e nas montanhas
da Serra da Mantiqueira. Violeiro hábil e escritor bissexto, tem como diversão resgatar
obras do cancioneiro caipira nas rodas de prosa e viola entre amigos e parentes e regis-
trar em seu velho caderno suas impressões sobre a realidade da roça e da cultura caipira,
em forma de textos, pequenos poemas, letras de canções e pequenos versos.
Penedo / RJ
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SEMEARTE
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MOMENTOS FEUDAIS
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A Cascata - 1993 - 50x60
Pará de Minas/MG
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ETÉREO VISITANTE
Com mais de 70 anos, raizeiro conhecido em - Ooopa! – Cumprimentou o anfitrião, com seu
toda a região da Mantiqueira e do Vale do Paraí- jeito caipira.
ba, seu Belizário cultivava um hábito interessante: Ooopa! – Respondeu o visitante, da mesma for-
pouco depois de jantar, deitava-se na rede da va- ma.
randa, despedia-se dos últimos raios de sol se
- O sinhô tava naquele trem que passô voano, ta-
pondo atrás do Maciço de Itatiaia e dava boas vin-
va?
das às primeiras estrelas. Ficava admirando aque-
le manto azul escuro todo pintadinho. Acabava - Sim, eu tava no trem.
dormindo “tarde”; cama para ele, só depois das - Memo que mal lhe pergunte: o que é que o sinhô
nove. Às vezes, às nove e meia ele ainda estava tá fazeno pr'essas banda aqui?
lá, de olhos arregalados espiando o céu. Toda noi-
- Tô pesquisando. Sou pesquisador.
te via estrela cadente, pelo menos uma.
- Ah, sei mequié. Vamo entrá! Vamo entrando pra
Uma vez, naquele horário mágico em que a
tomá um café!
noite se mistura com o dia, quando a noite vem
entrando, cheia de poesia, pedindo licença, mas o
dia vai embrulhando, embrulhando e fazendo ho-
O homem aceitou.
ra, sem querer ir embora, seu Belizário já estava
na rede quando foi surpreendido. Como diz ele: Dentro de casa, na cozinha, seu Belizário pôde
“tinha uma parecença com um prato de alumínio, reparar melhor: além de careca, o sujeito era o
e daqueles bem areadinho com areia fina, que o esquisito em pessoa. Não tinha sobrancelhas. Os
trem até lumiava tudo em volta”. Mas era grande, olhos eram muito grandes e acinzentados. A boca,
muito maior do que um carro. Passou rasteiro, muito pequena. A cabeça era maior do que o nor-
rasteiro, assanhando as folhas dos jerivás, e sumiu mal. O velho chegou a sentir dó: era feio que só a
atrás das mangueiras. miséria, o coitado!
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(...)
- Nóis tamo proseano sem sabê o nome um do ou- O tal do pesquisador era bem esquisito. Ao falar,
tro ... o meu é Belizário, às suas orde, e o do si- abria a boca mas quase não mexia os lábios. Ape-
nhô? sar de todas as diferenças, parecia que ele era da-
quela região mesmo; não tinha outro sotaque e
- O meu é Uzmãn.
usava as mesmas expressões do dono da casa. Mas
- Ô, Sô Gusmão, toma mais um gulim de café ... explicou que vinha de longe, muito longe.
- Agradecido, seu Belizário, tô sastifeito.
Quando viu em uma prateleira de madeira, as gar- - Pra lá de Minas?
rafas com ervas e raízes curtidas em cachaça, o
- Muito pra lá.
pesquisador quis saber o que eram. O raizeiro ex-
plicou as características de cada uma. Separou al- - Nos’sinhora, hein! Longe mesmo. Então esse
gumas e deu ao novo amigo, inclusive, proposital- aviãozinho do sinhô é bão demais, uai!
mente, uma que tinha fama de fazer nascer cabe- O homem tomou café e pareceu ter gostado
los. Finalizando o assunto, disse que as ervas só muito. Perguntou de que eram feitas as broas. O
não curavam dor nas costas. Ele mesmo vinha so-
anfitrião contou que eram de fubá de canjica, mas
frendo havia anos, com uma dorzinha aguda, que precisou explicar o que eram fubá e canjica e co-
descia da carcunda, espalhava-se no lombo e res- mo eram assadas. O sujeito não comeu, mas pôs
pondia na perna esquerda. E explicou que era por uma no bolso. Imaginando que seria pra comer
isso que ele mancava. Médico nenhum lhe dera na viagem, seu Belizário arrumou um balainho de
solução para o caso. palha e ajeitou várias broinhas, ainda quentinhas e
O homem pediu pra ele se virar de costas. Pou- uma garrafa de café pro viajante.
sou a mão direita sobre a cabeça do dono da casa. E lá se foi Uzmãn, que saiu levando o balainho
Fechou os olhos e pediu pra que ele fizesse o mes- cheio de coisas curiosas dadas pelo simpático ma-
mo. teiro, além de outro balaio com as garrafadas do
- Pense agora no que você acha mais bonito e velho. Seu Belizário ficou na porta, espiando. Viu
agradável neste mundo. quando o prato gigante subiu lumiando tudo em
Seu Belizário pensou no céu cheinho de estre- volta. Só depois disso é que o raizeiro percebeu
que a dor nas costas desaparecera completamente
las, na lua, nos passarinhos, nas cachoeiras, nas
árvores de seu sítio ... e um minuto depois, o rapaz e ele já não precisava nem mancar mais. Seu Beli-
zário, olhou pro céu crivado de estrelas, agradeceu
mandou o velho abrir os olhos.
a Deus e ao “seu Gusmão”. Em pé, na varanda,
com o olhar fixo nas estrelas, o velho lamentou:
- É ... deixa eu caminhar, então, né, seu Belizá- Ô peste! E eu nem sei o endereço do benzedô ..."
rio ...
- Uai, sô, ainda é cedo ...
- Não, a prosa tá muito boa mas eu tenho de seguir
meu caminho aí pra riba. Gostei demais de conhe- (Conto da Série
cer o senhor, seu Belizário!
- Eu tamém gradei demais, sô Gusmão! Quando ‘PROSA NA VARANDA”
passá por riba, num esquece de descê aqui não.
- Pode deixar, tá combinado ... Beto Gill, Mar/2020)
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Crepúsculo
Nascer do Sol
Paccelli M. Zahler
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BAILARINA
Despertar o imaginário
Do espectador deprimido
Que sonha em tê-la consigo
Num espetáculo privado.
Brasília, DF
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O SONHO
Raniery Abrantes
João Pessoa - Paraíba
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Homenagem ao André Chaves, meu colega CNFista, que até hoje
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Fagulhas
Fagulhas cortantes
Atingem meu cérebro
E todo o meu ser.
Labirintos, corredores minúsculos.
Tontura e desequilíbrio
Em frente ao poço.
Solidão e frio,
Ausência de sentimentos,
Morte,
Vida,
A cura talvez!
Enfim, choro por ti.
Choro de emoção!
Dias difíceis,
Sentimentos a flor da pele,
Toque de nostalgia consome o ar,
Lágrimas rolam sobre lençóis,
Sorriso fechado em minh'alma,
Um insistente chamado à dor.
Chuva cai como navalha,
Orvalho de pedras pontiagudas,
Solidão que corta o peito em pedaços.
Olhar de aço e de fogo
Não mais me alcançam,
Não mais me atingem,
Petrifiquei.
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Emoldurada paz
86
O Percurso da Esperança
Fortaleza-CE
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Gosto da janela. Os humanos construiriam as cida A janela – e nesse caso pouco im-
des, os castelos, as avenidas, os porta se de vidro ou de madeira –
muros, o entorno da janela... se não tem vínculo com proteção, embora
não necessariamente.
Aliás, instalei uma mesa na parede houvesse pedra?
ao pé da janela. A janela de vidro a que me refiro
A janela de vidro é frágil.
nesses rabiscos me protege da soli-
Mais não gosto de qualquer janela, Todavia, sua fragilidade não impli-
dão.
nem gosto da janela fechada. ca necessariamente menos longevi-
Por meio dela sinto ligação com
Gosto da janela de vidro. Sem pelí- dade.
outras janelas, tenho contato com o
cula. Aberta. Também não se pode considerar a vento, percebo a claridade do sol
Fecho-a quando chove. fragilidade como sendo algo des- no interior do apartamento, vejo a
prezível. resta da lua no chão, escuto sons do
Não porque não goste da chuva.
Um exército bem treinado, experi- mundo, tenho-a como elo ao exter-
Desta também gosto muito. no e ao Universo.
ente, vencedor de muitas guerras
Fecho-a quando chove apenas com não teria também fragilidade? Minha janela de vidro é pedagógi-
o escopo de proteger a mesa insta-
A vida, a existência, a natureza, o ca.
lada ao pé da janela.
mundo – ao menos este ao alcance Ela me alerta não só quando a chu-
A mesa é de madeira. dos nossos sentidos – teria beleza va vem e devo fechá-la para res-
Água e madeira não se dão. sem pedra e sem fragilidade? guardar a mesa como igualmente
me ensina que sou parte de um to-
Madeira? Matéria prima? Nature- Não seria a fragilidade aquilo que
me faz gostar da janela de vidro, do.
za?
imprescindivelmente aberta? A vista que ela me proporciona é
Também gosto.
Gosto da janela de vidro e não ne- ponte.
Uma janela de madeira a depender go.
Ponte entre mim e o meu interior.
da causa eficiente pode alcançar
bela forma. Gosto da janela de vidro porque, Ponte entre mim e tudo o mais que
afastado o artifício da película ou está lá fora.
Mais prefiro a janela de vidro. da cortina, ainda que fechada ela
Se a janela se fechar, que não seja
Ambas precisam estar abertas. mostra.
para camuflar, aprisionar, esconder
Prefiro-as abertas. E mostra muito. sofrimentos.
Abertas permitem oxigênio, passa- Mostra-me a lua despontando no Se a janela se fechar, que seja por
gem de ar, permitem raios de sol. céu enquanto leio ou escrevo sobre não muito tempo e que seja para
a mesa de madeira. proteger.
A janela de madeira pode ser mais
resistente, embora não mais dura- Mostra-me outras janelas e mora- Bom mesmo é que ela permaneça
doura necessariamente. das. aberta:
A janela de vidro pode quebrar fa- Mostra-me as luzes acesas, feito aberta a nos ensinar a partir da pe-
cilmente afetada, por exemplo, por vagalumes pela cidade, espalha- dra e da fragilidade,
uma pedra. das.
aberta para revelar nossa nudez,
Mais quem não se afeta com a du- E se as luzes se apagarem, mostra-
reza da pedra? me o céu estrelado especialmente aberta para revelar a nudez do
mundo.
em noites não enluaradas.
Quem pode ignorar a proximidade
entre a pedra e a vida, ou ainda, Mostra-me inclusive a chuva vindo
entre a pedra e a existência? em minha direção juntamente com José Sandro Santos Hora
o alerta de que é preciso fechá-la a
É possível ‘ser’ sem a experiência
da pedra? fim de proteger a mesa. Aracaju-Sergipe
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Por que envelhecemos? Final de ciclo, ao descanso e aos sonhos de toda a vida. Ser velho
é ser sábio, maduro, experiente; é sentir missão
magia do reinicio ou gratidão? cumprida e que tudo valeu a pena. Todos aqueles
que chegam na fase da velhice são privilegiados,
sortudos pois nem todos conseguem esse prêmio.
De modo geral, as pessoas temem a chegada da ve- São os denominados “escolhidos”.
lhice. A idade vai chegar um dia, não tenha dúvida, Agradeça se estiver entre esses “escolhidos” e pro-
e como vai chegar para aqueles que não partirem cure aproveitar o máximo do crepúsculo de sua
prematuramente. A preocupação sempre é para com existência. Se orgulhe de seus cabelos brancos e
a saúde. Todos dizem que gostariam de envelhecer respire o ar com humor e alegria, compartilhando
saudável e conscientemente. Todos, indistintamen- os seus ensinamentos com todos quanto for possí-
te, clamam por saúde. vel. Lembre-se de que o mais importante de tudo
Acontece que nem todos têm o privilégio de enve- que viveu, foi o prazer de servir e não de ser servi-
lhecer saudável ou consciente de suas ações. Às do.
vezes, a vida surpreende e inesperadamente, como É evidente que nem todos chegam na velhice com
num passe de mágica, a velhice chega e a pessoa lucidez e com todos os órgãos em perfeito estado.
não se preparou ou não está de forma como ideali- Alguns chegam inconscientes, farrapos e não mais
zou. Daí, vêm as consequências que são inevitá- são donos de suas vontades. Mas nada mais impor-
veis: preconceitos, indiferenças, rejeição, constran- ta. Até para morrer ou fazer a sua passagem de um
gimentos, dependências, dentre outros sentimentos plano para outro, é preciso ter dignidade e discipli-
nada nobres que deixam o idoso com complexo de na.
inferioridade.
Na opinião de alguns, Deus é injusto com o ser hu-
Independentemente da situação, o subconsciente de mano. Primeiro porque oferece saúde, vida, rique-
quem envelhece estará ativo e saberá de tudo o que za, bens materiais, paixões, iludindo com as mara-
acontece ao seu redor e, como a uma câmera de vilhas do mundo e, no final da vida, os expõe ao
captação de imagens e sons, registrará tudo. Nessa ridículo e às humilhações, cobrindo de rugas, com
fase, em geral, todo ser humano se auto define co- deficiências de órgãos, jogando à cama sem poder
mo a um trapo humano, encosto, objeto sem valor, se movimentar, tirando sonhos e desejos e, depois,
uma sucata qualquer, ser desprezível, e sua consci- os restos mortais com destino a uma vala como se
ência, no dia-a-dia, exibirá as cenas de sua existên- fosse material qualquer e sem importância.
cia. Virá à consciência saudade e remorso.
Uma senhora cansada e marcada pela vida, também
Saudade de tudo o que viveu, sonhos realizados, emite sua opinião sobre a velhice. Segundo ela,
vontades divididas, desejos ardentes, paixões, via- Deus num momento final e crucial de nossas vidas,
gens, restaurantes, momentos de luxo e da partida nos tira a memória para que não nos lembremos de
de entes queridos e consequente vazio. nada do que fizemos de bem ou ruim. Essa seria
Remorso por tudo aquilo que deixou de fazer, de se uma ajuda para que a passagem seja feita de forma
arrepender, de pedir perdão, de ter ajudado alguém, tranquila e pacifica no momento determinado pela
de ter amado, de ter dividido o pão, de ter estendido Justiça Divina.
a mão a algum amigo, de ter chegado antes de um Como poeta, acredito na pluralidade de almas e pla-
fato triste ou trágico, tentando salvar alguém, das netas e que necessitamos da vida material para
pessoas que fez infelizes e por ter acumulado tanto avançar rumo à evolução espiritual. A fase da ve-
ódio e vingança em seu coração. lhice é a melhor fase da vida, na qual o ser humano
Estar na velhice não significa ser velho, imprestá- faz suas reflexões e análises profundas.
vel, mas, sim, que cumpriu missões e que se prepa- (...)
ra à despedida deste plano, que serviu de leito
Edimilson Eufrasio
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(...) É nessa fase que a consciência se depara com
sentimentos os mais diversos, inclusive a saudade
que inflama o coração e o peito em razão das lem-
branças. Certamente, é maravilhoso sentir o dever
cumprido, o prazer de deixar um legado que se
perpetue às futuras vidas e gerações. A velhice, ou
a melhor idade, é a fase de preparação para a des-
pedida do planeta e dos ajustes finais da existência
terrena. É importante estar sempre ligados com o
Universo para que, na hora determinada, sejamos
acolhidos em festa por todos os mensageiros divi-
nos ou anjos como querem e acreditam os espiritu-
alistas.
O poeta imortal que é, transcende o imaginário,
viaja nas emoções e sensações, vê a velhice como
magia, algo extraordinário, obra-prima da divinda-
de e oportunidade única de prestar contas; é fase
das considerações finais, ou seja, de findar um ci-
clo e iniciar outro, para que a vida tenha continui-
dade e evolua sempre.
O mais importante de tudo nessa passagem pela
vida é o respeito que se deve ter para com cada ser
humano, independentemente de sua idade ou da
fase em que se vive. É evidente que, cuidando dos
idosos, somos gratos e retribuímos todo amor que
recebemos durante nossas vidas. A gratidão eno-
brece o ser e o credencia para novas lutas e con-
quistas que virão.
Como o Universo retribui tudo o que se faz, certa-
mente, e pela lei do retorno, quando envelhecer,
todos estarão às nossas voltas e poderemos sentir o
mesmo amor que um dia oferecemos. Assim, de
maneira digna, poderemos fazer a passagem desta
para outra vida superior! E para finalizar devemos
fazer as perguntas básicas: Por que envelhecemos?
Final de ciclo, magia do reinicio ou gratidão?
Nico
Edimilson Eufrásio
Mineiros do Tietê/SP
90
Ispinhela caída Pé dismintido Quebranto Vento caído
92
“ Minha Pátria
Éa
Língua Portuguesa”
Fernando Pessoa.
ALMANAQUE 2021
Língua Portuguesa,
Nossa Identidade Cultural/Regional.
Presidente
Alexander Comnène D’Orleans
Organização:
Alexandre Magno Barbosa dos Santos
Acadêmico C 26
95