APELAÇÃO
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Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ESCRIVANIA DO
CRIME DE SILVÂNIA/GO
RECURSO DE APELAÇÃO
Nesses termos,
pede deferimento.
Goiânia, 07 de março de 2014.
____________________________
Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
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Silva, Borges & Araújo.
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
I – DOS FATOS
Juslaine, ora Apelante, foi acusada por crime descrito no art. 155, § 4º, II
do Código Penal, por ter supostamente com abuso de confiança subtraído a quantia
de R$ 132,00 (cento e trinta e dois reais) da Loja Plataforma em que trabalhava a
época.
Ocorre que no dia 20 de setembro de 2011, Juslaineque era a funcionaria
mais antiga da Loja Plataforma, no horário de almoço das outras funcionarias ficou
sozinha para fazer todas as funções, então recebeu de uma cliente a qual se
chamava Elcione de Sousa o pagamento de R$ 52,00 (cinquenta e dois reais), que
entregou a cliente a nota promissória referente a dívida, se esquecendo portanto de
registrar a operação realizada no livro caixa da Loja, em seguida a apelante retirou a
quantia de R$ 80,00 (oitenta reais), registrada no livro caixa como saída, valor esse
que se referia ao pagamento de uma dívida de sua empregadora Ana Olívia junto à
Loja Valentina Biju. No dia seguinte ao ocorrido constatou-se a diferença no livro
caixa e de imediato culpou Juslaine pelo ocorrido, mesmo sendo ela de total
confiança da Loja de Ana Olívia que atestou em juízo ser a quantia de R$ 120,00
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(cento e vinte reais) em dinheiro ao contrario das primeiras alegações da quantia de
R$ 132,00 (cento e trinta e dois reais), ficando demonstrado que a desorganização
existente no caixa da loja.
Sendo denunciada em 10 de setembro de 2012, a acusada foi citada e apresentou
resposta à acusação, realizando-se a instrução processual e a oitiva das
testemunhas de acusação e defesa, deixando confirmado que nos fatos alegados
havia contradição e desorganização e que a acusada sempre teve boa índole, o
representante do Ministério Público, porém, requereu a condenação da acusada nas
penas do artigo 155, §4º, II, do Código Penal, pedido que foi acolhido pelo
magistrado, condenando a ré a 01 (um) ano de reclusão e 05 (cinco) dias multa.
II – DO DIREITO
a) – DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
No caso dos autos, a respeitável sentença condenatória proferida pelo
juízo de origem, rejeitando a tese de inexistência do crime por atipicidade da
conduta, concluiu pela prática do ilícito descrito no artigo 155, §§ 2º e 4º, II doCódigo
Penal Brasileiro. Entretanto, a decisão merece reparo.
Para que se alcance a conceituação de uma conduta criminosa, a
doutrina penalista mais acertada tem adotado como parâmetro o sistema formal,
pelo qual é considerado como crime o fato típico e antijurídico. Conforme ensina
Damásio de Jesus, para que se caracterize como típico, revela-se imprescindível
que o fato componha-se de elementos mínimos.
São estes: conduta dolosaou culposa, resultado e nexo de causalidade,
sendo certo que na ausência dequalquer destes, tem-se, consequentemente, fato
atípico. Dentre tais elementos, o caso em apreço impõe destacar a conduta dolosa
ou culposa. O dolo, enquanto elemento subjetivo específico, é imprescindível à
formação da conduta típica. O legislador ordinário, quanto ao dolo, dispõe no
artigo 18 do Código Penal o que passo a transcrever: “Art. 18 - Diz-se o crime:
(...) I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
(...).”.
A interpretação do dispositivo supracitado permite concluir com
facilidade que somente configura-se o dolo nas situações em que aquele que pratica
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a conduta definida em norma penal incriminadora com o ânimo de produzir o
resultado. Nesse sentido, a lição de Cristiano Chaves define o dolo como “(...) a
intenção, a finalidade, vontade direcionada a produção de um resultado desejada
pelo agente.”.
Não se ignora, todavia, que observada a classificação dos crimes,
a infração penal imputada à ora recorrente pode ser descrita como delito de
intenção. Tem-se delito de intenção nas situações em que o elemento
subjetivo (culpa ou dolo) é descrito de forma expressa no próprio tipo penal.
Ensina Cristiano Chaves:
Alguns tipos exigem para se configurar que, além do dolo inerente à
conduta praticada, o agente possua um fim específico para sua ação
(especial fim de agir), logo esta finalidade específica precisará ser
demonstrada para quese impute o crime ao agente (...).
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efetuar a reposição dos valores que saíram do caixa devido a desatenção, vê-se que
a conduta se amolda, a situação de mera imprudência.
Apreende-se da dicção do artigo 18 do Código Penal que, embora não
seja cometido dolosamente, é punível o crime praticado quando o agente incorrer
em imprudência, imperícia ou negligência. Transcrevo: “Considera-se (...)Crime
culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia. (...)”.
Entretanto, frisa-se que somente por determinação positivadaem lei é que
pode a culpa atuar como elemento subjetivo capaz de legitimar a aplicação de pena
pelo Estado, conforme clara determinação do parágrafo único do mesmo artigo
18:“Parágrafo único- Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”.
Acertadamente, o entendimento da jurisprudência tem se solidificado no
sentido de que, ausente previsão da modalidade culposa de um delito, depara-se
com a sua atipicidade. Trago à colação os seguintes precedentes:
APELAÇÃO CRIMINAL. TRANSPORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE
USO PERMITIDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA
DEFESA. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA.
IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL
DO PROCESSO. PENA MÍNIMA DO DELITO SUPERIOR A 01 (UM) ANO.
MÉRITO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE DOLO.
INEXISTENCIA DE PREVISÃO DE PUNIÇÃO NA MODALIDADE
CULPOSA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. As inovações
trazidas pela Lei dos juizados especiais criminais no âmbito federal não
alcançaram o instituto da suspensão condicional do processo previsto no
artigo 89 da Lei nº 9.099 /1995, que continua considerando o cabimento do
sursis processual apenas para os crimes com a cominação de pena mínima
igual ou inferior a 1 (um) ano. 2. O crime de transporte de arma de fogo
de uso permitido previsto no artigo 14 , caput, da Lei nº 10.826 /2003
não prevê punição na modalidade culposa. In casu¸ restou
demonstrada a ausência de dolo e a consequente atipicidade da
conduta perpetrada pelo réu que, de forma fortuita, conduziu carro
utilizado para transporte de funcionários e prestadores de serviços,
não tendo ciência de que carregava arma de fogo no interior do
veículo. 3. Recurso conhecido e provido para absolver o réu do crime
previsto previsto no artigo 14 , caput, da Lei nº 10.826 /2003, com
fundamento no artigo 386 , inciso VII , do Código de Processo Penal. TJ-DF
- 20130410101302 0009884-21.2013.8.07.0004 (TJ-DF). Data de
publicação: 29/07/2016. (Grifo nosso).
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Sendo este o cenário, a medida que se impõe é o reconhecimento da
atipicidade do fato, uma vez que não há nos autos a demonstração do ânimo de
causar dano de qualquer natureza ou extensão ao patrimônio. Diante da inexistência
de modalidade culposa no furto, deve a recorrente ser absolvida, nos termos do
artigo 386, I e III do Código de Processo Penal.
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tipicidade material, mas apenas a formal quando a conduta não possui
relevância jurídica, afastando-se, por consequência, a ingerência da tutela
penal, em face do postulado da intervenção mínima. É o chamado princípio
da insignificância. 2. Reconhece-se a aplicação do referido princípio quando
verificadas "(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a
nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada" (HC 84.412/SP, Ministro Celso de Mello, Supremo
Tribunal Federal, DJ de 19/11/04).3. No caso, não há como deixar de
reconhecer a mínima ofensividade do comportamento do paciente, que
subtraiu dois frascos de xampu de um supermercado, avaliados em quinze
reais e vinte centavos. 4. Ordem concedida.
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Sabendo que a recorrente tinha conhecimento de que toda entrada e
saída de dinheiro eram registradas, e caso houvesse alguma diferença, poderia ser
prejudicada, há de se compreender que o furto não ocorreu.
A recorrente, ao receber a nota promissória de sua cliente, Sra. Elcione,
deixou de realizar os devidos procedimentos de rotina, tornou impossível o
pagamento da dívida contraída junto a Valentina Biju. Por se sentir constrangida e
envergonhada pelo seu desleixo, não compareceu ao trabalho, com o intuito de
recuperar a quantia em dinheiro perdida e realizar o pagamento da dívida antes
que notassem a ausência. Claro, portanto, que a recorrentepor imprudência,
perdeu o controle dos valores que entraram e saíram da caixa do estabelecimento.
Vale ressaltar que, a acusada não possui nenhum antecedente, possui
uma ótima conduta social, trabalha de forma honesta para o sustento de sua
família, o que a torna mais ainda favorável e distante de cometer uma prática
delituosa como o furto doloso.
Desse modo, diante da ausência de provas específicas quanto à autoria
do delito e levando em consideração o princípio da presunção de inocência, é
forçoso entender que a decisão mais acertada no caso em voga é pela absolvição
da Sra. Juslaine, nos termos do artigo 386, I do Código de Processo Penal.
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d)caso não seja esse Vosso entendimento, requer aabsolvição sumária do apelante,
conforme art. 386, III do Código de Processo Penal, diante da necessidade de
aplicação do princípio da insignificância.
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