APELAÇÃO

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Silva, Borges & Araújo.

Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ESCRIVANIA DO
CRIME DE SILVÂNIA/GO

JUSLAINE APARECIDA DOS SANTOS, já qualificada nos autos da ação


penal nº xxxxxxxxxxxx, que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta
subscreve, não se conformando com a respeitável sentença que a condenou como
incursa nas penas do art. 155, §§ 2º e 4º, II, do Código Penal, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

Com fundamento no art. 593, I, do Código de Processo Penal. Requer


que seja recebido e processado o presente recurso e encaminhado, com as inclusas
razões, ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Nesses termos,
pede deferimento.
Goiânia, 07 de março de 2014.
____________________________

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

APELANTE: Juslaine Aparecida dos Santos


APELADA: Justiça Pública
PROCESSO Nº 201101912223
Colenda Câmara,
Douto Procurador de Justiça,

Em que pese a correta defesa e demonstração da presença do principio


da insignificância, a sentença de folhas x, entendeu por bem condenar a apelante
não trazendo aos autos a correta e eficaz aplicação da Justiça, conforme será
demonstrado pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

I – DOS FATOS

Juslaine, ora Apelante, foi acusada por crime descrito no art. 155, § 4º, II
do Código Penal, por ter supostamente com abuso de confiança subtraído a quantia
de R$ 132,00 (cento e trinta e dois reais) da Loja Plataforma em que trabalhava a
época.
Ocorre que no dia 20 de setembro de 2011, Juslaineque era a funcionaria
mais antiga da Loja Plataforma, no horário de almoço das outras funcionarias ficou
sozinha para fazer todas as funções, então recebeu de uma cliente a qual se
chamava Elcione de Sousa o pagamento de R$ 52,00 (cinquenta e dois reais), que
entregou a cliente a nota promissória referente a dívida, se esquecendo portanto de
registrar a operação realizada no livro caixa da Loja, em seguida a apelante retirou a
quantia de R$ 80,00 (oitenta reais), registrada no livro caixa como saída, valor esse
que se referia ao pagamento de uma dívida de sua empregadora Ana Olívia junto à
Loja Valentina Biju. No dia seguinte ao ocorrido constatou-se a diferença no livro
caixa e de imediato culpou Juslaine pelo ocorrido, mesmo sendo ela de total
confiança da Loja de Ana Olívia que atestou em juízo ser a quantia de R$ 120,00
Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
(cento e vinte reais) em dinheiro ao contrario das primeiras alegações da quantia de
R$ 132,00 (cento e trinta e dois reais), ficando demonstrado que a desorganização
existente no caixa da loja.
Sendo denunciada em 10 de setembro de 2012, a acusada foi citada e apresentou
resposta à acusação, realizando-se a instrução processual e a oitiva das
testemunhas de acusação e defesa, deixando confirmado que nos fatos alegados
havia contradição e desorganização e que a acusada sempre teve boa índole, o
representante do Ministério Público, porém, requereu a condenação da acusada nas
penas do artigo 155, §4º, II, do Código Penal, pedido que foi acolhido pelo
magistrado, condenando a ré a 01 (um) ano de reclusão e 05 (cinco) dias multa.

II – DO DIREITO
a) – DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
No caso dos autos, a respeitável sentença condenatória proferida pelo
juízo de origem, rejeitando a tese de inexistência do crime por atipicidade da
conduta, concluiu pela prática do ilícito descrito no artigo 155, §§ 2º e 4º, II doCódigo
Penal Brasileiro. Entretanto, a decisão merece reparo.
Para que se alcance a conceituação de uma conduta criminosa, a
doutrina penalista mais acertada tem adotado como parâmetro o sistema formal,
pelo qual é considerado como crime o fato típico e antijurídico. Conforme ensina
Damásio de Jesus, para que se caracterize como típico, revela-se imprescindível
que o fato componha-se de elementos mínimos.
São estes: conduta dolosaou culposa, resultado e nexo de causalidade,
sendo certo que na ausência dequalquer destes, tem-se, consequentemente, fato
atípico. Dentre tais elementos, o caso em apreço impõe destacar a conduta dolosa
ou culposa. O dolo, enquanto elemento subjetivo específico, é imprescindível à
formação da conduta típica. O legislador ordinário, quanto ao dolo, dispõe no
artigo 18 do Código Penal o que passo a transcrever: “Art. 18 - Diz-se o crime:
(...) I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
(...).”.
A interpretação do dispositivo supracitado permite concluir com
facilidade que somente configura-se o dolo nas situações em que aquele que pratica

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
a conduta definida em norma penal incriminadora com o ânimo de produzir o
resultado. Nesse sentido, a lição de Cristiano Chaves define o dolo como “(...) a
intenção, a finalidade, vontade direcionada a produção de um resultado desejada
pelo agente.”.
Não se ignora, todavia, que observada a classificação dos crimes,
a infração penal imputada à ora recorrente pode ser descrita como delito de
intenção. Tem-se delito de intenção nas situações em que o elemento
subjetivo (culpa ou dolo) é descrito de forma expressa no próprio tipo penal.
Ensina Cristiano Chaves:
Alguns tipos exigem para se configurar que, além do dolo inerente à
conduta praticada, o agente possua um fim específico para sua ação
(especial fim de agir), logo esta finalidade específica precisará ser
demonstrada para quese impute o crime ao agente (...).

A descrição acima se amolda com clareza ao tipo penal de furto. In


verbis:“Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.”.O furto exige, para que ocorra sua
caracterização, a tomada do domínio de coisa alheia móvel, sendo que a
interpretação do núcleo do tipo leva a conclusão de que este se confunde com retirar
de outrem coisa móvel, com o fim de causar-lhe dano patrimonial.
No caso dos autos, inexiste comprovação robusta o suficiente para que se
possa atribuir à conduta narrada na peça acusatória, conforme acolhida pelo
julgador monocrático, o dolo específico de retirada fraudulenta de coisa móvel,
visando-se lesão ao patrimônio. A recorrente, empregada do estabelecimento em
que ocorreram os fatos, em momento algum esteve movida por ânimo de provocar
prejuízo.
No mais gravoso dos cenários, é possível se inferir que a recorrente agiu
de modo imprudente. O ambiente de trabalho em que a Sra. Juslaine se encontrava,
assim como as circunstâncias do dia do fato são fatores que permitem conclusão
nesse sentido. Ao tempo da prática da conduta, a recorrente encontrava-se em seu
local de trabalho, que em razão do horário, contava com fluxo considerável de
pessoas, sendo certo que somente uma atendente a acompanhava. Considerando
a desordem causada pelo volume de trabalho, bem como a inércia da recorrente em

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
efetuar a reposição dos valores que saíram do caixa devido a desatenção, vê-se que
a conduta se amolda, a situação de mera imprudência.
Apreende-se da dicção do artigo 18 do Código Penal que, embora não
seja cometido dolosamente, é punível o crime praticado quando o agente incorrer
em imprudência, imperícia ou negligência. Transcrevo: “Considera-se (...)Crime
culposo II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia. (...)”.
Entretanto, frisa-se que somente por determinação positivadaem lei é que
pode a culpa atuar como elemento subjetivo capaz de legitimar a aplicação de pena
pelo Estado, conforme clara determinação do parágrafo único do mesmo artigo
18:“Parágrafo único- Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”.
Acertadamente, o entendimento da jurisprudência tem se solidificado no
sentido de que, ausente previsão da modalidade culposa de um delito, depara-se
com a sua atipicidade. Trago à colação os seguintes precedentes:
APELAÇÃO CRIMINAL. TRANSPORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE
USO PERMITIDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA
DEFESA. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA.
IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL
DO PROCESSO. PENA MÍNIMA DO DELITO SUPERIOR A 01 (UM) ANO.
MÉRITO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE DOLO.
INEXISTENCIA DE PREVISÃO DE PUNIÇÃO NA MODALIDADE
CULPOSA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. As inovações
trazidas pela Lei dos juizados especiais criminais no âmbito federal não
alcançaram o instituto da suspensão condicional do processo previsto no
artigo 89 da Lei nº 9.099 /1995, que continua considerando o cabimento do
sursis processual apenas para os crimes com a cominação de pena mínima
igual ou inferior a 1 (um) ano. 2. O crime de transporte de arma de fogo
de uso permitido previsto no artigo 14 , caput, da Lei nº 10.826 /2003
não prevê punição na modalidade culposa. In casu¸ restou
demonstrada a ausência de dolo e a consequente atipicidade da
conduta perpetrada pelo réu que, de forma fortuita, conduziu carro
utilizado para transporte de funcionários e prestadores de serviços,
não tendo ciência de que carregava arma de fogo no interior do
veículo. 3. Recurso conhecido e provido para absolver o réu do crime
previsto previsto no artigo 14 , caput, da Lei nº 10.826 /2003, com
fundamento no artigo 386 , inciso VII , do Código de Processo Penal. TJ-DF
- 20130410101302 0009884-21.2013.8.07.0004 (TJ-DF). Data de
publicação: 29/07/2016. (Grifo nosso).

HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL. FRAUDE. ELEMENTO DO


TIPO. INEXISTÊNCIA. MODALIDADE CULPOSA. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA.
1. O legislador ordinário, ao descrever abstratamente o crime de
sonegação fiscal, não previu a possibilidade de sua punição pela forma
culposa, restringindo-o à regra prevista no artigo 18 , parágrafo único ,
do Código Penal , segundo o qual "salvo os casos expressos em lei,
Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando
o pratica dolosamente". 2. Para que o delito em comento se caracterize,
não basta que o agente obtenha a redução ou supressão do tributo, mas
que tal desiderato tenha sido alcançado mediante a utilização de um artifício
fraudulento, seja por meio da omissão de um dever de informação que lhe é
imposto, ou pela declaração de informações falsas à autoridade fazendária.
3. Sem que seja necessário o revolvimento do conjunto probatório, constata-
se que, assim como reconhecido pelo próprio Conselho de Contribuintes, a
conduta do paciente, embora tenha importado na supressão ou redução de
tributo devido, não foi praticada com o dolo necessário para a
caracterização do ilícito em tela, já que atuou mediante um conceito
equivocado sobre o fato gerador da exação devida, e não se negou em
prestar as informações necessárias para a correta quantificação do tributo.
4. Ordem concedida para reconhecer a atipicidade penal da conduta
atribuída ao paciente, determinando-se o trancamento da ação penal
deflagrada.STJ - HABEAS CORPUS HC 135426 SP 2009/0084541-1. Data
de publicação: 18/04/2013. (Grifo nosso).

Especificamente quanto ao furto, não é diferente o entendimento dos


Tribunais pátrios:
APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO. DOLO. AUSÊNCIA. ABSOLVIÇÃO.
FATO ATÍPICO. LESÃO CORPORAL. CONTINUIDADE. MAUS
ANTECEDENTES. EXCLUSÃO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. 1
- Se o fato praticado não se amolda ao crime de furto por ausência do
dolo específico, impõe-se a absolvição por atipicidade. 2 - Configura-se
continuidade delitiva se os crimes de lesão corporal são praticados
sequencialmente. 3 - Havendo equívoco, afastam-se os maus antecedentes.
4 - Atendidos os requisitos do artigo 77 do Código Penal, concede-se o
sursis. Recurso conhecido e parcialmente provido. De ofício, concedida a
suspensão condicional da pena. TJ-GO - APELACAO CRIMINAL APR
02916348320148090129. Data de publicação: 13/06/2017. (Grifo nosso).

PENAL. FURTO. ABSOLVIÇÃO. ARTIGO 386 , III , CPP . FORMA


CULPOSA. NÃO PREVISÃO. ARTIGO 18 DO CÓDIGO
PENAL .ATIPICIDADE DA CONDUTA. RECURSO IMPROVIDO. I. O inciso
III do artigo 386 do Código de Processo Penal preceitua que o juiz absolverá
o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça a
inexistência de infração penal prevista em lei. II. Em se ratanto de crime de
furto, o diploma legal não o define na forma culposa, mas, tão-somente,
dolosa, pelo que inviável a punição do apelado, nos moldes pleiteados pelo
Órgão Ministerial, a teor do que dispõe o par. único do artigo 18 do Código
Penal, dado que, no caso em tela, a acusação é a de que o delito aconteceu
enquanto o agente policial dormia, e não a de que dormiu propositadamente
para facilitar o crime. III. Inexistência de infração penal, em razão da
atipicidade da conduta descrita na denúncia. Recurso improvido. TRF-3 -
APELAÇÃO CRIMINAL ACR 71753 SP 95.03.071753-1 (TRF-3). Data de
publicação: 12/12/2000. (Grifo nosso).

Dessa forma, Excelências, se torna cristalino que a recorrente não


incorreu na conduta prevista no artigo 155 do Código Penal, tendo em vista que os
fatos descritos foram praticados por imprudência da recorrente, sendo certo que não
há previsão legal expressa da modalidade culposa do crime de roubo, o que resulta,
consequentemente, na atipicidade da conduta.

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
Sendo este o cenário, a medida que se impõe é o reconhecimento da
atipicidade do fato, uma vez que não há nos autos a demonstração do ânimo de
causar dano de qualquer natureza ou extensão ao patrimônio. Diante da inexistência
de modalidade culposa no furto, deve a recorrente ser absolvida, nos termos do
artigo 386, I e III do Código de Processo Penal.

b) - ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DA TENTATIVA DE FURTO QUALIFICADO PELO


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Consta na denúncia, que a acusada subtraiu, para si, a quantia de R$
132,00 (cento e trinta e dois reais), conforme apurado no dia 20 de setembro de
2011.
A descrição formal de um fato criminoso tem de observar se o fato tem
relevância em tutelar os mais importantes interesses sociais, ou seja, aqueles
identificáveis com os direitos humanos.
O princípio da insignificância ou bagatela é um princípio penal limitador. A
corrente que considera o princípio da insignificância como excludente de tipicidade é
a mais difundida pela doutrina tradicional e é a que nos parece mais correta.
Consiste o princípio da insignificância na ideia de que o Direito Penal não deve se
preocupar com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser admitidos tipos
incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar o bem jurídico, já que a
tipicidade exige um mínimo de lesividade a esse. Segue o pensamento do
doutrinador Damásio de Jesus:
Princípio da insignificância: Ligado aos chamados “crimes de bagatela” (ou
“delitos de lesão mínima”), recomenda que o Direito Penal, pela adequação
típica, somente intervenha nos casos de lesão jurídica de certa
gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de
perturbações jurídicas mais leves (pequeníssima relevância material).
Esse princípio tem sido adotado pela nossa jurisprudência nos casos de
furto de objeto material insignificante, lesão insignificante ao Fisco,
maus-tratos de importância mínima, descaminho e dano de pequena monta,
lesão corporal de extrema singeleza, etc. [...]. (DAMÁSIO DE JESUS, Direito
Penal, Parte Geral, 2014, página 52-53).

Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:


HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL.
INEXPRESSIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. 1. A intervenção
do Direito Penal apenas se justifica quando o bem jurídico tutelado
tenha sido exposto a um dano com relevante lesividade. Inocorrência de

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
tipicidade material, mas apenas a formal quando a conduta não possui
relevância jurídica, afastando-se, por consequência, a ingerência da tutela
penal, em face do postulado da intervenção mínima. É o chamado princípio
da insignificância. 2. Reconhece-se a aplicação do referido princípio quando
verificadas "(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a
nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada" (HC 84.412/SP, Ministro Celso de Mello, Supremo
Tribunal Federal, DJ de 19/11/04).3. No caso, não há como deixar de
reconhecer a mínima ofensividade do comportamento do paciente, que
subtraiu dois frascos de xampu de um supermercado, avaliados em quinze
reais e vinte centavos. 4. Ordem concedida.

Sendo assim, é possível analisar que os objetos que teriam sido


supostamente subtraídos pela empregada, são de mínimo valor lesivo, inclusive
podendo ser considerados objetivos matérias insignificantes, visto que a subtração
dos mesmos não causaria uma perturbação jurídica relevante.

É o entendimento do e. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:


APELAÇÃO CRIMINAL. TENTATIVA DE FURTO SIMPLES. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ÍNFIMO VALOR DA RES FURTIVA. REINCIDÊNCIA.
ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. Sendo a conduta praticada de
reduzida gravidade, não lesionando ou ameaçando o bem jurídico
tutelado, de forma a justificar a persecução criminal, imperiosa a
aplicação do Princípio da Insignificância. Segundo precedentes do
Supremo Tribunal Federal e deste Egrégio Tribunal de Justiça, a presença
de condições pessoais desfavoráveis, tais como maus antecedentes,
reincidência ou ações penais em curso, não são impedimentos, por si só, da
aplicação do Princípio da Insignificância. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de APELAÇÃO
CRIMINAL Nº 509060-88.2011.8.09.0175 (201195090609) acordam os
componentes da Quarta Turma, de sua Primeira Câmara Criminal, do
egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos,
acolhendo o parecer Ministerial de Cúpula, em conhecer do recurso e dar-
lhe provimento, para absolver o apelante Divino Moreira de Araújo, com
fulcro no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, restando
prejudicada a análise das demais teses recursais, nos termos do voto da
relatora.

Portanto, conforme descrito no caso, não se deve analisar os fatos


tomando por base o valor do bem jurídico. O princípio da insignificância, aplicável na
espécie, deve observar os seguintes requisitos: a) mínima ofensividade da conduta
do agente: os meios empregados não são os mais lesivos possíveis, o que importa
primeiramente é saber o grau de ofensividade da conduta executada pelo agente; b)
periculosidade social da ação: não houve nenhuma repercussão ou abalo social na
conduta da emprega, o valor subtraído foi mínimo, não gerando um impacto social,
ou seja, a sociedade não sofreu nenhum risco; c) reduzidíssimo grau de
reprovabilidade da conduta: a conduta do agente não pode ser considerada
Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
reprovável em larga escala. Deve ser algo passível de compreensão e aceitação. No
caso descrito teve a ausência de dolo, sendo demonstrado que o valor subtraído era
inferior ao que poderia obter, pois a acusada, tinha acesso direto ao caixa do local
onde. O ambiente de trabalho era completamente desorganizado e a acusada tinha
excesso de função, podendo tais fatos terem ajudado na consumação do delito; e d)
inexpressividade da lesão jurídica provocada: neste item deve-se olhar para a lesão
efetivamente provocada, buscando olhar pelo o lado da vítima e verificar se a lesão
sofrida pela mesma é ou não insignificante. A vítima possuía varias lojas, tendo uma
renda fixa bastante alta, ou seja, o valor apropriado não lhe causaria prejuízo algum
ao fato em questão.
Nesse sentido, trago à colação o seguinte precedente do e. Superior
Tribunal de Justiça:
HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO DE SUCATA AVALIADA EM
R$ 89,00. RES FURTIVA DE PEQUENO VALOR. CRIME DE BAGATELA.
QUESTÃO NÃO SUBMETIDA À APRECIAÇÃO DO TRIBUNAL A QUO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA AFASTADA EM VIRTUDE DO AMPLO
EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO. APLICABILIDADE, IN CASU, DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PARECER DO MPF PELA
DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM CONCEDIDA, NO ENTANTO, PARA
ABSOLVER O PACIENTE COM FULCRO NO ART. 386, III DO CPP. 1. O
princípio da insignificância, que está diretamente ligado aos postulados da
fragmentariedade e intervenção mínima do Estado em matéria penal, tem
sido acolhido pelo magistério doutrinário e jurisprudencial tanto desta Corte,
quanto do colendo Supremo Tribunal Federal, como causa supralegal de
exclusão de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que se subsuma
perfeitamente ao modelo abstrato previsto na legislação penal pode vir a ser
considerada atípica por força deste postulado. 2. Entretanto, é
imprescindível que a aplicação do referido princípio se dê de forma prudente
e criteriosa, razão pela qual é necessária a presença de certos elementos,
tais como (I) a mínima ofensividade da conduta do agente; (II) a
ausência total de periculosidade social da ação; (III) o ínfimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (IV) a inexpressividade da lesão
jurídica ocasionada, consoante já assentado pelo colendo Pretório Excelso
(HC 84.412/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 19.04.04). 3. Ordem
concedida, para, aplicando o princípio da insignificância, absolver o ora
paciente, com fulcro no art. 386, inciso III do CPP, em que pese o parecer
ministerial em sentido contrário. (HC 200902463274-HC - HABEAS
CORPUS – 157592 – Rel. Napoleão Nunes Maia Filho. STJ – Quinta
Turma. Fonte: DJE DATA:13/12/2010. Data da Decisão: 21/10/2010).

Na situação relatada nos autos, verifica-se que os requisitos para


aplicação do princípio da insignificância encontram-se presentes. A quantia furtada
pela acusada foi de pequeno valor, e o crime não foi praticado com violência.
Assim sendo, tendo em vista a situação descrita e o pequeno valor ao
qual foi furtado, requer-se a atipicidade da conduta, em face do reconhecimento do
Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
princípio da insignificância, nos termos supramencionados, devendo então ser
absolvida sumariamente nos termos do artigo 386, III do Código de Processo Penal.

c) DA TIPIFICAÇÃO ERRÔNEA DO FATO


O Ministério Público ofereceu denúncia em face do fato em tese
criminoso, indicando na capitulação o crime do artigo 155, §§ 2º e 4º, II do Código
Penal, conforme resta consignado na lei. Transcrevo:

Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
(...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. (Grifo nosso).

No entanto, cabe salientar que os argumentos utilizados em desfavor da


recorrente não merecem acolhimento. Quanto à prática do crime de furto qualificado
pelo abuso de confiança, é indispensável a robustez da prova da materialidade do
delito. Consoante já exposto, bem como será devidamente demonstrado, a acusada
não praticou o crime a ela imputado.
Ora, Excelências, observem que a tese acusatória é frágil, uma vez que
é desprovida de qualquer prova concreta que atribua a autoria do crime de furto
àSra. Juslaine. Há de se salientar que, como mencionado anteriormente, o furto,
além do dolo, exige outro elemento caracterizador, qual seja, o fim de
assenhoramento definitivo. Para que exista furto, é necessário que o sujeito ativo
da conduta aja com o denominado animus furandi (intenção de apoderamento
definitivo).
Enfatiza-se, também, que a Sra. Juslaine tinha consciência da confiança
depositada em si pela vítima, bem como da fidelidade adquirida no decorrer de
vários anos em que o vínculo empregatício se manteve. No caso, não se mostra
razoável concluir que a recorrente realizaria furto no estabelecimento em que
laborava, considerando que em virtude da subordinação jurídico-hierárquica a que
se submetia como empregada, era supervisionada no exercício de suas atividades,
o que não exclui a vigilância exercida pelas colegas de profissão.

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
Sabendo que a recorrente tinha conhecimento de que toda entrada e
saída de dinheiro eram registradas, e caso houvesse alguma diferença, poderia ser
prejudicada, há de se compreender que o furto não ocorreu.
A recorrente, ao receber a nota promissória de sua cliente, Sra. Elcione,
deixou de realizar os devidos procedimentos de rotina, tornou impossível o
pagamento da dívida contraída junto a Valentina Biju. Por se sentir constrangida e
envergonhada pelo seu desleixo, não compareceu ao trabalho, com o intuito de
recuperar a quantia em dinheiro perdida e realizar o pagamento da dívida antes
que notassem a ausência. Claro, portanto, que a recorrentepor imprudência,
perdeu o controle dos valores que entraram e saíram da caixa do estabelecimento.
Vale ressaltar que, a acusada não possui nenhum antecedente, possui
uma ótima conduta social, trabalha de forma honesta para o sustento de sua
família, o que a torna mais ainda favorável e distante de cometer uma prática
delituosa como o furto doloso.
Desse modo, diante da ausência de provas específicas quanto à autoria
do delito e levando em consideração o princípio da presunção de inocência, é
forçoso entender que a decisão mais acertada no caso em voga é pela absolvição
da Sra. Juslaine, nos termos do artigo 386, I do Código de Processo Penal.

III – DOS PEDIDOS


Diante do exposto, requer a Vossas Excelências:

a)o recebimentodo presente recurso, para que surta os efeitos legais;

b) no mérito, proceda-se à absolvição do apelante, nos termos do art. 386, I e III do


Código de Processo Penal diante da atipicidade da conduta;

c) alternativamente, proceda-se à absolvição do apelante, nos termos do art. 386, I


do Código de Processo Penal diante da inexistência do crime; e

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.
Silva, Borges & Araújo.
Advogados Associados
Escritório de Advocacia & Consultoria
d)caso não seja esse Vosso entendimento, requer aabsolvição sumária do apelante,
conforme art. 386, III do Código de Processo Penal, diante da necessidade de
aplicação do princípio da insignificância.

Nesses termos, pede deferimento.

Goiânia, 07 de março de 2014.

Rua João de Abreu, 192, Ed. Aton Business Style, 14º andar, ala Sol, Setor Oeste, Goiânia-GO - CEP 74.120-
110.

Você também pode gostar