ETica e Responsabilidade Social

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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

1- ÉTICA
É o campo do conhecimento que discute as questões de apreciação e
avaliação do comportamento humano do ponto de vista do bem e do mal,
relativamente ao indivíduo, sua interação com o grupo social e, em especial
para o objeto deste artigo, sua atuação nas organizações.
O termo ética vem do grego “ethiké” e, de acordo com Chiavenato,
“constitui-se de um conjunto de valores e princípios morais que definem o
certo ou errado para uma pessoa, grupo ou organização. O comportamento
ético acontece quando a organização encoraja seus membros a
comportarem-se eticamente de maneira que os companheiros aceitem e
sigam tais valores e princípios. Em termos amplos, a ética preocupa-se com
o comportamento: é uma obrigação considerar não apenas o bem-estar
pessoal, mas também o das outras pessoas”.
A ética lida com a aprovação ou reprovação de um determinado
comportamento em relação ao chamado “comportamento ideal”, que
normalmente é estabelecido, entre as pessoas envolvidas, por meio de um
código de conduta.

1.1 Códigos de Ética


Os códigos de ética são conjuntos de normas de conduta específicos de
determinados grupos ou indivíduos. Há diversos códigos de ética, como por
exemplo: dos médicos, dos propagandistas, dos militares, dos políticos, de
um dado partido político, dos jornalistas, de um grupo social, de uma
corrente filosófica ou doutrinária (como a ética do capitalismo ou a ética
protestante), ou até mesmo de uma só pessoa.
Podem ser explícitos, como no caso dos médicos, que fazem juramento
de tudo fazer para assegurar a sobrevivência das pessoas diante das mais
adversas situações; ou implícitos, como a “obrigação” que sentem os
motoristas de avisar aos “colegas”, por meio de sinais de farol, que há um
comando policial fiscalizando aquela estrada. Ou ainda, o marido traído.
Todos sabem: vizinhos, amigos e até parentes próximos, mas ele não.
Sempre será o último a saber.
Segundo Chiavenato, “a ética influencia todas as decisões dentro da
organização. Muitas organizações têm o seu código de ética como uma
declaração formal para orientar e guiar o comportamento de seus parceiros.
Para que o código de ética encoraje decisões e comportamentos éticos das
pessoas são necessárias duas providências:
I- As organizações devem comunicar o seu código de ética a todos os
seus parceiros, isto é, às pessoas dentro e fora da organização.
II- As organizações devem cobrar continuamente comportamentos
éticos de seus parceiros, seja através do respeito aos seus valores
básicos, seja através de práticas transparentes de negócios”.

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Códigos de ética fazem parte do sistema de valores que orienta o


comportamento das pessoas, dos grupos, das organizações e seus
administradores.
A noção do que vem a ser ético, as decisões pessoais e organizacionais
tomadas em todos os níveis, refletem os valores vigentes na sociedade
naquele momento.
A prática de utilizar determinados recursos em programas de televisão,
como no caso em que são mostradas deformidades físicas ou pessoas em
situação constrangedora, é condenável pelas próprias emissoras. No
entanto, em nome da audiência, continuam a utilizá-los.
Segundo Stoner, a ética na administração abrange quatro níveis ou
categorias:
a) Social - presença, papel e efeitos das organizações na
sociedade
É justo os executivos ganharem o equivalente a dezenas de salários dos
trabalhadores operacionais?
Pode-se aceitar a influência das empresas nas decisões governamentais
ou participarem da escolha de políticos e dirigentes, por meio de
financiamento de campanhas?
b) Stakeholder - influência das organizações sobre as pessoas e
instituições que sofrem diretamente seus efeitos
Tem a empresa a obrigação de informar sobre os riscos de seus
produtos para o consumidor?
Como devem ser as relações de funcionários com os usuários?
Tem a empresa obrigações perante a comunidade, os fornecedores e
distribuidores, ao decidir sobre o fechamento de uma unidade fabril?
c) Política Interna - abrangência das relações da organizações
com seus funcionários
Quais são as obrigações da empresa com seus funcionários e que tipo
de compromisso pode exigir deles?
Qual o impacto sobre a força de trabalho das decisões sobre redução de
produção ou desativação de operações?
Que participação os funcionários devem ter na tomada de decisões que
afetem a empresa?
d) Individual - maneira como as pessoas devem tratar umas às
outras
Quais as obrigações e direitos que as pessoas têm como seres humanos
e trabalhadores?
Quais as obrigações em relação aos empregadores, funcionários e
colegas?

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Que normas de conduta devem orientar as decisões que envolvem ou


afetam outras pessoas?

1.2 Ética relativa


A abordagem da ética relativa reconhece que as circunstâncias
influenciam a definição dos valores e do comportamento socialmente
aceitável.
Será certo ou errado pedir ao restaurante uma nota fiscal em valor
superior ao real, para prestar contas à empresa e embolsar a diferença? E se
a empresa estimular esse comportamento, para promover uma espécie de
pagamento adicional não tributado? E quando um vendedor faz a oferta do
produto por um preço menor, caso o comprador não exija nota fiscal,
promovendo a sonegação?
Acreditar que esses comportamentos são corretos, porque têm alguma
justificativa lógica, é a perspectiva da ética relativa. A idéia da ética relativa
estabelece que é correto avançar os sinais vermelhos de trânsito a altas
horas da noite, porque o risco de assalto nos cruzamentos justifica esse
comportamento.
Da mesma forma, seria justificável utilizar estratagema ilícito porque
um filho está doente, e, na verdade, os fins justificam os meios.

1.3 Ética absoluta


De acordo com a idéia de ética absoluta, determinados comportamentos
são intrinsecamente errados ou certos, seja qual for a situação, e devem
sempre ser apresentados e defendidos como tal.
Um problema sério da ética absoluta é que a noção de certo ou errado
depende de opiniões. Por exemplo: os bancos suíços construíram uma
reputação de confiabilidade com base na preservação do sigilo sobre suas
contas secretas. Sob a perspectiva da ética absoluta, para o banco, o correto
é proteger a identidade e o patrimônio do cliente.
Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados por essa ética,
até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis. Traficantes
de droga, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas contas
secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram
insistindo em sua política, enquanto aumentavam as pressões
internacionais, especialmente dos países interessados em rastrear a
lavagem de dinheiro das drogas, ou recuperar o que havia sido roubado
pelos ditadores e nazistas.
Para as autoridades desses países, a ética absoluta dizia que o sigilo era
intrinsecamente errado, uma vez que protegia dinheiro obtido de forma
desonesta, prática inaceitável. Finalmente, as autoridades suíças
concordaram em revelar a origem dos depósitos e iniciar negociações
visando à devolução do dinheiro para seus donos.

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1.4 Ética e Competivididade


A ética influencia o processo corporativo de tomar decisões para
determinar quais são os valores que afetam seus parceiros e definir como os
administradores podem usar tais valores no cotidiano da organização.
Assim, a ética constitui um elemento catalisador de ações socialmente
responsáveis da organização através de seus administradores e parceiros.
Administradores éticos alcançam sucesso a partir de práticas
administrativas caracterizadas por eqüidade e justiça. Sem ética, as
organizações não podem ser competitivas.
Ética e competitividade são inseparáveis. Nenhuma organização pode
competir com sucesso em um contexto em que as pessoas procuram
enganar umas às outras, tentando aproveitar-se de situações.
Isso exigiria que as ações tivessem que ser confirmadas a cada decisão,
porque não se acredita nas pessoas. Cada disputa acaba nos tribunais e os
negócios não são honestos. Um sistema de competição do qual todos
querem participar sem medo presume valores de confiança e justiça.

2 - NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DO EGO


Um dos maiores desafios do ser humano é aumentar seu nível de
consciência, possibilitando atuar de forma mais madura, lúcida e equilibrada.
As organizações interessam-se muito por essa característica nas pessoas.
Organizações são teia de relacionamentos. Como afirma Deming, pai da
qualidade no Japão, tudo que um sistema produz tende a se perder na
interface (quando tem de passar de uma base para outra).
Se nossos relacionamentos são marcados pela competição, pela
discórdia, pelo desejo de levar vantagem, como fazer para a riqueza que
produzimos prosperar? É um problema de base, que envolve ampliar a
inteligência emocional das pessoas.
Os níveis de consciência segundo a psicóloga Jane Loevinger são:

I - IMPULSIVO
Baixo nível de consciência, sendo-lhe indiferente o correto do
impróprio, o honesto do safado, o altruísta do espertalhão, a luz da sombra
e assim por diante. Se ele joga, por exemplo, papel no chão, isso lhe é
indiferente, pois não conhece o desajuste do seu ato.
II- AUTOPROTETOR
Trata-se do indivíduo que, num segundo nível, mas ainda com
baixa consciência, não consegue se perceber como um ser holístico e
integrado. Vê-se de forma separada, imaginando que se tirar vantagem para
si, não importa o que venha a acontecer com os outros. Ele está preocupado
se receberá alguma sanção e se perceber que não corre perigo, agirá
baseado unicamente em seus próprios interesses.
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III- CONFORMISTA
Trata-se de pessoa que, embora se sinta contrariada com a
norma, objetivo, conduta ou relacionamento, sente-se constrangida em
contra argumentar, optando por resignar-se. Faltam-lhe assertividade,
firmeza e auto-estima para um posicionamento adulto. Assim, o indivíduo
opta pela omissão e submissão. Embora não tenha clareza do porquê, no
nosso exemplo, joga o papal no lixo.
É importante que você tenha claro o seguinte: a norma é uma
trilha, não um trilho. Ela foi feita para ajudá-lo, para simplificar sua vida. Se
o efeito é o contrário, rediscuta, reexamine, proponha novas alternativas.
Saia do plano do choro, passe para o plano da ação.
IV- CONSCIENTE
Tem clareza do que, quem, porque, como, quando e onde. Além
de jogar o papel no lixo, sugere que se faça coleta seletiva, discute a
utilização do lixo como combustível e fertilizante, etc.
V- AUTÔNOMO
No nível mais elevado de consciência, Loevinger vislumbra o
indivíduo com um raciocínio elaborado, uma visão crítica desenvolvida.
Assim, pode até deixar o papel cair no chão se precisar ajudar a uma criança
que teima em atravessar a rua. Ou seja, nesse nível, o indivíduo está pronto
até mesmo para transgredir a norma, se houver um valor maior que lhe
ampare. Neste caso, a limpeza pública sucumbiu ante ao valor da proteção à
vida.

OBS. – Texto de Hamilton Bueno disponível no site:


www.ilcbrasil.com.br

3- ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO MORAL


O sistema de valores é dinâmico, sendo alterado conforme a evolução
da própria sociedade. Em algum momento, valores éticos antigos irão
conviver com outros, mais novos e avançados.
Assim, pode ocorrer que determinado grupo prefira prestar obediência
aos valores mais avançados, enquanto que outros grupos prefiram ficar com
os valores ditos ultrapassados.
O fato é que o mundo evoluiu e as organizações, por meio de seus
administradores, precisam fazer opções, estabelecendo o seu próprio
sistema de valores, o que serve como referencial a todas as pessoas que ali
passem a trabalhar.
Torna-se necessário identificar em que nível de desenvolvimento moral
os funcionários da organização estão para poder atuar no sentido de propor
novos valores, a partir da determinação de missão, do estabelecimento dos
objetivos e da estratégia organizacional, que levem à evolução moral dos
relacionamentos e tomadas de decisão.

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Lawrence Kohlberg propôs uma escala com três níveis ou estágios de


valor, denominados Estágios de Desenvolvimento Moral, dentro dos quais
encontraríamos todos os possíveis perfis de comportamento humano.

3.1 Estágio pré-convencional


Neste estágio, a ética é essencialmente individualista ou egoísta. Não
há regras comuns aceitas. Os indivíduos ou grupos agem muito mais
motivados pela busca do prazer pessoal, ou interesse do grupo a que
pertencem, do que por qualquer outro padrão de conduta. São indicativos
desse estágio os seguintes princípios de conduta:
- Cada um por si (não há regras)
- O negócio é levar vantagem em tudo
- Os outros que se danem
- O mundo é dos espertos (vale a lei do mais forte)

3.2 Estágio convencional:


Neste estágio, a ética continua sendo individualista, no entanto, as
regras de conduta são elaboradas considerando-se o relacionamento de uma
pessoa ou grupo com outras pessoas ou grupos, as expectativas dos
componentes envolvidos em relação aos seus pares, e os prejuízos e
vantagens em cada relação.
Assim, o receio da punição pelo comportamento incorreto e a busca de
recompensas passam a conviver com a busca de satisfação pessoal,
característica do estágio anterior. As pessoas e grupos ainda agem movidos
pelo interesse pessoal, mas dentro dos limites e restrições impostos pelos
interesses alheios, seja porque lhes é conveniente atendê-los, seja porque
receiam não atendê-los. É indicativo desse estágio o seguinte raciocínio
- Se me comportar como os outros esperam que me comporte, poderei ter
vantagens ou evitar retaliações.

3.3 Estágio pós-convencional


É o estágio em que o comportamento atingiu o mais alto nível ético. A
conduta individual ou em grupo está fundamentada em princípios morais
nobres que reconhecem os direitos alheios, considerando o impacto do
comportamento sobre os outros e sobre as futuras gerações.
Quem está neste estágio possui bem claros os conceitos de justiça,
honra, dignidade, auto-realização, respeito para consigo mesmo e para com
os outros.
O comportamento é orientado por princípios e convicções, e não pelas
convenções, pelo receio de punição ou pela busca de recompensas. A idéia
de responsabilidade social está no centro deste estágio de desenvolvimento
moral.
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São indicativos deste estágio:


- Minha liberdade termina onde começa a liberdade do vizinho.
- Não concordo com nenhuma de suas palavras, mas defenderei até a
morte seu direito de dizê-las.
- Não há o que me obrigue a fazer algo que considere moralmente errado.
- Não importa a opinião da maioria, mas valores universais e ideais, como
justiça, direito, igualdade, liberdade, fraternidade.
- Mulheres e crianças primeiro.
- O comandante é o último a abandonar o navio.

4 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Responsabilidade social é a idéia de que as empresas possuem
obrigações para com a sociedade, além de suas obrigações econômicas
junto aos proprietários ou acionistas e também além daquelas prescritas por
lei ou contrato.
Tanto a ética quanto a responsabilidade social dizem respeito à maneira
como uma organização se relaciona com seu mundo exterior, por meio de
condutas, que podem ser morais ou não.
Enquanto que a ética nos negócios é um conceito mais estreito que se
aplica à moralidade das decisões e comportamentos de um indivíduo, a
responsabilidade social é um conceito mais amplo que se relaciona ao
impacto que uma organização promove sobre a sociedade, e que vai além
de fazer apenas o que é ético.
Para comportar-se de um modo socialmente responsável, os
administradores precisam ter consciência de como suas ações influenciam o
ambiente.
As empresas têm, portanto, responsabilidades sociais - ou seja,
obrigação de agir no melhor interesse da sociedade, devendo pautar suas
ações pelo princípio do estágio pós-convencional de desenvolvimento moral.
No contexto da responsabilidade social, a ética trata essencialmente das
relações entre as pessoas e, se cada um deve tratar os outros como gostaria
de ser tratado, o mesmo vale para as organizações. O comportamento das
pessoas e das empresas afeta outras pessoas ou empresas, que podem
estar dispostas a exigir essa responsabilidade, seja pelo ativismo político,
pela imprensa, legislação ou atuação nos parlamentos.
Para Maximiano, existem duas correntes a esse respeito, cada uma
delas com argumentos muito fortes:

- Doutrina da Responsabilidade Social: A empresa usa recursos da


sociedade / A empresa tem responsabilidade perante a sociedade

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- Doutrina do Interesse do Acionista: Não cabe à empresa resolver


problemas sociais / A única responsabilidade que a empresa tem é com
relação a seus acionistas.

A primeira corrente advoga em favor do princípio da caridade (os


indivíduos mais afortunados da sociedade devem cuidar dos menos
afortunados, compreendendo desempregados, doentes, pobres, pessoas
com deficiências físicas, o que pode ser realizado diretamente ou por meio
de instituições, como igrejas, associações de caridade ou movimentos de
auxílio.
A obrigação é do indivíduo, não da empresa) e do princípio do zelo
(stewardship), segundo o qual os indivíduos ricos deveriam enxergar-se
como depositários da sua propriedade. Os ricos têm seu dinheiro com a
confiança do resto da sociedade e podem usá-lo para qualquer finalidade
que a sociedade julgar legítima.
O papel da empresa também é o de aumentar a riqueza da sociedade,
por meio de investimentos prudentes e uso cauteloso dos recursos sob sua
responsabilidade.
A deterioração dos ecossistemas, provocada pela poluição ambiental,
estimulou o debate sobre os benefícios e malefícios da sociedade industrial.
As conseqüências indesejáveis da industrialização aguçaram a
consciência ecológica de certos segmentos sociais e motivaram o surgimento
de grupos de ativistas que se propuseram a combater o comportamento
socialmente irresponsável de certas empresas ou ramos de negócios, como
os madeireiros, os caçadores de baleias e a indústria das peles de animais.
Devido às pressões que nasceram de todos esses movimentos, muitos
países estabeleceram legislações severas sobre essas questões. Tal
legislação deve ser do conhecimento dos decisores, já que uma decisão que
não as considerou pode afetar o desempenho organizacional, provocando
prejuízos inesperados tanto para a empresa quanto para toda a sociedade.
Outra base para a aceitação da doutrina da responsabilidade social é a
proposição de que as organizações provocam efeitos que nem sempre são
bons para seus stakeholders. Seus benefícios para a coletividade são
contrabalançados pelos prejuízos que, involuntariamente, muitas vezes
causam.

Benefícios:
- Criação de empregos
- Pagamento de impostos e salários
- Promoção da distribuição da renda
- Desenvolvimento de fornecedores
- Treinamento da mão-de-obra

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Prejuízos:
- Danos ao ambiente
- Demissões, desemprego
- Utilização e manipulação dos empregados
- Relações suspeita com o poder, corrupção de funcionários públicos

4.1 Responsabilidade Social nas Organizações


Até algum tempo atrás, as organizações estavam orientadas
exclusivamente para os seus próprios negócios. Essa orientação
gradativamente deixou de ser interna para se projetar externamente em
direção ao ambiente de negócios.
A responsabilidade social significa o grau de obrigações assumidas por
uma organização através de ações que protejam e melhorem o bem-estar
da sociedade enquanto procura atingir os seus próprios interesses. Em geral,
ela representa a obrigação da organização de adotar políticas e assumir
decisões e ações que beneficiem a sociedade. A responsabilidade social
significa a obrigação gerencial de tomar ações que protegem e melhoram o
bem-estar da sociedade como um todo e os interesses organizacionais
especificamente. Os administradores devem buscar alcançar
simultaneamente objetivos organizacionais e objetivos societários.

4.2 Abordagem quanto à responsabilidade social


Toda organização produz alguma influência no seu ambiente, que pode
ser positiva – quando a organização beneficia o ambiente através de suas
decisões e ações – ou negativa, quando traz problemas ou prejuízos ao
ambiente. Somente há pouco tempo as organizações começaram a
preocupar-se com obrigações sociais. Essa preocupação crescente não foi
espontânea, mas provocada por movimentos ecológicos e de defesa do
consumidor que põem em foco o relacionamento organização e sociedade.
Duas posições antagônicas emergem dessa preocupação:
1. Modelo shareholder: É a posição contrária à responsabilidade social
das organizações. Cada organização deve se preocupar em
maximizar lucros, ou seja, satisfazer os proprietários ou acionistas
da organização. Ao maximizar lucros, a organização maximiza a
riqueza e a satisfação dos proprietários e acionistas. A organização
não deve assumir responsabilidade social direta, mas apenas buscar
a otimização do lucro dentro das regras da sociedade. A
organização lucrativa beneficia a sociedade ao criar novos
empregos, pagar salários justos que melhoram a vida dos
funcionários e melhorar as condições de trabalho, contribuir para o
bem-estar público pagando impostos e oferecendo produtos e
serviços aos clientes.

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2. Modelo stakeholder: É a posição favorável à responsabilidade social


das organizações. A maior responsabilidade está situada na
sobrevivência de longo prazo (e não apenas maximizando o lucro)
através da satisfação dos interesses dos múltiplos parceiros (e não
apenas os proprietários e acionistas). A organização é a maior
potência no mundo contemporâneo e tem a obrigação de assumir
uma responsabilidade social correspondente. A sociedade deu esse
poder às organizações e deve convocar a organização para prestar
contas pelo uso desse poder. Ser socialmente responsável tem o
seu preço, mas as organizações podem repassar com legitimidade
esse custo aos consumidores na forma de aumento de preços. Essa
obrigação visa o bem comum porque, quando a sociedade melhora,
a organização se beneficia.

4.3 Graus de envolvimento organizacional segundo o modelo


STAKEHOLDER
1. Abordagem da obrigação social e legal
As metas da organização são de natureza econômica, com enfoque na
otimização dos lucros e do patrimônio líquido dos acionistas. A organização
deve satisfazer obrigações mínimas impostas pela lei, sem assumir nenhum
esforço adicional voluntário.
2. Abordagem da responsabilidade social
A organização não tem apenas metas econômicas, mas também
responsabilidades sociais. Suas decisões são tomadas não apenas em função
de ganhos econômicos e conformidade legal, mas também no critério do
benefício social. Certos recursos organizacionais são usados para projetos de
bem-estar social sem trazer dano econômico para a organização. São
organizações que praticam uma adaptação reativa, pois agem para
providenciar uma solução de problemas já existentes.
3. Abordagem da sensibilidade social
A organização não tem apenas metas econômicas e sociais, mas se antecipa
aos problemas sociais do futuro e age agora em resposta a eles, antes que
se tornem críticos. É a abordagem de cidadania corporativa através de um
papel pró-ativo na sociedade. Isso provoca envolvimento na comunidade e
encoraja as pessoas a fazerem esforços de conscientização social,
voluntariado espontâneo e programas comunitários em áreas carentes.
Na verdade, a responsabilidade social deixa de se limitar aos velhos
conceitos de proteção passiva e paternalista ou de fiel cumprimento de
regras legais para avançar na proteção ativa e promoção humana, em
função de um sistema explicitado de valores éticos.

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4.4 Modelo de Responsabilidade Social Corporativa (DAVIS)


o A responsabilidade social emerge do poder social. Toda organização
tem influência sobre a sociedade, e esta deve exigir condições que
resultam do exercício dessa influência.
o As organizações devem operar em um sistema aberto de duas vias,
com recepção aberta de insumos da sociedade e expedição aberta de
suas operações para o público. As comunicações entre as organizações
e a sociedade devem ser abertas e honestas.
o Os custos e benefícios sociais de uma ação, produto ou serviço devem
ser calculados e considerados nas decisões a respeito deles. A
viabilidade técnica e a lucratividade econômica não são os únicos
fatores que pesam nas decisões da organização, a qual deve também
considerar conseqüências de curto ou longo prazo sobre suas ações
sociais.
o Os custos sociais relacionados a cada ação, produto ou serviço devem
ser repassados ao consumidor. Os negócios não devem ser financiados
apenas pela organização. O custo de manter atividades socialmente
desejáveis nos negócios deve ser transferido para o cliente através de
preços mais elevados dos bens e serviços relacionados a tais
atividades.
o As organizações devem ser envolvidas na responsabilidade em certos
problemas sociais que estão fora de suas áreas normais de operação.
A organização que possui expertise de resolver um problema social
com o qual não está diretamente associada deve ser responsável para
ajudar a sociedade a resolver tal problema.
Keith Davis, “Five Propositions for Social Responsibility”, Business Horizons,
junho, 1975.

4.5 Avaliação da Responsabilidade Social das Organizações


O Instituto Ethos avalia a responsabilidade social das empresas através
de uma sistemática de auto-avaliação dividida em sete grandes temas,
desdobrados da seguinte maneira:
1. Valores organizacionais e transparência:
* Auto-regulação da conduta organizacional. Compromissos éticos e
enraizamento da cultura organizacional.
* Relações transparentes com a sociedade. Diálogo com partes
interessadas (stakeholders), relações com a concorrência e balanço
social.
2. Público interno:
* Diálogo e participação. Relações com os sindicatos, gestão
participativa e participação nos lucros e/ou resultados.
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* Respeito ao indivíduo. Compromisso com o futuro das crianças e


valorização da diversidade.
* Respeito ao trabalhador. Comportamento frente a demissões,
compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade,
cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho, e
preparação para a aposentadoria.
3. Meio ambiente:
* Gerenciamento do impacto ambiental. Conhecimento sobre o
impacto no meio ambiente, processo produtivo, responsabilidade sobre
o ciclo de vida dos produtos e serviços (somente para indústrias).
* Responsabilidade frente às gerações futuras. Compensação da
natureza pelo uso de recursos e impactos ambientais e educação
ambiental.
4. Fornecedores:
* Seleção e parceria com fornecedores. Critérios de seleção de
fornecedores, relações com trabalhadores, terceirizados e apoio ao
desenvolvimento de fornecedores.
5. Consumidores:
* Dimensão social do consumo. Política de marketing e comunicação,
excelência do atendimento, conhecimentos dos danos potenciais dos
produtos e serviços.
6. Comunidade:
* Relações com a comunidade local. Gerenciamento do impacto da
atividade produtiva na comunidade e relações com organizações
atuantes na comunidade.
* Filantropia – investimentos sociais. Mecanismos de apoio a projetos
sociais, estratégias de atuação na área social e mobilização de
recursos para o investimento social.
* Trabalho voluntário. Reconhecimento e apoio ao trabalho voluntário
dos empregados.
7. Governo e sociedade:
* Transparência política. Contribuições para campanhas políticas e
práticas anticorrupção à propina.
* Liderança social. Liderança e influência social e participação em
projetos governamentais.

OBS. – Questionário do Instituto Ethos disponível no site:


www.ethos.gov.br

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5 BIBLIOGRAFIA

CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração – Edição


Compacta. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
MAXIMIANO, A.C.Amaru. Teoria Geral da Administração: da escola científica
à competitividade na economia globalizada. 2ª Ed. São Paulo: Atlas,
2000.
MEC - Ministério da Educação e Cultura. Provão 2.000.
STONER, James F.F., FREEMAN, R.Edward, GILBERT JR., Daniel R.
Management. Madri: Prentice Hall International, 1995.

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