Ciencias Sociais
Ciencias Sociais
Ciencias Sociais
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Bem vindo(a)!
Esta disciplina é um convite para que você conheça a Sociologia, a ciência que
busca interpretar as transformações sociais do mundo em que vivemos. Buscamos,
aqui, te incentivar a mobilizar as principais teorias e os principais conceitos
sociológicos para a sua formação pro ssional.
Bons estudos!
Unidade 1
A consolidação da
Sociologia como Ciência:
contextos históricos e
sociais, características
teóricas e metodológicas
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Introdução
Olá, aluno(a)! Esta unidade é um convite a conhecer a sociologia e o seu processo de
consolidação como ciência. Partimos de uma contextualização de movimentos
políticos e intelectuais que favoreceram o surgimento da sociologia, ciência que
busca interpretar as transformações sociais emergentes da constituição da
sociedade moderna.
Bons estudos!
Movimentos políticos e
intelectuais que
possibilitaram o
surgimento da Sociologia
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
A consolidação das ciências sociais é resultado de movimentos políticos e
intelectuais que “atravessaram” o processo de constituição e de desenvolvimento da
sociedade moderna. Esses movimentos emergiram no contexto das discussões
sobre as relações humanas e as transformações sociais oriundas da industrialização.
REFLITA
O Conceito de Modernidade
Um dos grandes marcos desse período foi quando Lutero, em 1517, elaborou 95 teses
e as a xou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Suas teses traziam os
questionamentos que o teólogo tinha com relação às práticas da Igreja Católica,
consideradas abusivas pelo monge. Em 1520, o Papa escreveu uma carta a Lutero,
ameaçando-o de excomunhão caso ele não se redimisse quanto a seus
questionamentos. O monge não se redimiu e ainda queimou a carta papal.
Figura 1.1: Lutero queimando a carta papal, em 1520
Iniciada em meados do século XVIII, a Revolução Industrial foi resultado de uma série
de fatores, a exemplo do desenvolvimento de uma nova tecnologia de produção, as
máquinas a vapor, que inovaram as relações de trabalho nesse período. Por sua vez,
essas relações de trabalho foram impactadas pelo movimento migratório de
trabalhadores do campo, que iam para as cidades em busca de trabalho e sustento.
Ademais, o protagonismo da classe burguesa, nanciadora da criação de fábricas,
favoreceu o surgimento de um novo mercado consumidor. Esse contexto alterou
signi cativamente a forma de se estabelecer as relações sociais nesse período,
principalmente no que diz respeito aos processos de produção de mercadorias.
Figura 1.2: Máquina a vapor
Figura 1.3: Filósofos iluministas reunidos no Salão de Madame Geoffrin. Óleo sobre
tela de Anicet Charles Lemonnier, 1812
Nesse período, o principal objetivo dos intelectuais engajados nesse movimento era
difundir o ideal de que uma sociedade próspera é aquela que interpreta as suas
relações e complexidades por meio da razão e de argumentos legitimados pela
ciência.
ACESSAR
Além disso, o êxodo rural rapidamente superpopulou as cidades. Houve uma grande
quantidade de trabalhadores que passaram a oferecer mão de obra em abundância
e cada vez mais barata. Assim, com as cidades superpovoadas, as pessoas em busca
de emprego nas fábricas e os indivíduos desempregados, o número de miseráveis foi
aumentando consideravelmente. Problemas de infraestrutura nas cidades,
aglomeração de pessoas miseráveis, sujeitos desempregados, esses e outros fatores
resultaram em miséria, fome, violência e condições de sobrevivência cada vez mais
precárias para os menos favorecidos pelo sistema capitalista.
Diante de todas essas mazelas sociais, o lósofo francês Auguste Comte (1798-1857)
procurou entender essa sociedade capitalista desigual e problemática em
consolidação. As principais questões desse pensador eram: como nossa sociedade
funciona? Quais são os motivos para os con itos e a desordem social? Comte, então,
começou a desenvolver um método para se pensar a sociedade por meio de uma
ciência positivista. Você sabe o que isso signi ca? Signi ca que Comte acreditava na
superioridade da ciência e no poder que ela tem de explicar os fenômenos sem a
utilização de parâmetros religiosos e míticos. Para esse lósofo, a ciência poderia dar
conta de oferecer soluções e estabelecer a ordem social.
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo
dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são
considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e
siológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o
objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a
explicar, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do
desenvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas partes
essenciais. (COMTE, 1972, p. 86)
REFLITA
“Ordem e Progresso”
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
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Os clássicos da sociologia são pensadores que forneceram subsídios para a criação
de instrumentos de análise, além de perspectivas teóricas e contribuições re exivas
sobre o funcionamento de nossa sociedade. Os autores que se destacam como
clássicos dessa disciplina são: Marx, Weber e Durkheim. Consideramos suas
concepções teóricas como precursoras do pensamento sociológico, e é por esse
motivo que merecem destaque nesta unidade.
Émile Durkheim
O francês Émile Durkheim (1855-1917) inspirou-se na teoria positivista de Comte.
Para esse pensador, a sociedade é regida por leis exteriores e independentes da
vontade humana. Portanto, a sociedade orienta nossos comportamentos e ações. O
principal objetivo de Durkheim era tornar a sociologia um conhecimento cientí co.
Max Weber
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) centrou sua discussão teórica nas ações
individuais, com uma perspectiva oposta à de Durkheim. Para Weber, não existem
leis universais que regem a vida em sociedade. Além disso, segundo esse sociólogo,
a compreensão de um fenômeno social deve partir da análise do comportamento
individual perante a coletividade.
Figura 1.7: Max Weber
Karl Marx
Karl Marx (1818-1883), revolucionário pensador alemão, inovou as discussões sobre as
relações de produção e de trabalho na sociedade capitalista. Sob uma perspectiva
socialista, Marx procurou analisar as estruturas de poder e as desigualdades sociais
com objetivo de transmitir à classe trabalhadora uma crítica política da sociedade
de seu tempo.
Figura 1.8: Karl Marx
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Agora que já compreendemos em termos gerais quais são os movimentos políticos
e intelectuais que possibilitaram a consolidação da sociologia como ciência, vamos
nos concentrar em debater quais são suas principais características.
Essa lógica de pensar sociologicamente, proposta por Mills (1969), possibilita aguçar
a visão de que há uma ordem e uma estrutura exteriores aos seres humanos. Dessa
maneira, apenas quando nos tornamos conscientes desses processos de construção
social é que podemos intervir sobre eles ou, pelo menos, administrá-los, a rma Mill
(1969).
REFLITA
É possível que você, estudante, esteja um pouco atordoado com tantas questões.
Em um primeiro momento, parece difícil fornecer alguma resposta, no entanto, de
acordo com Mills (1969, p. 11), se o indivíduo utilizar a razão e a lucidez para tentar
compreender o que está ocorrendo no mundo e dentro de si mesmo, será capaz de
responder a essas questões.
Por m, após esclarecer as bases do nosso sistema social, podemos seguir para o
último bloco de questões e buscar um entendimento sobre as diferentes formas de
vida em um mesmo meio: elas existem? Quais são os diferentes grupos existentes e
suas características?
Atualmente, consideramos que a sociologia não é a única ciência que se dedica aos
estudos sociais. Ela é parte das ciências sociais, assim como a antropologia e a
ciência política. A antropologia dedica-se ao estudo de culturas, hábitos, costumes e
comportamentos coletivos; já a ciência política trata do “conjunto de estudos sobre
os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor,
apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos
racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164). Todos esses campos do
conhecimento possuem referenciais teóricos, além de metodologias e abordagens
cientí cas próprias para a investigação dos temas de pesquisa a que se referem.
Assim como em qualquer outro campo cientí co, na sociologia e nas ciências sociais
como um todo há um conjunto de técnicas e métodos de pesquisa. Nesse sentido,
podemos destacar dois grupos principais: técnicas e métodos quantitativos ou
técnicas e métodos qualitativos. No primeiro caso, temos a coleta, a manipulação e a
análise de dados quantitativos, censos demográ cos, pesquisas eleitorais ou de
opinião, questionários de per l socioeconômico etc., instrumentos que utilizam,
normalmente, questões estruturadas, fechadas e de múltipla escolha. No segundo
caso, temos uma aplicação e uma análise mais subjetivas, mas isso não signi ca
falta de objetividade ou de rigor cientí co. Em ambos os casos, existem protocolos
de ética e procedimentos predeterminados pela literatura metodológica das
ciências sociais. As pesquisas qualitativas podem ser representadas por entrevistas
semiestruturadas, com questões abertas, histórias de vida, análise de documentos,
observação participante, estudos de caso etc.
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Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Introdução
Estimado(a) aluno(a), a Sociologia, como uma ciência que surge das transformações
sociais emergentes da sociedade capitalista, constitui-se como um conhecimento
plural em suas perspectivas teóricas e metodológicas, tal como se apresenta a
consolidação do capitalismo em suas contradições.
Considerando esse contexto, esta unidade é um convite para que você compreenda
a diversidade de metodologias e de posicionamentos teóricos que foram
desenvolvidos pelos autores precursores da Sociologia. Buscaremos demonstrar
como a lente da ciência se voltou para a sociedade e o que ela nos revelou sobre
nossas condições sociais.
Conheceremos, ainda, Max Weber, sociólogo que desenvolveu uma teoria que busca
entender a sociedade por meio das ações individuais dos indivíduos. Seguidamente,
apresentaremos as discussões de Karl Marx, responsável por promover uma análise
crítica sobre a sociedade capitalista, abrangendo as relações de produção e as
características estruturais, assim como a origem dos problemas sociais decorrentes
dessa organização social.
Bons estudos!
O papel dos precursores da
Sociologia na consolidação
da disciplina
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
As ciências sociais podem ser consideradas um campo de estudos emergente do
processo de formação da sociedade capitalista, representada, aqui, pela Sociologia.
Assim, apresentaremos diferentes posicionamentos teóricos e metodológicos que
expressam as contradições desse sistema social.
Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são considerados como
autores basilares para a disciplina de Sociologia, atuando como referências
fundamentais para o desenvolvimento desta. Primordialmente, podemos destacar
três elaborações teóricas provenientes deles: o método funcionalista de Durkheim,
que é inspirado pelo positivismo de Comte; o método dialético de Marx; o método
compreensivo de Weber. Ressalta-se, ainda, que aprender as metodologias clássicas
nos permite dimensionar a diversidade de perspectivas do conhecimento
sociológico e compreender as ciências sociais não como um conhecimento
universal, e sim como uma produção cientí ca que apresenta possibilidades de
leitura e apreensão da realidade social.
A construção da Ciência
Sociológica por Auguste Comte
A Revolução Industrial é resultado da solidi cação da ciência e das inovações
tecnológicas na Europa Ocidental. Esse movimento de transformação social
impulsionou a formação de uma nova estrutura econômica e de estrati cação
social, a qual consolidou o que conhecemos atualmente como sistema capitalista.
Diante de tantas mudanças nos âmbitos político e econômico, a sociedade
ocidental enfrentou uma série de problemas sociais.
Veja só! Com a Revolução Industrial, surgiram fábricas que abrigavam um modelo
de trabalho de produção em série extremamente especializado. Assim, com a
adesão de máquinas, cada vez menos trabalhadores eram necessários no processo
de produção, ocasionando desemprego e miséria entre os que não possuíam poder
econômico e que dependiam do trabalho assalariado. Somando-se a isso, é de
extrema importância entender que, como a mão de obra é considerada uma
mercadoria, os trabalhadores vendiam suas forças de trabalho para os donos das
fábricas (capitalistas/burgueses), e estes tentavam pagar o menos possível,
resultando em baixos salários.
O progresso social, que só seria alcançado por meio da ciência, foi um dos principais
norteadores da teoria de Auguste Comte. Para apresentar esse preceito, o autor
desenvolve a “lei dos três estados”, que se con gura em estágios de evolução das
concepções intelectuais humanas.
1) Teológico
Nesta concepção, as ideias utilizadas para a explicação do mundo real são baseadas
no sobrenatural. Segundo Comte, o primeiro estado (teológico) tem relação com a
inteligência humana.
2) Metafísico
Na segunda concepção, há presença das ideias naturais, porém as ideias baseadas
no sobrenatural ainda são usadas para explicar as coisas do mundo (é uma
concepção intermediária). Segundo Comte, o segundo estado (metafísico) tem
como função servir de transição entre o primeiro e o último.
3) Positivista
Neste momento, são as leis gerais de ordem positiva que explicam os fatos. Segundo
Comte, o terceiro (positivista) é o estado físico e de nitivo do ser humano.
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Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), inspirado, em alguma medida, na
ciência positivista de Auguste Comte, avança no desenvolvimento de uma ciência
social e busca atribuir à Sociologia uma reputação cientí ca. Quando ocorre a
publicação de “As regras do método sociológico” em 1895, Émile Durkheim inaugura
uma discussão sobre a metodologia própria da Sociologia.
Para Durkheim (1971), os fatos sociais podem ser divididos em três categorias:
O fato social, constituído como o objeto de estudo de Durkheim (1971), torna o autor
o primeiro sociólogo a desenvolver uma metodologia própria para a Sociologia, ou
seja, não é apenas uma réplica de métodos e técnicas das ciências naturais, como
pretendeu a física social de Comte, é uma metodologia sociológica pensada
especi camente para o estudo da sociedade. Pode-se resumir as propostas de
teoria sociológica de Durkheim por meio das seguintes características:
d) diagnóstico de função e causa social – a procura pela explicação das causas que
tornaram possível a existência do fato social e a busca pela função do fato social em
sua sociedade de origem;
CONECTE-SE
O padrão de beleza como um fato social
ACESSAR
Para re etir sobre as interferências que a sociedade impõe sobre a nossa trajetória,
Durkheim criou dois conceitos importantes: consciência coletiva e consciência
individual. Segundo o sociólogo, a primeira se trata do que é:
Solidariedade Mecânica
As sociedades com solidariedade mecânica são aquelas baseadas na divisão social
do trabalho simples, em que todos os seus membros reconhecem todos os
processos de produção. Esse tipo de organização advém de sociedades mais
elementares, em que há um forte senso de coletividade e não há muitos níveis de
individualidade.
ACESSAR
Solidariedade orgânica
As sociedades de solidariedade orgânica constituem-se nos processos de produção
da modernidade, ou seja, no sistema capitalista. Esse tipo de divisão social do
trabalho se baseia no alto grau de especialização e no individualismo. Em uma
sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos possuem muita dependência
uns dos outros, complexi cando o sistema de relações sociais nos mais diversos
âmbitos, em instituições econômicas, políticas e culturais.
Isso signi ca que, quanto maior forem o nível de interdependência entre cada
indivíduo na sociedade, a diversidade de funções a serem exercidas socialmente e o
grau de especialização nos processos de produção, melhor será o nível de coesão
social. Quando essa coesão se perde e o nível de solidariedade social diminui, em
razão da não adesão, pelos indivíduos, de regras e valores coletivos, nossa sociedade
entra no que o Durkheim chama de anomia social.
O olhar de Max Weber para
entender o sistema
Capitalista
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) propõe uma Sociologia que busca
compreender e interpretar as relações entre indivíduos, isto é, a ação social. Para
Weber, a ação, sem seu sentido social, é puro fruto do comportamento humano, já a
ação social possui, como referência, o comportamento entre indivíduos, uns com
relação aos outros, constituindo o que chamamos de vida em sociedade.
REFLITA
A Ação Social para Max Weber
A análise sociológica proposta por Weber, diante da ação social como seu objeto de
estudo, presume um método que busca compreender as motivações individuais
que impulsionam determinadas ações sociais.
Segundo Weber, a ética de vida dos calvinistas era fortemente voltada ao trabalho e
com disciplinas rígidas, porque estes acreditavam que o trabalho, além de servir
como forma de glori cação divina, garantiria, também, a salvação. Em algum
momento de sua vida, você, caro(a) aluno(a), já deve ter ouvido a expressão “o
trabalho digni ca o homem”; é nesse sentido que a lógica calvinista colaborou para
a formação do espírito do capitalismo, criando uma condição humana divina para a
realização do trabalho, de forma que estaríamos, portanto, predestinados ao
trabalho.
REFLITA
Meritocracia
Com o passar do tempo, essa ideia de predestinação foi deixada de lado, mas o
trabalho disciplinado e a busca por sucesso (acúmulo do capital) continuaram a
existir na teoria exposta no livro em questão. Isso, para Weber, resultou no
aparecimento dos primeiros capitalistas.
Na Idade Média, a religião motivava a vida das pessoas e dava sentido às suas ações.
Com o pensamento cientí co ganhando espaço na Europa Ocidental, a cultura
religiosa foi confrontada, porém, para Weber, a ciência não poderia ocupar, por
completo, o lugar que a religião tinha ao desenvolver concepções de mundo.
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Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
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Karl Marx (1818-1883) é considerado um dos pensadores mais revolucionários da
Sociologia, pois, além de um método cientí co, o autor propôs um projeto político
de atuação e organização social. Os estudos de Marx buscaram analisar a sociedade
capitalista em seu processo de consolidação e discutiram sobre as características do
trabalho nesse sistema e como as relações de produção que estavam se
estabelecendo in uenciam na estrutura social e na determinação de desigualdades
sociais.
REFLITA
A Sociedade de Classes
Para Karl Marx: “[...] o processo histórico de alienação distancia o ser humano do
objeto que ele produz. Assim, a alienação do trabalho signi ca que o operário não
percebe que seu trabalho lhe pertence.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 29). Esse processo
transforma o trabalhador em simples mercadoria, tornando-o um ser alienado, que
não possui intervenção criativa no produto do seu trabalho.
Aspectos da alienação:
1. alienação em relação às coisas – o indivíduo ca alienado ao mundo externo e
ao produto de seu trabalho;
2. alienação em relação a si mesmo – o indivíduo entende que sua força de
trabalho não lhe pertence, isto é, não é dominada pelo trabalhador;
3. a alienação em relação ao trabalho – o trabalho do ser humano deixa de ser
livre e passa a ser um meio de sobrevivência.
Comunismo
Como destacamos anteriormente, o intuito de Karl Marx não era apenas desenvolver
um método cientí co, o sociólogo alemão propunha um projeto político, o
comunismo, um sistema social que superaria o capitalismo e acabaria com as
desigualdades sociais da divisão de classes. Considerada, por Marx, como a fase nal
da sociedade humana, alcançada somente a partir de uma revolução proletária, ele
tinha a ideia utópica de uma sociedade igualitária, que seria a socialista
(QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002). Assim, Marx trabalhava com a temática
de progresso das sociedades – lei de desenvolvimento das sociedades.
Na perspectiva de Marx, a organização social desenvolve todas as forças produtivas
que possui. Quando a necessidade de expansão das forças produtivas de uma
sociedade choca-se com as estruturas econômicas, sociais e políticas, gera con itos
sociais, o que dá início à sua desintegração e cria um terreno fértil para uma
revolução. Desse modo, Marx vê o desenvolvimento da sociedade capitalista de seu
tempo da seguinte forma:
É possível a rmar, portanto, que, para que ocorra a passagem para uma organização
social mais avançada, com um novo modo de produção, ou seja, uma sociedade
comunista, a classe emergente deve se impor à decadente, ultrapassando-a e
substituindo-a por outra mais apropriada a seu interesse e a seu domínio. Assim, os
trabalhadores tomariam as instâncias de poder e provocariam a decaída da classe
burguesa.
Contribuições Metodológicas
Durkheim, Weber e Marx
Em linhas gerais, podemos a rmar que, devido às diferentes perspectivas dos
pensadores pioneiros da Sociologia, é possível perceber que o esforço para a
consolidação da disciplina como um conhecimento cientí co possuía um norteador
em comum para todos os autores citados até aqui, buscava-se compreender as
novas con gurações da sociedade moderna e as suas contradições e padronizações,
assim como as características das relações da humanidade com o meio social
emergente. Nesse sentido, Durkheim, Weber e Marx colaboraram signi cativamente
para o desenvolvimento de uma ciência social comprometida com uma leitura
orientada sobre a sociedade em que vivemos.
A teoria funcionalista de Durkheim, denominada assim devido ao objetivo do autor
de avaliar a função social que os fatos sociais exercem na organização da sociedade,
contribuiu para estabelecer uma perspectiva metodológica clara para a ciência
sociológica. Da mesma forma que Weber, ao instituir a ação social como objeto de
estudo, criou uma metodologia especí ca da disciplina; ou seja, essas metodologias
não seriam mais apenas reproduções dos métodos e das técnicas das ciências
naturais, assim como anunciou Comte.
Apesar de muitos colocarem o pensamento de Karl Marx como muito distante das
con gurações teóricas de seus companheiros precursores, é possível considerar que
o mesmo objetivo, o de interpretar a sociedade moderna, era perseguido pelo
sociólogo alemão, que utilizou, porém, a sua ciência para intervir politicamente nas
lutas de classes provenientes dos con itos causados por essa sociedade.
Foi possível aferir que a Sociologia é uma ciência plural, com diversidade de
perspectivas teóricas e metodológicas desde o seu surgimento. O positivismo e a
concepção de progresso social de Auguste Comte colaboraram para que houvesse a
possibilidade de um estudo social. O funcionalismo de Émile Durkheim demonstrou
que a sociedade possui in uência sobre as nossas maneiras de agir, ser e pensar. A
sociologia compreensiva de Max Weber contribuiu para a consolidação da disciplina,
na medida em que destacou que as nossas ações cotidianas e decisões individuais
também podem intervir no meio social. A perspectiva de Karl Marx, que considera as
contradições do mundo moderno, nos ajuda a compreender que a vida em sociedade
produz desigualdades sociais profundas e que precisam ser superadas.
Bons estudos!
Livro
Unidade 3
A Ciência sociológica no
Brasil
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Introdução
Estimado(a) estudante, nesta unidade, conheceremos os caminhos da implantação
da Sociologia no Brasil e as suas principais teorias e autores.
Você está preparado(a) para conhecer como a sociedade brasileira é retratada pela
Sociologia?
Vamos lá!
A Implantação da
Sociologia no Brasil:
interpretando a realidade
brasileira
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Dedicada a construir concepções de mundo e a investigar a vida em coletividade, a
Sociologia também possuiu uma grande repercussão no território nacional. Um
pouco diferente dos clássicos da disciplina, no Brasil, as relações de produção e de
trabalho na sociedade industrial não eram o nosso objeto de estudo principal, pelo
menos, não inicialmente. Dado a condição de colônia, o Brasil possui outras bases
no processo de modernização do país, dentre elas, as principais seriam a
escravização e a inferiorização étnica de povos africanos e indígenas. Por isso, a
miscigenação foi um tema tão importante para os precursores da Sociologia no
Brasil.
Segundo o cientista social Octavio Ianni (2000), o Brasil tem, como peculiaridade de
seu pensamento social, a preocupação contínua e constante de avaliar os
momentos de rupturas históricas no país. É daí que surgem as interpretações que
podem priorizar determinados setores da sociedade e formular concepções sobre a
sociedade brasileira, buscando compreender as bases do desenvolvimento social e
histórico nacional.
Diante disso, poderíamos destacar que existem três diferentes fases na implantação
da Sociologia no Brasil: a primeira é representada por intelectuais que conduzem
uma leitura histórica sobre a realidade brasileira, compondo uma produção
considerável na literatura; a segunda fase se constitui de trabalhos que valorizam a
pesquisa de campo; por m, a terceira caracteriza-se por uma Sociologia em sua
consolidação institucional como disciplina acadêmica, sendo composta por uma
geração de sociólogos, pertencentes a diversas universidades, inaugurando estilos e
tendências propriamente brasileiros.
Pensando a Sociedade
Brasileira antes da
Sociologia Cientí ca
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
Interessados em realizar um estudo histórico sobre a realidade do Brasil, literatos
criaram obras que retratam a sociedade brasileira de maneira signi cativa, e,
embora não houvesse, como grande objetivo, o desenvolvimento de uma ciência
sociológica propriamente dita nesse momento, suas leituras são importantes para o
pensamento social do nosso país. Os autores considerados como referências desse
processo de criação literária são: Joaquim Nabuco, um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras e autor de “O abolicionismo” (1883); o autor Euclides da Cunha,
criador da obra pré-modernista “Os sertões” (1902); o político e escritor Rui Barbosa,
responsável por colaborar na redação de documentos importantes para a sociedade
brasileira, como a Constituição de 1891.
ACESSAR
Embora seja considerada uma obra literária, “Os sertões” de Euclides da Cunha, ao
fazer grandes revelações sobre a sociedade brasileira, colocou-se como uma obra
referencial, um marco do início da consolidação de um pensamento social brasileiro.
A obra de Euclides da Cunha e as suas contribuições para a Sociologia brasileira
evidenciam que a literatura é um elemento importante para a análise da formação
cultural e da conjuntura política do Brasil. Muitos outros movimentos intelectuais de
literatos brasileiros cumpriram um papel parecido ao de Euclides da Cunha,
segundo Florestan Fernandes, “[...] a contribuição de Mário de Andrade ao folclore
brasileiro até hoje não foi convenientemente estudada” (FERNANDES, 1958, p. 309). A
obra “Macunaíma”, publicada em 1928, por exemplo, conta a história de um herói
sem nenhum caráter, como diria a sinopse do livro, e reúne elementos folclóricos e
questões emergentes da sociedade brasileira da época.
Dentre os vários autores que compõem esse período, podemos destacar Gilberto
Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Elegemos esses dois pensadores, porque estes
desenvolveram dois conceitos importantes para a formação da Sociologia brasileira:
o primeiro formula o conceito de democracia racial, e o segundo, o conceito da
cordialidade, como uma característica da população brasileira.
ACESSAR
Freyre (1975) concebeu sua obra na década de 1930, período de transição entre a
sociedade escravocrata para a capitalista, momento em que o Brasil iniciava o seu
processo de industrialização. Além disso, deve-se considerar que Freyre foi lho de
uma família escravocrata, ele pertencia à casa-grande, e é sob essa perspectiva que
ele escreve a contribuição do negro na cultura brasileira:
Foi o negro quem animou a vida doméstica do brasileiro de sua
melhor alegria. O português, já em si melancólico, deu no Brasil para
sorumbático, tristonho; e do caboclo nem se fala: calado, descon ado,
quase um doente em sua tristeza. Seu contato só fez acentuar a
melancolia portuguesa. A risada do negro é que quebrou toda essa
“apagada e vil tristeza” em que foi abafando a vida nas casas-
grandes. Ele deu alegria aos são-joões de engenho; que animou os
bumbas-meu-boi, os cavalos marinhos, os carnavais, as festas de Reis.
[...] Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro da casa, nos
tanques de bater roupas, nas cozinhas, lavando roupa, enxugando
prato, fazendo doce, pilando café, carregando sacos de açúcar, pianos,
sofás de jacarandá de ioiôs brancos – os negros trabalhavam
cantando: seus cantos de trabalho, tanto quanto os de xangô, os de
festa, os de ninar menino pequeno, encheram de alegria africana a
vida brasileira (FREYRE, 1975, p. 462-463).
Sob essa perspectiva, Gilberto Freyre buscou elaborar uma nova percepção sobre a
construção da sociedade brasileira. O intuito do autor foi demonstrar a construção
harmoniosa e pací ca na união entre os portugueses, os negros e os índios,
fortalecendo a ideia de que a miscigenação atribuiu riqueza para formação da
cultura brasileira.
REFLITA
O Tipo Ideal para Max Weber
“Qual é, em face disso, a signi cação desses conceitos de tipo ideal para
uma ciência empírica, tal como nós pretendemos praticá-la? Queremos
sublinhar desde logo a necessidade de que os quadros de pensamento
que aqui tratamos, ‘ideais’ em sentido puramente lógico, sejam
rigorosamente separados da noção do dever ser, do ‘exemplar’. Trata-se
da construção de relações que parecem su cientemente motivadas
para a nossa imaginação e, consequentemente, ‘objetivamente
possíveis’, e que parecem adequadas ao nosso saber nomológico
[nominação lógica de argumentos]”. Nesse sentido, para Weber, o tipo
ideal seria um instrumento metodológico que faz alusão à realidade
estudada.
“Raízes do Brasil” é uma obra em que Sérgio Buarque de Holanda (1995) denuncia as
problemáticas da formação cultural do brasileiro, por meio de uma sistematização
metodológica clássica das ciências sociais. A análise de Gilberto Freyre possui,
também, uma boa orientação metodológica, principalmente, no que se refere a
correntes de pensamento como o culturalismo antropológico.
Sociologia Cientí ca
Brasileira: desvendando
novos parâmetros para
entender a Sociedade
Brasileira
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo
Me. Josimar Priori
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro
Ma. Daiany Cris Silva
A geração pós-1950 foi composta por sociólogos que vieram de diversas
universidades, inaugurando estilos e tendências, num momento em que a
Sociologia já estava mais consolidada como disciplina acadêmica, culminando no
surgimento de diversas escolas sociológicas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Brasília, entre outros lugares do país.
Conhecida como a etapa da Sociologia cientí ca, essa fase teve seu apogeu no nal
da década de 1950, mas, segundo o sociólogo Florestan Fernandes (1977), esta só se
con gurou plenamente no pós-guerra e possuía, como característica dominante,
uma preocupação de:
Isso signi ca que o trabalho dos sociólogos brasileiros estava centrado em uma
orientação metodológica mais acirrada com relação às teorias sociológicas.
Estimado(a) aluno(a), para car por dentro das discussões atuais sobre a
Sociologia brasileira, veja a entrevista que o sociólogo brasileiro Jessé
Souza concedeu à revista eletrônica Cult, em março de 2018. Essa
revista é conhecida por sua independência editorial, o que a permite
tratar de temas poucos explorados por outros veículos do jornalismo
cultural. Jessé Souza é doutor em Sociologia pela Universidade de
Heidelberg (Alemanha) e professor da Universidade Federal do ABC
(UFABC). Foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) entre 2015 e 2016, também coordenou pesquisas de amplitude
nacional sobre classes e desigualdade social. Além disso, Jessé Souza é
autor de 27 livros, incluindo “A ralé brasileira: quem é e como vive”
(2009) e “A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa
manipular pela elite” (2015). Fique por dentro, acesse.
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2ª Fase
Estudos empíricos com pesquisa de campo sistematizada. Principais autores:
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
3ª Fase
Institucionalização da Sociologia como disciplina acadêmica, a Sociologia Cientí ca.
Principais autores: Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro.
Darcy Ribeiro (1922-1997), intelectual mineiro, conhecido pelos estudos que realizou
nas comunidades indígenas brasileiras, buscou compreender como poderíamos
construir uma identidade latino-americana. Ao contrário de Gilberto Freyre, que
defende a democracia racial, Darcy Ribeiro demonstra que, no Brasil, o processo de
miscigenação da população não foi pací co e marca uma série de desigualdades na
construção cultural da sociedade brasileira.
Uma das obras mais importantes do autor e que revela esse ponto de vista é “O povo
brasileiro”, publicada no ano de 1995. Nesse estudo, o autor alega que a formação do
Brasil e do povo brasileiro surge “[...] da con uência, do entrechoque e do
caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com
negros africanos, uns e outros aliciados como escravos” (RIBEIRO, 1995, p.19).
Observe, caro(a) aluno(a), que ele se refere ao português como “invasor”, destacando
o papel explorador dos colonizadores.
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O sociólogo brasileiro possuía, como objetivo principal, produzir uma análise crítica
sobre a realidade brasileira, e a sua metodologia dialogou com a produção
sociológica clássica e com os pensadores brasileiros contemporâneos. Florestan
Fernandes propõe uma investigação dos movimentos e das lutas sociais,
principalmente aquelas travadas pelos setores populares.
Segundo Mazucato (2015), foi como professor da Universidade de São Paulo (USP)
que Florestan Fernandes alicerçou as bases teóricas das ciências sociais para os
estudantes brasileiros. Na década de 1950, deu-se a “[...] construção da sociologia de
Florestan Fernandes, assim como a organização chamada Escola Paulista de
Sociologia” (ARRUDA, 2010, p. 15). Fernandes defendia que era preciso de nir com
rigor e clareza os métodos de pesquisa, para de nir a Sociologia como disciplina
cientí ca (ARRUDA, 2010).
SAIBA MAIS
Dois olhares sobre Heleieth Saf oti
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Portanto, imbuído em comprometer-se com as exigências lógicas e teóricas da
re exão cientí ca, Florestan Fernandes contribuiu para o amadurecimento da
Sociologia. O autor fez com que a ciência sociológica ingressasse em um processo
no qual todas as implicações teóricas e históricas de pensar a realidade social
fossem assumidas no cotidiano de ensino e pesquisa.
Esperamos que nossas discussões possam colaborar para a sua atuação pro ssional e
te façam compreender um pouco mais sobre a sociedade em que vivemos.
Livro