Apostila de Atropologia
Apostila de Atropologia
Apostila de Atropologia
INTRODUÇÃO
Fundamentos das Ciências Sociais e Humanas.
1.1- A Antropologia entre as Ciências Sociais e as Ciências Humanas.
As ciências sociais são o conjunto de disciplinas que estudam o Homem através das
suas relações com a sociedade e a cultura.
É contudo na aurora do século XIX que aparece a maior parte das disciplinas do
domínio das ciências sociais, como é o caso da Antropologia, da Sociologia e da
Ciência política.
Hoje, a acelerada evolução tecnológica veio a dar um incremento ao avanço das ciências
sociais, surgindo daí verdadeiras teorias científicas sobre o comportamento do Homem
enquanto actor social.
As ciências humanas, à semelhança das ciências sociais, estudam os seres humanos sob
o ângulo da sua vida em sociedade. Exemplo de ciências humanas: a Ciência política, a
Sociologia, a Antropologia, as Ciências religiosas, etc. Nesse contexto, as ciências
políticas estudam as normas de organização política da sociedade, as relações de poder,
as relações sociais de produção que incidem nas decisões políticas, os sindicatos, os
grupos de pressão, os partidos políticos, etc. a Sociologia estudaria as relações
interpessoais, os padrões de comportamento colectivo, as formas de organização social,
1
A biologia e a medicina também estudam os seres humanos, mas diferem das ciências humanas na
medida em que fazem uma abordagem na perspectiva da natureza do Homem.
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os papeis sociais, o funcionamento das instituições sociais, etc. as Ciências religiosas
são a aplicação do saber proveniente das várias ciências humanas e em particular da
Antropologia e da Sociologia, ao campo específico do social e do humano: a religião. A
religião é um fenómeno muito importante na vida individual e colectiva do Homem e da
sua cultura. Hoje em dia, as ciências religiosas multiplicam os seus objectos de
pesquisa, versando sobre questões como os mitos em sociedades modernas, a origem e
evolução das seitas religiosas, o papel dos totens e dos tabus na coesão das confissões
religiosas, a reprodução da vida e da morte, o papel das religiões face aos poderes
políticos, etc. a Antropologia interessar-se-ia nas culturas de comunidades primitivas,
buscando compreender a sua evolução ao longo do tempo e a sua relação com outras
culturas. Convém referir que a Antropologia é designada por vários nomes, a saber
Etnologia (na França), Antropologia social (na Grã-bretanha) e Antropologia cultural
(na América do Norte).
Bibliografia
MAIA, Rui Leandro: dicionário de Sociologia, Porto editora, 2002.
Brochura: Ciências humanas e sociedade, pgs. 51-80
Trabalho independente
1-Debata no seu grupo sobre o objecto da de estudo da Sociologia, da Antropologia e da
Ciência política.
2-Fundamente o seguinte argumento “…entre as Ciências sociais e humanas não há
fronteiras bem demarcadas”
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científico ao conhecimento dos fenómenos que acontecem na vida social, tendo em vista
as crises e desordens sociais provocadas pelas transformações que ocorreram na
sociedade.
A filosofia social
Isto significava que os pensadores antigos, não tomando a própria sociedade como um
objecto específico de conhecimento, apreenderam, como objecto essencial de estudo,
uma parte da vida social, como a política ou a moral, mas numa perspectiva normativa e
finalista.
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alma. Voltavam-se os teólogos à construção de um ideal "a priori", embora utópico, da
vida social, porque eles não concebiam senão uma sociedade fundada sobre os
princípios religiosos, uma imagem terrestre da cidade de Deus. É o que caracterizava,
por exemplo, a obra fundamental de Santo Agostinho (354-430), A Cidade de Deus, e a
elaboração da filosofia cristã, a chamada filosofia escolástica, que alcançou o mais alto
nível em São Tomás de Aquino (1227-1274), com A Suma Teológica.
A influência teológica que não permitia ver as coisas senão à luz dominante da
salvação eterna, deu lugar a uma perspectiva muito mais independente que favorecia a
livre discussão de questões do ponto de vista racional. Foi sendo elaborado um novo
tipo de conhecimento, caracterizado por uma objectividade e realismo que marcaram a
separação nítida entre o pensamento do passado e o novo estágio que se iniciava na
explicação dos fenómenos da natureza e, consequentemente, dos problemas sociais e
humanos. Foi o estágio do conhecimento baseado na experimentação iniciado timida-
mente por Galileu Galilei (1564-1642) e que fará depois, o século XX, "o século de
ouro da ciência".
Por outro lado, é necessário procurar os factores específicos da formação das Ciências
Sociais. Eles se encontram nas condições materiais e intelectuais do desenvolvimento
do mundo moderno. As Ciências Sociais não são somente produto da reflexão de alguns
pensadores, mas o resultado de certas circunstâncias históricas e de algumas
necessidades materiais e sociais.
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a) Factores socioculturais
Antes, as formas estabelecidas da vida social se revestiam de carácter sagrado: era como
se o próprio Deus tivesse estabelecido as normas que deveriam reger as acções
humanas, o que tornava essas normas, de certo modo, intocáveis. No mundo moderno,
uma exigência geral de eficiência, no sentido de encontrar solução para as crises e
problemas provocados pelos novos acontecimentos, fez com que muitas formas de
organização social, até então sacralizadas, passassem a ser vistas como produto
histórico e sujeitas a transformações. Desse modo, a validade das normas e das formas
de organização social estabelecidas deixa de ser vista como algo de absoluto e
indiscutível. Tal atitude profana, isto é, alheia às coisas sagradas, favoreceu a difusão de
um espírito crítico e de objectividade diante dos fenómenos sociais.
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Este interesse pela História e pelo desenvolvimento foi despertado pela rapidez e
profundidade das transformações sociais e económicas e também pelo contraste das
culturas que as viagens dos descobrimentos revelaram. A acumulação de informações
sobre os costumes e instituições "exóticas" dos povos não-europeus trouxe ao de cima
uma extraordinária variedade das formas de organização social.
Mas sobretudo na França, nos séculos XVII e XVIII, a contribuição da filosofia foi
prodigiosa. Diante da situação social do país, resultado das contradições das classes
sociais, os filósofos franceses pretendiam não apenas transformar as formas de
pensamento mas a própria sociedade. Afirmavam que, à luz da razão
(Iluminismo/Ilustração), era possível modificar a estrutura da velha sociedade feudal.
Condorcet (1742-1794) queria aplicar os métodos matemáticos no estudo dos
fenómenos sociais. Charles Louis Montesquieu (1689-1755), em O Espírito das Leis,
propunha pela primeira vez a ideia da separação dos poderes do Estado em poderes
executivo, legislativo e judicial. Segundo o autor, esta separação teria por escopo
estabelecer garantias institucionais da liberdade impedindo que algum dos titulares
destes poderes pudesse acumular poderes, chegando por isso a agir arbitrária e
despoticamente contra a liberdade dos cidadãos. Rousseau, (1712-1778), em suas
teorias de O Contrato Social, teve uma influência decisiva na formação da democracia
burguesa e, consequentemente, na mudança das instituições sociais.
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Ciências Sociais, de um modo específico a Sociologia, começaram a se delinear como
ciências autónomas. Principal representante do positivismo francês, Comte não só deu o
nome à nova ciência, que antes denominara Física Social, mas empreendeu a primeira
tentativa sistemática da caracterização de seu objecto, métodos e problemas
fundamentais, bem como a primeira tentativa de determinar a sua posição no conjunto
das ciências.
A ideia central do Positivismo é muito simples: nas Ciências Sociais, como nas ciências
da natureza, é necessário afastar os preconceitos e as pressuposições, separar os
julgamentos de facto e os julgamentos de valor. A finalidade era, alcançar nas Ciências
Sociais, a mesma neutralidade, imparcialidade e objectividade, que se atinge na Física,
na Química e na Biologia. Daí se evidenciaria uma questão simples mas dilemática a
respeito dessa concepção: se as leis sociais são leis naturais, ou devem ser sujeitas
àquelas, como seria possível transformar a sociedade?
c) O sistema de ciências
A terceira série de factores, também decisiva para a formação das Ciências Sociais, está
na própria dinâmica do "sistema de ciências". A evolução das ciências está directamente
ligada à necessidade de controlar a natureza e compreendê-la. Já dissemos que as crises
provocadas pelos acontecimentos sociais do século XVIII provocaram uma convicção
de que os métodos das ciências humanas e sociais deviam e podiam ser estendidos à luz
das leis da natureza, e que os fenómenos sociais podiam ser classificados e mensurados.
No mundo hodierno, as chamadas ciências da natureza se tornaram o sistema dominante
de concepção científica do mundo e, aos poucos, os fenómenos sociais também caíram
sob o seu domínio. É evidente que não se pode dizer que essa dinâmica seja a causa do
surgimento das Ciências Sociais, porque, na verdade, as leis da natureza não passaram a
ser aplicadas à realidade social simplesmente porque eram aplicadas com sucesso no
conhecimento das ciências da natureza. Mas, sem dúvida, principalmente a partir do
século XVIII, a necessidade de se desenvolver técnicas racionais para controlar os
conflitos criados pelas crises da época, acabaria levando à formação das Ciências
Sociais.
As Ciências Sociais
Ao analisarmos a formação das Ciências Sociais, verificamos que, no início, elas foram
absorvidas pela Sociologia que era uma Ciência enciclopédica, evolucionista e positiva.
Enciclopédica porque se ocupava da totalidade da vida social do Homem e da totalidade
da histórica. Evolucionista porque sob a influência da Filosofia da História, reforçada
pela teoria biológica da evolução, concebia a sociedade como um organismo e tentava
formular leis gerais de evolução social. Positiva porque era concebida como uma
ciência de carácter idêntico aos das ciências naturais. Hoje em dia, a Sociologia
tornou-se a ciência da nova sociedade industrial, porquanto adquiriu não só um carácter
científico, mas sobretudo ideológico, pois ideias conservadoras e radicais entraram no
seu desenvolvimento, dando origem a teorias conflituais e provocando controvérsias
que continuam até hoje.
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também da resposta que se dê à questão sobre o que torna possível a organização social
das relações entre os homens.
Trabalho independente
1-As Ciências Sociais têm uma perspectiva própria de análise. Elas estudam o Homem
através das suas relações com a sociedade e a cultura.
a)Descreva os factores que permitiram a passagem da filosofia social às ciências sociais.
b) Porquê se pode considerar o século XX como «O século de Ouro para as ciências»?
Justifique a sua resposta.
2-Augusto Comte que outrora designara a Sociologia como Física social, empreendeu
esforços de sistematização, definição de métodos, objecto de estudo e posição da
Sociologia no conjunto das ciências.
a)Porquê é que para Comte Sociologia é uma ciência positiva? Fundamente a resposta.
b)Si para Comte as leis sociais devem ser sujeitas às leis naturais, como poderia ser
possível a transformação da sociedade?
3-Consulte os seguintes conceitos: Iluminismo, Ilustração, burguesia e proletariado.
Para melhor compreendermos a estreita relação existente entre as inúmeras ciências que
se ocupam do domínio do social, observemos alguns casos em que as várias ciências
sociais se mostram interdependentes na explicação do social.
Texo-1
As relações sociais não são factos isolados da taxa de natalidade, de mortalidade e/ou
do envelhecimento da população. Elas não têm significado em si mesmas, pois que
adquirem relevância quando coordenadas no quadro institucional ou comunal em que
se produzem.
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Os dados biológicos que parecem escapar do poder de controlo humano estão,
deveras, sob sua dependência. Há circunstancias sociais que podem modificar a
proporção entre os sexos na participação da vida pública e/ou privada de um povo,
pais ou região: basta olhar para as fábricas na Inglaterra, na Alemanha, etc., que
durante a Segunda Guerra Mundial viram-se na contingência de contratar mais força
de trabalho feminina do que masculina. Também, em Moçambique a emigração
masculina à África do Sul tem tendido a tal evidência.
(…) A vida e a morte ou a natalidade e a mortalidade não se comportam de igual modo
em todas as latitudes e épocas. O casamento, por exemplo, não obedece apenas ao
processo de maturação sexual, mas também, aos imperativos sociais, económicos e
culturais, pois certas normas culturais elevam ou baixam a idade de frequência dos
casamentos (…)
Para além de serem fenómenos biológicos, a vida e a morte resultam de hábitos sociais
latentes nas circunstâncias exteriores ligadas ao tipo de cultura.
Assim, a mortalidade, a migração, a taxa de fecundidade ou o envelhecimento da
população, etc., são fenómenos demográficos determinados com impacto sociológico
determinante nos processos de socialização, nos conflitos e nos demais factores das
dinâmicas sociais.
Os fenómenos demográficos acham-se, antes de tudo, sob a dependência dos processos
sociais, por exemplo, o número de filhos que um casal deseja ter é resultante da sua
decisão individual, mas, ao mesmo tempo, é uma decisão influenciada pelas normas,
valores e ideais comuns aos membros da sociedade à que o casal pertence.
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Texto-2
A Psicologia e a Sociologia. Disciplinas antagónicas ou interdependentes no estudo do
social?
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A complexa realidade exige interdependência das perspectivas psicológicas e
sociológicas. A existência de uma disciplina intitulada psicologia social responde à
necessidade de explicação interdisciplinar, plena e sistemática dos problemas do
domínio social.
Tanto a Psicologia como a Sociologia dependem uma da outra e devem, com
frequência, utilizar conceitos e teorias desenvolvidas pela outra.
Adaptado, Ely Chinoy, A perspectiva sociológica.
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Depois de uma leitura meticulosa dos textos (1 e2) devemos ser capazes de constatar a
interdependência entre as várias ciências sociais, para uma melhor compreensão dos
problemas sociais.
No texto-1 é referida a interdependência e interdisciplinaridade entre a Demografia e a
Sociologia. Com efeito, por detrás de uma taxa de mortalidade estão latentes
condicionantes sociais como religião, sexualidade e outros modelos sociais vigentes.
No texto-2 evidencia-se a relação imprescindível entre a abordagem psicológica e a
sociológica para uma compreensão abrangente do comportamento humano.
O que é a interdisciplinaridade?
A maior parte dos pensadores do século XIX – excepto Augusto Comte e Karl Marx –
defendia a ideia da investigação por cada disciplina de um campo determinado da
realidade. Em conformidade com isso, a Economia só estudaria os fenómenos
económicos; a História, só os factos históricos; etc.
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Meio familiar
Meio escolar Meio
geográfico
Meio Comportamento
profissional humano Meio político
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Como vemos no exemplo acima, a realidade sócio-cultural pode ser objecto de todas as
ciências sociais. Na verdade, a realidade sócio-cultural é só uma e única. Contudo, ela
admite diferentes perspectivas de investigação consoante as motivações do investigador.
Trabalho independente
Ao longo dos séculos vários pensadores se debruçaram sobre inúmeros problemas que
apoquentam a humanidade, as causas do suicídio, sobre o problema das dinâmicas
culturais, sobre os conflitos sociais, etc.
No primeiro caso, o pensador cria doutrinas ou ideologias que tendem a ter o seu
fundamento no senso comum, e no segundo, temos a ciência. Em tal caso, a ciência
distingue-se do senso comum pois que, a primeira estuda a realidade de forma objectiva,
procurando conhecer ou estabelecer leis e relações entre os factos. Enquanto que o
senso comum faz pronunciamentos de juízos de valor mais ou menos preconceituosos e
estereotipados em relação aos factos.
1) Nas famílias pobres ocorrem com mais frequência actos de violência doméstica
dos que nas famílias ricas.
2) As mulheres permanecem com maridos violentos porque gostam de levar
bofetada.
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3) Os negros são excepcionalmente talentosos na música e no desporto, mas
intelectualmente inferiores aos brancos.
4) As mulheres têm menos capacidade intelectual que os homens.
Adoptar o
Criar relativismo cultural
metodologias
de observação Rejeitar
estereótipos e
preconceitos
Observar o OBJECTIVIDADE
concreto Evitar noções
do senso
comum
Bibliografia
TOMÁS, Adelino Esteves. Ensaio experimental de Sociologia, pgs. 19-20
Trabalho independente.
2
Representação mais ou menos preconceituosa e desligada da realidade objectiva que leva a que se
interpretem factos de forma errada.
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Foi impulsionado pela expansão europeia (século XV) que se começam as primeiras
tentativas de instituir um saber mais ou menos coerente sobre o que hoje se designa
Antropologia. No século XVIII, com o progresso social resultante da Revolução
Industrial intensificam-se expedições marítimas pelo mundo e descobrem-se povos
exóticos que suscitaram a necessidade de estudos científicos, sendo que o objecto de
estudo da nascente ciência (a Antropologia) seriam as sociedades «primitivas», ou seja,
sociedades com uma civilização alheia à europeia e à norte-americana.
No entanto, vejamos algumas perspectivas a que certos autores nos remetem a respeito
do objecto de estudo da Antropologia: Evans-Prichard (Antropologia social, p.14)
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considera que o objecto da Antropologia é o estudo das culturas das sociedades
humanas e das suas instituições enquanto parte dos sistemas sociais; Francisco Lerma
Martinez considera que a Antropologia cultural tem um objecto material (o Homem) e
um objecto formal (o conjunto de comportamentos que dizem respeito a esse Homem
como um todo); e Titiev, em (Introdução à Antropologia cultura, p5) refere que o
objecto da antropologia é o agregado de pessoas que geralmente ocupa uma única
região e partilha uma maneira de viver comum.
Importa referir que a própria Antropologia em vários contextos e países é designada por
diferentes nomes, por exemplo, na França é conhecida como Enologia, na Inglaterra é
denominada Antropologia social, enquanto na América do Norte ela é identificada como
Antropologia cultura.
Conceitos-chave
Etnologia: estuda os povos e as suas raças, no tocante aos seus caracteres psíquicos,
físicos e culturais, às suas diferenças e afinidades, às suas origens e relações de
parentesco. Também estuda e classifica etnias em função das suas características raciais
e culturais, procurando explicar a distribuição e as particularidades do parentesco ao
longo do tempo. No entanto, hoje em dias, tanto a Etnografia como a Etnologia são
disciplinas afins e os especialistas usam um ou outro conceito para designar o mesmo
objecto.
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1.6- Princípios dos métodos antropológicos.
Ora bem, a observação é o método mais afim ao senso comum pois dela podemos obter
experiências tecnicamente vulgares e espontâneas do quotidiano. No entanto, a
observação científica é qualitativamente diferente da do senso comum, pois ela
caracteriza-se por seguir procedimentos mais u menos rigorosos.
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dos povos para permitir ao máximo a colecta de informações sobre os
contactos entre povos compreendendo melhor a sua evolução ao longo
do tempo. Este princípio ajuda no conhecimento dos processos e
instituições das civilizações do passado, buscando explicar as origens da
vida e dos comportamentos actuais.
c) O princípio comparativo: não se pode compreender bem um fenómeno
ou facto senão por comparação com outros fenómenos ou factos. Os
sistemas culturais são tão variados que exigem para a sua compreensão
uma análise comparativa que forneça elementos precisos para o estudo
da sua variação no tempo e no espaço. Há autores que consideram que
este é o único método verdadeiramente antropológico, pois, apenas por
comparações é possível apurar e esclarecer conceitos fundamentais de
uma cultura. A comparação permite estudar diferenças e semelhanças
entre povos portadores de diferentes culturas.
d) O princípio da interdisciplinaridade: o método antropológico é
interdisciplinar na medida em que se serve das técnicas de pesquisa
fornecidas por outras disciplinas (Veja a pag. 10).
Assim, só nos primórdios do século XIX começa-se a esboçar um saber científico que
torna um Homem um objecto do conhecimento; ou seja, o espírito humano aplica pela
primeira vez ao próprio Homem os métodos até então só utilizados na área da Física, da
Astronomia ou da Biologia.
Este discurso sobre sociedades tidas como selvagens ou primitivas abriu um amplo
leque de ausências: sem moral, sem lei, sem religião, sem planos, sem Estado, sem
escrita, sem história, sem consciência, sem objectivos, sem arte, sem filosofia, sem
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passado sem futuro, etc. No entanto, estas crenças e noções sobre povos não-europeus
estiveram coroadas de estereótipos e preconceitos e procuravam ridicularizar todo o
legado cultural que os povos não-europeus tinham conservado.
Todavia, tendo a Antropologia escolhido o seu objecto (a cultura dos povos que
pertenciam à civilização ocidental), precisou de elaborar técnicas, ferramentas e
metodologias de investigação que permitissem a colecta directa de informações. Mas
visto que a evolução social foi também abrangendo às sociedades tidas como primitivas
em consequência do contacto entre os povos, a Antropologia vê-se confrontada com
uma crise de identidade, isto é, o seu objecto desaparece, o que fez com se reformulasse
o objecto da Antropologia.
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não diz respeito apenas ao estudo dos dialectos (dialectologia), mas também se
interessa pelas áreas novas abertas à comunicação social, designadamente os meios
de comunicação audiovisuais e as tecnologias de informação e comunicação.
d) Antropologia psicológica: estuda os processos do funcionamento do psiquismo
humano. Ora, o antropólogo é confrontado com comportamentos individuais,
comportamentos cuja totalidade permite apreender e compreender os seres humanos,
ou seja, o conhecimento dos comportamentos individuais levam-no a conhecer os
comportamentos da totalidade dos grupos sem os quais não há Antropologia.
e) Antropologia social e cultural ou etnologia: concerne a tudo o que incorpora a
sociedade, a saber seus modos de produção, suas técnicas de organização
sociopolítica, suas leis, seus sistemas de parentesco, sua moral, sua religião, arte,
conhecimentos, filosofia, linguística, educação, etc. No entanto, a Antropologia
sócio-cultural não se preocupa com a abordagem sistemática e meticulosa dos
aspectos acima levantados, mas pelo contrário procura mostrar o modo como estão
relacionados entre si no contexto de uma sociedade em específico.
Como já vimos antes, o objecto de que a Antropologia se ocupara nos seus primórdios
são os povos de culturas não-europeias. No entanto, esta Antropologia revelou-se ser
estereotípica e preconceituosa face às abordagens sobre essas culturas.
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v A terceira dificuldade consiste na (dificuldade) de conciliar as pesquisas
antropológicas com a vida prática: há pensadores que afirmam que a pesquisa
antropológica não tem qualquer valor se os seus resultados não forem utilizados
para melhorar a vida dos povos. Nesse contexto, propõem aquilo a que denominam
«Antropologia Aplicada», isto é, uma antropologia que não resida apenas no nível
epistemológico, mas forneça ferramentas para a operação de mudanças sóciocuturais
desejáveis. Contrariamente, outro grupo de pensadores considera que a
Antropologia deve ser neutra, imparcial, sendo o seu papel estudar desapaixonada e
desinteressadamente as culturas dos povos, sem, no entanto, procurar intervir nos
problemas relativos a esses povos e suas culturas.
v A quarta dificuldade está relacionada à vastidão do campo de acção da
Antropologia: ora, apesar de a Antropologia ser uma disciplina relativamente
recente (surgiu no século XIX) especializou-se num campo bastante vasto,
designadamente o estudo do Homem em todas as suas dimensões, o que dá origem
aos vários ramos da própria Antropologia cujos domínios exigem do antropólogo a
especialização numa área específica.
Bibliografia
LAPLATINE, François. Aprender antropologia, pgs.13-33.
Trabalho independente.
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Este período corresponde ainda à época de grandes descobertas e expansão dos
Europeus pelo mundo que permitiu a colecta de dados etnográficos, compreender a
complexidade das manifestações culturais o que mais tarde iria incidir na separação da
Antropologia em vários ramos (Arqueológica, social, física, etc.), mercê da acumulação
de conhecimentos vastos que por si exigiam uma especialização dos estudiosos.
Período de convergência (1835 – 1869)
Este período é assim designado porque existiu nele uma unidade em torno do conceito
de “evolução”. Este conceito neste período anima as pesquisas e reflexões nos domínios
da Biologia, Filosofia, Sociologia e da própria Antropologia. O período é ainda marcado
por acesos debates, surgimento de várias revistas e numerosas associações científicas e
humanitárias como:
Estas sociedades eram tidas como humanitárias porque o motivo que deu a sua origem
estava ligado a um sentimento humanista em relação aos povos “primitivos” face às
depredações coloniais. Estas sociedades eram tidas como amigas dos povos primitivos.
Este período vai até aos nossos dias, tendo-se caracterizado pelos avanços em vários
domínios do saber, progresso dos meios de comunicação, democratização da educação e
institucionalização da Antropologia como uma disciplina universitária. Estes factores
permitiram a publicação de escritos que puseram a ciência antropológica ao serviço não
só do colonialismo, como também das universidades.
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Bibliografia.
DE MELLO, Luiz Gonzaga, Antropologia cultural, pgs 180-197
No entanto, antes da chegada dos portugueses, sabe-se que teriam passado por cá
árabes, persas, hindus, chineses e outros povos que nos permitem dizer que houve desde
cedo uma fusão ou mescla de povos e de culturas. Ora, cada cultura desloca-se e entra
em contacto com outras formas de cultura através de relações individuais dos seus
membros ou por vias colectivas como é o caso, por exemplo, das migrações de povos.
Essas mesclas resultantes dos contactos entre povos, as transformações e os efeitos daí
decorrentes denominam-se aculturação.
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Com esta prática de subjugação, o colonialismo legou uma herança cultural negativa ao
povo moçambicano, isto é, o analfabetismo. Não era do interesse colonialista educar
científica, afectiva, ética, intelectual e somiticamente ao povo indígena. Como resultado
disso, aquando da data da proclamação da Independência Nacional (1975) existiam em
Moçambique cerca de 93% de analfabetos.3
Na sua obra «Lutar por Moçambique», Mondlane4 refere que para ascender ao estatuto
de assimilado os africanos deveriam:
3
SILIYA, Carlos Jorge: Ensaio sobre a Cultura em Moçambique, pg.52
4
MONDLANE, Eduardo Chivambo: Lutar por Moçambique, pag. 46.
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1. Saber ler, escrever e falar português correctamente.
2. Ter meios suficientes para sustentar a família.
3. Ter bom comportamento.
4. Ter a necessária educação, hábitos individuais e sociais de modo a poder viver
sob lei pública e privada de Portugal.
5. Requerer à autoridade administrativa da área, que o levará ao governador do
distrito para ser aprovado.
Em conclusão, há uma cultura moçambicana que decorre da fusão dos vários povos que
habitaram esta parte oriental da África, porém, as tradições dos povos originais têm sido
marginalizadas ao longo da história, por vezes, designadas misteriosas e atrasadas, e
outras vezes, manipuladas como instrumentos de atracção turística.
O evolucionismo.
Esta corrente parte do princípio enunciado por Charles Darwin de que o mundo vivo é o
resultado de uma longa acumulação de mutações e evoluções de espécies. Tendo sido
trazido esta ideia à Antropologia, acreditava-se que assim como as espécies animais, as
culturas também evoluem com o tempo. As culturas evoluem através de mutações,
interagindo ou não com o meio exterior. O evolucionismo oficial é associado a
académicos como Edward Burnett Tylor, Lewis Henry Morgan e Herbert Spencer e
representou uma tentativa de formalizar o pensamento antropológico com linhas
científicas modeladas conforme a teoria biológica da evolução, ou seja, se os
organismos podem se desenvolver com o passar do tempo de acordo com leis
compreensíveis e deterministas, parece então razoável que sociedades também o podem.
Por conseguinte, as principais características do evolucionismo resumem-se em:
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simultânea, diferindo no facto de os povos primitivos terem-se retardado na
evolução cultural devido ao facto de se terem apegado aos valores e tradições do
passado.
Ø Uso do método comparativo: o evolucionismo faz interpretações das
instituições do passado através da reconstrução do próprio passado, por
intermédio do método comparativo, explicando o desconhecido por aquilo que
se conhece.
Ø Principais temas e conceitos: os principais temas abordados pelo
evolucionismo são a religião e a família e em qualquer destes temas a
preocupação é explicar que a cultura obedece a uma evolução universal, isto é,
que a cultura surgiu simultaneamente em todas as partes.
O evolucionismo teve o mérito de trazer para a Antropologia uma série de
neologismos que enriqueceu o quadro conceptual desta disciplina e que até hoje
se mantém actualizado, por exemplo; o conceito de cultura, religião, patriarcado,
magia, clã, tribo, incesto, totem, matriarcado, parentesco, evolução cultural, etc.
O difusionismo.
Também conhecido por historicismo, o difusionismo engloba várias tendências da
antropologia. Surge como um movimento de reacção à orientação evolucionista tanto
nos seus postulados teóricos como nos metodológicos; pretende dar uma explicação
histórica às semelhanças existentes entre as culturas particulares. Sustenta que as
inovações são iniciadas numa cultura específica, para só então serem difundidas de
várias maneiras a partir desse ponto inicial.
De acordo com o difusionismo, uma inovação maior (como por exemplo, a invenção da
roda) terá sido criada num tempo e local particular para então ser passada para
populações vizinhas através da imitação, de negociações, de conquistas militares ou
outras maneiras. Dessa forma, a inovação irradia lentamente de seu ponto de partida. A
teoria pode ser aplicada a temas artísticos, crenças religiosas, engenharias e
arquitecturas e/ou qualquer outro aspecto da cultura humana.
O método difusionista tem sido usado para investigar inovações, traçando rotas até
presumíveis pontos de partida, localizando assim sua origem em culturas distintas e
mapeando a história de sua difusão.
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mais eficiente para o avanço da civilização e advogavam a necessidade de
fortalecer os contactos dos povos menos civilizados com os círculos culturais. O
que em certo modo procurava legitimar a exploração colonial da Europa pelo
mundo. O difusionismo é importante ainda hoje. O conceito de difusão explica
como alguns traços culturais são adquiridos e difundidos.
c) O difusionismo americano ou escola americana: considerou as culturas
particulares como sendo o principal campo de do estudo da Antropologia.
Segundo Franz Boas, a cultura é tão complexa que não permite um levantamento
histórico de carácter universal. A Antropologia deve centrar os seus estudos em
pequenas comunidades culturais, nomeadamente clãs, tribos, castas e outras
formas primitivas de organização social. Acrescenta Boas que a difusão não é
um processo linear e mecânico, mas pressupõe uma elaboração complexa por
parte do (s) povo (s) que apreende (m) certos traços culturais. Considera que
para a compreensão das culturas é importante o seu levantamento histórico, pois
o facto de determinados traços culturais terem origens diversas condiciona a
compreensão da cultura, ou seja, precisa-se conhecer a história de uma dada
cultura para compreender a cultura em si.
Trabalho independente
1- O que está na origem da evolução e da mudança cultural?
2- Qual o impacto das ideias difusionistas quando assimiladas pelos povos
colonizados?
O funcionalismo.
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O funcionalismo surge com os trabalhos do polaco Bronisław Malinowski (1884-1942)
e de Radcliffe-Brown procurando explicar o funcionamento de uma cultura num dado
momento.
O pessoal: pois toda a instituição funciona graças aos indivíduos que a compõem cada
um dos quais realizando uma função determinada.
***
Malinowski vê uma relação necessária entre a instituição e cada um dos elementos que a
caracterizam, isto é, toda a instituição é concebida para realizar uma função,
satisfazendo uma necessidade, implicando normas e sanções e atribuindo algum estatuto
social ao pessoal que a corporiza.
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O funcionalismo com a sua teoria da “função” várias ciências sociais, como é o caso da
Sociologia onde Robert King Merton (1910-2003) introduz as noções de função
manifesta, função latente e disfunção.
Função manifesta: é o que espera que aconteça, o que é previsível em relação a uma
prática cultura. Por exemplo, quem ingere álcool, embriaga-se. Portanto, a embriaguez
é o que se espera que se verifique em função da prática cultural da ingestão de álcool.
Função latente: é ou são os efeitos benéficos ou perversos que embora não esperados,
podem ocorrer na sequência determinadas contingências culturais. Por exemplo, a
comemoração de uma data festiva tem como função manifesta, a diversão e o lazer,
mas, como função latente, pode constituir uma ocasião para o levantamento de
escaramuças, pancadarias e ofensas corporais entre os participantes.
b) O funcionalismo de Radcliffe-Brown.
A estrutura deve ser entendida como uma série de relações entre entidades. Assim
como a estrutura da célula realiza um sem-número de relações entre moléculas
complexas, a estrutura da sociedade também o faz em relação às várias partes que a
compõem, cada uma das quais realizando uma função específica.
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O estruturalismo
O termo estruturalismo procede do substantivo «Estrutura», e entende-se por estrutura a
maneira pela qual as partes de um todo estão dispostas entre si, oferecendo um carácter
de sistema em que a modificação de elemento que a compõe acarreta a modificação do
todo. A estrutura é um sistema de transformações que têm leis próprias pelo facto de ser
um sistema.
Para Lévi-Strauss, as estruturas mentais inconscientes são universais e estão por de trás
de todas as culturas, sendo elas as responsáveis pelas diferenças entre culturas
particulares. Chama Lévi-Strauss à atenção para existência de «culturas frias» e
«culturas quentes». As culturas frias estão estagnadas na história, com uma sabedoria
particular que as incita desesperadamente a resistir a qualquer mudança em sua
estrutura, preservando o seu ser. São frias porque o seio interno está próximo do zero
de temperatura histórica, funcionam mecanicamente e são pouco tolerantes as
mudanças e alterações da sua estrutura. Vivem de dogmas, tabus, interdições e
tradições sagradas e arcaicas, estabelecidos de uma vez para sempre. Podem ser
consideradas culturas frias, as culturas de povos africanos, índios, melanésios, etc. As
culturas quentes são contingentes, isto é, mudam historicamente, apresentando uma
estrutura sucessivamente alterável em função das necessidades e exigências da
sociedade. As culturas quentes estão mais distante do zero do termómetro histórico e
incluem as dos povos da Europa ocidental, da América do Norte e de outras latitudes.
5
Reflexão face ao estruturalismo: Pode analisar-se a cultura ou a sociedade à margem dos indivíduos
que a compõem?
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2. Ambos defendem a ideia de que a sociedade e a cultura formam uma totalidade
por meio da qual se podem explicar as partes componentes (indivíduos,
instituições, grupos, costumes, etc.).
3. Ambos advogam a possibilidade de explicações da cultura e da sociedade sem
necessidade de recurso da história.
O objecto de estudo da Antropologia clássica tradicional foi sempre a cultura dos povos
iletrados, também conhecidos como primitivos. Esta Antropologia esteve desde o seu
primórdio ao serviço de potências coloniais.
***
As mais recentes teorias da Antropologia são marcadas por abordagens formais que
designadas por «Nova Etnografia» que centra as suas abordagens na etnociência,
etnossemântica, na análise comportamental, etc. a Nova Etnografia tem a pretensão de
fornecer à Antropologia modelos de análise que garantam objectividade e fiabilidade
nos resultados da pesquisas, pois os trabalhos de campo dos primeiros antropólogos
eram manchados pela tendenciosidade e pelo subjectivismo. Por outro lado, a Nova
Etnografia inspira-se na linguística, nas ciências da comunicação, e na cibernética como
meio de superação desse subjectivismo nos estudos etnográficos, através do uso de
métodos matemáticos e estatísticos nesses estudos.
6
Genocídio cultural ou eliminação das culturas, combate contra a subsistência de uma dada cultura.
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A abordagem Etic designa os conceitos técnicos do etnólogo, expressa categorias
universais da cultura e permite que o antropólogo se comunique com outros
antropólogos, ou com o público em geral. Nesse contexto, as categorias e conceitos dos
povos nativos (Emic) só se tornam compreensíveis aos outros povos quando o
antropólogo os “eticiza”, ou seja, quando os adapta à conceitos inteligíveis seguindo um
certo rigor científico.
Leituras complementares.
Nos Estados Unidos, surgiu, na década de 1960-1970, uma nova problemática teórica
que recebeu a designação de etnociência, apesar de ser igualmente conhecida por
etnossemântica ou mesmo nova etnografia, cujos trabalhos mais representativos são os
de Berlin, Kay, Conklin, Frake, Goodenough, Metzger, Romney e Tyler.
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a cada circunstância. Apesar de não podermos predizer o que cada falante dirá ou fará
unicamente com o conhecimento da gramática, a etnociência considera que isso seria
possível se, além das regras gramaticais, conhecêssemos o conteúdo informacional
necessário para poder falar ou tomar decisões.
Devido à ênfase dada aos problemas cognitivos, o estudo da gramática de cada cultura
consiste em estudar «a forma das coisas que os indivíduos têm nas suas cabeças e os
seus modelos de percepção, para os relacionar entre si e, se for possível, poder integrá-
los» (Goodenough, 1957). Daí que a tarefa fundamental da etnociência seja a de
descobrir as formas de percepção dos membros de cada cultura concreta e o modo
como eles descrevem o seu mundo. Esta perspectiva tem sido chamada descrição emic
ou «interna» de uma cultura, por oposição ao ponto de vista «externo» ou descrição
etic, que consiste em descrever cada cultura concreta utilizando as categorias de que o
investigador dispõe.
Deste modo, a etnociência tende a centrar a sua atenção naqueles aspectos de uma
cultura que reflectem de forma mais cingida a concepção que os nativos têm do seu
meio, da natureza humana e da sociedade, dando por pressuposto que as expressões
linguísticas e o discurso em geral expressam, de maneira directa, os princípios que
organizam o intelecto humano. Daí a sua dedicação ao estudo dos sistemas
terminológicos ou dos sistemas de nomes que os membros de uma cultura usam para
descrever as plantas (etnobotânica), as cores e os animais (etnozoologia) do seu meio
(etnoecologia), bem como aos termos do seu sistema de parentesco. Estes sistemas de
termos estão organizados de maneira sistemática, através de um conjunto fixo de
princípios organizativos. Supondo a existência de um número fixo e limitado de
princípios que são os que todas as culturas empregam para gerar e construir os seus
próprios sistemas, a etnociência espera poder determinar os princípios usados para
gerar cada um destes sistemas terminológicos ou domínios. Contudo, ao contrário do
estruturalismo, a etnociência não considera que esses princípios estejam fundados em
estruturas mentais subjacentes.
A etnociência tem sido alvo das mais diversas críticas, algumas das quais a identificam
com o idealismo (Harris, 1993), mas é necessário reconhecer a sua utilidade na
investigação de terreno ou etnográfica. De facto, ela permite descobrir os processos e
as regras estruturais mediante as quais uma determinada população classifica o seu
mundo. A tentação idealista da etnociência pode ser superada quando integramos a sua
etnometodologia nos métodos que nos possibilitam ter um acesso indirecto ao
funcionamento do sistema nervoso humano através dos resultados da sua actividade: os
comportamentos, a linguagem e a cognição.
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Os seres humanos têm vivido em grupo. O primeiro contacto entre si tornou-os seres
sociais e tal facto tornou-se o primeiro fenómeno cultual. Com efeito, as diferentes
formas de estruturação da sociedade dão origem a complexas diversificadas culturas, o
que nos leva a afirmar que: todo o comportamento humano tem um significado cultural.
O vocábulo “cultura” procede do verbo latino “colere” que significa cultivar a terra.
Thomas Hobbes (1588-1679) designava a cultura como o trabalho de educação do
espírito. Já desde o século XIX, vários antropólogos têm coincidido em que “ cultura é
um conjunto complexo de que compreende conhecimentos, crenças, hábitos, moral, leis,
artes do Homem, enquanto membro de uma sociedade”7
Noutro âmbito, a cultura pode ser entendida como um legado colectivo que o indivíduo
adquire do seu grupo; modo de vida global de um povo; um mecanismo para a
regulamentação normativa do comportamento, conjunto de significados e valores
partilhados e aceites por uma comunidade; etc.
Em todos os espaços e tempos, a vida humana tem acarretado crenças, criado normas,
idealizado valores, inventado instrumentos, desenvolvido aptidões, produzido obras de
arte, etc., que a caracterizam e lhe conferem autenticidade ou identidade própria. Isto é,
cada grupo humano realiza-se através de uma cultura e esta apresenta-se como a
expressão material e/ou espiritual da vida social concretizando-se no que é socialmente
aprendido e partilhado pelos membros do grupo.
7
TYLOR Edward, Primitive Culture, London, 1871, p.1
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necessidades de sono, de respiração e de alimentação são parte da herança biológica e
acontecem com/em todos os seres humanos. Porém, os modos com satisfazer essas
necessidades, os traços peculiares de um estilo de vida, etc., são legados culturais
aprendidos e partilhados não hereditária mas, socialmente.
Por seu turno, os traços materiais da cultura abarcam obras de arte, meios de
comunicação, literatura, técnicas, instrumentos de trabalho, etc. Os traços matérias da
cultura reflectem a luta do Homem pela sobrevivência e neles encontra-se o sentido da
evolução que se constata graças à reacção do Homem sobre a natureza.
Leituras complementares
Características da cultura.
Para além das características mencionadas mais acima, iremos descrever outras
características consideradas por Lerma como fundamentais:
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APOSTILA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2012
comportamentos dos indivíduos. Ela pertence ao grupo humano e não é individual
sendo que o indivíduo recebe socialmente a cultura que lhe é transmitida pela
sociedade no seu conjunto.
Bibliografia
MARTINEZ, Lerma Francisco, Antropologia cultural, Paulinas. Editorial, pgs.49-60.
A vida em grupo pressupõe uma certa ordem. Tal ordem resulta do facto de a vida
social colocar um sem-número de indivíduos detentores de comportamentos próprios e
diferentes uns dos outros, cada um dos quais agindo no sentido de satisfazer as
respectivas necessidades.
Ora, se cada indivíduo agir somente em função dos seus arbítrios, das sua motivações e
interesses, seguir-se-á a «guerra de todos contra todos8», dificultando a vida social.
Deste modo, no seu papel de socialização, o grupo (a sociedade) exige que cada um dos
seus membros reconheça que a seu comportamento deve obedecer a um conjunto de
normas que defendem e garantem a ordem social, preservando a subsistência do grupo
em si. Nesse sentido, as atitudes de cada indivíduo devem obedecer ao padrão vigente e
aceite como válido.
Ora, cada grupo social tem os seus padrões que representam comportamentos esperados
dos seus membros e que variam de sociedade para sociedade. Por exemplo, o
reconhecimento da liberdade religiosa constitui-se num padrão que se espera de uma
8
Expressão originalmente usado por Thomas Hobbes para designar o Estado Natural da sociedade no
qual primava a ausência da legalidade impondo-se a lei dos mais fortes.
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sociedade dada, porém, pode não ter sentido em sociedades onde se preza o extremismo
religioso.
A vida em sociedade decorre dos valores que, como já dissemos, são independentes da
vontade e da consciência do indivíduo, tudo o qual nos permite elaborar a seguinte
síntese (MAIA; 2002:398):
Leituras complementares
O ser humano orienta o seu comportamento em função dos valores que a sociedade
preza ou privilegia. Por tal razão, e, a fim de fazermos uma aproximação ao
comportamento desejável, propusemo-nos a tarefa de fazer uma análise axiológica que
permita compreender a importância metodológico-prática da transmissão de valores
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APOSTILA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2012
que por sua essência, podem contribuir para o desenvolvimento de condições menos
propensas ao desvio de normas culturais.
A primeira é importante para gozar-se de óptima saúde mental pois que, quando um
indivíduo não é sincero sente-se mal consigo próprio, pelo que não pode encontrar
sossego.
Um bom diálogo requer que a pessoa se abra com a outra, a respeite, a escute, usando
uma linguagem acessível e deixando de lado o medo, a prudência excessiva e o
tratamento sarcástico. Quando um destes elementos falha, engendra-se a desconfiança
e a discórdia. O diálogo é o valor pelo qual se reduzem as diferenças ideológicas,
religiosas, étnica, políticas, culturais, etc. Ironicamente, os Acordos Gerais de Paz de
04 de Outubro de 1992 resultaram do diálogo, o que alerta para a importância deste
valor.
A auto-estima: tem a ver com a opinião ou a impressão que cada qual tem de si
próprio. Quando a partir da infância a criança é ajudada a descobrir o melhor da sua
personalidade e quanto mais amor, carinho e atenção receber, melhor conceito terá de
si própria.
A pessoa com alta auto-estima caracteriza-se pelo optimismo e por enfrentar com
coragem e valentia qualquer meta que se propuser. Pelo contrário, a baixa auto-estima
9
Palavra de origem anglo-saxónica que se pode traduzir como retroacção.
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implica o pessimismo, o fracasso, a timidez, a ausência de confiança em si mesma, a
falta de comunicação, etc.
A paz: a paz é um valor sem cuja prática é inútil falar de entendimento entre pessoas,
de cooperação altruísta na sociedade, de aceitação das diferenças individuais (raça,
etnia, aptidão física, etc.).
Em linhas gerais, estas são as distinções que a respeito de certos valores, quisemos
discriminar para fazer prevalecer o seu conteúdo e significado na moldagem, guia e
orientação dos membros da sociedade.
Bibliografia
1-MAIA, Leandro Rui. Dicionário de Sociologia, Porto Editora, Porto, 2002.
2- TOMÁS, Adelino Esteves. Ensaio Experimental de Sociologia, UniSaF, 2007.
Dado que cada sociedade gera a sua cultura, é natural que possua os seus padrões de
cultura, ou seja, tipos formais de comportamento individual ou colectivo que
condicionam e explicam as atitudes do grupo.
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APOSTILA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2012
Os padrões de cultura são um código que torna inteligível o fenómeno cultural que
acontece nos diferentes grupos e o modo de reacção que cada grupo manifesta face a um
determinado estímulo. Ora, dos múltiplos modos de reacção aos diferentes estímulos
infere-se a multiplicidade de padrões de cultura.
A cultura, por seu turno, aparece como sendo algo relativo, pois, não há culturas
inferiores nem culturas superiores, mas culturas diferentes (relativismo cultural).
Leituras complementares.
A noção de cultura está associada a todas as sociedades. O indivíduo, seja qual for o
seu estatuto, é um ser não apenas social mas, sobretudo, cultural. Pela constituição do
seu espírito, ele organiza o seu mundo metal, o seu sistema de relações e, até mesmo,
um grande número de dados fisiológicos, segundo regras estabelecidas no seu contexto
sociocultural. Daí decorre que os indivíduos que nascem numa dada sociedade
adoptem os comportamentos ditados pela sociedade onde vivem.
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comportamentos.
Ø Os indivíduos não são apenas seres sociais, mas, também, culturais.
Ø Cada indivíduo adquire espontânea e quase involuntariamente a cultura do
grupo de que faz parte e age em conformidade com ela.
Ø Não há culturas inferiores nem culturas superiores, mas, diferentes.
Trabalho independente.
1- Tendo em conta a asserção “ Não há culturas superiores nem culturas
inferiores.”
a) Diga duas vantagens e duas desvantagens do etnocentrismo.
b) Comente a importância dos valores como garantes da coesão social.
c) Porque se pode afirmar que “todo o comportamento humano tem um significado
cultural”?
A dinâmica cultural explica-se pelo facto de as estruturas culturais não serem estáticas e
estarem permanentemente em transformação e tais transformações ocorrem
essencialmente por dois processos: as descobertas no interior dos próprios grupos e os
contactos dos grupos com outros grupos portadores de culturas diferentes. O primeiro
processo dá origem à endoculturação e o segundo origina as restantes formas que
corporizam a dinâmica das culturas.
A endoculturação ou enculturação.
A criança ao nascer é apenas um ser que responde aos estímulos biológicos (respiração,
sono, alimentação, satisfação de necessidade metabólicas, etc.). Porém, desde cedo ela
vai incorporar formas de ser, designadamente a forma de se alimentar, o local onde
satisfazer necessidades metabólicas, utensílios para servir os alimentos, etc., isto é, ela
vai ajustar as suas reacções individuais aos padrões da cultura da sociedade de que ela
faz parte.
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Þ Duração do processo, começando com o nascimento do individuo, estendendo-se
ate à morte.
A desculturação.
A aculturação.
Ora, a aculturação nem sempre ocorre pacificamente, pois do contacto entre povos nem
sempre resultam relações afáveis ou amigáveis. Por conseguinte, podemos falar de dois
tipos de aculturação:
A transculturação.
Trata-se de um processo da dinâmica cultural que permite que sociedade legue traços à
outra, em troca de outros que ela recebe daquela. A transculturação é resultante de
intercâmbios comerciais, artísticos e científicos que possibilitam que as partes
envolvidas assimilem reciprocamente a cultura ou os traços culturais da contraparte. Por
exemplo, no Brasil o contacto entre afro-descendentes, euro-descendentes e ameríndios
originou um quadro transcultural que propiciou na cultura resultante aspectos diferentes
das culturas originais.
Bibliografia
1-TITIEV, Mischa. Introdução à Antropologia Cultural, 9ª edição, pgs 272/288.
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2-BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos, pgs 95/137.
Trabalho independente.
1- O pode acontecer com um sujeito que não aceita agir ou comportar-se em função
dos valores da sua sociedade?
2- Apresente argumentos que fundamentam a ideia da dinâmica cultural?
Aula será proposta como trabalho de aplicação do estudante nas horas de estudo
individual em o próprio estudante terá que aprofundar nos seguintes temas.
a) Identidade moçambicana: já e ainda não, pgs 17-32.
b) Notas sobre a identidade, pgs 71-74.
c) Definição do conceito de identidade social, pgs 116-119.
d) Pluralidade, unicidade e compatibilidade das identidades, pgs 119-122.
e) Algumas observações sobre a territorialidade e a identidade em Moçambique
antes e depois da Independência, pgs 131-141.
Note-se que para a efectuação do trabalho o estudante terá que recorrer ao livro:
Identidade, Moçambicanidade e Moçambicanização, Livraria Universitária da U.E.M.
Parentesco: no sentido restrito refere-se aos laços de sangue, mas num sentido mais
amplo, também aplica-se aos laços de afinidade ou de casamento. (parentesco por
consanguinidade e parentesco por afinidade ou por casamento)
Laços de parentesco: é a relação que decorre da posição ocupada pelo sujeito no
sistema de parentesco. Pode-se falar de três tipos de laços de parentesco:
Ø Laço de sangue (descendência).
Ø Laço de afinidade (matrimónio ou casamento).
Ø Laço fictício (adopção).
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linhagem patrilinear para uns propósitos (ex: realização de funerais, delegação da
herança, etc.), e orientam-se pela linhagem matrilinear para outros propósitos (ex: o
cuidado de crianças, a atribuição de apelidos, etc.)
Clã: grupo de pessoas dotado de nome e de descendência unilateral, isto é, que deriva
de um ancestral comum e que segue regras de descendência matrilinear/uterina ou
patrilinear/agnática e jamais de ambas simultaneamente.
Família: no sentido mais restrito é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto.
Mas no sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações descendentes de
antepassados comuns; já na linguagem do senso comum costuma-se dizer que a família
é a célula básica da sociedade. Por família, também, pode-se entender como o conjunto
de parentes por consanguinidade ou por aliança ou afinidade.
No entanto, existe um tipo de classificação que se vale dos seguintes critérios: regras de
residência, número de cônjuges, relação de poder e parentesco.
Patrilocal: a família patrilocal é aquela que estabelece uma residência conjunta entre
um casal e os pais homem.
Matrilocal: aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher.
Neolocal: é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de ambos
os cônjuges.
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APOSTILA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2012
Monogâmica: quando a união é de um só homem com uma só mulher.
Poligâmica: é a união de um só marido com várias esposas ou de uma só mulher com
vários maridos.
Poligínica: é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de
um marido com várias esposas.
Poliândrica: é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a união
de uma mulher com vários esposos.
Quanto ao parentesco.
A família pode adquirir as seguintes classificações:
Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa união,
todos morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser de
orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e família nuclear de procriação, que
é a que cada um de nós funda estabelece.
Alargada ou extensa: este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os
familiares colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos, etc.), todos vivendo numa
mesma residência patrilocal ou matrilocal.
Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma
mulher (a madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um
homem (o padrasto).
Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela
mãe solteira ou viúva e os filhos.
Bibliografia
1-DE MELO, Luíz Gonzaga. Antropologia cultural, pgs 316/339
2-BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos, pgs 289/294.
O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e
mulher) pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este
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dote pode ser uma enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou
outros bens de natureza material ou pecuniária.
O jovem que tenciona contrair o casamento informa aos seus tutores (pais ou padrinhos)
sobre a sua intenção e estes marcam uma agenda de visita à família da pretendida noiva
com a finalidade de participar-lhes da pretensão do seu filho/afilhado. Uma vez
recebidos os hóspedes estabelecem-se garantias, designadamente uma lista contendo a
descrição dos itens que serão objectos do próprio lobolo. A lista pode incluir prendas
para os pais da noiva, catanas, enxadas, dinheiro para os encargos do cortejo nupcial,
bem como a menção da data em que o próprio lobolo será pago.
Ultrapassada esta parte, segue-se o acto religioso, logo, o cortejo nupcial, e em seguida
os festejos com abundância de comidas e bebidas alcoólicas. Todos estes actos solenes
selam para sempre a união dos dois nubentes. No entanto, dois grandes factores podem
ser preponderantes para a dissolução do casamento: o adultério e a esterilidade da
mulher.
O lobolo como símbolo de união matrimonial permite que uma das famílias envolvidas
adquira um novo membro, e a outra o perca. Deste modo, a mulher adquirida, ainda que
conserve o seu apelido (o nome do seu clã) torna-se propriedade do novo grupo
familiar, pertencem a este grupo tanto ela como os filhos que gerar. Não é uma escrava,
nem é propriedade individual do marido, mas uma propriedade colectiva do grupo.
Junod (1996: 257) faz as seguintes considerações a respeito dos efeitos do lobolo:
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APOSTILA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2012
· Toda a família do homem toma parte nas cerimónias do casamento, sobretudo no
dia em que o lobolo é levado pelo noivo. Os membros masculinos do grupo têm
o direito de opinar sobre os bois ou a soma entregue.
· Os irmãos estão sempre prontos a ajudar um dos seus, mais pobre, ao lobolo.
Trabalham assim para o grupo.
· A mulher adquirida desta maneira é esposa aparente deles, embora lhes não seja
permitido ter relações sexuais com ela. Recebê-la-ão em herança quando o
marido morrer (o kutchinga).
· Os filhos pertencem ao pai, vivem com ele, usam o seu apelido (o nome do clã)
e devem-lhe obediência: os filhos masculinos fortificam o grupo e os femininos
são vendidos em casamento para o benefício desse grupo.
Por tudo o acima descrito, conclui-se que seja falso dizer que o lobolo é um contrato
entre duas famílias com a finalidade de garantir que a mulher seja tratada decentemente
pelo marido e vice-versa. Parece-nos que em vez de esta prática obrigar os nubentes a
prestarem cuidados recíprocos, serve para legitimar comportamentos androcêntricos e
machistas de índole patriarcal.
Bibliografia
JUNOD, Henri Alexandre. Usos e costumes bantu, Editor Arquivo Hist. de Moç., Tomo
I Maputo, 1996.
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Trabalho independente.
1- Chongola, marido da dona Amélia pereceu na África do Sul de uma prolongada
doença. No entanto, a família reuniu-se e decidiu que Chivangue, irmão de
Chongola deveria “kutchingar” a Amélia para purificá-la dos maus espíritos do
finado irmão. (Adaptado pelo professor).
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