Pedagogia 5Cs
Pedagogia 5Cs
Pedagogia 5Cs
Resumo
1
Doutora em Educação pela Universidade de Lisboa. Professora das Licenciaturas e do PPGENT - UNINTER. E-
mail: [email protected]
2
Mestranda do PPGENT – UNINTER. Professora da Rede Municipal de Ensino de São José dos Pinhais. E-mail:
[email protected]
3
Mestranda do PPGENT – UNINTER. Professora da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. E-mail:
[email protected]
4
Mestrando do PPGENT – UNINTER. Professor do Centro Universitário de União da Vitória - UNIUV. E-mail:
[email protected]
ISSN 2176-1396
13142
Introdução
sociedade global publicou o documento “Um Guia do Educador para os Quatro Cs (4C)". Por
4C, a instituição considerou que a colaboração, a comunicação, a criticidade e a criatividade
são alicerces chave para a qualidade e efetividade das competências de alunos e de professores.
Pois bem, ao confrontar as quatro bases de Pozo (2002) sobre a aprendizagem e as quatro
da NEA para a sociedade global, percebemos que seria interessante ainda mais um confronto
para a corroboração da literatura. Assim, como objetivo principal é conhecer o que os
professores das escolas da educação pensam sobre isso. Para tal, entrevistamos, portanto, trinta
professores de duas escolas da região de Curitiba, Paraná, uma pública e uma privada, para
saber como podem e se é possível trabalhar para promover: o trabalho colaborativo; o trabalho
criativo, o pensamento crítico, o trabalho comunicativo e, ainda, se tais atuações fazem com
que suas aulas passem a ser boas aulas.
Os 4C e a prática docente
Apesar dos 4Cs serem apontados como algo novo, todos os itens já foram explorados
pelos docentes em algum momento da sua formação ou de sua prática, certo? Certo. Contudo,
o que muda é como os vemos atualmente, o que eles significam para uma escola que está
inserida em uma sociedade com as informações chegando de forma veloz de todos os lados e
pelos mais diferentes meios.
A exemplo dessa compreensão, podemos que não se trata de aprender a usar tecnologia
digital, é sobre criar com novos recursos. É entender que mais do que nunca, os professores
precisam ser protagonistas do processo da aprendizagem que é promovida em âmbito
educacional, deixando de ser consumidor e transmissor de conteúdos.
Ao falar sobre isso, é preciso termos em conta que as salas de aula do século XXI não
são apenas lugares com e para a tecnologia digital, podem ser para isso, mas elas são, sobretudo,
sobre aprendizagem de forma inovadora. Afinal,
É sabido que com o advento da internet doméstica no final do século XX e com sua
expansão avassaladora nos últimos dezessete anos, é inevitável que isso não seja repassado para
a escola. E, ao mesmo tempo, desenvolver por meio delas a competência comunicativa.
Em 2005, Castells afirmou que uma das principais competências do ser humano do
terceiro milênio seria o trabalho em redes. Pelo qual podemos, assim, considerar que a
comunicação se estabelece como critério do conhecimento expandido e em âmbito educacional
capaz de superar a relação falante-ouvinte, maior-menor, quem só sabe-quem só aprende para
construir ambientes de trocas, de inter-relações, de aprendizagem mútua e de resiliência
individual e coletiva por meio dos apoios que dai surgirão.
E se a comunicação (digital) muda a maneira das pessoas agirem e organizarem
processos, ainda no conceito de aprendizagem docente em rede, torna-se relevante analisarmos
a base da colaboração. Afinal, assim como a comunicação, a colaboração envolve mais do que
apenas os alunos que trabalham lado a lado, ela envolve ações de interação, de apoio, de
participação mútua. E, por mais que os meios digitais intensifiquem, a colaboração é inerente a
forma como o trabalho é realizado em nossa sociedade, pois “hoje é impossível um único ser
humano dominar todo o conhecimento, todas as habilidades. Trata-se de conhecimento
coletivo” (LEVY, 2009).
Vários estudiosos e autores têm enfatizado a importância de colaboração. O autor
Surowiecki (2005), por exemplo, explicou como usamos a “sabedoria das multidões” na nova
economia, dizendo que sob as circunstâncias corretas, os grupos são mais potentes e, muitas
vezes, são mais inteligentes do que as pessoas mais inteligentes neles. E porque isso ocorre?
Estaria relacionado com o famoso provérbio africano “se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir
longe, vá em grupo”? Não apenas, é preciso compreender que em perspectiva de ruptura de
paradigmas tecnicistas, nos dias atuais o conhecimento é construído em comunidades, as quais
podem ser on line/digitais, nas quais todas as partes envolvidas tenham, verdadeiramente,
respeito sobre a opinião das outras pessoas.
Não podemos deixar de enfatizar o papel das mídias para tal procedimento. Ora, todos
somos constantemente incentivados a fazer conexões, afinal a expressão cultura participativa
contrasta com noções antigas sobre passividade, apatia, inércia dos estudantes (FAVA, 2014).
Pois bem, sabemos que o docente deve ser flexível e agente colaborador, valorizando as
diferentes visões de mundo, mas como valorizar e saber o que é relevante para ser aprendido?
Para esta questão, entre o terceiro “c”, a criatividade. No mundo com uma decorrência
tão intensa global, o pensamento criativo está se tornando requisito chave para o sucesso pessoal
13145
e profissional. Sobre a competência criativa, Robinson (2006), disse que a “criatividade é tão
importante na educação como alfabetização e devemos tratá-la com o mesmo status”.
Quando falamos de criatividade, não queremos criar algo para uma audiência fechada,
mas sim para uma audiência global. É importante refletir sobre “o modo como os professores
poderão induzir mais criatividade como alicerce para a capacidade de elaborar e avaliar ideias
para que elas possam ser ampliadas e maximizadas, fazendo sentido para realidade da escola e
da vida” (WOODS, 1999, p. 127). Para isso, é importante conhecer metodologias que a
estimulem a criatividade, nas quais uma ideia inicial criada seja ampliada continuamente por
outros de um mesmo grupo.
Ao termos claro que a comunicação, a colaboração e a criatividade são fundamentais
para o trabalho do docente inovador, é finalmente significativo percebermos que o pensamento
crítico do mesmo é, no contexto atual, um conjunto de princípios que permite “enfrentar os
imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das
informações adquiridas ao longo do tempo” (MORIN, 2002, p. 16).
Entretanto, o objetivo na sociedade do conhecimento é, certamente, estimular o
pensamento crítico, permitindo a superação do discurso singular, respeitando o seu contexto de
vivência e suas experiências anteriores para estimular a reflexão em prol da orientação em busca
do desenvolvimento de soluções para dilemas concretos por meio de exercícios de
argumentação e reflexão crítica.
Sob tal ótica de Gatti (2010) em seus estudos acerca dos problemas e características da
prática docente, verificou alguns pontos frágeis, entre esses a ausência de se abordar saberes
relacionado à articulação para dinamizar e intensificar o processo de aprendizagem, não apenas
como um embasamento que substitui outra.
Assim, vemos que a realidade da prática docente é outra, o aluno hoje espera por aulas
diferentes. É perceptível a importância da inovação do fazer pedagógico por parte do professor
em suas aulas (CANDAU, 2005), com o objetivo de despertar nos alunos o interesse pelos
conteúdos trabalhados, e consequentemente deixando a aula mais atrativa, fazendo com que a
aprendizagem se torne algo prazeroso para os alunos, levando para o cotidiano escolar algo que
faz parte do cotidiano do aluno. Pois, como escreveu Castells (2005, p. 197) para a
“transformação ter lugar, terão que ocorrer muitas mudanças nas instituições, corpos
reguladores e pontos de vista do mundo dos envolvidos”.
13146
Metodologia
de “temos que aprender a aprender com a diversidade de opiniões. É preciso aprendermos como
unir o que cada um conhece, o que cada um sabe, para então ultrapassar o conceito que trabalho
em equipe docente é organizar a festa do dia das mães. Eu vejo que é muito mais que isso”
(PEFI 27).
Com este depoimento é possível perceber que deve ser mobilizado, por meio de ações
contextualizadas, tratando de uma nova perspectiva em torno de currículo, mais inovador no
sentido de intensificar o significado que o mesmo traz perante o conteúdo a ser apresentado,
mais globalizado, mas sem perder o foco na realidade onde os professores estão inseridos
profissionalmente.
Sobre a questão da comunicação, a pesquisa trouxe respostas em direção “a síntese do
conjunto de mensagens e estilo de interação social que deve conhecer e utilizar para um
adequado encontro com outros sujeitos e comunidades” (RIVILLA, 2010, p. 22), fato este
enfatizado pelos professores participantes, afinal “sabemos falar, sabemos escrever, ensinamos
os alunos a fazerem isso, mas e agora com tantos aplicativos de celular? Eu não sei como eu
posso ensinar meu aluno a comunicar-se de forma eficiente com estes aparelhos” (PEFI 18).
Existe uma necessidade destacada neste item ao que se refere a qualidade desta comunicação,
pois “agora os alunos não querem só falar com seus pais, com os professores, com os amigos
da escola, eles querem mais, eles querem falar com pessoas dos EUA, que são os youtubers que
falam dos jogos que eles gostam, por exemplo” (PEFI 18).
É da competência comunicativa que acontece a interação e o compartilhar de ideias.
Não há mais distância e hora para transmitir uma informação, fazer uma solicitação, encontrar
algo que necessite. Tudo é instantâneo. E a escola como está avançando em relação à
comunicação?
Sobre este tema, Mosé (2013) falou que o grande desafio da escola atual é que seus
professores lidar com estudante na era digital, defendendo a ideia de que poderiam ser mais
efetivas perante a preocupação de onde se detém o conteúdo, agora, é a internet, as redes sociais.
Portanto, sabemos que o professor não precisa saber de tudo, mas estar atualizado para
orientar os estudantes e juntos construírem uma estrutura efetiva de conhecimento científico,
afinal “comunicar é refletir, é organizar, é promover um elo entre pessoas, que podem estar
perto ou longe, que são diferentes, com gostos distintos” (PEFI 22). Mas como podemos fazer
isso sem virar senso comum absoluto” (PEFI 14)? “Como fazer que a comunicação entre
professor e aluno seja uma comunicação escolar e não de divulgação de notícias on line” (PEFI
25)?
13148
Ora, se já percebemos que é tarefa dos docentes instigar a capacidade de reflexão. Entra,
assim, a próxima categoria analisada, a criticidade, ou seja, a argumentação e para que “fazer a
gestão apropriada do que se vê e aprende” (PEFI 15). Vimos que para os entrevistados, o
aprender a ser crítico está intensamente relacionado com a reflexão, com a autonomia e com a
responsabilidade, sempre de uma forma mais contextualizada para ações futuras, “para saber o
que se passa ao nosso redor é preciso refletir criticamente sobre como os fatos chegam até nós
e como isso não interfere só em nossa vida, mas em nossa comunidade” (PEFI 30). A escola
precisa, portanto, avançar em todos os sentidos, passar a ver o estudante como um ser integral,
como cita uma das professoras entrevistadas, “trabalhar dentro de uma visão holística,
promovendo as potencialidades de cada aluno, incentivando-os a ter mais responsabilidade
pessoal e coletiva” (PEFI 02).
Os docentes acreditam que para promover o pensamento crítico é necessário se
reconhecer como sujeito participante da sua história, “gerar oportunidade para a construção
argumentos para emitir sua opinião” (PEFI 06). É, inclusive, “superar a visão que ser crítico é
promover debates e levantar polêmicas para instigar as discussões e levantar dúvidas” (PEFI
08), fazendo com que os agentes educacionais “se posicionem com diversos pontos de vista”
(PEFI 09).
Duas professoras, ainda, colocaram sobre a reflexão crítica necessária referindo-se à
utilização de recursos digitais: “O trabalho crítico em sala de aula deve integrar conhecimentos
acadêmicos com aspectos dá atualidade, por exemplo, estimular estudantes a terem uma visão
crítica em relação a televisão, filmes, mídia escrita e falada” (PEFI 07) e é “a partir das reflexões
feitas de situações do cotidiano, como: propaganda de revistas, TV, alguns desenhos animados,
etc.” (PEFI 02) que é possível transformar os achismos em unidades acadêmicas/escolares.
Esta discussão torna-se pertinente quando há uma grande quantidade de informações
chegando, como já descrito, de diferentes formas até a escola. É pertinente verificar a
fidedignidade das mesmas, só podemos trabalhar com conceitos “confiáveis, de várias
perspectivas, sim, mas confiáveis para tomar decisões” (PEFI 09).
É fundamental trabalhar para desenvolver o pensamento crítico para enfrentar os
desafios de um tempo em que as verdades não são mais absolutas. É por meio dos
questionamentos, no levantamento de dúvidas que o levaremos a pesquisar para construir novos
conceitos.
A última categoria analisada refere-se ao trabalho criativo. Os entrevistados relacionam
o trabalho criativo, com a inspiração, com a qualidade e com a diversidade de atividades, em
13149
especial para a promoção de momentos para se expressar nas diversas linguagens e liberdade
para usar a imaginação.
Um ponto interessante é a relação que os entrevistados fizeram com a criatividade como
base para a inovação, os quais consideraram que para haver inovação é preciso de ideias
criativas, que “podem ser desenvolvidas e trabalhadas dentro da escola” (PEFI 10), mas de
forma que faça sentido para a prática cotidiana.
Lembramos Woods (1999) quando exemplificou que os professores que pensavam que
estavam sendo criativos, mas na realidade tinham atitudes comodistas. Ele afirmou que “um ato
criativo leva a resultados, não a bloqueios e consequentemente algo é transformado. Cria um
produto, neste caso a aprendizagem dos alunos” (WOODS, 1999, p. 132).
Portanto, desenvolver a criatividade é, sem dúvida, apoiar na transformação da sua
realidade. Ser protagonista nestas situações requer responsabilidade tanto quanto ser
consumidor.
Para que um novo fazer escolar seja instaurado, de forma a introduzir um trabalho com
alternativas eficientes para as especificidades sociais da atualidade, com muitas informações,
muitos recursos digitais e acesso fácil e constante a conteúdos, na qual já se analisa não só a
internet, mas a internet das coisas e para as coisas, vimos que é preciso pensar em atividades
que sejam significativas para os envolvidos.
Podemos considerar que a expressão mais expressiva da pesquisa é que não basta ter
recursos interessantes na escola, é preciso saber usar em seus planejamentos e nas suas ações.
E, ao considerar esta afirmação, consideramos que, por meio dos resultados obtidos neste
estudo, existe um possível cenário que pode ser considerado em pesquisas e formações futuras
para professores da Educação Básica na realidade paranaense e brasileira, o que aqui chamamos
de “AÇÕES 4C para a realidade do professor brasileiro”, o qual explicitado na figura1:
13150
CRITICIDADE CRIATIVIDADE
• motivAÇÃO • motivAÇÃO
• representAÇÃO • representAÇÃO
COLABORAÇÃO
• motivaAÇÃO
• representAÇÃO
Fonte: Os autores.
articulação busca abrir um caminho a novas relações, com materiais, com o próprio contexto,
com outros contextos, com seus companheiros de aprendizagem de todos os envolvidos no
processo.
E com conhecimento adquirido pelo professor, de forma mais motivadora e
representativa, os alunos podem reconhecer seus saberes, analisando os desafios das escolas em
nível mais amplo. E não irão constituir, assim, ações pontuais, mas planos, programas e projetos
capazes de orientar e de fornecer os meios pelos quais passaram, com histórias de vida,
necessários ao alcance dos objetivos.
Nesta linha, tais situações 4C a serem promovidas podem sugerir que não aprenda de
única forma, impondo uma coerência ao pensar em ações logicamente coordenadas para dirigir
a aprendizagem do aluno para uma criticidade na sua aprendizagem.
Verificamos, portanto, que cabe a cada docente perceber, entender e aplicar sobre
refletir sobre os objetivos propostos, em sua globalidade, para dar base ao todo; - analisar a
situação do ‘como’, ‘com quem’ e ‘onde’ se realizará a aprendizagem; - partir do concreto,
pensando como usar da melhor forma recursos e novos conceitos perante a realidade que se irá
encontrar na escola; - pensar em um ensino mais variado, afinal a rotina já se mostrou má
companheira do processo de formação docente, pois a mesma nunca é encontrada na escola
posteriormente.
REFERÊNCIAS
CANDAU, Vera Maria (Org.). Reinventar a escola. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
FAVA, R. Educação 3.0: Aplicando o PDCA nas instituições de ensino. São Paulo:
Saraiva, 2014.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
NEA. Preparing 21st Century Students for a Global Society: An Educator’s Guide to the
“Four Cs”. Disponível em: http://www.nea.org/assets/docs/A-Guide-to-Four-Cs.pdf. Acesso
em: 25 maio 2017.
POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e Mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre:
Artmed Editora, 2002.
ROBINSON, Ken. Do schools kill creativity? Palestra. TED Talks. Monterey, CA,
2006. Disponivel em:
http://www.ted.com/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html. Acesso em: 05
maio 2017.