Coelhos
Coelhos
Coelhos
Mastitev.33,
com n.2, p.373-376,
lesões sistêmicas2003
por Staphylococus aureus subesp. aureus em coelhos. 373
ISSN 0103-8478
-NOTA-
Recebido para publicação 30.10.01 Aprovado em 08.05.02 Ciência Rural, v. 33, n. 2, 2003.
374 Traverso et al.
Feridas superficiais da pele constituem a resultar em morte hiperaguda com sinais clínicos pou-
principal via de entrada de Staphylococcus aureus. A co específicos. Animais que sobrevivem podem de-
pododermatite é freqüentemente encontrada em coelhos senvolver abscessos nos órgãos internos, como cora-
adultos mantidos em gaiolas, ou em coelhos de grande ção, rim, pulmão, fígado, e baço. Osteíte e osteomielite,
porte. Nas mastites, a bactéria atinge a glândula através similares às observadas em actinomicose, têm sido des-
de ferimentos produzidos pelos dentes dos filhotes ou critas. A mortalidade em recém-nascidos e coelhos jo-
decorrentes de traumatismos causados pelos arames vens pode ser alta em conseqüência da mastite das
das gaiolas. A glândula mamária é altamente suscetível fêmeas lactantes (CUBILLOS et al., 1986; DEVRIESE et
à infecção estafilocócica durante a lactação al., 1996).
(OKERMAN et al., 1984). O presente relato descreve a ocorrência de
Staphylococcus aureus possui três tipos de mastite por Staphylococcus aureus subesp. aureus
exotoxinas: hemolisinas, enterotoxinas e leucocidinas com lesões disseminadas em coelhas de um criatório
e que determinam sua patogenicidade (MAYR 1993) da raça Nova Zelândia Branco, onde havia um total de
O Staphylococcus aureus causa mastite gangrenosa 1800 animais. Das 180 matrizes desta criação, 60 (33%)
devido à toxina que produz vasoconstrição isquemia apresentaram mastite. Estas matrizes eram animais de
necrose e gangrena (DEVRIESE et al., 1996). Cepas de segunda parição e estavam entre 10 e 12 meses de ida-
S. aureus de 59 cultivos classificadas como de alta e de. Em alguns casos, a mastite envolvia uma única glân-
baixa virulência indicaram que, pelo menos, duas mar- dula, e, em outros, várias glândulas mamárias estavam
cas antigênicas determinadas por western blot com afetadas. Notava-se um aumento de volume com con-
peso molecular de 27 e 29 kDa eram comuns a todas as sistência firme levemente nodulada. Os animais ema-
27 culturas consideradas altamente patogênicas para greciam progressivamente.
coelhos (HERMANS et al., 2001) Adicionalmente, Quinze coelhas afetadas foram
Staphylococcus aureus subesp. aureus (MacFADDIN, necropsiadas e amostras de diversos tecidos incluindo
2000) produz uma toxina que tem sido associada à as glândulas mamárias foram coletadas e processadas
vasoconstricção, trombose, isquemia e necrose, oca- para exames histopatológicos. À necropsia, observou-
sionando, às vezes, mastite gangrenosa. A formação se que a principal lesão estava presente nas mamas e
de uma coagulase do plasma livre ou ligada às células, consistia de abscessos contendo pus (Figura 1) de cor
além da produção de uma nuclease termoestável, é o clara e consistência cremosa, além de pequenas
principal critério para diferenciar estafilococos nodulações irregulares. Vários destes animais
coagulase positivos de estafilococos coagulase ne- apresentavam abscessos em outros órgãos incluindo
gativos. (MAYR, 1993). Há uma alta correlação entre coração, pulmão, fígado (Figura 2) e rins. Também eram
as cepas de Staphylococcus sp. que produzem observados abscessos de aproximadamente 0,5cm de
coagulase e as produtoras de toxina (OKERMAN et
al., 1984). Há no entanto, patogenicidade comprovada
em espécies de estafilococos coagulase negativa
como S. epidermidis que foi encontrado em lesões
cutâneas, endocardites e mastites em animais ( MAYR,
1993).
A infecção por Staphylococcus aureus pode
ocorrer de forma aguda, subaguda ou crônica. Os ani-
mais infectados somente apresentam manifestações
clínicas quando apresentam baixa imunidade. Há pre-
dominantemente uma manifestação cutânea e posteri-
ormente uma generalização da infecção. (OKERMAN
et al., 1984). Os sinais clínicos dependem do modo e
duração da infecção. Nas formas aguda e subaguda,
há tumefação e avermelhamento da pele e tecido sub-
cutâneo e, às vezes, da glândula mamária. Na forma
crônica da infecção, são observados abscessos na
mama e tecido subcutâneo, associados ou não a
pododermatites ulcerativas e hemorrágicas com for-
mação de crostas e exsudato purulento, que podem ser Figura 1 Coelha, apresentando abscesso na região mamáriaa
observadas em todos os membros. A septicemia pode direita.
Figura 2 Fígado coelha, com presença de diversos Figura 3 Glândula mamária coelha, demonstração da presença
microabscessos disseminados pelo parênquima. de um abscesso (A) associado a tecido glandular
Coloração HE normal (B.).Obj 20 HE
diâmetro na musculatura do tronco e membros, além de sílios e, inclusive, os tratadores dos animais são cita-
pododermatite, em alguns casos. dos como importante fonte de contaminação
Vinte e duas amostras de tecidos que in- (CUBILLOS et al., 1986). Há possibilidade, embora não
cluíam mama, fígado, rim e pulmão provenientes de comprovada, de ter ocorrido, no presente relato, a trans-
coelhas com mastite foram cultivadas em ágar Mueller missão de Staphylococcus aureus subesp. aureus en-
Hinton contendo 10% de sangue citratado de ovino e tre humanos e coelhos.
no meio de Chapman-Stone1 e incubados a 37ºC por 24 A disseminação do agente formando êmbo-
horas. O tamanho e a hemólise das colônias foram fei- los sépticos em diversos tecidos , principalmente quan-
tas nas placas de ágar sangue e a produção de pig- do retidos em vasos de menor calibre, exemplifica uma
mento avaliada nas placas de chapman-stone. A ativi- tromboembolia bacteriana semelhante àquela obser-
dade da coagulase e do fator clumping foram deter- vada por Actinobacillus equuli em potros (MAYR,
minados em tubos e em lâminas pelos testes conven- 1993).
cionais com plasma citratado de coelho. As provas
bioquímicas foram feitas de acordo com os métodos AGRADECIMENTOS
preconizados por MacFADDIN (2000).
Das 22 amostras cultivadas em 18 foram Os autores agradecem ao CNPq Pronex por auxí-
isoladas Staphyloccocus aureus subespécie aureus lios prestados ao Laboratório de Patologia Veterinária Facul-
e 4 amostras foram negativas. Dos swabs nasais de dade de Veterinária, UFRGS.
três tratadores, em dois deles, foram isolados
Staphylococcus epidermidis e do terceiro tratador, FONTES DE AQUISIÇÃO
responsável pelo diagnóstico de gestação, foi isola- 5
Difco Laboratories PO Box 331058 Detroit MI
do Staphyloccus aureus subespécie aureus. Fragmen- 48232-7058 USA
tos de tecidos fixados em formol e processados por
métodos convencionais revelaram múltiplos absces- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sos (Figura 3) e êmbolos bacterianos em diversos te-
cidos. CAROLAN, M.G. Staphylococcosis in rabbits. Vet Rec, v.119,
No presente surto de estafilococose regis- p.412, 1986.
traram-se severas perdas econômicas, confirmando CUBILLOS, V.; PAREDES, E.; FIELDER, H.H.
relatos anteriores (HAGEN, 1963; OKERMAN et al., Staphylococcosis in rabbits. Arch Med Vet, v.18, p.14,
1984). A via de transmissão entre animais do agente 1986.
Staphylococcus aureus pode ser direta por via
DEVRIESE, L.A. et al. A new pathogenic Staphylococcus
aerógena e muitos coelhos podem ser portadores do aureus type in comercial rabbits. J Vet Med, v.43, p.313-315,
agente sem sinais clínicos. A via indireta inclui uten- 1996.
HAGEN, K.W. Disseminated staphylococcic infection in young MacFADDIN, J.F. Biochemical tests for identification of
domestic rabbits. J Am Vet Med Assoc, v.142, p.1421-1422, medical bacteria. Baltimore : Lippincot Williams & Wilkins,
1963. 2000. 912p.
HOLLIMAN, A.; GIRVAN, G.A. Staphylococcosis in comercial OKERMAN,L. et al. Cutaneous Staphylococcosis in rabbits.
rabbitry. Vet Rec, v.119, p.187, 1986. Vet Rec, v.114, p.313-315, 1984.