Doenças Que Causam Úlceras Genitais

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 13

Doenças que causam úlceras genitais

INTRODUÇÃO

 São lesões localizadas principalmente em região de vulva, vagina ou colo


uterino.
 Os principais agentes etiológicos são o Herpes simplex vírus, Trepomena
Pallidum, Chlamydia trachomatis, Haemophilus ducrey e Klebsiella
granulomatis.
 Outras doenças não infecciosas também podem causar aparecimento dessas
úlceras como Doença de Behçet, que é o principal diagnóstico diferencial
por se tratar de uma doença inflamatória crônica, de etiologia incerta,
caracterizada por úlceras também na cavidade oral, uveíte e sintomas
sistêmicos.
 Além disso, neoplasias de vulva, dermatite de contato e traumas na região.

Herpes genital

 Agente: Herpes simplex vírus (HSV- -tipo 1 e HSV-tipo 2).

Epidemiologia

 A causa mais comum de úlcera genital é a herpes genital,


principalmente pelo sorotipo HSV-tipo2.
 A transmissão ocorre por contato sexual vaginal, oral ou anal, pela
mucosa ou lesão infectante.
 Cerca de 50-90% dos adultos têm anticorpos circulantes contra HSV-tipo1;
e 20-30% contra HSV-tipo2. Pacientes portadoras de HSV-tipo 2 têm mais
chance de contrair o vírus HIV.
 Muitas pacientes são portadoras assintomáticas do vírus, porém
contaminantes, o que dificulta o controle da doença.

Classificação

Primoinfecção herpética

 Geralmente subclínica e a paciente torna-se portadora assintomática.


 Nos casos sintomáticos, período de incubação de 4-7 dias, observam-se
lesões eritematopapulosas de 1 a 3 mm em pequenos lábios, clitóris,
grandes lábios ou fúrcula vaginal que evoluem para vesículas agrupadas com
conteúdo citrino, que se rompem e dão origem a ulcerações muito
dolorosas.
 Adenopatia inguinal bilateral pode estar presente em 50% dos casos.
Quando presente, a cervicite herpética cursa com corrimento genital
aquoso.
 A paciente pode apresentar ainda sintomas gerais como febre, mal estar e
mialgia.
 Após 3 semanas o vírus entra em estado de latência em gânglios
medulares ou de nervos cranianos.
 As lesões herpéticas são caracterizadas por vesículas agrupadas sobre
uma base eritematosa, que evoluem para pequenas úlceras arredondadas,
dolorosas, com bordas lisas.
 Posteriormente são recobertas por crostas sero-hemáticas até a
cicatrização. A lesão tem regressão espontânea em 7-10 dias.

Herpes recidivante

 90 – 60% dos pacientes tem recidiva em 1 ano por reativação dos vírus,
que migram através dos nervos periféricos e promovem erupções em
pele e mucosa.
 O quadro clínico é menos intenso do que na primo-infecção, sendo
precedido por aumento da sensibilidade, prurido, queimação e “fisgadas”
nas pernas, quadris e região anogenital.
 Alguns fatores podem promover a reativação do vírus, como estresse
físico ou emocional, imunodeficiência, uso prolongado de antibióticos,
trauma local, mudanças hormonais do ciclo menstrual, exposição à
radiação ultravioleta.
 As lesões tendem a ocorrer na mesma região da lesão inicial e regridem
espontaneamente entre 7 e 10 dias.

Diagnóstico

 Essencialmente clínico, por meio da história e características da lesão.


 O diagnóstico laboratorial também pode ser feito pela coleta de material
por meio de swab, para detecção direta do HSV.
 A citopatologia (método de Tzanck) trata-se de um raspado de vesícula
integra para observação de inclusões virais.
 Existem também testes virológicos, pelo isolamento do HSV em cultura
(padrão-ouro).
 Os métodos de amplificação de ácido nucléico (NAATs), incluindo ensaios de
reação em cadeia da polimerase (PCR), estão agora disponíveis
comercialmente e são o teste de escolha, pois possuem uma sensibilidade
mais alta que a cultura ou o teste direto de anticorpos imunofluorescentes.

Tratamento

 Em geral, o tratamento inclui a prevenção da transmissão, a atenuação


da sintomatologia, a redução da possibilidade de complicações
posteriores, a promoção da cura do episódio e a supressão possível dos
episódios de recrudescência.
 Se os sintomas forem mínimos, poderá ser suficiente a utilização de
analgésicos e de limpeza das lesões.
 A utilização de analgésicos ou AINES e permanganato de potássio, é
realizado para evitar infecções bacterianas secundárias nas lesões genitais.

OBS: no TTO o professor passou apenas os nomes dos fármacos.

 Em primo-infecção, o tratamento pode ser feito com:


1. Aciclovir 400mg, via oral, de 8 em 8 horas, por 5-10 dias ou
2. Aciclovir 200 mg, via oral, de 4 em 4 horas, por 5-10 dias ou
3. Valaciclovir 500, via oral, de 12 em 12horas, por 5-10 dias ou
4. Famciclovir 250 mg, via oral, de 8 em 8 horas, por 5-10 dias.
 Em recidivante, deve-se tratar ao aparecimento dos pródromos com:
1. Aciclovir 800 mg, via oral, de 8 em 8 horas, por 2 dias ou
2. Aciclovir 400 mg, via oral, de 8 em 8 horas, por 3-5 dias ou
3. Aciclovir 200 mg, via oral, de 4 em 4 horas, por 3-5 dias ou
4. Valaciclovir 500 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 3-5 dias.
5. Famciclovir: 1g, via oral, de 12 em 12 horas, por 1 dia ou
6. Famciclovir 250mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias ou
7. Famciclovir 125mg, via oral, de 12 em 12 horas por 3-5 dias.
Sífilis

 Agente: Treponema pallidum, bactéria Gram-negativa, do grupo das


espiroquetas.
 Transmissão: A transmissão se dá, quase que exclusivamente, por
contato, principalmente sexual, com pacientes com lesões genitais
ativas.
 Na sífilis congênita, ocorre por meio da via hematogênica.
 O tratamento não confere imunidade, podendo-se contrair a infecção
toda vez que houver exposição.
 Epidemiologia: O Brasil vive um período de aumento de casos de sífilis.

Classificação

Sífilis primária

 Conhecida por cancro duro.


 Possui incubação de 10- 90 dias, em média de 3 semanas.
 Inicialmente ocorre o aparecimento de lesão genital ulcerada, quase
sempre única, indolor, de bordos endurecidos, de fundo limpo e rica em
treponemas.
 Além disso, ocorre adenopatia satélite inguinal bilateral, indolor. A lesão
dura cerca de 2 a 6 semanas e desaparece espontaneamente.
 A lesão da sífilis primária é caracterizada por ser única, indolor, com
bordas bem delimitadas, base endurecida, fundo limpo e de coloração
rosa avermelhada.
 Ela pode se localizar na vulva (nos grandes lábios, pequenos lábios,
fúrcula vaginal), mucosa vaginal e anal, no colo do útero e também na
mucosa oral.
 A linfadenopatia geralmente é regional, unilateral, múltipla, indolor, não
supurativa, sem flogismo, aparecendo uma semana após a lesão primária.
Sífilis secundária

 Surge entre 6 semanas a 6 meses após cancro duro, manifestando


lesões cutâneo-mucosas, como roséola sifilítica (exantema morbiliforme
não pruriginoso), sífilis papulosa palmo-plantar, alopecia areata e lesões
pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas cutâneas (condiloma plano
ou condiloma lata).
 Pode vir acompanhada de febre, mal-estar, cefaleia, adinamia, aumento dos
linfonodos palpáveis presentes em região cervical posterior, axilar, inguinal
e femoral.
 Mais raramente observa-se acometimento hepático, quadros meníngeos e
comprometimento ocular (uveíte).
 As lesões desaparecem entre 4-12 semanas, sem cicatrizes.
 Nesse estágio da doença, há resposta imune significativa, com aumento da
produção de anticorpos contra o treponema. Esses anticorpos circulantes
resultam em maiores títulos nos testes não-treponêmicos e implicam em
resultados reagentes nos testes treponêmico.
Sífilis terciaria

 Tardia, surge após 2 - 40 anos da infecção.


 Apresenta manifestações cutâneas (lesões gomosas e nodulares),
neurológicas (tabes dorsalis, parestesia generalizada, meningite), ósseas
(osteíte gomosa, periostite, osteíte esclerosante) e cardiovascular
(aortite sifílica).

Sífilis latente

 Evolui sem sintomatologia clínica, apenas com sorologia positiva.


 Pode ser recente (até 1 anos de evolução), tardia (mais de 1 ano) ou
indeterminada, quando não se sabe o tempo de evolução.

Diagnóstico

 A microscopia de campo escuro é padrão-ouro no diagnóstico de sífilis,


porém raramente está disponível (faz-se a pesquisa direta do Treponema
através de material colhido de raspagem da lesão primária).

Testes não treponêmicos

 O teste sorológico não treponêmico, VDRL, é bastante sensível e utilizado


como screening populacional (falsos-positivos em portadores de doenças
autoimunes, tuberculose, gravidez, idosos e usuários de drogas injetáveis).
 Seu resultado é apresentado em diluições (exemplo: 1:2, 1:4, 1:8).
 Ficam positivos de 2 a 3 semanas após a infecção após o aparecimento do
cancro duro.
 Se o teste for positivo, realiza-se o teste treponêmico (FTA-ABS),
altamente específico, sendo capaz de fechar diagnóstico de sífilis.
 É um teste para seguimento clínico e incremento ≥ 4 vezes o valor
inicial (exemplo: de 1:4 para 1:16) do VDRL correlaciona-se com
doença em atividade.

Testes treponêmicos

 Detectam anticorpos contra o Treponema e demonstram que a paciente


já teve algum contato com a bactéria.
 O teste rápido de sífilis é utilizado como exame de triagem.
 É um teste imunocromatográfico, treponêmico, prático e de fácil execução,
para detecção de anticorpos treponêmicos específicos.
 Caso positivo, deve ser confirmado com testes laboratoriais, porém em
gestantes, inicia-se o tratamento imediatamente.
 O FTA- Abs é utilizado para confirmação diagnóstica, tendo alta
especificidade e sensibilidade. Uma vez positivo, sempre positivo, sendo
assim, não diferencia nova infecção de um paciente que já teve história
de sífilis.
 Os diagnósticos diferenciais incluem fissuras, úlceras traumáticas, herpes
simples, cancro mole, cancro misto de Rollet (cancro duro + cancro mole),
donovanose, farmacodermias e viroses exantemáticas.

Tratamento

Sífilis primária, secundária ou latente recente

 Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, intramuscular (1,2 milhões em


cada nádega), em dose única.
 Alergia a penicilina, grávida: Doxiciclina 100 mg, VO, 12/12h, por 14 dias

Sífilis terciária ou latente tardia/ indeterminada:

 Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI, intramuscular (1,2 milhões em


cada nádega), semanal, por 3 semanas.
 Alternativa: Doxiciclina 100 mg, VO, 12/12h, por 30 dias;

Neurossífilis

 Penicilina G Penicilina cristalina, 18-24 milhões UI/dia, IV, administrada em


doses de 3-4 milhões UI, a cada 4 horas ou por infusão contínua, por 14
dias.

*Os pacientes devem ser acompanhados de 2-3 meses no primeiro ano, 6


meses no segundo ano e as gestantes mensalmente, para avaliação de falha
terapêutica e necessidade de retratamento. Em geral, esses testes
negativam, porém, podem apresentar dosagem baixa persistente, descrita
como cicatriz sorológica. Após o tratamento espera-se, pelo menos, redução
de 4x no título do VDRL ao longo de 6 meses.
Linfogranuloma venéreo

 Agente: Chlamydia trachomatis sorotipos L1, L2 ou L3, bactéria gram


negativa intracelular obrigatória.
 Epidemiologia: Também chamada de linfogranuloma inguinal, doença de
Nicolas-Favre ou “bubão”. É uma doença linfoproliferativa, que
apresenta como fatores de risco: múltiplos parceiros sexuais, a
soropositividade para o HIV e sexo anal.
 Transmissão: contato sexual.
 O quadro clínico apresenta três fases:
I. Fase de inoculação: O período de incubação é de 3 a 12 dias.
Inicialmente, surgimento de pápulas ou pústulas na região vulvar,
evoluindo com úlcera indolor ou reação inflamatória no local da
inoculação. Regride espontaneamente em 3 a 5 dias.
II. Fase de disseminação linfática regional: Ocorre em 1 a 6 semanas
após o aparecimento da primeira lesão e corresponde a infecção dos
linfonodos regionais, com adenite inguinal, sendo 70% dos casos
unilateral.
III. Fase de sequelas: Há drenagem do material purulento, com
formação de cicatrizes e retrações. A lesão da região anal pode
levar a proctite e proctocolite hemorrágica. O contato orogenital
pode causar glossite ulcerativa difusa, com linfadenopatia regional.
Podem ocorrer manifestações intestinais e sistêmicas, como febre,
mal-estar, emagrecimento, sudorese noturna, artralgia e meningismo.
A obstrução linfática crônica leva à elefantíase genital, que na
mulher é denominada estiomene. Além disso, podem ocorrer fístulas
retais, vaginais, vesicais e estenose retal.
Diagnóstico

 Dificilmente o diagnóstico é feito apenas com base na clínica.


 Laboratorialmente, realiza-se pesquisa de C. tracomatis por PCR ou captura
hídriba.
 Sorologia IgG positiva não consegue distinguir infecção atual ou passada.

Tratamento

 1ª opção: Doxiciclina 100 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 21


dias.
 2ª opção: Azitromicina 1g, via oral, 1 vez por semana, por 3 semanas
(preferencial nas gestantes) ou Eritromicina 500mg, via oral, de 6 em 6
horas, por 21 dias.
 Os parceiros devem ser tratados da mesma forma, caso sejam
sintomáticos.
 Se os parceiros forem assintomáticos, recomenda-se o tratamento com
Azitromicina 1g, via oral, dose única, ou Doxiciclina 100mg, via oral, de 12 em
12 horas, por 7 dias.
 O tratamento cirúrgico pode ser necessário para exérese da lesão ou
para drenagem, evitando a formação de úlcera ou fístulas crônicas.

Cancro mole ou cancroide

 Agente: Haemophilus ducreyi, coco bacilo gram negativo.


 Epidemiologia: Houve declínio na sua incidência nos últimos anos. Porém,
ainda se configura como terceira causa mais comum de úlceras genitais.
 Transmissão: contato sexual.

Manifestações clínicas

 Período de incubação de 3 a 5 dias.


 Apresenta-se com uma ou múltiplas ulceras dolorosas hiperemiadas, com
bordas irregulares e eritemato-edematosas, fundo purulento ou
irregular, recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor
fétido e com tecido granulomatoso ao fundo.
 Compromete, principalmente, a genitália externa, mas pode acometer
também ânus e, raramente, cavidade oral.

 Pode ainda atingir os linfonodos inguino-crurais (bubão), sendo unilaterais


em dois terços dos casos (mais em homens), que pode supurar ou fistulizar.
 O diagnóstico é clínico, deve ser pensado após excluir sífilis e pelas
características das lesões.
 O diagnóstico laboratorial é pouco utilizado, mas pode-se realizar exame à
fresco com pesquisa microscópica de H. ducreyi.
 Tratamento
a) 1ª opção: Azitromicina 1g, via oral, dose única ou Ceftriaxone 250-
500mg, intramuscular, dose única.
b) 2ª opção – contraindicada para gestantes: Ciprofloxacina 500mg, via
oral, de 12 em 12 horas, por 3 dias.
 O tratamento sistêmico deve ser acompanhado de medidas locais de
higiene.
 Os parceiros devem ser tratados mesmo quando assintomáticos.

Donovanose

 Agente: Klebisiella granulomatis, bactéria intracelular gram negativa.


 Epidemiologia: Também chamada de granuloma inguinal, possui baixa
prevalência no Brasil, estando mais associada a população com baixo nível
socioeconômico, principalmente na região Norte.

Manifestação

 Período de incubação em torno de 50 dias, variando de 3 dias a 6 meses.


 Lesões únicas ou múltiplas granulomatosas e ulcerovegetantes em região
genital, inguinal e perianal, de evolução lenta, progressiva, indolor e
sem linfadenopatia regional.
 São lesões altamente vascularizada, que sangram facilmente.
Granulomas subcutâneos também podem ocorrer.

 O diagnóstico é clínico. A identificação do microrganismo causador é


difícil, sendo confirmatório pela visualização dos corpúsculos de Donovan
(inclusões bacterianas no interior de macrófagos) em material de biópsia.
 O tratamento é feito por 3 semanas ou até a regressão das lesões,
sendo que esse tratamento pode ser estendido a mais que 3 semanas,
até a remissão completa das lesões.
 Remissões podem ocorrer até 6-18 meses pós-terapia.
 1ª opção: Doxiciclina 100mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 3
semanas.
 2ª opção: Azitromicina 1g, via oral, 1 vez por semana, por 3 semanas ou
Ciprofloxacino 750mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 3 semanas ou
Sulfametoxazol – Trimetoprim (800/160mg), via oral, de 12 em 12 horas,
por 3 semanas ou associar Eritromicina 500mg, via oral, de 6 em 6 horas,
por 3 semanas + Gentamicina 1mg/kg, intravenoso, a cada 8 horas, em alguns
casos mais graves.
 Em gestantes: Esterato de Eritromicina ou Azitromicina.
 Em pacientes HIV+ não há diferença.
Muita atenção nesse quadro.

Você também pode gostar