Luciana Veloso Rocha Portolese Baruki
Luciana Veloso Rocha Portolese Baruki
Luciana Veloso Rocha Portolese Baruki
São Paulo
2010
LUCIANA VELOSO ROCHA PORTOLESE BARUKI
São Paulo
2010
B295s Baruki, Luciana Veloso Rocha Portolese
Saúde mental do trabalhador : a proteçăo normativa
insuficiente como óbice para um regime jurídico preventivo dos
riscos psicossociais. / Luciana Veloso Rocha Portolese Baruki. –
São Paulo, 2011.
165 f. ; 30 cm.
______________________________________________________
Professora e orientadora Patrícia Tuma Martins Bertolin, Doutora.
Faculdade de Direito
Universidade Presbiteriana Mackenzie
______________________________________________________
Professora Darcy Mitiko Mori Hanashiro, Doutora.
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Presbiteriana Mackenzie
______________________________________________________
Professora Maria José Tonelli, Doutora.
Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Fundação Getúlio Vargas
Para Renato e Amélie
Companheiros de todas as horas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a meu marido Renato Portolese Baruki pelo apoio, amor
e compreensão, sem os quais não conseguiria ter terminado este trabalho, ao mesmo tempo
em que exercia minhas funções como Auditora Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego.
Agradeço à minha mãe Laís Sarmento Veloso, por ter criado seus quatro filhos em
circunstâncias adversas como pessoas de bem e também ao meu irmão Lucas Veloso Rocha
Santos pelo incentivo quando conversamos sobre a possibilidade de ingressar no Mestrado.
À Doutora Patrícia Tuma Martins Bertolin, professora, orientadora e amiga,
externo minha admiração e agradeço pela ajuda na escolha de um tema pelo qual desenvolvi
verdadeira paixão e pela liberdade que me foi conferida no desenvolvimento desta
dissertação. Sempre disponível para me aconselhar, fez de cada um de nossos encontros uma
oportunidade de motivação e de descontração. A convivência próxima deu lugar a um
trabalho conjunto que resultou em três capítulos de livros publicados em coautoria. Não
poderia deixar de mencionar ainda os convites para falar sobre Saúde e Segurança do
Trabalhador a seus alunos da graduação, uma oportunidade única e de riqueza sem igual.
A Renato Santiago, pela forma carinhosa com a qual sempre lidou com prazos,
cobranças, recolhimento de assinaturas e cumprimento de requisitos os mais diversos.
A Ovídio Poli Junior, pelo trabalho de revisão, em especial pela paciência e ajuda
na padronização das mais de 400 notas de rodapé presentes no texto.
Ao Ministério do Trabalho e Emprego pela celeridade com que tramitou o
processo de autorização de afastamento do país, com ônus limitado, para apresentação oral do
paper “Strategies to address psychosocial risks at the corporate level” na 8a Conferência
Internacional sobre Saúde, Trabalho e Responsabilidade Social, realizada pela Associação
Internacional de Higiene Ocupacional (IOHA), em Roma, Itália, no período de 26 de
setembro a 03 de outubro deste ano.
À Associação Internacional de Higiene Ocupacional (IOHA) pela publicação do
trabalho apresentado nos anais da referida Conferência Científica, bem como pela divulgação
dos slides utilizados na apresentação no website oficial do Congresso.
Por fim, agradeço ao Mackpesquisa pelo financiamento recebido.
“A saúde não é um estado, mas um objetivo que se remaneja sem cessar. Não é
alguma coisa que se tem ou não se tem, mas que se tenta conquistar e que se defende, é como
a liberdade”. (DEJOURS, Christophe; DESSORS, Dominique; DESRIAUX, François. Por
um trabalho, fator de equilíbrio. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 33, n.
3, pp. 98-104, mai./jun.1993, p. 104)
RESUMO
Mental health problems associated with the work environment have achieved, in the
beginning of this century, unprecedented levels. The intensity by which these problems
appear, along with the exponentially pattern through which they have been growing, are
factors that have transformed mental disorders caused by the exposure to psychosocial
risks/hazards at work in such an expressive problem, which can no longer be ignored. In the
first part, by addressing the psychosocial called emerging occupational risks, we sought to
understand the extent to which they reveal themselves as a category of legal interest. It was
thus necessary to find the theoretical basis for a psychosocial approach of the occupational
risks so that we could dissect the pathologies increasing afterwards. In a second part, it was
developed a legal discussion itself, which was intended to reveal, in specific terms, how
insufficient protection stands as an obstacle to the implementation of a framework of
preventive psychosocial risks/hazards situations at work. More generally, there was an
intention throughout the whole text itself that was not to lose sight of how much suffering and
mental illness fall under the Political and Economic Law as a problem that affect primarily the
citizenship issues and the construction of a supposed free and fair and society. In this sense,
the optics of the psychodynamics of work served as a support for tackling the subject from the
viewpoint of work organization instead of the individual approach in coping with stress.
INTRODUÇÃO..........................................................................................................14
3 AS PATOLOGIAS EM AUMENTO.................................................................65
3.1 As patologias de sobrecarga.............................................................................65
3.1.1 A síndrome de Burnout....................................................................................65
3.1.2 Karoshi.............................................................................................................66
3.1.3 Disfunções musculoesqueléticas......................................................................70
3.2 As patologias pós-traumáticas.........................................................................77
3.2.1 O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)..........................................78
3.3 Violência e assédio no trabalho.......................................................................84
3.3.1 Assédio moral no trabalho................................................................................84
3.3.1.1 Definição jurídica de assédio moral no trabalho...........................................87
3.3.1.2 Depressões, tentativas de suicídios e suicídios..............................................90
3.3.1.2.1 Tentativas de suicídios e suicídios..............................................................91
4 A REGULAMENTAÇÃO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS COMO PEDRA
DE TOQUE NO QUADRO CONCEITUAL DA PREVENÇÃO.........................95
4.1 Saúde mental e meio ambiente do trabalho...................................................96
4.1.1 Natureza jurídica do direito ao meio ambiente do trabalho sadio....................97
4.1.2 Natureza jurídica do direito à saúde mental do trabalhador.............................99
4.1.3 Um direito frágil por excelência.....................................................................100
4.1.3.1 Trabalho e saúde mental: a análise etiológica sob a ótica da PDT..............101
4.1.3.2 O preconceito e a saúde mental: com o trabalhador não é diferente...........102
4.1.3.2.1 A hipertrofia do discurso de culpabilização da ‘vítima’...........................103
4.1.3.2.2 A naturalização dos riscos ocupacionais...................................................106
4.2 O papel do Estado de Direito no quadro conceitual da prevenção............108
4.2.1 Lacunas de governança: Estado tolerante, mercado atuante..........................109
4.2.1.1 A festa da globalização................................................................................109
4.2.1.2 O mercado como princípio estruturador da sociedade política....................111
4.2.2 O quadro conceitual da prevenção: a proposta de Ruggie.............................112
4.2.2.1 A tríade principiológica da prevenção.........................................................113
4.2.2.1.1 Proteger, respeitar, reparar........................................................................114
4.3 Riscos psicossociais no trabalho: a proteção normativa insuficiente como
óbice para um regime jurídico preventivo.............................................................118
4.3.1 O problema da proteção normativa insuficiente: por que devem ser
regulamentados os riscos psicossociais no trabalho?................................................118
4.3.1.1 A regulamentação dos riscos psicossociais no trabalho, pedra de toque no
quadro jurídico da prevenção....................................................................................121
4.3.1.2 O problema se tornou grande demais para ser ignorado..............................122
4.3.1.3 Dos princípios às regras sobre riscos psicossociais no trabalho..................124
4.3.1.4 A necessidade de uma política pública de Estado.......................................126
4.3.1.5 A proteção insuficiente à saúde mental no meio ambiente do trabalho
enquanto lacuna de governança.................................................................................128
4.3.1.6 A obsolescência das Normas Regulamentadoras de segurança e medicina do
trabalho......................................................................................................................132
4.3.1.6.1 Riscos físicos, químicos e biológicos: a tríade obsoleta da NR-9.............136
CONCLUSÃO..........................................................................................................139
REFERÊNCIAS.......................................................................................................148
14
INTRODUÇÃO
O tema aqui anunciado é uma promessa. Seria falsa modéstia de nossa parte não
admitir que, na seara do direito, o assunto a ser enfrentado é, no mínimo, novidadeiro. Nesta
qualidade, mais do que uma longa pesquisa bibliográfica, foi necessário amadurecimento no
assunto – o que certamente só ocorreu após algum tempo. Os impulsos iniciais sugeriam uma
dissertação menos aprofundada em certos aspectos abordados de forma muito mais profunda
por disciplinas outras que não o direito. Na verdade a boa técnica dissertativa e metodológica
apontava para algumas regras que, sendo seguidas, redundariam em uma boa dissertação de
mestrado na área jurídica.
Em resumo, tais regras seriam basicamente a adesão à linha de pesquisa escolhida,
que deveria ser abordada de forma técnica, valendo-se do conhecimento acumulado e de
alguma reflexão lógico-argumentativa. Seguindo este script, esta dissertação se inscreveria
sem maiores dificuldades naquilo que decido chamar de ‘protocolo’, aproximando-se de um
discurso técnico tradicional e já estabelecido. No entanto, a lida com a ‘ciência’ do direito
sempre foi atividade geradora de incômodos e desconfortos – o que não foi diferente com este
trabalho.
Tal incômodo decorre da existência de uma lacuna na pesquisa em direito no
Brasil, especificamente no que tange ao diálogo com as diversas disciplinas que se colocam
na fronteira que separa as demais ciências humanas e o Direito. A concentração exclusiva na
produção e análise da norma, purificada de outras ciências, fez da “Ciência”2 do Direito a
totalização de opiniões sem fundamentação científica e desconectadas de análises
provenientes de um diálogo com ciências outras como sociologia, antropologia ou psicologia.
Oscar Vilhena reforça a ideia de que “a nossa Ciência do Direito é absolutamente
idiossincrática e focada em norma e inimizades pessoais”.3 Aspecto este que também é
apontado por Marcos Nobre, o qual acusa referida produção de Ciência no âmbito jurídico de
1
GADAMER, Hans-Georg. O caráter oculto da saúde. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, p. 174.
2
Ciência do Direito x Técnica. Diálogo de Marcos Nobre com Tércio Sampaio Ferraz para quem a
“decidibilidade” seria o traço que delimitaria o campo epistemológico de uma ciência jurídica.
3
NOBRE, Marcos et al. O que é pesquisa em Direito? São Paulo: Quartier Latin, 2005, pp. 120-121.
15
certas máculas como “a falta de rigor científico, um ecletismo teórico e uma inadmissível
falta de independência em relação à moral e à política”.4
Foi neste contexto que se deu a escolha da linha de pesquisa. “Limites jurídicos ao
abuso do poder econômico” e “A cidadania modelando o Estado” eram as duas opções no
Programa de Pós-graduação Stricto Sensu, em Direito Político e Econômico. Filiamo-nos à
segunda desde o início. A ideia que estava por trás de tal escolha era a crença de que haveria
mais liberdade nesta linha de pesquisa, por não estar atrelada à questão econômica, já que isto
poderia definir as opções teóricas de forma irremediável. Assim, tentou-se manter a maior
fidelidade possível à relação entre cidadania e Estado, sob o enfoque dos desafios jurídicos
em torno da proteção à saúde mental do trabalhador.
Contudo, é necessário reconhecer que, por vezes, a discussão travada no corpo
deste trabalho extrapolou os limites dentro dos quais deveria ficar. O consolo para o que
preocupava e parecia um erro de metodologia veio quando se percebeu que entre ambas as
linhas de pesquisa existe uma ‘zona gris’. Trata-se, na verdade, de um continuum, de modo
que à medida que se aprofundam as discussões sobre um dado tema, sob a ótica de qualquer
uma das referidas linhas, inevitavelmente há uma aproximação em relação à outra. Falar de
cidadania e de Estado pressupõe enfrentar a concepção deste último em suas diversas facetas,
dentre as quais a econômica emerge como uma das mais importantes.
De fato, as classificações e categorizações acadêmicas servem para facilitar,
orientar e sistematizar o estudo científico sobre um dado problema. Ocorre que, quanto mais
‘real’ o problema de pesquisa, mais indisciplinado ele é, pois tenta a todo momento fugir das
amarras metodológicas. Percebeu-se assim que investigar temas complexos sob a ótica de
uma única disciplina, sobretudo quando esta única disciplina é o Direito, constitui um desafio
constante. Espera-se tê-lo feito a contento e com a necessária dose de indisciplina que
diferencia um trabalho jurídico estéril de um trabalho jurídico engajado, por assim dizer.
Desta forma, a expansão do texto foi bastante consciente, tendo sido calcada em
premissas que não foram eleitas de forma ingênua. As pré-compreensões das quais partiu a
discussão ora empreendida são a justa medida de um desejo profundo de que esta dissertação
seja genuinamente mais do que um fim em si mesma. Colocados estes pontos iniciais, importa
agora revelar as mais importantes premissas que nortearam este trabalho, de modo a facilitar o
seu entendimento.
4
NOBRE, Marcos et al. O que é pesquisa em Direito? São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 25.
16
Direito Sanitário, não pode também restringir-se ao jurídico, uma vez que a
regra de direito deriva da realidade social e nela encontra as condições de
eficácia. Não se pode ensinar direito abstraindo-o da moral e, a ambos, do
social. Deve-se, aqui, advertir para a virtual incapacidade do profissional do
direito de dominar o conhecimento relativo à moral e à sociologia. Fato
natural que requer o auxílio de filósofos e sociólogos.6
5
DALLARI, Sueli Gandolfi. Uma nova disciplina: o direito sanitário. Revista de Saúde Pública, v. 22, n. 4,
1988, p. 333. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v22n4/08.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2009.
6
DALLARI, Sueli Gandolfi. Uma nova disciplina: o direito sanitário. Revista de Saúde Pública, v. 22, n. 4,
1988, p. 333. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v22n4/08.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2009.
17
7
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. Saúde mental para e pelo trabalho. Revista LTr, n. 67, ano 6, p. 670,
São Paulo, junho de 2003.
8
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 22 nov. 2010.
18
norteadora da prática”9. A separação da saúde em duas: a física e a mental, fez com que
construíssemos duas teorias jurídicas. A proteção à saúde física, mais robusta, e a proteção da
saúde mental, esta sim frágil, esquecida, desprestigiada e sobretudo incômoda.
À luz da crítica feita por Spink, a questão central que motiva esta dissertação é
problematizar a relação existente entre: a inércia normativa, fiscalizadora e repressora do
aparelho do Estado – notadamente no que diz respeito ao potencial lesivo de riscos
ocupacionais de cunho psicossocial – e as consequências trágicas sobre a saúde mental do
trabalhador como um problema jurídico. Este enfrentamento será feito de maneira sui generis
à medida que se tenta desvendar o quanto a cidadania ‘regulada’ aceitou, mesmo que de modo
inconsciente, aquela divisão entre a saúde mais importante (a saúde do corpo) e a saúde
menos importante (a saúde da alma).
Enquanto o objetivo geral é demonstrar a omissão normativa sobre aspectos
importantes pertinentes ao meio ambiente do trabalho, enquanto problema grave que macula o
exercício da cidadania, em termos específicos objetiva-se provar que a falta de proteção
normativa transmuta-se em fator impeditivo de um regime jurídico preventivo dos riscos
psicossociais no trabalho. Se não há parâmetros, não há como proteger, não há como se
fiscalizar, tampouco como reparar danos de forma minimamente adequada. O maior indicador
da pouca preocupação em proteger são as falhas estatísticas nacionais: se não há interesse em
medir, é porque não há interesse em avançar, em progredir.
Outra contribuição que se pretende oferecer com o presente trabalho consiste em
fixar os alicerces de uma questão que urge ser integrada ao mundo do direito. Infelizmente o
tema dos riscos psicossociais no trabalho ostenta características de tabu, e isto é
especialmente verdade no universo jurídico. Os problemas estão latentes, mas a grande mídia,
as discussões doutrinárias e os embates políticos passam ao largo da matéria. Obviamente há
espaços em que o tema é tratado com a importância que merece, mas eles ainda são poucos e
certamente restritos a um público pequeno e especializado.
Antes de passar a uma descrição do trabalho, parece salutar explicar o referencial
teórico e a metodologia de pesquisa que serviram de base para as reflexões elaboradas. Em
primeiro lugar, por considerar que o problema da saúde mental do trabalhador é mais amplo
do que o conflito ‘capital e trabalho’, não se pretendeu desenvolver uma análise fundada
nestes aspectos. Não é o objetivo, de maneira alguma, desprezar as contribuições de Marx. A
9
SPINK, Mary Jane P. O psicólogo e a saúde mental. Ressignificando a prática. Petrópolis-RJ: Vozes, s/d., p.
150.
19
este respeito, é apropriada uma espécie de digressão, que se faz propositalmente, com o
intuito de justificar as opções de referencial teórico do presente estudo.
Certa vez desabafou Darcy Ribeiro dizendo que nunca pôde “aceitar aquilo que
correntemente se atribui a Marx como sendo o centro de seu pensamento: a insistência de
que toda historia é feita só de luta de classes”.10 Acreditava que esta formulação teria sido
baseada em uma frase do “Manifesto do Partido Comunista” a qual não condizia com a
verdade. Suas colocações corroboram com o raciocínio construído de que a ótica
exclusivamente economicista não é apropriada uma vez que “milênios antes de haver classes,
havia lutas interétnicas e inter-raciais entre povos extremamente diferentes e com ânimos
mais hostis que solidários uns em relação aos outros”.11
Para mim, como para Marx, a verdade é que, uma vez que a sociedade
humana se estratifica em classes, opostas entre si ainda que
interdependentes, os conflitos entre seus respectivos interesses passam a ser
o principal motor da história. Ainda assim não há como negar que conflitos
inter-raciais, interétnicos e internacionais, irredutíveis aos antagonismos de
classe que contêm, continuam a motivar povos em lutas, motins, insurreições
e guerras. Só pondero nesta altura que estas questões devem ser vistas à luz
da concepção antropológica da cultura, que é aquilo que humaniza os
homens e lhes permite engendrar modus vivendi que viabilizam a
convivência humana dentro de toda essa conflitualidade.12
10
RIBEIRO, Darcy. Testemunho. 4a ed. Rio de Janeiro: Apicuri; Brasília, DF: UnB, 2009, p. 151.
11
RIBEIRO, Darcy. Testemunho. 4a ed. Rio de Janeiro: Apicuri; Brasília, DF: UnB, 2009, p. 151.
12
RIBEIRO, Darcy. Testemunho. 4a ed. Rio de Janeiro: Apicuri; Brasília, DF: UnB, 2009, p. 151.
20
13
Este conceito será desenvolvido no Capítulo 4, item 4.2.1.
14
Resultado de uma tese de doutoramento defendida em 2008, na Universidade de Laval (Québec), sob o título:
“Proteção à Saúde Mental no Trabalho: a necessária passagem de um regime fundado na reparação dos danos
para um regime de gestão preventiva dos riscos psicossociais”.
15
LAFLAMME, Anne-Marie. Le droit à la protection de la santé mentale au travail. Canadá (Québec): Éditions
Yvon Blais, 2008.
21
16
COMPARATO, Fabio. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 536.
17
PRATES, Jane Cruz; ABREU, Paulo Belmonte de; CEZIMBRA, Leda. A mulher em situação de rua. In:
BULLA, Leonia Capaverde (Org.); MENDES, Jussara Maria Rosa (Org.); PRATES, Jane Cruz (Org.). As
múltiplas formas de exclusão social. Porto Alegre: Federação Internacional de Universidades Católicas -
EDIPUCRS, 2004, p. 167.
18
PRATES, Jane Cruz; ABREU, Paulo Belmonte de; CEZIMBRA, Leda. A mulher em situação de rua. In:
BULLA, Leonia Capaverde (Org.); MENDES, Jussara Maria Rosa (Org.); PRATES, Jane Cruz (Org.). As
múltiplas formas de exclusão social. Porto Alegre: Fundação Internacional de Universidades Católicas -
Edipucrs, 2004, p. 167.
19
COELHO, Rodrigo Meirelles Gaspar. Proteção Internacional dos Direitos Humanos: a Corte Interamericana e
a implementação de suas sentenças no Brasil. Curitiba: Juruá, 2007, p. 198.
20
RIBEIRO, Darcy. Testemunho. 4a ed. Rio de Janeiro: Apicuri; Brasília, DF: UnB, 2009, p. 151.
23
da moléstia – aqui tomado o termo em seu sentido original. É como se planeja integrar o
debate.
24
21
MAISONNEUVE, Jean. Introdução à Psicossociologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, p. 2.
22
Substantivo feminino. Do francês ‘charnière’, que, no sentido figurado, significa ponto de junção, de transição,
de união de duas ou mais coisas.
23
MAISONNEUVE, Jean. Introdução à Psicossociologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, p. 6.
25
Assim toda interação vista sob a ótica psicossocial seria, em última análise, uma
“interação social” entre: i) um indivíduo e outro; ii) um indivíduo e um grupo; iii) um
indivíduo e ele próprio. Do mesmo modo, todas as relações existentes entre um indivíduo e
objetos físicos inanimados não será consideradas um fator psicossocial, ainda que pertençam à
família ou ao meio ambiente em que o indivíduo trabalha. É desta maneira, portanto, que no
ambiente de trabalho se desenvolvem interações de naturezas diversas, inclusive
psicossocial.25 Superada esta questão, resta agora conhecer quais elementos permitiriam
enquadrar uma interação de natureza psicossocial como um risco.
24
MAISONNEUVE, Jean. Introdução à Psicossociologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, p. 5.
25
Em oposição à interação psicossocial, a interação física pode estar relacionada a atributos, objetos e aspectos
da realidade estritamente físicos.
26
1.1.1 Risco
26
“In advanced modernity the social production of wealth is systematically accompanied by the social
production of risks”. In: BECK, Ulrich. Risk Society: towards a new modenity. Londres: Sage, 1992, p. 19.
27
LUIZ, Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2341. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
28
LUIZ, Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2339. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
29
LUIZ, Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2342. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
30
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 94.
27
1.1.2 Stress
31
“Sinteticamente, risco epidemiológico pode ser definido como a probabilidade de ocorrência de um
determinado evento relacionado à saúde, estimado a partir do que ocorreu no passado recente”. In: LUIZ,
Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde Pública, Rio
de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2342. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
32
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 29.
28
reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de
adaptação”33 – teve origem na engenharia de materiais. Este sentido moderno do termo foi
introduzido pelo psicólogo Hans Seyle no livro “Stress: a tensão da vida”34, publicado em
1956, por ocasião de uma analogia ao “grau de deformidade que uma estrutura sofre quando
é submetida a um esforço”.35
A palavra stress está presente em praticamente todos os artigos científicos que
tratam da relação entre saúde mental e trabalho. Tom Cox assevera que os riscos psicossociais
podem afetar direta ou indiretamente tanto a saúde física quanto a saúde psicológica, através
da experiência do stress. Destaca também que grande parte da atenção dos pesquisadores tem
sido dada aos possíveis efeitos indiretos, mediados pelo stress.36
Contudo “o termo stress é frequentemente apresentado de forma parcial e
distorcida”.37 É empregado como sinônimo de riscos psicossociais, em uns casos, e como
consequência dos riscos psicossociais, em outros. Esta distorção de conceitos não afeta
exclusivamente a matéria dos riscos psicossociais, conforme relatam Olinda Luiz e Amélia
Cohn:
33
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 29.
34
SEYLE, Hans. Stress: a tensão da vida. 2ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1965.
35
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 29.
36
COX, Tom. Stress research and stress management: putting theory to work. London: HSE Books, 1993, p. 34.
Disponível em: <http://www.hse.gov.uk/research/crr_pdf/1993/crr93061.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2010.
37
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 29.
38
LUIZ, Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2343. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
29
ocupacional”, tendo em vista que a palavra é amplamente utilizada pela grande mídia e
sobretudo pelas pessoas em geral, isto é, fora do contexto acadêmico.
39
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 369. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
40
Tradução livre de: “Work situations are experienced as stressful when they are perceived as involving
important work demands which are not well matched to the knowledge and skills (competencies) of workers or
their needs, especially when those workers have little control over work and receive little support at work”. In:
COX, Tom. Stress research and stress management: putting theory to work. London: HSE Books, 1993, p. 35.
Disponível em: <http://www.hse.gov.uk/research/crr_pdf/1993/crr93061.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2010.
41
GUIMARÃES, Liliana A. M. Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho. In: Anais do 2º Congresso
Internacional sobre Saúde Mental no Trabalho – Artigos de Palestrantes. Goiânia, 2006, p. 99. Disponível em:
<http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2006/saude_mental/anais/artigos/Liliana_A.M.Guimaraes.pdf>. Acesso
em: 15 nov. 2010.
30
Maria Maeno et al. informam que “os fatores psicossociais do trabalho são as
percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho” 42 como
por exemplo, “considerações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao ambiente
social e técnico do trabalho”.43 “A ‘percepção’ psicológica que o indivíduo tem das
exigências do trabalho é o resultado das características físicas da carga, da personalidade
do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho”.44
Em sentido análogo posicionou-se o Instituto Sindical de Trabajo Ambiente y
Salud (ISTAS). Para a entidade espanhola:
42
MAENO, Maria et al. Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (DORT), Dor relacionada ao trabalho: Protocolos de atenção integral à Saúde do Trabalhador de
Complexidade Diferenciada. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2006, p. 13. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/protocolo_ler_dort.pdf> . Acesso em: 24 mai. 2010.
43
MAENO, Maria et al. Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (DORT), Dor relacionada ao trabalho: Protocolos de atenção integral à Saúde do Trabalhador de
Complexidade Diferenciada. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2006, p. 13. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/protocolo_ler_dort.pdf> . Acesso em: 24 mai. 2010.
44
MAENO, Maria et al. Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (DORT), Dor relacionada ao trabalho: Protocolos de atenção integral à Saúde do Trabalhador de
Complexidade Diferenciada. Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2006, p. 13. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/protocolo_ler_dort.pdf> . Acesso em: 24 mai. 2010.
45
INSTITUTO SINDICAL DE TRABAJO AMBIENTE Y SALUD (ISTAS). Organización del trabajo, salud y
riesgos psicosociales: Guía del delegado y delegada de prevención. Barcelona, Paralelo Edición, 2006, p. 11.
Disponível em: <http://www.istas.net/web/abreenlace.asp?idenlace=2616>. Acesso em: 29 nov. 2010.
31
46
(ILO) International Labour Office. Psychosocial factors at work: recognition and control. Report of the Joint
ILO/WHO Committee on Occupational Health – Ninth Session. Geneva; 1984, pp. 3-4. Disponível em:
<http://www.who.int/entity/occupational_health/publications/ILO_WHO_1984_report_of_the_joint_committee.
pdf>. Acesso em: 14 nov. 2010.
32
risco psicossocial aparece quando a natureza da interação social mediada pelo ambiente de
trabalho é do tipo negativa.
47
Lennart Levi, M.D., Ph.D., é professor emérito de Medicina Psicossocial no Instituto Karolinska (Suécia). Foi
fundador e diretor da Divisão de Pesquisa em Stress no Instituo Karolinska e consultor temporário da OMS, OIT
e UNICEF. Publicou mais de 300 artigos científicos e livros, incluindo o Guia sobre stress relacionado ao
trabalho da Comissão Europeia. É Presidente da Seção de Psiquiatria Ocupacional da Associação Mundial de
Psiquiatria e Presidente da International Stress Management Association (ISMA).
33
48
LEVI, Lennart. Stress in Industry: Causes, Effects and Prevention. Occupational. Safety and Health Series n.
51, International Labour Office, Geneva, 1984.
49
LEVI, Lennart. Factores psicosociales, estrés y salud. In: Stellman JM, directora de edición. Enciclopedia de
Salud y Seguridad en el Trabajo. Madrid: Organización Internacional Del Trabajo, 1998, v. 2, pp. 34-35.
34
A falta de apoio social em casa e por parte da chefia e dos colegas de trabalho é
um fator autoexplicativo. Diversas são as situações enfrentadas na família que demandam
apoio do chefe e dos colegas de trabalho e vice-versa, pois são igualmente comuns as
situações enfrentadas no trabalho que demandam apoio da família. Qualquer deficiência nesta
rede de solidariedade na qual se baseia o equilíbrio psicossocial do indivíduo qualifica-se
como interação social negativa e, nesta qualidade, como um risco psicossocial no trabalho,
quando relativa a este.
Os estressores físicos são fatores que podem afetar o trabalhador física e
quimicamente. Em psiquiatria ocupacional há uma diferenciação entre síndromes
psiquiátricas relacionadas ao trabalho, entre as não-orgânicas, de um lado, e as orgânicas, de
outro50. Lennart Levi menciona os efeitos diretos causados no cérebro pelos solventes
orgânicos51. Lembra o autor que é possível a ocorrência de efeitos secundários psicossociais
cuja origem resida no contato com substâncias que produzem cheiros, luzes brilhantes,
extremos de temperatura, ruído ou umidade, dentre outros. Estes efeitos também podem
resultar do fato de o trabalhador estar consciente, suspeitar ou mesmo temer a possibilidade de
estar exposto a perigos químicos que podem comprometer a sua vida diretamente ou
indiretamente, provocando acidentes.
Por fim, Lennart Levi observa que, na vida real, as condições enfrentadas no
trabalho ou fora dele geralmente envolvem uma combinação de exposições variadas (tempo e
intensidade) a riscos psicossociais diversos, conforme demonstram as sete categorias que não
são excludentes entre si. “A gota que faz o vaso transbordar pode ser decorrente de um fator
bastante trivial, mas incidente sobre um indivíduo que já suporta uma carga ambiental
anterior considerável”.52
50
Cf. CAMARGO, Duílio Antero de; CAETANO, Dorgival; GUIMARÃES, Liliana A. M. Psiquiatria
ocupacional II: síndromes psiquiátricas orgânicas relacionadas ao trabalho. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio
de Janeiro, v. 54, n. 1, 2005, pp. 21-33. Disponível em:
<http://maxipas1.tempsite.ws/principal/pub/anexos/20081117020956artig oocupacional1_05.pdf>. Acesso em:
29 nov. 2010.
51
Solventes orgânicos são compostos lipossolúveis (solúveis na presença de lipídeos ou gorduras), voláteis e
inflamáveis. São misturas de substâncias químicas capazes de dissolver outros materiais. No corpo humano, a
ação dos solventes orgânicos é semelhante ao efeito dos anestésicos: inibem a atividade do cérebro e da medula
espinhal, diminuindo a capacidade funcional do sistema nervoso central e a sensibilidade aos estímulos.
52
Tradução livre de: “La gota que colma el vaso puede ser por consiguiente un factor del entorno bastante
trivial, pero que se produce cuando ya se soporta una carga ambiental anterior muy considerable”. In: LEVI,
Lennart. Factores psicosociales, estrés y salud. In: Stellman JM, directora de edición. Enciclopedia de Salud y
Seguridad en el Trabajo. Madrid: Organización Internacional Del Trabajo, 1998, v. 2, pp. 34-35.
35
53
INSTITUTO SINDICAL DE TRABAJO AMBIENTE Y SALUD (ISTAS). Organización del trabajo, salud y
riesgos psicosociales: Guía del delegado y delegada de prevención. Barcelona, Paralelo Edición, 2006, p. 11.
Disponível em: <http://www.istas.net/web/abreenlace.asp?idenlace=2616>. Acesso em: 29 nov. 2010.
36
54
COX, Tom. Stress research and stress management: putting theory to work. London: HSE Books, 1993.
Disponível em: <http://www.hse.gov.uk/research/crr_pdf/1993/crr93061.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2010.
37
Interessa registrar o fato de que Tom Cox reportou existir um consenso razoável
no que diz respeito às tentativas de rever e sistematizar a literatura que trata dos riscos
psicossociais no trabalho os quais são percebidos como estressantes e/ou potencialmente
danosos. Este consenso foi resumido pelo autor em duas categorias: o conteúdo do trabalho e
contexto do trabalho. Cada uma destas frentes foram, em seguida, subdividas em nove classes,
conforme ilustra a tabela abaixo55.
55
COX, Tom. Stress research and stress management: putting theory to work. London: HSE Books, 1993, p. 35.
Disponível em: <http://www.hse.gov.uk/research/crr_pdf/1993/crr93061.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2010.
38
Tabela 1
39
56
Disponível em: <http://osha.europa.eu/pt/publications/factsheets/74>. Bélgica, 2007. Acesso em: 15 nov.
2010.
57
A Escala de Likert é um tipo de escala de resposta psicométrica comumente usada em questionários. É hoje a
escala mais usada em pesquisas de opinião. Ao responderem a um questionário baseado nesta escala, os
entrevistados especificam seu nível de concordância com uma afirmação. Rensis Likert estudou as organizações
e o comportamento humano. Sua tese de doutorado foi defendida em 1932, na Universidade de Michigan. Na
ocasião, apresentou uma escala de pesquisa (Escala de Likert), como um meio de medir atitudes, mostrando que
a mesma captava mais informação do que os métodos concorrentes. Likert baseou-se em pesquisas intensivas
com empregados de companhias industriais, nas quais os interrogava sobre o comportamento dos seus
supervisores. As respostas permitiram-lhe definir vários perfis ou estilos de liderança, que posteriormente foram
associados ao nível de desempenho das empresas.
40
Fonte: Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho. Previsão dos peritos sobre os
riscos psicossociais emergentes relacionados com a segurança e saúde no trabalho (SST) – Fact
Sheet 74, Bélgica, 2007.
58
CAMELO, Silvia Helena Henriques; ANGERAMI, Emília Luigia Saporiti. Riscos psicossociais no trabalho
que podem levar ao estresse: uma análise da literatura. Ciência, Cuidado e Saúde. v. 7, n. 2, abr./jun., 2008,
pp.232-240. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5010/3246>.
Acesso em: 08 dez. 2010.
41
59
SATO, Leny; BERNARDO, Márcia Hespanhol. Saúde mental e trabalho: os problemas que persistem. Ciência
& Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, dez. 2005. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000400011&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 04 dez. 2010.
60
LAFLAMME, Anne-Marie. Le droit à la protection de la santé mentale au travail. Canadá (Québec): Éditions
Yvon Blais, 2008, p. 2.
61
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 9.
62
Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho. Previsão dos peritos sobre os riscos psicossociais
emergentes relacionados com a segurança e saúde no trabalho (SST) – Fact Sheet 74. Disponível em:
<http://osha.europa.eu/pt/publications/factsheets/74>. Bélgica, 2007. Acesso em: 15 nov. 2010.
42
condições: ser novo e crescente. Dessa forma, é preciso colocar os chamados riscos
psicossociais à prova dos critérios definidos pela Agência para demonstrar o que, até este
momento, permanece uma indagação: os riscos psicossociais configuram uma categoria
emergente de riscos em saúde ocupacional?
Para a EU-OSHA, o risco ocupacional classificado como novo é aquele que
atende ao menos a uma de duas condições. Em um primeiro caso, o risco seria considerado
novo se, além de não existir anteriormente, tenha ainda se originado por processos de trabalho
novos, novas tecnologias, novas formas de organização do trabalho, transformações sociais,
ou ainda pelo fato de o trabalho se desenvolver em novos espaços. Para verificar a
aplicabilidade deste critério aos fatores psicossociais de risco, é necessário voltar um pouco
na história para identificar quando este assunto se tornou importante para aqueles que se
ocupam do tema da Saúde Ocupacional.
É mister reconhecer que o interesse a respeito dos aspectos psicossociais da saúde
ocupacional não é um fenômeno recente. Ao contrário, segundo Julian Barling e Amanda
Griffiths “os questionamentos sobre como a prática, as políticas, a supervisão e a liderança
no meio ambiente de trabalho afetam o bem-estar físico e psicológico dos empregados atraiu
parcela considerável de interesse durante boa parte do século XX”.63
63
BARLING, Julian; GRIFFITHS, Amanda. A history of occupational health psychology. In: QUICK, James;
TETRICK, Lois (Orgs.). Handbook of Occupational Health Psychology. Washington, D.C.: American
Psychological Association, 2003, p. 19.
64
BARLING, Julian; GRIFFITHS, Amanda. A history of occupational health psychology. In: QUICK, James;
TETRICK, Lois (Orgs.). Handbook of Occupational Health Psychology. Washington, D.C.: American
Psychological Association, 2003, p. 19.
43
65
GUIMARÃES, Liliana A. M. Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho. In: Anais do 2º Congresso
Internacional sobre Saúde Mental no Trabalho – Artigos de Palestrantes. Goiânia, 2006, p. 99. Disponível em:
<http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2006/saude_mental/anais/artigos/Liliana_A.M.Guimaraes.pdf>. Acesso
em: 15 nov. 2010.
66
THEORELL, Töres. Working Conditions and Health. In: BERKMAN, Lisa; KAWACHI, Ichiro (Orgs.).
Social Epidemiology. Oxford: Oxford University Press, 2000, pp. 95-117.
67
O advento da internet e do mundo do trabalho virtual, bem como a entrada maciça de mulheres no mercado de
trabalho, são dois exemplos de como ocorreram profundas transformações na sociedade e na organização do
trabalho de modo geral em um passado muito recente.
68
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 1. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
69
Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho. Previsão dos peritos sobre os riscos psicossociais
emergentes relacionados com a segurança e saúde no trabalho (SST) – Fact Sheet 74. Disponível em:
<http://osha.europa.eu/pt/publications/factsheets/74>. Bélgica, 2007. Acesso em: 15 nov. 2010.
44
Em 2008, quase 30 anos depois de ser lançado, foi publicada na França a terceira
edição do livro “Travail usure mentale”.70 Mas sobre o que pretendeu Christophe Dejours
chamar a atenção do leitor com esta nova edição? O que há de novo acerca dos resultados das
pesquisas realizadas pelo autor sobre este tema que lhe é tão caro?71
Segundo Dejours, três elementos permearam a organização do trabalho nas
últimas décadas trazendo importantes consequências: i) a introdução e a generalização de
técnicas de avaliação individual de desempenho; ii) a generalização dos critérios de gestão
pela Qualidade Total e; iii) a tolerância do Estado vis-à-vis às transgressões em matéria de
direito e proteção da saúde no trabalho.72
No mesmo sentido posicionam-se Paulino José Orso et al. Segundo argumentam,
as causas para os problemas de saúde mental relacionados ao trabalho repousam sobre uma
“organização do trabalho que está voltada para a racionalização dos processos, para a
maximização dos lucros com o mínimo de custos possíveis, transformando o trabalhador num
meio para a concretização destes fins”.73
70
A primeira edição da obra que se tornou um clássico foi publicada na França em 1980. Posteriormente a
versão em português foi publicada no Brasil pela Editora Cortez, sob o título “A loucura do trabalho”.
71
O autor se dedica ao tema há mais de 30 anos. A primeira pesquisa sobre o sofrimento psíquico dos
trabalhadores foi realizada por Christophe Dejours no setor automotivo em 1973, antes mesmo da introdução da
robótica. DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Paris: Bayard, 2008, p. 35.
72
DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Paris: Bayard, 2008, pp. 10-11.
73
ORSO, Paulino José et al. Reflexões acerca das Lesões por Esforços Repetitivos e a organização do trabalho.
Revista Online da Biblioteca Prof. Joel Martins, Campinas - SP, v. 2, n. 2, 2001, p. 50. Disponível em:
<http://www.fae.unicamp.br/revista/index.php/etd/article/viewFile/395/374>. Acesso em: 20 mai. 2010.
74
GLINA, Débora Miriam Raab. Modelos Teóricos de Estresse, Estresse no Trabalho e Repercussões na Saúde
do Trabalhador. In: GLINA, Débora Miriam Raab; ROCHA, Lys Esther (Orgs.). Saúde Mental no Trabalho: da
teoria à prática. São Paulo: Roca, 2010, p. 17.
45
75
Texto original: “…si l'on veut prévenir les risques psychosociaux, c'est le travail qu'il faut soigner en priorité.
C'est le travail qu'il faut adapter à l'homme et non l'inverse. C'est là que les marges de manœuvre sont les plus
grandes”. CLOT, Yves; ZARIFIAN, Philippe. Souffrance en entreprise: quels remèdes? Le Monde, 9 de
dezembro de 2009, p. 3.
76
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, p. 89.
46
adesão do indivíduo e atuam no plano psicossocial”77 e o resultado é que não raras vezes, o
trabalho invade a residência, o lar, os sonhos e os pensamentos.
Destarte, “quando se diz que se produziu tantas peças ou tantos kilowatthoras,
realmente não se mediu o trabalho. O trabalho [...] não se limita ao tempo que se passa na
empresa. Entre o trabalho e o resultado do meu trabalho, não há medida comum”.78 Apesar
desta constatação, a adoção das “avaliações individuais de desempenho” encontra-se há muito
consolidada, sendo possível perceber seus efeitos negativos por toda parte.
Intimamente relacionadas com a busca desenfreada por objetivos e metas, as
avaliações individuais de performance no trabalho têm sido largamente empregadas tanto no
setor público quanto no setor privado, constituindo hoje uma ferramenta de ampla utilização.
“Praticamente para a totalidade dos empregados não resta dúvida de que a cobrança de
resultados hoje é maior do que antes. Na cabeça dos trabalhadores, o grau de exigência de
resultados impõe-se como uma espada de Dâmocles”.79
A verdade é que diversos problemas cercam a avaliação do desempenho
individual, enquanto instrumento de gestão. Seu uso em larga escala contribuiu diretamente
para o fenômeno da “intensificação do trabalho”. Contudo, de maneira indireta, o
fortalecimento da cultura da avaliação traduziu-se no ambiente de trabalho sob a forma de
“cobranças de resultados por chefes e administradores [...] controle sobre a quantidade e a
qualidade do trabalho realizado, pressão por parte das exigências da clientela que impõem
um esforço mental e um controle emocional sobre-humanos”.80
Inicialmente a avaliação do desempenho individual no trabalho redundou na
intensificação do labor, especialmente na sua forma imaterial (carga cognitiva)81. De forma
reflexa, esta intensificação da carga de trabalho provocou “efeitos sobre o lado psíquico e
relacional do trabalhador, que deixam marcas sobre o corpo [...] e que extrapolam o
77
RIBEIRO, Maria de Fátima; SILVA, Luiza Rosângela da. O tênue limite entre a gestão do desempenho
individual e a legitimação de assédio moral. III SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia.
Disponível em: <http://ww.aedb.br/seget/artigos06/854_ribeiro%20m%20f%20seget.pdf>. Acesso em: 04 dez.
2010.
78
Entrevista Dejours. Disponível em:
<http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=8563>. Acesso em:
04 dez. 2010.
79
DAL ROSSO, Sadi. Mais Trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo:
Boitempo, 2008, p. 133.
80
DAL ROSSO, Sadi. Mais Trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo:
Boitempo, 2008, p. 145.
81
Para Negri, o trabalho imaterial é “aquele que produz os bens imateriais como a informação, os saberes, as
ideias, as imagens, as relações e os afetos”. NEGRI, Toni. De l'avenir de la démocratie (débat avec Olivier
Mongin). Alternatives Internationales. Paris, v. 18, 2004, p. 44.
47
ambiente de trabalho com reflexo sobre a vida familiar e societária dos indivíduos”.82 Dessa
maneira, os achados de Dal Rosso confirmam as constatações de Dejours a propósito da
influência das avaliações individuais no adoecimento psíquico dos trabalhadores.
Um dos graves problemas das avaliações individuais de desempenho é o fato de
que elas pressupõem uma atitude de comparação que, no melhor dos casos, terá por objeto o
“resultado do trabalho [...] visível, quantificável e objetivável”.83 O objetivo da avaliação,
enquanto instrumento de gestão, é diferenciar os indivíduos, isto é, segregá-los de uma
maneira tal que, se um empregado estiver bem avaliado, isto implicará dizer que alguém não
está – ainda que a referência esteja em outros setores, ou mesmo em outras empresas.
Consequentemente, em um contexto organizacional qualquer (empresas, governo,
universidades), é automática a associação do vocábulo ‘avaliação’ com as ideias de punição
ou prêmio, o que gerou medo e fez com que as pessoas passassem a viver em função dela.
Não seria exagero dizer que os sistemas de avaliação e monitoramento da performance
individual, em especial aqueles focados em indicadores e métricas excessivas, colocam o
trabalhador em uma situação de constrangimento sem precedentes. A comparação entre pares
tornou-se uma constante. O que por si só já seria grave, por gerar tensão e stress, representa
ainda outras consequências deletérias.
“As exigências paradoxais, a dissolução do coletivo [...] bem como a pressão
imposta por uma competição sem limites [...] são sintomas de uma economia que parece
desenvolver-se à custa da sociedade”.84 “Uma característica marcante da nova organização
do trabalho é o fato de o indivíduo tornar-se rejeitável ao primeiro sinal de crise”85 de modo
que, ainda que despretensiosa, e eivada das melhores intenções, a utilização geral e irrestrita
de instrumentos de avaliação individual no ambiente de trabalho deu lugar a um clima de
relações sociais precárias, ao qual Dejours se refere como o domínio do “chacun pour soi”
(cada um por si).
82
DAL ROSSO, Sadi. Mais Trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo:
Boitempo, 2008, p. 145.
83
Entrevista Dejours. Disponível em:
<http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=8563>. Acesso em:
04 dez. 2010.
84
FREITAS, Maria Ester de; HELOANI, José Roberto; BARRETO, Margarida. Assédio moral no trabalho.
Coleção debates em administração. São Paulo: Cengage Learning, 2009, p. 9.
85
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 187.
48
86
HELOANI, José Roberto; CAPITAO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em
Perspectiva [online], v. 17, n. 2, 2003, p. 104. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2
/a11v17n2.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
87
Entrevista Dejours. Disponível em:
<http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=8563>. Acesso em:
04 dez. 2010.
88
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 187.
89
HALLACK, Fernanda Sansão; SILVA, Cláudia Osório da. A reclamação nas organizações do trabalho:
estratégia defensiva e evocação do sofrimento. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 17, n. 3, dez. 2005.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822005000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 dez. 2010.
90
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, p. 79.
91
HALLACK, Fernanda Sansão; SILVA, Cláudia Osório da. A reclamação nas organizações do trabalho:
estratégia defensiva e evocação do sofrimento. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 17, n. 3, dez. 2005.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822005000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 dez. 2010.
92
HALLACK, Fernanda Sansão; SILVA, Cláudia Osório da. A reclamação nas organizações do trabalho:
estratégia defensiva e evocação do sofrimento. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 17, n. 3, dez. 2005.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822005000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 dez. 2010.
49
93
HELOANI, José Roberto; CAPITAO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em
Perspectiva [online], v. 17, n. 2, 2003, p. 103. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2
/a11v17n2.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
94
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, p. 89.
95
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, p. 89.
50
Hoje, está tudo tão amarrado, tão entranhado, que para se ter uma ideia, até o
início da década de 90, havia em torno de 45% de não conclusões no
mestrado e doutorado, hoje, esse número é de aproximadamente 15%,
porque a não conclusão do curso repercute na vida do orientador e na vida
do programa.97
Em outras palavras, conclui o autor que não há “mais como não ser produtivo e
ser incluído. Se você deixar de ser produtivo, você vai ser excluído, e esse produtivo é no
sentido de produtivismo mesmo, com todo o tom pejorativo que existe no sufixo ‘ismo’”.98 A
‘vedação ao fracasso’ aparece assim como corolário da ‘ditadura da avaliação’. Suas
implicações extrapolam o problema da justiça da avaliação em si, pois mesmo que as causas
de um eventual ‘fracasso’ escapem à esfera de ingerência daquele que não se enquadra, ainda
assim ele será sumariamente excluído.
“A corrida desenfreada por publicações e comunicações científicas, e
principalmente a multiplicação de revistas, suportes especializados e colóquios”99 revelam o
quanto o problema se tornou crônico, mas há ainda um outro aspecto do produtivismo
acadêmico que merece nossa atenção. A avaliação de artigos submetidos para a publicação,
cada vez mais “baseados em estudos pontuais de interesse local [...] e de baixa relevância
científica”, tem se tornado tarefa cada dia mais árdua100.
“No limite de sua capacidade de responder, face às múltiplas e sucessivas
demandas de pareceres não apenas dos periódicos como também das agências de
fomento”101, editores e consultores ad hoc se veem diuturnamente sobrecarregados. Deste
modo, a figura do professor/pesquisador passa então a acumular uma série de outras funções.
“Além do ensino e da pesquisa, este profissional passa a ser digitador, preenchedor de
96
BIANCHETTI, Lucídio. O espectro tomou conta da academia. Informandes Online, Brasília-DF, pp. 1-3, 23
out. 2007. Disponível em: <http://www.adufpa.org.br/detalha_noticia.php?id=190>. Acesso em: 05 dez. 2010.
97
BIANCHETTI, Lucídio. O espectro tomou conta da academia. Informandes Online, Brasília-DF, pp. 1-3, 23
out. 2007. Disponível em: <http://www.adufpa.org.br/detalha_noticia.php?id=190>. Acesso em: 05 dez. 2010.
98
BIANCHETTI, Lucídio. O espectro tomou conta da academia. Informandes Online, Brasília-DF, pp. 1-3, 23
out. 2007. Disponível em: <http://www.adufpa.org.br/detalha_noticia.php?id=190>. Acesso em: 05 dez. 2010.
99
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, p. 88.
100
COIMBRA JR., Carlos E. A. Efeitos colaterais do produtivismo acadêmico na pós-graduação. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 10, out. 2009. Disponível em <http://www.scielosp.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2009001000001&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 05 dez. 2010.
101
COIMBRA JR., Carlos E. A. Efeitos colaterais do produtivismo acadêmico na pós-graduação. Cadernos de
Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 10, out. 2009. Disponível em <http://www.scielosp.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2009001000001&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 05 dez. 2010.
51
formulários, avaliador, entre outros. Passou a incorporar funções que nem sempre são
remuneradas ou contabilizadas em suas horas de trabalho”.102
102
SANTOS, Silvia Alves dos. A naturalização do produtivismo acadêmico no trabalho docente. Revista Espaço
Acadêmico, v. 10, n. 110, jul., 2010, pp. 147-154. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/10195/5796>. Acesso em: 05 dez.
2010.
103
SEVCENKO, Nicolau. O professor como corretor. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jun., 2000. Caderno
Mais, pp. 6-7. Disponível em: <http://www.race.nuca.ie.ufrj.br/journal/s/sevcenko1.doc>. Acesso em: 05 dez.
2010.
104
SANTOS, Silvia Alves dos. A naturalização do produtivismo acadêmico no trabalho docente. Revista Espaço
Acadêmico, v. 10, n. 110, jul., 2010, pp. 147-154. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/10195/5796>. Acesso em: 05 dez.
2010.
52
pontualidade, condições de pagamento, dentre outros até que, finalmente, a busca por uma
definição do que seria Qualidade no ambiente organizacional culminou no desenvolvimento
do “Total Quality Management” (TQM) – Gestão pela Qualidade Total ou simplesmente,
“Qualidade Total”.
O TQM consiste em um conjunto de práticas e métodos de gestão das
organizações que os adotam com o intuito de garantir que as expectativas dos stakeholders
(consumidores/clientes/sócios) sejam sempre atendidas ou mesmo superadas. A Gestão pela
Qualidade Total coloca especial enfoque nos processos de mensuração e de controle como
meio principal de assegurar uma melhoria contínua.
As avaliações individuais, enfrentadas por esta autora, em momento anterior,
coadunam-se de maneira absolutamente sinérgica com os princípios da gestão pela Qualidade
Total. São os ditames desta filosofia que influenciaram a definição dos critérios de avaliação
do trabalho. Isto ocorreu, obviamente, em caráter apartado da dimensão humana envolvida no
ato de trabalhar. Satisfação, reconhecimento e sofrimento são categorias abstratas demais para
serem apreendidas em termos numéricos e estatísticos, métodos estes dos quais a Qualidade
Total é praticamente uma escrava.
A Qualidade Total vive em função do “mercado”. Esta entidade, cuja natureza
poderia ser objeto de um tratado, dado seu caráter sui generis, estabeleceu que o correto é que
as organizações obtenham, a qualquer custo, o maior número de certificações, chancelas e
premiações possível. Contudo, os custos associados a esta empreitada não são imputáveis ao
mercado, nem mesmo a seus representantes mais ou menos ilustres. Desse modo, seu poder de
influência destoa fortemente de sua capacidade de responsabilização o que não seria possível
sem um alto grau de cumplicidade do Estado105.
105
O problema do mercado enquanto estruturador da sociedade política será objeto de exame aprofundado no
Capítulo 4, item 4.2.1.2. De toda forma, quando se fala em “cumplicidade” por parte do Estado, para efeitos
desta dissertação, o termo deve ser entendido como omissão.
53
motivação e liderança, empresa com alma, capital intelectual da empresa, entre outros, ricos
em técnicas e certezas”106 difundiram ideias e receitas para uma utilização de recursos –
inclusive ‘humanos’ – de maneira cada vez mais eficiente. Dessa maneira os gestores
implementaram uma profunda metamorfose na organização do trabalho.
As modernas formas de gestão basearam-se em trabalhos científicos que
prescindiram de estudar o impacto humano de suas proposições, sob uma “dimensão ética,
fundamentalmente heterônoma em relação às ciências da natureza”.107 Assim, os efeitos
colaterais de uma cartilha que foi adotada aqui e ali, em maior ou menor escala, têm sido
percebidos de forma cada vez mais consistente.
A Teoria Clássica da Administração Científica baseou-se no conceito de homo
economicus108, isto é, do homem econômico. Idealizada por Taylor e Fayol, e levada às
últimas consequências por Henry Ford, esta doutrina preconizava a adoção de práticas que
pudessem levar à maior eficiência. A especialização, as linhas de produção e o trabalho
repetitivo, muito bem satirizado por Chaplin no filme Tempos Modernos, fornecem uma boa
medida do que significou a implantação de tais correntes para o mundo do trabalho.
Se o taylorismo/fordismo foi mais popular até meados do século passado, o
“ohnismo” ou “toyotismo” teve maior importância após a década de 1950. A esse respeito,
registre-se que, certa vez, Donald Reid referiu-se ao ‘fayolismo’ como sendo um ‘mito
mobilizador’. Isto porque, ao lado de outras teorias clássicas, o ‘fayolismo’ ostenta um caráter
de mito, capaz de estimular e orientar os gerentes, mobilizando-os.109
106
RIBEIRO, Maria de Fátima; SILVA, Luiza Rosângela da. O tênue limite entre a gestão do desempenho
individual e a legitimação de assédio moral. III SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia.
Disponível em: <http://ww.aedb.br/seget/artigos06/854_ribeiro%20m%20f%20seget.pdf>. Acesso em: 04 dez.
2010.
107
DEJOURS, Christophe. O fator humano. 5a ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005, p. 53.
108
“Segundo esse conceito, toda pessoa é concebida como influenciada exclusivamente por recompensas
salariais, econômicas e materiais [...] o homem procura o trabalho não porque gosta dele, mas como um meio
de ganhar a vida por meio do salário que o trabalho proporciona. O homem é motivado a trabalhar pelo medo
da fome e pela necessidade de dinheiro para viver. Assim, as recompensas salariais e os prêmios de produção (e
o salário baseado na produção) influenciam os esforços individuais do trabalho, fazendo com que o trabalhador
desenvolva o máximo de produção de que é fisicamente capaz para obter um ganho maior. Uma vez selecionado
cientificamente o trabalhador, ensinado o método de trabalho e condicionada sua remuneração à eficiência, ele
passaria a produzir o máximo dentro de sua capacidade física”. CHIAVENATO, Idalberto. Administração
geral e pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, pp. 9-10.
109
REID, Donald. Fayol: excès d’honneur ou excès d’indignité? Revue Française de Gestion, set./out., n. 70,
1988, pp. 151-159.
54
Tabela 3
Fonte: LOJKINE, Jean. A revolução informacional. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 32.
110
LOJKINE, Jean. A revolução informacional. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 30.
111
DEJOURS, Christophe. Trabalho, tecnologia e organização: avaliação do trabalho submetida à prova do
real. São Paulo: Blucher, 2008, pp. 88-9.
55
O autor problematiza o fato de que o ideal de qualidade, tal qual vem sendo posto
pelas agências de certificação, impõe às organizações – e por ricochete sobre os seus
empregados – uma busca implacável pela obtenção de uma chancela qualquer que possa ser
capaz de lhe render frutos. É o que ocorre com as certificações ISO, com os rankings de
classificação de empresas socialmente responsáveis, apenas para citar alguns exemplos.
Quando a história da Responsabilidade Social Corporativa é resgatada sob esta perspectiva,
emergem de forma cristalina as motivações mais genuínas e pouco sinceras que nortearam a
concepção de tal movimento.
Ao mesmo tempo em que a concorrência por cargos e salários se acirra no mundo
do trabalho, é sobre os trabalhadores que passam a recair então as pressões pela conquista dos
parâmetros estabelecidos como ideais. E se a verdade da organização se distancia de uma
forma irremediável dos padrões ideais – o que não é difícil de acontecer –, começam a surgir
as fraudes. Inicia-se aí a gênese de um dos processos mais deletérios da atualidade do mundo
do trabalho: a corrosão do caráter.112
112
Cf. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 14ª
ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.
113
Termo forjado pelo Professor de Psicologia Organizacional e Saúde Cary Cooper, no fim da década de 90.
Cooper é americano e leciona atualmente na Lancaster Univeristy Management School, uma das instituições
líderes em pesquisa no Reino Unido. Possui diversos títulos e distinções, dentre os quais o de Comendador da
Ordem do Império Britânico (Commander of the Order of the British Empire, CBE, 2001).
56
114
Os problemas de saúde envolvidos no “baixo rendimento” ou presenteísmo são os mais variados. Contudo,
dentre os mais comuns figuram a fadiga crônica, a insônia, a hipersonia diurna, as dores na coluna, artrite, os
problemas cardíacos, hipertensão, problemas gastrointestinais diversos, cefaleias e enxaquecas.
57
Poco a poco, los riesgos psicosociales han ido ganado entidad y relevancia,
incorporando formalmente nuevas manifestaciones atractivas para los
investigadores y estudiosos de esta materia. Su carácter pluridimensional,
que tanto se subraya, no ha hecho más que favorecer el análisis desde
múltiples perspectivas, en consideración a sus diversas facetas y efectos.115
115
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 369. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/993/99312516006.pdf>.
Acesso em: 02 jun. 2010.
116
NEW OSH ERA (New and Emerging Risks in Occupational Safety and Health) é composta por mais de vinte
agências de fomento e institutos de pesquisa que atuam em Segurança e Saúde Ocupacional.
117
BARBOSA-BRANCO, Anadergh; ALBUQUERQUE-OLIVEIRA, Paulo Rogério; MATEUS, Márcia.
Epidemiologia das licenças do trabalho por doenças mentais no Brasil, 1999-2002 (Palestra). Goiânia: I
Congresso Internacional sobre Saúde Mental no Trabalho, 2004. Disponível em: <http://www.prt18.
mpt.gov.br/eventos/saude_men tal_palestras/anadergh.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2010.
58
com elevado impacto social e econômico. Um outro ponto de consenso diz respeito aos
quadros patológicos, que se distribuem de forma bastante diferenciada entre os ramos de
atividade, sendo que, aqueles com maior participação do sexo feminino são mais atingidos
pelos distúrbios afetivos, enquanto os que apresentam uma predominância masculina sofrem
mais impacto dos distúrbios mentais desencadeados pelo uso de substâncias psicoativas.
Uma terceira conclusão tem relação com os custos previdenciários. O estudo
apontou que os distúrbios afetivos representam o grupo de causas de doenças mentais e
comportamentais mais importantes, tanto em quantidade, quanto em valor dos benefícios
concedidos. Contudo, os gastos previdenciários deveriam ser ainda maiores não fosse uma
situação de subnotificação de doenças psíquicas de cunho ocupacional constada pelo estudo
como quarta e última conclusão. Sobre este assunto, além de identificaram que a
caracterização das doenças psíquicas como doenças ocupacionais padece de forte
subnotificação, os pesquisadores concluíram também que este fato pode depender mais da
organização da classe do que dos fatores de risco enfrentados pelos empregados.118
118
BARBOSA-BRANCO, Anadergh. Doença do Trabalho: Uma questão de risco ou de organização de classe.
Assessoria de Comunicação da UnB. Junho de 2004.
119
HELOANI, José Roberto; CAPITAO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em
Perspectiva [online], v. 17, n. 2, 2003, p. 102. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2
/a11v17n2.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
59
120
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
121
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 1. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
122
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 11. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
60
verdadeiras premissas para uma falácia argumentativa sobre o “‘fim da utopia da sociedade
do trabalho’ em seu sentido amplo e genérico”.123
Em todo caso, o ‘fim do trabalho’, ou ao menos de sua centralidade, é um debate
que continua atual. Em 2008, portanto mais de uma década após a publicação do aludido
ensaio de Antunes, Sadi Dal Rosso publica os resultados de uma pesquisa que lhe permitiu
demonstrar, de forma irrefutável, que hoje “o trabalho é mais intenso, o ritmo e a velocidade
são maiores, a cobrança de resultados é mais forte, idem a exigência de polivalência,
versatilidade e flexibilidade”.124 A tabela abaixo é um excerto do estudo realizado por Dal
Rosso em Brasília-DF, uma cidade sem tradição de trabalho industrial na qual o sociólogo
pôde observar de forma privilegiada os fenômenos globais.125
Fonte: Amostra, Intensidade, Distrito Federal, 2000-2002. In: DAL ROSSO, Sadi. Mais trabalho! A
intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 134.
123
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do
Trabalho. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995, p. 85.
124
CATTANI, Antonio Davi. Apresentação. In: DAL ROSSO, Sadi. Mais Trabalho! A intensificação do labor
na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 9.
125
Foi perguntado a trabalhadores de vários setores se concordavam com a assertiva de que hoje há uma maior
cobrança por resultados. As respostas “sim”, “não” e “às vezes” foram computadas em termos absolutos e
relativos.
61
É preciso ressalvar, contudo, que o aspecto quantitativo não é e nunca foi a única
medida do quão central é o lugar do trabalho em nossa sociedade. O significado atribuído ao
trabalho, mais do que a quantidade de horas ou de anos que se passa trabalhando, é talvez o
mais importante indicador de centralidade do trabalho. Vivemos em uma sociedade que mede
rotineiramente as taxas de desemprego o que, de certa forma, é um meio de se medir a
exclusão, pois quem não trabalha está alheio ao que Robert Castel denominou “matriz da
integração social”.126
126
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social. São Paulo: Vozes, 1998, p. 532.
127
LANCMAN, Selma. Apresentação. In: LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal (Orgs.). Christophe
Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília:
Paralelo 15, 2008, p. 31.
128
LANCMAN, Selma. Apresentação. In: LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal (Orgs.). Christophe
Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília:
Paralelo 15, 2008, p. 33.
62
129
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
180.
130
BRASIL. Anuário Estatístico da Previdência Social. Brasília: Ministério da Previdência e Assistência
Social/DATAPREV, 2003.
131
Reportagem. Disponível em ,http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2010/08/transtornos-mentais-sao-
terceira-causa-de-afastamento-do-trabalho.html>.
63
informação de que o sofrimento psíquico no trabalho foi a segunda patologia verificada nos
anos de 2006 e 2007.132
A OIT aponta o stress como “a segunda causa mais frequentemente registrada
dos problemas de saúde relacionados com o trabalho”133, sendo responsável por “50 a 60%
do total de dias de trabalho perdidos”.134 Informa ainda que:
132
Résumés des communications. Santé mentale et travail. 4é Journeè Scientifique du Département Santé
Travail, 26 mars 2009, p. 4. Disponível em: <http://www.invs.sante.fr/publications/2009/journee_ sante_
mentale_travail/resumes_communications_journee_dst.pdf>. Acesso em 5 mai. 2009.
133
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 12. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
134
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 12. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
135
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
212.
136
O termo comorbidade é formado pelo prefixo latino cum, que significa contiguidade, correlação, companhia,
e pela palavra morbidade, originada de morbus, que designa estado patológico ou doença. Utilizado para
descrever a coexistência de transtornos ou doenças. Em epidemiologia psiquiátrica, a ênfase é dada ao risco
relativo (odds ratio), ou seja, as chances de um portador de determinado transtorno desenvolver outro como
comorbidade.
137
DRUSS, Benjamin G.; ROSENHECK, Robert A.; SLEDGE, William H. Health and Disability Costs of
Depressive Illness in a Major U.S. Corporation. American Journal of Psychiatry, v. 157, n. 8, ago./2000, pp.
1274-8. Disponível em: <http://ajp.psychiatryonline.org/cgi/reprint/157/8/1274>. Acesso em: 10 fev. 2010.
64
138
K-L Lim, PhD; P. Jacobs, PhD; A. Ohinmaa, PhD; D. Schopflocher, PhD; C.Ss Dewa, PhD. A new
population-based measure of the economic burden of mental illness in Canadá. Chronic Diseases in Canadá, v.
28, n. 3, 2008, pp.92-98. Disponível em: <http://198.103.98.171/publicat/cdic-mcc/28-3/pdf/cdic28-3-2eng.pdf>.
139
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Riscos emergentes e novas formas de prevenção
num mundo de trabalho em mudança. Genebra, Suíça, 2010, p. 11. Disponível em:
<http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/28abril_10_pt.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2010.
65
3 AS PATOLOGIAS EM AUMENTO
140
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 52.
66
relações intensas – em situações de trabalho – com outras pessoas”.141 No entanto, podem ser
igualmente acometidos aqueles “profissionais que apresentam grandes expectativas em
relação a seus desenvolvimentos profissionais e dedicação à profissão” e que, por diversas
razões, “não alcançaram o retorno esperado”.142
Quando se reflete sobre o trecho acima transcrito, chama a atenção o excerto “não
alcançaram o retorno esperado”. A esse respeito, parece inevitável deixar de criticar a
questão das metas impostas aos trabalhadores. Seja por uma avaliação individual de cada
trabalhador, seja por uma corrida pelo alcance de metas, a ‘organização do trabalho’143
aparece como principal fonte de alimentação de um circuito que, para usar uma metáfora,
parece operar sem disjuntor. Assim, como em uma roleta-russa, um ou mais trabalhadores
poderão funcionar como fusíveis, amortecendo os excessos de corrente.
3.1.2 Karoshi
Karoshi, por sua vez, é uma palavra em japonês que significa morte súbita por
sobrecarga ou excesso de trabalho144. Estudos realizados no Japão relataram que os acidentes
vasculares cerebrais, os casos de insuficiência cardíaca aguda, entre outros quadros clínicos
guardam uma estreita relação com a sobrecarga de trabalho e o pouco tempo para repouso.145
141
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 52.
142
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 52.
143
O termo “organização do trabalho” é equívoco. No presente trabalho, o termo é utilizado à luz da
Psicodinâmica do Trabalho, escola de Psicologia do Trabalho que se edificou a partir das ideias e pesquisas de
Christophe Dejours, médico psiquiatra e psicanalista francês. Assim, é adotada como referência a recomendação
da Escola Dejouriana de descartar a literalidade e o real das prescrições para examinar o trabalho enquanto
processo intersubjetivo, isto é, enquanto processo que permite a gestão social e a interpretação do trabalho pelos
sujeitos.
144
Analisando a etimologia do termo temos: karô, que equivale a “excesso de trabalho” e shi cujo
correspondente em português é a morte.
145
MARTINEZ ALCANTARA, Susana; HERNANDEZ SANCHEZ, Araceli. Necesidad de estudios y
legislación sobre factores psicosociales en el trabajo. Revista Cubana de Salud Pública, Ciudad de La Habana,
Cuba, v. 31, n. 4, 2005, p. 342.
67
146
CARREIRO Líbia. Morte por excesso de trabalho (Karoshi). Revista do Tribunal do Trabalho da 3ª Região,
Belo Horizonte, v. 46, n. 76, jul./dez. 2007, p. 140.
147
FRANCO, Tânia Maria de Almeida. Karoshi: o trabalho entre a vida e a morte. Caderno CRH, Salvador, n.
37, jul./dez., 2002, p. 149.
148
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global health risks: mortality and burden of disease attributable to
selected major risks. Genebra: WHO Press, 2009, p. 25. Disponível em:
<http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/GlobalHealthRisks_report_full.pdf>. Acesso em: 5 jun.
2010.
149
GIANNOTTI, Anency. Prevenção da doença coronária: perspectiva psicológica em um programa
multiprofissional. Psicologia USP, São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 mai. 2010.
150
GIANNOTTI, Anency. Prevenção da doença coronária: perspectiva psicológica em um programa
multiprofissional. Psicologia USP, São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100009&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 22 mai. 2010.
151
GIANNOTTI, Anency. Prevenção da doença coronária: perspectiva psicológica em um programa
multiprofissional. Psicologia USP, São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100009&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 22 mai. 2010.
68
No que concerne ao perfil de pessoas que fariam parte de um grupo de risco para
o karoshi, é relevante registrar importante conclusão publicada no livro “Karoshi”, em 1990.
Inicialmente, acreditava-se que o karoshi vitimava um maior número de trabalhadores de
turno noturno e motoristas152. Entretanto, Tânia Franco relata que, após estudarem
depoimentos colhidos pela Karoshi Hot-line67, Yoko Kuroiwa e Hiroshi Kawahito153
concluíram que o karoshi pode acometer “todos os tipos de profissionais, com um nítido
aumento dos ‘colarinhos brancos’ em geral, envolvendo principalmente o trabalho de
escritório e ‘management’”.154
Passadas duas décadas, o problema ainda persiste. Em 19 de novembro de 2007, o
Conselho Nacional de Defesa das Vítimas de Karoshi, com o intuito de evitar a morte de
médicos por sobrecarga de trabalho, bem como de melhorar as condições de trabalho
destes155, submeteu uma série de solicitações ao Ministro da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do
Japão.
Mas, “a questão da sobrecarga de trabalho e danos para a saúde está sendo
colocada por especialistas em todo o mundo, e sua ocorrência não é uma exclusividade
japonesa”.156 Também no Brasil se tem notícias de casos nos quais houve morte súbita por
sobrecarga de trabalho. “Em alguns lugares, os trabalhadores denominam por ‘birola’ a
morte provocada pelo excesso de esforço no trabalho”157 – seria a versão nacional do Karoshi
no meio rural. Segundo o Serviço Pastoral do Migrante de Guariba-SP, 18 cortadores de cana
morreram na região canavieira do Estado de São Paulo no período compreendido entre 2004 e
2007.158
152
Editado no Japão, pelo Conselho Nacional em Defesa das Vítimas do Karoshi, com o objetivo de informar a
população sobre os riscos potenciais do modelo japonês. Esta publicação foi organizada por advogados
integrantes do referido Conselho, por um acadêmico especialista em análises socioeconômicas, um médico (que
cunhou o termo médico-social Karoshi), um líder sindical e viúvas japonesas de vítimas do Karoshi.
153
KUROIWA, Yoko; KAWAHITO, Hiroshi. A female employee of a major bank. In: National Defense
Counsel for Victims of Karoshi. Karoshi: when the "Corporate Warrior" dies. Tokyo: Ed. Mado-Sha, 1990.
154
FRANCO, Tânia Maria de Almeida. Karoshi: o trabalho entre a vida e a morte. Caderno CRH, Salvador, n.
37, jul./dez., 2002, p. 148.
155
National Defense Counsel for Victims of Karoshi. Topics. Disponível em:
<http://Karoshi.jp/english/index.html>. Acesso em: 22 mai. 2010.
156
FRANCO, Tânia Maria de Almeida. Karoshi: o trabalho entre a vida e a morte. Caderno CRH, Salvador, n.
37, jul./dez, 2002, p. 141.
157
SILVA, Maria Aparecida de Moraes. Mortes e acidentes nas profundezas do ‘mar de cana’ e dos laranjais
paulistas. InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, v. 3, n. 2,
abr./ago. 2008, p. 4. Disponível em: <http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.
asp?ed=8&cod_artigo=146>. Acesso em: 22 mai. 2010.
158
FACIOLI, Inês; GARCIA, Antonio Peres. Histórico de cortadores de cana mortos no setor canavieiro.
Disponível em: <http://www.migracoes.com.br/artigos.php?tipart=44&start=4>. Acesso em: 17 mai. 2010.
69
159
ALVES, Francisco. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 15, n. 3,
set./dez., 2006, p. 91.
160
O Decreto nº 6.341 de 03 de janeiro de 2008 transformou as Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) em
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego (SRTEs). Estas passaram a partir de então a supervisionar
todas as políticas públicas do Ministério do Trabalho e Emprego, no Distrito Federal e nos 26 estados da
federação em que se encontram instaladas. BRASIL. Decreto nº 6.341 de 03 de janeiro de 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6341.htm>. Acesso em: 13 mai. 2010.
161
CARREIRO Líbia. Morte por excesso de trabalho (Karoshi). Revista do Tribunal do Trabalho da 3ª Região,
Belo Horizonte, v. 46, n. 76, jul./dez. 2007, p. 133.
162
Analisar acidentes de trabalho constitui uma das atividades funcionais dos Auditores Fiscais do Trabalho. Sua
importância vem sendo cada vez mais reconhecida uma vez que os relatórios resultantes estão sendo
aproveitados na formação de um banco de dados que está sendo organizado pelo Departamento de Saúde e
Segurança do Trabalho (DSST/MTE). Os mesmo relatórios também vêm sendo progressivamente utilizados
pelos procuradores do INSS na propositura de ações regressivas.
70
Em sede recursal, o caso foi julgado pela Primeira Turma do Tribunal Regional do
Trabalho da Terceira Região que, preliminarmente, e à unanimidade, conheceu de ambos os
recursos interpostos pela empresa ré. Todavia, no mérito de tais recursos, os julgadores
entenderam por bem negar-lhes provimento, o que aconteceu sem quaisquer divergências e
determinaram ainda a aposição do selo “TEMA RELEVANTE” na capa dos autos.163
À guisa de conclusão, a comprovada relação existente entre fatores psicológicos
relacionados ao ambiente ocupacional e o aparecimento ou agravamento de doenças cardíacas
(incluída a morte súbita ou karoshi) vem adquirindo, contexto exposto, uma importância cada
vez maior. A saúde do trabalhador, sob este ponto de vista, manifesta-se como um campo de
saúde pública por excelência. Assim sendo, a prevenção emerge como uma questão que
reclama por soluções reais e urgentes.
163
Nos termos do art. 6º da Resolução Administrativa nº 121 de 29 de novembro de 2007 do Tribunal Regional
do Trabalho da Terceira Região, é facultado aos magistrados formular proposta fundamentada de guarda
definitiva dos processos que julgarem representativos de temas cuja relevância histórica justifique sua guarda
permanente. BRASIL. Resolução Administrativa nº 121 de 29 de novembro de 2007, Tribunal Regional do
Trabalho da Terceira Região. Disponível em:
<http://www.trt3.jus.br/download/pgd/resolucao_administrativa_121_2007.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2010.
164
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL/ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Doenças
Relacionadas ao Trabalho – Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Série A: Normas e Manuais
Técnicos, n. 114. Brasília, 2001, p. 22. Disponível em:
<http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.Pdf#search=%22doen%C3%A
7as%20relacionadas%20ao%20trabalho%2>. Acesso em: 07 jun. 2010.
71
por incluir tanto as LTC como as LER”165. Contudo, tanto DORT como LER são rubricas
totalizadoras de conceitos, na medida em que “várias patologias estão englobadas nestas
siglas e podem ser agrupadas em afecções tendíneas, tenossinoviais, sinoviais, vásculo-
nervosas e musculares”.166
Convém assinalar ainda que a sigla DORT é preferida em detrimento de outras
porque afasta a exigência de que se tenha, obrigatoriamente, “uma lesão orgânica, ou, ainda,
que esta se restrinja a exclusivamente um segmento corporal”.167 Ademais ela permite “o
reconhecimento de uma maior variedade de entidades mórbidas causadas pela interação dos
mais diversos fatores laborais, retirando a falsa ideia de que o quadro clínico se deve a
apenas um ou dois fatores de risco”.168
Em que pese a preferência pelo termo DORT, dada a sua maior abrangência,
durante um tempo razoável persistiu como verdade científica uma crença bastante
reducionista de que a etiologia dos traumas musculares ocupacionais repousava tão somente
na “incompatibilidade entre as exigências do trabalho e as capacidades físicas do
trabalhador”.169 Segundo uma tal visão mecanicista, a ocorrência de DORT seria então
explicada basicamente por “duas causas: impacto e esforço excessivo”170, sendo que, para a
análise destes fatores, “podem vir a ser empregados uma série de instrumentos de
mensuração do aspecto biomecânico da atividade”.171
165
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Blucher, 2005, p. 164.
166
CARVALHO, Marcus Vitor Diniz de; CAVALCANTI, Francisco Ivo Dantas; SORIANO, Evelyne Pessoa;
MIRANDA, Hênio Ferreira de. LER-DORT: doença do trabalho ou profissional? Revista Gaúcha de
Enfermagem (UFRGS), v. 30, 2009, p. 304. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/5110/6689>. Acesso em: 26 mai.
2010.
167
CAMARGO, Duílio Antero de; FONTES, Arlete Portella; OLIVEIRA, José Inácio de. Diagnóstico das
LER/DORT e saúde mental. In: GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães (Org.); GRUBITS, Sonia (Org.).
Saúde mental e trabalho, vol. III. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p. 148.
168
CAMARGO, Duílio Antero de; FONTES, Arlete Portella; OLIVEIRA, José Inácio de. Diagnóstico das
LER/DORT e saúde mental. In: GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães (Org.); GRUBITS, Sonia (Org.).
Saúde mental e trabalho, vol. III. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p. 148.
169
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Blucher, 2005, p. 164.
170
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Blucher, 2005, p. 164.
171
BONFATTI, Renato; MOTTA, Denise; VIDAL, Mario Cesar. Os limites da análise ergonômica do trabalho
centrada na identificação de riscos biomecânicos. Ação Ergonômica, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, out 2003, p. 76.
Disponível em: <http://www.acaoergonomica.ergonomia.ufrj.br/edicoes/vol1n4/artigos /39.pdf >. Acesso em: 25
mai. 2010.
72
172
BONFATTI, Renato; MOTTA, Denise; VIDAL, Mario Cesar. Os limites da análise ergonômica do trabalho
centrada na identificação de riscos biomecânicos. Ação Ergonômica, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, out. 2003, p. 76.
Disponível em: <http://www.acaoergonomica.ergonomia.ufrj.br/edicoes/vol1n4/artigos/39.pdf >. Acesso em: 25
mai. 2010.
173
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 938. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
174
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 938. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
175
BORGES, Luiz Henrique. Sociabilidade, Sofrimento Psíquico e Lesões por Esforços Repetitivos em
processos de trabalho repetitivos: estudo de caixas bancários. Rio de Janeiro, 1999. (Tese de Doutoramento,
Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
176
CHAVES, Maria Engrácia de Carvalho; VALADARES, Carlos Antônio Melgaço; LINO, Maria Lúcia Maia
Ribeiro; BUSSACOS, Marco. Lesões por Esforços Repetitivos e sofrimento mental em diferentes profissões.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 28, 2004, p. 47.
177
BARROS, Celso Aleixo de; GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães. Lesões por esforços repetitivos –
LER: aspectos psicológicos. In: GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães (Org.); GRUBITS, Sonia (Org.).
Saúde mental e trabalho, vol. I. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999, p. 61.
73
Nos dias de hoje tem-se dois tipos de estudos. Um primeiro grupo de pesquisas
demonstra “que a organização do trabalho influencia diretamente os efeitos da exposição às
demandas físicas (aumento da duração ou intensidade da exposição à repetitividade, à força
e às posturas anômalas) sobre o sistema musculoesquelético”.178 Um segundo grupo de
investigações, por sua vez, destaca o modo pelo qual “a organização do trabalho” atuaria
“sobre as respostas ao estresse (fisiológicas, psicológicas e comportamentais)”179,
influenciando assim “a ocorrência dos DME, através dos mecanismos neuroendócrinos sobre
a atividade muscular”.180
Há ainda autores que, com finalidade exclusivamente didática, dividem o
diagnóstico das disfunções musculoesqueléticas em três etapas, conforme a qualidade do risco
sob análise: “diagnóstico clínico, com ênfase nos aspectos físicos, diagnóstico ocupacional,
com ênfase nos aspectos laborais e organizacionais e diagnóstico psicológico, com ênfase
nos aspectos psicossociais”.181
Por fim, para Dejours, a ‘epidemia’ de LER não pode ser compreendida sem uma
abordagem psicopatológica. Isto porque, segundo leciona, deve-se atentar para o fato de que
este quadro decorre da elaboração de defesas contra o sofrimento psíquico. Este surge quando
da realização de tarefas repetitivas sob a pressão do tempo. Inclusive, para o autor, reside
neste aspecto a pedra de toque desta patologia de expressão somática.182
178
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 938. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
179
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 938. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
180
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 938. Disponível em: <http://www.scielosp.org/
pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
181
CAMARGO, Duílio Antero de; FONTES, Arlete Portella; OLIVEIRA, José Inácio de. Diagnóstico das
LER/DORT e saúde mental. In: GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães (Org.); GRUBITS, Sonia (Org.).
Saúde mental e trabalho, vol. III. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p. 148.
182
DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Paris: Bayard, 2008, p. 265.
74
183
CHAVES, Maria Engrácia de Carvalho; VALADARES, Carlos Antônio Melgaço; LINO, Maria Lúcia Maia
Ribeiro; BUSSACOS, Marco. Lesões por Esforços Repetitivos e sofrimento mental em diferentes profissões.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 28, 2004, p. 47.
184
CHAVES, Maria Engrácia de Carvalho; VALADARES, Carlos Antônio Melgaço; LINO, Maria Lúcia Maia
Ribeiro; BUSSACOS, Marco. Lesões por Esforços Repetitivos e sofrimento mental em diferentes profissões.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 28, 2004, p. 47.
185
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online], v. 15, n. 3, 2010, p. 931. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csc
/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
186
MAENO, Maria; SALERNO, Vera; ROSSI, Daniela Augusta Gonçalves; FULLER, Ricardo. Lesões por
Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), Dor relacionada ao
trabalho: Protocolos de atenção integral à Saúde do Trabalhador de Complexidade Diferenciada. Brasília- DF:
Ministério da Saúde, 2006, p. 3. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_ler_dort.pdf >. Acesso em: 24 mai. 2010.
187
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira; ASSUNÇÃO, Ada Ávila; CARVALHO, Fernando Martins. Tarefas
repetitivas sob pressão temporal: os distúrbios musculoesqueléticos e o trabalho industrial. Ciência & saúde
coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 3, p. 931. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n3/v15n3a37.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2010.
75
188
Segundo Roberto Ezequiel Heymann et al., a fibromialgia consiste em uma síndrome caracterizada por dores
crônicas e generalizadas, frequentemente acompanhadas de alterações no sono e/ou gastrointestinais, transtornos
de humor, fadiga, rigidez matinal, parestesias de extremidades, sensação subjetiva de edema e distúrbios
cognitivos, dentre outros sintomas. “É frequente a associação a outras comorbidades, que contribuem com o
sofrimento e a piora da qualidade de vida destes pacientes. Dentre as comorbidades mais frequentes podemos
citar a depressão, a ansiedade, a síndrome da fadiga crônica, a síndrome miofascial, a síndrome do intestino
irritável e a síndrome uretral inespecífica”. Cf. HEYMANN, Roberto Ezequiel et al. Consenso brasileiro do
tratamento da fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia [online], v. 50, n. 1, 2010, p. 56. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbr/v50n1/v5 0n1a06.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
189
ÁLVARES, Tatiana Teixeira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Fibromialgia – interfaces com as LER/DORT
e considerações sobre sua etiologia ocupacional, Ciência & saúde coletiva [online], v. 15, n. 3, 2010, p. 804.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n3/v15n3a23.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2010.
190
ÁLVARES, Tatiana Teixeira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Fibromialgia – interfaces com as LER/DORT
e considerações sobre sua etiologia ocupacional, Ciência & saúde coletiva [online], v. 15, n. 3, 2010, p. 804.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n3/v15n3a23.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2010.
191
ÁLVARES, Tatiana Teixeira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Fibromialgia – interfaces com as LER/DORT
e considerações sobre sua etiologia ocupacional, Ciência & saúde coletiva [online], v. 15, n. 3, 2010, p. 804.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n3/v15n3a23.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2010.
76
192
ÁLVARES, Tatiana Teixeira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Fibromialgia – interfaces com as LER/DORT
e considerações sobre sua etiologia ocupacional, Ciência & saúde coletiva [online], v. 15, n. 3, 2010, p.811.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n3/v15n3a23.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2010.
193
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
194
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
195
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
196
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
197
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
198
VERTHEIN, Marilene Affonso Romualdo; GOMEZ, Carlos Minayo. As armadilhas: bases discursivas da
neuropsiquiatrização das LER. Ciência & saúde coletiva [online], v. 6, n. 2, 2001, p. 458. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/csc/v6n2/7016.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
77
199
DORIGO, Júlia Nogueira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. O transtorno de estresse pós-traumático nos
contextos de trabalho: reflexões em torno de um caso clínico. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho
[online]. 2007, v. 10, n. 1, p. 65. Disponível em:
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/cpst/v10n1/v10n1a05.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2010.
200
FREUD, Sigmund. Introdução à psicanálise e às neuroses de guerra. In: Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 27. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 226.
201
DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho na pós-modernidade. In: MENDES, Ana Magnólia (Org.);
LIMA, Suzana Canez da Cruz (Org.); FACAS, Emílio Peres (Org.). Diálogos em psicodinâmica do trabalho.
Brasília: Paralelo 15, 2007, v. 1, p. 14.
202
LAPLANCHE, Jean; PONTIALIS, Jean Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. 4ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001, pp. 522-523.
203
LAPLANCHE, Jean; PONTIALIS, Jean Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. 4ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001, pp. 522-523.
78
204
CAMARA FILHO, José Waldo S.; SOUGEY, Everton B. Transtorno de estresse pós-traumático: formulação
diagnóstica e questões sobre comorbidade. Revista Brasileira de Psiquiatria [online]. 2001, v. 23, n. 4, p. 222.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v23n4/7170.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2010.
205
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
206
Reação aguda ao estresse (F43.0); Transtorno de estresse pós-traumático (F43.1); Transtornos de adaptação
(F43.2); Outras reações ao estresse grave (F43.8) e; por fim, Reação ao estresse grave não especificada (F43.9).
Os critérios de divisão são a intensidade dos sintomas, bem como o prazo decorrido entre o aparecimento dos
mesmos e o evento traumático.
207
DORIGO, Júlia Nogueira; LIMA, Maria Elizabeth Antunes. O transtorno de estresse pós-traumático nos
contextos de trabalho: reflexões em torno de um caso clínico. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho
[online]. 2007, v. 10, n. 1, p. 65. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/cpst/v10n1/v10n1a05.
pdf>. Acesso em: 01 jun. 2010.
79
O Gráfico 1 ilustra o efeito positivo gerado por este consenso no que concerne ao
reconhecimento do status ocupacional da patologia. As CATs emitidas em 2008 sob o código
F43 (incluídas também as CATs sob a rubrica F43.2) representaram 40% em relação ao total
de CATs emitidas para o grupo F do CID-10 (transtornos mentais e comportamentais).
Fonte dos dados: BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico de Acidentes do
Trabalho 2008. Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br/arquivos/office/3_091028-
191015-957.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2010.
208
American Psychiatry Association. Diagnostic and statistical manual for mental disorders. 3rd Edition.
Washington: American Psychiatric Press, 1980.
209
CAMARA FILHO, José Waldo S.; SOUGEY, Everton B. Transtorno de estresse pós-traumático: formulação
diagnóstica e questões sobre comorbidade. Revista Brasileira de Psiquiatria [online]. 2001, v. 23, n. 4, p. 222.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v23n4/7170.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2010.
210
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL/ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Doenças
Relacionadas ao Trabalho – Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Série A: Normas e Manuais
Técnicos, n. 114. Brasília, 2001, p. 181. Disponível em:
80
<http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.Pdf#search=%22doen%C3%A
7as%20relacionadas%2 0ao%20trabalho%2>. Acesso em: 07 jun. 2010.
211
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL/ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Doenças
Relacionadas ao Trabalho – Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Série A: Normas e Manuais
Técnicos, n. 114. Brasília, 2001, p. 181. Disponível em:
<http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.Pdf#search=%22doen%C3%A
7as%20relacionadas%20ao%20trabalho%2>. Acesso em: 07 jun. 2010.
212
Segundo o DSM-IV-TR, a tríade sintomática se caracteriza pelos seguintes sintomas: i) o evento traumático é
revivido persistentemente de uma ou várias maneiras (flashbacks); ii) há uma esquiva a estímulos que relembrem
o trauma, além de distanciamento afetivo (entorpecimento da reatividade geral, ausente antes do trauma), e iii)
sintomas persistentes de excitabilidade aumentada (também ausentes antes do trauma). Cf. SADOCK, Benjamin
James; SADOCK, Virginia Alcott. Manual conciso de psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 260.
213
Ver definição de comorbidade na nota de rodapé 135.
214
BERLIM, Marcelo T.; PERIZZOLO, Juliana; FLECK, Marcelo P. A. Transtorno de estresse pós-traumático e
depressão maior. Revista Brasileira de Psiquiatria [online], v. 25, supl. 1, 2003, p. 51. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v25s1/a12v25s1.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2010.
215
BERLIM, Marcelo T.; PERIZZOLO, Juliana; FLECK, Marcelo P. A. Transtorno de estresse pós-traumático e
depressão maior. Revista Brasileira de Psiquiatria [online], v. 25, supl. 1, 2003, p. 52. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v25s1/a12v25s1.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2010.
216
NEGRI, Teixeira Luciana; FARCI, Maristela da Silva; SAMPAIO, Ana Lucia Prezio; GUIMARÃES, Liliana
Andolpho Magalhães. Transtorno por estresse pós-traumático relacionado ao trabalho. In: GUIMARÃES,
Liliana Andolpho Magalhães (Org.); GRUBITS, Sonia (Org.). Saúde mental e trabalho, vol. III. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2004, pp.119-20.
81
217
A Classificação de Schilling (1984) divide as doenças, conforme a relação que podem ter com o trabalho, em
três categorias. O Grupo I relaciona patologias que têm o trabalho como causa necessária – seriam as chamadas
doenças ocupacionais stricto sensu; o Grupo II reúne as patologias que encontram no trabalho fatores
contributivos, mas não necessários; o Grupo III, por sua vez, é reservado às patologias que são agravadas ou
despertadas pelas condições/ambiente de trabalho.
218
BUCASIO, Erika et al. Transtorno de estresse pós-traumático como acidente de trabalho em um bancário:
relato de um caso. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 27, n. 1, jan./abr., 2005, p. 87.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082005000100011&l
ng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jun. 2010.
219
“Estudos apontam que a subnotificação está relacionada a desinformação em relação aos riscos e aos aspectos
epidemiológicos e jurídicos que envolvem o acidente, a submissão dos trabalhadores às condições impostas
pelos serviços relacionados à falta de tempo para notificação e ao medo de perder o emprego, principalmente no
setor privado. A subnotificação pode relacionar-se, também, a valoração da importância dada ao registro da
Comunicação de Acidentes de Trabalho dada pelos profissionais responsáveis por essa atividade, os quais
privilegiam o cumprimento de normas burocráticas, mas não o envolvimento profissional com a questão do
acidentado, fazendo com que este fique desmotivado a notificar o acidente”. SOUSA, Jaqueline Vieira de;
CAMPOS, Luciana de Freitas. Relato de experiência quanto à orientação de conduta frente a acidentes de
trabalho com perfuro-cortantes e fluidos orgânicos. Cogitare Enfermagem, out./dez. 2008, v. 13, n. 4, p. 603.
Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/view/13124/8883>. Acesso em: 01 jun.
2010.
220
GLINA, Débora Miriam Raab et al. Saúde mental e trabalho: uma reflexão sobre o nexo com o trabalho e o
diagnóstico, com base na prática. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2001, v. 17, n. 3, p. 614.
221
A etimologia da palavra “psicossomático” é composta pelos vocábulos gregos “psyché”, “soma” e “atico”.
Cuida-se de exprimir um fenômeno que é simultaneamente ancorado na alma ou espírito e ao corpo material.
Hodiernamente, o termo identifica, grosso modo, as enfermidades ou perturbações produzidas no corpo físico
por influência psíquica. Sintomas psicossomáticos comuns incluem: palpitações, cefaleias frequentes, cansaço
crônico, crises de asma, desordens gatrointestinais (incluídas as gastrites e úlceras), dores cervicais, insônias,
hipertensão, alergias, diarreias, alterações menstruais, dentre uma infinidade de outros.
222
GLINA, Débora Miriam Raab et al. Saúde mental e trabalho: uma reflexão sobre o nexo com o trabalho e o
diagnóstico, com base na prática. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2001, v. 17, n. 3, p. 614.
82
223
BUCASIO, Erika et al. Transtorno de estresse pós-traumático como acidente de trabalho em um bancário:
relato de um caso. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 27, n. 1, jan./abr., 2005, p.87.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
81082005000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jun. 2010.
224
Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1488 de 06 de março de 1998. Disponível em:
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1998/1488_1998.htm>. Acesso em: 01 jun. 2010.
225
BUCASIO, Erika et al. Transtorno de estresse pós-traumático como acidente de trabalho em um bancário:
relato de um caso. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 27, n. 1, jan./abr., 2005, p. 86.
226
A Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 determina em seu artigo 22 que todo acidente do trabalho ou doença
profissional deverá ser comunicado pela empresa ao INSS, sob pena de multa em caso de omissão. A
Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) foi prevista inicialmente na Lei nº 5.316 de 14 de setembro de
1967, com todas as alterações ocorridas posteriormente até a Lei nº 9.032 de 28 de abril de 1995, que foi
regulamentada pelo Decreto nº 2.172 de 5 de março de 1997.
227
Gráfico elaborado a partir de estatísticas oficiais de Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs),
disponibilizadas pelo Ministério da Previdência Social (Sistema Dataprev). In: MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL. Estatísticas da Previdência Social. Disponível em:
<http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=423>. Acesso em: 09 mar. 2010.
83
Fontes dos dados: Ministério da Previdência Social. Estatísticas da Previdência Social. Disponível
em: <http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=423>. Acesso em: 09 mar.
2010.
Deste modo, para o caso das patologias pertencentes ao grupo F43, averigua-se
uma verdadeira sobreposição de tendências: de um lado o aumento do número de vítimas
anualmente atingidas devido a uma exposição progressiva aos riscos; de outro, o crescente
reconhecimento de uma demanda reprimida por décadas de subnotificação.
Em termos qualitativos, se o ambiente de trabalho pode ser protagonista no
processo de aparecimento do TEPT, também no tratamento desta patologia o entorno social
pode desempenhar uma função sobremaneira importante. Segundo Benjamin J. Sadock e
Virginia A. Sadock, professores de psiquiatria da Universidade de Nova York, “a
disponibilidade de apoio social também pode influenciar o desenvolvimento, a gravidade e a
duração do TEPT”.228Os autores esclarecem que, em geral, “pacientes com uma boa rede de
apoio social têm menos probabilidade de ter a condição e de experimentá-la em suas formas
graves, e chance de recuperação mais rápida”.229
228
SADOCK, Benjamin James; SADOCK, Virginia Alcott. Manual conciso de psiquiatria clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2008, p. 263.
229
SADOCK, Benjamin James; SADOCK, Virginia Alcott. Manual conciso de psiquiatria clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2008, p. 263.
84
230
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
195.
231
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
195.
232
O termo mobbing descreveria as relações de assédio entre adultos, no contexto ocupacional, ao passo que
bullying descreveria situação análoga, porém entre crianças, no ambiente escolar. Cf. GUIMARÃES, Liliana
Andolpho Magalhães; RIMOLI, Adriana Odalia. "Mobbing" (assédio psicológico) no trabalho: uma síndrome
psicossocial multidimensional. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online]. 2006, v. 22, n. 2, p. 184. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a08v22n2.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2010.
233
LEYMANN, Heinz. Mobbing and Psychological Terror at Workplaces. Violence and Victims, v. 5, n. 2,
Springer Publishing Company, 1990, pp. 119-26.
85
234
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral, a violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2000.
235
“A escolha do termo moral implicou uma tomada de posição. Trata-se efetivamente de bem e de mal, do que
se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em nossa sociedade. Não é possível estudar
esse fenômeno sem levar em conta a perspectiva ética ou moral”. In: HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no
trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009, p. 15.
236
HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2009, p. 17.
237
DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho na pós-modernidade. In: MENDES, Ana Magnólia (Org.);
LIMA, Suzana Canez da Cruz (Org.); FACAS, Emílio Peres (Org.). Diálogos em psicodinâmica do trabalho.
Brasília: Paralelo 15, 2007, v. 1, p. 15.
86
238
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 185.
239
DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho na pós-modernidade. In: MENDES, Ana Magnólia (Org.);
LIMA, Suzana Canez da Cruz (Org.); FACAS, Emílio Peres (Org.). Diálogos em psicodinâmica do trabalho.
Brasília: Paralelo 15, 2007, v. 1, p. 15.
240
DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho na pós-modernidade. In: MENDES, Ana Magnólia (Org.);
LIMA, Suzana Canez da Cruz (Org.); FACAS, Emílio Peres (Org.). Diálogos em psicodinâmica do trabalho.
Brasília: Paralelo 15, 2007, v. 1, p. 15.
241
“...les décompensations psychopathologiques consécutives au harcèlement ne sont pas seulement le résultat
du harcèlement lui-même, mais la conséquence d’une pathologie de la solitude (qu’on désigne souvent du nom
de pathologie de la « désolation » par allusion au concept qu’Hannah Arendt avait forgé pour son analyse du
totalitarisme)”. “...a descompensação psicopatológica em consequência do assédio não resulta exclusivamente do
assédio propriamente dito, mas sim de uma patologia do isolamento (à qual denominamos por vezes de patologia
da “solidão” em alusão ao conceito que Hannah Arendt forjou quando de sua análise sobre o totalitarismo”
(tradução nossa). Cf. DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Paris: Bayard, 2008, p. 25.
242
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pp. 528-29.
243
SOUKI, Nadia. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p. 65.
87
244
DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007, p. 23.
245
BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004, p. 112.
246
BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004, p. 113.
247
DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007, p. 23.
248
Fundamenta-se no artigo 2º da Consolidação das Leis do Trabalho que prescreve onde o legislador prescreve
que ao empregador cabe dirigir a prestação pessoal dos serviços a serem executados pelo empregado.
249
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
200.
88
250
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
198.
251
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
198.
252
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
253
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
200.
254
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
89
255
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010,
p.206.
256
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
257
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
258
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
259
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
260
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
206.
90
Nos casos em que a vítima resiste ao assédio sexual, este pode convolar-se em
assédio moral. Quando o assediador não consegue alcançar seus objetivos pode passar a
perseguir a vítima com o intuito de se vingar. A partir daí, o agressor passa a seguir a cartilha
do assédio moral, agindo de forma dissimulada e ardilosa. É o que afirma Regina Rufino:
261
RUFINO, Regina Célia Pezzuto. Assédio moral no âmbito da empresa. São Paulo: LTr, 2006, p. 67.
262
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
209.
263
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5a ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
189.
91
264
BOTEGA, Neury José. Suicídio: saindo da sombra em direção a um Plano Nacional de Prevenção. Revista
Brasileira de Psiquiatria [online], v. 29, n. 1, 2007, pp.7-8. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v29n1/a04v29n1.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2010.
265
CHACHAMOVICH, Eduardo et al. Quais são os recentes achados clínicos sobre a associação entre
depressão e suicídio? Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 31, supl. l, 2009, p. S19. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v31s1/a04v31s1.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2010.
266
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Global Burden of Disease: 2004 Update, 2008. Disponível em:
<http://www.who.int/entity/healthinfo/global_burden_disease/GBD_report_2004update_full.pdf>. Acesso em:
07 jun. 2010.
267
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Healthy workplaces: a model for action: for employers, workers,
policymakers and practitioners. WHO Press: Genebra, 2010, p. 1. Disponível em: <http://whqlibd
oc.who.int/publications/2010/9789241599313_eng.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.
268
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 175.
92
Essas pessoas não são qualquer um. Em 80% dos casos, são pessoas que se
suicidam porque são apaixonadas pelo trabalho, são pessoas que não aceitam
que maltratem a sua atividade profissional, não são pessoas que estão
afastadas do trabalho, são pessoas que estão muito próximas do trabalho, que
não aceitam mais que seu trabalho seja maltratado.273
269
VENCO, Selma; BARRETO, Margarida. O sentido social do suicídio no trabalho. Revista Espaço
Acadêmico, v. 9, n. 108, mai. 2010, p. 3. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/
EspacoAcademico/article/view/10032/5583>. Acesso em: 05 jun. 2010.
270
Passagem ao ato é uma tradução literal da expressão em francês “passage à l’acte”. Optou-se por esta por
considerarmos a riqueza que ostenta na medida em que traduz o gesto de cometer suicídio como um processo,
cujo ato derradeiro é a “passagem ao ato”.
271
Entende-se por bem conferir às tentativas de suicídio um tratamento idêntico e simultâneo ao que será dado
ao suicídio. Isto porque consideram-se a tentativa e o suicídio consumado de trabalhadores faces de um mesmo
fenômeno, ao menos do ponto de vista etiológico, uma vez que suas causas imediatas ou mediatas são as
condições ambientais de trabalho, conforme se discute no presente trabalho.
272
CLOT, Yves. A Psicologia do Trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de
Psicologia, v. 22, n. 1, jan./abr., 2010, p. 230. Disponível em:
<http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/Fractal/article/view/463/402>. Acesso em: 05 jun. 2010.
273
CLOT, Yves. A Psicologia do Trabalho na França e a perspectiva da clínica da atividade. Fractal: Revista de
Psicologia, v. 22, n. 1, jan./abr., 2010, p. 230. Disponível em:
<http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/Fractal/article/view/463/402>. Acesso em: 05 jun. 2010.
274
ENCO, Selma; BARRETO, Margarida. O sentido social do suicídio no trabalho. Revista Espaço Acadêmico,
v. 9, n. 108, mai. 2010, p. 3. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/
EspacoAcademico/article/view/10032/5583>. Acesso em: 05 jun. 2010.
93
De toda forma, forçoso é admitir que nenhum dado oficial a esse respeito será
confiável enquanto não for instaurado um regime preventivo dos riscos psicossociais nos
ambientes de trabalho. Quando não há um cuidado em proteger, também não há um cuidado
em medir. Assim sendo, enfrentar a questão das tentativas de suicídio e dos suicídios
relacionados ao ambiente de trabalho, sob a perspectiva nacional, conduz inevitavelmente a
duas hipóteses.
275
ABREU, Kelly Piacheski de; LIMA, Maria Alice Dias da Silva; SOARES, Eglê Kohlrausch; FACHINELLI,
Joannie. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas. Revista Eletrônica de Enfermagem,
v. 12, n. 1, 2010, p. 196. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/vl2/nl/vl2nla24.htm>. Acesso em: 05
jun. 2010.
276
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 198.
277
DEJOURS, Christophe; BÈGUE, Florence. Suicídio e trabalho: o que fazer? Brasília: Paralelo 15, 2010, pp.
8-9.
94
278
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
pp. 175-176.
95
279
A expressão pedra de toque é milenar. No dicionário Le Robert da língua francesa, encontramos a seguinte
significação para pedra de toque (pierre de touche): “fragmento de cerâmica utilizada para avaliar o teor de ouro
de uma liga de metal (ex jaspe preto); Fig. que mede o valor de uma pessoa ou uma coisa” (fragment de
céramique utilisé pour évaluer la teneur en or d’un alliage de ce metal (autrefois, du jaspe noir); fig. ce qui sert
à mesurer la valeur d'une personne or d’une chose). REY, Alain (Org.). Le Robert Micro: dictionnaire
d’aprentissage de la langue française. 3ª ed. Paris: LeRobert, 2008, pp. 984-985.
96
280
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. 2ª ed. São Paulo:
LTr, 2007, p. 23.
281
Em termos literais significa “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. De autoria do pensador francês Vincent
de Gournay (1712-1759), em sentido figurado.
282
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. 2ª ed. São Paulo:
LTr, 2007, p. 23.
97
No es posible que se siga creyendo que los trabajadores son mano de obra
reemplazable, una vez que se ha agotado por enfermedades o vejez. […]
Tampoco es posible que se monetarice la salud, es decir que se acepte
trabajar en condiciones insalubres por un poco más de dinero que
complemente el mísero salario devengado.283
283
MARTINEZ ALCANTARA, Susana; HERNANDEZ SANCHEZ, Araceli. Necesidad de estudios y
legislación sobre factores psicosociales en el trabajo. Revista Cubana de Salud Pública, Ciudad de La Habana,
Cuba, v. 31, n. 4, 2005, p. 343.
284
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
200.
285
MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: responsabilidades
legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de uma chance, prescrição. 4ª ed. São
Paulo: LTr, 2010, p. 34.
286
MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: responsabilidades
legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de uma chance, prescrição. 4ª ed. São
Paulo: LTr, 2010, p. 34.
98
287
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 22-
23.
288
ALVES, Marcos César Amador. Trabalho Decente sob a Perspectiva dos Direitos Humanos. In: PIOVESAN,
Flavia; CARVALHO, Luciana Paula Vaz de (Coordenadoras). Direitos humanos e direito do trabalho. São
Paulo: Atlas, 2010, p. 332.
289
Ignacy Sachs foi um dos principais teóricos do ecodesenvolvimento (termo que foi substituído pela noção
contemporânea de desenvolvimento sustentável).
290
Esta ideia é controversa. Há discussões doutrinárias em torno de opções aparentemente contraditórias, a
saber: controlar riscos versus eliminar riscos. Entendemos que o controle de riscos deve ser um continuum com
vistas sempre à sua eliminação. Contudo, considerando que se vive em uma sociedade na qual, conforme ensina
Beck, a produção de riquezas é acompanhada pela produção de riscos, acreditamos que a intervenção no meio
ambiente de trabalho deve ser no sentido de reduzir a exposição aos riscos, seja pela proteção dos trabalhadores,
seja pela atuação na fonte geradora de riscos.
99
291
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
210.
292
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
210.
293
Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 2, de 17/3/1992, ratificada em 18/5/1992, promulgada pelo Decreto nº
1254, de 19/9/1994. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT.
Convenção nº 155 – Segurança e Saúde dos Trabalhadores, 1981. Convenções da OIT. Brasília: MTE, SIT,
2002, pp. 36-38. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/seg_sau/pub_cne_convencoes_oit.pdf>. Acesso em: 22
abr. 2010.
294
Aprovada pelo Decreto Legislativo nº 86 de 14/12/1989, ratificada em 18/05/1990, promulgada pelo Decreto
nº 127, de 22/5/1991. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT.
100
A saúde mental do trabalhador foi durante muito tempo ignorada, até mesmo
pelos próprios sindicatos. A própria saúde física do trabalhador, muito mais palpável,
“permaneceu por muito tempo sem ser objeto de análise crítica por parte do Direito do
Trabalho e do Direito da Seguridade Social”.295 A bem dizer, é possível afirmar que o
ostracismo ainda persiste, vis-à-vis ao aparato legal e à tradição histórica de proteção à saúde
física do trabalhador.
Na doutrina, chama a atenção uma apreciação de Alice Monteiro de Barros. A
autora considera que “a integridade física do trabalhador é um direito da personalidade296
oponível contra o empregador”. Nesta esteira, enquanto direito da personalidade, a
integridade psíquica mereceria uma tutela apriorística, típica daquela reservada aos direitos
fundamentais, pois “devem ser respeitados, independentemente de qualquer formalismo,
positividade ou tipicidade”.297 No entanto, apesar de concordar e assim desejar, a fragilidade
que gira em torno da proteção à saúde mental do trabalhador pressupõe sejam adotados
formalismos e sanções, conforme discutido no item 4.3.1.1. Ora, mutatis mutantis, por
paralelismo de formas, arriscamo-nos em concluir que a integridade psíquica, enquanto bem
jurídico igualmente valoroso, também deveria gozar do mesmo status de proteção.298
Convenção nº 161 – Serviços de Saúde no Trabalho, 1985. Convenções da OIT. Brasília: MTE, SIT, 2002, pp.
34-35. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/seg_sau/pub_cne_convencoes_oit.pdf>. Acesso em: 22 abr.
2010.
295
FIGUEIREDO, José Guilherme Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. 2ª ed. São Paulo:
LTr, 2007, p. 19.
296
“Conceituam-se os direitos da personalidade como aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e
morais da pessoa em si e em suas projeções sociais”. GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona.
Novo curso de Direito civil, v. I: parte geral. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 182.
297
PINTO, Eduardo Vera-Cruz. Considerações genéricas sobre os direitos da personalidade. R. CEJ, n. 25,
Brasília, abr./jun. 2004, pp. 70-73. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/revista/numero25/artigo09.pdf>.
Acesso em: 18 dez. 2010.
298
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 5a ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 1063.
101
299
DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Bayard: Paris, 2008, p. 10.
300
DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale. Bayard: Paris, 2008, p. 10.
301
GLINA, Débora Miriam Raab; ROCHA, Lys Esther. Prevenção do Estresse no Trabalho. In: GLINA, Débora
Miriam Raab; ROCHA, Lys Esther (Orgs.). Saúde Mental no Trabalho: da teoria à prática. São Paulo: Roca,
2010, p. 114.
302
Tradução livre de: “Si l’analyse étiologique se penche en priorité sur l’évolution de contraintes o travail c’est
parce que c’est de là que viennent les changements délétères”. DEJOURS, Christophe. Travail, usure mentale.
Bayard: Paris, 2008, p. 10.
102
303
DEJOURS, Christophe. Nouvelles formes de servitude et suicide, Travailler, n. 13, 2005, pp. 53-73.
Disponível em: <http://www.cairn.info/load_pdf.php?ID_ARTICLE=TRAV_013_0053>. Acesso em: 05 jun.
2010.
304
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina do trabalho. 2ª
ed. São Paulo: Método, 2009, p. 134.
103
Durante muito tempo, por exemplo, tratou-se da questão dos acidentes de trabalho
como resultado, dentre outras circunstâncias, do chamado “ato inseguro”. Dessa forma, até
um passado recente, se determinado trabalhador despencava de um andaime e vinha a falecer,
a noção de ato inseguro fazia parte das explicações possíveis e aceitáveis. Em que pese a
noção de ato inseguro não ser mais empregada como termo técnico – espécie de causa ou
concausa que possa ter concorrido para acidente de trabalho – a mentalidade que o forjou
ainda está impregnada no inconsciente coletivo que lida com a saúde ocupacional em
primeiro plano: empregadores e agentes públicos.
Hodiernamente, a organização do trabalho se vale de estratégias que se
encarregam de incutir no trabalhador um sentimento de inferioridade. Estas corroboram ainda
como sustentáculos do discurso de ‘culpabilização individual’, conforme denuncia Marcelo
Augusto Finazzi Santos:
305
Tradução livre de: “...ce que l’on appelle une logique de personnalisation des problèmes, c’est-à-dire qu’elle
attribuera le problème exprimé à la personne elle-même, à sa fragilité, à sa nature, à son tempérament et ses
soucis personnels”. ROUAT, Sabrina; LAURENT, Philippe. Approche psychomedicale. In: GRASSET, Yves
(Org.); DEBOUT, Michel (Org.). Risques psychosociaux au travail: vraies questions, bonnes réponses. Paris:
Editions Liaisons, 2008, pp.109-110.
104
306
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 186.
307
MERLO, Álvaro Roberto Crespo. Suicídios na France Télécom: as consequências nefastas de um modelo de
gestão sobre a saúde mental dos trabalhadores. Porto Alegre: Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho –
UFRGS, 2009, p. 4. Disponível em: <http://direitoetrabalho.com/2010/04/dossie-sobre-os-suicidios-na-france-
telecom/>. Acesso em: 04 jun. 2010.
308
MERLO, Álvaro Roberto Crespo. Suicídios na France Télécom: as consequências nefastas de um modelo de
gestão sobre a saúde mental dos trabalhadores. Porto Alegre: Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho –
UFRGS, 2009, p. 4. Disponível em: <http://direitoetrabalho.com/2010/04/dossie-sobre-os-suicidios-na-france-
telecom/>. Acesso em: 04 jun. 2010.
309
VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia; IGUTI, Aparecida Maria; ALMEIDA, Ildeberto Muniz. Culpa da
vítima: um modelo para perpetuar a impunidade nos acidentes do trabalho. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 20, n. 2, mar./abr., 2004, pp. 570-579.
310
DOUGLAS, Mary. Risk acceptability according to the social sciences. New York: Rusell Sage Foundation,
1985.
311
VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia; IGUTI, Aparecida Maria; ALMEIDA, Ildeberto Muniz. Culpa da
vítima: um modelo para perpetuar a impunidade nos acidentes do trabalho. Cadernos de Pública, Rio de Janeiro,
v. 20, n. 2, mar./abr., 2004, pp. 570-579.
312
VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia; IGUTI, Aparecida Maria; ALMEIDA, Ildeberto Muniz. Culpa da
vítima: um modelo para perpetuar a impunidade nos acidentes do trabalho. Cadernos de Pública, Rio de Janeiro,
v. 20, n. 2, mar./abr., 2004, pp. 570-579.
105
313
SANTOS, Marcelo Augusto Finazzi. Patologia da solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova
organização do trabalho. Brasília, 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade de Brasília,
p. 185.
314
LANCMAN, Selma. Apresentação. In: LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal (Orgs.). Christophe
Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília:
Paralelo 15, 2008, p. 32.
106
315
SATO, Leny; BERNARDO, Márcia Hespanhol. Saúde mental e trabalho: os problemas que persistem.
Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, Dec. 2005, p. 876. Disponível em: <http://www.
scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000400011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24
mai. 2010.
316
PAUGAM, Serge. O enfraquecimento e a ruptura dos vínculos sociais: uma dimensão essencial do processo
de desqualificação social. In: SAWAIA, Bader (Org.), As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética
da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 78.
317
HALLACK, Fernanda Sansão; SILVA, Cláudia Osório da. A reclamação nas organizações do trabalho:
estratégia defensiva e evocação do sofrimento. Psicologia &.Sociedade, Porto Alegre, v. 17, n. 3, dez. 2005.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822005000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 dez. 2010.
318
Estudo de caso realizado em uma empresa metalúrgica com base em observações, conversas informais,
levantamento de documentos e entrevistas confrontativas com 20 operários. Constatou-se a presença marcante,
nos modos de compreensão dos chamados ‘atos inseguros’(ATs), da Teoria dos Dominós e a predominância das
explicações pelos atos inseguros, sustentadas pela naturalização dos riscos e por práticas institucionalizadas de
difusão. OLIVEIRA, Fábio de. A persistência da noção de ato inseguro e a construção da culpa: os discursos
sobre os acidentes de trabalho em uma indústria metalúrgica. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São
Paulo, v. 32, n. 115, 2007, pp. 19-27.
107
319
DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, pp. 139-
140.
320
DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. 7ª ed . Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 139.
108
321
FENSTERSEIFER, Tiago; SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e mínimo existencial
(ecológico?): algumas aproximações. In: SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e direitos
fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 12.
322
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. Saúde mental para e pelo trabalho. Revista LTr nº 67, ano 6, p. 670,
junho de 2003.
109
323
COMPARATO, Fabio. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 535-536.
110
324
VIEIRA, Liszt. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 90.
325
COELHO, Rodrigo Meirelles Gaspar. Proteção Internacional dos Direitos Humanos: a Corte Interamericana
e a implementação de suas sentenças no Brasil. Curitiba: Juruá, 2007, p. 198.
326
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, p. 189. Disponível em:
<http://dx.doi .org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
327
LANCMAN, Selma. Apresentação. In: LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal (Orgs.). Christophe
Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Brasília:
Paralelo 15, 2008, p. 29.
328
SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 66.
111
329
PRATES, Jane Cruz; ABREU, Paulo Belmonte de; CEZIMBRA, Leda. A mulher em situação de rua. In:
BULLA, Leonia Capaverde (Org.); MENDES, Jussara Maria Rosa (Org.); PRATES, Jane Cruz (Org.). As
múltiplas formas de exclusão social. Porto Alegre: Fundação Internacional de Universidades Católicas -
Edipucrs, 2004, p. 167.
330
MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá,
2010, p. 178.
331
COMPARATO, Fabio. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 537.
332
COMPARATO, Fabio. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2007, p.537-538.
112
A destituição dos direitos ou, no caso brasileiro, a recusa de direitos que nem
mesmo chegaram a se efetivar significa também a erosão das mediações
políticas entre o mundo social e as esferas públicas, de tal modo que estas se
descaracterizam como esferas de explicitação de conflitos e dissenso, de
representação e negociação; é por via dessa destituição e dessa erosão, dos
direitos e das esferas de representação, que se ergue esse consenso que
parece hoje quase inabalável, de que o mercado é o único e exclusivo
princípio estruturador da sociedade e da política, que diante de seus
imperativos não há nada a fazer a não ser a administração técnica de suas
exigências, que a sociedade deve a ele se ajustar e que os indivíduos, agora
desvencilhados das proteções tutelares dos direitos, podem finalmente
provar suas energias e capacidades empreendedoras.333
333
TELLES, Vera da Silva. Direitos Sociais: afinal do que se trata? Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, pp.186-
187.
334
COMPARATO, Fabio. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 537-538.
335
“Política de Estado” é um conceito que se opõe a “Política de Governo”. Política de Estado é aquela que está
institucionalizada de uma tal forma que perpassa as diversas administrações (em nível federal, estadual e
municipal). As políticas de governo, a seu turno, são aquelas que como o próprio nome diz estão intimamente
ligadas ao programa de um determinado governo (federal, estadual e municipal).
336
BIANCHETTI, Lucídio. O espectro tomou conta da academia. Informandes Online, Brasília-DF, pp. 1-3, 23
out. 2007. Disponível em: <http://www.adufpa.org.br/detalha_noticia.php?id=190>. Acesso em: 05 dez. 2010.
337
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, pp. 189-212. Disponível em:
<http://dx. doi.org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
338
John Ruggie é professor de Relações Internacionais e Diretor do Centro Mossavar-Rahmani de Empresas e
Governo da Kennedy School of Government da Harvard University. É professor associado de Direito
113
A tríade “Proteger, Respeitar e Reparar” proposta por John Ruggie341 tem por
foco combater as violações de direitos humanos perpetradas por empresas em um contexto
nacional e internacional. O autor argumenta que, enquanto proliferam medidas e esforços que
não atingem uma escala significativa, persiste a necessidade de uma regulação capaz de fazer
frente aos desafios expostos, uma vez que os Estados e as empresas continuam a “voar abaixo
do radar”, para usar uma expressão que ele mesmo cunhou.342
Internacional da Harvard Law School e é o Representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para
Empresas e Direitos Humanos.
339
O desafio de seu mandato, enquanto representante especial, consistiu em identificar, esclarecer e investigar as
dimensões legais e políticas da agenda dos direitos humanos naquilo que é afetada pelo mundo dos negócios.
Assim, o relatório, cujos resultados são discutidos no presente capítulo, veicula opiniões e recomendações as
quais foram submetidas ao Conselho para considerações.
340
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, p. 192. Disponível em:
<http://dx.doi. org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
341
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, spring 2008, v. 3, n. 2, pp. 189-212. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
342
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, p. 190. Disponível em:
<http://dx.doi. org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
114
343
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, pp. 189-212. Disponível em:
<http://dx. doi.org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
344
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, pp. 189-212. Disponível em:
<http://dx. doi.org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
115
345
RUGGIE, John. Protect, Respect and Remedy: A Framework for Business and Human Rights. Innovations:
Technology, Governance, Globalization. MIT Press, v. 3, n. 2, spring/2008, p. 196. Disponível em:
<http://dx.doi. org/10.1162/itgg.2 008.3.2.189>. Acesso em: 01 mar. 2010.
346
PIOVESAN, Flavia. Direitos sociais, econômicos e culturais e direitos civis e políticos. Sur, Revista
Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v. 1, n. 1, 2004. Disponível em:
<http://www.surjournal.org/conteudos/artigos1/port/artigo_flavia.htm>. Acesso em 23 jul. 2010.
116
347
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
212.
117
É bem verdade que o trabalho mantém o trabalhador afastado de sua casa durante
a maior parte do dia, e, assim sendo, impõe-se o respeito ao seu bem-estar. Os trabalhadores
permanecem produtivos e ativos por décadas, mas, ao tempo da aposentadoria, o que se
observa é que a saúde nem sempre fica preservada. Infelizmente, esta é uma conta que vem
sendo paga pela sociedade e não por aqueles que se beneficiam de processos que mediata ou
imediatamente causam ou concorrem para a ocorrência de danos.
348
FRANCISCO, José Carlos. Função regulamentar e regulamentos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 8.
118
4.3.1 O problema da proteção normativa insuficiente: por que devem ser regulamentados os
riscos psicossociais no trabalho?
349
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 371. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
350
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
195.
351
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
195.
119
Conforme leciona Patrick Guyomard, “pode acontecer que uma lei existente não
seja humana, porque o que é legal se opõe, às vezes, ao que, por outro lado, em outro
registro, é considerado humano”.352 E completa:
[...] nessa oposição entre a Lei e as leis. Não se trata apenas de considerar
que as leis são insuficientes e que é preciso melhorá-las, para que cheguem
ao nível da Lei. Há aí uma tensão, uma crise, entre esses dois tipos de
referência, que se manifesta, por exemplo, no âmbito jurídico, na diferença
entre o que se chama habitualmente de direito natural e direito positivo, mas
que se manifesta também em todos os campos das ciências humanas, de uma
maneira ou de outra.353
Contudo, caso não se opere uma contínua e adequada atualização do que sejam
práticas corretas e, principalmente, medidas preventivas obrigatórias, no ambiente de
trabalho, começam a se instalar hiatos cujo potencial ofensivo é muito alto. É alto porque o
bem jurídico atingido é muito importante: a saúde do trabalhador não é um custo aceitável. E
esse custo não é financeiro, pois, por mais que nosso sistema previdenciário fosse
superavitário – o que sabe-se que não é – ainda assim tratar-se-ia de custo inaceitável.
Infelizmente, o direito brasileiro, sendo monopólio estatal, coloca o Estado como
portador do que Dejours denominou de tolerância para com violações à saúde no ambiente de
trabalho. É pesaroso, mas necessário reconhecer que a tão necessária atualização das Normas
Regulamentadoras não vem ocorrendo a contento. E isto é especialmente verdade quando se
trata dos riscos psicossociais existentes no meio ambiente do trabalho. São estas brechas, que
na verdade correspondem em diversos casos a largos espaços, que permitem com razoável
margem de manobra que atos criminosos, como a tortura psicológica no ambiente de trabalho,
não sejam qualificados como tal.
O conceito de “riscos psicossociais no trabalho” não guarda uma intimidade
considerável com o meio jurídico brasileiro. De certa forma, há uma lacuna no direito
brasileiro, e sobretudo no direito social. Isto porque a maneira como este fenômeno
estreitamente afeto ao meio ambiente do trabalho é tratado em outras disciplinas demonstra a
discrepância existente em relação ao direito, em termos de profundidade de análise.
352
GUYOMARD, Patrick. A Lei e as leis. In: ALTOÉ, Sônia. A Lei e as leis: Direito e Psicanálise. Rio de
Janeiro: Revinter, 2007, p. 4.
353
GUYOMARD, Patrick. A Lei e as leis. In: ALTOÉ, Sônia. A Lei e as leis: Direito e Psicanálise. Rio de
Janeiro: Revinter, 2007, p. 4.
120
Al día de hoy es cada vez más difícil encontrar autores que no hayan visitado
algún aspecto de los riesgos psicosociales, bien atendiendo a todos ellos o a
alguna clase en particular de los mismos; bien aludiendo a su incidencia en
general; bien con visión preventiva, reparadora, o sancionadora; bien
buscando el análisis en la doctrina judicial, en el tratamiento convencional o
en los criterios del Tribunal Supremo de Justicia.354
354
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 374. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 Jun. 2010.
355
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
195.
356
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
209.
121
¿Por qué deben ser estudiados y legislarse sobre los factores psicosociales en
el trabajo?. El estudio de esta temática y sobre todo su regulación en las
diferentes legislaciones a nivel mundial, ha venido cobrando relevancia en la
última década y sin lugar a dudas se corresponde con la necesidad de dar
respuesta a fenómenos que se evidencian como complejos y novedosos. Las
consecuencias de los factores psicosociales y su estudio en estos momentos,
es una respuesta al impacto que la globalización, como fenómeno económico
y social, ha tenido en todos los ámbitos de la vida y donde el mundo del
trabajo no ha sido la excepción.357
357
MARTINEZ ALCANTARA, Susana; HERNANDEZ SANCHEZ, Araceli. Necesidad de estudios y
legislación sobre factores psicosociales en el trabajo. Revista Cubana de Salud Pública, Ciudad de La Habana,
Cuba, v. 31, n. 4, 2005, p. 338.
358
O Poder Judiciário exerce o controle da legalidade dos atos administrativos. Isto significa dizer que não
apenas os atos cuja competência é vinculada, mas também os de competência discricionária serão avaliados pelo
Judiciário, quando levados ao seu conhecimento a respeito de itens como competência do agente, motivação e
finalidade da medida e objeto sobre o qual o ato tem influência. Em verdade, o poder discricionário do agente
administrativo, qualquer que seja ele, sempre terá como teto um ou mais dispositivos legais, sendo o mais
importante deles a Constituição Federal. Para usar uma expressão popular, o poder discricionário não é um
“cheque em branco”.
122
A relação entre saúde mental e ambiente do trabalho atingiu uma proporção tal
que não pode mais escapar ao controle estatal e em última análise ao Direito propriamente
dito.
Em que pese o Direito ser uma ciência social, antes de ser aplicada, é patente a
existência de uma séria dificuldade de diálogo entre a ciência jurídica e as diversas disciplinas
e demais ciências humanas. Isto se reflete na formação de graduação e pós-graduação em
Direito no Brasil. Nesse contexto, não seria exagero dizer que inexistem no Brasil análises
suficientemente densas, sob a ótica jurídica, a respeito dos riscos psicossociais no trabalho.
A proteção normativa insuficiente impede que se recorra ao Poder Judiciário para
obtenção de providências concretas. Não se pode exigir do Judiciário, tampouco transferir ao
mesmo uma responsabilidade que não lhe cabe. ‘Legislar’ sobre meio ambiente do trabalho
por meio de sentenças torna-se particularmente complicado, especialmente quando se pensa
na difícil tarefa de estabelecer um nexo causal entre os riscos psicossociais no trabalho e os
transtornos mentais. Seria a solução invocar a todo momento um perito?
Quando o Estado é omisso por um tempo muito longo, as convulsões que se
formam no meio social acabam encontrando alguma válvula de escape, ainda que esta solução
não seja a melhor. Expressões pejorativas como ‘ativismo judicial’ e ‘judicialização das
políticas públicas’ tornaram-se lugar-comum e demonstram o caráter polêmico assumido pela
359
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
180.
360
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
209.
123
Chega a ser absurdo pensarmos que não há prevenção no que concerne aos riscos
psicossociais, mas que há cobertura previdenciária. Em termos objetivos, seria como se o
Estado, sabendo de uma nova epidemia, começasse a indenizar as famílias das vítimas sem
que este esforço se fizesse acompanhado da adoção de políticas públicas de prevenção.
361
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
212.
362
LUIZ, Olinda do Carmo; COHN, Amélia. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cadernos de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006, p. 2341. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006001100008&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
363
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
212.
124
364
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n.3, 2009, p. 383. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
125
365
Asamblea Nacional (2005). Ley Orgánica de Prevención, Condiciones y Medio Ambiente de Trabajo. Gaceta
Oficial nº 38236. Venezuela.
366
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 369. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
126
As medidas tendentes a assegurar direitos humanos [...] têm que fazer parte
das políticas de Estado e não meramente das políticas de governo, marcadas
pela descontinuidade, pois tais políticas precisam se sedimentar para serem
capazes de acelerar o processo de mudança cultural essencial para que uma
sociedade seja, de fato, inclusiva.367 (destaques em itálico são originais)
367
BARUKI, Luciana Veloso R. P.; BERTOLIN, Patrícia Tuma M.; DIAS, Vivian Christina S. F. Migrantes
clandestinos na região central de São Paulo: a inclusão perversa. In: BOGGIO, Paulo Sergio; CAMPANHÃ,
Camila. Família, Gênero e inclusão social. São Paulo: Memnon, 2009, p. 117.
368
SCOTT, Patricia Anne. Ergonomics in developing regions: needs and applications. Boca Raton: CRC Press,
2009, p. 438.
127
intervenção junto aos riscos psicossociais, conforme indica o item iii) (item 2.1.1 deste
trabalho). Esta situação implica frustração tanto para o Auditor Fiscal do Trabalho, quanto
para o trabalhador que resta relegado à sua própria sorte e a um sofrimento que por vezes é
invisível e, quando exprimido, desqualificado.369
Sobre aludida questão, a interpretação que se faz da responsabilidade que resulta
de comportamento passivo é muito bem ilustrada pelo que em 1903 Hans Jonas denominou
“situações em que a indiferença é claramente impossível”, ou o que é negado ou ignorado se
torna uma apreciação negativa, de desqualificação do evento-problema.
O autor elogia aqueles que ao menos não se aventuram em uma paradoxal e
ilusória ideia de neutralidade pela indiferença, e se permitem um propósito, em detrimento de
não ter nenhum e de não fazer nada. Segundo Jonas, mencionado propósito, em um primeiro
momento, nada mais é do que uma intuição que acena sobre o conceito formal do que é certo
e do que “deve ser”.370
O Estado não pode eximir-se de funções que lhe são precípuas. E certamente, uma
das mais importantes destas funções é garantir “uma vida saudável com qualidade ambiental,
o que se apresenta como indispensável ao pleno desenvolvimento da pessoa e ao
desenvolvimento humano no seu conjunto”.371 Um esforço de regulamentação é condizente
com questões fundamentais que encontram respaldo tanto no plano político, quanto no
econômico.
369
A respeito, conferir: DROUET, Jean-Baptiste. Les maltraitances invisibles. Les nouvelles violences morales.
Paris: Le Cherche midi, 2008; BARBOSA-BRANCO, Anadergh. Saúde mental e trabalho: um problema quase
invisível. Brasília, Correio Brasiliense, 16 nov. 2003.
370
Tradução livre de: “Since indifference is clearly not possible here (what is denied becomes a negative value),
at least he who does not embrace the paradox of a purpose-denying purpose must concur in the proposition that
purpose as such is its own accreditation within being, and must postulate this as an ontological axiom. Now, it
follows already analytically from the formal concept of the good-in-itself that, whenever this first, self-validating
good happens, in any of its individuations, to come under the custody of a will, it addresses an "ought" to this
will. And the content of this first good (and at the same time the recognition of its rooting in reality) is nothing
else than what is affirmed in that first axiomatic intuition: the superiority of purpose as such over
purposelessness”. JONAS, Hans. The imperative of responsibility. In Search of an Ethics for The Technological
Age. USA: The University of Chicago: 1984, p. 80.
371
FENSTERSEIFER, Tiago; SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e mínimo existencial
(ecológico?): algumas aproximações. In: SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e direitos
fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 12.
128
[…] creemos que es necesario que se reformen las distintas leyes que
regulan la vida laboral, con una visión preventiva y que reconozca el
conjunto de síntomas, molestias y trastornos ocasionados por el trabajo, pero
ignorados en la legislación. Entre otros deberían de aparecer los trastornos
del sueño, los cuales no son ningún secreto para los trabajadores que rotan
turno o tienen un trabajo nocturno, pero tampoco son secreto para ningún
empresario. Diversos trastornos psicosomáticos, por ejemplo úlceras,
migrañas e incluso el infarto del miocardio que nuestra legislación reconoce
pero como accidente de trabajo siempre y cuando suceda en el centro
laboral, también deben ser reconocidos por la legislación como
enfermedades profesionales ocasionadas por el trabajo y no esperar a que
imposibiliten la realización de las actividades para atenderlos.372
372
MARTINEZ ALCANTARA, Susana; HERNANDEZ SANCHEZ, Araceli. Necesidad de estudios y
legislación sobre factores psicosociales en el trabajo. Revista Cubana de Salud Pública, Ciudad de La Habana,
Cuba, v. 31, n. 4, 2005, p. 343.
373
FENSTERSEIFER, Tiago; SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e mínimo existencial
(ecológico?): algumas aproximações. In: SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e direitos
fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010, p. 12.
374
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 382. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
129
375
No caso da saúde ocupacional, nos parece ser fundamental que, para toda obrigação relativa a medicina e
segurança do trabalho, exista uma penalidade correspondente ao seu descumprimento. Isto porque a norma desta
natureza, sem uma penalidade associada, traduz-se em mero conselho. Atualmente, o valor das multas aplicadas
pela inspeção do trabalho é, em geral, muito baixo. Isto é verdade para as infrações à legislação trabalhista
stricto sensu e também para as infrações às Normas Regulamentadoras. O valor pedagógico e o poder inibitório
dos autos de infração lavrados pela inspeção do trabalho estão sobremaneira comprometidos, especialmente
quando se trata de empregadores cuja capacidade econômica é mais elevada. Outro aspecto que enfraquece as
normas de proteção ao trabalho, no que diz respeito à fiscalização de seu cumprimento pelos Auditores Fiscais
do Trabalho, é o fato de que o trâmite processual das multas é demasiado lento. Assim sendo, a legislação que
protege a saúde e o patrimônio do trabalhador tende a revelar-se, de fato, um mero conselho.
376
O Poder Judiciário é pautado por diversos princípios e o princípio da “inércia da jurisdição” (também
conhecido por “iniciativa da parte”) figura dentre os mais característicos. Por este princípio tem-se que o Estado
só exercerá a atividade jurisdicional se ele for devidamente provocado por uma ação. O fundamento legal se
encontra no artigo 2º do Código de Processo Civil que traz a seguinte redação: “Nenhum juiz prestará a tutela
jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais”. Referido princípio é
excepcionado tão somente quando se trata de inventário, situação prevista no artigo 989 do Código de Processo
Civil, em que é facultado ao juiz agir de ofício, isto é, sem provocação.
377
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010,
pp. 209-210.
130
Por mais que sejam possíveis releituras, mais condizentes com a dignidade
humana, dentre outros princípios fundamentais de nosso ordenamento, a operacionalização de
um tal regime deve passar necessariamente por um esforço de regulamentação apropriada,
capaz de absorver o estado da arte das pesquisas científicas sobre o tema. Por fim, a
necessidade de enforcement carecerá ser desenvolvida, uma vez que, para as situações já
regulamentadas, o descompromisso dos empregadores ainda é muito grande.
É preciso, portanto, inserir “a proteção do ambiente na teia normativa construída
a partir dos direitos (e deveres) fundamentais, do princípio da dignidade (da pessoa
humana), assim como dos demais princípios [...] de um Estado Socioambiental”.
Por fim, nunca é demais registrar que não é ambição deste trabalho propalar a
ideia de que os regulamentos resolverão todos os problemas existentes entre as leis e a Leis,
sobretudo quando se cuida da saúde mental e sua relação com o trabalho. No entanto, é
preciso que se firme um consenso de que, sem a regulamentação e um tratamento normativo
condigno, qualquer esboço de regime jurídico preventivo não passará de um esboço.
José Carlos Francisco recorda que “as constituições estruturam a sociedade e o
Estado, são elas que primeiro acolhem e dão forma jurídica às transformações reveladas
pela realidade”. A seu turno, “a absorção dessas modificações está evidenciada na
elaboração periódica de novos ordenamentos constitucionais, bem como por interpretações
construtivas e de concretização do seu conteúdo”. 378
Dizem que é melhor prevenir do que remediar. Melhor ainda seria impedir
que o problema que leva à prevenção ocorresse. O primeiro caso é chamado
de prevenção secundária, o segundo, de prevenção primária. A prevenção
terciária envolve tentar implementar a contenção de dano depois de ocorrido
o problema para evitar que aquele se agrave
378
FRANCISCO, José Carlos. Função regulamentar e regulamentos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 8.
131
Os operadores do direito, de modo geral, têm plena noção de que “os pilares e as
bases fundamentais para a construção do direito à saúde mental já estão fixados, permitindo
desde agora a sua aplicação”.380 E se a Constituição de 1988 previu expressamente o direito
à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança,
“conjugando essa previsão com o preceito do art. 196, pode-se concluir que também a saúde
mental é direito do trabalhador e dever do empregador”.381
Instrumentos normativos que legitimam o direito à saúde mental do trabalhador
existem em larga proporção. Cite-se a título exemplificativo o Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, internalizado em nosso país pelo Decreto
Legislativo nº 226/1991, e promulgado pelo Decreto nº 591/1992. No artigo 12-1 encontra-se
a previsão de que “os Estados-partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa
de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental”.
Ocorre que, nem só de princípios sobrevive a ordem jurídica, mas também de
regras – o que no caso não se tem. Nesse contexto, torna-se sobremaneira custoso e até
mesmo frustrante para o Magistrado olhar os princípios basilares do ordenamento, e, depois
de olhar a situação concreta, reconhecer um problema jurídico cuja solução escapa-lhe às
mãos. Esta frustração também é compartilhada por Auditores Fiscais do Trabalho que
379
ÁLVAREZ BRICEÑO, Pedro. Los riesgos psicosociales y su reconocimiento como enfermedad ocupacional:
consecuencias legales y económicas. Telos – Revista de Estudios Interdisciplinarios en Ciencias Sociales, v. 11,
n. 3, 2009, p. 383. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/9 93/99312516006.pdf >. Acesso em:
02 jun. 2010.
380
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
210.
381
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
210.
132
somente podem autuar com base em um ementário, sendo que, o que lá não está previsto, em
princípio, não se pode contestar.
As questões, na prática, não são nada simples, assim como nunca foram com o
benzeno, com o amianto. Nesse sentido, é essencial que se tenha uma regulamentação que
reflita o estado da arte, de modo a encontrar respostas para indagações como:
382
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
209.
383
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
209.
384
Tradução livre de: “La sécurité et la santé ‘physique’ au travail impliquent des mesures de prévention
technique dont la nature est déterminée, de façon plus ou moins précise, par la réglementation”. FERNANDES,
Antonio Monteiro. Les possibilités de mobilisation en droit portugais. In: LEROUGE, Loïc (Org.). Risques
psychosociaux au travail: Étude comparée Espagne, France, Grèce, Italie, Portugal. Paris: L'Harmattan, 2009,
p. 169.
133
trabalho”, o qual foi utilizado pela própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em um
dado momento. Atualmente, o artigo 154 do texto consolidado fala em “segurança e medicina
do trabalho” estando, portanto, mais adequado ao que pretende denotar.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 7°,
inciso XXII, assegurou o direito à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança”.385 Nesse sentido, as Portarias do Ministério do
Trabalho e Emprego, relativas à “segurança e medicina do trabalho”, têm a missão precípua
de integrar referido comando constitucional, dando-lhe a necessária capilaridade para atingir
situações em concreto.
Referidas Portarias são as chamadas Normas Regulamentadoras (NRs). Elas
foram introduzidas pela Portaria nº 3214/1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
São destinadas a desempenhar “o relevante papel de estabelecer condições que assegurem a
saúde e a segurança do trabalhador, prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a
sua higidez física e mental no âmbito das relações de labor”.386
A propósito das NRs da Portaria nº 3214/1978, é relevante destacar que possuem
eficácia jurídica análoga à das leis ordinárias, pois foram editadas por força de delegação
normativa prevista nos artigos 150 e 200, do mesmo diploma, que assim dispõem:
385
Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 20 nov. 2010.
386
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina do trabalho. 2ª
ed. São Paulo: Método, 2009, p. 22.
387
Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares às normas de que trata
este Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre:
(Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
I - medidas de prevenção de acidentes e os equipamentos de proteção individual em obras de construção,
demolição ou reparos; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
II - depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis, inflamáveis e explosivos, bem como trânsito e
permanência nas áreas respectivas; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
III - trabalho em escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, sobretudo quanto à prevenção de explosões,
incêndios, desmoronamentos e soterramentos, eliminação de poeiras, gases, etc. e facilidades de rápida saída dos
empregados; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
IV - proteção contra incêndio em geral e as medidas preventivas adequadas, com exigências ao especial
revestimento de portas e paredes, construção de paredes contra-fogo, diques e outros anteparos, assim como
garantia geral de fácil circulação, corredores de acesso e saídas amplas e protegidas, com suficiente sinalização;
(Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
V - proteção contra insolação, calor, frio, umidade e ventos, sobretudo no trabalho a céu aberto, com provisão,
quanto a este, de água potável, alojamento profilaxia de endemias; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
134
VI - proteção do trabalhador exposto a substâncias químicas nocivas, radiações ionizantes e não ionizantes,
ruídos, vibrações e trepidações ou pressões anormais ao ambiente de trabalho, com especificação das medidas
cabíveis para eliminação ou atenuação desses efeitos limites máximos quanto ao tempo de exposição, à
intensidade da ação ou de seus efeitos sobre o organismo do trabalhador, exames médicos obrigatórios, limites
de idade controle permanente dos locais de trabalho e das demais exigências que se façam necessárias; (Incluído
pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
VII - higiene nos locais de trabalho, com discriminação das exigências, instalações sanitárias, com separação de
sexos, chuveiros, lavatórios, vestiários e armários individuais, refeitórios ou condições de conforto por ocasião
das refeições, fornecimento de água potável, condições de limpeza dos locais de trabalho e modo de sua
execução, tratamento de resíduos industriais; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
VIII - emprego das cores nos locais de trabalho, inclusive nas sinalizações de perigo. (Incluído pela Lei nº
6.514, de 22.12.1977)
Parágrafo único - Tratando-se de radiações ionizantes e explosivos, as normas a que se refere este artigo serão
expedidas de acordo com as resoluções a respeito adotadas pelo órgão técnico. (Incluído pela Lei nº 6.514, de
22.12.1977)
388
Na época da edição das referidas Portarias não existia a Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), como se
tem hoje. Na verdade, existiam duas secretarias: a Secretaria de Fiscalização do Trabalho – hoje transformada
em departamento (DEFIT) – e a Secretaria de Saúde e Segurança do Trabalho, que também seguiu a mesma
sorte (DSST).
389
No mesmo sentido, menciona-se, a título exemplificativo, as ADIs de nº 996, 360-7, 1.258, 1.388, 1.670,
1.946 e 3.398.
135
Outro aspecto que merece ser discutido é o fato de que, por força do mandamento
do artigo 200, da CLT, a delegação da competência ao Ministério do Trabalho significou mais
do que, à primeira vista, poderia se pensar. Na verdade, o Ministério do Trabalho e Emprego
(denominação atual da pasta) possui o que a doutrina denomina de reserva regulamentar, em
oposição à reserva legal. Significa dizer que o órgão tem exclusividade para emitir
regulamentos relativos à segurança e à medicina do trabalho. José Carlos Francisco explica
que
390
FRANCISCO, José Carlos. Função regulamentar e regulamentos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 315.
391
FRANCISCO, José Carlos. Função regulamentar e regulamentos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 212.
136
392
Sociologia, Psicologia, Medicina, Teoria das Organizações.
393
Com redação dada pela Portaria SSST nº 25, de 29 de dezembro de 1994 (NR-9), a qual alterou a referida
norma pela última vez.
394
Nos termos definidos pela CLT (art, 2º e 3º).
395
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
137
396
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
397
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
398
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
399
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
138
compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas
de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores”.400
A NR-9 também incluiu entre tais agentes aqueles que “pela natureza da
atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele
ou por ingestão”.401 Por fim, sobre os agentes biológicos a norma diz serem “as bactérias,
fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros”.402 Ora, ao lado dos riscos
físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidente, os riscos psicossociais constituem
riscos epidemiológicos ambientais de origem ocupacional.
A qualidade do meio ambiente de trabalho transcende os aspectos químicos,
físicos ou biológicos a este relacionados. Deve-se adotar uma visão holística, que se preste a
contemplar as múltiplas dimensões da vida social. A segurança e saúde no trabalho é uma
disciplina que é afetada por uma série de variáveis que circundam o mundo do trabalho.
400
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
401
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
402
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf>. Acesso em: 22
nov. 2010.
139
CONCLUSÃO
provam o quanto a questão está avançada do ponto de vista médico e psicossocial. A fonte
dos problemas está portanto identificada. Os riscos psicossociais no trabalho não são uma
invenção, não são uma novidade e é preciso que o direito se dê conta disso.
Esclarecidas as bases da abordagem psicossocial dos riscos ocupacionais, não
restam dúvidas sobre seu caráter emergente. Na verdade, comprovou-se que os riscos
psicossociais no trabalho, embora não sejam recentes, apresentam-se atualmente sob uma
nova dimensão. Eles estão em franca expansão e funcionam como precursores de problemas
cujo ônus econômico e social não encontram precedentes. Estas características estão
intimamente relacionadas com o recrudescimento do processo de globalização da economia e
dos mercados, de modo que se verifica um padrão de comportamento similar. Não se trata de
uma problemática exclusiva da realidade brasileira. O fenômeno é, pois, sistêmico e
transnacional.
Desse modo, as mudanças pelas quais passaram as organizações – bem como as
mudanças pelas quais NÃO passaram alguns Estados nacionais como é o caso do Brasil –
aparecem como principais responsáveis pela deterioração do meio ambiente do trabalho e
pelo crescimento alarmante de transtornos mentais entre os trabalhadores. Isto ficou evidente
a partir do mergulho realizado em um pequeno recorte da realidade de adoecimento psíquico
em função do trabalho. Ao tratar das patologias em aumento, sob uma divisão didática,
percebeu-se o quão sérios e complexos são os problemas de saúde mental relacionados ao
trabalho que de forma virulentamente democrática atingem também os mais capacitados e
mais competentes.
O espectro sob o qual o sofrimento psíquico se manifesta vai desde problemas
psicossomáticos até as patologias de sobrecarga (disfunções musculoesqueléticas, karoshi,
burnout ou simplesmente stress), patologias pós-traumáticas, relacionadas ao assédio, à
depressão e ao suicídio. Infelizmente, a riqueza de detalhes e de manifestações assumidas
pelo sofrimento mental faz com que a gravidade do problema fique, aparentemente, diluída. O
fato de as pessoas responderem de formas diferentes, ou mesmo de os problemas associados
aos riscos psicossociais no trabalho se apresentarem sob formas diferentes, faz com que eles
pareçam pulverizados e observados de forma apartada, como se fossem resultado de causas
distintas.
Enquanto não forem reconhecidos os riscos psicossociais como tais, os problemas
psíquicos relacionados ao trabalho continuarão a não serem vistos como formas de expressão
141
Social, seja junto ao Judiciário, as pessoas que já estão psicologicamente doentes ou que
morreram em decorrência de transtornos mentais adquiridos por conta do trabalho acabam
sendo duplamente punidas, vez que a falta de regulamentação faz com que aqueles que não
são os responsáveis pela falta de regulamentação cruzem os braços diante dos problemas.
Ainda que o médico perito do INSS ou o magistrado do trabalho tentem atuar de maneira
mais incisiva, encontrarão consideráveis dificuldades devido à dificuldade de fundamentação
de suas decisões.
Logo, a regulamentação dos riscos psicossociais mostrou-se verdadeira pedra de
toque no quadro conceitual da prevenção, pois dela depende até mesmo a justiciabilidade de
direitos que não são facilmente arguíveis em sede de reclamações trabalhistas. Até mesmo as
condutas compensatórias e repressivas – que de certa forma funcionam como mecanismos
pedagógicos e inibitórios de novos casos, portanto preventivos – não funcionam a contento,
privadas de dispositivos mais concretos, no que diz respeito à prevenção dos riscos
psicossociais no meio ambiente do trabalho.
Restou comprovado que o direito à proteção da saúde mental no meio ambiente
do trabalho ostenta uma natureza dúplice: ao mesmo tempo em que é parte do direito à saúde,
enquanto direito fundamental, enquanto direito da personalidade é também parte do direito ao
meio ambiente do trabalho sadio, adequado e equilibrado. A natureza de “direito do cidadão
trabalhador” talvez exprima de forma mais sensata a riqueza envolvida no conceito de saúde
mental do trabalhador, pois é um direito individual e, ao mesmo tempo, um direito coletivo, é
uma obrigação do empregador, mas deve ser garantido, viabilizado e fiscalizado pelo Estado.
Este é, em última análise, o responsável pela efetividade ou não do direito à saúde mental no
trabalho.
Destarte, sendo o direito ao trabalho e o direito à saúde intrínsecos ao conceito de
cidadania, pois não se pode conceber um cidadão sem o pleno acesso e gozo de tais direitos, a
obsolescência das normas de preservação à higidez do trabalhador representa um grave óbice
à atuação do Estado na sua missão precípua de contribuir com a fixação das bases para uma
cidadania plena do brasileiro.
As conclusões deste estudo não poderiam resumir-se aos problemas da falta de
regulamentação adequada, enquanto verdadeiros empecilhos que são para a emancipação do
trabalhador, do cidadão, do ser humano que tem direito a ter direitos. Tratar somente disto
deixaria a questão no mundo das coisas ideais – o que certamente não é o caso. Ora, a
143
fiscalização do Estado falhar, não conseguindo prevenir danos, devem ser assegurados aos
trabalhadores vítimas de sofrimento psíquico os meios adequados para que lhes sejam dadas a
justa e devida reparação.
Por todo o exposto, insistimos em reforçar que a principal conclusão deste estudo
é de que a proteção normativa insuficiente contra os riscos psicossociais no trabalho funciona
como um verdadeiro óbice para um regime jurídico preventivo. Por esta razão, urge serem
regulamentados os riscos psicossociais no trabalho. Esta medida é a pedra de toque no quadro
jurídico da prevenção, sem a qual, conforme dito no corpo deste texto, qualquer tentativa de
prevenção não será mais do que uma investida inócua e estéril.
Acredita-se ter restado claro e evidente que o problema se tornou grande demais
para ser ignorado, de modo que é preciso partir dos princípios para a regulamentação sobre
riscos psicossociais no trabalho. Regras são tão necessárias quanto princípios, pois se tomados
isoladamente a força dos mesmos é reduzida a ponto de serem inaplicáveis. A regra não se
sustenta sem o princípio e o princípio não consegue alcançar a realidade concreta senão por
meio das regras. E isto é essencial para fundamentar qualquer política pública de Estado sobre
um dado tema. No caso da saúde mental do trabalhador, o problema se inscreve no mundo dos
fatos como uma pandemia, um verdadeiro problema de saúde pública, merecendo, portanto, o
necessário arcabouço teórico para que, do ponto de vista jurídico, venha a legitimar ações
preventivas do Estado.
Em prol da cidadania, é preciso desenvolver em nossa sociedade um sentimento
de “intolerância” para com as injustiças de um modo geral e para com as injustiças
relacionadas ao meio ambiente do trabalho de modo específico. Também é necessário
requalificar o sofrimento mediado pelo trabalho, mormente o intangível, afeto aos “bens da
alma” – aqui utilizado o termo em oposição a “bens externos” e “bens do corpo” contidos na
Encíclica Rerum Novarum.403 Isto porque restou comprovado que, além de serem muitas
vezes invisíveis, as dores da alma são igualmente alvo de lamentáveis preconceitos. Estes
somente contribuem para que um problema que pertence ao direito ambiental do trabalho
continue subestimado e mal compreendido sob um discurso de verdade que culpabiliza
individualmente as vítimas, pessoas tidas como fracas e responsáveis por seus infortúnios.
403
Em português significa “Das Coisas Novas”. Trata-se de uma encíclica escrita por sua santidade – o então
Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, sobre a condição dos operários. Surgiu como um complemento a outros
manifestos elaborados durante seu papado (Diuturnum, sobre a soberania política; Immortale Dei, sobre a
constituição cristã dos Estados e Libertas, sobre a liberdade humana) – todos parte do que se convencionou
chamar Doutrina Social da Igreja.
145
resolução pressupõe uma mudança de postura, pois neste estágio não há mais espaço para a
ingenuidade. E é assim que encerro, otimista e esperançosa de que o Direito-técnica seja
eventualmente abandonado, dando lugar ao Direito-arte, reconciliando-se com as demais
ciências, para cuidar dos indivíduos que hoje se encontram relegados à própria sorte.404
O ordenamento jurídico precisa ter efetividade e concretude, notadamente no que
diz respeito aos direitos fundamentais. A regulamentação acerca da exposição aos riscos
psicossociais no trabalho mostrou-se uma ‘lacuna de governança’ cujo preenchimento é pré-
requisito para um regime jurídico preventivo em saúde mental ocupacional. Há um óbice
insuperável em relação ao controle dos riscos psicossociais no meio ambiente do trabalho por
parte do Judiciário, quando provocado, bem como pelo Ministério Público e outros órgãos
imbuídos em maior ou menor extensão da missão de vigiar e fiscalizar as condições
ambientais em que atuam os trabalhadores.
Seja pela complexidade, delicadeza ou sofisticação, o fato é que um regime
jurídico preventivo à saúde mental do trabalhador carece de um formato e de um conteúdo
próprio por parte de nosso ordenamento, notadamente no que diz respeito ao seu conteúdo
mais técnico que urge ser regulamentado. É preciso portanto tratar os riscos psicossociais com
o respeito que o tema merece, isto é: a partir da requalificação do sofrimento. O Estado tem
enorme papel na desconstrução do discurso que legitima a “culpabilização individual”. Isto
porque, à medida que ele não se “intromete” no assunto está relegando a questão ao plano
privado, ao mesmo tempo em que legitima um discurso cruel, excludente e indecente.
404
Convivemos hoje com situações tão teratológicas cuja solução de tão óbvia passa a ser ignorada. Um exemplo
é a questão da interrupção da gravidez, quando o feto é anencefálico. Ora, existem estudos mais do que
suficientes que comprovam que este tipo de gestação não precisa ser levada adiante. A segurança do diagnóstico
e a simplicidade do exame necessário, a certeza da letalidade em 100% dos casos, os riscos para a saúde da
gestante, a impossibilidade de aproveitamento dos órgãos para transplante, a necessidade de legislação que
garanta o exercício profissional e a não obrigatoriedade de interrupção da gravidez foram consenso entre os
cientistas que apresentaram estudos, estatísticas e laudos médicos para defender a antecipação terapêutica do
parto nos casos de Anencefalia, debatida em audiência pública no Supremo Tribunal Federal nos dias 26 e 28 de
agosto de 2008. Se a mulher deseja por quaisquer razões levar a gravidez adiante é um direito que ela tem. Mas
se a mulher não deseja concluir uma gestação que só lhe trará sofrimentos por que ela deveria ser obrigada a
fazê-lo? O bem jurídico tutelado não é, em última análise, a vida? Como se falar em bem jurídico quando não há
vida? Certamente há aí o descumprimento de um preceito fundamental, conforme a belíssima argumentação
declinada na Arguição de Descumprimento Fundamental (com pedido de Medida Liminar) nº 54, ajuizada em
17/06/2004 e assinada pelo eminente constitucionalista Luís Roberto Barroso.
147
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