Níveis de Língua
Níveis de Língua
Níveis de Língua
Variedades geográficas
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A língua portuguesa espalhada pelos vários continentes apresenta variação a nível lexical,
semântico, fonético e morfo-sintáctico.
Verificam-se ainda diferenças típicas em certas regiões do país, como o Alentejo, o Algarve, o
Minho, as Beiras, os Açores, a Madeira, a nível de vocabulário, de significado, de pronúncia - a estas
variedades regionais chamam-se dialectos.
Variedades sociais
O nível social e cultural dos falantes determina algumas variedades linguísticas. O maior ou menor
grau de escolaridade e o tipo de educação, a classe social, a idade, o sexo, a origem étnica de cada falante
identificam o ambiente socio-económico ou educacional e permitem estabelecer relações entre a língua e a
sociedade. Cada grupo social (etário, profissional, étnico... ) utiliza códigos linguísticos e comportamentais
distintos dentro do seu grupo.
Actualmente, com a facilidade de meios de comunicação, há uma tendência para a unificação
linguística, que atenua as variações geográficas, sociais e culturais.
Variação histórica
Com o decorrer do tempo a língua sofre alterações progressivas a nível fonético e fonológico,
morfo-sintáctico, semântico e lexical.
Variedades situacionais
Os falantes, ao desenvolverem a competência comunicativa, adaptam a linguagem à situação de
comunicação mais ou menos formal em que se encontram ou ao tipo de discurso usado (oral, escrito... ).
O tratamento da língua assume registos diferentes conforme os falantes se dirigem a um professor
ou a um colega, aos pais, a um superior hierárquico, ou a utilizam no decurso de uma exposição oral, num
debate, em relações sociais, na comunicação social.
Níveis de língua
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Os enunciados, orais ou escritos, dependem das situações de comunicação. Para transmitir a
mesma informação, o mesmo indivíduo utilizará registos de língua diferentes em função do seu interlocutor,
do local e das circunstâncias em que se encontra e da natureza da mensagem.
Da necessidade desta adequação decorrem os vários registos.
A idade, o sexo, a profissão, o grau de escolaridade, os interesses, a região de origem, a mudança
geográfica no interior ou fora de uma determinada comunidade linguística, o tipo de interlocutor, o grau de
formalidade, as intenções comunicativas, o assunto, a situação e o contexto são parâmetros a ter em conta
quando falamos da utilização efectiva da língua por parte dos indivíduos.
Partindo desta análise inicial, podemos referir-nos às variedades geográficas (regionalismos), fruto
de um maior ou menor isolamento de um determinado grupo no interior de uma dada comunidade
linguística. Por outro lado, falamos de variedades socioprofissionais ao assumirmos que, em função dos
grupos sociais, culturais e/ou profissionais em que se integram, os falantes recorrem a linguagens especiais
(especializadas ou técnico-cientificas), por exemplo, do domínio da Medicina, da Electricidade, da
Mecânica, da Informática, da Olaria, etc.
Categorias distintas são também a gíria e o calão, linguagens consideradas marginais,
normalmente utilizadas por indivíduos que pertencem a um determinado grupo sócio-profissional. Podemos
falar da gíria dos médicos, dos linguistas, dos pescadores, entre muitas outras. O calão pode ser uma gíria
particular, normalmente associada a situações e contextos peculiares e ditos marginais, o que não equivale
a dizer que se trata da linguagem das camadas sociais mais desfavorecidas.
O calão cria novas palavras e contribui para o enriquecimento lexical e frásico de qualquer língua.
Varia de geração para geração e está muito associado à intimidade entre os falantes e ao tom coloquial.
Veja-se a este propósito o seguinte exemplo:
«Rádio? Que rádio? Vomita já essa história toda antes que te rache a mona!» (Mário Zambujal,
Crónica dos Bons Malandros, p. 15).
A gíria é normalmente entendida por um restrito grupo de indivíduos que se move numa
determinada área do saber ou tem uma profissão em comum, podendo, gradualmente, passar a ser
entendida por um maior número de falantes. Palavras como bombordo, estibordo, proa, popa fazem parte
da gíria dos marinheiros. As fronteiras entre a gíria e a linguagem técnica, científica ou qualquer uma das
linguagens especializadas não estão bem definidas, pelo que podemos hesitar quanto à sua mais correcta
classificação.
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O nível cuidado caracteriza-se pela preocupação relativamente à forma e ao conteúdo. Define-se
pelo rigor das construções frásicas e por uma escolha cuidada do léxico. É utilizado em conferências,
prefácios e em textos de carácter mais formal.
«Meus Senhores: / A decadência dos povos da Península nos três últimos séculos é um dos factos
mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se
quase sem transição a um período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente
e incontestável que nessa história aparece aos olhos do historiador filósofo.» (Antero de Quental, "Causas
da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos", conferência, Casino Lisbonense, 1871.)
Por sua vez, o nível popular está associado à simplicidade da utilização linguística em termos
lexicais, fonéticos, sintácticos e semânticos. Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da
natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. Tomem-se a título exemplificativo os
excertos que se seguem:
«Minha santa filha do meu bô coração/ Cá arrecebi a tua pera mim muito estimada carta e nela
fiquei ciante e sastifeita por saber que andavas rija e fera na cumpanhia do teu marido.» (Aquilino Ribeiro, O
Homem na Nave); «- Ó Tio Luís, ó Tio Luís!.../ - Que é? / - Vossemecê não vê? (...)/ - Ouviste por 'i berrar
uma cabra?» (Camilo Castelo Branco, Maria Moisés, pp. 44-45).
Finalmente, referimo-nos ao nível culto quando os falantes, fazendo uso de uma linguagem
rigorosa, elaborada e por vezes hermética, se referem a temas considerados eruditos. Nem sempre é tarefa
fácil demarcá-lo com exactidão.
«Perturba-me escrever sobre a minha poesia como me solicitam os que aqui a dão a conhecer
numa amplitude próxima do seu conjunto (ficam ainda de fora alguns inéditos) porque, ao fazê-lo, das duas
uma: ou, tara que não me seduz, indulgiria em entregar-me ao onanismo de uma auto-apreciação
irremediavelmente atada ao cordão umbilical que me liga aos meus poemas; ou, baforando fumaças de
objectividade, só por um factício prodígio poderia transmigrar de autora para teorizadora desse meu íntimo
assunto poético em que além de mim age um ignotus que ainda estou para saber o que é.» (Natália Correia,
Poesia Completa, "Introdução", p. 29)
Ao optar por um determinado nível de língua, cada indivíduo está a adequar o seu discurso à
situação comunicativa em que se encontra. Desta forma, não será correcto falar de uma hierarquia de
níveis, pressupondo uma gradação ascendente ou descendente em relação à considerada norma. Qualquer
falante alterna a utilização dos vários níveis porque incorrecto seria não adaptar a forma ao contexto
situacional.
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Crónica do Falar Lisboetês
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cada vez mais a pronúncia em relação à grafia das palavras e torna o português europeu uma língua
de sonoridade exótica, cada vez mais incompreensível já não somente para os espanhóis (apesar da
facilidade com que nós os entendemos a eles), mas inclusive para os brasileiros, cujo português
mantém a pronúncia bem aberta das vogais e uma rigorosa separação de todas as sílabas das
palavras.
Vital Moreira, Públi co,04/01/2000
APOSTILA - O meu amigo Vital Moreira escreveu, para o "Público", uma estranha crónica, na
qual, com mão e ironia por igual pesadas, troça do sotaque lisboeta, a que chama inapropriadamente
"lisboetês", no que seria, porventura, "lisboês." O Vital sabe que os registos fonológicos ou fonéticos
obedecem à natureza constitutiva de cada território idiomático. Qual a razão do dislate intempestivo?
"A minha pátria é a minha língua portuguesa", disse-o Mia Couto, de maneira exemplar, na revista
"Pública", último domingo. O português falado (admito, até, que "mal falado") em Lisboa é-o assim
tão, e tanto, quanto o de cada ilha dos Açores; ou do Alentejo, ou da meseta transmontana; ou do
Bulhão, ou de Moçambique, ou de Timor Loro Sae, ou do Brasil, ou de sei lá quanto quê!? Menos em
Coimbra, claro! aí, a fala fia fino, feliz e fluida. Vital Moreira é dos homens mais lúcidos que conheço,
e a sua curiosidade activa está a par da sua integridade moral e cultural. Eis porque o texto do meu
velho amigo adquire uma espessura surpreendentemente "racista." Então, ó Vital, querias a
globalização da fala?, o sotaque único? Deixa-nos comer as vogais, trocar os "conjuntos" de
consoantes; deixa-nos dizer assim como assim falamos. A riqueza do idioma consiste nas suas
variantes sintácticas e nos registos fonéticos. E as línguas são organismos vivos, que se remancham
e remanejam a eles mesmos; que podem provir do norte ou do sul, que possuem uma qualidade
miscível, de miscigenação, que deixam de ser pertença de, para se constituírem como leitos de
nações. ( ... ).