Encontroe Portfolioportugal
Encontroe Portfolioportugal
Encontroe Portfolioportugal
Organização:
Lia Raquel Oliveira
Maria Palmira Alves
Edição:
Ludomedia – Conteúdos Didácticos e Lúdicos
Apartado 256
3721 – 902 Oliveira de Azeméis
360 exemplares
ISBN: 972-8914-32-6
2
Índice
3
31 Portefólio: caminho para transformar a avaliação ou mera legitimação de
“velhas” práticas? ......................................................................................................... 200
32 Experiencias de Aprendizaje y Conocimiento para la Cooperación
Interempresarial y Colaboración Medioambiental con la Universidad ........................ 210
33 O Portefólio na formação de professores: uma experiência Brasileira ............ 219
34 Pratiques du portfolio par les enseignants-documentalistes en 2ème année
d'IUFM : les concepts en information-documentation et leur "mise en scène"............ 230
35 Fabricando edentidades - A problemática dos saberes da escolarização.......... 239
4
1 Le portfolio numérique: une technologie au service de la
valorisation de la personne
• Serge Ravet
EiFEL – European Institute for E-Learning
1.1 Vídeo
5
2 En quoi le portfolio numérique est-il un objet qui interesse
l’enseignement et la recherche?
• Jean-François Cerisier
Université de Poitiers
Master EuroMIME
2.1 Vídeo
6
3 Para a compreensão do portefólio de aprendizagem
• Flávia Vieira
Instituto de Educação e Psicologia
Universidade do Minho
3.1 Resumo
No contexto educativo português, o portefólio tem sido recentemente defendido e
experimentado como uma nova forma de organizar e/ ou avaliar as aprendizagens. No entanto,
pouco sabemos ainda acerca das suas implicações no processo de construção do
conhecimento em contexto pedagógico. Por outro lado, sendo variados os modos de o
implementar, torna-se difícil compreender a sua natureza, finalidades, valor formativo e
limitações. Deste modo, optar pelo portefólio poderá comparar-se a “abrir uma janela para o
desconhecido”.
Com base na reflexão que tenho vindo a fazer sobre este problema, sobretudo no âmbito
da minha experiência enquanto formadora de professores, proponho algumas hipóteses de
trabalho que nos permitam compreender melhor a prática do portefólio, argumentando em favor
da sua problematização, em particular no que diz respeito à seguinte questão: Que visão de
educação pressupõe e como se traduz essa visão no processo de construção do
conhecimento?
7
estatuto do autor ensino vs. aprendizagem
relação com a avaliação formativo vs. sumativo
enfoque processo vs. produto
finalidade aprendizagem/ desenvolvimento vs. certificação/ promoção
âmbito restrito (ex.: leitura) vs. alargado (ex.: disciplina/ curso)
escolha voluntário vs. obrigatório
Contudo, uma determinada prática pode conciliar diferentes dimensões, tal como uma
mesma dimensão pode ser operacionalizada de diferentes formas. Precisamos, assim, de uma
abordagem mais próxima do que é feito em contexto real.
Estrutura: Competências
como está Tarefas de aprendizagem: o evidenciadas: que
organizado que faz o(a) aluno(a) no conhecimentos, Anotações, excertos,
o PA? PA? capacidades, atitudes e comentários…
8
(secções) valores revela o PA?
Folha de Identifica o portefólio (autor, Na capa, antes da folha de rosto,
rosto disciplina, curso, ano, Organização do PA apresenta comentários de colegas ao
s
instituição) seu portefólio (post-it )
Apresentação Define PA* (geral) Conceptualização geral do *Ex. (excerto de citação fornecida
do PA Define o seu próprio conceito portefólio (o que é, para que pela docente): “(…) an effective
(1 p. A4) de PA serve, o que contém) portfolio requires selection and
Prevê o modo como pode Valorização do PA como organization and must give a rounded
valorizar o PA instrumento de picture of ‘learning’ ability in order to
indica a sua função** e aprendizagem** be convincing for those who read it.”
conteúdo geral (Falta fonte)
** Ex.: “O meu portefólio (…) será o
meu companheiro ao longo do
semestre e um aliado em futuras
actividades que necessitem de
conhecimentos nele guardados”
PA: Portefólio de Aprendizagem
9
dimensão ética e política do acto educativo: Para que serve e a quem serve? O que é
desejável fazer e porquê?
No exemplo que a seguir se apresenta, esse quadro interpretativo é constituído por um
conjunto de oito princípios pedagógicos definidos e explorados em projectos de investigação da
qualidade da pedagogia na universidade (v. Vieira et al., 2002 e 2004), face aos quais
poderemos problematizar o potencial transformador e emancipatório do portefólio.
Relevância
A acção pedagógica integra expectativas, necessidades, Como conciliar as prioridades do educador com
ritmos e interesses diferenciados, mobiliza e promove as dos educandos na construção de portefólios,
saberes, linguagens e experiências relevantes à futura sem desresponsabilizar nenhum deles pelas
profissão, promove o contacto com a realidade sócio- justificações e consequências do acto
profissional e perspectiva o currículo de forma articulada. educativo? Quem define o que é relevante, para
quê e para quem?…
Reflexividade
A acção pedagógica promove o pensamento divergente e o Podemos esperar que a reflexão no portefólio
espírito crítico, integrando uma reflexão crítica sobre os seus seja crítica quando ele é objecto de
pressupostos e finalidades, os conteúdos, a metodologia classificação, ou quando o seu autor tem pouca
seguida, os parâmetros e métodos de avaliação, os liberdade de escolha quanto ao seu conteúdo e
10
processos/percursos de aprendizagem, o papel das estrutura?…
disciplinas no currículo e a relação deste com a realidade
sócio-profissional.
Democraticidade
A acção pedagógica assenta em valores de uma cidadania Como promover valores de uma cidadania
democrática – sentido de justiça, respeito pela diferença, democrática quando o portefólio é um
liberdade de pensamento e expressão, comunicação e instrumento de regulação da aprendizagem?
debate de ideias, negociação de decisões, colaboração e Como conciliar esses valores com a função
inter-ajuda. normativa da educação?…
Autodirecção
A acção pedagógica desenvolve atitudes e capacidades de Se o portefólio promover a auto-gestão da
auto-gestão da aprendizagem – definição de metas e planos aprendizagem, qual o papel do educador? E
de trabalho auto-determinados, auto-avaliação e estudo significa isso que cabe a cada educando decidir
independente, curiosidade intelectual e vontade de aprender, o que fazer? Como conciliar interesses
sentido de auto-estima e autoconfiança. individuais com interesses institucionais?…
Criatividade/ inovação
A acção pedagógica estimula processos de compreensão e Como pode o portefólio favorecer a criatividade
intervenção, com implicações profissionais e sociais, e a inovação em sistemas escolares que
promovendo uma interpretação pessoal e uma visão favorecem a reprodução do conhecimento?
pluri/inter/transdisciplinar do conhecimento e da realidade, Como conciliar o estímulo à criatividade e
capacidades de pesquisa e de resolução de problemas, inovação com a existência de currículos pré-
desenvolvimento de projectos pessoais, capacidades de definidos?…
intervenção no contexto profissional e atitudes de abertura à
inovação.
Tal como na hipótese de trabalho anterior, também aqui se sublinha a importância dos
contextos de uso do portefólio na definição do quadro interpretativo de referência. A fim de
ilustrar este aspecto, apresento um segundo exemplo relativo a uma experiência realizada na
formação pós-graduada de professores na área da supervisão pedagógica (v. Vieira et al.
2004; Vieira, 2005 e 2006). Pretendia-se que as formandas realizassem experiências em
contexto profissional, documentadas num portefólio reflexivo. Definiram-se algumas condições
de qualidade da formação que regulariam a construção das experiências e dos portefólios,
enquadradas numa orientação reflexiva da formação profissional (Vieira & Marques, 2002):
11
(Vieira & Marques, 2002)
Pressupostos
A prática é geradora de teoria
… implicam uma atitude indagatória dos formandos face à prática, no sentido da sua
Um profissional autónomo forma sujeitos
(re)conceptualização; a transformação de teorias e práticas profissionais faz-se no
autónomos
quadro de uma educação emancipatória para todos os actores envolvidos
(professor/alunos, supervisor/estagiários).
Finalidades
Emancipação profissional:
… visam a emancipação profissional através da (re)construção de competências
Um saber “criativo”
(atitudes saberes, capacidades) facilitadoras da auto-determinação e tomada de
Uma capacidade de acção educativa
decisões; estas competências integram algumas dimensões principais da prática
Uma capacidade de auto-regulação
profissional - criação, acção, regulação e crítica – e conferem à actuação profissional
Uma postura crítica face aos contextos
uma orientação indagatória, em modalidade aproximada à investigação-acção.
Tarefas
Integração teoria-prática: experimentação
(acção-investigação) … promovem processos de descrição, interpretação, confronto e reconstrução de práticas,
Consistência: articulação fins-meios facilitando a desocultação, escrutínio e elaboração das teorias práticas que determinam
fortemente a acção profissional; a experienciação destes processos no contexto da
formação confere-lhe uma dimensão investigativa e é consistente com a sua finalidade
emancipatória, elevando o grau de articulação entre os fins pretendidos e os meios
mobilizados.
Conteúdo
Relevância: adequação e inovação
… elevam a relevância dos conteúdos da formação, na medida em que estes decorrem
directamente das necessidades e interesses dos formandos e promovem a renovação
das suas teorias e práticas profissionais.
Papéis
Reflexividade: reflexão técnica, prática,
… colocam a tónica nos sujeitos em formação, conferindo-lhes um papel pró-activo no
crítica
seu desenvolvimento profissional; esse papel traduz-se em actos de reflexão,
Negociação: sentidos e decisões
negociação e regulação, através dos quais o “programa” de formação se constrói e
Regulação: auto-/co-regulação
diversifica, com ganhos diferenciados para cada um dos participantes.
Comunicação
Contingência: co-construção de sentidos
…dão voz aos anseios e motivações dos formandos, reforçando o papel da
comunicação na formação e evidenciando a natureza social do saber em construção.
12
3.3 Concluindo…
Embora com finalidades e focalizações diferenciadas, as três hipóteses de trabalho para
a compreensão da prática do portefólio são complementares e podem tornar essa prática
menos desconhecida. Diria, contudo, que a última – problematizar – nos possibilita equacioná-
la de forma mais crítica, evidenciando a sua natureza ética e política e permitindo-nos
compreender melhor as razões e implicações das escolhas que fazemos quando decidimos
desenvolvê-la de uma determinada forma e não de outra. Por outras palavras, e para lá do
portefólio como estratégia, importa também compreendê-lo como ideologia. Será que, como
Sá-Chaves sugere (2005b: 7), a sua emergência corresponde a uma mudança paradigmática
na educação, a qual “acarreta consigo abordagens mais complexas e multifacetadas às
questões da formação, revelando a natureza indissociável dos processos de formação e de
vida”? Quantos de nós, experimentadores da prática do portefólio, nos identificamos com esta
possibilidade?
3.4 Referências
• Martins, A.M. (2006). O portfolio refexivo – estratégia de formação do professor
estagiário. Dissertação de Mestrado (não publicada). Braga: Universidade do
Minho.
• Sá-Chaves, I. (org.) (2005a). Os “portfolios” reflexivos (também) trazem gente
dentro – reflexões em torno do seu uso na humanização dos processos
educativos. Porto: Porto Editora.
• Sá-Chaves, I. (2005b). “Nota de apresentação”. In I. Sá-Chaves (org.), Os
“portfolios” reflexivos (também) trazem gente dentro – reflexões em torno do
seu uso na humanização dos processos educativos. Porto: Porto Editora, pp.
7-19.
• Smith, K. & Tillema, H. (2003). “Clarifying different types of portfolio use”.
Assessment and Evaluation in Higher Education, vol. 28, nº 6, pp. 625-648.
• Vieira, F. (2005). “Pontes (in)visíveis entre teoria e prática na formação de
professores”. Currículo sem Fronteiras, vol. 5, nº 1, pp. 116-138
(http://www.curriculosemfronteiras.org).
• Vieira, F. (2006). “Para uma pedagogia transformadora na formação pós-
graduada em supervisão”. In F. Vieira; M.A. Moreira; I. Barbosa; M. Paiva & I.S.
Fernandes (2006). No caleidoscópio da supervisão: imagens da formação e da
pedagogia. Mangualde: Edições Pedago, pp. 151-187.
• Vieira, F.; Gomes, A.; Gomes, C.; Silva, J.L.; Moreira, M.A.; Melo, M.C. &
Albuquerque, P. B. (2002). Concepções de pedagogia universitária - um estudo
na Universidade do Minho. Relatório de Investigação. Braga: Universidade do
Minho, CEEP.
• Vieira, F. & Marques, I. (2002). “Supervising teacher development practices”.
English Language Teacher - Education and Development, vol. 6, pp. 1-18 (
www.cels.bham.ac.uk/ELTED).
• Vieira, F.; Silva, J.L.; Melo, M.C.; Moreira, M.A.; Oliveira, L.R.; Gomes, C.;
Albuquerque, P.B. & Sousa, M. (2004). Transformar a pedagogia na
13
universidade: experiências de investigação do ensino e da aprendizagem.
Relatório de Investigação. Braga: Universidade do Minho, CIEd.
14
4 Portefólios – utensílios de avaliação e de desenvolvimento
de competências
4.1 Introdução
O portefólio, enquanto ferramenta pedagógica, é uma compilação dos trabalhos de um
aluno, que dá conta do seu esforço, progresso e dificuldades numa ou em diversas áreas do
currículo e deve incluir elementos relativos à participação do aluno na selecção de conteúdos;
identificar os critérios que deram origem à selecção e os critérios utilizados para produzir um
juízo de valor ( Figari, 1996) e evidenciar a auto-reflexão e a auto-avaliação do aluno.
Ao ser representativo dos melhores trabalhos ou do maior esforço do aluno, dará conta
das experiências relacionadas com os resultados de aprendizagem a serem avaliados e
documentará o crescimento e o desenvolvimento do aluno ao longo do processo. O portefólio
possibilita sempre a avaliação do processo, mesmo quando se centra no produto e, assim, ele
é um instrumento de avaliação que favorece a evidência de conhecimentos e capacidades que
não são facilmente observáveis através de outros meios de avaliação (Paulson & Meyer, 1991).
Ao construir o seu portefólio, o aluno transforma-se num agente efectivo do seu próprio
processo de aprendizagem. Na linha de Viegas (2005) a magia do portefólio, enquanto
ferramenta pedagógica, enquanto recurso avaliativo, parece residir exactamente nas
extraordinárias potencialidades que oferece para a construção da memória de um percurso.
15
objectivos e, eventualmente, um conjunto de destrezas, competências, objectivos
comportamentais e indicadores de desempenho. O professor assume o papel de um
transmissor de conhecimentos, num horário previamente estabelecido. Ao aluno competirá
adquirir o conhecimento transmitido, sendo o resultado final, comparado com o do grupo, a
medida do conhecimento adquirido. Os testes sumativos são os instrumentos privilegiados,
mas não avaliam mais do que práticas atomizadas do conhecimento.
A falência da medida e da objectividade na avaliação originou muitas críticas à
abordagem quantitativa, das quais ressaltamos: os professores ensinam para os testes e
exames; as provas externas de aferição influenciam e condicionam negativamente as práticas
de desenvolvimento do currículo; os exames condicionam a selecção e as formas de
abordagem dos conteúdos, empobrecendo o currículo; as provas de aferição avaliam destrezas
cognitivas básicas e negligenciam as destrezas cognitivas mais elevadas; os exames centram
as aprendizagens no domínio cognitivo, ignorando os propósitos educativos sociais e afectivos;
os testes sumativos não fornecem informação adequada aos professores para tomar decisões,
nem informam os alunos das suas falhas.
16
técnica. A oportunidade que deve ser dada aos alunos para demonstrarem o que conseguem
alcançar ao longo do tempo e em variados contextos é a principal preocupação destas
abordagens da avaliação e os portefólios, como instrumentos de avaliação das aprendizagens
dos alunos, oferecem uma oportunidade para uma visão alternativa da avaliação.
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função interactiva e retroactiva, visando melhorar as condições de aprendizagem e o próprio
processo de ensino-aprendizagem. Em anterior trabalho (Alves, 2004, p. 61) afirmámos que a
“dimensão formativa da avaliação tem como objectivos, quer a adequação do tratamento
didáctico à natureza das dificuldades encontradas no momento do diagnóstico, quer a
obtenção de uma dupla retroacção: sobre o aluno para lhe indicar as etapas que ele venceu e
quais os obstáculos que enfrenta; sobre o professor para lhe indicar como é que o seu
programa pedagógico se desenvolve e quais os obstáculos que enfrenta”.
Assim, a dimensão formativa da avaliação não implica, por si só, a participação activa do
aluno na sua auto-regulação. Tal acontece numa dimensão formadora da avaliação, que
pressupõe a co-participação e apropriação por parte dos alunos dos critérios de avaliação e
dos referentes que os enformam, a partir dos quais se auto-avaliam e auto-regulam. Daí que a
avaliação formadora coloque “no centro das suas preocupações a significação que os alunos
atribuem aos critérios de avaliação” (Alves, 2004, p.79). Tanto a dimensão formativa como a
dimensão formadora implicam processos de auto-compreensão e metacognição por parte dos
alunos, mas só a última favorece a perspectiva emancipatória que algumas correntes
pedagógicas e teorias curriculares defendem, uma vez que com ela “passa-se a uma auto-
regulação que tem por instância de pilotagem o próprio aluno” (idem: ibidem).
Por seu lado e de acordo com (Jorro, 2002) os professores podem usar o portefólio para
uma variedade de propósitos específicos, tais como: encorajar a aprendizagem pela
descoberta; alargar o alcance do que foi aprendido; verificar o progresso face aos resultados
de aprendizagem identificados; proporcionar intercessão entre instrução e avaliação; oferecer
oportunidades para crescimento em grupo; providenciar uma forma de os alunos se auto
valorizarem enquanto aprendentes e desenvolver procedimentos de auto-avaliação.
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podendo reduzir-se a uma simples instrumentação externa. Secundando Cardinet (1988),
pensamos que a aprendizagem da auto-avaliação constitui o meio essencial que permite ao
aluno passar de um simples saber-fazer não reflectido, puramente operatório, para aceder a
um saber-fazer reflectido, graças ao qual ele pode intervir e agir conscientemente. Neste
sentido, o desenvolvimento de processos auto-avaliativos visando a autonomia, permitirá aos
alunos gerir as suas formas de fazer, desenvolver a capacidade de auto-regulação das suas
acções práticas, avaliando-as conceptualmente.
Aprender a auto-avaliar-se é deitar um olhar crítico sobre si, sendo possível apenas se
apoiado em critérios de avaliação, negociados e apropriados, conduzindo a uma tomada de
decisão pertinente e eficiente na base de um referencial interiorizado. O conhecimento dos
critérios, ou “procedimentos” das tarefas, que funcionam como as regras do jogo, é um trunfo
determinante no êxito da acção.
Os critérios funcionam como a carta de estudos, “utensílio central” no dispositivo
pedagógico e serão a tradução concreta da base de orientação de que dispõe o aluno. Ela fará
o repertório e descreverá os critérios de realização da tarefa, da qual precisará o motivo (a
intenção pedagógica) e anunciará as condições externas (tempo despendido, modalidades de
trabalho) e internas (conhecimentos adquiridos, variáveis susceptíveis de influenciar os
procedimentos de resolução), de realização. A sua elaboração, que corresponde a uma intensa
“actividade de apropriação”, permite compreender correctamente, quer o fim da tarefa, quer os
procedimentos de realização, quer, ainda, os utensílios necessários.
Apoiar-se nos critérios de avaliação conduz a uma atitude reflexiva que permite uma
verdadeira consciencialização da acção, lucidez indispensável a qualquer aprendizagem
significativa e que só o aluno, enquanto sujeito, pode realizar: « as exigências de uma tal
reflexão (...) são consideráveis, pois obrigam o avaliado a olhar-se, a analisar-se, a emergir nas
suas próprias dificuldades, com o risco de, entre outros, alterar a imagem de si e de ter de a
construir de novo, ou sob outros ângulos” (Bélair, 1999, p. 65).
1
A disciplina em questão é a Teoria e Desenvolvimento Curricular, que faz parte do plano de estudos da Licenciatura
em Educação, na Universidade do Minho. No ano lectivo 2004/2005 tinha um carácter anual.
19
No final do 1º semestre, os portefólios foram entregues ao professor, que fez um
balanço tendo em conta os critérios de avaliação e, seguidamente, cada aluno justificou as
suas opções, reagindo ao comentário do professor. Numa sessão alargada à turma, procedeu-
se a um inventário dos aspectos positivos (a consolidar) e dos aspectos menos conseguidos ( a
evitar e/ou alterar). Os alunos poderiam alterar as suas produções, em função dos comentários
do professor, desde que justificassem adequadamente a opção.
Com o objectivo de o aluno fazer o balanço da sua aprendizagem, no final do2º
semestre, os alunos responderam, por escrito, a um conjunto de questões, tal como sugere
Buschman (1993), actividade que denominámos de “ visão de conjunto do portefólio” e tinha as
seguintes questões: i) Qual é a tua melhor “obra”? Justifica; ii) O que achas que és capaz de
fazer agora, enquanto autor, que não eras capaz de fazer antes?; iii)Analisa o teu portefólio.
Quais são os teus pontos fortes enquanto autor? Selecciona dois exemplos que o demonstrem;
iv) Quais são as competências que consideras ter desenvolvido?; v) Qual é a produção do teu
portefólio que constituiu o maior desafio? Porquê? Que estratégias utilizaste para o
ultrapassar?; vi) Qual é a produção que melhor reflecte a tua identidade? Cita partes dela para
justificar a tua escolha; vii) Escreve um parágrafo que revele as competências adquiridas este
ano e na disciplina.
Os questionários finais (Visão de Conjunto do Portefólio) foram submetidos a uma
análise de conteúdo, de acordo com as seguintes dimensões: a natureza das aprendizagens
desenvolvidas através deste procedimento; as contribuições do instrumento para o
desenvolvimento das suas competências de reflexão; o grau de autonomia desenvolvido; o
contributo deste na construção da sua identidade; o investimento pessoal.
Destacamos algumas conquistas, dificuldades ou mesmo alguns desvios que observámos e
sobre os quais convirá reflectir para que as condições de sucesso do portefólio vão sendo
optimizadas:
20
Estas angústias iniciais foram muito difíceis de gerir e foi necessário muito tempo extra
aula para apoiar os alunos. Consideramos que foi necessário experimentar para aprender.
Será necessário mais tempo para dispor de «modelos» que permitam ao aluno compreender
melhor o que se espera dele. Tratando-se da primeira experiência de avaliação por portefólio,
ficou claro que é necessário clarificar muito bem o contrato e, sobretudo, negociá-lo para que
os alunos se apropriem dele;
2) foi possível identificar os conteúdos que foram mais significativos para os alunos –
em todos os portefólios os alunos identificaram o que mais gostaram de fazer e justificaram-no.
Foi, também, possível identificar aqueles conteúdos em que sentiram mais dificuldades, quer
através da reflexão dos alunos, quer através da qualidade dos trabalhos produzidos;
3) foram, ainda, identificados alguns problemas de relações com os colegas e, talvez
face às nossas exigências, decorrentes provavelmente de uma planificação pouco articulada
que nem sempre previu os momentos de maior trabalho dos alunos, registaram-se, também,
alguns momentos em que a interacção professor-aluno foi menos positiva, o que nos permitiu
compreender melhor que ensinamos a alunos “reais” e não apenas a sujeitos epistémicos;
4) de uma forma geral, constatou-se que os saberes ensinados raramente são
questionados, nem mesmo problematizados: a maior parte dos alunos não se autoriza a isso, a
reflexão sobre os programas, a sua evolução e/ou a sua transformação não é, ainda, possível;
5) ficou também claro que, para alguns alunos, o exercício de escrita é considerado
como um consumo excessivo de tempo, considerando que podem apreender e construir as
suas competências de outra forma (Depover & Noël, 1999).; enquanto que outros se apropriam
da escrita como de um verdadeiro utensílio para pensar a sua aprendizagem e obter
instrumentos de trabalho.
2- O que achas que és capaz de fazer agora, enquanto autor, que não eras capaz de fazer
antes?
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Muito sinceramente, nunca me julguei capaz de escrever tantas páginas num portefólio, nem nunca pensei
que conseguiria organizar-me de forma a encontrar uma sequência lógica para a distribuição dos diferentes tópicos do
portefólio. Por outro lado, aprendi a ter opinião crítica sobre um qualquer assunto, a explorar temáticas que me eram
desconhecidas e a formar uma opinião sobre elas. Penso que antes da elaboração deste portefólio ainda não dispunha
destas capacidades.
3- Analisa o teu portefólio. Quais são os teus pontos fortes enquanto autor? Selecciona dois
exemplos que o demonstrem.
Enquanto autora, julgo que os meus pontos fortes foram a simplicidade da apresentação gráfica do portefólio
e a criatividade visíveis, por exemplo, na escolha do artigo a comentar.
5- Qual é a produção do teu portefólio que constitui o maior desafio? Porquê? Que estratégias
utilizaste para o ultrapassar?
Penso que o maior desafio neste portefólio foi a pesquisa sobre os Centros de Reconhecimento, Validação e
Certificação de Competências. O assunto era-me totalmente desconhecido e a Internet foi, sem dúvida, um grande
apoio. Pesquisei um pouco sobre este tema e procurei, no final, responder a duas questões bastante pertinentes: será
que os (C)RVCC podem vir a ser descredibilizados pela sociedade? e que relação existe entre as Escolas e os
(C)RVCC? Esta tarefa foi um desafio na medida em que eu desconhecia quase por completo a existência dos CRVCC
e a única ocasião em que tinha ouvido falar deles foi nas aulas de Teoria e Desenvolvimento Curricular, no contexto da
avaliação e reconhecimento das aprendizagens adquiridas pela experiência.
A importância desta temática, que poderá também constituir, para os licenciados em Educação, um campo
de intervenção profissional, justifica o meu envolvimento neste domínio.
6- Qual é a produção que melhor reflecte a tua identidade? Cita partes dela para justificar a tua
escolha.
A produção que melhor reflecte a minha identidade é, sem dúvida alguma, a Área Livre. Neste espaço pude
deixar um pouco mais sobre mim, na medida em que parte de mim é, de facto, poesia. Talvez com algumas daquelas
palavras seja possível compreender um pouco melhor daquilo que eu sou e entender que há coisas que não se podem
explicar como, neste caso, a beleza de um poema. Para mim, a magia da poesia reside nisso mesmo: cada um tem a
sua própria interpretação. De nada me adiantaria explicar a minha versão se a pessoa que a viesse a ler discordasse
dela.
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currículo, não só no que diz respeito às organizações educativas, mas também no que se refere a todas as outras
organizações.
Muito honestamente, acredito que num curso como o que frequento é preciso alguma teoria que sustente a
prática, isto é, uma realidade concreta num futuro local de trabalho. No início do ano lectivo, tinha a ideia de que esta
cadeira era demasiado teórica e isso não me agradava. Foi durante a realização deste portefólio, através da
reflexividade, dos momentos de auto-avaliação proporcionados e das angústias que me provocou a justificação das
opções tomadas, que me fui apercebendo da pertinência da disciplina na Licenciatura em Educação e no modo como
contribuiu para a construção da minha identidade.
Love, McKean e Gathercoal (2004) afirmam que “os webfolios podem vir a ter os efeitos
mais significativos na educação desde a implementação da educação formal”. Quando forem
integralmente implementados por profissionais competentes em todas as disciplinas, podem
tornar-se numa alternativa real aos actuais testes e exames, que se centram mais em certificar
o que foi ensinado do que o que foi aprendido. Os webfolios devem ser implementados em
todos os seus níveis de maturação, para que se consigam tornar autênticos instrumentos de
certificação, avaliação e reflexão.
A implementação de webfolios é complexa e exige um grande salto. Os dados a serem
recolhidos, sintetizados e analisados devem provir dos estudantes, professores, investigadores
e administradores, trabalhando colaborativamente para melhoria dos processos de ensino e
aprendizagem. A mudança deve ser feita cautelosamente, em passos progressivos, pois não
estando os objectivos finais claramente definidos ou sendo demasiado ambiciosos pode-se
gerar confusão, frustração e desilusão.
Love et al. (2004) desenvolveram uma ‘Taxonomia’ para a determinação dos níveis de
maturação dos portefólios e webfolios, através da análise de oito qualidades teóricas e físicas
inerentes aos seus processos e às suas aplicações: tipo de instrumento (de trabalho ou
mostra); tipo de organização; tipos de trabalhos dos estudantes; presença e justificação de
avaliação baseada em critérios; natureza do conteúdo (estático ou dinâmico e evolutivo);
processos heurísticos envolvidos na sua construção; o contexto proporcionado para cada item
e o modo de entrega. Fizeram também a distinção entre portefólio, e-portefólio e webfolio. O
portefólio é uma colecção de materiais em papel arquivados em dossiê; e-portefólio:
documentos multimédia arquivados numa disquete, CD-ROM ou outro meio electrónico e que
não estão acessíveis via Web e webfolio: disponível na Web e é uma colecção integrada de
documentos multimédia que podem incluir dados curriculares, trabalhos escolares dos alunos,
reflexões produzidas e avaliações.
2
Este ponto foi retirado do trabalho desenvolvido por Isabel Reis, no âmbito da disciplina de Avaliação Curricular,
Mestrado em Desenvolvimento Curricular (Universidade do Minho). Pela sua actualidade, pelo envolvimento
demonstrado pela Mestranda e, ainda, pela temática do encontro, recupera-se nesta comunicação.
23
4.6 Referências
• Allal, L. (1986). Estratégias de avaliação formativa: concepções psicopedagógicas e
modalidades de aplicação. In Linda Allal, Jean Cardinet, e Philippe Perrenoud, (1986) A
educação formativa num ensino diferenciado. Coimbra: Almedina, 175-196.
24
• MEIRIEU, Ph. (1999). Dites-nous comment survivre à notre folie, de Kenzaburô Ôé ou
"aider l’autre à grandir en le préservant de notre folie", Educateur, 9, 22-27.
• LOVE, D., McKEAN, G., & GATHERCOAL, P. (2004). Portfolios to Webfolios and
Beyond: Levels of Maturation [Versão Electrónica]. Educause Quarterly, 27.Acedido em
20/11/2006 http://www.educause.edu/pub/eq/eqm04/eqm0423.asp?bhcp=1.
• PACHECO, J.A. (1998). Avaliação de aprendizagens. In Almeida, Leandro S. &
Tavares, José. Conhecer, Aprender, Avaliar. Porto: Porto editora, 111-132.
• PACHECO, J. A.(2002). Políticas Curriculares, Porto: Porto Editora.
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25
5 O uso de e-Portefólios na Formação Profissional
5.1 Vídeo
26
6 Plano Tecnológico: contributo das TIC para a Aprendizagem
ao Longo da Vida
6.1 Vídeo
27
7 Campus virtuél et portfolio numérique
• Geneviève Jacquinot-Delaunay
Université Paris 8
UNESCO
7.1 Vídeo
28
8 e-Portfolio: instrumento pedagógico de empregabilidade
8.1 Resumo
O projecto que apresentamos, e-Portfolio: instrumento pedagógico de
empregabilidade, integra-se na área de desenvolvimento de um Pós-doutoramento em
Comunicação Educacional Multimédia. Tem como finalidade descrever um conjunto de
projectos que têm vindo a ser desenvolvidos no sentido de criar um e-Portelolio para todos os
cidadãos europeus até 2010.
Assim, tentaremos ao longo da comunicação:
Apresentar projectos afins e uma definição do conceito de e-portefolio;
Identificar a transformação que a temporalidade dos fluxos apresenta para o cidadão
europeu;
Perceber a dinâmica que se gera em torno da Sociedade de Fluxos como um
espaço integrador dos elos – síncronos, assíncronos e híbridos – que se encontram
disponíveis para o cidadão inclusivo;
Contribuir para a construção de um formato tecnológico multimodal, através da
mediação, em constante devir das realidades de cada aprendente num cenário de
estratégias de empregabilidade apresentadas pela Europa e Estados Unidos;
Contribuir para a construção de uma base de dados que nos permita reflectir sobre a
adequação de estratégias personalizadas no sentido de favorecer a inserção
profissional do cidadão em outros espaços mundiais de empregabilidade;
Construir e implementar um projecto multimodal que contribua para o
desenvolvimento sustentado de uma política conjunta centrada na construção de
ferramentas digitais (Ex: plataforma) potenciadoras de debate e reflexão de ideias;
Partes do estudo
29
(1) A Sociedade dos fluxos e a multimodalidade como factores estruturantes para a
construção de um e-portfolio (cf. Barbas ; 2006); (2) Cenários de Construção e (3)
Construção de um e-Portefolio utilizando espaços multimodais.
Iremos abordar a dimensão social da galáxia Internet que contribuiu para a expansão do
ensino a distância, recorrendo aos trabalhos desenvolvidos pelos investigadores Manuel
Castells (A Galáxia Internet) e Andrea Semprini (La Société des Flux). Posteriormente, articulá-
los-emos, em contexto de empregabilidade, com os estudos dos investigadores Paulo Dias
(2001), Pierre Lévy (1999), Chih-Hsiung Tu (2004) e com os dados apresentados no grupo de
discussão «A intercompreensão no ciberespaço», um dos projectos desenvolvidos na tese de
doutoramento em Comunicação Educacional por Barbas (2003). Estes estudos ajudam a
perceber as mudanças que se têm vindo a verificar na sociedade contemporânea e que
conduziram à formação da Sociedade de Fluxos.
Antes de qualquer tentativa de explicitação do que se entende por «fluxos», importa
referir a trajectória evolutiva deste conceito. Teve a sua origem na física e na biologia e,
posteriormente, evoluiu para uma trajectória de «declinações» no domínio da literatura, das
ciências sociais e, mais recentemente, da electrónica. Será numa vertente integradora das
diferentes visões sobre o mesmo conceito que tentaremos definir este termo e articulá-lo com
outros espaços de aprendizagem demarcados neste estudo como, por exemplo, o “declinar”
de portefólio para um e-Portfolio. A nível académico, os autores Ali Jafari e Penny-Light têm
vindo a apresentar definições deste conceito. Assim, o Director do CyberLab, na Universidade
de Indiana, Ali Jafari, apresentou os atributos de um sistema de e-Portfolio denominado
“Sticky”3. Define este conceito como “a personal, lifelong content-management system for
collecting, reflecting on, selecting, and presenting learning outcomes and other professional
accomplishments.” (2004:3). Nesta linha, também a professora Penny-Light, responsável pela
apresentação desta temática na Universidade de Watesloo, refere que o e-portfolio “provides
students the opportunity to clearly articulate their knowledge and skills in different environments
as well as to identify areas for future learning or improvement. This process of collecting,
sifting, and reflecting allows learners to develop a more holistic conception of their learning and
of opportunities for learning. As a result, they might use the knowledge gained through creating
their ePortfolio to better integrate their diverse learning experiences”.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências
3
http://www.educause.edu/ir/library/pdf/erm0442.pdf
30
de Lisboa (2001: 1776), fluxo significa «processo de deslocação constante». A inclusão deste
conceito nas ciências sociais deu-se há alguns anos com as pesquisas dos sociólogos
Castells (1998, 2004) e Semprini (1997, 2003). Importa, neste momento, acentuar que Castells
(1998: 463) vê os fluxos como «des séries significatives, répétitives et programmables
d’échanges et d’interactions entre des positions géographiquement éloignées occupées par
des acteurs sociaux dans les structures économiques, politiques et symboliques de la société».
Uma outra dimensão deste conceito surge no livro La Société des Flux – Formes du sens et
identité dans les sociétés contemporaines, onde fluxo é visto como «métaphore interprétative
des procès de changement en cours dans les sociétés postmodernes» (Andrea Semprini,
2003: 19).
Para o presente projecto, interessa-nos aprofundar estas várias perspectivas sobre o
mesmo objecto de estudo, uma vez que se trata de abordagens conducentes à centralidade do
conceito de fluxos no processo educativo, facto que justifica este estudo, mediante a (re)leitura
dos conteúdos apresentados. Além disso, retomando estas três definições, (re)construiremos
uma narrativa com algumas palavras-chave – movimento, espaço integrador e transformação
da temporalidade dos fluxos – que podem ser reveladoras das mudanças que os elos de
transversalidade implicam na Sociedade.
Em primeiro lugar, na definição que nos é apresentada no Dicionário da Língua
Portuguesa, identificamos o movimento como uma das componentes da Sociedade de Fluxos,
o que altera o ritmo, o espaço e o tempo inerentes à deslocação constante da comunicação.
De facto, assiste-se a formas mais aceleradas, ou mesmo momentâneas, de acesso ao
conhecimento. Os fluxos de informação que navegam pelas redes e os nós que compõem a
geografia do espaço Internet caracterizam-se por
31
calculadora universal.»
Em segundo lugar, a perspectiva estrutural, que é apresentada nos trabalhos de
Castells, leva-nos a identificar a Sociedade de Fluxos como um espaço integrador dos elos –
síncronos, assíncronos e híbridos – que a comunicação educacional disponibiliza ao
aprendente, permitindo-lhe promover a sua própria aprendizagem ao longo da vida em
espaços diversificados: da sala de aula ao ciberespaço. Estes elos síncronos, assíncronos e
híbridos foram exemplificados, estudados e analisados na tese de doutoramento que
apresentámos no domínio da Comunicação Educacional Multimédia. O estudo mostrou que
estes outros espaços de aprendizagem requerem que a universidade se torne, por um lado,
um ambiente acolhedor de aprendizagens integradoras daqueles meios mediatizados que são
utilizados pela sociedade em geral (electrónicos, satélite e/ou da internet) e, por outro lado, um
espaço que consegue, cada vez mais, dar resposta a aprendentes activos, que procuram, ao
longo da vida, actualizar aprendizagens, utilizando, por vezes, vias não-formais de acesso ao
conhecimento. Dando resposta a estas preocupações actuais que a Sociedade de Fluxos
coloca ao Ensino Superior, torna-se importante, do nosso ponto de vista, observar que a
concepção destes novos espaços flexíveis passa pela concepção de elos síncronos,
assíncronos e híbridos de comunicação.
Por último, os estudos de Semprini podem levar à identificação de outro elemento
caracterizador desta Sociedade – a transformação da temporalidade dos fluxos no
ciberespaço – factor que ajuda a perspectivar articulações com o e-Portfolio:
– passagem de uma sociedade de massa para a individualidade de cada ser humano, facto
que implica pensamento próprio e reconstrução de «grandes narrations» (Semprini, 2003),
criadas através da partilha e da reflexão colectivas.
Tais transformações viabilizam o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem
globalizantes que articulam espaços (local e global) e um cruzamento icónico, verbal, no
espaço virtual em que se materializa a rede: o Ciberespaço. Como escrevem Monot e Simon
(1999: 75), ciberespaço é «una sociedad sin fronteras». Nesta linha de reflexão, inscreve-se
ainda o estudo desenvolvido por Pierre Lévy (1999: 44), quando apresenta o termo
relacionando-o como uma «turbulenta zona de trânsito de signos vectorizados». Este conceito
foi estudado e desenvolvido num grupo de discussão (http://www.eses.pt/ciberespaco/) que
integrou um dos projectos integrantes do documento «Intercompreensão: da sala de aula ao
ciberespaço».
No ponto seguinte, integraremos este conceito num eixo tecnológico, contribuindo
desta forma para a evolução do mesmo, agora numa dimensão de multimodalidade.
32
Recorreremos aos trabalhos da investigadora Clara Ferrão Tavares (2003, 2004, 2005), no
estudo sobre a «multimodalidade nos discursos de transmissão de conhecimentos», e aos
dados obtidos na disciplina curricular de 2º ano do Curso de Educação e Comunicação
Multimédia «Laboratório Audiovisual: Hipermédia», em testes de usabilidade, relacionados
com a leitura do hiperdocumento, as estratégias de navegação e os estilos de aprendizagem.
O enquadramento do termo multimodalidade, neste projecto, emergiu da
caracterização que desenvolvemos ao identificar alguns indicadores tecnológicos de mudança
– movimento, espaço colaborativo, temporalidade – numa Sociedade de Fluxos. De facto,
estes indicadores contribuem para a construção de um formato tecnológico multimodal,
através da mediação, em constante devir, de formatos síncronos, assíncronos e híbridos, ou
seja, multimodais, formatos aqui entendidos como aqueles que apresentam «uma zona de
proximidade entre os espaços de aprendizagem formais e não formais» (Clara Ferrão Tavares,
2005: 17).
Embora a «representatividade» do termo seja marcante numa Sociedade de Fluxos,
trata-se de um termo recente, dado que, no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea
da Academia das Ciências de Lisboa (2001), não consta a sua definição. Contudo,
encontramos o termo multímodo (2001: 2548) associado à ideia de algo «que se apresenta de
muitas maneiras». No estudo a desenvolver, o e-Portefolio apresenta-se como uma
característica da galáxia Internet, aqui entendida, não só como uma tecnologia, mas também
como um «instrumento tecnológico e organizativo que distribui o poder da informação, a
geração de conhecimentos e a capacidade de ligar-se em rede em qualquer âmbito da
actividade humana» (Castells, 2004: 311). Este autor, para além de alargar a dimensão do
conceito de Internet, apresenta ainda dados que ajudam a perceber a disponibilização deste
espaço colaborativo a ser utilizado, este ano, por 1000 milhões de utilizadores, e
apresentando, para 2010, a possibilidade de expansão a 2000 milhões de cibernautas. Estes
números obrigam a interrogar-nos sobre as mudanças que implica, no plano tecnológico, esta
multiplicidade de novos utilizadores que se movimentam numa Sociedade de Fluxos.
No plano da construção de conteúdos confrontamo-nos com uma primeira questão:
como podemos «reconfigurar» (Dias, 2005), ou «declinar» (Ferrão Tavares, 2005) conteúdos
de um texto escrito para um formato digital que inclua uma contextualização dinâmica e
interactiva em actualização frequente? Encontrar respostas para estas perguntas constituirá
um eixo orientador do projecto que nos propomos desenvolver.
No plano da recepção, perguntamo-nos: como é que podemos determinar os efeitos da
multimodalidade criados por outros espaços de aprendizagem? Uma vez mais, os estudos
publicados por Ferrão Tavares ajudam a dar resposta a esta questão. Como refere o artigo
«Literacias, usabilidade e mediação: do papel ao ecrã» (2005: 2), o facto de os cibernautas
serem colocados perante a diversidade de suportes e de informação «não garante que todos
sejam capazes de transformar essa informação em conhecimento, que sejam capazes de se
33
apropriarem da informação, relacionando-a, contextualizando-a, situando-a em quadros de
referência, fazendo a sua interpretação crítica».
No plano da divulgação, perguntamo-nos: como é que podemos processar e
disponibilizar com qualidade a informação, no sentido de levar à sua transformação em
conhecimento?
Correndo o risco da simplificação, tentaremos apresentar de forma resumida os elos de
transversalidade que os contextos sociais e tecnológicos propõem para a Sociedade de
Fluxos. A figura que se segue é representativa da mudança de contextos. Os elos de
transversalidade, na sociedade de fluxos, são marcados pela mobilidade da informação que se
movimenta nos nós que compõem a rede. Acreditamos que, com estes percursos de mudança
e respectivas intersecções, ultrapassamos o tempo e o espaço da sociedade contemporânea,
para atingir a «conexão» com outros espaços virtuais que implicam o conhecimento de outras
condições de enunciação, de espacialização e de temporalização.
Contexto Social:
movimento,
espaço integrador,
transformação da
temporalidade dos fluxos
Contexto Tecnológico:
construção, recepção e
divulgação
34
8.3 Parte I I – Cenários de construção
8.3.1 Características de um e-P
I = ease of use
Relaciona-se com a necessidade de criar um ambiente atractivo e de fácil acesso à
interface, que se pretende seja dinâmica e permita a mobilidade (“transportability” ou, como
referem os autores francófonos, “interopérabilité”) dos documentos. O e-portfolio poderá ser
utilizado em todos os computadores e estar acessível a todas as horas.
K = advanced features
Somos confrontados diariamente com espaços atractivos, flexíveis e interactivos
on-line onde podemos publicar a informação.
35
Pretende-se que a plataforma esteja sempre disponível, respondendo às expectativas
de usabilidade do cibernauta.
Também a estrutura deste documento digital deverá ser robusta e fiável permitindo a
distinção dos conteúdos “activos/inactivos” de forma a criar uma zona para colocar os
conteúdos em “stock”.
No que respeita à arquitectura para a construção de um suporte digital existem duas
possibilidades:
arquitectura integradora de componentes existentes fora do software, que serão
incorporados à medida que forem sendo necessários;
arquitectura flexível, que inscreve as várias “peças” necessárias à navegabilidade do
documento e que se encontra numa base flexível capaz de responder às
necessidades do cibernauta.
M = lifelong support
Consiste na possibilidade de construir um hiperdocumento capaz de responder às
necessidades do cibernauta ao longo da vida.
• Para facilitar a flexibilidade e “interopérabilité” de dados cada vez mais se tem recorrido
aos standards, tais como x-html e hr-xml. Desde 2005, um consórcio internacional,
“IMS Global Learning”, tem vindo a desenvolver um conjunto de especificidades,
denominadas IMS e Portfolio, que respondem às necessidades de construção de um e-
portfolio. Essas especificidades foram classificadas tendo em conta dois aspectos: o
utilizador do e-portfolio e os dados formais.
A utilização destes documentos digitais pode ser enquadrada em vários cenários reais
de integração ao longo da vida do cidadão: da escola, passando pela universidade, até à
36
inserção no mercado de trabalho. Assim, na parte que se segue tentaremos apresentar as
medidas e os eixos orientadores apresentados por vários países para a dinamização destes
hiperdocumentos.
Começaremos por referir que, em espaço escola, o formato (papel ou digital) e a
normalização de standards dos e-P’s não têm sido os mesmos nos países que têm contribuído
para o desenvolvimento deste suporte.
A nível de formato, enquanto os Ministérios da Educação do Canadá e do Reino Unido
têm vindo a promover a modalidade de avaliação do aprendente recorrendo a um formato
digital, a escola portuguesa tem vindo a trabalhar no sentido de perceber as mudanças que é
necessário introduzir nos textos escritos adoptados nas escolas – portfolio – a fim de que
estes possam ser transferidos para um outro formato – ciberespaço. Veja-se o trabalho que
tem vindo a desenvolver-se nos centros de competência Nónio. (Cf. Parte III)
No caso do Canadá, cada instituição tem a liberdade de trabalhar autonomamente,
traçando objectivos específicos. Por exemplo, na Escola de Saint-Hyacinthe4, no Québec, é o
estudante que selecciona as competências necessárias para desenvolver o trabalho,
estimulando a reflexão e criando um espaço de comunicação para os encarregados de
educação e professores. Também no Institut Saint-Joseph5, assistimos a uma partilha pública
de saberes num espaço pessoal de produção, de arquivo e de reflexão.
Já nos Estados Unidos, optou-se pela normalização de formatos, como em Bristol-
Warren de Rhode Island.
Na União Europeia, a preocupação, partilhada com os outros membros da European
Schoolnet, tem sido desenvolver uma política nacional convergente de utilização do e-portfolio
em espaço escolar.
Noutros países, como é o caso da Colômbia Britânica, o Ministério obriga todos os
aprendentes a completarem os estudos secundários com um e-portfolio.
No que diz respeito ao espaço do ensino superior, são de referir algumas áreas
pioneiras neste campo, tais como a medicina, a enfermagem e a arquitectura, devido à
necessidade de valorizar a auto reflexão, o feedback, e de supervisionar a aprendizagem que
é feita ao longo da vida.
Num cenário de integração do e-portfolio em espaço a distância, são de realçar
algumas plataformas que possibilitam a formação de um e-P tais como: BlackBoard, Dotfolio
da plataforma LRN, WEBCT e Collaba. No próximo ponto apresentaremos os diferentes tipos
de e-P’s existentes.
4
Collaba.cssh.qc.ca/portfolio (elevedemo/demo)
5
Cyberportfolio.st-joseph.qc.ca/public/prinic
37
8.3.3 Tipos de e-portfolios
6
http://edtech.tennessee.edu/~set32/html/definitions.htm
38
empregadores.
e-P’s híbridos: são aqueles que reúnem as potencialidades dos portfolios referidos
anteriormente. Acreditamos que este será o formato a desenvolver neste projecto.
Após escolha da modalidade de e-P a construir, convém ficar a conhecer as etapas que
podem percorrer-se para a construção de um documento digital. São estes passos que
apresentaremos no ponto seguinte.
1. Recolher
Pretende-se que o estudante recolha e guarde em formato digital os ficheiros com que irá
trabalhar posteriormente.
2. Seleccionar
Após recolha dos materiais, o estudante poderá seleccionar os que sejam representativos
da temática a apresentar.
3. Reflectir
Escrever uma reflexão crítica sobre o trabalho, contribuindo para a qualidade do
documento a apresentar.
4. Publicar
Publicar os ficheiros e a informação de forma que o e-P permita a navegabilidade.
39
Professional Contact Announcements Online forum Online survey
development information
Event
Num formato papel nas escolas portuguesas é relevante observar aquilo que é pedido
no 7º ano de Escolaridade, na disciplina de Português – fichas (leitura e trabalhos individuais e
de grupo); textos livres; pesquisas (biográficas, bibliográficas, sites da Internet, outros); testes
escritos; auto e hetero-avaliação do trabalho realizado; anexos – fichas Informativas – em
contrapartida com a mesma disciplina no 10º ano: provas escritas e respectivas correcções;
fichas de trabalho (de natureza gramatical, literária e linguística), fichas informativas; textos –
expressão escrita individual e material de apoio.
Os critérios de avaliação apresentados relacionam-se com: criatividade; apresentação;
adequada justificação dos documentos; organização, autonomia, responsabilidade; datação e
indicação da fonte de correcção linguística; perseverança.
e-portfolios com estrutura flexível: verificamos que existe outro modelo, onde as
possíveis hiperligações estão na interface, permitindo a cada estudante dar um nome
aos botões e possibilitando, assim, um envolvimento personalizado com o processo de
construção do e-portfolio. Como exemplo deste tipo de formatos realçamos o estudo
que apresentamos com a plataforma Blackboard (cf. Parte III)
40
aprendizagens múltiplas do cidadão ibero-americano, tornando-o, deste modo, um construtor
do conhecimento, em espaços que vão de casa até ao ciberespaço.
Esta temática será retomada no capítulo “Reflexão”, que nos ajudará a perceber as
mudanças a nível de hiperligações que implica a construção de um e-P com características
híbridas e flexíveis.
A plataforma moodle, não possui uma ferramenta específica para criação de portefólios
digitais. Contudo, permite o envio/recepção/disponibilização de ficheiros e url's, lançando assim
o percurso de criação de um e-P, ainda que não exista uma ferramenta específica.
Esta plataforma permite definir a estrutura do e-P, criar mensagens, inserir ficheiros e
definir as propriedades de partilha deste documento digital. Assim, ao entrar (com código de
acesso para quem pagou) na área pessoal deverá activar o separador Gestão de Conteúdos.
Em seguida, clicar na opção Criação de Portefólios, do menu “Os meus Portefólios”. Irá ter
acesso ao Assistente de Criação de Portefólios em oito passos:
1: Definição do título e descrição do Portefólio
2: Definição da estrutura e aspecto do menu do Portefólio
3: Criação da mensagem de boas-vindas do Portefólio
4: Inserção de ficheiros no Portefólio
5: Inserção de URL’s no Portefólio
6: Inserção de itens no Portefólio
7 e 8: Definição de propriedades de partilha do Portefólio
41
à criação de um e-portefolio com base no ePortfolio eurppéen de langues digitar
http://www.coe.int/T/DG4/Portfolio/
Opte por fazer o download do ficheiro.
1. Criar um portfolio
Na interface que se abre optar por “enregistrez un nouvel utilisateur”, completar o
formulário e seleccionar “continuez”.
Seleccionar a língua da aprendizagem (ex. francês) e seleccionar a seta para “enregistrer” e
posteriormente em OK.
2. Entrar no e-P
Escolher a língua (ex:francês) e clique em submettez.
3. Completar e verificar o perfil pessoal
Em “détail personnels de mise à jour » preencha os campos com os dados pessoais e
verifique a língua da aprendizagem. Posteriormente opte por
« mettez à jour »
4. Reflectir sobre a aprendizagem conseguida
Nesta interface no campo superior direito optar por « choisissez votre langue
d’apprentissage ».
Na frame da esquerda optar por biographie langagière e completar os dados em mon
cursus d’apprentissage linguistique .
Optar na interface da esquerda por passeport des langues e completar profil de mes
compétences linguistiques
5. Demonstrar a evolução na aprendizagem
Na frame da esquerda optar por mon dossier. Inscrever os dados dos ficheiros com os quais
quer demonstrar a evolução na aprendizagem.
6. Planificar as prioridades e projectar cenários de futuro
Em biographie langagière optar por mes priorités actuelles dans l’apprentissage linguistique por
tentar planificar as prioridades de aprendizagem ao longo da vida.
A exploração desta plataforma e a sua tradução para língua portuguesa tem vindo a
constituir o enfoque central dos projectos desenvolvidos no âmbito do Curso de Educação e
Comunicação Multimédia ministrado na Escola Superior de Educação de Santarém. Este
projecto tem vindo a ser apresentado na modalidade de Workshops em espaço escolar e
coóquios (Cf. Workshop – Construir um e-P com a plataforma ELGG.) e tem como principal
objectivo contribuir para que todo o cidadão tenha um e-P até 2010.
42
8.5 Conclusão
Tendo em conta tudo aquilo que acabamos de apresentar nos tópicos anteriores
estamos neste momento em condições para apresentar algumas das potencialidades
pedagógicas da utilização deste e-P:
estruturar o próprio portfolio permite aos cibernautas sentirem-se construtores da
estrutura personalizada deste espaço, permitindo posteriormente a reflexão sobre
aquilo que produzem;
proporcionar um “continued teacher reflection” – ou “work in progress”;
apresentar um formato que pressupõe o desenvolvimento de competências na área
das tecnologias (hiperligações, bookmarks);
permitir a cada cidadão perceber o seu próprio trajecto recorrendo à reflexão;
reconhecer a progressão na aprendizagem;
promover a reflexão, uma vez que o aprendente apresenta uma retrospectiva do
próprio processo de aprendizagem;
relacionar, através de conexões reflexivas, o que os alunos aprendem em diferentes
contextos (académico, interesses pessoais e mundo) ;
participar em espaços de partilha do conhecimento.
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Lowa eportfolio Model, A Universidade de Lowa – College of Education apresenta o modelo
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Observatory for new Technologies and Education, Eportfolio Scenarios
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College of Education Eportfolio, informações sobre os suportes necessários para a
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Tracy Penny Light, University of Waterloo (Canada) Office of the Associate Vice-President,
Learning Resources and Innovation (AVP-LRI)
http://www.carnegiefoundation.org/master/sub.asp?key=38&subkey=801
46
9 Portefólios digitais em Portugal. Uma reflexão preliminar no
âmbito do projecto DigiFolio
9.1 Resumo
A reflexão aqui apresentada resulta das actividades do Projecto DigiFolio, um projecto
europeu cuja finalidade é o desenvolvimento de um curso de formação de professores que
conjugue as potencialidades educativas dos portefólios e o potencial das Tecnologias de
Informação e comunicação. Constitui uma aproximação à utilização de portefólios em Portugal,
bem como às condições em que essa utilização emerge. Para a análise foram considerados
diferentes aspectos: a concepção de professor veiculada pelo quadro normativo e curricular –
que permite averiguar a existência de condições propícias ou inibidoras do uso de portefólios
por parte dos professores; a investigação produzida em Portugal sobre o tema – que
representa o que se sabe sobre esta estratégia de trabalho; e, finalmente, alguns casos
práticos de utilização de portefólios electrónicos em contexto educativo – que ilustra o grau de
apropriação desta modalidade de trabalho por parte de agentes e instituições educativas.
Conclui-se a existência de um clima favorável à apropriação desta metodologia por parte dos
professores, embora diversos constrangimentos fixem um contexto em que a sua utilização
quotidiana é ainda escassa.
47
9.2 Introdução
A concretização dos objectivos do Projecto DigiFolio – Portefólio Digital como Estratégia
de Desenvolvimento Profissional de Professores7 exigiu uma primeira reflexão sobre a situação
actual no que se refere à utilização educativa de portefólios e de portefólios digitais nos
diferentes países que integram o Projecto. Obedecendo a um plano de trabalho comum
previamente estabelecido, apresenta-se aqui a reflexão sobre o caso português, organizada
em torno de três eixos principais: a concepção de professor veiculada pelo quadro normativo; a
investigação produzida sobre o tema; e alguns exemplos de utilização de portefólios
electrónicos.
7
Um projecto Comenius (Acção 2.1) que tem como finalidade última a concepção de um curso de formação de
professores baseado na conjugação das potencialidades educativas dos portefólios com o potencial das tecnologias
digitais. Mais informação sobre o projecto está disponível em http://www.fpce.ul.pt/pessoal/ulfpcost/digifolio
48
modalidades de formação e de avaliação do desempenho profissional incongruentes entre si.
Assim, se o modelo subjacente ao quadro normativo referido o professor é percebido como um
agente activo, autónomo e responsável, consciente das suas necessidades de formação,
outros documentos legais e algumas práticas vigentes concebem o professor como um
funcionário ou um técnico passivo, incapaz de tomar decisões autónomas relativas à sua
prática contextualizada, dependente de regulamentações cerradas sobre “o que pode e deve
fazer”, e obrigado a participar em acções de formação, não porque correspondam a
necessidades suas ou a desafios do seu profissionalismo, mas porque a administração central
as considera prioritárias para divulgar informação ou porque elas são requeridas para a
progressão salarial na carreira.
Relativamente à formação contínua as práticas mais frequentes são as que levam à
frequência de cursos, embora haja um reiterado discurso sobre o professor como um
profissional reflexivo, inovador e capaz de desenvolver processos de investigação. As
modalidades que apelam à participação activa e responsável do professor na formação são
menos frequentes e os níveis de participação na concepção e gestão dos planos de formação
deixa muito a desejar.
Em síntese, podemos dizer que o quadro normativo apresenta uma concepção do
professor como um profissional do ensino, autónomo e responsável, mas há, na prática, ainda
muito terreno a percorrer e obstáculos a ultrapassar.
Se ao nível do discurso sobre a profissão se constata uma valorização da inovação e da
investigação a realidade da generalidade das escolas ainda está afastada dessa meta. No que
diz respeito ao portefólio, podemos dizer que há uma recepção bastante positiva a
metodologias de formação inovadoras, entre as quais se poderá situar o uso do portefólio, quer
para si próprio quer aplicado na prática pedagógica com os seus alunos.
Importa ainda salientar que, no que se refere ao seu contexto de trabalho, as
características da organização curricular que o professor terá de considerar na sua prática
pedagógica constituem uma forte determinante da sua acção. As recentes alterações ao
currículo nacional do Ensino Básico, traduzidas na definição de um currículo de competências,
introduziram áreas curriculares não disciplinares orientadas para a aquisição de competências
transversais, nomeadamente ao nível do “aprender a aprender” e sugeriram a utilização do
dossier do aluno, instrumento que deve acompanhá-lo ao longo de toda a escolaridade
obrigatória. Estas inovações que se inscrevem num processo de implementação de práticas de
gestão curricular flexível, oferecem um campo de trabalho propício à utilização de formas de
avaliação das aprendizagens e de organização curricular diferenciadas, entre as quais o
portefólio veio ganhando destaque.
Neste sentido, editoras com forte presença no mercado dos manuais escolares
produziram algumas publicações sobre a utilização do portefólio, que se apresentam sob a
49
forma de guias de utilização deste instrumento e ferramentas de propaganda para a sua
difusão (Bernardes e Miranda, 2003; Coelho e Campos, 2003; Nunes, 2000).
Paralelamente, foi criada a “Iniciativa Ligar Portugal”, uma estratégia integrada no Plano
Tecnológico do Governo que visa a “generalização do dossier individual electrónico (portefólio)
do estudante que termina a escolaridade obrigatória, onde se registarão todos os seus
trabalhos mais relevantes, se comprovarão as práticas relevantes adquiridas nos diferentes
domínios (artístico, científico, tecnológico, desportivo e outros) e se demonstrará o uso efectivo
das tecnologias de informação e comunicação nas diversas disciplinas escolares” e que se
enquadra no programa comunitário Eurofolio 2010.
A introdução do portefólio nos discursos governamentais/jurídicos relativos à formação e
práticas do professor é igualmente acompanhada pela sua apropriação nos discursos relativos
às práticas de reconhecimento e certificação de competências dos adultos pouco
escolarizados. Ambas as linhas discursivas têm como suporte e finalidade a ideia de um
indivíduo capaz de se auto-formar constantemente e, desse modo, de se enquadrar facilmente
nas constantes mudanças sociais e de mercado.
50
desenvolvimento profissional dos professores serão, daí em diante, utilizadas como
fundamento dos estudos desenvolvidos e como “elogio” do portefólio.
Entretanto, foram sendo realizados alguns trabalhos de investigação ao nível de
formação pós-Graduada, e aparecem artigos e capítulos de livros que apresentam situações de
sucesso. Este corpus de publicações, apesar de não ser muito extenso, incide sobre níveis de
ensino e formação e áreas disciplinares diversas, pese embora muita desta literatura consista
não tanto em produtos de investigação, mas antes em descrições de intervenções e
experiências ou em reflexões sobre casos isolados, mas que advogam e fundamentam as
vantagens de utilização do portefólio, numa perspectiva de promoção da mudança e da
inovação.
Os trabalhos de investigação para a obtenção de graus académicos (Batista, 2004;
Coelho, 2000; Menino, 2004; Parente, 2004) incidem na utilização do portefólio por parte dos
professores como estratégia de avaliação, em diferentes níveis de ensino (por exemplo, pré-
Escolar e Matemática do 2.º ciclo do ensino básico) e na sua utilização no contexto de
formação inicial de professores de Biologia (Grilo, 2004).
São teses em que os investigadores introduzem uma prática nova com o objectivo de
estudar as concepções dos actores envolvidos. Neste sentido os autores verificam as
vantagens da utilização ao nível da promoção de práticas reflexivas, da participação dos alunos
no processo de avaliação, e da consciencialização dos processos de aprendizagem.
As dificuldades encontradas prendem-se com a gestão do tempo, as novas funções
docentes, e a necessidade de formação em avaliação. Dificuldades deste tipo vêm mostrar
que, apesar de, ao nível normativo existirem condições interessantes à implementação de
portefólios, as práticas dos professores estão ainda inseridas numa cultura diferente, o que, em
última análise oferece constrangimentos a uma verdadeira gestão flexível do currículo e,
mormente, à utilização em larga escala de instrumentos de monitorização e reflexão sobre
práticas, como é o caso do portefólio.
Ao nível teórico, as teses fundamentam-se na teoria da avaliação e em teorias do
desenvolvimento e da aprendizagem. Quando tentam aprofundar as questões específicas
relativas à implementação do portefólio em sala de aula, os autores baseiam-se em referências
estrangeiras, devido à escassez de uma literatura nacional mais aprofundada.
Estas investigações têm ainda em comum a apresentação de uma diversidade de
significados atribuídos a portefólio, pelo que começam, geralmente, por apresentar uma
definição de portefólio e de diversos tipos de classificação de portefólio. Este é frequentemente
referido e descrito como um produto, resultante de um processo, mas não como modelo
curricular, ou metodologia de trabalho pedagógico. Os estudos parecem ser, de um modo
geral, ainda bastante presos à ponderação sobre as vantagens da utilização portefólio,
mostrando que esta técnica está ainda a ser apropriada pelos professores e investigadores. A
51
inexistência de material crítico sobre o tema, pode também ser tomada como indício de uma
presença ainda incipiente da concepção e utilização de portefólios.
Ainda neste sentido, verifica-se, ao nível da produção teórica, a associação do portefólio
à prática reflexiva e à promoção de competências transversais e de consciencialização sobre
os processos de aprendizagem, mas são poucas as referências ao desenvolvimento de
competências específicas. O portefólio é também apresentado primeiramente como um
instrumento de avaliação/demonstração e menos como um instrumento de aprendizagem.
Em qualquer caso a referência teórica nacional mais citada e com maior visibilidade é a
de Idália Sá-Chaves que continua a publicar apresentações de casos em que o portefólio é
utilizado (Sá-Chaves, 2005) contribuindo para a divulgação, junto de diversos públicos,
nomeadamente estudantes-futuros professores e formadores de professores, destas
experiências e para a constituição de uma “rede” de trabalho ao nível das instituições de ensino
superior. Os casos que divulga situam-se em diferentes áreas de conhecimento e de níveis de
formação, sendo particularmente relevante o seu uso no ensino superior em estudos de
formação inicial, complementar e pós-graduada em cursos de mestrado e doutoramento. Neste
sentido o portefólio é também muitas vezes utilizado como suporte de metodologias de
investigação-acção, em experiências nos mais diversos níveis de ensino e em áreas
disciplinares/curriculares muito variadas. A autora é também responsável por cunhar a ideia de
um “portefólio reflexivo” no campo da formação de professores e da sua prática.
52
Sendo uma ferramenta em expansão e associada às TIC, é possível encontrar alguns
sites que organizam informação específica sobre esta temática, como é o caso de “O Mocho”
(www.mocho.pt – Portal de Ensino das Ciências e Cultura Científica), e-Portefólio
(http://nonio.eses.pt/eportfolio – Site do Centro Nónio da Escola Superior de Santarém, com
recursos sobre eportefólios e que se apresenta como um local de encontro, discussão,
disponibilização de recursos, divulgação de experiências e produtos, desenvolvimento de
projectos e investigação de e-portefólios em Portugal) e, finalmente, o GT-PA
(http://portefolios.no.sapo.pt/ – O Grupo de Trabalho - Pedagogia para a Autonomia (GT-PA)
criado em 1997, na sequência de estudos e projectos do Departamento de Metodologias da
Educação do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, realizados nos
campos da formação de professores e da pedagogia da língua, com uma incidência prioritária
nos conceitos de "reflexão" e "autonomia").
A utilização de weblogs pode também ser considerada uma prática próxima à utilização
de portefólios pois esta ferramenta permite a apresentação/referência a produtos realizados
pelo aluno, conferindo uma dimensão processual ao trabalho do aluno através da realização de
reflexões pessoais ao longo do processo de formação. É o caso da proposta de actividades
aos alunos das disciplinas de Tecnologias Educativas da Licenciatura em Ciências da
Educação, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa,
em que trabalham os autores deste relatório8.
Os weblogs têm vindo a ser utilizados na formação inicial de professores e por parte de
professores na sua prática pedagógica. No entanto, e no que se refere às práticas do
professores, os weblogs são utilizados essencialmente como plataformas interactivas de
comunicação e de reforço da identidade do grupo (por exemplo, o Geografismo:
www.geografismos.blogger.com.br, que é mantido por um professor da escola Luísa de
Gusmão e deu origem a blogues de alunos). Não nos podemos esquecer que a facilidade de
acesso a motores gratuitos de weblog facilita a sua utilização para diversos fins, mas não é
geralmente acompanhada de um processo formativo de trabalho pedagógico com a
ferramenta.
Um projecto multidisciplinar denominado Uma Viagem às Origens: Experimentar a
Astrobiologia (A Journey to the Origins. Astrobiology in the Lab), coordenado pelo projecto
Ciência Viva, envolve a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Departamento de
Educação e Biologia Ambiental) e escolas do ensino básico e secundário. (Francisco
Carrapiço, Ana Lourenço, Luísa Fernandes, Telma Rodrigues), utiliza esta metodologia. O
projecto teve como finalidade criar uma proposta de reorganização curricular, onde os alunos
tivessem possibilidade de tomar contacto com novas tecnologias de informação e comunicação
e realizar um conjunto de actividades laboratoriais. O projecto refere a construção de um
8
Alguns destes trabalhos individuais continuam disponíveis e podem ser consultados como por exemplo:
http://hemajoro.blogspot.com/, ou http://mariatec.blogspot.com/.
53
portefólio digital com os materiais desenvolvidos pelos professores e alunos envolvidos na
conferência de 2001. Neste caso o portefólio parece ser um suporte para os trabalhos
desenvolvidos.
Já na Universidade de Aveiro, que disponibiliza cursos em modalidade de e-learning e
de complemento às aulas presenciais, a plataforma utilizada oferece uma funcionalidade de e-
Portefólio.
A Oficina de Formação “Formar Professores em Rede” levou a que os formandos
desenvolvessem “portefólios electrónicos” que são mostras de trabalho on-line.
9.7 Referências
• Anderson, R. S. & DeMeulle, L. (1998) Portfolio use in twenty-four teacher education
programs, Teacher Education Quarterly, 23–31.
• Barrett, H. (2000) Electronic teaching portfolios: multimedia skills+portfolio
development=powerful professional development. Available online:
http://electronicportfolios.com/portfolios/3107Barrett.pdf (accessed 5 April 2004)
54
• Batista, Maria Eugénia Ribeiro Garcia (2004). Avaliação Ecológica no Pré-Escolar.
Portfolio: Um instrumento de (auto)avaliação. Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade da Beira Interior.
• Bernardes, Carla & Miranda, F. (2003). Portefólio: Uma escola de competências. Porto:
Porto Editora.
• Cardoso, Barbosa e Alaiz (1998) Pensar avaliação, melhorar a aprendizagem (Folha
Informativa B/16). Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
• Coelho, A. (2000) A Organização das Aprendizagens: Portfolio enquanto caminho para
a metacognição. Dissertação de Mestrado do departamento de Educação da FCSH –
UNL.
• Coelho, Maria da Conceição & Campos, Joana (2003). Como abordar... o portfolio na
sala de aula: ensino básico, ensino secundário. Porto: Areal Editores.
• Darling-Hammond, L. & Snyder, J. (2000) Authentic assessment of teaching in context,
Teaching and Teacher Education, 16 (2), 523-545.
• Fernandes, D; Neves, A.; Campos, C.; Conceição J. e Alaiz, V. (s/d). Portfolios: para
uma avaliação mais autêntica, mais participada e mais reflexiva. In IIE (ed), Pensar
avaliação, melhorar a aprendizagem. Lisboa: IIE.
• Fernandes, Domingos (1997). “Avaliação na escola básica obrigatória: Fundamentos
para uma mudança de práticas”. In Pedro da Cunha (Org.) Educação em debate.
Lisboa: Universidade Católica.
• Grilo, João Maria Aranha (2002). Portfolios reflexivos na formação inicial de
professores. Um estudo na formação de professores de Biologia e Geologia ao nível de
estágio pedagógico integrado. Dissertação apresentada à Universidade de Évora para
obtenção do grau de Mestre em Ciências da Educação.
• Harland, T. (2005). Developing a portfolio to promote authentic enquiry in teacher
education. Teaching in Higher Education, 10 (3), 327-337
• Kaplan, M. (1998). The teaching portfolio. CRLT nº 11.
• Menino, Hugo Alexandre Lopes (2004). O Relatório Escrito, o Teste em duas Fases e o
portfolio como Instrumentos de Avaliação das Aprendizagens em Matemática. Um
estudo no 2.º ciclo do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado apresentada à
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
• Norberto, F. Henriques, António Mendes, António D. Figueiredo, Paulo R. Cunha
(2005a). “Uma ferramenta de e-portfolios para o LearningOnWeb”, IE Comunicaciones,
1, pp.39-47, asociación para el Desarrollo de la Informática Educativa, June 2005.
• Norberto, F. Henriques, António Mendes, António D. Figueiredo, Paulo R. Cunha
(2005b). “Na e-portfolio tool for learningonweb”, VII Congresso IberoAmericano de
Informática Educativa, México, 13 a 15 de Outubro de 2004.
55
• Nunes, Jorge Miguel (2000). O professor e acção reflexiva: portfolios, “vês” heurísticos
e mapas de conceitos como estratégias de desenvolvimento profissional. Cadernos do
CRIAP, 10. Porto: Asa.
• Parente, Maria Cristina Cristo (2004). A construção de práticas alternativas de
avaliação na pedagogia da infância: sete jornadas de aprendizagem. Dissertação
apresentada à Universidade do Minho para obtenção do Grau de Mestre em Ciências
da Educação. Texto policopiado.
• Sá-Chaves, Idália (1998) “Portfolios no fluir das concepções das metodologias e dos
instrumentos”, In Almeida, L. Tavares J. Conhecer, Aprender, Avaliar. Porto: Porto
Editora.
• Sá-Chaves, Idália (2000). Portfolios reflexivos: estratégia de formação e de supervisão.
Cadernos Didácticos. Aveiro: Universidade de Aveiro.
• Sá-Chaves, Idália (2005). Os Portfolios Reflexivos (também) trazem Gente Dentro.
Reflexões em Torno do seu uso na Humanização dos Processos Educativos. Porto:
Porto Editora.
• Zeichner, K. & Wray, S. (2001) The teaching portfolio in US teacher education
programs: what we know and what we need to know, Teaching and Teacher Education,
17, 613–621.
• Zidon, M. (1996) Portfolios in preservice teacher education: what the students say,
Action in Teacher Education, 18 (1), 59–70.
56
10 E-Portefólio: da especificação ao processamento digital
10.1 Resumo
Nos últimos tempos, o interesse pelos e-portefólios tem vindo a aumentar e a sua
consequente proliferação também. É de consenso geral que os e-portefólios representam
instrumentos de grande valor e poderão ser utilizados em vários contextos que vão do ensino
(registo de percursos de aprendizagem) ao contexto empresarial (um superconjunto de um
curriculum vitae).
No entanto, se nos debruçarmos sobre o formato (estrutural) dos e-portefólios em
utilização nos vários contextos constatamos rapidamente que não há consenso. Cada
instituição utiliza a sua estrutura alicerçada nos seus próprios argumentos. Esta não
normalização estrutural, apesar de inicialmente poder parecer rica, levanta muitos problemas
no domínio digital. Sem normalização não é possível a criação de ferramentas automáticas de
geração e manipulação de e-portefólios, não é possível criar repositórios de e-portefólios que
depois sejam pesquisados via uma interface uniforme. Será, também, muito difícil comparar e-
portefólios para fins de avaliação ou outros.
Foi com estas preocupações em mente que se criou um desafio aos alunos finalistas das
licenciaturas em Engenharia de Sistemas e Informática e em Matemática e Ciências da
Computação. O desafio era o de criar um ambiente protótipo que permitisse a edição e a
posterior publicação electrónica automática de e-portefólios em HTML e PDF. Esse ambiente
teria de assentar numa especificação formal (gramatical) do que é um e-portefólio. Para isso
os alunos foram incentivados a pesquisar e a consultar várias instituições que já utilizam e-
portefólios. No fim a sua especificação deveria ser um misto de um denominador comum e um
somatório de todos os aspectos cobertos pelos e-portefólios analisados. Uma vez que estes
alunos estavam prestes a integrar o mercado profissional foi-lhes também indicado como
requisito que deveria ser possível extrair o curriculum vitae automaticamente da sua
especificação.
No fim, foram criados alguns protótipos que utilizam apenas tecnologia “neutra” (ou seja,
capazes de funcionar em qualquer configuração de hardware e software), baseados em
formatos abertos (XML, XSLT, HTML, XSLFO e PDF) e que exibem os seguintes resultados:
• Uma especificação gramatical (em XML Schema) do que é um e-portefólio.
• Um editor especializado na edição de e-portefólios.
57
• Um gerador automático de versões HTML de e-portefólios.
• Um gerador automático de versões PDF de e-portefólios.
Durante a comunicação será apresentada e discutida a especificação do que é um e-
portefólio e será demonstrada a tecnologia utilizada e os resultados obtidos.
58
11 O curriculum DeGóis – um e-Portefólio científico
11.1 Resumo
A plataforma DeGóis, plataforma nacional de ciência e tecnologia, é uma estrutura
sistémica que permite ao utilizador uma gestão eficiente da informação constante no seu
Curriculum Vitae (CV). Devido aos esforços no sentido de assegurar a interoperabilidade com
outros sistemas e a integração com os repositórios digitais, o CV transformou-se naturalmente
num portal para a descrição dos trabalhos efectuados e daí para os próprios trabalhos. Assim,
o DeGóis representa também uma plataforma de e-portefólios científicos e, portanto, este
artigo apresenta a sua arquitectura e os seus princípios, por forma a demonstrar que, pela sua
natureza, o currículo de actividade científica tal como ele é implementado nesta plataforma,
incluindo não só uma listagem do histórico do investigador mas também ligações às próprias
produções científicas e técnicas disponíveis numa rede de partilha de conhecimento, é um e-
Portefólio, já que se enquadra no conceito aceite pelo consórcio EIfEL (European Institute for
E-Learning) ao representar uma colecção autêntica e diversa de indicadores de parte do
conhecimento e capacidades adquiridos ao longo do tempo pelo investigador e sobre os quais
houve reflexão de uma comunidade (graças ao peer review e aos processos de partilha de
conhecimento científico) destinando-se à consulta pelo próprio, pela comunidade de
utilizadores que partilhem os mesmos interesses científicos e pelas empresas.
11.2 Introdução
No mundo actual, o conhecimento científico e a inovação tecnológica são os factores
mais importantes na promoção do desenvolvimento das nações. Com o objectivo de promover
a recolha, disponibilização e análise da produção intelectual, científica e outras informações
curriculares dos investigadores portugueses, num enquadramento internacional, a plataforma
59
de curricula DeGóis surge como uma ferramenta orientada à gestão individual do curriculum
por parte do utilizador e à visualização de curricula mediante pesquisas baseadas em critérios
relacionados com o conteúdo do curriculum. Sendo uma plataforma digital de introdução,
partilha e visualização de informação profissional, permite que esta esteja devidamente
organizada, actualizada e disponível para que seja fácil a sua localização por potenciais
interessados nas actividades desenvolvidas.
A plataforma DeGóis está enquadrada em duas redes internacionais de informação de
ciência e tecnologia: a Rede Internacional de Fontes de Informação e Conhecimento para a
Gestão da Ciência, Tecnologia e Inovação (Scienti – www.scienti.net), uma metodologia de
trabalho em rede através da qual são viabilizadas a colaboração entre organismos nacionais de
ciência e tecnologia, grupos de investigação e desenvolvimento em informação sobre ciência e
tecnologia, organismos internacionais de ciência e tecnologia e entidades patrocinadoras, para
o desenvolvimento, implantação e operação de metodologias e ferramentas de informação de
apoio à gestão da actividade científica e de inovação tecnológica dos países membros da rede;
e o euroCRIS (www.eurocris.org), uma associação europeia sem fins lucrativos que promove o
acesso e divulgação da informação sobre investigação e que tem por objecto a constituição de
um ponto de referência para a informação relacionada com o desenvolvimento e a promoção
dos CRIS – Current Research Information Systems (sistemas de informação para a
investigação em curso). Estas redes apresentam-se como meio privilegiado de divulgação
internacional do curriculo científico, a ScienTI no espaço ibero-americano e o euroCRIS no
espaço europeu, e do consequente estabelecimento de parcerias e sinergias. Assim, o DeGóis
é também uma plataforma de acesso a estas redes e às interacções que elas podem
proporcionar.
O objectivo deste artigo é apresentar a plataforma DeGóis, a sua arquitectura e os seus
princípios. Simultaneamente, pretende-se demonstrar que, pela sua natureza, o currículo de
actividade científica tal como ele é implementado nesta plataforma, incluindo não só uma
listagem do histórico do investigador mas também ligações às próprias produções científicas e
técnicas disponíveis numa rede de partilha de conhecimento, é um e-Portefólio, já que se
enquadra no conceito aceite pelo consórcio EIfEL (European Institute for E-Learning) ao
representar uma colecção autêntica e diversa de indicadores de parte do conhecimento e
capacidades adquiridos ao longo do tempo pelo investigador e sobre os quais houve reflexão
de uma comunidade (graças ao peer review e aos processos de partilha de conhecimento
científico) destinando-se à consulta pelo próprio, pela comunidade de utilizadores que partilhem
os mesmos interesses científicos e pelas empresas.
60
11.3 A plataforma DeGóis
A plataforma DeGóis, Plataforma Nacional de Ciência e Tecnologia, é propriedade da
Fundação para a Ciência e Tecnologia que, através de um protocolo com o Gávea® –
Laboratório de Estudo e Desenvolvimento da Sociedade de Informação do Departamento de
Sistemas de Informação da Universidade do Minho, com o Ministério da Ciência e Tecnologia
Brasileiro e com o grupo Stela da Universidade Federal de Santa Catarina no Brasil, garante a
manutenção dos princípios básicos da Plataforma DeGóis, e estabelece a forma jurídico-
institucional com que o projecto será desenvolvido. Na perspectiva do utilizador, é constituído
por uma aplicação de gestão de curricula, desenhada especialmente para o proprietário do
Currículo Vitae (CV), e por um portal onde é possível pesquisar e visualizar a informação dos
investigadores. As secções seguintes descrevem com maior detalhe esses dois módulos.
61
O modelo de dados que suporta o DeGóis é extremamente complexo e resulta de
vários anos de desenvolvimento, quer da perspectiva tecnológica quer da perspectiva social.
Como consequência, os utilizadores podem inserir informação académica relacionada com
todas as áreas de conhecimento, incluindo informação normalmente esquecida nas
plataformas de curricula, como partituras musicais ou maquetas, de acordo com cada perfil de
CV, consequência das áreas de actuação do seu proprietário. Todos esses campos são
apresentados ao utilizador através de um interface simples, que reflecte a filosofia orientada
aos objectos da plataforma fazendo com que objectos de tipos semelhantes, como por exemplo
diferentes tipos de publicações, herdem características comuns e, portanto, apresentem
interfaces muito semelhantes.
62
Figura 2: O Portal DeGóis
A existência deste portal, além das vantagens evidentes relacionadas com a partilha de
informação e a facilidade de localização de potenciais parceiros, proporciona também um certo
nível de confiança à informação apresentada pelos investigadores no seu CV, uma vez que
existe uma verificação informal da validade da informação derivada da disponibilidade pública
do CV. As alegações de percurso académico efectuadas por cada investigador originam um
interesse natural por parte de outros investigadores especialistas nas mesmas áreas. Isto
proporciona uma espécie de peer-review da informação curricular, pois prestar falsas
informações num CV teria consequências na reputação do seu proprietário.
O proprietário do CV tem ainda outra vantagem proporcionada pelo Portal DeGóis: ele
tem agora um URL (Uniform Resource Locator), um endereço Internet, para o seu Curriculum
Vitae oficial.
63
sofreram uma metamorfose que os transformou em e-portefólios. A utilização de normas
internacionais de interoperabilidade é fundamental para criar redes de partilha que valorizam o
trabalho divulgado e criam novas oportunidades. As secções seguintes descrevem um pouco
melhor as normas seguidas pelo DeGóis.
11.8 CERIF
A iniciativa CERIF teve início no final da década de 80 do século XX originando o CERIF91,
a primeira norma relacionada com os sistemas de informação sobre investigação em curso
(CRIS – Current Research Information Systems), e evoluiu para a norma CERIF2000, que
resolve os problemas relacionados com o foco dos CRIS do final do século XX numa única
entidade, propondo três modelos (Asserson, 2002):
64
11.9 Conclusões
Em conclusão, o DeGóis é uma plataforma complexa e madura que suporta uma
estrutura para a informação académica dos investigadores. Partindo do potencial criado podem
ser geradas, de forma transparente para o utilizador, diversas vistas como, por exemplo, os
CVs e os e-portefólios. Esta evolução de uma plataforma rígida e isolada para uma plataforma
multifuncional, interoperável e integrável só é possível graças à evolução dos repositórios
digitais e à sua adopção generalizada bem como à criação e adopção de normas
internacionais, um processo ainda não concluído e onde Portugal desempenha um papel
fundamental graças às parcerias desenvolvidas e às ligações culturais que tem com países de
todo o mundo.
11.10 Referências
• Asserson, A. Et al: CERIF : Past, Present and Future : an Overview, Gaining Insight
From Research Information – 6th International Conference on Current Research
Information Systems, Kassel University Press, Germany, 2002.
• CNPq – Brazilian National Research Council: The Lattes platform, Brasilia: CNPq.
2002. Available at http://www.cnpw.br/english/aboutcnpq/pub-
material/beyond_lattes.htm.
• Pacheco, R. C. S.: Lattes Platform: the methodological steps, Presentation at the
euroCRIS members meeting. Lisbon, November 2005. Available at
http://www.eurocris.org/en(meetings/lisbon_november_2005_portugal/presentations/latt
es_platform_the_brazilian_system_of_researchers_cvs/M%3A%5CHARRIE&5CDOCU
MENT%5LattesPlatformInBrazil.ppt.
• Pacheco, R. C. S. et al : Toward CERIF-ScienTI cooperation and interoperability,
Enabling Interaction and Quality: Beyond the Hanseatic League – 8th International
Conference on Current Research Information Systems, pp 179-188, Leuven University
Press, 2006
65
12 Certification électronique des pièces constitutives d'un
portefeuille de compétences (eportfolio)
• Jacques Cuvillier
• Florent Pasquier
Université Paris 8
66
12.1 La marque d'authenticité
La confiance accordée à un document tient depuis longtemps à une marque dont le
caractère unique et difficilement falsifiable entraîne une telle présomption d'authenticité qu'elle
est considérée comme une preuve.
Le sceau du roi sur un cachet de cire, le timbre d'ivoire du japonnais, le papier à entête
au graphisme raffiné, tous ces éléments ont été les vecteurs de confiance. La signature
manuelle est, elle aussi, restée curieusement crédible, alors que très peu de comparaisons sont
faites avec un exemplaire de référence, et l'examen minutieux d'une signature n'intervient qu'en
cas de litige.
Les choses se sont compliquées dês qu'apparurent les moyens techniques de
duplication. La photocopie en particulier, a permis de multiplier les certificats pour les adresser
à différents destinataires en même temps qu'elle introduisait des risques supplémentaires de
fraude. La Certification conforme, apposée par un officier public a été pendant des années le
moyen d'introduire une marque d'authenticité sous forme d'une surcharge de la copie du
document après vérification de l'original. Cette mesure toutefois ne conservait son bien-fondé
que dans la mesure où l'original pouvait être reconnu « sans nul doute » de par sa qualité
graphique supérieure à la copie entachée d'une sensible dégradation d'aspect.
Mais à mesure du progrès des outils d'édition et de reproduction de documents, il est
devenu de plus en plus difficile, voire hasardeux pour un fonctionnaire d'une administration
publique, de contresigner en toute sérénité et en quelques minutes des pièces sur la base d'un
document dont le caractère authentique était sujet à caution. En France, la pratique de la
certification conforme a été officiellement abandonnée à juste titre en octobre 2001.
Il reste cependant à considérer, dans notre monde technologique, que l'information ne
doit pás seulement sa qualité à la commodité et à la rapidité de sa diffusion, mais surtout à la
confiance qu'elle peut mériter.
67
suffire à le rendre la source crédible, pas plus que le fait de vérifier que l'ordinateur utilise une
liaison de type HTTPS, condition nécessaire mais pas suffisante pour établir la confiance.
C'est ici qu'intervient la politique de certification, procédure complexe qui fait appel à un
intermédiaire de confiance disposant des informations nécessaires à garantir les qualités et
habilitations des correspondants.
9
Sur le plan administratif, son habilitation peut être garantie par un parrain qui a un rôle d'intermédiaire avec l'autorité
de certification.
68
Les maillons extrêmes sont les fonctions par lesquelles :
• le récipiendaire est identifié de manière formelle par des éléments d'information
(attributes d'identité). La confiance tient alors au caractère indubitable du lien qui relie la
personne physique titulaire du portfolio avec les données d'identité produites.
• les qualités sont désignées et pondérées par des attributs capables de véhiculer des
notions comprises de façon semblable par tout destinataire. Ceci suppose une
interopérabilité à la fois technique – pour le stockage et le transport des données –
mais également relative au contenu pour ce qui est de leur interprétation. Ceci suppose
la mise en place de conventions [1] largement connues et partagées. Mais quel que soit
le perfectionnement apporté à leur représentation, la confiance dans ces données
tiendra en définitive à la reconnaissance sociale de l'autorité émettrice.
La chaîne de confiance d'une attestation représentée figure 1 peut donc se présenter sous
forme de trois maillons qui sont en fait les fonctions :
Identification (récipiendaire, attributs d'identité)
(ligne A)
Attribution (attributs d'identité, attributs de qualité)
(ligne B)
Codification(attributs de qualités, qualités)
(ligne C)
Le maillon central (ligne B) concerne le processus de certification.
69
• ses données sont constamment à jour ;
• elle respecte les conventions relatives aux attributs (terminologie, docimologie...) ;
• elle est légalement habilitée à produire l'attestation ou le certificat en question.
Toutes ces conditions ne peuvent faire l'objet que d'évaluations directes sanctionnées par
un agrément issu d'une entité supérieure « autorité compétente » qu'elle soit le fait d'une
administration publique ou d'une collectivité de type syndical. Leur contrôle sort donc de notre
champ d'application, et la confiance passé nécessairement par le fait de supposer l'agrément
bien fondé.
70
Le nom et le prénom ne pourraient pas suffire dans la mesure où le risque d'homonymie
est important, mais accompagné par exemple de la date et du lieu de naissance, on arrive à un
multiplet d'informations qui peut être vu comme un identifiant unique10.
10
Le choix de ce multiplet n'est pas toujours simple. La question nous a été posée de savoir si le titulaire du portfolio
pourrait faire des choix quant aux éléments d'identité qu'il pourrait produire. De manière générale, lorsque les données
sont produites à partir d'une base de données externe par rapport au site qui héberge le portfolio, le titulaire ne choisira
pas les données transmises. A la rigueur, s'il maîtrise la mise en page, la feuille de styles pourra masquer certaines
informations, mais le source XML les contiendra par défaut.
71
12.9 Accès à l'attestation certifiée
Celle-ci se fait au moyen d'un hyperlien qui passé en paramètre l'OID de l'attestation
(figure 2).
Mais il faut encore que ce code unique soit interprété par le service adéquat qui
permettra la connexion avec le site de l'autorité émettrice. Ceci se fera par l'intermédiaire du
tiers de confiance dont le rôle essentiel est de faire le lien entre les usagers et les ressources
de l'administration.
Il n'est toutefois pas possible d'aller plus loin dans l'analyse du processus de certification
sans se pencher sur le contexte qui prévaudra bientôt en matière d'administration électronique.
72
• Un volet sémantique
• Un volet technique
• Un glossaire
La mise en place du dispositif devrait s 'étaler sur trois ans en apportant les bases d'un
fonctionnement dématérialisé avec pour les administrations la double ambition d'établir entre
elles et avec les usagers des relations sécurisées et pratiques. Le principe de l'authentification
unique de type « single sign on » a été retenu.
Le volet organisationnel prévoit trois types d'usagers :
• Les usager individuels
• Les usagers collectifs (entreprises...)
• Les agents des administrations.
Un service de gestion des droits d'accès et des habilitations est nécessaire pour tout accès
à une ressource. Les usagers collectifs et les agents des administrations utilisent en principe le
gestionnaire de leur propre administration. L'usager individuel devra s'authentifier auprès du
gestionnaire de son fournisseur de services.
Le gestionnaire d'accès et d'habilitations permet aux usagers les démarches suivantes:
• L'adhésion qui consiste à attribuer à un usager une collection de droit d'accès pour le
compte d'un « Bénéficiaire »
• La délégation qui consiste à attribuer tout ou partie de ses propres droits d'accès à dês
tiers, mais ce service n'est pas prévu pour les particuliers;
• La propagation qui constitue une passerelle d'authentification permettant de passer
d'un cercle de confiance dans un autre, et ainsi de passer d'une administration à une
autre sans avoir besoin de s'authentifier à nouveau.
RIO 0146
Il est RECOMMANDE que les demandes d'accès des Particuliers aux ressources mises à
disposition par le Fournisseur de services véhiculent une identification de l'utilisateur, du
Bénéficiaire, de la ressource invoquée ainsi que des restrictions d'accès sur cette ressource.
RIO 0151
73
Il est OBLIGATOIRE d'enregistrer et d'archiver une trace des opérations et des événements
concernant les archives et les documents archivés.
« L'usager demandeur doit prouver qu'il est mandaté par le bénéficiaire des ressources. Cela se
matérialise par la présentation d'un "secret". Ce "secret", envoyé ou en possession préalable du
bénéficiaire, est délivré par le bénéficiaire à la personne qu'il désire mandater. Cet échange a
lieu au cours de la phase "d'entente préalable". »
La phase « d'entente préalable » serait pour nous implicite. Elle tiendrait au fait que le
visiteur – qui a éventuellement eu à s'enregistrer sur le serveur qui héberge le portfolio – a
accès à l'hyperlien complété par l'identificateur de la ressource.
Il reste que le visiteur du portfolio ne peut accéder directement à la ressource, car il
n'est pas à même de s'authentifier sur le site d'une administration. Il lui faut donc passer par un
intermédiaire: un tiers de confiance reconnu par l'administration.
Comme le titulaire du portfolio est aussi le détenteur légitime des pièces qu'il produit, il
s'en suit un second niveau de mandatement: en tant que titulaire par exemple d'un diplôme, il
autorise le tiers de confiance à produire ce diplôme en réponse à une requête du visiteur de son
portfolio. Dans ce cas – et en accord aves les dispositions du RGI qui stipulent qu'un code
secret ne peut être créé à l'initiative du demandeur – c'est le tiers de confiance qui fournira le
code secret au titulaire du portfolio, et celui-ci le placera à la suite de l'hyperlien permettant à un
visiteur d'accéder à la pièce certifiée.
74
12.12 Le tiers de confiance
Son rôle est en fait multiple :
• Se présenter vis à vis du système d'information de l'administration comme un agent
habilité.
• Détenir un annuaire d'autorités legitimes pour la délivrance des pièces.
• Référencer les ressources et fournir les identifiants à leurs titulaires.
• Etre à même d'interpréter les identifiants pour accéder aux ressources faisant l'objet de
requêtes.
• Garder la trace des requêtes en conformité avec les spécifications du RGI.
• Se présenter pour le visiteur qui active l'hyperlien comme un service clairement
identifiable.
Ce dernier point est capital pour la confiance que le visiteur pourra avoir. Pour éviter les
risques de confusion, l'hyperlien devra :
• faire usage d'une adresse notoire, facilement mémorisable,
• avoir une bonne visibilité en terme de notoriété et de localisation, par exemple un site
académique ou ministériel dont l'adresse est simple et sans ambiguïté ;
• avoir une spécificité qui le destine sans ambiguïté à un domaine particulier (diplômes,
sport de haut niveau...)
Il en résulte que les tiers de confiance destinés à tenir ce rôle d'intermédiaire doivent être à
la fois multiples et peu nombreux de manière à pouvoir apparaître dans une liste de longueur
raisonnable.
75
12.13 Création et mise à disposition d'une attestation
La figure 3 schématise le cheminement des informations dans le dispositif que nous
suggérons pour produire une attestation émanant d'une autorité émettrice habilitée.
La mise à disposition d'une pièce certifiée demande toutefois une démarche de
préparation. Lors de la création d'une attestation, l'autorité émettrice qui l'édite indique au
récipiendaire la manière d'y accéder. Si celui-ci souhaite placer l'attestation dans son portfolio, il
doit indiquer à l'intermédiaire de confiance les paramètres de connexion (à moins que cette
démarche ne soit faite automatiquement par l'autorité émettrice). Pour cela, il se connecte sur le
site de l'intermédiaire ad hoc, et utilise un formulaire qui lui permet de retrouver l'attestation en
question au travers d'une connexion établie par ce service. Un identifiant est alors établi, par
exemple à partir de l'identifiant de la session php en cours sur ce serveur11 et un hyperlien
pointant sur l'attestation est indiqué clairement au demandeur pour qu'il le reproduise dans son
portfolio. La préparation est alors terminée.
L'hyperlien comporte l'adresse http ou https du tiers de confiance complétée par deux
paramètres de type GET : l'identifiant de l'autorité émettrice et l'identifiant de l'attestation. Cet
hyperlien devrait être utilisable par tout visiteur du portfolio.
Comme l'administration détentrice de l'attestation n'est pas forcément en mesure d'établir
une connexion avec un visiteur qui n'a pas de droits d'accès, c'est l'intermédiaire de confiance
qui va se connecter sur le serveur de l'autorité émettrice pour obtenir les fichiers nécessaires.
Il s'agit typiquement d'une fiche XML contenant
les informations brutes. Cette fiche comporte aussi l'adresse de la feuille de transformation
(XSLT) qui décrit la manière par défaut de mettre ces informations en page.
Selon le type de page sollicité (XML, php...), la configuration du serveur de l'autorité
émettrice, plusieurs modes de fonctionnement sont envisageables, notamment en ce qui
concerne la mise en page. On distinguera en particulier :
• Le fonctionnement de type HTML : la feuille de transformation est exploitée côté
serveur. Une page HTML est donc confectionnée dynamiquement par le serveur de
l'autorité émettrice à partir de la feuille XML et selon les directives de la feuille de
transformation XSL, standard avant d'être adressée à l'utilisateur. Dans ce cas, le
titulaire du portfolio ne maîtrise pas la mise en page.
• Le fonctionnement de type XML/XSL : la mise en page se fait à la réception côté client.
Le navigateur qui a émis la requête reçoit la feuille XML et réalise sa présentation à
l'écran suivant les directives d'une feuille de transformation XSL qui a pu être
aménagée par le titulaire du portfolio. La localisation de cette feuille de transformation
doit dans ce cas être connue de l'intermédiaire de confiance (voir note 13).
11
L'utilisation de l'identifiant de session a un double avantage : il facilite le traçage des opérations réalisées, et il permet
d'associer l'identifiant à une variable de session à même de mémoriser par exemple l'URL d'une feuille de styles ou de
transformation servant à la mise en page du document.
76
La différence n'est pas perceptible par l'utilisateur. Dans un cas comme dans l'autre, il lui
suffit de cliquer sur le lien pour visualiser et éventuellement imprimer une version papier de la
pièce concernée dans son navigateur.
Si le code secret de l'attestation est pérenne, le lien transmis au titulaire de l'attestation peut
être inséré dans tout document électronique. La version papier pourrait également comporter la
retranscription de l'adresse du lien. De cette manière, tout destinataire de l'attestation papier
pourrait vérifier son authenticité en recopiant cette adresse dans son navigateur afin de
visualiser l'original du document.
Notons pour terminer que la mise en page d'attestations à partir de fichiers XML serait
grandement facilitée par l'adoption d'un cadre normatif pour exprimer les éléments intervenant
dans les diplômes.
12.14 Conclusion
La communication dans un ePortfolio de pièces authentiques est possible et est
envisageable dans le contexte du Référentiel Général d'Interopérabilité. Il est toutefois
nécessaire de prendre en compte les spécificités du portfolio, en particulier du fait qu'il doit
pouvoir être examine par des visiteurs inconnus des annuaires de l'administration, et qui n'ont
pas forcément envie de décliner leur identité. L'intervention d'un intermédiaire ad hoc agissant
en qualité d'agent d'administration apparaît nécessaire. Il est par ailleurs souhaitable de créer
des modèles de données (schémas XML) et de présentation pour que l'édition des pièces
officielles se fasse de manière cohérente.
12.15 Références :
• [1] A propos de l'interopérabilité,
voir : Une spécification IMS sur les portfolios numériques permettant leur interopérabilité.
http://www.normetic.org/article.php3?id_article=383
• [2] A propos de travaux sur l'émergence de standards,
voir : Développement et de modèles de référence pour le eportfolio. European IMS Network :
http://www.europeanims.org/
également : EiFel : les spécifications et les standards de l'apprentissage en ligne, du XML et du
ePortfolio http://www.eife-l.org/publications/standards/
• [3] Concernant la standardisation des données,
voir : United Nations Centre for Trade Facilitation and Electronic Business (UN/CEFACT) :
http://www.unece.org/cefact/index.htm
A visiter également : http://www.edifrance.org
77
• [4] Concernant la mise en place de procédures dématérialisées pour les procédures
judiciaires :
voir : E-greffe : de la dématérialisation des actes de procédure vers le développement
d’une justice en ligne ?, Caroline Boissel.
http://www.droit.univ-paris5.fr/dess_commerce-
electronique/memoires/caroline%20boissel%20egreffe%
2 0DESS%20DPCE%202004.pdf
Bibliographie générale
• Cent références pour le portfolio numérique - Robert Bileau –
http://www.robertbibeau.ca/portfolio.html
78
13 Portefólio reflexivo e desenvolvimento de competências:
uma experiência pedagógica em contexto universitário
• Isabel Barbosa
Instituto de Educação e Psicologia
Universidade do Minho
13.1 Resumo
Preparar os futuros professores (de língua estrangeira) para a adopção de uma
pedagogia para a autonomia implica o desenvolvimento de competências profissionais, das
quais se destacam a reflexividade, autodirecção e criatividade/inovação por se considerarem
essenciais ao exercício de uma prática reflexiva e ao desenvolvimento de uma atitude
investigativa face à profissão.
A experiência pedagógica que aqui se descreve incluiu a construção de portefólios
reflexivos como principal suporte ao desenvolvimento de estudos de caso realizados pelos
alunos do 4º ano da Licenciatura em Ensino de Inglês-Alemão, nas disciplinas de Metodologia
do Ensino do Inglês (1º semestre) e do Alemão (2º semestre), no ano lectivo de 2004-2005. A
experiência foi realizada em articulação com um projecto de supervisão desenvolvido pela
equipa de supervisoras de que faço parte, cuja finalidade é desenvolver a autonomia
profissional dos professores, através do recurso à investigação-acção no ano de estágio. Os
estudos de caso tiveram como objectivo familiarizar os alunos do 4º ano com a prática da
investigação-acção nesse contexto, o que implicou um contacto directo com alguns núcleos de
estágio nos quais esta estratégia supervisiva foi adoptada.
Os relatórios de investigação produzidos nas duas fases de desenvolvimento dos
estudos de caso, bem como as reflexões individuais relativas aos principais momentos do seu
desenvolvimento constituíram as principais componentes dos portefólios reflexivos, que se
tornaram simultaneamente instrumentos de aprendizagem e (auto)avaliação. A construção do
portefólio ofereceu algumas dificuldades, mas a análise de conteúdo dos portefólios revela
também as potencialidades deste recurso pedagógico como instrumento de apoio ao
desenvolvimento da autonomia de alunos universitários.
79
13.2 Questionar para melhorar…
Uma das principais responsabilidades das instituições de ensino superior é contribuir
para o desenvolvimento das competências necessárias à realização pessoal e profissional dos
estudantes, a quem se apresenta uma realidade caracterizada pela incerteza e pela
complexidade. Este objectivo, que requer não só a aquisição de conhecimentos mas também o
desenvolvimento de capacidades e atitudes, é incompatível com a adopção de uma pedagogia
tradicional, centrada no professor e nos conteúdos substantivos das diferentes áreas
disciplinares. Esta concepção de universidade como centro de produção e divulgação do saber
é actualmente questionada, pois ela deixou de ter a exclusividade do conhecimento e o
monopólio da verdade, numa época em que proliferam tanto as formas de conhecimento como
os seus produtores (Barnett, 1997; 2000). Para enfrentar os desafios da sociedade actual, é,
então, urgente (re)pensar a educação em função do indivíduo, no sentido de corresponder às
suas necessidades de formação. Em que medida os objectivos da universidade correspondem
às necessidades e expectativas daqueles que as frequentam?
É com experiências pedagógicas que promovam um maior envolvimento dos alunos que
será possível contribuir para o desenvolvimento de competências indispensáveis a uma eficaz
inserção na vida profissional. Para que a educação possa ter um efeito transformador, não
bastará formar especialistas nos diferentes ramos do saber, mas torna-se cada vez mais
necessário promover o desenvolvimento integrado e co-construído de saberes, atitudes e
capacidades que permitam a construção de uma sociedade verdadeiramente viva e
democrática.
Estes princípios são particularmente importantes no âmbito da experiência pedagógica
que aqui se apresenta, cujo principal objectivo é promover a adopção de uma pedagogia para a
autonomia em contexto escolar. Mas como poderão os futuros professores contribuir para o
desenvolvimento da autonomia dos seus alunos, se não tiverem a oportunidade de desenvolver
competências de um profissional autónomo? Que condições terão que ser criadas, para que
participem activamente no seu próprio processo de formação pessoal e profissional?
No que respeita ao estágio, a equipa de supervisoras a que pertenço tem vindo a
desenvolver um projecto de supervisão no âmbito do qual se adopta a investigação-acção
como principal estratégia de formação, com o objectivo de promover o desenvolvimento
integrado da autonomia dos professores estagiários e dos seus alunos (Marques et al., 2001;
Moreira et al., 1999a, b; Moreira et al., 2002). A investigação realizada sobre as nossas
práticas supervisivas tem revelado o potencial formativo da estratégia adoptada, mas tem
também tornado evidente a necessidade de preparar os estudantes para a investigação-acção
antes do estágio. Conscientes desta necessidade, sentimo-nos motivadas a experimentar uma
80
nova abordagem ao programa das disciplinas de Metodologia do Ensino do Inglês e do
Alemão, que fazem parte do currículo do quarto ano da Licenciatura em Ensino de
Inglês/Alemão. Esta experiência assenta num conjunto de princípios pedagógicos,
apresentados e definidos por Vieira et al. (2002: 32-33) – Intencionalidade, Transparência,
Coerência, Relevância, Reflexividade, Democraticidade, Autodirecção e Criatividade/Inovação
– dos quais destacaremos os seguintes, por serem aqueles que mais directamente favorecem
o desenvolvimento das correspondentes competências, consideradas essenciais ao
desenvolvimento de projectos de investigação-acção pelos estagiários:
Foi com estes princípios em mente que se questionou a prática anterior no âmbito
daquelas disciplinas do currículo de formação, no sentido de a melhorar.
81
adopção do portefólio assenta no reconhecimento da sua importância como estratégia de
promoção de capacidades de reflexão (v. Miliander, 2001) e como ferramenta de aprendizagem
e de avaliação (v. Quintana, 2000; Banta, 2003). Na verdade, tem-se assistido a um interesse
crescente no uso de portefólios como estratégia de regulação/avaliação, tal como Banta
(op.cit.: 1) salienta, apoiando-se numa revisão de literatura sobre portefólios: “The portfolio, as
an element of authentic assessment, has captured the interest of many instructors who want a
more comprehensive way to assess their students’ knowledge and skill, to have students
actively participate in the evaluation process, and to simultaneously develop students’ skills of
reflective thinking. These latter features make portfolios an attractive alternative to traditional
summative testing.”
Os estudos de caso dos alunos foram desenvolvidos em duas fases, correspondentes
aos dois semestres. A primeira foi conduzida pelas minhas colegas Isabel Sandra Fernandes e
Madalena Paiva, que leccionaram a Metodologia de Ensino do Inglês em regime de co-
docência. Os primeiros contactos dos alunos com o mundo real da prática de ensino coincidiu
com a fase preparatória dos projectos de investigação-acção dos professores estagiários, na
qual estes participam num conjunto de sessões de formação onde se apresentam e discutem
aspectos relacionados com a estratégia supervisiva adoptada, no âmbito do referido projecto
de supervisão. Estas sessões tiveram lugar em Outubro e foram abertas à participação dos
alunos, dando-lhes, deste modo, a oportunidade de reflectirem sobre aspectos relacionados
com o desenvolvimento dos projectos de investigação-acção.
Durante estas sessões, cada grupo de alunos entrou em contacto com um grupo de
professores estagiários disposto a colaborar com eles no desenvolvimento do seu estudo de
caso. Posteriormente, numa fase inicial do desenvolvimento dos projectos de investigação-
acção, cada grupo de alunos entrevistou o grupo de estagiários com quem se comprometeram
a trabalhar. Esta entrevista, conduzida mediante um guião construído nas aulas de Metodologia
de Ensino do Inglês tinha como objectivo obter informação relevante sobre o primeiro contacto
dos professores estagiários com a prática da investigação-acção e com a tentativa de
desenvolvimento de uma pedagogia para a autonomia. A análise da entrevista, efectuada com
base na sua audiogravação, foi documentada no relatório da primeira fase do projecto, o qual,
a par das reflexões individuais sobre os diferentes momentos do processo de aproximação às
práticas do estágio, deu corpo à primeira parte do portefólio de cada aluno.
Estabelecidas as bases do trabalho colaborativo com os professores estagiários, o
segundo semestre, conduzido por mim nas aulas de Metodologia do Ensino do Alemão, deu
continuidade a este contacto com a prática, agora com o envolvimento dos alunos num ciclo de
observação no âmbito do desenvolvimento dos projectos de investigação-acção. Isto significou
dar a cada grupo de alunos a oportunidade de observar uma aula numa das turmas dos
professores estagiários e de tomar parte activa nos respectivos encontros de pré/pós-
observação. Para além de tomarem conhecimento da natureza destes encontros com a
82
supervisora da universidade, os alunos tiveram também acesso aos materiais produzidos pelos
professores estagiários, incluindo as entradas do seu diário de investigação, o plano da aula e
os materiais usados na aula observada. Estes materiais foram analisados segundo um
conjunto de parâmetros de uma pedagogia para a autonomia, agrupados numa lista de
verificação usada para planificar e avaliar actividades de desenvolvimento da competência de
aprendizagem (Vieira, 2001)
Os resultados do trabalho de observação de cada aula e análise dos respectivos
materiais foram apresentados à turma, permitindo, assim, que todos os alunos ficassem a par
de todos os projectos de investigação-acção em estudo. Estas apresentações foram objecto de
hetero-avaliação, de acordo com critérios previamente negociados com os alunos. Uma vez
que cada aula observada estava focalizada numa vertente da competência de comunicação, as
apresentações foram articuladas com os conteúdos programáticos da didáctica da Língua
Estrangeira. Estes conteúdos, como por exemplo a Leitura, são normalmente abordados com
base em actividades propostas pela docente, mas desta vez os alunos puderam ter um papel
mais activo neste processo, uma vez que a primeira aula dedicada a cada um dos temas foi
dada pelos alunos, com base nos materiais recolhidos no contexto real da prática. Os assuntos
eram depois expandidos por mim, na sequência da apresentação feita pelos grupos. Desta
forma, exemplos da prática observada foram sentidos como oportunidades relevantes para o
desenvolvimento do conhecimento pedagógico de conteúdo dos futuros professores,
reduzindo, assim, o sentimento generalizado da sobrevalorização da teoria em detrimento da
prática, nos cursos de formação inicial de professores.
De forma semelhante ao ocorrido no primeiro semestre, os portefólios documentaram as
actividades realizadas em colaboração com os estagiários, integrando o segundo relatório de
investigação e reflexões livres sobre os principais momentos de contacto com o estágio. O
relatório incluiu a análise de todos os materiais fornecidos pelos professores estagiários, na
qual os alunos deviam mobilizar conhecimentos nos domínios da didáctica da Língua
Estrangeira e formação reflexiva de professores.
Encarar os dois semestres como um todo permitiu aos alunos mais tempo para se
familiarizarem com os novos conceitos apresentados: investigação-acção, pedagogia para a
autonomia e as competências profissionais que estiveram no centro da nossa abordagem
pedagógica – reflexividade, autodirecção e criatividade/inovação. No âmbito dessa abordagem,
trazer exemplos reais da prática educativa para a sala de aula na universidade foi, sem dúvida,
uma estratégia relevante para os alunos, já que lhes permitiu o contacto directo com formas de
operacionalização de uma pedagogia para a autonomia através da investigação-acção em
contexto escolar. Considerando, no entanto, que isso não é suficiente para verdadeiramente
entenderem o processo de desenvolvimento da autonomia, tentámos criar condições para que
os alunos experimentassem assumir um papel activo na tomada de decisões em diferentes
83
aspectos do processo de ensino/aprendizagem, nomeadamente na avaliação de processos e
produtos da sua aprendizagem.
Através de questionários e da reflexão escrita, os alunos desempenharam um papel
importante na avaliação e classificação do seu próprio trabalho, pois participaram na definição
de critérios de avaliação e na sua aplicação em momentos de auto e hetero-avaliação. Depois
de um longo, e por vezes difícil processo de negociação na turma, decidiu-se atribuir ao
portefólio um peso de 90% na classificação final, mantendo-se os 10% habituais para a
participação, na qual se incluem assiduidade, participação na aula e empenhamento e esforço
investido na disciplina.
Pensamos que a principal mudança não consistiu na substituição do exame tradicional
pelo portefólio, mas sim no facto de este ser objecto de auto e hetero-avaliação. As reflexões
escritas individualmente foram avaliadas pelo aluno e pela professora, resultando a
classificação da média aritmética de ambas as avaliações, enquanto que na classificação
atribuída ao relatório do projecto se incluíram os resultados da auto e hetero-avaliação, que
fizeram média com a classificação atribuída pela docente. Isto significa um enorme aumento do
poder dos alunos neste campo, tradicionalmente controlado pelos professores, tornando o
processo de avaliação muito mais democrático, mas também muito mais exigente para
docentes e alunos. Na verdade, como diz Cowan (1998: 150) a auto-avaliação da
aprendizagem
“is a new and for some teachers a worrying possibility. For the teacher and the examination board have
long had absolute authority to judge, grade and mark learners and learning. So there are natural grounds
for concern whenever anyone suggests engaging learners in self-assessment – and this apprehension
does not disappear if the innovators strive to make it clear that they will not be abdicating from the
responsibility to provide the marks or grades which will contribute ultimately to certification.”
84
Quadro 1: Constrangimentos, limitações e principais ganhos da experiência
Constrangimentos Limitações Principais ganhos
Falta de tempo para abordar Baixo nível de criticidade das Desenvolvimento de
tópicos da didáctica reflexões competências (capacidades,
Falta de hábitos de reflexão Baixa integração de conhecimentos e atitudes) de
escrita conhecimentos substantivos reflexividade, auto-direcção e
Dificuldade em compreender Falta de investimento criatividade/inovação
os objectivos do projecto sistemático Maior compreensão do
Dificuldade em gerir a carga Dificuldade de negociação de estágio
de trabalho actividades e critérios de Desenvolvimento do
Falta de disponibilidade para avaliação conhecimento didáctico
reflectir por escrito Baixo sentido de rigor na Reconstrução de
Receio de não obter uma avaliação representações e práticas de
classificação justa negociação, colaboração e
avaliação
Exploração do potencial do
portefólio como instrumento
de desenvolvimento e
avaliação de competências
Desenvolvimento de
capacidades de investigação
Articulação entre ensino,
aprendizagem e investigação
Cumpriu-se o objectivo principal de todo este projecto que já se iniciara com MEI: compreender o estágio.
Trabalhámos de modo intenso e visível as diversas competências de aprendizagem que são também
objecto e objectivo desta disciplina.(Reflexão individual)
Esta experiência (não só a participação no projecto mas também as próprias aulas quer de MEA quer de
MEI) permitiu-nos aprender a questionar as práticas que são correntes (...); estas duas disciplinas
contribuíram também para nos fornecer uma série de “ferramentas” que nos vão permitir encarar o estágio
de uma forma diferente, ou seja, mais centrada nos alunos e não tanto nos professores como acontece na
maioria dos casos. (Reflexão individual)
85
Não podemos deixar de referir que os objectivos traçados para este trabalho foram alcançados e até
superados, na medida em que, para além de nos ter levado a uma reflexão sobre a prática docente fez-
nos olhar para a arte de ensinar com outros olhos. (Relatório.2)
Relativamente às disciplinas de MEI e MEA (…) forneceram-nos o que, no nosso ponto de vista, se
constitui como essencial para a nossa carreira enquanto docentes, assim como indivíduos. (Relatório 3)
Ao longo do ano levámos a cabo um projecto que (…) diminuiu, pelo menos um pouco, o fosso entre a
teoria e a prática, entre a universidade e o mundo profissional É, por isso, incontestável a relevância deste
projecto para o nosso futuro profissional (…). (Relatório 1)
Como característica mais importante deste projecto enfatizou-se o facto de não se tratar de um
conhecimento teorético adquirido memoristicamente e para o exame, mas de um conhecimento empírico
com a necessária fundamentação teórica. (…) Também nós tivemos que mergulhar no vasto oceano do
estágio para começar a sentir a temperatura das suas águas. (Relatório 4)
Por nossa parte, dizemos que nos conhecemos melhor enquanto alunos e (porque não?) enquanto
pessoas e professores. (Relatório 5)
As aprendizagens que retiramos deste projecto constituem também aprendizagens úteis para o ano de
estágio e esperamos que nos dê tanto gosto pô-las em prática como nos deu ir acompanhando todo o
processo. (Relatório 6)
Penso que as seguintes palavras, retiradas de uma reflexão individual sobre a sessão de
pré-observação realizada com o núcleo de estágio, fazem sentir que vale a pena acreditar que
é possível operar mudanças pessoal e socialmente relevantes, se também partilharmos da
opinião de que é da educação que depende o futuro da sociedade:
(…) colocaria como máxima de orientação uma ideia retirada de Flávia Vieira, ‘Pedagogy for Autonomy:
exploratory answers to questions any teacher should ask’ e por mim livremente interpretada: ‘…only a
reflective orientation allows for development of critical thought and action…, only a reflective approach is
truly emancipatory’. Enquanto os professores em formação forem deixados sair para o mercado de
86
trabalho sem esta percepção bem interiorizada, duvido que o nosso país tenha um futuro risonho.
(Reflexão individual)
13.5 Referências
• Banta, T. W. (2003). “Introduction: Why portfolios?”. In T. W. Banta (Ed.). Portfolio
Assessment: Uses, Cases, Scoring, and Impact. An assessment update collection. San
Francisco: Jossey-Bass.
• Barnett, R. (1997). Realizing the University. London: Institute of Education University of
London.
• Barnett, R. (2000). “University knowledge in an age of supercomplexity “. Higher
Education, vol. 40 (4), pp. 409-422.
• Cowan, J. (1998). On Becoming an Innovative University Teacher. Reflection in Action.
Buckingham: SRHE & Open University Press.
• Marques, I.; Moreira, M. A. & Vieira, F. (2001). “A investigação-acção na formação
reflexiva de professores – um projecto de supervisão na Universidade do Minho”. In B.
D. da Silva & L. Almeida (orgs), Actas do VI Congresso Galaico-Português de
Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho.
• Miliander, J. (2001). The Portfolio Project – Portfolio as a Tool of Development of
Reflective Skills in Initial Teacher Education. Karlstad: Karlstad University Studies.
• Moreira, M. A.; Vieira, F. & Marques, I. (1999a). “Investigação-acção e formação inicial
de professores – uma experiência de supervisão”. In A. Moreira et al. (coords),
Supervisão na Formação: Contributos Inovadores (Actas do I Congresso Nacional de
Supervisão). Aveiro: Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da
Universidade de Aveiro (CD ROM).
• Moreira, M. A.; Vieira, F. & Marques, I. (1999b). “Pre-service teacher development
through action research”. The Language Teacher, 23 (12), pp. 15-18.
• Moreira, M. A.; Vieira, F.; Marques, I.; Paiva, M. & Branco, G. (2002). “A investigação-
acção como estratégia de formação reflexiva de professores estagiários: um projecto
de supervisão na Universidade do Minho”. In C. Costa et al. (orgs.), Pedagogia em
Campus: Contributos. Apontamentos UM, Grupo de Missão para a Qualidade do
Ensino/Aprendizagem, Universidade do Minho.
• Quintana, H. E. (2000). “ El portafolio como estratégia para la evaluatión”. In A. P. Aran
(Org.). Evaluatión Como Ayuda al Aprendizage. Caracas & Barcelona: Editorial
Laboratório Educativo & Editorial Graó.
• Vieira, F. (2001). "Planificar e avaliar actividades centradas na competência de
aprendizagem". In F. Vieira (Org.). Cadernos 2 - Grupo de Trabalho - Pedagogia para a
87
Autonomia. Braga: Departamento de Metodologias da Educação do Instituto de
Educação e Psicologia da Universidade do Minho.
• Vieira, F.; Gomes, A.; Gomes, C.; Silva, J. L.; Moreira, M. A.; Melo, M. C. &
Albuquerque, P. B. (2002). Concepções de pedagogia universitária – um estudo na
Universidade do Minho. Relatório de Investigação. Braga: Universidade do Minho,
CEEP.
88
14 O e-portefólio no ensino superior – reflexões em torno de
uma experiência na licenciatura em Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra
• Teresa Pessoa
[email protected]
• Regina Lencastre
[email protected]
Faculdade Psicologia e de Ciências da Educação
Universidade de Coimbra
14.1 Resumo
A utilização do portefólio em educação assenta na necessidade de valorizar as vozes e
os caminhos das aprendizagens o que naturalmente se aproxima da ideia de que o
conhecimento implicará a actividade de um sujeito que será compreensível pelo seu discurso
narrativo.
A formação narrativa implicada nos portefolios representará, então, um caminho
promissor, potencializado pelas TICs, na educação ou na construção de verdadeiras
comunidades aprendentes. As narrativas pelos processos que envolvem nomeadamente os
referentes à própria escrita, em suportes vários e os que estão implicados nas conversas ou
diálogos sucessivos com a experiência e com os outros, rentabilizarão e transformarão os
textos em contextos reais e virtuais de aprendizagens significativas e colaborativas para a
comunidade a que se pertence.
Desta forma é contextualizada a utilização, suportada na plataforma TelEduc, de e-
portefólios em Recursos e Tecnologias Educativas (RTE), disciplina de opção da licenciatura
em Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra.
O TelEduc, plataforma Open Source que corre em ambientes servidores Apache Linux
ou Windows, utilizando bases de dados MySQL e código HTML, PHP e PERL, é uma
ferramenta de educação à distância (EAD) assente num conceito de formação centrado na
construção contextualizada do conhecimento. O desenvolvimento das funcionalidades do
TelEduc tem sido realizado de acordo com as necessidades, tanto tecnológicas como
metodológicas, relatadas por utilizadores. O conjunto total de funcionalidades oferecidas pelo
TelEduc pode ser reunido em três grandes grupos: ferramentas de coordenação, de
89
administração e de comunicação. As ferramentas de comunicação englobam, entre outras:
correio electrónico, fóruns, diário de bordo e portefólios.
O portefólio foi desenvolvido para fornecer ao utilizador um espaço no qual podem ser
partilhadas informações (reflexões e/ou resultados de trabalhos, textos, URLs, etc.), com todos
os participantes ou com os formadores. Há duas categorias de portefólios: indivi duais (de cada
participante) e de grupos (são os portefólios dos grupos constituídos através da ferramenta
Grupos). Os itens de um portefólio têm título, data de colocação, tipo de partilha e comentários.
É por meio de envio de comentários que os formadores e outros formandos podem enviar
sugestões, acompanhar trabalhos em execução e trocar experiências e soluções. Apenas é
permitida a edição de documentos no portefólio ao respectivo utilizador.
No âmbito da disciplina de RTE a utilização dos e-portefolios constituiu instrumento
privilegiado na construção/partilha de caminhos de aprendizagem. Aos formandos exigiu-se um
papel activo em diversas tarefas (presenças aulas, sumários, encontros Mediar; visitas ao
Centro Recursos Educativos, atelier Teia, o livro de S. Papert, produção de materiais
didácticos, etc…), que se traduziu em narrativas, comentadas pela docente, que deram corpo
aos eportefolios.
O trabalho foi sentido como único e de uma valor formativo fundamental para a
generalidade dos formadondos pese embora a falta de tempo para investir totalmente ou
conforme o desejado na construção/ desenvolvimento atempado dos e-portefolios.
90
15 Portefólios de aprendizagem - Da sua leitura à construção
de um instrumento de avaliação
• Judite Almeida
Escola de Ciências
Universidade do Minho
• Flávia Vieira
Instituto de Educação e Psicologia
Universidade do Minho
15.1 Resumo
O uso de portefólios como ferramenta de aprendizagem no ensino superior coloca vários
desafios a professores e alunos, entre os quais gostaríamos de salientar a questão da
avaliação: como avaliar e o que avaliar num portefólio? Esta questão, para qual não existe uma
resposta única, foi o problema que emergiu no âmbito de uma experiência pedagógica com
portefólios, desenvolvida pela primeira autora na disciplina de Tópicos de Histologia Humana,
do 3º ano do curso de Biologia Aplicada, em 2004/2005, na Universidade do Minho. Para
estudar o problema, as autoras traçaram um percurso de leitura de portefólios elaborados no
seio dessa experiência, cujo produto é uma proposta de instrumento de avaliação, que
consideramos poder ser relevante em contextos semelhantes. Contudo, o produto é talvez tão
importante quanto o processo seguido, na medida em que este ilustra uma metodologia
possível para a compreensão do portefólio enquanto ferramenta de aprendizagem e objecto de
avaliação, podendo revelar-se útil a qualquer professor que o experimente.
O presente texto, embora construído em parceria, tem marcas pessoais que exigem a
referência a cada uma das autoras: a professora experimentadora (Judite) e a colega com
quem ela foi trocando impressões sobre a experiência (Flávia), trabalhando ambas
posteriormente na construção de um instrumento de avaliação de portefólios. Sendo uma
especialista na área das Ciências e a outra na área da Educação, o trabalho realizado ilustra
algumas potencialidades da colaboração interdisciplinar no seio da academia.
91
15.2 Uma experiência pedagógica com portefólios
15.2.1 Contexto
O trabalho que a seguir se relata iniciou-se a partir do facto de, no ano lectivo 2004/05,
ter leccionado, no 2º semestre, uma disciplina de opção — Tópicos de Histologia Humana — a
alunos da Licenciatura de Biologia Aplicada. Dado o carácter opcional da unidade curricular em
causa, o universo em que o trabalho decorreu envolveu 12 alunos.
Após várias conversas com a Flávia, considerei a possibilidade de sugerir aos alunos a
construção de um portefólio de aprendizagem (PA), que seria também o principal documento
para a avaliação. Tomada a minha própria decisão, chegou a hora de expor a minha sugestão
aos alunos, explicá-la o melhor que podia e sabia, e esperar pelo seu questionamento e
decisão.
Não esgrimi, com certeza, argumentos de muito peso, nem tão pouco referi grandes
trabalhos sobre o assunto, de conceituados autores. Limitei-me ao que sabia e, principalmente,
às mais-valias que um tal trabalho traria quer aos alunos quer a mim própria e que me
pareciam sobejamente evidentes. Falei-lhes, então, do facto da construção de um PA
evidenciar competências variadas e promover aspectos como o auto-conhecimento, o auto-
desenvolvimento, a auto-direcção, o exercício da auto-avaliação, o processo reflexivo e,
particularmente, o desenvolvimento contínuo da qualidade na sala de aula.
92
O diálogo foi intenso e chegámos à conclusão de que um PA deveria apresentar,
obrigatoriamente, o conjunto de material referido na figura 1.
Nesta altura do semestre lectivo, sensivelmente ao fim de duas semanas, percebi que
o meu primeiro problema estava em vias de ser resolvido, mas diante de mim estava um
conjunto de alunos e praticamente um semestre pela frente...
93
15.2.5 O meu problema, os alunos e “um” semestre
Ao longo do tempo, pude identificar três fases distintas: numa primeira, senti os alunos
surpresos e algo indecisos, mas decididos a aderir ao desafio com grande entusiasmo. Numa
segunda etapa, fui verificando a manutenção desse entusiasmo e um envolvimento crescente
nas tarefas que tinham em mãos. Finalmente, e à medida que o semestre caminhava para o
fim, notei alguma ansiedade que pressupus estar associada ao prazo de entrega dos PA.
Percebi também uma satisfação generalizada com o trabalho desenvolvido.
Se para mim as coisas se tinham passado conforme referi, nada me garantia que os
alunos tivessem pensado/ sentido o mesmo. Vim, um pouco mais tarde, a perceber que,
naquela altura, não estava muito distante da “verdade”. Seguem-se alguns excertos de
reflexões finais dos PA dos alunos:
“A proposta foi lançada. Portefólio? O que é isso? Como se faz? Seria um método de avaliação ... todas
aceitámos o desafio.
As aulas foram passando, e todos os dias o meu portefólio ia crescendo.” (S.S.)
“O início deste projecto causou uma certa ansiedade e desconfiança: era um novo desafio, uma nova
experiência, algo desconhecido que iria reflectir a personalidade de cada um e exigir um trabalho
individual, contudo, fruto de uma constante interacção.” (A.C.)
“(...) o que guardo desta cadeira foi a experiência que me proporcionou: a ideia da construção de um
portefólio foi, sem dúvida, inovadora e arrojada! Não é qualquer ... que nos propõe um método de
avaliação inovador, capaz de aliar a assimilação dos conteúdos à criatividade dos alunos, tornando todo
o trabalho muito mais aliciante.” (C.S.)
“(...) ajudou-nos a desenvolver a criatividade e espírito crítico e tornou um hábito a análise de situações e
a expressão de opiniões, algo para o que não estávamos “treinadas”, pois não nos é solicitado
frequentemente. Além disso, a inclusão de qualquer material no portefólio obrigava a uma leitura atenta
que ajudou a consolidar os conhecimentos.” (L.S.)
Quando li os textos de onde extraí estes excertos, compreendi que o meu sentir era
partilhado por muitos dos alunos. Se foi verdade que houve alguns sobressaltos, inquietações
e muito trabalho, não posso negar que as tarefas durante o semestre tinham decorrido de um
modo muito aceitável, principalmente se nos reportássemos à nossa inexperiência neste
campo (PA). Não podia, por isso, considerar que a ”vida” me tinha corrido mal, tanto mais que
o meu primeiro problema tinha sido solucionado!
94
15.2.7 O meu segundo problema
Ainda não tinha saboreado o prazer da resolução das minhas primeiras inquietações,
quando me vi a braços com um conjunto de PA, para avaliar: os alunos, como noutra qualquer
unidade curricular, tinham que ter uma “nota”!
De facto, não era a primeira vez que se falava de avaliação na disciplina de Tópicos de
Histologia Humana. Logo no início do semestre o(s) tipo(s) e critérios de avaliação tinham sido
discutidos, aceites e “arrumados”, acreditava eu, de um modo satisfatoriamente objectivo numa
tabela, conforme a figura 3.
Com doze PA pela frente para avaliar e com as listagens de compromissos que com os
alunos tinha assumido, pus mãos à obra. Porque os PA eram individuais, aquilo que à partida
me tinha parecido objectivo era agora tão diverso que decidi registar os aspectos que avaliaria.
Esses aspectos foram os seguintes:
- A presença de tudo o que tinha sido acordado como “O que deve conter o portefólio”.
- A organização do PA, onde tive em consideração a (re)organização personalizada e o
arquivo de documentos relevantes.
- A construção do conhecimento. Neste ponto estive particularmente atenta a aspectos
como a síntese, a sistematização e a pesquisa de materiais/ conhecimentos.
- A reflexão dos alunos sobre a aprendizagem, tanto no que dizia respeito aos conteúdos
como a si próprios neste contexto. Tive ainda em conta o desenvolvimento de aspectos
como a auto e hetero-avaliação de trabalhos e a apreciação final da disciplina.
95
15.2.9 O exame de consciência...e o meu terceiro problema
Respirei profundamente como se este trabalho estivesse concluído, mas ainda não
tinha terminado e já a consciência me avisava que era a hora do meu exame! A tarefa da
avaliação não me tinha sido fácil, nem tão pouco pacífica...
Que problemas tinha tido na avaliação dos PA quando, quase juraria, tudo tinha ficado
claro no início do semestre? As dificuldades foram inúmeras: a discriminação dos aspectos a
avaliar; a sua análise nos diferentes PA; a objectividade e uniformização de juízos avaliativos,
para citar os mais relevantes. A experiência não tinha sido, afinal, tão linear como no início a
tivera pensado...
Avaliando a experiência já a alguma distância, considerei-a, e considero, positiva, muito
trabalhosa e, por vezes, inquietante. O que a minha consciência me disse então, e em tom
perfeitamente perceptível foi: “tinha necessidade de encontrar uma forma menos subjectiva de
fazer a avaliação/ leitura dos PA”.
Este imperativo fez-me recorrer, mais uma vez, à Flávia, a quem contei as venturas e
principalmente as desventuras da minha experiência, crente de que eram “apenas minhas”, e
decorriam da minha inexperiência e falta de conhecimentos nesta área específica, apesar de
algumas leituras efectuadas. Como sempre, esta conversa foi proveitosa: tomei consciência de
que, afinal, o “meu” problema era o de muitos, e encontrei alguém disposto a trabalhar comigo
na tentativa de o minorar. Começou, naquela altura, um trabalho a quatro mãos e em várias
etapas.
15.2.11 Comentário
96
Por outro lado, e como testemunha a experiência da Judite, qualquer professor
interessado em melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem aprende a encarar os
“problemas pedagógicos” como parte integrante da sua actividade, pontos de partida para o
seu desenvolvimento profissional e a melhoria da qualidade das aprendizagens dos seus
alunos, e não como meros obstáculos ou sinais de incompetência. Devemos perguntar, como
sugere Bass (1999): Por que razão tendemos a encarar de forma positiva os problemas de
investigação e de forma negativa os problemas de ensino? Como tornar a problematização da
pedagogia um assunto comum no discurso académico? Não poderá constituir o ensino uma
actividade de indagação crítica, na qual a formulação e resolução de problemas ocupa um
lugar determinante, tal como na investigação?
É interessante verificar como o problema inicial da Judite – o que fazer para elevar a
qualidade do ensino e da aprendizagem neste contexto? – se foi desdobrando em problemas
mais específicos e complexos relativos à avaliação, mostrando que não podemos mudar as
práticas de ensino e aprendizagem sem mudar as de avaliação, e que é nesta segunda
mudança que surgem as maiores dúvidas e inseguranças. O problema final que a Judite coloca
(e me colocou) – “encontrar uma forma menos subjectiva de fazer a avaliação/ leitura dos PA”,
ou seja, elevar a sua fiabilidade —, coloca-se a qualquer prática de ensino de orientação
construtivista e transformadora, embora no caso dos portefólios esta dificuldade seja agravada
por uma indefinição generalizada quanto às suas finalidades, conteúdo e relação com outras
formas de avaliação (v. Smith & Tillema, 2003; Wright et al., 1999).
Quando a tradição pedagógica universitária assenta predominantemente na
transmissão e reprodução de conhecimentos, sendo a avaliação realizada exclusivamente pelo
professor e centrada quase só em conteúdos disciplinares, como avaliar um portefólio, que
também evidencia processos de aprendizagem, no qual os alunos tecem apreciações críticas
sobre o trabalho realizado, e que abarca evidência relativa não apenas a conhecimentos como
também a capacidades, atitudes e valores? Quando a tradição assenta em avaliações
pontuais, incidentes em produtos finalizados e tendencialmente impessoais, como avaliar um
documento que é continuamente reconstruído pelo aluno, idealmente observado pelo professor
ao longo do seu período de aprendizagem, e cuja versão final não pode ser interpretada
independentemente do processo da sua construção, ou independentemente de quem o
construiu?
Estas questões estiveram presentes no trabalho que eu e a Judite encetámos a partir do
seu “imperativo”, e que relatamos de seguida. Não encontrámos respostas definitivas, até
porque não as há, mas traçámos um caminho possível para a construção de respostas
plausíveis, que aqui partilhamos e sujeitamos à apreciação de outros.
97
15.3 Um percurso de leitura de portefólios
15.3.1 A decisão inicial
Após alguma reflexão sobre que metodologia seguir, decidimos “ler portefólios” a fim de
podermos construir um instrumento de avaliação que reflectisse a natureza do trabalho dos
alunos e as competências nele evidenciadas. Neste contexto, “ler” poderá significar “observar”,
“analisar” ou “caracterizar”, mas falamos em leitura para assinalar a natureza narrativa dos
portefólios enquanto textos de aprendizagem que vão sendo (re)escritos por um autor-aluno
tendo em vista um leitor-professor (embora possa haver outros leitores), e ainda para
evidenciar a relação que, através da interpretação desse texto, o leitor-professor estabelece
com o autor-aluno. Neste perspectiva, ler um portefólio será interpretar um percurso de
aprendizagem (o que e como se aprendeu?) e também, através dele, conhecer melhor quem
aprende.
Começámos com uma leitura detalhada de dois PA que nos pareceram representativos
da diversidade com que contactámos e construímos o seu “retrato” na grelha da figura 4.
98
Prevê o modo como serve, o que selection and organization and
pode valorizar o PA contém) must give a rounded picture of
indica a sua função** e Valorização do PA ‘learning’ ability in order to be
conteúdo geral como instrumento convincing for those who read it.”
de aprendizagem** (Falta a indicação da fonte)
** Ex.: “O meu portefólio (…)
será o meu companheiro ao
longo do semestre e um aliado
em futuras actividades que
necessitem de conhecimentos
nele guardados.”
Índice Estrutura e organiza o Organização do *Para cada secção do índice
(analítico)* seu PA, evidenciando PA indicam-se os elementos
(3 pp. A4) um modo próprio de Personalização constituintes
construção da (designações das **Ex. de designações das
aprendizagem secções)** secções: “A minha
Documentação do apresentação”; “Os meus
trabalho sumários”; “A minha crítica
semanal”; “Os meus recortes”…
Com base nas grelhas preenchidas, foi possível identificar três áreas principais de
incidência do trabalho dos alunos nos PA, assim como um conjunto de competências-chave
que em cada uma delas esse trabalho evidenciava (figura 5).
99
Auto/hetero-avaliação de
trabalhos
Apreciação da disciplina
Sendo o uso de PA uma estratégia recente no nosso país, sobre a qual ainda pouco
sabemos, pensamos que será útil aos professores que a experimentam debruçar-se sobre as
produções dos alunos, a fim de identificar orientações de leitura que possam ser mobilizadas
na sua apreciação.
100
15.3.5 Avaliação de portefólios de aprendizagem
101
Auto/hetero-avaliação
de trabalhos
Apreciação da disciplina
Comentários e sugestões
Critérios de qualidade
Organização do PA Construção do Reflexão sobre a
conhecimento aprendizagem
Empenho* Empenho* Empenho*
Selectividade Selectividade Selectividade
Criatividade Criatividade Criatividade
Organização Organização Organização
Iniciativa/ autodirecção Iniciativa/ autodirecção Iniciativa/ autodirecção
Evolução Regularidade Regularidade
Correcção científica Espírito crítico
Articulação com o programa Sinceridade
Evolução Evolução
* este critério inclui, para além do interesse e esforço demonstrados, a apresentação formal do
PA e a correcção linguística dos textos produzidos
102
pedagogia parece, no mínimo, estranha? Que viabilidade tem a ideia de transformar a
pedagogia nesta situação? Problemas desta natureza exigem o diálogo e a acção dos
professores, mas também a tomada de decisões políticas acerca do valor de um ensino que se
diz “superior”, e que por isso mesmo deveria aspirar a muito mais do que frequentemente
aspira.
15.4 Referências
• Barnett, R. & Coate, K. (2005). Engaging the curriculum in higher education. Glasgow:
Society for Research into Higher Education and Open University Press.
• Bass, R. (1999). “The scholarship of teaching: What’s the problem?”. Inventio, vol.1,
nº1. http://www.doiiit.gmu.edu/Archives.
• Schön, D. (1987). Educating the reflective practitioner. San Francisco: Jossey-Bass
Publishers.
• Smith, K. & Tillema, H. (2003). “Clarifying different types of portfolio use”. Assessment
and Evaluation in Higher Education, vol. 28, nº 6, pp. 625-648.
• Wright, A.; Knight, P. & Pomerleau, N. (1999). “Portfolio people: teaching and learning
dossiers and innovation in higher education”. Innovative Higher Education, vol. 24, nº 2,
pp. 89-103.
103
16 Um e-portefólio no ensino superior
• Paula Carvalho
[email protected]
• Luís Descalço
[email protected]
Universidade de Aveiro
16.1 Resumo
Motivado pelo tratado de Bolonha, o ensino superior (e não só) português confronta-se
com a necessidade de reestruturação e reformulação de conteúdos e, sobretudo, métodos que
permitam responder de forma adequada ao desafio do espaço de ensino superior Europeu.
Neste contexto de mudança, há que desenvolver um grande esforço, que passa por,
repensando as políticas de ensino, procurar novas metodologias, integrando, contudo, as
anteriores.
Tendo em vista objectivos como avaliação de competências, inovação no sistema de
aprendizagem/ensino, competitividade, mobilidade de alunos e/ou profissionais, é de fomentar
o incentivo à construção e uso de e-portfólios.
Em Portugal este processo está ainda pouco desenvolvido e divulgado. Neste artigo,
pretendemos divulgar o que julgamos ser um e-portfólio da disciplina de CálculoIII, destinada a
estudantes de Engenharia e frequentada por mais de mil alunos, da responsabilidade do
Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro; a experiência foi realizada durante o
primeiro semestre do ano lectivo de 2005/2006. tendo como base o Blackboard Academic
Suite™ em http://elearning.ua.pt/ foi construído um e-portfólio onde figuram documentos
escritos como textos de apoio às aulas teóricas, colecções de exercícios e problemas de apoio
às aulas teórico-práticas e respectivas soluções; documentos produzidos em computador
usando o Maple, sob a forma de Worksheet, com a possibilidade de serem livremente usados
pelos estudantes, bem como sugestões de resolução de problemas com recurso ao uso do
computador. A realização de inquéritos aos estudantes, o tratamento estatístico de algumas
acções dos estudantes, a recolha de testes de avaliação realizados informaticamente é
algumas das potencialidades que pudemos pôr em prática.
104
Outra plataforma usada nesta disciplina, o Pmate, permite que os alunos tenham
acesso a testes gerados aleatoriamente dentro de certos parâmetros e objectivos fixados à
priori, pelo professor. Foram desenvolvidos modelos (questões parametrizadas que funcionam
como templates para a geração de questões concretas) com questões sobre toda a matéria da
disciplina, e com eles criados testes e disponibilizados aos alunos. Estes testes constituem
uma ferramenta de aprendizagem e auto-diagnóstico para os alunos e funcionam também
como pre-requisito para acesso aos testes de avaliação escritos. A actividade dos alunos na
utilização destes testes, totalmente arquivada automáticamente, constitui um importante registo
para os docentes, sendo por exemplo usada para identificar estatisticamente algumas das suas
principais dificuldades.
105
17 Portefólios Digitais: Uma Investigação com Alunos do
Ensino Superior
17.1 Resumo
106
construiram os seus portefólios digitais, utilizando a plataforma Digitalportfolios, uma aplicação
digital suportada por bases de dados. Foi ainda realizado um estudo exploratório sobre a
introdução dos portefólios nos ensinos básico e secundário, com base em acções de formação
e workshop realizadas em escolas do 2º, 3º ciclos e do ensino secundário, subordinadas ao
tema “Portefólios Digitais” e “Educação Multimédia”. Esta abordagem no ensino secundário
visou compreender a realidade face à utilização de portefólios nas escolas, e a influência que
esta poderá vir a ter na continuidade do trabalho dos futuros professores, utilizando portefólios.
Ao longo do processo de investigação-acção, construiram-se progressivamente
instrumentos de investigação (grelhas de observação e questionários) para que, através da
análise dos conteúdos destes, pudéssemos aferir do valor e contributo da utilização dos
portefólios digitais reflexivos para o processo de ensino-aprendizagem. Os resultados foram
encorajadores para trabalhos futuros.
107
18 Tecnologias que podem ajudar a pensar…
18.1 Resumo
Tendo presente a escassez de propostas de classificação das tecnologias digitais com
base no seu potencial pedagógico e a dificuldade, muitas vezes sentida, na operacionalização
de sistemas de análise que valorizem essa dimensão, o trabalho aqui apresentado pretende
ser um contributo nesse sentido.
Assim, apresentam-se aqui alguns dados sobre o processo e os resultados obtidos na
elaboração de uma grelha de análise e avaliação das tecnologias de informação e
comunicação hoje disponíveis e passíveis de serem utilizadas na elaboração de portefólios,
quer de professores, quer de alunos.
Este trabalho insere-se nas actividades do projecto “DigiFolio – O Portefolio Digital como
Estratégia de Desenvolvimento Profissional de Professores”12, um projecto de âmbito europeu
(Programa Comenius, Acção 2.1) que visa conjugar as potencialidades educativas dos
portefólios com o potencial das Tecnologias de Informação e Comunicação.
18.2 Introdução
O objectivo de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores é um excelente
motivo para reflectir sobre as questões da inovação em Educação e, nessa linha, uma
oportunidade ímpar para o incremento da utilização de portefólios nas práticas educativas.
Os avanços mais recentes das tecnologias digitais proporcionam-nos, por outro lado, a
experimentação de novas formas de organização e de construção de conhecimento que
12
Mais informação sobre o projecto encontra-se disponível em: www.fpce.ul.pt/pessoal/ulfpcost/digifolio/
108
exaltam a diversidade e a multiplicidade de propósitos, tanto do ponto de vista individual como
colectivamente.
Da reflexão sobre a conjugação destes dois aspectos resulta a proposta aqui
apresentada de análise e avaliação das tecnologias a que a comunidade educativa pode
facilmente aceder hoje e que podem ser mobilizadas para a elaboração de portefólios
electrónicos, quer de professores, quer de alunos.
No caso dos professores, o uso do portefólio pode constituir, aliás, um poderoso meio ao
serviço da renovação das práticas educativas (Cardoso, Peixoto, Serrano e Moreira, 1996) se
entendido como estratégia metacognitiva e reflexiva sobre o ensino e sobre si próprios (Galvão,
2005).
No entanto, a escassez de informação sobre o que são portefólios, que tecnologias
podem ser utilizadas para a sua elaboração, como se preparam e como se pode tirar partido
deles, são questões que apontam para a necessidade de uma preparação específica nesse
domínio.
Em conformidade com isso, o trabalho aqui apresentado tem como principal finalidade
ajudar os professores nesse processo, fornecendo-lhes uma grelha de análise e avaliação das
tecnologias com base nas suas potencialidades pedagógicas para a elaboração de portefólios
electrónicos.
Está organizado em três pontos em função das fases do processo de construção da
referida grelha. No primeiro – “Ponto de partida e objectivos do trabalho” – damos conta das
questões de onde se partiu e dos objectivos do trabalho desenvolvido. Apresenta-se de
seguida a “Estratégia de desenvolvimento” utilizada, dando especial enfoque aos momentos
mais significativos do processo, ou seja, a identificação dos objectivos dos portefólios (ponto
2.1) e a identificação de possíveis categorias de análise (ponto 2.2). No terceiro ponto –
“Grelha de análise“ –, apresenta-se a proposta concreta a que chegámos, resultante da
reflexão feita nas fases de pesquisa anteriores. Terminamos com uma reflexão final onde se
sublinham as ideias principais do trabalho efectuado e seu desenvolvimento futuro.
109
Tendo como ponto de partida a dificuldade enunciada, foi nosso propósito propor uma
grelha para análise e avaliação das tecnologias hoje disponíveis, que considerasse os
objectivos concretos normalmente associados à utilização dos portefólios e, desse modo,
contribuísse para a identificação das potencialidades educativas dessas mesmas tecnologias.
Pretendeu-se, por outro lado, que essa grelha de análise e avaliação pudesse vir a
constituir um instrumento de utilização autónoma por parte dos professores e educadores que
desejem utilizar essas ferramentas ou necessitem de ajuda específica nesta área.
110
Quadro 1
Objectivos inerentes à construção de portefólios e respectivos focos
Objectivos dos portefólios Dimensão / Foco
educativos
Estimular e activar o pensamento reflexivo Reflexão
Evidenciar processos de auto-reflexão
Estruturar os procedimentos de ensino e Estruturação
aprendizagem
111
18.4.2 Categorias de análise
Figura 1
Estratégias de ensino-aprendizagem
(modelo adaptado de Laurillard, 1993)
São precisamente essas estratégias que tomámos como referencial para análise e
avaliação das tecnologias. Uma avaliação baseada nas estratégias de ensinoaprendizagem
preferencialmente utilizadas para alcançar os objectivos inerentes à elaboração de portefólios e
que passamos a explicitar com mais detalhe:
112
Estratégia discursiva. Permite sobretudo manter uma relação de comunicação entre
vários intervenientes. É uma estratégia em que preside uma atitude de indagação e de
pesquisa sistemática por parte de professores e alunos e que ajudará na compreensão do
processo de ensino e aprendizagem identificando nele dimensões cognitivas, afectivas e de
acção.
Estratégia adaptativa. Permite sobretudo construir actividades de aprendizagem
baseadas nas concepções dos diversos intervenientes, evoluindo e ajustando-se a cada
situação concreta. O professor procura compreender para intervir, adequando as actividades
às necessidades específicas de cada aluno ou grupo de alunos num determinado momento.
Estratégia interactiva. Permite sobretudo representar e trocar ideias e conteúdos
utilizando várias formas de expressão e representação (texto, imagem, som, vídeo…). É uma
estratégia em que preside uma atitude mútua de escuta e diálogo constante entre professor e
aluno.
Estratégia reflexiva. Permite sobretudo a reflexão e o aprofundamento de
conhecimentos com base no registo de diferentes formas de estruturação e organização do
pensamento. É uma estratégia em que presidem a análise e o pensamento crítico e em que é
suposto que o aluno reflicta não apenas sobre o que está a aprender, mas também sobre como
está a aprender e sobre o seu próprio papel no processo de ensino e aprendizagem.
Quadro 2
Proposta de análise e avaliação do potencial pedagógico das tecnologias em função do
tipo de estratégias e dos objectivos específicos da elaboração de portefólios
POTENCIAL PEDAGÓGICO
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
DISCURSIVA − Manter uma relação de comunicação contínua entre vários intervenientes;
(Comunicação, − Negociar conteúdos e objectivos (professor e alunos);
Participação) − Expressar ideias em função dos objectivos negociados;
113
− Participar activamente na construção do conhecimento.
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
ADAPTATIVA − Construir actividades de aprendizagem adequadas às concepções dos
(Evolução, diversos intervenientes;
Selecção) − Adaptar os objectivos de aprendizagem aos interesses dos alunos tendo
em conta as interacções (diálogo) ocorridas;
− Tomar consciência das facilidades e dificuldades sentidas na elaboração
do portefólio;
− Permitir um empenho pessoal e social no processo de ensino
aprendizagem.
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
INTERACTIVA − Fornecer feedback ao aluno, ajudando-o a alcançar os objectivos de
(Motivação, aprendizagem;
Visualização) − Reconhecer o significado inerente ao feedback transmitido pelo professor,
de forma a apropriar-se dos conteúdos que melhor se ajustam ao seu perfil;
− Adicionar outras informações visando complementar determinado
conteúdo/tópico;
− Representar ideias/conteúdos utilizando várias formas de expressão (texto,
imagem, som, vídeo…).
ESTRATÉGIA Em que medida a tecnologia permite:
REFLEXIVA − Reflectir e escrever sobre processo de ensino e aprendizagem;
(Reflexão, − Estruturar e registar ideias, percepções e convicções dos alunos;
Estruturação) − Reflectir sobre as descrições do aluno;
− Fornecer diferentes formas de organização do pensamento possibilitando
o aprofundamento de conhecimentos.
114
geração, como é o caso dos “weblogs”, “wikis” e outro “software social”, disponíveis na Internet
a custo zero, mas também às tecnologias e ferramentas de produtividade convencionais,
disponíveis em qualquer computador pessoal, e que encerram um potencial inigualável se
convenientemente integrados e utilizados em contexto educativo.
Uma integração e utilização que passa pelo domínio que os professores tiverem dessas
ferramentas, nomeadamente em termos de selecção e sua adequação a objectivos muito
concretos como é o caso dos portefólios electrónicos. Tópico que deu origem ao estudo em
desenvolvimento no seio do projecto DigiFolio, de cuja fase inicial aqui demos conta, e que
esperamos venha a contribuir para um conhecimento mais profundo do modo como as
“tecnologias podem ajudar a pensar”.
18.7 Referências
• ALMEIDA, J.(2003). Implementação de Portfolios no 10º ano de escolaridade:
Contributos para o processo de aprendizagem e avaliação em Matemática. Dissertação
de Mestrado em Matemática/Educação. Porto: Universidade Portucalense.
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Porto: Porto Editora.
• BIRNEY, R., BARRY, M., HÉIGEARTAIGH, M. (2006). Blogs. Engancing the Learning
Experiences for Tecnology Studentes. Paper presented at de International Conference
on ED-MEDIA.
• CARDOSO, A.; PEIXOTO, A.; SERRANO, M.C. e MOREIRA, P. (1996). O Movimento
da autonomia do aluno. Repercurssões a nível da supervisão. In Alarcão, I.
(organização). Formação Reflexiva de Professores. Estratégias de Supervisão. Porto:
Porto Editora.
• GALVÃO, V. (2005). A utilização de “portfolio” reflexivo na disciplina de Biofísica de um
Curso de Fonoaudiologia. In Sá-Chaves, I. (organizadora). Os “portfolios” reflexivos
(também) trazem gente dentro. Reflexões do seu uso na humanização dos processos
educativos. Porto: Porto Editora.
• LAURILLARD, D. (1993). Rethinking university teaching. A framework for the effective
use of educational technology. London: Routledge.
• NUNES, J. (2000). O professor e a acção reflexiva. Portfolios, “Vês” heurísticos e
mapas de conceitos como estratégias de desenvolvimento profissional. Porto: ASA
Editores.
• SÁ-CHAVES, I. (2000). Portfolios Reflexivos. Estratégia de Formação e de Supervisão.
Aveiro: Universidade de Aveiro.
115
• SÁ-CHAVES, I. (1997). Novas abordagens metodológicas: os “portfolios” no processo
de desenvolvimento profissional e pessoal dos professores. In Estrela, A. e Ferreira, J.
(org.). VII Colóquio Nacional da AIPELF/AFIRSE.
• SERAFIM, M. (2000). Portfolio vocacional. Estudo exploratório sobre a aplicação do
portfolio de competências em aconselhamento de carreiras. Dissertação de Mestrado
em Ciências de Educação, Formação Pessoal e Social. Universidade Católica
Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas
Identificação da Tecnologia
116
• Weblogger, http://weblogger.terra.com.br/
• BigBlogTool, http://www.bigblogtool.com/
• Blogalia: http://www.blogalia.com/
• TheBlog, http://www.theblog.com.br/
IDIOMA Está disponível em várias línguas
ACESSIBILIDADE A criação de blogs é gratuita na maior parte dos serviços que os
disponibilizam
REQUISITOS Em geral basta ter acesso à Internet e um endereço de correio
electrónico para se poder criar um blog
OBSERVAÇÕES
Potencial Pedagógico
117
− Acrescentar informação complementar para melhorar a compreensão;
− Estimular, reforçar ou incentivar visando um esforço continuado;
− Aconselhar ou induzir caminhos alternativos de acordo com os
objectivos a alcançar.
Reconhecendo a importância da interacção com os outros e a utilidade
do feedback, o aluno vê reforçada a sua capacidade aprendizagem,
procurando outras informações com o intuito de aprofundar o estudo de
determinado tema ou assunto.
Esta tecnologia permite representar as ideias/conteúdos sob várias
formas (texto, imagem, som, vídeo) e fazer ligações para o exterior
(links).
ESTRATÉGIA Os weblogs podem ser utilizados pelo aluno para registo da sua reflexão
REFLEXIVA
pessoal sobre o processo de ensino e aprendizagem num determinado
(REFLEXÃO,
ESTRUTURAÇÃO) período de tempo e sobre as próprias aprendizagens efectuadas: o que
se está a aprender, como se está a aprender, as aquisições esperadas e
as aquisições já realizadas, as dificuldades sentidas, os obstáculos
superados, os recursos utilizados, etc..
A partir das reflexões e descrições realizadas pelos alunos, o professor
pode também reflectir sobre o processo e sobre a sua acção particular,
levando-o a melhorar ou considerar diferentes estratégias de
intervenção, procurar e explorar outros recursos, aprofundar o estudo
sobre as diferentes vertentes da sua acção, etc.
Apreciação Global
118
gratuitamente na maior parte dos casos, com a rapidez de publicação e
actualização da informação e com a acessibilidade a audiências
potencialmente vastas.
PONTOS Os Weblogs são uma tecnologia adequada à elaboração de portefólios
FORTES
electrónicos, uma vez que permite satisfazer os objectivos normalmente
associados à sua elaboração.
São de realçar as possibilidades que oferece nomeadamente em termos
de interacção e em termos de visualização para o exterior,
proporcionando, por isso, um maior grau de motivação face aos
portefólios tradicionais.
A sua grande flexibilidade é também um ponto forte a considerar:
flexibilidade em termos de formas de apresentação dos conteúdos;
flexibilidade em termos de comunicação (entre aluno/aluno,
aluno/professor, aluno/outros intervenientes).
PONTOS Uma das limitações desta ferramenta é o facto de não ser acessível a
FRACOS
públicos que não tenham acesso à Internet.
EXEMPLOS DE Estágio de matemática da FCUL
BOAS PRÁTICAS
“Espaço em que podemos trocar ideias e comentar as histórias que nos
vão sendo apresentadas. Cada história corresponde a um episódio que
se passou na aula e que, de qualquer modo, vos fez pensar...”
[Disponível on-line]: http://estagios2005.weblog.com.pt/
HEMAJORO
“Aprender faz sorrir e faz crescer… Espaço para aprender e brincar,
conversar e olhar, inventar e interagir. Especialmente dedicado às
Tecnologias, com as tecnologias ao serviço da educação. Bem-vindo(a)
à academia!”. [Disponível on-line]: http://hemajoro.blogspot.com/
OBSERVAÇÕES
119
19 Formação contínua em contexto para a construção de
práticas alternativas de avaliação através da realização de
portefólios
• Cristina Parente
[email protected]
Instituto de Estudos da Criança
Universidade do Minho
19.1 Resumo
Nem sempre em Portugal se considerou a avaliação uma dimensão pedagógica
relevante no contexto da educação de infância. Os educadores de infância não avaliavam de
forma sistemática e os pais e entidades responsáveis não solicitavam aos educadores os
resultados da avaliação.
Investigações realizadas tornaram possível conhecer e identificar lacunas importantes
nas concepções e nas práticas de observação e de avaliação, na generalidade dos educadores
de infância, fundamentando a decisão de desenvolver um programa de formação contínua em
contexto para educadores de infância com o objectivo de construir e/ou aprofundar
conhecimentos acerca das perspectivas de avaliação alternativa, através da realização de
portefólios de avaliação, uma estratégia de avaliação que se inscreve no âmbito da avaliação
alternativa. O desenvolvimento deste projecto foi objecto de um estudo de caso.
A análise e interpretação dos casos participantes no estudo de caso tornou possível
construir algum conhecimento em torno do processo de realização dos portefólios e identificar
processos diferenciados de construção ao nível do estilo da experimentação e ao nível da
participação e dos papéis desempenhados pelos diferentes actores. Estas diferenças
manifestam-se em portefólios distintos ao nível da apresentação, da estrutura, da organização
e da variedade e diversidade de conteúdos. Também permitiu conhecer as principais
dificuldades identificadas no processo, assim como, potencialidades do portefólio.
Realizar o portefólio pressupõe uma fase de planeamento que não pode ser
negligenciada no decurso da qual o educador deve pensar na estrutura conceptual e na
estrutura física, assim como, no conjunto de procedimentos necessários para construir e
manter o portefólio de aprendizagem e avaliação.
120
Palavras-Chave: Formação contínua em contexto; avaliação alternativa portefólios de
aprendizagem e avaliação.
19.2 Comunicação
A realização de processos de avaliação, de forma sistemática, na educação de infância
é uma prática relativamente recente. A avaliação não era bem compreendida neste nível de
ensino (Saracho e Spodek, 1997; Zabalza, 2000).
A pouca relevância atribuída à avaliação, numa primeira fase da história da educação de
infância em Portugal, e a importância relativa, numa fase subsequente, contribuíram para que
esta dimensão da pedagogia tenha, em Portugal, sido subvalorizada ao nível de muitos
currículos de formação inicial, relativamente negligenciada ao nível da prática profissional e
objecto de um número reduzido de pesquisas.
A investigação que tem vindo a ser realizada, desde 1991, no âmbito do Projecto
Infância13 e a tradição de trabalho realizado em torno das dimensões pedagógicas da
educação de infância, nomeadamente, a observação, planificação e avaliação, permitiu
identificar a existência de lacunas importantes nas concepções e nas práticas de avaliação na
generalidade dos educadores de infância.
É com este enquadramento que se desenvolve um programa de formação contínua em
contexto, para educadores de infância, com o objectivo de construir e/ou aprofundar
conhecimentos acerca das perspectivas de avaliação alternativa, através da realização de
portefólios, uma estratégia de avaliação que se inscreve no contexto da avaliação alternativa.
O portefólio de aprendizagem e de avaliação apresenta-se como uma resposta
educacional ao desafio de aperfeiçoamento de procedimentos de avaliação alternativa que,
tenham em conta, os conhecimentos emergentes no domínio da educação de infância,
incluindo, sobre o modo com as crianças de idade pré-escolar aprendem e constroem
conhecimentos e sobre as estratégias de ensino-aprendizagem mais adequadas para as
crianças destas idades.
Os portefólios têm vindo a ganhar uma grande notoriedade e a adesão de muitos
educadores e professores, apresentando-se como uma possibilidade, para levar a cabo uma
avaliação realizada ao longo do tempo, autêntica, colaborativa e contextualizada (McLaughlin,
e Vogt, 1996).
No contexto da avaliação alternativa os professores e educadores apreciam a evolução
da criança através de registos de observações sistemáticas, da selecção de evidências que
documentam os progressos ao nível das aprendizagens e das realizações e de reflexões sobre
as mesmas, obtendo deste modo, uma descrição rica e compreensiva do desenvolvimento e da
aprendizagem da criança (Mac Donald 1997). O portefólio de aprendizagem e de avaliação da
13
Um projecto de formação, intervenção e investigação coordenado por Júlia Formosinho.
121
criança representa uma possibilidade prática para reunir e organizar toda a diversidade de
informação obtida através de várias fontes (Martin, 1999; Nilsen, 1997;Shaklee, Barbour,
Ambrose e Hansford, 1997). Deste modo realizar o portefólio permite celebrar e documentar o
que a criança pode fazer (Batzle, 1992), e ajuda as crianças a moverem-se do “eu não sei
fazer/eu não sou capaz” para “eu sei fazer/eu sou capaz” (Collins, 1998).
O processo de realização do portefólio de aprendizagem e avaliação comporta grandes
desafios para o educador que tem de conceber uma estrutura conceptual e uma estrutura física
para o portefólio, tem de pensar numa estratégia adequada para apresentar o portefólio e os
seus procedimentos às crianças e aos pais e suscitar o seu envolvimento e participação, tem
de procurar favorecer o desenvolvimento de competências que permitam à criança ser capaz
de seleccionar amostras e evidências que expressem crescimento e desenvolvimento, reflectir
sobre essas evidências e, em ultima análise, apreciar os progressos e o desenvolvimento
pessoal.
Um estudo de caso relativo às percepções e práticas de avaliação anteriores e às
percepções e práticas de avaliação alternativa, através da realização de portefólios, de seis
educadoras de infância que participaram no projecto de formação contínua em contexto,
permitiu conhecer e descrever alguns processos de construção de portefólios.
Assim, constata-se que os processos de construção de portefólios levados a efeito se
distinguem, globalmente, por um modo de fazer mais empírico e tacteado ou por um modo de
fazer mais conceptualizado e, ainda, ao nível da variedade de participantes e do papel
assumido por cada um deles no processo.
De entre as seis educadoras participantes no estudo verifica-se que quatro iniciam o
processo de construção do portefólio sem uma ideia clara acerca dos itens e conteúdos que
este deveria incluir. Educadoras e crianças, com grande entusiasmo, juntam numa pasta nova,
os melhores e mais significativos trabalhos das crianças seleccionados de forma colaborativa,
comentários acerca dos trabalhos, alguns registos de observação realizados, fotos da criança
e/ou grupo em actividades, outros tipos de registos que revelam gostos, preferências,
apreciações sobre actividades, interacções sociais, etc. A selecção de evidências para o
portefólio vai ocorrendo, sem carácter sistemático, e estas vão sendo colocadas de modo, mais
ou menos, informal no portefólio.
Este modo de fazer tacteado suscita reflexões por parte das educadoras que
percepcionam algumas dificuldades e lacunas no processo e descobrem a importância de
conceber uma estrutura e uma organização prévia para o portefólio:
Eu acho que construir portfolios facilita muito. (...) Apesar de no princípio ser um
bocado difícil nós sabermos exactamente o que é que queremos seleccionar, (...)
facilita depois de encontrar uma estrutura digamos assim (...) A estrutura é importante
para saber o que se vai recolher com algum critério. (...) a dificuldade maior é essa é
encontrar uma estrutura e seleccionar as áreas (Catarina)
122
O excerto da entrevista que se apresenta revela uma lacuna central no processo
levado a cabo. O portefólio construído não inclui toda a diversidade de informações que a
educadora conseguiu observar e, às vezes, registar. Esta educadora apreende a necessidade
de encontrar uma forma de sintetizar a informação relevante sobre o percurso de
aprendizagem e desenvolvimento da criança, bem como, a necessidade de encontrar, desde o
momento inicial do processo, uma forma de recolher e organizar a diversidade de dados,
informações e evidências que vão sendo recolhidos ao longo do tempo e que constituem a
base de todo o processo de avaliação:
Agora o que eu acho que eu falhei, relativamente ao portfolio, que já pensei muito, que
eu acho que talvez consiga para o ano, (...) é eu fazer um apanhado de tudo isto, de
cada criança para pôr na capa de cada criança. Eu não fiz e, agora, eu achei que ia ser
uma violência para mim. Agora passar de todos, aquilo tudo que tinha ia ser muito
difícil. (...) E eu vou aos meus meses, à minha planificação mensal eu olho e vejo, e
tenho o que fizeram, como fizeram, como é que as crianças reagiram se foi
conseguido, mas o que vai para casa praticamente não é nada comparado com tudo o
que eles fizeram. Tudo isto fica comigo, isto fica na minha planificação e avaliação,
agora em relação aos pais não tanto quanto deveria ir.
Duas outras educadoras optam por um modo de fazer que envolve uma reflexão sobre
a organização do portefólio antes de começarem a recolher evidências. Esta é uma fase
complexa e que comporta algumas dificuldades para a educadora que tem de procurar
construir uma estrutura e uma organização capaz de dar resposta ao objectivo geral do
portefólio – documentar o desenvolvimento e a aprendizagem de cada criança.
É assim, acho que o portefólio antes de uma pessoa engendrar, encontrar como é que
vai fazer (...) Pensar como organizar, como escrever, como organizar com as crianças.
Eu não contabilizei as horas que gastei durante as férias a ler coisas, a ver, a pensar
nas coisas, a organizar também mas muito pouco, demorei mais tempo a pensar como
fazer. (...) Uma dificuldade realmente é a organização. É organizar-me para a
organização do portfolio (...) da estrutura, das observações, organização de como vou
observar e quando, o que é que vou recolher e quando, tudo isto que é preciso definir
muito bem antes dos meninos entrarem (Inês).
Construir o portefólio de aprendizagem e avaliação é, na educação de infância, uma
tarefa partilhada entre crianças, educadores e pais. Todas as decisões relativas à estrutura e
aos conteúdos do portefólio devem ser tomadas tendo subjacente a ideia de que o portefólio
pode e deve ser realizado com a participação de todos os actores do processo educativo e que
este deve ser manuseado por todos, mesmo pelas crianças mais novas.
No estudo de caso efectuado foi possível observar que nos casos em que não existia
uma estrutura prévia para o portefólio a participação e o envolvimento das crianças começa por
ser baixo e vai aumentando ao longo do processo. Na fase mais inicial são as educadoras que
123
assumem todo o conjunto de procedimentos necessários para a construção dos portefólios.
Progressivamente as crianças vão participando mais e vão assumindo o portefólio como seu.
Em contrapartida, os outros dois casos procuram, desde o início, apresentar o
portefólio às crianças e utilizar várias estratégias para as ajudar a compreender o que é o
portefólio, a seleccionar os conteúdos para incluir e a reflectir sobre esses conteúdos.
Também, ambos os casos, utilizam estratégias intencionais, desde o início, para
envolver os pais no processo de construção do portefólio de aprendizagem e avaliação dos
filhos.
Um dos casos participantes assume, de forma clara, a realização da avaliação através
de portefólios e convoca uma reunião com o objectivo de informar os pais que vai fazer a
avaliação através de portefólios, explicar o que é o portefólio de aprendizagem e de avaliação e
o que se espera que eles possam fazer para participar no processo de aprendizagem e
avaliação dos filhos.
A outra educadora participante imbuída dos receios que os processos de inovação
educacional comportam informa os pais que vai realizar a avaliação com recurso ao portefólio
de aprendizagem e avaliação, numa reunião convocada com outros objectivos, e leva a cabo
todo o trabalho subsequente em torno desta estratégia de avaliação em contactos individuais
ou em pequenos grupos de pais.
Em ambos os casos se verifica a participação e o envolvimento de alguns pais no
processo através de trocas comunicacionais sobre acontecimentos ocorridos em casa, do
envio de evidências para o portefólio e, até mesmo, a realização de registos escritos para
integrar no portefólio.
Das quatro educadoras que utilizam um modo de fazer mais empírico duas optam por
enviar, mais ou menos informalmente, os portefólios para casa num fim-de-semana e
aguardam as reacções dos pais. Constata-se que os pais não ficam indiferentes e reagem de
forma positiva. Alguns pais deslocam-se ao jardim-de-infância para falar com a educadora
sobre o portefólio fazendo comentários e/ou colocando questões para perceber melhor.
Numa apreciação mais global constata-se que os processos de construção do
portefólio que são objecto de um cuidadoso planeamento e, portanto, previamente mais
reflectidos são melhor sucedidos ao nível da variedade de conteúdos e de representação do
que os processos mais empíricos e tacteados. Os processos de realização mais ponderados
reflectem-se na estrutura dos portefólios que se organizam em categorias, o que pode ser
entendido como um indicador de qualidade. Os processos de experimentação e de realização
mais cooperada entre educadores e, posteriormente, isomórficos com as crianças e os pais
são processos que conduzem à construção de um portfolio mais variado e diversificado ao
nível dos conteúdos e dos procedimentos de recolha dos mesmos. Em contrapartida,
processos de realização menos partilhados e mais centrados no educador são menos
124
diversificados ao nível dos conteúdos e dos procedimentos usados para recolher as
informações e, nesse sentido, mais restritos.
Diversos autores (Benson, 1996; De Fina, 1992; Gelfer e Perkins, 1996; Shaklee,
Barbour, Ambrose e Hansford, 1997; Welter, 1998), destacam, no processo de realização do
portefólio, uma fase de planeamento que não pode ser negligenciada, no decurso da qual o
educador deve pensar na estrutura conceptual e na estrutura física, assim como, numa forma
de acumular e organizar as informações, elementos e evidências que vai recolhendo para
serem incluídos no portefólio sob o risco de amontoar informações sem qualquer organização
que, posteriormente, serão muito difíceis de tratar e organizar.
No contexto da descrição e análise dos processos realizados foi possível conhecer as
principais dificuldades identificadas nesse processo e algumas potencialidades dos portefólios.
Todas as educadoras referem dificuldades ao nível das competências de observação,
documentação e avaliação; falta de referênciais sobre os portefólios de aprendizagem e
avaliação na educação de infância, alto nível e exigência do conjunto de procedimentos
necessários para realizar o portefólio e a falta de uma equipa educativa estável que suporte o
desenvolvimento do processo.
Relativamente às potencialidades do portefólio os educadores ressaltam o potencial do
portefólio para favorecer o envolvimento e a participação das crianças e, em alguns casos, o
envolvimento dos pais no desenvolvimento e construção do processo de aprendizagem e de
avaliação. O envolvimento e participação das crianças, sublinhado por todas as educadoras,
favorece o reconhecimento e a confirmação da competência da criança. O envolvimento e
participação dos pais acentuam a dimensão do portefólio como catalisador de envolvimento
parental.
Construir colaborativamente, um portefólio de aprendizagem e avaliação, constitui uma
oportunidade para dar a conhecer as características únicas de cada criança porque cada
portefólio é, também ele, uma criação única em que a criança, o educador e os pais
seleccionam evidências da aprendizagem e incluem reflexões e análises sobre o processo
realizado.
Em síntese, constata-se que o processo de formação em contexto para o
desenvolvimento de práticas alternativas de avaliação, através da construção de portefólios de
aprendizagem e de avaliação, se revelou uma oportunidade ganha ao nível da formação dos
educadores, na medida em que favoreceu um percurso de transformação no domínio da
compreensão e das práticas de avaliação na educação de infância, bem como, o
desenvolvimento da competência para a acção ao nível da observação, documentação e
avaliação, manifestando-se igualmente, um contributo importante para o desenvolvimento
profissional dos educadores que nele participaram.
Por outro lado, o portefólio revelou-se uma estratégia de aprendizagem e avaliação
capaz de dar resposta ao desafio de identificar e favorecer o potencial de desenvolvimento de
125
cada criança, de valorizar o trabalho profissional do educador de infância, ampliar as
possibilidades de comunicação com os pais e restante comunidade educativa e assim
contribuir para uma maior valorização daeducação pré-escolar.
19.3 Referências
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in the K- classroom. Cypress: Creative Teaching Press.
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127
20 Autonomização dos e-portefólios nas EB1: visibilidade e
consciencialização da aprendizagem
• Luís F. Barbeiro
[email protected]
• Isabel S. Rebelo
[email protected]
Escola Superior de Educação
Instituto Politécnico de Leiria
20.1 Resumo
O Projecto de «Competências Básicas em TIC nas EB1», CBTIC@EB1, desenvolvido ao
longo de 2006, incluiu entre os seus desafios e indicadores a construção de portefólios digitais
de turma. Este instrumento encontra-se associado à visibilidade da manifestação de
competências de literacia digital dos alunos. A sua construção, enquanto objecto autónomo,
promove a tomada de consciência de aprendizagens subjacentes aos trabalhos dos alunos, a
tomada de decisão conducente à sua selecção e a reflexão acerca dos projectos desenvolvidos
na turma.
A novidade deste instrumento no contexto dos programas de promoção da utilização das
TIC nas escolas do 1º CEB levou-nos a procurar caminhos de concretização que potenciassem
o seu papel nas vertentes referidas. Estes passaram por uma estratégia de autonomização da
presença dos portefólios nas páginas das escolas onde foram criados e pela sua publicação na
página da instituição de ensino superior que coordena o Projecto na região. A estratégia de
autonomização seguida manifestou-se pela construção de um documento próprio, com partes
constitutivas que não se limitaram à junção dos diversos trabalhos, mas que em secções como
Apresentação/Introdução, Conclusão/Reflexão, permitiram aos alunos expressar a sua relação
com o trabalho realizado e estabelecer a relação comunicativa com eventuais
leitores/visitantes.
Os resultados da análise dos portefólios publicados comprovam que a estratégia de
autonomização seguida permitiu dar unidade ao documento divulgado e associar a visibilidade
a uma intencionalidade comunicativa de estabelecimento da relação com o visitante/leitor.
Permitiu ainda activar a expressão da relação dos alunos com esses trabalhos, com as suas
aprendizagens e com as próprias TIC.
128
20.2 Introdução
Com esta comunicação visamos relatar a experiência da Escola Superior de Educação
do Instituto Politécnico de Leiria (ESEL) na promoção da construção de portefólios em suporte
digital no âmbito do Projecto de «Competências Básicas em TIC nas EB1» (CBTIC@EB1),
dinamizado, em 2006, junto de 497 Escolas.
Entre as linhas orientadoras da intervenção das Instituições de Ensino Superior nas
Escolas EB1, definidas no âmbito deste Projecto, constava a indicação de «promover a
elaboração de portefólios de turma: uma forma de partilhar, socializar, os trabalhos ou
projectos em que a turma se envolve». Perante o desafio assim apresentado, a equipa
coordenadora do Projecto, na ESEL, procurou caminhos de concretização que potenciassem o
papel deste instrumento na vertente referida, a da visibilidade, partilha e socialização dos
trabalhos desenvolvidos com recurso às TIC, mas também na vertente de tomada de
consciência/reflexão, por parte dos alunos, sobre o trabalho e aprendizagens realizadas.
Através do instrumento portefólio, procurou-se dar passos no sentido da explicitação,
propiciadora da tomada de consciência e reflexão, que a simples divulgação poderia deixar
implícita. A componente reflexiva tem vindo a afirmar-se como uma das virtualidades
fundamentais do portefólio quando integrado num processo formativo (Chaves, 2000; Strudler e
Wetzel, 2005; Jones e Shelton, 2006). Essa componente tem a particularidade de prolongar e
aprofundar a aprendizagem para lá do momento em que o sujeito vive as experiências a ela
ligadas. O papel da reflexão na construção do conhecimento é posto em relevo nesta
afirmação de Posner (2005), que fundamenta a integração do portefólio reflexivo no processo
de formação: “We do not actually learn from experience as much as we learn from reflecting on
experience” (p. 21, cit. por Jones e Shelton, 2006:53). Por conseguinte, perspectivou-se a
construção dos portefólios não apenas com a finalidade de disponibilização dos trabalhos que
iam ou foram sendo realizados ao longo do ano lectivo, mas também com a finalidade de criar
nesse processo momentos de reflexão acerca do trabalho desenvolvido e de construção da
relação com os outros com base nesse trabalho. Assumiram-se, pois, os portefólios como
instrumentos de regulação (designadamente auto-regulação) e avaliação de aprendizagens
dos alunos, que lhes permitem desenvolver competências, autonomizarem-se na sua relação
com a aprendizagem e com o saber (Coelho e Campos, 2003) e integrarem-se numa
comunidade onde esse saber ganha sentido.
Assim, decidiu a equipa coordenadora do projecto na ESEL promover a construção de
portefólios de turma que fossem instrumentos associados à manifestação de competências de
literacia digital e que permitissem estabelecer a relação dos alunos em dois sentidos, no da
relação com as próprias aprendizagens e trabalhos realizados e no da relação com os
leitores/visitantes. Nesta perspectiva, estamos perante portefólios de apresentação (vide
classificação dos tipos de portefólio apresentadas por Bernardes e Miranda (2003), Coelho e
129
Campos (2003)), que, face ao diferimento temporal e espacial da leitura, incluem no próprio
portefólio a manifestação do sujeito em relação ao trabalho realizado. Ao promover a
construção de portefólios como objectos autónomos, com lugar para a reflexão, quer sobre os
produtos nele incluídos, quer sobre os processos conducentes à sua produção, pretendia
promover-se a ligação das competências de literacia digital aos percursos de aprendizagem
trilhados nas turmas, enquanto comunidades de aprendizagem, e aos projectos em que se
envolveram e que contextualizaram as aprendizagens e o desenvolvimento das referidas
competências.
130
através do contacto com outras utilizações, postas em prática por outras turmas/escolas e
divulgadas no blogue.
14
Pode consultar-se mais informação sobre os projectos e actividades de animação através da página da ESEL em
http://www.esel.ipleiria.pt.
131
e portefólio de turma; ii) autonomizar o portefólio, com uma presença própria na página da
escola e num outro local, criado para receber os portefólios criados pelo conjunto das turmas
participantes no Projecto, O Sítio Encantado dos Portefólios.15 A decisão recaiu sobre esta
última possibilidade pelas potencialidades que a recontextualização ligada a esta
autonomização traria para a visibilidade dos trabalhos, para o aprofundamento da relação dos
alunos com esses trabalhos e para o estabelecimento consciente da relação com o destinatário
que o portefólio promove.
Na verdade, a criação de um sítio digital específico, dedicado à divulgação dos
portefólios, para além da página da escola, reforça, desde logo, a visibilidade dos trabalhos,
uma vez que os torna acessíveis numa nova localização, em conjunto com os trabalhos
realizados pelos colegas de outras escolas/turmas. A divulgação conjunta favorece as visitas
mútuas da parte dos alunos, para verem os trabalhos incluídos nos portefólios dos colegas. Por
outro lado, a construção do portefólio digital de turma, enquanto objecto autónomo, coloca os
alunos em situação de reflexão perante os trabalhos desenvolvidos, promovendo a tomada de
consciência de aprendizagens que lhes subjazem, e requer o envolvimento dos alunos,
cooperativamente, na tomada de decisão e na negociação de critérios de selecção que
permitam definir o que incluir e como o incluir no portefólio. Envolve, portanto, os desafios de
como operacionalizar o portefólio, através da selecção e da concepção de caminhos de
concretização para o fazer. Para além disso, no novo contexto de divulgação, é reforçada a
relação com os outros que vai ser estabelecida por intermédio dos trabalhos incluídos no
portefólio.
Sem prejuízo de caminhos próprios, a adoptar em cada caso pelos intervenientes
(alunos, professores e monitores), ao tomar-se a decisão de seguir a via de autonomização dos
portefólios, deram-se algumas indicações às equipas de monitores, com vista a dinamizarem a
elaboração dos portefólios em consonância com os desafios do novo contexto de divulgação e
proporcionando o aprofundamento da relação com os trabalhos realizados e com os
destinatários. Entre essas indicações encontravam-se as de: promover a realização de uma
Capa/Página de rosto para o Portefólio; promover a realização de uma Apresentação do
Portefólio na perspectiva dos alunos (onde poderiam apresentar-se e apresentar os diversos
trabalhos realizados ao longo do ano e incluídos no Portefólio, como surgiu/decorreu a sua
realização, etc.); poderem ser incluídos, para além dos trabalhos em si, documentos
complementares relativos à apreciação do trabalho, às experiências vividas, aos aspectos de
que se gostou/desgostou, etc.; e promover a realização de uma Conclusão, onde os alunos se
expressassem acerca dos trabalhos realizados, das aprendizagens efectuadas, das iniciativas
em que participaram, ao longo do ano, em ligação à utilização das TIC, de aspectos de que
gostaram/desgostaram; etc. Por outro lado, apesar do portefólio ser conjunto, era deixada
15
O endereço correspondente ao sítio, integrado na página da ESEL, é: http://www.portefolios.esel.ipleiria.pt.
132
aberta a possibilidade de inclusão de trabalhos quer individuais, quer de grupo. Em resultado
da estratégia seguida, foram disponibilizados no Sítio Encantado dos Portefólios 412
portefólios, número que corresponde a 83% das escolas envolvidas no Projecto.
16
O código identifica o portefólio na base de dados constituída para a sua análise.
133
todas as turmas da nossa escola deram o seu contributo, como vais poder
observar.» (Pt43)
Os corpos dos diferentes portefólios variaram quer na organização, quer na própria
natureza dos materiais nele incluídos. Em termos da organização, sobressaem dois eixos
organizadores principais: i) o eixo temático ou referencial, relativo ao tópico do trabalho ii) e o
eixo tipológico, relativo à natureza da representação (designadamente visual – desenhos,
fotografias –, ou linguística – textos) e ao tipo ou género de texto/documento em causa —
vejam-se, como exemplos, os dois índices que se transcrevem:
Índice ÍNDICE
Introdução ................................ 3 INTRODUÇÃO ......................................3
O Inverno ................................. 4 QUEM SOMOS………………..………....4
O Dia do Pai é especial ........... 5 OS NOSSOS TRABALHOS …….......... 5
A Flor ....................................... 6 DESENHOS………………………….6
Páscoa ..................................... 7 CONTRIBUTO PARA O CÍRCULO
Acrósticos ................................ 8 DE HISTÓRIAS …………………10
Querida Mãe .......................... 10 ACRÓSTICO………………………...12
Notícia .....................................11 AS NOSSAS REFLEXÕES………..…...13
Dia da Espiga ..........................12 CONCLUSÃO…………………….………20
Círculo de Histórias .................13 (Pt13)
Conclusão ................................16
(Pt3)
134
produto. Acaba por ser em relação ao projecto Círculo de histórias, marcado pela
singularidade do processo de construção do texto, com recurso à escrita em colaborativa entre
turmas, que esses aspectos vêm mais ao de cima, mesmo assim de forma limitada.
As conclusões assumiram quer a forma de textos colectivos, quer a forma de
combinação de textos individuais, escritos pelos diferentes alunos. Nestes textos – alguns
deles acompanhados por ilustrações – emergem variados aspectos: explicitação de
reflexões/apreciações sobre o trabalho desenvolvido, explicitação de aprendizagens (exs:
receber e enviar correio electrónico, trabalhar bem com o computador, percepção do
«Computador como fonte de informação» (Internet), percepção do «Computador como
ferramenta de trabalho e de diversão», utilização de digitalizador, do Skype, etc.), enumeração
de tarefas realizadas, mensagens dirigidas aos leitores, como ilustram os exemplos transcritos
a seguir:
«Conclusão
Nós aprendemos com as monitoras A e B a pesquisar imagens e textos na
Internet e assim ficámos a saber mais acerca de vários temas para fazer vários
trabalhos.
Ao escrever textos no programa apropriado adquirimos mais prática.
No projecto Círculo de histórias tivemos oportunidade de escrever uma história
em conjunto com outras escolas.
Para além disso aprendemos a alterar os ícones, a trabalhar com o scanner e
com a impressora.
Também aprendemos a ver e a consultar o correio electrónico – Incredimail.»
(Pt12)
«Ao longo destas aulas de informática fui aprendendo muitas coisas. Aprendi a
digitalizar, imprimir, fazer pastas, passar desenhos para o paint, etc.…
Nós sozinhos não conseguimos fazer nada disto até pelo contrário só
arranjaríamos problemas ao tentar. Temos duas monitoras que nos ajudam, a A e a
B, a fazer tudo.
BV» (Pt71)
135
Entre as competências em TIC evidenciadas/referidas nos portefólios como tendo sido
desenvolvidas pelos seus autores, podem contar-se, entre outras, a utilização de correio
electrónico, o acesso à Internet e a realização de pesquisas, o processamento de texto, a
utilização de programas de desenho (Paint), a utilização de ferramentas de digitalização ou a
introdução de hiperligações em documentos. A construção do portefólio constituiu, assim, um
meio de colocar em evidência essas aprendizagens, para os próprios e para os outros,
integrando os produtos que lhe correspondem no portefólio.
A integração desses produtos variados no portefólio levanta a questão da sua
organização (que pode ela própria ser objecto de reflexão no âmbito da construção dos
portefólios e conduzir à exploração de diversas formas de organizar o conhecimento e de o
apresentar nos documentos). A organização adoptada, construída fundamentalmente em torno
dos eixos temático e de tipologia de textos/documentos, reflecte a relevância na própria
aprendizagem realizada na escola das dimensões ligadas ao saber declarativo e ao domínio de
géneros, designadamente textuais. Para além disso, os produtos integrados dão relevo à
conjugação de modos de representação ou multimodalidade, dando expressão ao desafio da
literacia multimodal, que as TIC colocaram em novos níveis (Jewitt, 2006; Jewitt e Kress, 2003).
A adopção de outros eixos organizadores, designadamente a conjugação com o eixo
temporal, segundo um modelo de portefólio ligado ao próprio desenrolar do processo de
aprendizagem, colocaria exigências de acompanhamento contínuo, a que a acção dos
monitores, por si só, não pode dar resposta, necessitando da dinamização por parte dos
professores. Contudo, é nesse campo da dinamização por parte do professor e da integração
curricular que ainda se colocam as dificuldades ou desafios maiores em relação à utilização
pedagógica do computador (Barbeiro, 2006; Baron e Harrari, 2005).
A dimensão de relação – com os trabalhos e com os outros – surge sobretudo nas
secções de Introdução e de Conclusão. Nestas secções, construídas globalmente para todo o
portefólio, a dimensão relacional assume um carácter de apresentação ou de apreciação
genérica do trabalho desenvolvido ao longo do ano. A vertente de enquadramento de cada
produto, de registo das experiências vividas na sua construção, de apreciação por parte dos
autores e dos colegas, surge de forma reduzida.
A construção dos portefólios, segundo a estratégia de autonomização seguida, com vista
à sua divulgação numa página própria, introduziu momentos de relação com as aprendizagens
efectuadas no âmbito do Projecto, de decisão quanto aos produtos a incluir, de consideração
da sua organização no conjunto do documento. Nos portefólios construídos, são
fundamentalmente os produtos que emergem. Este resultado é concordante com a divulgação
que predominantemente ocorre nas páginas das escolas (Barbeiro, 2005). O reforço das
dimensões relacional e processual, a acompanhar a divulgação dos produtos, cabe
inteiramente nas características do instrumento portefólio e nas potencialidades das páginas
das escolas. Esse reforço institui o próprio portefólio como instrumento de aprendizagem, ao
136
activar a explicitação e a comunicação do conhecimento, em ligação às experiências que o
construíram, e ao activar a dimensão de reflexão, ligando as aprendizagens à realidade que
rodeia os alunos. Nesta, o portefólio digital, pela visibilidade e socialização que proporciona,
constitui também um instrumento de participação.
20.7 Referências
• Barbeiro, Luís (2005). Página da escola e escrita: Da divulgação dos produtos à
construção do conhecimento. In Mendes, A.; Pereira, I.; Costa, Rogério (Eds.) Actas do
VII Simpósio Internacional de Informática Educativa. Leiria. Escola Superior de
Educação. Edição em CD-ROM (ISBN 972-95207-4-7).
• Barbeiro, Luís (2006). O domínio das TIC pelos professores. Comunicação
apresentada no Seminário “As TIC e a construção de uma comunidade de
aprendizagem no 1.º ciclo”. Leiria, Escola Superior de Educação, Julho de 2006.
• Baron, Georges-Louis; Harrari, Michelle (2005). ICT in French Primary Education,
Twenty Years Later: Infusion or Transformation? Education and Information
Technologies. 10 (3), 147–156.
• Bernardes, C.; Miranda, F. (2003). Portefólio. Uma escola de competências. Porto:
Porto Editora.
• Coelho, C.; Campos, J. (2003). Como abordar… O Portefólio na sala de aula. Perafita:
Areal Editores.
• Cummins, Jim; Sayers, Dennis (1995). Brave new schools: Challenging cultural
illiteracy through global networks.Toronto, Ontario: Oise Press.
• Jewitt, Carey (2006). Technology, literacy and learning: A multimodal approach.
London: Routledge.
• Jewitt, Carey; Kress, Gunther (Eds.) (2003). Multimodal literacy. New York: PeterLang.
• Jones, Marianne; Shelton, Marilyn (2006). Developing your portfolio: Enhancing your
learning and showing your stuff – A guide for the early childhood student or
professional. New York: Routledge.
• Posner, G. (2005). Field Experience: A guide to reflective teaching. Boston: Pearson.
• Sá-Chaves, Idália (2000). Portfolios reflexivos: Estratégia de formação e de supervisão.
Aveiro: Universidade de Aveiro. Cadernos Didácticos, Série Supervisão, n.º 1.
• Strudler, Neal; Wetzel, Keith (2005). The diffusion of electronic portfolios in teacher
education: Issues of initiation and implementation. Journal of Research on Technology
in Education. 37 (4), 411-433.
137
21 Pertinência de um auto-retrato em vídeo num e-portefólio
pessoal de artista
21.1 Resumo
Um portefólio é uma forma de partilhar e dar a conhecer o trabalho desenvolvido e, por
tradição, serve para divulgar esse trabalho em circunstâncias tão específicas como, por
exemplo, responder a anúncios de emprego. Tendo forte tradição no mundo das artes visuais,
é uma espécie de currículo visual / audiovisual que identifica um estilo ou uma maneira de
fazer única.
São precisamente as artes que maiores desafios colocam ao design de plataformas para
e-portefólios. A necessidade de apresentar imagens fixas e/ou em movimento, sons ou
documentos audiovisuais que, pela sua natureza, ocuparão muito mais espaço de memória do
que simples folhas de texto, amplia a complexidade e variedade de conteúdos num e-portefólio
e dificulta a estruturação de espaços que permitam a sua amostra a fim de que a qualidade do
todo possa ser avaliada ou julgada.
Como professor de Laboratório Audiovisual: Fotografia Digital e Vídeo, na Escola
Superior de Educação de Santarém, tenho vindo, desde o passado ano lectivo, a solicitar
aos/às meus/minhas estudantes, a realização de auto-retratos em vídeo com a duração de um
minuto.
Da análise desses trabalhos, resulta evidente a procura de formas de expressão de
pensamentos/emoções reveladores de personalidades artisticamente ricas. Se o portefólio é
um currículo visual, o auto-retrato em vídeo faz parte integrante do e-portefólio como uma
assinatura em imagens e sons de uma identidade que não se define apenas pelos saberes e
aprendizagens, mas por aquilo que se decide revelar de mais íntimo e pela forma como se
constrói e revela.
21.2 Comunicação
Um portefólio é uma forma de partilhar e dar a conhecer o trabalho desenvolvido e, por
tradição, serve para divulgar esse trabalho em circunstâncias tão específicas como, por
exemplo, responder a anúncios de emprego. Tendo forte tradição no mundo das artes visuais,
138
para o/a artista, sempre foi e continua a ser uma espécie de currículo visual que identifica um
estilo ou uma maneira de fazer única. Na arte, a criação de um portefólio é o primeiro passo
para conseguir arranjar trabalho porque, por si só, mesmo um doutoramento de nada serve:
“You are only as good as the work you’ve done” (VEST, 2005: 133).
Se é verdade que cada pessoa vale pelo trabalho que mostra, também é verdade que
um portefólio, mais do que mostrar trabalhos já realizados, comprova competências e evidencia
potencialidades para a realização de outros trabalhos. Essa será, porventura, a mais-valia do
portefólio e é aqui, perante estas provas, que as entidades empregadoras decidem se vale ou
não a pena apostar numa determinada pessoa, sabendo que investir em alguém comporta
sempre uma margem de risco, por muito rigorosos e eficazes que sejam as metodologias e os
critérios de selecção utilizados.
O que difere o e-portefólio do portefólio tradicional não é só o factor distância. É mais do
que isso, é a possibilidade de estar realmente presente no domínio do virtual. É ser acessível a
qualquer hora e em qualquer lugar para seja quem for e pode bem ser a oportunidade de se
dar a conhecer em igualdade de circunstâncias com os/as melhores. Nos dias que correm, é
praticamente vital porque quem não está na Internet, não existe, virtualmente.
De facto, o portefólio tem origem nas artes, mas são precisamente as artes que maiores
desafios colocam ao design das plataformas para e-portefólios. Se, na grande maioria dos
casos, o que constará nos e-portefólios individuais e colectivos serão textos escritos ou
números (documentos em Word, tabelas em Excel ou pequenas e simples apresentações
gráficas em Powerpoint ou outro software), que ocupam relativamente pouco espaço de
memória, no campo das artes, serão imagens fixas e/ou em movimento, sons ou documentos
audiovisuais que, pela sua natureza, ocuparão muito mais espaço de memória. Por exemplo, o
domínio das artes visuais que, segundo o Relatório de Missão do Grupo de Trabalho de Artes
Visuais, compreende um espectro largo de competências: «as artes plásticas (pintura,
escultura, gravura), o design (industrial, moda, têxtil, cerâmico, interiores, equipamento, gráfico,
comunicação, multimédia, etc.), o audiovisual» cujo conceito não resulta do simples somatório
destas competências, assumindo, contudo, «um espaço próprio que resulta da sua interacção»
(AMORIM, 2004: 2). Sendo assim, podemos perceber a complexidade e variedade de
conteúdos num e-portefólio (profissional ou de âmbito pedagógico) de artes visuais e estruturar
espaços que permitam a sua amostra, no sentido de apresentação, demonstração, mostra,
revelação, mas também no sentido de uma pequena porção de algo ou alguém que se dá a
ver, a provar ou analisar, a fim de que a qualidade do todo possa ser avaliada ou julgada
(INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS DE LEXICOGRAFIA, 2002: 253).
Como professor de Laboratório Audiovisual: Fotografia Digital e Vídeo, na Escola Superior
de Educação de Santarém, desde o passado ano lectivo que tenho vindo a solicitar aos/às
estudantes do curso de Educação e Comunicação Multimédia e, desde este ano, também
139
aos/às estudantes do curso de Artes Plásticas e Multimédia, a realização de auto-retratos em
vídeo com a duração de um minuto. Pretende-se, com estes exercícios, que os/as estudantes:
• Desenvolvam uma metodologia de trabalho de projecto com base numa pedagogia activa e
da descoberta;
• Adquiram uma base informativa, formativa e analítica na área do vídeo;
• Realizem trabalho em vídeo.
Um trabalho em vídeo em que os/as estudantes se exponham, sabendo que quem se
expõe apenas expõe o que quer, não se tratando de uma traição, mas de uma composição
(MANCEAUX, 1986: 192) que se trabalha em função de uma série de variáveis tais como as
circunstâncias de realização, o domínio de determinadas competências técnicas, artísticas,
comunicativas verbais e visuais, afectivas, em detrimento de outras, recursos disponíveis,
potenciais destinatários (professor/a, determinadas entidades empregadoras visadas, etc.).
Um auto-retrato é, antes de uma projecção do sujeito em direcção a outrem, um exercício
de introspecção; uma tentativa de encontrar aspectos pessoais não perceptíveis através da
observação do bilhete de identidade e, possivelmente, não tão objectivos quanto os que este
mostra (nome, idade, filiação, nacionalidade, altura, cor dos olhos, etc.), mas eventualmente
também reveladores e identificadores da pessoa. Aspectos íntimos e, por isso, únicos e
irrepetíveis, aos quais não temos acesso de outra forma, porque se escondem debaixo da
superfície da pele e das aparências, lembrando-nos que, tal como a cobra, vamos mudando de
pele ao longo das nossas vidas.
Segundo Jean Baudrillard, a intimidade parece traçar uma esfera encantada, que seria a
do sujeito com os seus afectos, os seus pensamentos, o seu discurso interior, mas na
realidade, trata-se de um jogo de espelhos, de desdobramento e de cumplicidade apenas e
exclusivamente consigo próprio (1986: 13). Ainda segundo o mesmo autor, não devemos
confundir privado, enquanto aquilo que se esconde do colectivo, com íntimo, «mais subtil, mais
fino, um ambiente» (1986: 15). Para o designer Philippe Starck, não existem lugares íntimos,
mas apenas momentos de intimidade (1986: 132). Mas seja um espaço, um ambiente, um
momento ou qualquer outra coisa, a verdade é que a emergência de uma intimidade é tão
comum num auto-retrato que surpreende até aquelas pessoas que são tidas como as mais
próximas do/a autor/a e até as mais íntimas. Segundo os relatos de estudantes, é de facto
muito comum isto acontecer.
Da observação dos vídeos (oitenta e três, nos dois cursos, até ao momento), sobressaem
aspectos reveladores de identidades regionais marcantes, de comportamentos típicos de
determinadas idades e/ou de grupos sociais (por exemplo, estar no café com amigos/as ou
dançar na discoteca), etc., e também outros aspectos porventura mais reveladores de
características pessoais muito próprias, relacionadas com desejos/vontades, com a exibição de
namorados/as, amigos/as ou familiares (porventura nem sempre íntimos), com o corpo, sendo
140
este um aspecto comum aos oitenta e três auto-retratos realizados: todos exibem o corpo como
marca de individualidade. Mesmo no único caso até agora, de N’Zinga Fernandes, do curso de
ECM, em que apenas se vêem as mãos da autora, em que somos conduzidos através da
câmara subjectiva (a câmara toma o lugar do/a protagonista e mostra o que os seus olhos
vêem, seja a televisão, o computador, a sala de aulas e os/as colegas, a loiça que se lava ou o
cobertor que se destapa), o corpo está presente.
Se muitas vezes se verificam ocorrências de aspectos mais ou menos vulgares e
reveladores de estilo ou de talento como imagens dos/as melhores amigos/as, de familiares
mais próximos, de animais de estimação ou imagens da região de origem ou de residência,
também é comum (22 ocorrências) o auto-retrato começar com planos inteiros da pessoa que
se retrata, grandes planos do rosto, ou apenas do olhar – aproximações à intimidade através
do próprio corpo, ou (5 ocorrências) começar com imagens do quarto ou de outra divisão do
local de habitação – aproximações à intimidade através do espaço que se considera mais
privado, ou (28 ocorrências) começar com fotos que criam um espaço-tempo biográfico, desde
a infância até ao momento actual.
Por vezes (8 ocorrências), ambientes/cenários visuais são intencionalmente criados para o
vídeo. Em todos os auto-retratos, a banda sonora, além de gerar ambiências, reflecte
preferências musicais.
Em alguns casos, evidenciam-se no auto-retrato as motivações que levaram o/a estudante
a escolher o curso em que está, através da presença de manifestações artísticas próprias –
pinturas, objectos desenhados e construídos pelo/a próprio/a, etc. (4 ocorrências no curso de
APM, num total de 16 estudantes), ou através da importância atribuída aos computadores,
vídeo games, televisores ou outros objectos relacionados com o curso (8 ocorrências). Refira-
se ainda que, do curso de APM, duas estudantes partilham connosco a intimidade do acto
criativo e mostram-se a pintar.
Em todos os casos, é evidente a procura de formas de expressão de
pensamentos/emoções reveladores de personalidades artisticamente ricas. E são sempre
provas de criatividade que resultam em demonstrações de talento visíveis nos
enquadramentos, na opção por determinados tipos de registo e assuntos, no ritmo acertado,
em intencionais dominâncias cromáticas e em muitos outros aspectos. Se o portefólio é um
currículo visual, o auto-retrato em vídeo faz parte integrante do e-portefólio como uma
assinatura em imagens e sons de uma identidade que não se define apenas pelos saberes e
aprendizagens, mas por aquilo que se decide revelar de mais íntimo e pela forma como se
constrói e revela. Trata-se de uma experiência pedagógica que, por ser um desafio
extremamente significante e significativo para os/as estudantes, se torna fonte de prazer e de
sério envolvimento e comprometimento num processo de aprendizagem.
141
E, como penso que as melhores provas do que acabo de afirmar são os auto-retratos dos/das
estudantes das disciplinas que lecciono, passo a mostrar-vos, com o mínimo de comentários
extra, uma pequena selecção, naturalmente redutora, mas que espero que possa também ser
reveladora. Por limite de tempo para a apresentação da comunicação, apenas escolhi um
exemplo de cada curso, um de um rapaz (Anselmo Godinho) e outro de uma rapariga (Telma
Gavetanho):
1 – Anselmo Godinho, estudante de ECM realizou uma peça meio urbana / meio rural,
encenada em ritmo acelerado e tecnicamente muito boa, em que se revela o espírito de
pertença a um grupo (os escuteiros) e a um lugar (Vila Franca de Xira), a vocação para a
comunicação multimédia, a preferência pela cozinha chinesa, e a tendência para dormir com
óculos…
21.3 Referências
• Amorim, José Bayolo Pacheco de et al - Relatório de Missão do Grupo de Trabalho de
Artes Visuais. [Em linha]. CCISP, 2004 [Consult. 29 Mar. 2006]. Disponível em
www.ccisp.pt/Bolonha/Relatorio_grupo_trabalho_Artes_Visuais.doc
• Starck, Philippe – Une Vibration Immatérielle. L’Intime. Paris. ISSN 0751-0144. ISBN 2-
86260-168-3. n.º 81 (1986), pp. 132-133.
142
22 O Portefólio digital na formação de professores. Um estudo
comparativo
22.1 Resumo
O estudo comparativo aqui apresentado insere-se no âmbito das actividades do projecto
DigiFolio – O Portefólio Digital como Estratégia de Desenvolvimento Profissional de
Professores, um projecto Comenius 2.1 em que participam instituições de 5 países europeus
(Bélgica, Finlândia, Holanda, Portugal e República Checa). Embora o objectivo central deste
tipo de projectos seja a elaboração e realização de um curso de formação de professores,
diferentes actividades foram previstas de forma a fornecerem os “inputs” necessários ao
desenvolvimento do referido curso. Nesta medida e com base no trabalho de análise da
situação sobre o uso de portefólios e de portefólios electrónicos em contexto educativo em
cada um dos países envolvidos, foi possível realizar a síntese comparativa que aqui
apresentamos e que, de acordo com os objectivos previamente definidos, nos permite
conhecer com mais detalhe, o que a este nível se passa no conjunto dos países que integram o
projecto.
22.2 Introdução
O portefólio tem sido defendido como uma estratégia que favorece o desenvolvimento
profissional do professor (Barrett, 2000; Zeichner e Wray, 2001), permitindo evidenciar o seu
crescimento ao longo do tempo e, sobretudo, estimular o pensamento crítico sobre a prática
143
educativa, tanto no que se refere às estritas competências de ensino num dado conteúdo,
como no que diz respeito à reflexão sobre a dimensão política e ética da actividade do
professor. Alguns autores têm também mostrado que o uso do portefólio pelo professor apoia a
tomada de consciência das crenças e dos pressupostos pedagógicos que subjazem à sua
prática, consolida o conhecimento sobre a profissão e os seus condicionalismos políticos e
institucionais, promove a articulação entre a teoria e a prática, reforça o reconhecimento do
papel do aluno na aprendizagem, contribui de forma significativa para o desenvolvimento das
competências ligadas à reflexividade, à recolha e selecção de informação, bem como à sua
comunicação, desenvolve mecanismos de auto avaliação e facilita práticas colaborativas e de
troca de experiências entre pares (Anderson e DeMeulle, 1998; Barrett, 2000; Darling
Hammond e Snyder, 2000; Harland, 2005; Kplan, 1998; Zidon, 1996).
O portefólio electrónico veio acrescentar alguns outros benefícios, entre os quais Barrett
(2000) salienta a aquisição e desenvolvimento de competências na área da tecnologia
multimédia e o efeito isomórfico e multiplicador que pode ter sobre os alunos: o professor usa o
portefólio electrónico, os alunos tendem a usá-lo também.
Tomando como base os relatórios realizados em cada um dos países que integram o
projecto DigiFolio, especialmente no que concerne às questões relacionadas com o uso das
tecnologias, apresentamos aqui os resultados da análise em torno de quatro aspectos centrais
no que se refere à viabilidade da proposta de uso de portefólios digitais em contexto educativo:
1. O grau de acesso às TIC em geral, com o objectivo de se perceber o estado de
generalização dos computadores na sociedade e do acesso à Internet pela população em
geral; 2. As medidas políticas na área das TIC em Educação, caracterizando a situação do
ponto de vista macro e fazendo referência nomeadamente ao "clima" mais ou menos favorável
para o seu uso em contexto educativo; 3. O uso das TIC em Educação, visando compreender,
globalmente, o 3 grau de penetração e uso efectivo dos computadores na escola, com
referência, sempre que possível, a dados concretos constantes dos respectivos relatórios
nacionais; 4. O uso de portefólios digitais para fins educativos, tentando caracterizar
sumariamente, com base nos exemplos descritos, os contextos em que já existe experiência de
utilização nos diferentes países.
Apresentam-se de seguida as principais conclusões preliminares sobre cada um dos
aspectos anteriormente referidos. Aspectos que constituíram também, naturalmente, os eixos
de uma metodologia de trabalho comum aos diferentes relatórios nacionais. Procurámos tomar
em consideração não apenas os aspectos em que é evidente (ou está implícita) a semelhança
entre os países considerados, mas também as particularidades e especificidades evidenciadas
como elementos diferenciadores. A ideia é que estas especificidades possam contribuir para
uma maior riqueza da caracterização da situação e possam ajudar efectivamente, atribuindo-
lhe uma dimensão europeia, na estruturação do curso de formação de professores sobre
portefólios digitais a desenvolver no seio do projecto.
144
22.3 Acesso às TIC em geral
Embora nem todos os relatórios nacionais se refiram a elementos concretos sobre a
realidade no que se refere às taxas de penetração dos computadores na sociedade, as
diferentes estatísticas europeias permitem afirmar que o acesso às TIC tem vindo a crescer nos
últimos anos, generalizando-se cada vez mais o seu uso quer para fins profissionais, quer
mesmo para uso pessoal e familiar.
Apesar de haver algumas diferenças, talvez pouco significativas tendo em vista o
objectivo específico de desenvolvimento de um curso de formação de professores, parece ser
essa a situação também no conjunto restrito dos países que integram o Projecto DigiFolio.
Pode pois dizer-se que a redução dos custos com a aquisição de computador e a progressiva
generalização da Internet permitirá cada vez melhores condições para a sua utilização pelo
comum dos cidadãos, apesar de alguns sectores da sociedade se poderem questionar as
mais-valias das TIC, não apenas em termos de aprendizagem, mas também no que se refere à
participação social e ao reforço da coesão social.
É o caso referido no relatório da Bélgica (Flandres), por exemplo, onde se refere a
introdução do voto electrónico, o uso cada vez maior do correio electrónico e os serviços
públicos electrónicos como formas de participação social.
De forma explícita, o relatório da Finlândia apresenta valores bastante elevados em
diferentes indicadores normalmente utilizados na caracterização do grau de "desenvolvimento
tecnológico" dos países e da chamada "sociedade da informação". O uso da Internet pelos
mais jovens é, aliás, um dos indicadores que merece atenção particular no caso finlandês uma
vez que estudos recentes mostram que "almost 80% of the children fewer ten years of age use
the Internet at home and the usage begins often before pre-school".
Em jeito de síntese e muito embora sejam naturais algumas diferenças substanciais no
acesso e uso das tecnologias entre os diferentes países aqui considerados, talvez possamos
concluir que, em termos macros, a situação actual parece ser francamente favorável à
experimentação e exploração do uso de portefólios digitais em contexto de desenvolvimento
profissional, como é o caso presente, de desenvolvimento profissional dos professores.
145
Nesse sentido e uma vez que quatro dos cinco países (a excepção é a República
Checa), fazem parte integrante da União Europeia desde que essas medidas começaram a ser
implementadas, há cerca de uma década, seria de esperar também em todos eles um "clima"
propício à utilização das TIC em contexto educativo, traduzido em medidas políticas concretas,
independentemente do seu teor e das especificidades em termos de liderança e mecanismos
de gestão.
Foi o que procurámos captar, numa primeira aproximação aos relatórios nacionais,
tentando verificar a existência de projectos nacionais ou outras medidas políticas que, de uma
forma explícita, contribuam para criar condições favoráveis ao uso das tecnologias digitais nas
escolas, nomeadamente por professores e alunos.
Tentámos também caracterizar sumariamente essas medidas, situando-as
nomeadamente em termos do tipo de iniciativa e liderança sugerido (“bottom-up” ou “top-
down”) que é, para alguns, um factor diferenciador crítico em termos da eficácia com que os
países conseguem resultados efectivos no uso dos computadores para fins educativos (MESO,
1998).
Com base nestes eixos de análise podemos dizer em síntese que, de uma maneira ou
de outra, todos os países parceiros têm em curso iniciativas de âmbito nacional visando
incentivar e promover a generalização do uso dos computadores nas escolas. Não nos
referiremos em concreto ao conjunto das medidas de cada um dos países, uma vez que elas
são referidas de forma pormenorizada nos respectivos relatórios.
Os incentivos assumem concretizações muito diversos, que vão da aquisição de
computadores à divulgação de “boas-práticas”, passando por acções de sensibilização e
formação dos professores, diferindo sobretudo, em função do estádio de desenvolvimento em
que cada um dos países e respectivos sistemas educativos se encontram actualmente.
Sendo um aspecto central destas medidas na maior parte dos países, e porque está
directamente relacionada com o foco do Projecto DigiFolio (desenvolvimento de um curso de
formação), parece-nos pertinente destacar aqui a formação de professores para a utilização
pedagógica das TIC. Este é aliás um aspecto que merece particular atenção no caso finlandês,
pelo grau de sistematização e abrangência que já atingiu (o uso das TIC no ensino é já uma
das prioridades na formação de professores) e pelo que o modelo utilizado poderá funcionar
como exemplo para outros países europeus.
Em termos concretos, na Finlândia é esperado que todos os professores frequentem um
programa de formação específico com três níveis: nível 1, para aquisição de competências
básicas de uso das principais ferramentas; nível 2, centrado na aquisição das competências
pedagógicas necessárias ao uso dessas ferramentas para fins educativos, esperando-se que
os professores desempenhem um papel determinante não apenas na monitorização das
implicações do uso das TIC na aprendizagem, mas também, em temos mais globais, ao nível
do próprio desenvolvimento da sociedade; nível 3, para aquisição e desenvolvimento de
146
competências mais avançadas seja no uso dos computadores, seja na criação de materiais, ou
na orientação de outros professores, no desenvolvimento da colaboração entre instituições,
etc.
O caso finlandês costuma ser dado, aliás, como exemplo de uma das sociedades mais
desenvolvidas (Castells, 2001, 2002), em muito devido ao seu elevado grau de
desenvolvimento tecnológico e ao qual não poderá ser estranha a importância atribuída às TIC
e ao seu papel determinante no desenvolvimento do próprio sistema educativo, como é referido
no respectivo relatório nacional. Aí se podem encaixar também outras componentes concretas
como é o caso da valorização do conhecimento pedagógico resultante do ensino através da
Internet, cada vez mais estimulado ("appropriate use of ICT in learning and teaching is
expected to become part of everyday school life by 2007"), a obrigação das instituições
educativas em promoverem a interacção e aprendizagem virtual, o fomento da aquisição de
competências básicas de pesquisa de informação, por parte dos alunos, para tirarem partido da
sociedade de informação, ou o incremento à produção de materiais e conteúdo digital
específico para o ensino e a aprendizagem, para só citarmos alguns.
É o que acontece no caso da República Checa ou de Portugal em que é fomentada a
criação de projectos a nível regional e nacional (ou mesmo europeu), embora continuando a
administração central a assumir um papel importante em termos de regulação do processo, por
exemplo através da definição dos tópicos a privilegiar em cada ano. É também o caso da
Finlândia, em que municípios e escolas são directamente estimulados para desenvolvimento
de estratégias específicas de uso das TIC nas práticas escolares, embora isso, na prática,
como se pode ler no relatório nacional, não tenha conduzido ainda aos resultados que seriam
de esperar, pelo menos em termos do envolvimento dos líderes das escolas. Este tipo de
conclusões preliminares remete-nos, aliás, para a necessidade de considerar um aspecto ao
qual nem sempre é dada a devida atenção, ou seja, a discrepância entre os enunciados
políticos e os resultados concretos. É o que tentaremos compreender no ponto seguinte.
147
Na prática, o uso dos computadores para fins educativos dependerá, em primeiro lugar,
dos investimentos feitos e dos recursos disponíveis. Cálculo que ao nível dos sistemas
educativos se faz normalmente com base análise da disponibilidade e facilidade de acesso aos
equipamentos e que resulta em medidas expressas habitualmente apenas por valores
quantitativos, como por exemplo a rácio de alunos por computador, ficando de fora análises
mais detalhadas e de natureza qualitativa, por exemplo sobre o tipo de trabalho que é
efectivamente desenvolvido por professores e alunos.
O uso dos computadores na escola dependerá também, de forma muito sensível, do
modo como em cada sistema educativo se encararam as tecnologias, quais os objectivos
visados com a sua integração nas actividades escolares, que papel efectivo se espera que
desempenhem na preparação dos jovens, e de que maneira (e quando) são introduzidas nos
respectivos planos de estudos. Embora nem sempre seja fácil fazer esta caracterização de
uma forma objectiva, sobretudo por falta de opções claramente assumidas ao nível das
políticas educativas (nível macro), é interessante verificar o que a esse respeito pode ser
inferido a partir dos diferentes relatórios nacionais.
O uso das TIC em Educação depende também, de uma forma muito directa, da
preparação efectiva que os professores têm (ou não têm) para a sua inserção nas actividades
escolares. Daí parecer-nos importante considerar esse aspecto em particular, procurando
perceber que formação específica foi/é proporcionada aos professores para orientar e suportar,
do ponto de vista pedagógico e didáctico, a inserção dos computadores nas suas práticas
lectivas. Tentaremos verificar, com base nos relatórios nacionais, como é que essa questão é
considerada e como é que os diferentes países entendem o papel do professor no processo de
inovação e mudança em direcção à sociedade da informação.
Comecemos por observar, em particular, o que, sobre o uso das TIC em contexto
educativo, é referido nos relatórios, para compreendermos o actual estado das coisas, pelo
menos do ponto de vista dos colegas que os redigiram, para depois tentarmos esboçar
principais pontos de convergência e eventuais contrastes.
Relativamente à existência de recursos e ao acesso aos computadores, estamos em
crer que a situação será bastante diversa uma vez que estamos reconhecidamente na
presença de países com diferentes graus de desenvolvimento económico, apesar de não ser
possível uma comparação com base no mesmo tipo de dados e fontes.
O acesso às TIC nas escolas finlandesas é, de acordo com o relatório nacional, “de nível
razoavelmente elevado”, justificando-se o patamar alcançado sobretudo devido aos grandes
investimentos feitos na última década, tendo proporcionado “infra-estruturas técnicas
avançadas, ligações em rede com qualidade, ligações à Internet rápidas na maioria das
escolas”. A Finlândia afigura-se-nos ser, aliás, o país com índices mais elevados de entre o
conjunto dos parceiros do projecto, também em termos da disponibilização de “condições
técnicas” que são, como facilmente se reconhecerá, um requisito de importância capital,
148
embora não possamos dizer que boas condições técnicas garantam por si próprias maiores
taxas de uso das tecnologias, como teremos oportunidade de observar mais à frente
precisamente em relação ao caso finlandês.
No caso da Bélgica flamenga, o relatório nacional diz-nos algo semelhante, referindo
expressamente que as políticas de incentivo ao uso dos computadores tornaram possível que
todas as escolas (primárias e secundárias) tenham adquirido recursos actualizados e que se
espera que os alunos “must learn as quickly and as efficiently as possible to use a computer".
No caso da Holanda, embora também se não refiram valores concretos sobre o uso das
TIC na escola, é referida a adopção de estratégias que envolvem já o uso das potencialidades
das tecnologias como elemento central de muitas instituições educativas. É também o caso da
República Checa onde o aspecto mais significativo seja o facto de se referir mais ou menos
explicitamente resistência por parte de algumas escolas ("some schools are very active in
accepting new ways of education process; many schools still look for their way").
A este propósito, seria aliás importante perceber quais são as principais razões que, em
cada um dos países, os professores e as escolas alegam para essa resistência. Um dos
factores que na literatura costuma ser referido é de natureza atitudinal e tem a ver com o facto
de muitos professores não estarem ainda convencidos sobre os potenciais benefícios da
utilização das tecnologias na aprendizagem (Williams et al., 1999).
Para o desenvolvimento do projecto DigiFolio, e por nos parecer paradigmático de uma
certa contradição17, pelo menos aparente, sugerimos a observação mais pormenorizada dos
resultados de um estudo efectuado recentemente na Finlândia e referido no respectivo relatório
nacional (Franssila & Pehkonen, 2005).
Aí se refere que “o fraco uso [dos computadores] é parcialmente atribuído ao que os
professores pensam sobre os benefícios das tecnologias do ponto de vista educativo”, pelo
menos quando se trata de perceber porque é que, apesar de terem boas condições tanto nas
escolas como em casa (a maior parte tem computador em casa - 91% - com e ligação à
Internet - 82%), o seu uso dentro da sala de aulas fica muito aquém das expectativas. De facto,
apesar da disponibilidade de equipamento e de atitudes positivas (as atitudes face ao trabalho
com as TIC na escola são maioritariamente positivas - 43% -, ou neutras - 40%), “as TIC não
são uma ferramenta usada diariamente na sala de aulas”. Os valores observados acontecem,
por outro lado, independentemente dos conteúdos ensinados e, curiosamente, diminuem à
medida que se sobe de nível de ensino (73% dos professores do primário (nível 1-6) usa o
computador na aula com os alunos pelo menos uma vez por mês, 30% no primário superior (7-
9) e apenas 15% no secundário.
17
Parece-nos haver uma certa contradição porque, apesar da Finlândia ser o país como maior índice de
desenvolvimento económico, social e tecnológico, de ter as melhores condições técnicas ao nível das infra-estruturas e
de equipamento na Educação, ainda assim os poucos estudos existentes mostram que os professores ainda estão
muito longe de incluírem nas suas rotinas de trabalho diárias, em classe, os computadores e fazerem uso das
potencialidades das tecnologias para apoiar a aprendizagem.
149
Curiosamente, também as justificações dos professores finlandeses inquiridos se situam
nas dificuldades de acesso, horários das aulas e tempo necessário para trabalhar com as TIC.
A falta de computadores nas salas de aulas é, a par da falta de apoio técnico flexível, o
principal argumento dos professores (80%).
Por outras palavras, o que parece ser significativo no caso dos professores finlandeses é
uma convicção que temos vindo a construir de que não basta estarem reunidas as condições
de trabalho, do ponto de vista técnico, para que os professores reconheçam o potencial das
TIC e se predisponham a alterar as suas práticas, incluindo o computador nas suas rotinas
diárias em sala de aulas, propondo tarefas significativas aos seus alunos para aprendizagem
com as tecnologias hoje disponíveis.
Do estudo finlandês citado, sublinhamos a ideia da importância que pode assumir uma
visão clara sobre as potencialidades das tecnologias para a aprendizagem que muitos
professores ainda não possuem, sobretudo sobre o modo como elas podem ser usadas em
contexto concreto de sala de aulas. Tal como aí é referido, “os professores não têm uma visão
clara do que podem ser práticas pedagógicas significativas baseadas nas TIC”, podendo isso
constituir um dos principais entraves ao objectivo de generalização das TIC na escola, que
todos os países, em termos retóricos, dizem ambicionar18.
Como contributo para a necessária clarificação que importa fazer sobre o potencial das
tecnologias para a aprendizagem, nomeadamente as que se situam ao nível das competências
transversais que, como se sabe, assumem hoje a centralidade em termos europeus, é
particularmente interessante destacar a distinção que é feita, no relatório belga, entre três
diferentes modos de equacionar o papel das TIC em Educação: aprender acerca das TIC;
aprender com as TIC; e aprender a partir das TIC. Uma distinção proposta por alguns autores
preocupados sobretudo com o valor intrínseco das tecnologias enquanto ferramentas
cognitivas, ou seja ferramentas de apoio ao pensamento (Jonassen, 1996, 2000).
Embora naquele país se defenda que “aprender acerca dos computadores” é condição
para que se tire partido, depois, das potencialidades das TIC em termos de aprendizagem,
também parece clara a ideia de que a melhor forma de desenvolver as competências básicas
em tecnologias é fazê-lo de forma transversal (“cross-curricularly”) e integrada nas diferentes
áreas de estudo. Na linha, aliás, como se referiu anteriormente, do que são as orientações
mais actuais, a nível europeu, tal como consta do documento Key competences in the
knowledge based society – A framework of eight key competences (Comission, 2004).
Para concluir este ponto, uma palavra para a formação de professores e o papel
atribuído aos professores que, de uma maneira ou de outra, é reconhecido, nos diferentes
relatórios, como sendo determinante para o sucesso da integração das TIC na escola. Tal
18
Como se afirma numa passagem do estudo finlandês referido, “Due to lack of time and the new objectives of ICT
integration set by the educational authorities, teachers express hopes of getting hands-on models, recipes and hints on
how to apply ICT in particular subjects. In practice, teachers rely most often on collegial support, but they also wish that
there were a full-time ICT- assistant to facilitate them not only in technical but also in pedagogical issues” (pp.26).
150
como é sugerido pelo relatório Belga, há, no entanto, ainda um longo caminho a fazer. Uma
vez que, embora seja normalmente esperado que os professores "give the right place in their
activities", e se reconheça que isso possa trazer mais participação dos alunos no processo de
ensino e aprendizagem, a situação ainda é um pouco "forçada" dada a falta de preparação
específica dos professores nesse domínio. Professores que são, na maior parte das vezes,
suplantados pelos próprios alunos na utilização efectiva das novas tecnologias, por exemplo,
para comunicação, como é o caso do Messenger ou outros programas de conversação e
colaboração através da Internet, mas que poderão aproveitar essa mesma situação para
aprender com os seus alunos e assim darem um passo significativo, com o contributo das
tecnologias, na construção de uma nova relação entre quem ensina e quem aprende.
151
ter em conta, como por exemplo as competências necessárias à partida para utilização das
TIC, as mudanças ao nível das infra-estruturas das instituições, ou o facto de as questões
técnicas poderem criar, por si só, resistências por parte de professores e alunos, são também
referidos nesse relatório.
O seu uso em situações concretas parece ocorrer independentemente do nível de
ensino, embora sejam sobretudo referidos, no conjunto dos relatórios, as Universidades e a
Formação de Professores como os principais contextos e objectivos de utilização. Uma
universidade holandesa sublinha mesmo o facto de ser a primeira instituição a usar, de forma
integrada, os portefólios digitais, esperando as restantes universidades holandeses,
responsáveis pela formação de professores, que essa meta seja atingida “nos próximos 5
anos”. No caso de Portugal e da Finlândia são também referidos alguns exemplos de utilização
a nível universitário, referindo-se neste último caso, em particular, o projecto da Universidade
de Jyväskyla com resultados publicados recentemente.
Apesar da formação de professores ser, como se disse, uma área privilegiada para a
utilização e reflexão sobre os portefólios digitais, nem sempre isso é feito com a profundidade
que seria de esperar, como se pode inferir de uma passagem do relatório finlandês em que se
afirma que "the core curriculum… contains only a few introductory modules/courses related to
educational use of technologies".
Em termos de ferramentas usadas na elaboração dos portefólios digitais, parece haver
duas situações diferenciadas que importa reter: por um lado, o uso de soluções específicas,
ainda que conectadas com outras aplicações, tal como é referido no relatório holandês; por
outro lado, o uso de tecnologias abertas e gratuitas, como é o caso dos “Weblogs”, ou das
próprias “ferramentas de produtividade” como o processador de texto, por exemplo.
152
“desenvolvimento curricular” e, em particular, a “avaliação”, de forma a que a estratégia de
utilização de portefólios resulte de uma decisão consciente de cada professor, uma decisão
fundamentada nos benefícios que daí poderão resultar e decorrente de uma auto-análise sobre
as suas concepções pedagógicas, as suas práticas efectivas, enfim, o “modelo de ensino” em
que cada professor se inscreve; c) uma preparação com enfoque também na tomada de
consciência do que implica a utilização do portefólio nomeadamente em termos de mudança de
atitude face à avaliação e das competências necessárias à sua implementação; d) uma
preparação que discuta os novos papéis do professor numa sociedade em constante mudança,
que exige uma nova perspectiva sobre o que é aprender e o domínio de competências
específicas de gestão dos processos de autoaprendizagem e de formação ao longo da vida; e)
uma preparação que, numa lógica de isomorfismo, seja capaz de induzir uma nova cultura de
aprendizagem, em que os alunos são agentes activos e com autonomia crescente na tomada
de decisão sobre o que aprender, como aprender e quando aprender; f) uma preparação que
tenha, pois, os alunos e as suas competências reflexivas sobre o que se está a aprender e
“como” se está a aprender, como referentes últimos do seu “empowerment” enquanto aluno
mas, sobretudo, enquanto cidadão, esclarecido, crítico e autónomo.
22.9 Referências
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155
23 O Teaching Portfolio como Estratégia de Desenvolvimento e
Avaliação dos Docentes
23.1 Resumo
Com base num estudo exploratório realizado no Departamento de Sistemas de
Informação da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, procurou-se discutir e analisar
as principais práticas de avaliação do desempenho docente existentes ao nível do Ensino
Superior, verificando a sensibilidade dos docentes deste departamento para esta temática.
Os resultados obtidos revelaram que, para se avaliar a qualidade do desempenho de um
professor, é necessário recorrer a múltiplas fontes de informação, de modo a permitir
“comprovar” a qualidade do seu desempenho pedagógico, de uma forma adequada e
contextualizada.
Neste sentido, concluiu-se que a prática de avaliação que melhor cumpre este objectivo é
o Teaching Portfolio, o qual consiste numa compilação das actividades mais relevantes de um
docente e dos seus pontos fortes na área de ensino (Seldim, 2004). O Teaching Portfolio surge
como um instrumento capaz de conciliar as várias dimensões inerentes ao processo de
avaliação e à complexidade que caracteriza o trabalho docente, contribuindo decisivamente
para o aperfeiçoamento profissional dos docentes, numa perspectiva de formação e
aprendizagem ao longo da vida.
156
verificando a sensibilidade dos docentes deste departamento para esta temática (Fernandes,
2005).
Os dados foram recolhidos através de um questionário, com questões abertas e
fechadas, junto de trinta docentes do DSI.
Os resultados obtidos revelaram que, para se avaliar a qualidade do desempenho de um
professor, é necessário recorrer a múltiplas fontes de informação, de modo a permitir
“comprovar” a qualidade do seu desempenho pedagógico, de uma forma adequada e
contextualizada.
Com base nas respostas fornecidas pelos docentes, verificou-se que a principal
finalidade da avaliação do trabalho docente no departamento seria a de melhorar a qualidade
do ensino e aperfeiçoar o funcionamento dos cursos e para isso, importava avaliar sobretudo a
qualidade das aulas, o esforço do docente e a planificação da disciplina. Deste modo, concluiu-
se que não poderia haver um único método de avaliação para contemplar todas estas
dimensões do trabalho docente, e que permitisse comprovar, de uma forma global, a qualidade
do seu desempenho enquanto docente.
Considera-se que, para além da opinião dos alunos, existem outras fontes de
informação que desempenham um papel preponderante no processo de avaliação e que
poderão produzir informações úteis a partir da realidade do contexto. A voz de outros actores e
intervenientes no processo de ensino-aprendizagem deverá ter também lugar neste processo,
de modo a permitir contemplar as várias faces inerentes ao desempenho do trabalho docente.
De facto, apesar de sabermos que um questionário aos alunos constitui uma técnica de
avaliação considerada válida ao nível da informação que produz, este instrumento, por si só,
não tem conseguido resultados satisfatórios no que concerne à melhoria da qualidade do
ensino. Estudos revelam que «Alone, the questionnaire data do not seem to motivate teachers
to change. Instead, change is more likely to occur if teachers discuss their evaluations with a
sympathetic and knowledgeable colleague or teaching consultant.» 19
Deste modo, é essencial que, na abordagem feita à avaliação do desempenho do
trabalho docente, sejam consideradas várias perspectivas e várias vozes no processo de
avaliação, dada a complexidade e diversidade que caracterizam o trabalho docente. Portanto, a
avaliação do trabalho docente não pode resumir-se a um único método de avaliação, pelo
contrário, deverá ter por base um instrumento que permita contemplar as várias dimensões e
perspectivas que estão em jogo na sua actividade como docente.
Neste sentido, concluiu-se que a prática de avaliação que melhor cumpre este objectivo é
precisamente o Teaching Portfolio. Este consiste numa compilação das actividades mais
relevantes de um docente e dos seus pontos fortes na área de ensino (Seldim, 2004). De facto,
«teaching is a complex social activity dependent on strong disciplinary knowledge as well as a
19
“Teaching at Stanford”. The Centre for Teaching and Learning, Stanford University.
157
range of pedagogical understandings and skills. A single measure of teaching is just that – a
single measure. The teaching portfolio incorporates multiple perspectives and voices: teacher,
students, and colleagues or peers. The Portfolio also provides a view of teaching over time,
emphasizing a developmental approach to teaching practice.» 20
O Teaching Portfolio surge como um instrumento capaz de conciliar as várias dimensões
inerentes ao processo de avaliação e à complexidade que caracteriza o trabalho docente,
contribuindo decisivamente para o aperfeiçoamento profissional dos docentes, numa
perspectiva de formação e aprendizagem ao longo da vida.
Esta prática de avaliação tem sido cada vez mais utilizada por diversas universidades
nos Estado Unidos no sentido de atender a estas necessidades. Segundo McKeachie
(1999:285), o Teaching Portfolio «can help improve teaching as well as judge teaching
effectiveness. (…) the portfolio brings together materials that would not otherwise be
assembled. Reflecting on that information, the teacher can check the consistency between
stated learning objectives and the actual activities of teaching and learning, and can consider
whether there is convincing evidence that students are learning what was intended. Any
discrepancies indicate areas for investigation and possible improvement».
À semelhança de outros profissionais, como os arquitectos, fotógrafos e artistas, o
professor tem a oportunidade de reunir, no seu portefólio, os trabalhos que considera de maior
relevância no sentido de demonstrar a qualidade do seu desempenho pedagógico. Contudo,
deve ressaltar-se que o portefólio não constitui uma colecção exaustiva de todos os
documentos e materiais relacionados com o ensino. Pelo contrário, «It presents selected
information on teaching activities and solid evidence of their effectiveness. Just as statements in
a curriculum vitae should be supported by convincing evidence, so claims in the teaching
portfolio should be supported by firm empirical evidence» (Seldim, 2004:3).
Um dos benefícios mais significativos da elaboração do portefólio, por parte dos
professores, é o exercício de auto-reflexão que é gerado em torno do seu ensino. Todo este
processo poderá conduzir ao questionamento das práticas de ensino, habitualmente
indiscutíveis, e gerar uma maior consciencialização na opção por determinados pressupostos
de ensino, contribuindo para o desenvolvimento profissional dos docentes e melhorando a
qualidade do processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, o desempenho dos
professores e alunos.
Seldim (2004) apresenta algumas questões pertinentes que emergem durante este
processo de auto-reflexão sobre o seu trabalho:
¾ Qual é o meu ponto forte enquanto professor?
¾ Qual é o aspecto que eu mais gostaria de mudar relativamente à forma como eu
ensino? Já tomei alguma atitude no sentido de melhorar nessa área?
20
Bronwyn Adam, Center for Support of Teaching and Learning at Syracuse University, 2002-2003. Disponível em:
http://cstl.syr.edu/cstl2/Home/Teaching%20Support/Resources/Teaching%20Professional%20Portfolio/167000.htm
158
¾ Qual foi a minha maior conquista na área do ensino?
¾ Nos últimos anos, que novas estratégias de ensino-aprendizagem tenho
adoptado?
¾ O que é que eu aprendi das estratégias que foram bem sucedidas? E das que
não correram tão bem?
¾ O que é que o meu plano da disciplina diz relativamente ao meu estilo de
ensino?
¾ Como é que eu consigo manter motivados os alunos brilhantes? Como é que eu
incentivo aqueles que estão com dificuldades?
¾ Qual é o tipo de relação que eu estabeleço com os alunos?
¾ Qual é a minha percepção/visão sobre o processo de ensino-aprendizagem?
Tem mudado nos últimos anos? Em que aspectos?
159
¾ Iniciativas no sentido de avaliar e melhorar o seu desempenho, incluindo
mudanças resultantes da sua auto-avaliação ou de outros elementos que tenham
contribuído
160
¾ Declaração do director de departamento, avaliando o contributo do docente e do
seu ensino para o Departamento.
Estes são os itens seleccionados com maior frequência para incluir no portefólio.
Contudo, existem outros que também podem ser integrados. Muitos professores, por motivos
relacionados com a disciplina, o estilo de ensino, e outras questões académicas, podem
preferir organizar o seu portefólio de outra forma.
Deste modo, podemos concluir que é necessário criar e assegurar as condições
adequadas para o desenvolvimento profissional dos docentes e para o reconhecimento e
valorização do seu desempenho pedagógico, sendo o Teaching Portfolio considerado um meio
eficaz para potenciar o desenvolvimento e avaliação dos docentes no contexto do Ensino
Superior.
23.6 Referências
• FERNANDES, S. (2005). Relatório de Estágio: Promover a Qualidade do Ensino no
DSI - Estratégia para a Melhoria do Ensino-Aprendizagem e para a Avaliação do
Desempenho Docente. Braga: Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do
Minho.
• SELDIM, Peter. (1997) The Teaching Portfolio – A Practical Guide to Improved
Performance and Promotion/Tenure Decisions. Anker Publishing Company, Inc. Bolton,
Massachusetts. Second Edition.
• SELDIM, P. (2004). The Teaching Portfolio. A Practical Guide to Improved Performance
and Promotion/Tenure Decisions. Anker Publishing Company, Inc. Bolton,
Massachusetts. Third Edition.
161
24 Portfolio: ensinar, aprender e formar
24.1 Resumo
Partindo de uma experiência de sala de aula, este texto pretende dar conta de um
processo de compreensão das potencialidades, limitações e implicações do trabalho com o
Portfolio enquanto ferramenta pedagógica para alunos e professores.
O processo a que nos referimos teve o seu início no ano lectivo de 2000/2001 com um
estudo desenvolvido na disciplina de alemão, no âmbito de um trabalho para uma dissertação
de Mestrado21, assumindo a forma de investigação-acção, inscrita no paradigma
“experiencialismo crítico” que vê a realidade duma forma orgânica, buscando a sua
compreensão na interacção entre o todo e as partes (Alarcão, 2001). O trabalho realizado
com os alunos teve como objectivo desenvolver uma gestão personalizada do currículo,
que se consubstanciou na adequação e desenvolvimento do trabalho curricular aos
gostos, interesses e necessidades dos alunos, observando as directrizes do currículo
nacional previsto. Deste modo, implicaram-se os alunos duma forma pessoal e
personalizada na sua própria aprendizagem. O conhecimento das características
pessoais de cada aluno, ou seja, do seu eu-afectivo, e da integração de cada aluno no
grupo turma, orientaram e monitorizaram as estratégias desenvolvidas na sala de aula. A
abordagem pedagógico-didáctica centrada na utilização e construção do portfolio
constituiu um caminho facilitador de aprendizagens significativas, de descoberta e
construção de identidade pessoal, no sentido do desenvolvimento integral dos alunos.
Este processo de trabalho com o portfolio continuou nos anos lectivos
subsequentes e culminou num projecto de doutoramento22, decorrente da necessidade
21
Mestrado em Gestão Curricular concluído em 2002 na Universidade de Aveiro, com a dissertação intitulada Para
uma aprendizagem significativa: a gestão personalizada do currículo ou a gestão do eu-afectivo, sob a orientação
científica da Professora Doutora Isabel Alarcão.
22
Projecto em curso na Universidade de Aveiro sob orientação científica da Professora Doutora Ana Isabel Andrade,
intitulado O portfolio e a construção do currículo para uma educação em línguas: potencialidades e constrangimentos e
em contexto escolar português, desenvolvido por Maria de Lurdes Gonçalves, professora do quadro da Escola Sec/3
Dr.ª Maria Cândida - Mira, em situação de equiparação a bolseira, com apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia
- SFRH/BD/19837/2004, ao abrigo do programa POCI 2010.
162
de um trabalho no âmbito de uma consciencialização de práticas desenvolvidas,
articulando a sua pertinência, quer com a realidade do contexto escolar específico, quer
com pressupostos teóricos ligados ao campo da gestão curricular. O projecto, com o
objectivo inicial de sustentar cientificamente as práticas de implementação do portfolio
de um grupo de professores, configurou-se num projecto focalizado para o
desenvolvimento profissional.
Mas trabalhar com o Portfolio afigurou-se mais complexo do que usar uma simples
ferramenta (Klenowski, 2002; Kohonen, 2002, Sá-Chaves, 2000), levantando uma série de
questões relativas à metodologia e dinâmica de sala de aula que tocam aspectos do
desenvolvimento profissional e de reconstrução de práticas (Sanches & Jacinto, 2004). A esta
reconstrução subjaz um entendimento do currículo enquanto projecto (Zabalza, 1992; Roldão,
2003, 1999a, 1999b), articulado num todo coerente (Beane, 2000), ao qual o sujeito possa
atribuir significado de construção pessoal (Doll, 1993).
No âmbito deste projecto de investigação realizaram-se sessões de formação
audio-gravadas e, subsequente, observação e videogravação de aulas, depois
visionadas e comentadas. A partir de alguns resultados provisórios do impacto do
projecto sobre as professoras em formação, problematizaremos o modo como o trabalho
com o portfolio se entretece com o desenvolvimento profissional, identificando alguns
dos constrangimentos sentidos pelas professoras participantes num processo de
indagação de novas possibilidades educativas.
24.2 Referências
• Alarcão, I. (2001). Novas Tendências nos Paradigmas de Investigação em
Educação. Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. Alarcão, I. (org.) São
Paulo: Artmed Editora Lda.,135-144.
• Beane, A. J. (2000). O que é um Currículo coerente?. In Pacheco, J. A. (org.)
Políticas de Integração Curricular. Porto: Porto Editora. (39-58).
• Doll, W. E. (1993). A Post-Modern Perspective on Curriculum. New York:
Teachers College Press.
• Klenowski, V. (2002). Developing portfolios for learning and assessment.
London: Routledge Falmer.
• Kohonen, V. (2002). The European language portfolio: from portfolio
assessment to portfolio-oriented language learning. In Kohonen, V. &
163
Kaikkonen, P. (eds.). Quo vadis foreign language education? Tampere:
University of Tampere.
• Roldão, M. C. (2003). Gestão do Currículo e Avaliação de Competências – As
Questões dos Professores. Lisboa: Editorial Presença.
• Roldão, M. C. (1999a). Os Professores e a Gestão do Currículo – Perspectivas
e Práticas em Análise. Porto: Porto Editora.
• Roldão, M. C. (1999b). Currículo como Projecto. O Papel das Escolas e dos
Professores. in Marques, R.; Roldão, M. C. (orgs.) Reorganização e Gestão
Curricular no Ensino Básico. Reflexão Participada. Porto: Porto Editora. (11-
21).
164
25 Portfólios no ensino artístico – design e artes plásticas
• Paula Rodrigues
[email protected]
Escola Superior de Educação
Instituto Politécnico de Viseu
25.1 Introdução
Os estudantes do Ensino Básico e mesmo a maioria dos estudantes universitários
nasceram já depois dos anos 80, altura em que o uso de computadores pessoais se começou
a generalizar. Sabemos, por exemplo, que em 2002, 43% dos indivíduos com 15 e mais anos,
residentes em Portugal Continental, utilizavam o computador (Fonte: Bareme Marketeste).
Dados mais recentes relativos à utilização da Internet, indicam que de Janeiro a Março de
2006, 1 531 mil portugueses com mais de 4 anos utilizaram a Internet a partir de casa, o que
representa um aumento de 3,4% relativamente ao mesmo período do ano anterior. O tempo
despendido neste meio situou-se nas 29 horas e 33 minutos por utilizador, mais 6 horas e 11
minutos do que no trimestre homólogo (Fonte: Netpanel Marketeste).
Em suma, a população escolar usa o computador e a Internet durante várias horas por
dia, quer no âmbito das suas actividades lectivas, quer durante as horas de lazer. Não integrar
esta realidade no processo de ensino aprendizagem acentuaria a divisão cultural entre
gerações identificada por Negroponte (1996), distanciando os professores dos alunos e da
realidade envolvente.
Felizmente a Escola tem procurado uma aproximação, ainda que gradual e
diferenciada conforme o nível de ensino em causa, à nova realidade tecnológica. No que diz
respeito ao ensino artístico podemos dizer que os computadores impulsionaram novas
experiências pedagógicas sendo o portfolio electrónico uma das mais significativas.
Na perspectiva das artes visuais as novas tecnologias constituem-se quer como novo
médium quer como instrumento – ferramenta de finalização de esboços ao nível do Design, por
exemplo, ou novo suporte para o portfolio. Concentramo-nos aqui neste último aspecto
referindo primeiro o conceito e utilidade do portfolio no âmbito do ensino artístico e relatando de
seguida três experiências no terreno.
165
25.2 Portfólio no âmbito do ensino artístico
Um portfolio é uma forma de organizar, por tema ou outro princípio pré estabelecido,
um conjunto de trabalhos. Permite a partilha dos trabalhos (produto final), do processo de
concepção dos mesmos e a justificação de tomada de decisões; permite ainda a sua
contextualização no percurso do autor. “Os porta- fólios têm por isso, uma função
simultaneamente estruturante, organizadora da coerência e uma função reveladora,
desocultadora e estimulante nos processos de desenvolvimento pessoal e profissional
(Almeida e Tavares 1998, p.140)”
No âmbito do ensino artístico o portfolio é considerado uma ferramenta educativa que
promove a aprendizagem, pode demonstrar o desenvolvimento dos alunos ao nível da
aquisição de conhecimento, aptidão, atitude, auto reflexão e pensamento crítico; promove a
autonomia e fundamenta o processo de auto-avaliação; constitui uma plataforma de
comunicação entre estudantes, pais e professores; (Shei-chau Wang, 2005). É comummente
utilizado na selecção de alunos candidatos ao Ensino Superior Artístico e ainda como
instrumento de avaliação.
A utilização do portfolio como instrumento de avaliação na área das artes defendida por
Hernández (2000, p.163) fornece ao avaliador uma perspectiva holística do trabalho
desenvolvido pelo estudante impossível de alcançar quando este dispõe apenas de elementos
soltos (Wang, 2005), e esta pluridimensionalidade traz consistência e fiabilidade ao processo
de avaliação. Considerando-se a avaliação parte do processo ensino – aprendizagem23 e não
um momento final isolado, é fácil de entender as potencialidades do portfolio na medida em
que este favorece a integração da avaliação na aprendizagem.
Considera-se ainda que a construção de um portfolio constitui uma experiência
fundamental para os alunos que frequentam o Ensino Superior Artístico uma vez que o portfolio
é essencial na aproximação ao mercado de trabalho dos profissionais ligados às artes plásticas
e ao design.
23
“ […] o que continua a contar na prática avaliativa é o conjunto dos momentos sumativos - que a meu ver são
evidentemente indispensáveis […].Mas não são suficientes, nem desligados de tudo o que a eles conduz, no processo
cognitivo do aluno face a um qualquer conteúdo curricular, em qualquer m qualquer nível de escolaridade. Não basta
verificar que o aluno «sabe» um conteúdo, no sentido de conhecimento declarativo. Importa passar para o nível
interpretativo e operacionalizador. Que ficou ele a compreender? Como lá chegou? Que processos de pensar visibiliza
neste «saber»? Que capacidade de analisar demonstra ter adquirido ao «estudar esta matéria»? Que uso faz do que
aprendeu? Como se vê? Em que se concretiza? […] Face a isso tem de se conceber a avaliação, quer ao longo do
processo para o reorientar, guer no fim para fazer o balanço (Roldão, Maria do Céu, 2003, p.45-46).
166
disponibilizados os seguintes elementos: instruções para professores, instruções para alunos,
critérios de avaliação, matriz de avaliação, descritores de nível, projecto de trabalho, modelo.
No contexto deste estudo o portfolio foi pensado como um projecto aberto para
explorar um tema, um ponto de partida e devia conter:
− uma selecção de trabalhos de investigação;
− justificação das intenções, motivações, análise critica;
− estudos exploratórios e de desenvolvimento;
− produto final
− e relatório de auto – avaliação dos alunos.
Foi ainda combinado que todos os elementos deveriam ser datados e numerados de
forma a ilustrar a sequência do processo no tempo e a evolução do aluno.
A forma de apresentação do portfolio – capa, caixa, álbum, rolo, web page, Cd, vídeo,
diário de trabalho …, foi deixada ao critério do aluno, considerando-se que a aparência do
portfolio pode ser, ela mesma, elemento de avaliação, enquanto objecto de arte ou design
reflectindo o carácter do projecto e a personalidade do autor.
Os resultados da experiência apontam para um envolvimento mais profundo de
professores e alunos no processo ensino - aprendizagem. Considera-se ainda que os portfolios
documentaram solidamente o modo de aprendizagem dos alunos, promoveram uma atitude
exploratória e sustentaram um processo de autoavaliação consciente.
167
A estes tópicos foram acrescentados no ano lectivo de 2004-05 avaliação pelos pares
e avaliação de estratégias usadas na construção do portfolio.
O primeiro modelo de portfolio electrónico (Outono de 2000) foi criado em Microsoft
PowerPoint, ferramenta com a qual os alunos estavam familiarizados. Os resultados foram
satisfatórios e os alunos ficaram altamente motivados mas esta opção acabou por se revelar
inadequada para lidar com um grande conjunto de ficheiros de imagem em virtude dos limites
do software e hardware em 2000 - surgiram problemas ao guardar os documentos24 e ao
visualizar noutros computadores.
A opção seguinte (Primavera 2001) passou pela utilização de Microsoft Word o que
permitiu ultrapassar as dificuldades encontradas ao guardar ficheiros de imagens digitalizadas,
usando a opção do Word que permite guardar em formato HTML. O facto de os alunos
conhecerem o software, a par da possibilidade de partilharem os trabalhos, motivou-os para a
criação de um e-portfolio.
Os relatos da já longa experiência deste docente na elaboração de portfolios
electrónicos – do primeiro modelo (2000) criado em Microsoft PowerPoint, até aos mais
recentes realizados já na Tailândia (National United University Miaoli) em que os estudantes
fazem uso de diferentes linguagens e softwares, HTML or JAVA, Macromedia Flash,
Dreamweaver, Director, e Microsoft FrontPage – apontam para:
− a progressiva resolução de questões de adequação dos softwares disponíveis;
− elevada motivação dos alunos na realização de uma tarefa que promove a
reflexão em torno do trabalho desenvolvido;
− o envolvimento de estudantes professores e pares no ensino-aprendizagem;
− a facilidade com que os estudantes dominam os diferentes softwares pode
conduzir à construção de portfolios que privilegiam a habilidade no uso de
determinado efeito visual em detrimento do conteúdo.
24
Ainda não se tinha generalizado a utilização de dispositivos de armazenamento de dados com grande capacidade,
como as famosas ‘pens’ …
168
alunos para investirem na personalização do seu portfolio definindo as suas ‘áreas de eleição’
Design, Ilustração, Pintura, Animação… .
Os resultados obtidos no presente ano lectivo vão de encontro às conclusões das
experiências supra referidas no tocante ao interesse que a tarefa suscita, foram, no entanto,
detectados dois problemas a resolver e que serão apresentados à turma no início do próximo
ano lectivo:
− o primeiro, não específico do portfolio, mas pertinente - a dificuldade em
enquadrar e justificar os trabalhos apresentados com comentários escritos
adequados;
− o segundo, específico, relacionado com o conceito de portfolio - este não terá
sido plenamente entendido pela generalidade dos alunos, uma vez que estes
não conceberam uma estrutura de paginação suficientemente inócua em
termos gráficos/cromáticos e simultaneamente funcional para servir de suporte
aos seus diferentes trabalhos.
Considera-se que, para a resolução destas questões contribuirá um mais alto nível de
envolvimento do professor e dos pares na construção do portfolio, uma vez que estas primeiras
experiências foram elaboradas por cada um dos discentes isoladamente, fora do período de
aulas práticas e depois objecto de uma apresentação final.
25.5 Conclusões
Finalizamos considerando primeiro a questão da pertinência da realização de portfolios
e de seguida a problemática do suporte.
No âmbito do ensino artístico a realização de portfolios individuais constitui uma tarefa
motivadora e um espaço de reflexão e afirmação pessoal, promove o envolvimento do aluno,
professor e pares em todo o processo de ensino aprendizagem, suporta a avaliação
fornecendo uma perspectiva de todo o processo criativo e sua contextualização e fornece ao
discente uma ferramenta de aproximação ao mercado de trabalho.
Em resposta à questão - portfolio tradicional em papel, ou portfólio electrónico? –
considera-se que a adopção do formato electrónico apresenta vantagens que advêm da natural
adesão dos jovens às novas tecnologias e das potencialidades específicas destas ao nível da
facilidade de partilha e grande capacidade de armazenamento de informação bem como da
possibilidade de actualizar ou adaptar o portfolio a uma oferta de emprego específica e ainda
da tecnologia multimédia que permite a conjugação de som, imagem, texto, animação.
Parece-nos ainda que, se informalmente os alunos já trocam imagens, textos e
música será inevitável que o e-porfolio se generalize. Muito embora, no que diz respeito às
artes subsistam problemas específicos relativos por exemplo à autoria, ou à qualidade ‘táctil’ de
169
algumas obras que vivem da sua textura, dimensão que dificilmente é captada na imagem
virtual, pelo que nos parece que há necessidade de continuar a reflectir sobre esta temática.
25.6 Referências
• Almeida L. S. e Tavares J.(1998), Conhecer, Aprender, Avaliar. Porto: Porto Editora
• Eça, T.P. (2005), Using Portfolios for External Assessment: An Experiment in
Portugal. In: The Internacional Journal of Art & Design Education. NSEAD –UK.
• Eça, T.P. (2005), Developing portfolios for learning and assessment. In: Education
on-line. (http://www.leeds.ac.uk/educol/documents/00003890.htm, accessed March
2005)
• Hernández, Fernando (2000), Cultura Visual, Mudança Educativa e Projecto de
Trabalho. Porto Alegre: Artmed Editora
• Negroponte, Nicholas (1996), Ser Digital. Lisboa: Editorial Caminho
• Roldão, M. C.(2003), Gestão do Currículo e Avaliação de Competências, as
questões dos professores. Lisboa: Editorial Presença
• Wang, S. (2006). A Review of the Development of Electronic Portfolio for Visual
Arts in Higher Education Paper presented at InSEA 2006 International Congress
170
26 Descobrir a floresta no meio das árvores
26.1 Resumo
São ainda escassos os trabalhos de investigação focalizados no estudo das
potencialidades dos recursos informáticos e da Internet na promoção da autoregulação da
aprendizagem.
Constata-se, na prática docente, que o sucesso pessoal no uso e exploração dos meios
informáticos e da Internet reforça a motivação para os comportamentos auto-regulados,
promove o trabalho cognitivo e melhora o aproveitamento escolar.
A aprendizagem necessária ao desenvolvimento pessoal, à integração no mundo do
trabalho, e ao prosseguimento dos estudos, faz-se, cada vez mais, para além do espaço da
escola e horários das aulas.
O aluno moderno deverá ser um caracol transformado, quer dizer, de casa às costas,
mas rápido e versátil.
A Internet é o local de confluência da portabilidade da informação universal e da
formação pessoal, adequadamente organizada, disponível e partilhada; e o eportefólio é o
veículo da concretização individual do registo do percurso escolar e da formação ao longo da
vida de cada aluno.
Este trabalho focaliza-se na sensibilização e apoio aos alunos da disciplina de
Psicologia, no curso profissional de Animador Sócio-Cultural, para a implementação de uma
cultura escolar, ao nível turma, de uso do e-portefólio para registo do trabalho escolar, a sua
orientação e supervisão; e a sua avaliação.
A optimização da exploração dos recursos informáticos e da Internet pode trazer um
valioso contributo na promoção de formas de aprendizagem auto-reguladas. A maior atenção
dada à utilização do computador e da Internet na sala de aula pode trazer benefícios à
investigação teórica e experimental da auto-regulação da aprendizagem.
171
26.2 Problemática do estudo
26.2.1 A investigação do tema
172
Não obstante as verdades e os mitos relativos à facilidade e à competência como, hoje
em dia, as gerações mais novas fazem uso dos computadores e de tudo o que é digital, os
professores ainda têm de lidar com um número predominante, maioritário, de alunos cujas
posturas ou crenças auto-depreciativas e auto-desvalorizadoras quanto às competências
pessoais para usar os computadores de forma útil e eficaz são, na verdade, grandes.
Além disto, a disponibilidade de recursos informáticos pessoais, muito diversa entre os
alunos de uma mesma turma, ou mesmo a diferença nas possibilidades de acesso a
equipamentos escolares ou públicos, origina, dentro da mesma sala de aula, expectativas,
motivações e sentimentos de confiança pessoal diferentes, que solicitam manejo adequado por
parte do professor.
Como dissemos já noutro lado, o aluno actual é um aluno que aprende cada vez mais
fora da escola, autor de aprendizagens, digamos, “expedientes”.
Por razões que têm simplesmente a ver com o desenvolvimento actual das sociedades,
questão que não cabe agora aqui discutir. Assim, entendemos que o aluno moderno deverá ser
um caracol transformado, quer dizer, de casa às costas, transportando permanentemente as
suas competências, os seus saberes, os seus trabalhos e as suas referências.
Neste brevíssimo perfil do aluno moderno, o registo digital dos trabalhos dos alunos e o
seu acesso pelo computador e pela Internet são de importância crucial. Na verdade, hoje em
dia, a Internet é o local de confluência da portabilidade da informação universal e da formação
pessoal, adequadamente organizada, disponível e partilhada; e o portefólio electrónico é o
veículo da concretização individual do registo do percurso escolar e da formação ao longo da
vida de cada aluno.
173
26.2.5 A razão deste projecto de trabalho – resultados escolares previstos
Podemos, então, dizer que este projecto de trabalho tem os seguintes objectivos:
174
1. Proporcionar aos alunos as condições pedagógicas (inicialmente, em sala de aula)
para a utilização das TIC, com o sentido de, como diz Jonassen, o uso dos
computadores e das TIC promoverem a aprendizagem através de formas de
pensamento e elaboração cognitiva realmente significativas.
2. Proporcionar aos alunos condições para que, através de um ensino apoiado e
diferenciado, cada um deles possa:
− aumentar as suas crenças de auto-eficácia quanto ao uso das TIC;
− promover o desenvolvimento pessoal e o uso de estratégias instrumentais bem
sucedidas que tragam ganhos de motivação e, assim, beneficiem as estratégias
motivacionais ligadas à auto-regulação da aprendizagem.
3. Proporcionar as condições para o confronto, ou o choque cognitivo entre a lógica e o
estilo cognitivo do aluno aprendente com a lógica própria dos computadores e da
Internet, e, em resultado desse confronto…
4. que os alunos consigam fazer a aquisição de competências e instrumentalidades
cognitivas úteis para o desenvolvimento do seu potencial cognitivo, em geral.
175
recursos audiovisuais, recursos do meio e outros recursos não categorizados. A Internet é
apenas um dos 42 recursos audiovisuais dessa categorização. A leitura da obra, que não faz
qualquer menção à elaboração de portefólios, parece estar mesmo a pedir que, entretanto, se
lance mão a um “meta-recurso” que enquadre num todo coerente e harmonioso o trabalho e as
aprendizagens significativas feitos com base em todos estes recursos. Esse metarecurso será,
segundo a nossa proposta, o portefólio electrónico.
Não constituirá novidade dizer-se que serão propostas actividades e tarefas aos alunos
que, por um lado, se focalizem no objectivo de fazer emergir nos alunos comportamentos auto-
regulados; e, por outro lado, que apoiem a iniciativa natural dos alunos nesse mesmo sentido.
Também não constituirá novidade dizer-se que tais actividades e tarefas serão
concorrentes ou sequenciais. A ideia é que sejam sempre complementares.
Uma ideia-força é a de que a motivação acrescida para a aprendizagem auto-regulada
terá de encontrar as condições propícias para que a mesma se desenvolva e consolide. Neste
aspecto, parece de especial importância a capacidade de representar, sob todas as formas que
sejam, os diferentes conteúdos de aprendizagem, relações entre entes e objectos cognitivos,
etc.
Neste sentido, serão apresentados aos alunos exercícios de representação cognitiva
(muitos deles já testados e especificamente adaptados a este projecto de trabalho) com
recurso a tipos diferentes de realização: 1- acção motora; 2 – escrita e representação gráfica; 3
– com recurso ao computador e à Internet.
Serão postos à disposição dos alunos guias – actualmente em fase experimental – que
os informarão sobre as diferentes modalidades e tipos de portefólios, bem assim como as
diferentes aplicações e outros recursos da Net disponíveis para a sua elaboração. Estes guias
são feitos em suporte papel e aplicação informática interactiva.
Complementarmente, serão feitas aos alunos propostas de trabalho que os
sensibilizem para o processo sequencial da abordagem auto-regulada do conhecimento com
especial ênfase nas metodologias que promovam a interrogação e a auto-interrogação
metacognitiva, a aprendizagem cooperativa e a análise da tomada de decisão (Veiga Simão,
2005). As propostas de trabalho são feitas da mesma maneira dos guias.
176
26.4.2 A aprendizagem auto-regulada na elaboração do portefólio
electrónico
177
Já não é difícil encontrar na Net sítios em que podem ser publicadas páginas pessoais
gratuitamente, em língua portuguesa de qualidade satisfatória, sem interferência demasiada de
conteúdos publicitários. Aplicações facilmente disponíveis em qualquer computador
(processadores de texto, programas de apresentação, etc.) são também bons suportes para a
elaboração de portefólios electrónicos.
Na escola, se calhar mais importante do que a impressora, é o scanner, para a
digitalização de documentos e imagens. Hoje em dia, também já não é luxo nas escolas a
máquina fotográfica digital, que elimina praticamente o custo da produção de imagens.
Provavelmente é o som a forma de expressão que exige maior competência e sofisticação
técnica. Nada que, entretanto, não se resolva num aluno já razoavelmente motivado num
processo de aprendizagem auto-regulada.
178
27 O portefólio no desenvolvimento e avaliação das
aprendizagens: Vantagens e desvantagens
27.1 Resumo
O interesse pelo tema surgiu da dificuldade em avaliar as aprendizagens dos estudantes e
da necessidade de se encontrarem formas alternativas de avaliação capazes de superar as
formas tradicionais de avaliação. Neste sentido, colocámos as seguintes questões às quais
tentaremos dar resposta: Será que os portefólios reflexivos contribuem para o desenvolvimento
da aprendizagem? Quais serão as vantagens/desvantagens na utilização dos portefólios
reflexivos?
A expectativa é de se colocar o estudante como sendo o responsável pelo seu processo de
aprendizagem, favorecendo a análise da particularidade do desenvolvimento de cada um/grupo,
fomentando a discussão e partilha de ideias e experiências vivenciadas. Com esses
pressupostos, entende-se que o portefólio pode ser um instrumento capaz de dar respostas a
essas questões/expectativas.
Com este estudo pretendemos avaliar o contributo da construção dos portefólios reflexivos
no desenvolvimento das aprendizagens e identificar as vantagens/desvantagens da sua
utilização, tendo por base a estratégia utilizada no desenvolvimento e avaliação das
aprendizagens dos estudantes do 4º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola
Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto, na disciplina de Administração e Gestão em
Enfermagem.
Foi salientado pela maioria dos estudantes que a construção do portefólio permitiu a
avaliação contínua, a interacção grupal, a reflexão/discussão, a aquisição
/aprofundamento/consolidação de conhecimentos, a gestão do tempo, servir de documento de
consulta e a estimulação da motivação e da auto-formação.
27.2 Introdução
Numa perspectiva de desenvolvimento do estudante, a avaliação tem de ser considerada
como algo que ultrapassa, de longe, o acto de classificar. Tem de ser um processo dinâmico,
179
contínuo e sistemático que acompanha o desenrolar do acto educativo de modo a permitir o seu
constante desenvolvimento (Cortesão, 1983), permitindo ao estudante atingir os seus objectivos e
construir a sua aprendizagem.
A utilização de portefólios reflexivos no processo de ensino-aprendizagem do estudante
exige uma concepção diferente da avaliação tradicional. A avaliação não deve ser uma actividade
desenvolvida só pelo professor, mas antes deve envolver-se e co-responsabilizar o estudante
neste processo, valorizando as suas capacidades individuais, envolvendo-o na resolução dos
problemas (Fernandes, 2005).
O portefólio apresenta-se como uma estratégia flexível que oferece inúmeros benefícios a
estudantes e professores, nomeadamente devido ao facto de permitir documentar o
«crescimento» dos estudantes, o processo e o produto da aprendizagem e a capacidade de
resolver problemas, para além de possibilitar a análise das vivências diárias dos estudantes
(atitudes e valores), podendo adaptar-se a qualquer área disciplinar e nível de ensino (Wenzel, et
al, 1998).
Neste sentido, pensamos que os portefólios podem influenciar positivamente as formas
como se ensina, se aprende e se avalia, podendo dar origem a uma outra forma de encarar a
avaliação, a uma outra ideia de sala de aula em que as aprendizagens se vão construindo em
conjunto e individualmente ao ritmo de cada um, em que se reflecte, se pensa, em que se
valorizam as experiências, instituições e saberes de cada estudante, e em que, essencialmente,
se aprende (Fernandes et al, 1994; Bentes e Cristo, 1994).
Relativamente à relação pedagógica, o portefólio permite o desenvolvimento do sentido
da responsabilidade, da autonomia, da reflexão na e sobre a acção e o próprio desenvolvimento
do estudante enquanto pessoa (Shön, 1992).
Não pretendemos com este estudo dogmatizar ou propor receitas, ou, tão pouco, sugerir
que os portefólios são a panaceia que permitirá resolver os eternos dilemas avaliativos. Trata-se
tão-somente, de um convite à reflexão sobre a avaliação, designadamente a avaliação das
aprendizagens por portefólios.
A estrutura deste artigo é constituída por duas partes: a primeira inclui o enquadramento
teórico e a metodologia e a segunda a análise e discussão dos resultados obtidos a partir das
respostas dos vários grupos de estudantes aos questionários ministrados.
180
O portefólio pode ser considerado como uma organização de trabalhos significativos para o
professor e para o estudante, permitindo monitorizar o desenvolvimento dos conhecimentos,
competências e atitudes, onde não faltam as análises e reflexões sobre as suas aprendizagens, e
que segundo Nunes (1999) pode constituir simultaneamente uma estratégia facilitadora da
aprendizagem, permitindo a avaliação da mesma.
Na opinião de Damião os portefólios são “colecções de trabalhos diversificados (…),
produzidos durante um determinado período de tempo (…) por cada aluno ou grupo de alunos
(1996, p. 203).
No entender de Nunes (1999), os portefólios poderão servir para reforçar a comunicação
entre professor e o aluno, dada a necessidade de um acompanhamento contínuo por parte do
professor e de o aluno não sentir o estigma da avaliação. O diálogo com os estudantes é
incentivado e os alunos falam sobre assuntos que jamais colocariam em público.
Portanto, na opinião de Mota (sd), o portefólio também facilita a construção do diálogo
através da confiabilidade que se constitui entre professor e alunos.
O trabalho de grupo também sai reforçado dado que os estudantes são implicados na
análise crítica dos portefolios dos seus colegas, desenvolvendo desta forma o espírito crítico. A
análise crítica do portefólio pode contribuir também para que o estudante desenvolva o sentido de
responsabilidade e cultive o hábito de reflectir criticamente sobre a sua aprendizagem.
Por seu lado, Fernandes et al, (1994) consideram que a sua utilização tem objectivos
ambiciosos que, uma vez alcançados, permitem obter diversas vantagens, tais como:
• A contribuição para a adequação do currículo às metodologias utilizadas e à
avaliação, através de uma maior coincidência das actividades de avaliação com as
aprendizagens;
• A diversificação dos processos e objectivos de avaliação nomeadamente através da
contextualização, ou seja de uma maior ligação da avaliação à situação em que se
desenvolveu a aprendizagem; reflexão dos estudantes acerca do seu próprio
trabalho; participação activa dos estudantes no processo de avaliação; identificação
dos progressos realizados e das dificuldades sentidas; facilitação do processo de
tomada de decisão pelos professores, porque ficam a conhecer melhor a forma como
o currículo é desenvolvido e as características dos alunos;
• A ênfase no carácter positivo da avaliação, uma vez que os estudantes conseguem
mostrar com mais facilidade o que sabem.
Relativamente às experiências desenvolvidas através da utilização dos portefólios, Bentes
e Cristo (1994) são da opinião que trabalhar com portefólios desperta e motiva estudantes que
até aí não tinham manifestado qualquer interesse nas aulas e também permite que os estudantes
reflictam sobre a sua própria avaliação dando-lhes a perspectiva do seu papel activo na escola.
Relativamente à utilização dos portefólios nos estudantes do ensino superior, Mota (2003, p.1)
181
refere que, os resultados foram surpreendentes: “maior participação, interesse crescente,
desempenho criativo na abordagem dos temas propostos”. O mesmo autor refere que através da
utilização dos portefólios desenvolve-se a criatividade, o interesse pela pesquisa e o acesso a
novas formas de comunicação multiplica-se.
No entanto, apesar destas vantagens, entendemos que a utilização desta metodologia não
é simples. Implica um grande investimento tanto da parte do estudante como do professor,
exigindo um planeamento e organização rigorosa, bem como uma clarificação dos critérios de
construção do portefólio e sua avaliação. Não há, por isso, na opinião de Fernandes et al, (1994)
a garantia de que a utilização de portefólios conduza, por si só, a uma avaliação autêntica,
participada e reflexiva. Na opinião destes autores, estes podem-se tornar facilmente em pastas
com meras colecções de trabalhos dos alunos.
De acordo com Valadares e Graça (1998), para que a utilização dos portefólios tenha as
vantagens referidas anteriormente é necessário que os professores e estudantes estejam
motivados para a renovação das práticas pedagógicas e criem hábitos de trabalho organizado.
Estes autores chamam ainda atenção para a importância do espaço físico nas escolas, que por
vezes é escasso para que os trabalhos possam ser guardados.
Embora possamos reconhecer as vantagens que possa trazer a utilização dos portefólios
para o ensino, a sua utilização tem sido pouco vulgarizada. De acordo com Barreira (2001), este
facto deve-se talvez a ser uma técnica pouco divulgada entre os professores, desconhecendo-
lhes as suas vantagens, ou ainda a falta de formação adequada dos professores relativamente a
esta estratégia. Na opinião deste autor, para que os professores possam aplicar esta estratégia “é
necessário, em primeiro lugar, que estes se mostrem disponíveis para renovar as suas práticas
pedagógicas e de avaliação, em segundo lugar, que conheçam melhor a utilidade e as vantagens
que estas técnicas podem trazer à sua prática e, em terceiro lugar, que saibam como os
portefólios podem ser concretizados na prática” (Barreira, 2001, p.25).
Também Nunes (1999) apresenta algumas desvantagens da utilização do portefólio, que
poderão ser discutíveis, tais como: a avaliação exigir muito tempo, dado a extensão dos
trabalhos; ser mais difícil classificar objectivamente, se não forem inicialmente definidos os
critérios e negociado entre professor e estudante o que deve ser ou não incluído no portefólio; a
autoria dos trabalhos pode ser duvidosa, porque a maior parte do trabalho desenvolvido é fora da
sala de aulas dificultando o seu controlo; poder penalizar os alunos que apresentem mais
dificuldades na escrita; exigir um trabalho contínuo dos alunos para produzir, compilar e organizar
o portefólio.
Pensamos, no entanto, que estas dificuldades poderão ser minimizadas se houver
motivação e vontade de colocar em prática métodos pedagógicos que influenciam positivamente
a forma como se ensina, se aprende e se avalia.
182
27.4 Metodologia
Com este estudo pretendemos avaliar o contributo da construção dos portefólios reflexivos
no desenvolvimento das aprendizagens; e identificar as vantagens e desvantagens na sua
utilização.
Neste sentido, foi solicitado aos estudantes durante a última aula teórico-prática da
disciplina o preenchimento, em grupo, de um questionário que reflectisse a sua opinião sobre a
importância e os contributos da construção do portefólio na sua aprendizagem, assim como as
vantagens/desvantagens na sua utilização.
A construção de portefólios reflexivos foi uma estratégia utilizada no desenvolvimento e
avaliação das aprendizagens dos estudantes do 4º ano do Curso de Licenciatura em
Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto, na disciplina de
Administração e Gestão em Enfermagem, nos meses de Fevereiro e Março de 2005. Estiveram
envolvidos 24 grupos perfazendo um total de 189 estudantes, com idades compreendidas entre
os 22 e os 28 anos, sendo 152 do sexo feminino e 37 do sexo masculino.
A informação obtida foi analisada recorrendo à técnica de análise de conteúdo,
considerado por Bardin (2004) como um método eficiente para desocultar o conteúdo das
mensagens.
Na utilização desta estratégia, tivemos a preocupação de negociar esta proposta de
avaliação com os estudantes, exigindo uma planificação e organização rigorosa, um
acompanhamento contínuo e sistemático do trabalho desenvolvido na sala de aula, motivando,
encaminhando e avaliando o processo de construção, tendo-se definido critérios de construção
(qual a sua estrutura, quais as temáticas a abordar, disponibilização de bibliografia pertinente,
sendo o portefólio organizado e compilado durante as aulas teórico-práticas da disciplina) assim
como critérios de avaliação dos portefólios.
A opção pela estratégia de construção dos portefólios em grupo resulta da percepção que
as autoras têm de que a construção do conhecimento e a aprendizagem é facilitada pela
discussão e partilha de ideias/experiências (Freitas e Melo, 2005). Esta opinião é corroborada por
Apóstolo (2001, p.16) quando refere que “a organização de um portefólio de grupo pode ser um
instrumento eficaz, coerente e concordante com os objectivos que temos para uma formação de
qualidade”.
183
27.5.1 Portefólio: um contributo para a aprendizagem
184
(Q24), o que está de acordo com Fernandes et al (1994), quando referem como vantagem da
utilização do portefólio o carácter positivo da avaliação, uma vez que os alunos conseguem
mostrar com mais facilidade o que sabem.
Os discursos dos estudantes enfatizam como vantagens dos portefólios a promoção da
reflexão/discussão, quando referem que permite a “reflexão sobre os temas” (Q1, Q7, Q24),
“...fomenta a reflexão crítica…” (Q3, Q12), “estimula o espírito crítico e reflexivo do grupo…” (Q6,
Q11, Q19, Q20), “…implica uma maior solidificação de conhecimentos” (Q2, Q5, Q17). Nesta
linha de pensamento e segundo Chaves (2000, p.15) ”os portefólios são vistos e utilizados como
instrumentos de estimulação e como factores de activação do pensamento reflexivo”. Foi ainda
referido pelos estudantes como vantagens da construção do portefólio que “o que se pretende
com o ensino superior é a discussão, daí que seja o método mais adequado” (Q15). Também
Nunes (1999), Chaves (2000) e Fernandes (2005) são da opinião que os portefólios estimulam a
síntese, a reflexão e a discussão.
Também a aquisição/aprofundamento/consolidação dos conhecimentos é referenciada
pelos estudantes como uma vantagem dos portefólios ao permitirem “…que a aprendizagem seja
contínua…” (Q2), que exista “…maior interiorização dos conteúdos…” (Q4, Q18), maior
“…aquisição de conhecimentos no âmbito da gestão e administração …” (Q6) uma “…maior
facilidade em consolidar os conhecimentos” (Q8, Q10, Q11) “...sem ter de estar a decorar os
conteúdos…” (Q12), com “maior sistematização de ideias…” (Q18), facilitando e constituindo “…
uma mais valia na nossa aprendizagem” (Q17). Estas opiniões são corroboradas por Nunes
(1999) ao referir que os portefólios reflectem a abrangência da aprendizagem.
Foi ainda dado ênfase como vantagem da elaboração dos portefólios a “partilha de
experiências” (Q1, Q3, Q15, Q16) em que a “…troca de vivências e experiências….” (Q4, Q8,
Q14, Q19,Q23) e os “momentos de partilha de ideias…” (Q5,Q22) permitem a “…partilha de
conhecimentos entre os membros do grupo…” (Q24).
A este propósito Ramos (1993) evidencia que o portefólio em grupo é mais eficaz do que o
trabalho individual, dado que estimula a acção, sustenta o esforço, é uma fonte de mudança, e a
cooperação que se estabelece entre os elementos do grupo vai resultar em benefícios,
nomeadamente o desenvolvimento do pensamento crítico e democrático.
Também as reflexões dos estudantes deixam antever que o portefólio em grupo favorece a
“interacção grupal” (Q1, Q22), desenvolve o “...o trabalho em equipa…” (Q6) e “…possibilita a
partilha de conhecimentos entre os membros do grupo, fomentando o crescimento pessoal”
(Q24), dado que segundo Zeichner (1993) a construção das convicções pessoais somente se
tornam efectivas quando as pudemos confrontar com os outros.
Outras vantagens dos portefólios salientadas pelos estudantes são a gestão do tempo,
dado que como estes são “realizados em tempo útil de aulas…” (Q3, Q4, Q9, Q11, Q18, Q19,
Q23) “… sem sobrecarga de trabalho extra-escola em demasia” (Q15).
185
Foi ainda salientado como vantagens a motivação, tendo os estudantes referido que “...os
níveis de motivação grupal e individual são maiores” (Q12) o que vem de encontro à opinião de
Bentes e Cristo (1994), quando referem que trabalhar com portefólios desperta e motiva alunos
que até aí não tinham manifestado qualquer interesse nas aulas.
Por último, salientamos ainda como vantagem da sua utilização a auto-formação, tendo
sido referenciado pelos estudantes que a elaboração do portefólio permite a “….pesquisa
bibliográfica.” (Q16, Q24) “…uma aprendizagem proactiva…” (Q19), “tratando-se de um método
que acarreta responsabilidade na elaboração e construção da nossa aprendizagem” (Q21), ou
seja permite um grande investimento por parte do aluno (Fernandes et al, 1994) e o interesse
pela pesquisa aumenta consideravelmente (Mota, 2003).
A maior parte dos estudantes referiu não encontrar qualquer tipo de desvantagem na
utilização do portefólio. No entanto, alguns estudantes elegem como desvantagem o tempo
dispendido, referindo que “requer mais tempo dispendido” (Q1, Q5, Q7, Q14, Q21, Q22,). Esta
desvantagem também é apresentada por Nunes (1999), ainda que este as considere discutíveis,
ao referir que produzir, compilar e organizar os portefólios exige muito tempo.
27.6 Conclusões
Em relação ao contributo da elaboração do portefólio, os resultados obtidos deste estudo
realçam o carácter de avaliação contínua que esta estratégia permite, o desenvolvimento do
relacionamento interpessoal, a consolidação das aprendizagens, o desenvolvimento da
capacidade crítica e reflexiva, a articulação da teoria com a prática (ensinos clínicos), a
autonomia e a partilha/debate de ideias.
Estes resultados confirmam que esta metodologia permite o desenvolvimento do sentido da
responsabilidade, da autonomia, da reflexão na e sobre a acção e o próprio desenvolvimento do
estudante enquanto pessoa.
Os resultados obtidos também parecem apontar no sentido de que a utilização do portefólio
tem vantagens na avaliação das aprendizagens dos estudantes. As vantagens, mais
significativas, que emergiram deste estudo, prendem-se com o permitirem a avaliação continua, a
interacção grupal, a partilha de experiências, a reflexão/discussão, a
aquisição/aprofundamento/consolidação de conhecimentos, a gestão do tempo, a aplicação
prática, o servir como documento de consulta e a estimulação da motivação e da auto-formação.
Assim como qualquer instrumento de avaliação, também os portefólios, na opinião dos
estudantes apresentam desvantagens, como tempo dispendido e o envolvimento contínuo, sendo
no entanto, a opinião mais evidente de que os portefólios não apresentavam desvantagens
significativas.
186
Pensamos, no entanto, que estas desvantagens poderão ser minimizadas se houver
motivação e vontade de colocar em prática métodos pedagógicos que influenciam positivamente
a forma como se ensina, se aprende e se avalia.
27.7 Referências
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inovação pedagógica no ensino clínico de enfermagem. Revista Referência. Coimbra.
Nº 6 (2001), p.15-21.
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aprendizagens: a avaliação formadora e a avaliação autentica. Revista Portuguesa de
Pedagogia, Nº 35 (2001), p. 3-33.
• BENTES, C.; CRISTO, F. H. - Novas perspectivas na avaliação em língua
portuguesa. Avaliação por portfolio. In CARDOSO, C - Pensar avaliação melhorar a
aprendizagem, B/15 -avaliação formativa. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional,
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Aveiro: Universidade de Aveiro, 2000.
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Coimbra: Minerva Editora, 1996.
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da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI. Rio Tinto: Edições
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Portfolios: para uma avaliação mais autêntica, mais participada e mais reflexiva. In
FERNANDES, D. - Pensar avaliação melhorar aprendizagem, B/10 - Avaliação formativa.
Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1994.
• FERNANDES, Domingues - Avaliação das Aprendizagens: Desafios às Teorias
Práticas e Politicas. Lisboa: Texto Editores, 2005.
• FIGUEIRA, Ana Paula Couceiro - Das epistemologias pessoais à epistemologia das
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professores do 3º ciclo e do ensino secundário, das disciplinas de matemática,
português e inglês. Coimbra: s.e., 2001, (Dissertação de Doutoramento não publicada.
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra).
187
• FIGUEIRA, Ana Paula Couceiro - Teorias de aprendizagem e modelos de ensino.
Coimbra: s.e., 2003, (Documento policopiado não publicado, Faculdade de Psicologia e
de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra).
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Portfólio: Uma nova forma de encarar a aprendizagem e a avaliação. Revista
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(acedido dia 23.4.2003).
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(2001), p. 51-68.
• SHÖN, D. - Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, António -
Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992, p. 77-91.
• WENZEL, L., S.; BRIDGGS, K., L.; PURYAR, B., L. - Portfólio: Avaliação autentica na
era da revolução curricular. Jornal of Nursing Education Ano 5, Nº 37 (1998). Tradução
de Ana Albuquerque Queiroz.
• VALADARES, J.; GRAÇA, M. - Avaliando para melhorar a aprendizagem. Amadora:
Edições Plátano, 1998.
188
28 Uma experiência de portefólios em contexto de formação
contínua de professores
• Cristina Marques
[email protected]
28.1 Resumo
A oficina de formação designada “O portefólio como instrumento de aprendizagem e
avaliação do aluno e do professor”, de trinta e seis horas presenciais de duração, foi dinamizada
pelo Centro de Formação de Entre Paiva e Caima nas Escolas Secundárias de Castelo de Paiva
de Arouca no ano de 2005. tinha como destinatários professores de línguas estrangeiras dos 2º,
3º Ciclos e Secundário.
Esta oficina visava desenvolver competências nas formandas de forma a implementarem
portefólios nas suas turmas, proporcionando-lhes segurança durante o processo de
experimentação, através das reflexões na acção e sobre ela, do debate de ideias e da partilha de
materiais e experiências.
A estratégia de formação eleita foi, por isso, a construção de um portefólio pelas
formandas, pois este contemplari uma vertente dialogante entre as sessões de formação e a
experimentação nos contextos de sala de aula, entre a reflexão, a acção e a reflexão na e sobre a
acção. De não menos importância, seria o facto de as formandas poderem elas próprias passar
pela experiência de construção de um portefólio e antever todas as ansiedades,
constrangimentos e satisfações que os seus alunos iriam sentir.
A estrutura do portefólio do formando nasceu de um processo de negociação, deixando, no
entanto, espaço às formandas para personalizar esta estrutura. Foi-lhes sugerida a
escolha/criação de metáforas para denominar as várias secções do portefólio com o objectivo de
promover a criatividade, proporcionar a criação de laços afectivos com o portefólio através do
cunho pessoal e, simultaneamente facilitar a desocultação do eu narrador:
Negociados foram também os critérios de avaliação deste portefólio.
A análise dos portefólios revelou documentos autênticos e diferenciados, devido ao
carácter singular dos processos narrados e dos seus narradores.
Esta interessante experiência teve limitações, mas também muitas implicações positivas
que decorreram da utilização dos portefólios como estratégia de formação.
A principal finalidade desta comunicação é partilhar com entusiasmo uma experiência que
se revestiu de todo o interesse, quer para as formandas participantes, quer para as formadoras,
de tal forma que serve de base ao projecto de investigação de uma das formadoras e autora
189
desta comunicação. O impacto da formação contínua no desenvolvimento profissional de
professores de língua estrangeira é presentemente objecto de análise, estudando-se em que
medida foi promovido o autodesenvolvimento profissional, e em que dimensões das teorias e
práticas profissionais este se verificou.
Espera-se que o estudo venha a fornecer suporte empírico para reflexões teóricas sobre
o valor dos portefólios como ferramenta para promover stitudes reflexivas, e sobre os processos
de mudança dos professores envolvidos em episódios de formação promotores destas mesmas
atitudes.
190
29 Portefólio Digital no 1.º Ciclo do Ensino Básico –
Experiências de Utilização
29.1 Resumo
No âmbito da disciplina de Educação e Multimédia, opção do 4º ano do Curso de
Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, surgiu a possibilidade de desenvolvermos um
portefólio digital, enquanto forma de integração das Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação com os nossos alunos de Prática Pedagógica III. Este projecto está ainda
enquadrado pelo projecto curricular de turma: “A Língua Portuguesa e as Novas Tecnologias”.
O portefólio digital que apresentamos tem vindo a ser desenvolvido ao longo do 2º e 3º
períodos, com uma turma constituída por 12 alunos, dos quais dois frequentam o 1º ano, seis
frequentam o 2º ano e quatro pertencem ao 4º ano de escolaridade da Escola do Ensino Básico
de Avões de Cá. Esta escola fica situada numa aldeia do concelho de Lamego, distrito de Viseu.
Relativamente ao enquadramento teórico, consideramos relevante afirmar que adoptámos
o conceito de portefólio digital tal como é definido por Helen Barret (1994): “(…) a purposeful
collection of student work that exhibits the student’s efforts, progress, and achievements in one or
more áreas. The collection must include student participation in selecting content, the criteria for
judging merit, and evidence of student self-reflection.” O enquadramento teórico será
desenvolvido e será apresentada uma breve revisão da literatura sobre o tema.
De uma maneira geral, todos os alunos da nossa turma apresentam dificuldades na área
da Língua Portuguesa. Neste sentido, dado que os alunos terão a oportunidade de escrever
comentários relativos às aulas, materiais utilizados, actividades realizadas e possíveis formas de
melhorar as aulas indo ao encontro dos seus interesses, acreditamos que a criação do portefólio
permitirá os alunos se sentirem mais motivados para a escrita. Por outro lado, seguindo a ideia
sugerida pelo projecto ScrpbookUSA, descrito por Almeida D’Eça (1998), como a existência de
um público-leitor é um factor de motivação e estímulo nos alunos para a escrita, optámos por
191
também disponibilizar online toda a produção escrita dos alunos. No seu formato final, o portefólio
digital será distribuído através de CD e WWW.
Como forma de promover a autonomia dos alunos, pretendemos que depois de
familiarizados com o conceito e funcionamento do portefólio digital, sejam os próprios a
seleccionar, a arquivar os seus trabalhos, fotografar e filmar as actividades desenvolvidas ao
longo do ano.
O desenvolvimento deste projecto seguirá as três etapas de concepção e desenvolvimento
de aplicações educativas propostas por Cristina Gomes (2000): análise de tarefas e utilizadores,
concepção e implementação e, por fim, a evolução.
Com o intuito de recolher dados que nos permitam avaliar a qualidade do produto e
implementar eventuais melhorias ou correcções, iremos implementar três processos de avaliação
da usabilidade (Nielsen, 1995): Protótipo de baixa fidelidade, Avaliação heurística e listas de
verificação das guidelines.
Para além de uma descrição global das etapas de desenvolvimento deste projecto, serão
ainda apresentados dados relativos à avaliação da usabilidade.
192
30 Portefólio em suporte papel: uma experiência com alunos
do 8º ano
30.1 Resumo
Este texto relata uma experiência de utilização dos portefólios, em suporte papel,
na avaliação de alunos do 8º ano de escolaridade, à disciplina de Matemática. As
expectativas iniciais, as vantagens/dificuldades sentidas, as reacções dos alunos e os
contributos deste instrumento de avaliação na aprendizagem dos alunos são aqui
focadas, numa perspectiva de observação efectuada pela professora. Baseada nesta
observação, também são referidas algumas vantagens que a utilização dos portefólios
digitais pode oferecer, colmatando algumas das dificuldades já referenciadas nos
portefólios em formato papel.
30.2 Introdução
Diversificar os momentos e os instrumentos de avaliação, não se centrando
exclusivamente nos usuais testes de avaliação, é assunto que tem despertado um interesse
crescente nos professores do ensino básico e secundário. Envolver e responsabilizar mais os
alunos pela sua avaliação e reconhecer que avaliar é parte integrante do processo ensino-
aprendizagem, é relevante e traz vantagens para a aprendizagem, uma vez que o aluno irá
reflectir na qualidade do seu trabalho, ao procurar aperfeiçoá-lo, e o professor que recebe e
interpreta o feedback dos seus alunos, irá orientar melhor as suas actividades e os seus
objectivos de ensino. Esta tarefa não é fácil e impõe algumas mudanças nas atitudes de
professores, alunos, pais e sociedade em geral.
Um dos instrumentos de avaliação da aprendizagem do aluno que se enquadra nesta
perspectiva interpretativa da avaliação, é o portefólio que diz respeito, a uma pasta que contém
um conjunto “intencional” de trabalhos que mostram o percurso do aluno, durante um certo
período de tempo. As potencialidades desta pasta, assentam-se tanto em aspectos de
natureza cognitiva, relacionados com as aprendizagens da disciplina como em aspectos de
natureza afectiva, uma vez que envolve interacção entre professor e aluno e reflexão pessoal.
A importância do portefólio individual na aprendizagem do aluno, deverá ser inicialmente
explicada ao aluno, bem como o que deverá constar nesse portefólio. O professor poderá dar
algumas indicações ou sugestões, no entanto, o aluno também deverá ter alguma
193
responsabilidade na escolha do material a colocar no seu portefólio. Muitos dos materiais
sugeridos para a disciplina de Matemática, dizem respeito a relatórios de actividades da aula,
sínteses das matérias, resolução de problemas, trabalhos de desenho geométrico, construção
de manipuláveis, pesquisas orientadas, notícias e outros eventos. O aluno poderá seleccionar
um conjunto de trabalhos, e deverá envolver-se na sua consecução, esclarecendo as dúvidas
com o professor, que por sua vez, o irá ajudar e incentivar no seu processo de construção. Nos
portefólios também se incluem aspectos relacionados com a auto- avaliação, críticas e
sugestões ao próprio portefólio, assim como, as descrições sobre as actividades que mais
gostaram de realizar e que gostariam de preservar para o futuro. Os critérios de avaliação do
portefólio deverão ser bem explícitos, para que os alunos percebam a importância do seu
trabalho e aumentem a sua colaboração e responsabilidade no seu processo de avaliação.
Esta avaliação do portefólio poderá ser faseada e de preferência a combinar com os alunos,
com indicações claras do material que vai ser objecto de avaliação. As correcções do material
colocado no portefólio deverão ter carácter descritivo, com anotações que indicam ao aluno
como deverá melhorar o seu trabalho, de forma a possibilitar um refazer das actividades que
não estavam bem clarificadas ou que teriam pontos incorrectos ou incompletos. Em fase a
estipular, por exemplo, no final de cada período, o portefólio poderá ter efeitos na avaliação dos
alunos, de acordo com os critérios de avaliação preestabelecidos. Por fim, o portefólio poderá
acompanhar o aluno ao longo de um ciclo numa disciplina, ou poderá fazer parte de um
conjunto de disciplinas, integrado num projecto curricular de turma.
Neste texto, aborda-se um exemplo de experimentação do portefólio, como modalidade
de avaliação integrada no processo ensino-aprendizagem da Matemática, de alunos do oitavo
ano de escolaridade. Para esta situação concreta e por questões práticas, foram adaptadas
algumas considerações acima referidas sobre a implementação dos portefólios.
194
ansiedades, seguindo o seu próprio ritmo, percebendo que seria importante tentarem fazer,
cada vez melhor, com brio, com qualidade e com tempo para clarificar as dúvidas e para voltar
a refazer, sempre na expectativa de que todo o seu trabalho seria recompensado, porque seria
avaliado, dentro dos parâmetros e critérios de avaliação da disciplina.
Neste contexto, foi explicado aos alunos das turmas, os objectivos deste instrumento de
avaliação, o seu peso na avaliação da disciplina, a sua organização, o tipo de documentos que
deveria conter, e a definição dos momentos de apresentação e de avaliação do portefólio. De
início foi distribuído um pequeno guião, muito simples, que continha a informação necessária
para a organização do portefólio de Matemática, que, basicamente, deveria compreender, uma
capa, uma primeira página de identificação do aluno, um índice, separadores temáticos
(pesquisas históricas, relatórios, investigações, sínteses das matérias, auto-estudo, testes de
avaliação e auto-avaliação do aluno) e uma última página dedicada à avaliação do portefólio.
Uma vez que os alunos não tinham qualquer experiência com portefólios, ficou definido que a
professora sugeria alguns trabalhos para serem colocados no portefólio, devendo no entanto,
constar em cada portefólio, outros trabalhos ou assuntos ou questões, dentro dos parâmetros
assinalados, que revelassem iniciativa do aluno. Por exemplo, encontrar um problema e
resolvê-lo sozinho, pesquisar na Internet sobre um tema ou sobre um matemático referenciado
na aula de Matemática, elaborar um relatório sobre uma determinada matéria, ou,
simplesmente, mostrar resoluções de exercícios complementares às matérias em estudo.
Ficou também definido que os alunos não poderiam incluir no portefólio, trabalhos
resolvidos na aula ou trabalhos resolvidos por outros (retirados de livros, Internet, etc.), ou seja,
no portefólio individual deveria somente constar trabalho da autoria do próprio aluno.
Os trabalhos sugeridos pela professora à turma, durante o ano lectivo, seguiram os
conteúdos leccionados na disciplina, e relacionaram-se com os seguintes temas: Pesquisa
orientada sobre Pitágoras ou Tales de Mileto; Uma construção geométrica c/ relatório (de uma
das demonstrações do TP); Uma construção geométrica c/ relatório (do Incentro, Baricentro ou
do circuncentro); A construção de uma pirâmide de multiplicação de monómios c/ relatório;
Pesquisa e resolução de um problema com os passos aprendidos na aula; Pesquisa orientada
sobre Euler, Newton, Descartes ou Bernoulli; Pesquisa de uma função do dia-a-dia c/ relatório;
Esclarecimento se um dos exemplos referidos na aula, representava ou não uma função;
Relatório da aula “Função Caminhar”; Pesquisa orientada sobre M.C. Escher, pavimentações e
isometrias; e, realização de um trabalho no GSP sobre a construção de lugares geométricos.
Estes temas fornecidos tinham sempre uma parte de reflexão, ou seja, a maioria dos trabalhos
exigia um relatório, onde o aluno explicava, por palavras suas, porque escolheu aquele
exemplo, e como o resolveu, etc. Todos os trabalhos tinham uma resolução pessoal, não
havendo a possibilidade de entregar duas pesquisas iguais, dois problemas iguais, duas
construções iguais, dois relatórios iguais, etc. Alguns dos temas ofereciam várias
possibilidades cabendo ao aluno escolher a que mais lhe interessava.
195
À medida que os alunos concebiam os seus materiais, podiam e deviam fazer a sua
entrega à professora para os corrigir, e consoante o comentário da professora, voltavam a
fazer, a emendar ou a aperfeiçoar esses mesmos trabalhos. Para a avaliação dos portefólios,
estabeleceram-se datas combinadas entre professora e alunos, e realizaram-se dois momentos
de apresentação de portefólios e dois momentos de avaliação dos mesmos. As apresentações
dos portefólios constituíram momentos de avaliação formativa, que procuravam estabelecer
feedback com o trabalho realizado pelos alunos. Na última folha do portefólio ficaram
registados os comentários da professora: “Parabéns, trabalhaste muito bem” ou “ Não está
nada bem, não incluíste o que foi pedido, repara que, (…)”. Era sempre referenciado o que
estava bem, o que faltava incluir e o que deveria ser feito de novo. É de notar, que caso o
aluno não elaborasse atempadamente um qualquer trabalho, poderia incluí-lo mais tarde no
portefólio, esperando assim pelo próximo momento de avaliação. Nos dois momentos de
avaliação, mais próximos dos términos dos dois períodos lectivos (2º e 3º períodos), o
portefólio foi avaliado qualitativamente, tendo em atenção a progressão do aluno, verificando,
por exemplo, se o aluno reflectiu sobre os comentários anteriormente registados, se refez
algum trabalho que não estava bem, ou se incluiu um trabalho em atraso. Em cada período
foram valorizados os três melhores trabalhos do aluno. No final de cada período, era facultado
aos alunos a possibilidade de observarem a grelha de avaliação dos portefólios da turma, na
qual constava, uma menção qualitativa (não satisfaz, satisfaz, satisfaz bem, excelente), para
todos os materiais incluídos no portefólio de cada aluno. O peso do portefólio no final de cada
período, que globalmente também obtinha uma menção qualitativa, era igual ao peso de um
dos testes de avaliação efectuados nesse mesmo período.
Relativamente aos resultados esperados, verificou-se que, apesar das três turmas terem
características diferentes, em todas elas, os alunos dedicaram-se mais aos trabalhos sugeridos
pela professora, do que aos trabalhos que envolviam espírito de iniciativa ou espontaneidade.
No final do 2º período, dos 50 alunos, 40 alunos (80%) tiveram uma avaliação positiva no
portefólio, no entanto, no final do 3º período, apenas 34 alunos (68%) voltaram a ter
classificação positiva. As razões deste decréscimo pelo interesse/empenho na realização das
tarefas do portefólio, relacionam-se com o contexto de uma das turmas (8º F), com carências a
nível de acompanhamento familiar e também a nível socio-económico. Para estes alunos, de
baixo rendimento escolar, a sua maior dificuldade relacionou-se sempre com a falta de hábitos
de estudo e organização do trabalho. O portefólio, bem como outras actividades escolares,
foram sempre difíceis de concretizar. Praticamente, a sua consecução vai na relação directa
com o rendimento escolar, no qual mais de 50% de alunos com negativa à disciplina de
Matemática, apenas cinco alunos (26%), colaboraram, desde o início do ano, com vontade e
dedicação na construção do seu portefólio. Nas restantes turmas, de aproveitamento
satisfatório/bom, a implementação do portefólio decorreu com normalidade e teve resultados
bastante positivos. Os alunos mostraram-se muito receptivos e, na totalidade de 42 alunos, 26
196
alunos (62%), apresentaram muita dedicação e interesse na consecução das tarefas e
obtiveram durante todo o ano lectivo, menção satisfaz bem ou excelente.
Ao compararmos o desenvolvimento do portefólio e os níveis atribuídos aos alunos,
verificou-se que, salvo algumas excepções, os alunos de nível 5 mantiveram sempre o nível
excelente nos portefólios, e os alunos de níveis 3 e 4 oscilaram em todas as menções (não
satisfaz, satisfaz, satisfaz bem, excelente), não se verificando grande regularidade. Ou seja,
apareceram alunos de nível três com portefólios excelentes e alunos de nível quatro, com
portefólios satisfatórios e não satisfatórios. Uma das razões para esta falta de empenho, por
parte daqueles que sempre se situaram no nível quatro, prende-se com a desvalorização do
portefólio em relação aos testes. Para estes, houve sempre grande dificuldade em acreditar
que o portefólio teria peso na avaliação e em aceitar esta situação. Hábitos de escola,
enraizados numa cultura de que só os tradicionais testes de avaliação estão associados à
exigência e ao saber do aluno, provocam em todos (alunos, pais, professores e sociedade em
geral), alguns sentimentos de desacreditação em relação à aplicação de outros instrumentos
de avaliação (portefólios, testes em duas fases, relatórios e ensaios, entre outros).
Relativamente aos alunos situados entre os níveis 1 e 2, verificou-se uma das seguintes
situações, ou não organizaram o portefólio, ou entregaram apenas a capa com os separadores
e trabalhos já realizados na aula, sem qualquer trabalho efectuado pelos próprios. Para todos
os alunos, o portefólio reflectiu-se na sua avaliação, e houve uma satisfação muito grande para
aqueles que levaram a cabo os seus propósitos.
Relativamente à aprendizagem da Matemática e observando, por exemplo, o tema das
Funções, verificou-se que existia correspondência positiva entre as cotações do teste e as
menções dos materiais do portefólio, referentes ao tema. Os alunos que trabalharam o tema
das Funções no portefólio (as pesquisas, os relatório das aulas, a função do dia-a-dia, as
sínteses, entre outros) tiveram boa nota no teste de Funções.
Em relação à auto-avaliação, os alunos relacionaram a avaliação do portefólio
directamente com o trabalho desenvolvido, ou seja, os alunos que consideraram que estiveram
muito tempo dedicados à elaboração das actividades do portefólio, concluíram que mereciam
menção satisfaz bem ou excelente, da mesma forma, os que se dedicaram pouco, referiram
menção satisfaz ou não satisfaz. Alguns alunos consideraram que aprenderam com o
portefólio, uma vez, que, na sua opinião, este contribuiu para uma certa auto-disciplina no
estudo. A satisfação/insatisfação geral da realização do portefólio, relacionou-se mais com os
efeitos que este se fez sentir na avaliação dos alunos.
O facto de não existir um local para guardar os trabalhos dos alunos, o que tornaria
mais fácil a sua consulta e controle, estabelecendo o feedback necessário, provocou, uma
sensação de algum “esquecimento” nos alunos com mais dificuldades em organizarem o seu
trabalho. Também o facto dos alunos não terem a possibilidade de observarem os trabalhos
dos colegas, tal só era possível nos pontos de situação, não permitiu a existência de uma
197
aprendizagem colaborativa, em que o incentivo e o encorajamento dos colegas também estaria
presente.
Esta modalidade também exigiu, um maior volume de trabalho por parte do professor,
(correcções com descrições individuais em cada material colocado pelo aluno, transporte de
grandes volumes de capas da escola para casa e vice-versa) e uma maior orientação nas
planificações dos conteúdos curriculares da disciplina, uma vez que, se realizaram “paragens”
de aulas, dedicadas a pontos de situação das avaliações do portefólio, ou, dedicadas a
indicações do que está bem e do que está mal, ou ainda dedicadas à identificação dos alunos
que não entregaram o material pedido.
198
especialmente, quando se pretende enriquecer os portefólios com vídeos e imagens, por vezes
muito importantes para a visualização e compreensão de alguns conceitos matemáticos.
30.5 Conclusão
A avaliação dos alunos sempre constituiu uma matéria complexa e exigente e que
merece uma continuada reflexão por parte dos professores e educadores em geral. A
diversificação dos momentos e instrumentos de avaliação, encontra-se referenciada em vários
documentos do Ministério da Educação, quer para o ensino básico quer para o secundário. O
portefólio, em formato papel ou formato digital, pode e deve ser utilizado e experimentado pelos
professores, cabendo a estes o papel de avaliarem a situação e de reorientarem o trabalho, na
perspectiva de uma efectiva integração na aprendizagem dos alunos.
30.6 Referências
• Gomes, M. J. (2005), Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In A. Mendes, I.
Pereira & R. Costa (Eds.), Actas do VII Simpósio Internacional de Informática Educativa
(SIIE05). Leiria: Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Leiria, (pp. 311 –
315). I.S.B.N.: 972-95207-4-7. https://repositorium.sdum.uminho.pt/
bitstream/1822/4499/1/Blogs-final.pdf – (Disponível em 10/06/06)
• Leal, L. C. (1997). Portefólio ou pasta do aluno. Educação e Matemática, 42, 11-12.
• Ponte, J. P., Boavida, A., Graça, M., & Abrantes, P. (1997). Didáctica da Matemática.
Lisboa: Departamento do Ensino Secundário, Ministério da Educação.
199
31 Portefólio: caminho para transformar a avaliação ou mera
legitimação de “velhas” práticas?
Universidade do Minho
Dos vários dispositivos que podem utilizar-se em termos avaliativos, o portefólio tem
estado em alta na bolsa de valores da Pedagogia por ser conotado como um recurso
privilegiado para a aquisição e avaliação de conhecimentos e competências e, por
200
consequência, para viabilizar novas formas de pensar e praticar o ensino e a aprendizagem.
Dada a diversidade de portefólios e os diferentes sentidos que podem nortear a utilização de
tais “artefactos” educativos, pretendemos ao longo deste texto problematizar se o portefólio se
assume como um instrumento crucial na transformação dos processos de ensino-
aprendizagem ou se, pelo contrário, se limita a contribuir para legitimar “velhas” práticas
escolares.
Para o efeito, organizámos esta breve reflexão em torno de três pontos principais. Em
primeiro lugar, a mudança de paradigma curricular que tem vindo a configurar-se como
inevitável para que a escola consiga enfrentar os desafios da actualidade e continue a ser tida
como uma instância crucial na configuração da sociedade do futuro. Em segundo lugar,
incidimos na inevitabilidade de alterar os processos de avaliação que se processam no interior
da instituição educativa, sem o que todo o processo de transformação poderá ficar
comprometido. Por último, referimo-nos a um dos suportes avaliativos que, mais recentemente,
tem vindo a conquistar alguma aceitação por parte dos professores, enaltecendo alguns dos
perigos que uma utilização mais “irreflectida” pode gerar.
Parece não sofrer contestação a ideia de que o modelo de escola que imperou ao longo
do século passado, e que impera ainda nalguns casos, se encontra ultrapassado e inoperante.
Referimo-nos à escola das aulas magistrais, dos extensos programas disciplinares, da tradição
livresca, dos testes escritos, das verdades inabaláveis…, a escola onde, para muitos, o mais
importante era [e em muitos casos ainda é] o toque da saída, os intervalos e, os sempre
apetecíveis, “furos”25. Trata-se de um modelo que se foi consolidando ao longo de todo o
período da modernidade e que vários autores26 designam por paradigma da Escola Tradicional
para se referirem a uma concepção educativa que sobrevalorizava os resultados em detrimento
dos processos, a um conceito de currículo como conjunto de conteúdos a transmitir,
25
Hoje cada vez mais inimagináveis com a implementação e generalização, de forma impositiva e unilateral, das
designadas aulas de substituição.
26
Cf. Gimeno (1988), Kemmis (1988), Lima (1998), Nóvoa (1992), Schön (1998), Stenhouse (1987), entre outros.
201
organizados em disciplinas, e uma série preconcebida de experiências de aprendizagem a
realizar pelos estudantes, organizadas pela escola em função de um determinado programa, a
uma escola onde ensinar se resume, essencialmente, à aplicação de normas e de técnicas
derivadas de um conhecimento especializado e aprender se circunscreve à memorização de
um conjunto de conhecimentos e a um modelo de profissionalidade docente onde as funções
de execução prevalecem sobre as de concepção e decisão, idealizando os professores como
meros técnicos curriculares a quem compete aplicar decisões que outros tomaram.
Na opinião de Rui Canário (2006, pp. 37-38), “a forma escolar” que serviu de esteio à
edificação e consolidação de tal paradigma, norteada pelos princípios de “revelação (o mestre
que sabe, ensina ao aluno ignorante)” e de “cumulatividade (aprende-se acumulando
informações)”, ter-se-á ancorado em “processos de aprendizagem baseados na exterioridade
relativamente aos sujeitos” e sobrevalorizado “a memorização, a abordagem analítica, a
penalização do erro e a aprendizagem de respostas”, aspectos que, em conjunto, concorreriam
para afastar a escola de alguns dos propósitos que lhe vinham sendo consignados27.
Existem, no entanto, outros factores que nos ajudam a caracterizar o actual momento de
mudança e que, de forma directa ou indirecta, contribuíram para acelerar e tornar visível a
caducidade deste paradigma educativo. Apenas para enumerar alguns: (i) a democratização do
acesso aos sistemas escolares (a que não é alheio o que se designa comummente por
massificação escolar) e a heterogeneidade que gerou, pondo em causa um modelo escolar
organizado em função de públicos mais homogéneos e mais estáveis; (ii) os efeitos do intenso
fenómeno globalizador que nos vem fustigando e as mutações económicas, sociais e culturais
que lhe estão associadas; (iii) a transformação da sociedade e o aumento da sua
complexidade, com consequências notáveis em termos de exigências educativas; (iv) a
ascensão da denominada Sociedade da Informação e do Conhecimento, com tudo o que isso
implica ao nível das aprendizagens fundamentais; (v) as elevadas taxas de insucesso e de
abandono escolar que continuam a verificar-se em muitos países, sobretudo no ensino básico;
(vi) os níveis de iliteracia exibidos por muitos indivíduos escolarizados, o que, por si só, nos faz
questionar a eficácia do sistema escolar.
27
É neste distanciamento que radicam muitas das críticas e acusações feitas à instituição escolar, algumas vezes de
forma injusta e a partir de instâncias sociais que, se assumissem os encargos previstos na sua esfera de
competências, por certo, concorreriam para não fazer avolumar as responsabilidades imputadas à escola.
202
principais a afectividade e o intelecto, em proporções sempre variáveis, conforme as gentes e
as circunstâncias”, proporcionem a cada cidadão uma formação de base que o capacite para
uma aprendizagem que perdure ao longo da sua vida e lutem por uma educação que faz do
conhecimento, da compreensão, do respeito mútuo, da aceitação, da solidariedade e da
convivência os pilares essenciais da construção pessoal, social e cultural do indivíduo
(Carneiro, 2004).
Tais propósitos implicam uma concepção de currículo diferente da que tem imperado nos
distintos sistemas de ensino. Em vez de um plano previamente definido e estruturado de forma
a ser implementado na prática, ou de se resumir a um conjunto de conteúdos a transmitir, o
currículo deve assumir como um conjunto de aprendizagens socialmente reconhecidas como
imprescindíveis para cada indivíduo (Roldão, 2000) e como uma proposta de trabalho
(Stenhouse, 1987) a ser interpretada de diferentes modos e adequada a diferentes contextos.
203
31.2 A transformação dos processos avaliativos
Como afirma Philippe Perrenoud (2002), mudar a avaliação é mudar o ensino e a
aprendizagem. Daí que a questão da avaliação das aprendizagens continue a ser uma questão
sensível no quadro da vida escolar, não só pelo impacto que tem na melhoria das
aprendizagens dos alunos e no desenvolvimento profissional dos docentes, como também pelo
lugar que ocupa na discussão sobre o papel, a função e a acção da escola na sociedade.
Ora, a mudança de paradigma curricular que vivemos actualmente não pode dissociar-se
de uma mudança das concepções e das práticas avaliativas, o que, em nosso entender, se
torna imprescindível para modificar a forma como concebem e realizam os processos de
ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, e no âmbito do que nos é proposto por Álvarez Méndez (2002), importa
distinguir dois tipos de concepções e práticas da avaliação.
204
Existem ainda outros aspectos relacionados com a avaliação que não podem deixar de
ser tidos em conta para evitar que o processo de desenvolvimento curricular assuma, de forma
consciente ou inconsciente, um carácter meramente instrumental. Referimo-nos apenas a três
aspectos que consideramos fundamentais.
Por último, o papel que os professores desempenham nas escolas, uma vez que mudar
a avaliação depende, fundamentalmente, do seu empenho e da sua capacidade. Daí que se
torne inadiável uma discussão, no seio da classe docente, em torno de questões chave, como
por exemplo, as concepções de conhecimento, de educação, de ensino, de aprendizagem, de
desenvolvimento curricular, de avaliação.
205
aprendizagem, de modo a assegurar uma melhor compreensão desse empreendimento e,
dessa forma, conseguir índices de qualidade mais elevados (Sá-Chaves, 2000).
Para Roger Farr e Bruce Tone (1998), o portefólio é uma excelente forma de aprender e
de ensinar, uma vez que envolve os alunos na construção dos seus saberes, estimula o
trabalho em equipa, implica-os na avaliação dos resultados e responsabiliza-os pela sua
própria aprendizagem, contribuindo assim para a consecução de um dos principais desígnios
de qualquer sistema educativo – formar indivíduos capazes de aprender de forma autónoma ao
longo da vida.
Além de constituir uma alternativa aos métodos de avaliação mais tradicional, ou mesmo
um utensílio complementar no processo de avaliação, o portefólio deve ser entendido como
uma via para a mudança das práticas curriculares nas escolas, já que implica alterações na
forma como se trabalham os conteúdos e no modo como decorrem os processos de ensino-
aprendizagem. Uma mudança que não pactua com certos estilos de avaliação que se foram
perpetuando no interior das instituições educativas, resumidos tanta vezes a uma “mera
verbalização de palavras emprestadas, conservadas na memória não significativa”, servindo
apenas para gerar a sensação do “dever” cumprido. Como lembra Lawrence Stenhouse (1987,
p. 140), “quanto mais objectivo for um exame tanto mais falha em revelar a qualidade de um
bom ensino e de uma boa aprendizagem”.
É nesta ordem de ideias que Idália Sá-Chaves (2000,p. 10) sublinha que o recurso a
este “artefacto” educativo propicia uma ajuda inquestionável na mudança e na melhoria das
práticas pedagógicas, já que contribui para:
206
y Contribuir para a construção personalizada do conhecimento para, em e sobre a
acção, reconhecendo-lhe a natureza dinâmica, flexível, estratégica e contextual.
Em idêntica linha de pensamento, Flávia Vieira (2004, p. 96) defende que, na utilização
do portefólio, “a preocupação com questões de índole crítica” deve incidir sobre as opções
tomadas e respectivas justificações, o que contribuirá para “um movimento geral de
aproximação a uma orientação transformadora da educação”, baseada na “valorização de
perspectivas e decisões com os educandos, na introdução de mudanças que promovem a sua
autonomia, e na postura de (auto)questionamento e exposição aos outros”. No fundo, uma
forma de colocar a avaliação não só ao serviço dos estudantes, mas também da aprendizagem
e melhoria profissional dos docentes.
Antes de terminar este segmento de análise, não podemos deixar de referir que no
contexto educativo português se têm vindo a envidar esforços e a desenvolver iniciativas com o
intuito de compreender as implicações positivas que podem decorrer da utilização do portefólio
nos processos de ensino-aprendizagem, bem como de estimular algumas mudanças no âmbito
da formação e da investigação educacional. Algumas experiências são um bom estímulo para
reflectirmos sobre as nossas práticas curriculares e para nos ajudar a encontrar caminhos que
conduzam à construção de uma escola onde todos se sintam como co-participantes na tarefa
educativa e, por isso, mais justa e mais inclusiva.
31.4 Em síntese…
Ao longo deste texto procurámos evidenciar as possibilidades que o portefólio
consubstancia, em particular ao nível da aprendizagem e do desenvolvimento de uma
verdadeira cultura de avaliação no interior das escolas.
207
Na verdade, se o portefólio não contribuir para fazer idealizar os processos de ensino-
aprendizagem e, por consequência, a avaliação, como construção, compreensão, apropriação
e integração de saberes nos nossos esquemas pessoais de pensamento, então é porque não
conseguimos ainda uma visão epistemológica do que é o conhecimento e todo esse esforço
terá sido inglório. Nesse caso, o portefólio, mais do que uma oportunidade de mudança, limitar-
se-á a uma estratégia que contribui apenas para perpetuar e legitimar “velhas” práticas
curriculares.
31.5 Referências
• CANÁRIO, Rui (2006). A Escola – da Igualdade à Hospitalidade. In David Rodrigues
(Ed.), Educação Inclusiva. Estamos a fazer progressos? Cruz Quebrada: Faculdade de
Motricidade Humana, pp. 31-45.
• GIMENO, José (1988). El Curriculum: una reflexión sobre la práctica. Madrid: Morata.
• MÉNDEZ, J. M. Álvarez (2002). Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto:
Edições Asa.
• NÓVOA, António (1992c). Para um análise das instituições escolares. In António Nóvoa
(Coord.). As Organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote / I.I.E., pp. 13-
43.
208
• ROLDÃO, Maria do Céu (2000). Currículo e gestão das aprendizagens: as palavras e
as práticas. Aveiro: U. Aveiro.
209
32 Experiencias de Aprendizaje y Conocimiento para la
Cooperación Interempresarial y Colaboración
Medioambiental con la Universidad
32.1 Resumen
En las investigaciones existentes sobre la cooperación y colaboración entre
organizaciones, una línea seguida ha sido el estudio de los motivos para la creación de
acuerdos, y la aplicación de las nuevas tecnologías de la información y comunicaciones (en
adelante TIC´s) a los procesos de cooperación. Este artículo trata de explicar experiencias y
conocimientos del aprendizaje formal e informal adquirido en la recopilación de dos estudios de
investigación sobre “Cooperación Empresarial”, y “Colaboración Medioambiental”. En el primer
caso se estudia la cooperación entre empresas en un proyecto europeo (e-Micro 2005-2007), y
es desarrollado en el marco conceptual de la “Sociedad del Conocimiento”, y su aplicación con
las “Tecnologías de la Información y Comunicaciones (TIC´s) (e-Bussiness y e-Commerce)”. El
segundo caso, propone una muestra del estudio empírico que expresa la necesidad de
colaboración universitaria para el aprendizaje en el campo de la “Dirección y Desarrollo del
Medio Ambiente”.
210
percepción de la incertidumbre del entorno viene a constituir uno de los elementos centrales del
análisis de la Dirección Estratégica. En palabras de Clausewitz (1999), “la incertidumbre del
entorno disminuye a medida que aumenta la distancia entre la estrategia y táctica”. La empresa
se considera una organización, o conjunto de actividades que coordinadas de forma consciente
opera en situaciones de incertidumbre con información parcial y racionalidad limitada para la
consecución de determinados fines.
El nuevo escenario internacional, justifica la cooperación como una opción estratégica
que pretende mejorar la competitividad de la empresa en un entorno caracterizado por la
mutación tecnológica, la mundialización o internacionalización de la economía, la globalización,
y desregulación de los mercados. En este ámbito internacional, las relaciones
interorganizativas están adquiriendo cada vez mayor trascendencia, hecho que viene
constatado por el aumento de las formas de colaboración, por tanto, las empresas deciden
entrar en cooperación, para conseguir buenos resultados (Ariño, 2003). En el caso de las
alianzas, un alto beneficio por cooperar se puede alcanzar cuando las empresas están en
posiciones estrategias vulnerables, tanto a nivel sectorial como empresarial, si existe dificultad
en los mercados, o han iniciado estrategias de mucho riesgo por la adquisición de tecnologías
específicas.
Después de esta discusión teórica a cerca de la cooperación, como opción estratégica
que pretende mejorar la competitividad de la empresas en el entorno, teniendo en cuenta que
estas deciden entrar en cooperación para alcanzar mejores resultados, a través de vínculos
interorganizativos y relaciones colaborativas, capaces de crear valor empresarial y capital
social; quisiéramos mostrar un intento de definición de la cooperación interempresarial (CI),
como: “un acuerdo o alianza entre organizaciones o empresas, con el compromiso de que se
preserva la independencia jurídica de las partes, no existiendo tampoco una relación total de
subordinación entre ellas; en el que optan por coordinar sus capacidades y/o habilidades,
mediante la puesta en común de recursos y/o conocimientos con el propósito de lograr uno o
varios objetivos, considerados relevantes para la satisfacción de las necesidades o metas
propias de cada uno de los socios”.
211
estos datos se convierten en información cuando el que los crea les dota de importancia y
propósito. La información se transforma en conocimiento mediante la comparación, y las
conexiones de datos. Estas actividades generadoras de conocimiento se producen entre seres
humanos, de forma que es transmitido mediante medios estructurados (p.ej. libros y
documentos), y mediante contactos personales, hasta llegar al aprendizaje.
En la denominada “Sociedad del Conocimiento”, ni el capital, ni los recursos naturales
ni el factor trabajo se presentan como recursos clave, sino que el “conocimiento” es el recurso
que: 1) se manifiesta en sistemas de lenguaje, en la tecnología, y en la colaboración de
actividades; 2) se localiza en el tiempo y espacio en contextos específicos y particulares; 3) es
construido y desarrollado constantemente; y, 4) tiene un propósito o está orientado hacia un
objetivo. Hoy, y cada vez con mayor importancia, al ser el “conocimiento una fuente de
generación de valor empresarial”; este conocimiento se considera un recurso preeminente y se
localiza en las siguientes fuentes: 1) directas, por medio de la información, y al estar vinculado
a las personas y los grupos organizativos, siempre y cuando estén dispuestos a compartirlo e
intercambiarlo. Dyer et al. (2005) afirman que las empresas generan sinergias recíprocas al
colaborar estrechamente y ejecutar las tareas a través de un proceso iterativo y dinámico en el
que comparten sus conocimientos. Para su difusión y memorización se disponen de las TIC´s
como herramientas de apoyo; 2) indirectas, dadas por los desarrollos cognitivos, propios de
sistemas o tecnologías generados por la inteligencia humana. Estos se concretan en bases de
datos, protocolos, y otros sistemas de información empresariales.
Las organizaciones necesitan del conocimiento para enfrentarse a la complejidad
empresarial y el dinamismo del entorno, para proporcionar productos y servicios que añadan
valor y para fomentar la innovación. Por tanto, el conocimiento es un activo intangible, muy
difícil de imitar, lo que le hace ser muy valioso. La elaboración de conocimiento es un proceso
fundamental para cualquier organización (institución o empresa) que persiga la innovación y el
aprendizaje.
Otro aspecto a considerar reside en la gestión efectiva del conocimiento poseído por
los miembros de las organizaciones que colaboran y, en este sentido, se resalta la combinación
de “conocimiento, información y aprendizaje”, de las interacciones resultantes entre los tipos de
conocimiento que concurren, para llegar a estructuras organizativas híbridas innovadoras (o
formas de organización innovadoras), como pueden proporcionar los “modelos de cooperación
interempresarial”, a través de los distintos vínculos interorganizativos de las empresas que
adoptan mecanismos de cooperación, alianzas, acuerdos contractuales, accionariales, e
informales (Reuer y Ariño, 2003).
212
32.4 Tecnologías de la información y comunicaciones (TIC’S) en la
gestion empresarial
La revolución tecnológica deriva en “la implantación de las TIC´s para la gestión
estratégica empresarial” y/o los “Sistemas y Tecnologías de Información (SI/TI)” para la
dirección estén actualmente integrados en la estrategia de la empresa. Desde los comienzos
de la era de la informática han existido trabajos que pronosticaron una serie de efectos
positivos con base en estos sistemas. La relación entre TIC´s y ventaja competitiva continúa
siendo objeto de la intensa discusión por cuestiones tales como: 1) la organización como
unidad de análisis, 2) el papel que puede desempeñar en relación con otras variables internas
o sectoriales, y/o 3) la utilización de medidas del resultado empresarial basadas en fuentes
secundarias –rentabilidad, productividad, etc.- De forma más reciente, también aparecen
estudios de viabilidad y su difusión potencial a cerca del papel de estas TIC´s en la
organización del trabajo como sistemas de Planificación de Recursos de la Empresa (ERP),
teletrabajo y flexibilidad en el puesto, internet y comercio electrónico, y/o tecnologías
colaborativas y sistemas interorganizativos.
En palabras de Malhotra et al. (2005), las relaciones interorganizativas han sido
reconocidas como impulsoras de dos distintos potenciales de beneficios para las empresas que
participan en ellas, y para la adquisición de nuevos conocimientos. Si estas relaciones
colaborativas se establecen con empresas, clientes y proveedores bajo la asociación a TIC´s
específicas y determinantes para el éxito empresarial; mejoraríamos la capacidad de absorción
del conocimiento como una capacidad dinámica, y su utilización llevaría a las empresas a
adquirir información, aprendizaje y sustanciales ventajas competitivas.
28
Empresas con menos de 10 trabajadores.
213
a la ciudad de Murcia con interés en cooperar para desarrollar un enfoque integrado sobre
problemas multidimensionales.
Los objetivos de este proyecto e-Micro son garantizar la adaptación de empresarios y
trabajadores de microempresas a la sociedad de la información, utilizando para ello las
posibilidades que ofrecen las tecnologías de la información y la comunicación (TIC´s). Además
pretende mejorar la organización y la gestión en las microempresas del municipio, fomentar la
cooperación entre ellas para mejorar la competitividad, crear experiencias piloto de flexibilidad
para el tiempo de trabajo y así mejorar el equilibrio de la vida profesional y familiar.
En el portal Web www.emicromurcia.com se pueden conocer las actuaciones que se
han puesto en marcha en los distintos ámbitos, y también acceder a una gran cantidad de
información de gran interés para la generación de empresas a escala local. El proyecto e-Micro
(2005-2007) de esta Iniciativa EQUAL, se centra en los “Sistemas de Innovación Local a través
de Internet” y la “Cooperación Empresarial”, es decir en la mejora de la gestión empresarial
utilizando las TIC´s para dinamizar y hacer más competitivo el tejido empresarial del municipio
de Murcia.
Las primeras actuaciones en el proyecto e-Micro en materia de cooperación comienzan
con una campaña de sensibilización mediante la organización de jornadas dirigidas a los/as
microempresarios/as, la edición de boletines informativos, y la inclusión de estos materiales
sobre cooperación en la página Web del proyecto e-Micro. Además se diseñará e impartirá un
módulo formativo de los modelos y mecanismos de cooperación utilizando para ello el portal
(www.emicromurcia.com) de internet.
En base a los objetivos planteados en el proyecto e-Micro, aparecen líneas de
actuación en materia de colaboración entre empresas y organizaciones, todas referidas a la
promoción de acuerdos de cooperación. Para ello, se pondrán en marcha las siguientes
acciones: 1) elaboración de una Guía para la Cooperación entre Microempresas con el
desarrollo del Portal Web de la Cooperación, 2) la puesta en marcha de un Servicio de
Animación de Acuerdos, 3) también se creará la figura del profesional Gestor/a o Animador de
Acuerdos, y finalmente, 4) la organización de encuentros de negocio mediante la intervención
de un Departamento o Equipo Gestor de Proyectos de Cooperación.
Entendemos que esta primera línea de investigación “promoción de acuerdos de
cooperación”, la debemos potenciar mediante el aprendizaje adquirido en el anterior proyecto
Micro (2001-2004), y mediante el conocimiento establecido en reuniones previas, se conocen
datos y se entablan relaciones de comunicación entre las empresas, para poder iniciar las
primeras negociaciones; el trabajo del equipo gestor de proyectos de cooperación consiste en
explicar las razones, las ventajas, y los inconvenientes de los acuerdos; y puede desembocar
en la mejora de la situación de los socios, o en retomar el desarrollo de las negociaciones y
procurar los cambios para la resolución de conflictos. Por consiguiente, mediante la utilización
de internet, y la idoneidad de un equipo gestor de proyectos de cooperación, se combinan los
214
procesos de aprendizaje formal e informal para la formación de acuerdos de colaboración,
mediante el seguimiento de los resultados del portal Web de la cooperación.
Continuando con los objetivos del proyecto, la segunda línea de investigación, está
entorno a la consolidación de la cooperación empresarial, aprovechando las oportunidades que
ofrecen las TIC’s, incluyendo las siguientes acciones; el establecimiento de acuerdos o
convenios de colaboración, el diseño y experimentación de una metodología de seguimiento, y
la puesta en marcha de una línea de ayudas para el fomento de proyectos de cooperación
entre microempresas. Estas acciones también quedarán instrumentalizadas en el Portal Web
de la Cooperación.
Los resultados previstos para este proyecto e-Micro (2005-2007), están entorno a la
transferencia de conocimiento, información y aprendizaje de las experiencias mediante la
difusión en la comunidad académica y científica de las “buenas prácticas” que surjan en el
grupo de cooperación empresarial. Esta transferencia de conocimiento es considerada como
una forma positiva de hacer partícipes al resto de agentes sociales, instituciones y
organizaciones empresariales de cuantos resultados se obtengan en el desarrollo de las
acciones en el período comprendido entre los años 2005 y 2007.
En lo referente al aprendizaje adquirido, existen dos razones importantes que
consideran conveniente realizar una evaluación de la metodología utilizada. La valoración de
las acciones desarrolladas en este proyecto, ayuda en las negociaciones de cooperación y
relaciones colaborativas para las microempresas que participan, y propone un conjunto de
expectativas iniciales, proporcionando datos que pueden desarrollar mejor el negocio en
colaboración. En general, una evaluación de los espacios de cooperación tiene dos objetivos
fundamentales: 1) crear un foro con el resto de empresas, para indagar todas las cuestiones
relativas a la situación de las microempresas con el fin de llevar a cabo las acciones de
cooperación, y 2) determinar lo que es importante para resolver las dificultades, propiciando
discusiones de temas y aportar información acerca de la manera de resolver los posibles
conflictos en las acciones de cooperación. La utilización de herramientas informáticas de
gestión tendrían muy buena aceptación, y los participantes en el proyecto confían en la
utilización de la página Web para dar a conocer sus líneas de negocio.
215
extracurriculares de la Universidad Politécnica de Cartagena (UPCT), la Asociación de
Empresas de Economía Social de la Región de Murcia desde hace unos años (periodo 2003-
2006), viene impartiendo una jornada técnica de formación en temas referidos al fomento del
autoempleo y divulgación de la economía social. Fruto de estas jornadas, los alumnos/as de
Administración y Dirección de Empresas tratan de dar vida y hacer realidad sus ideas
empresariales en el marco de sus estudios de tercer curso de licenciatura, mediante la creación
y dirección de un proyecto empresarial (o plan de negocio) donde en la mayoría de los casos
se propone la constitución de una empresa de “Economía Social” (sociedad laboral o sociedad
cooperativa).
Un grupo de alumnas de la UPCT29 actualmente llevan a cabo un proyecto empresarial,
y estudian e investigan la necesidad de poner en marcha una empresa dirigida hacia la
resolución de cuestiones medioambientales que les permita a las empresas de Cartagena
desarrollar su actividad sin riesgos (sanciones, accidentes medioambientales, incendios,
oposición política, social, etc.).
Un factor crítico a la hora de establecer una nueva industria en un área concreta son
las infraestructuras medioambientales disponibles y su calidad (depuradora, alcantarillado, eco
parques industriales, asesoramiento medioambiental, etc.). Desde este punto de vista, otras
fuentes afirman que si los gestores de zonas industriales emprenden acciones que faciliten a
las empresas el cumplimiento de la legislación medioambiental, no sólo se está convirtiendo en
una necesidad para retener y atraer nuevas empresas a sus territorios, si no que puede
convertirse en una oportunidad de negocio para la propia entidad gestora o asociación.
216
Reputación y Prestigio 3,57 0,97 4,00 0,925 0,078
Políticas de mejora del entorno 3,50 0,94 3,00 0,940 0,143
Relaciones con la Sociedad 3,90 0,96 5,00 -0,006 0,930
Compromiso adquirido por todos 3,87 0,90 4,00 0,089 0,941
Gestión Ambiental 3,77 0,90 3,00 0,317 0,807
Coeficiente alpha de Cronbach (α) = 0,81; valores aceptables entre 0,6 y 0,9.
Método de extracción: Análisis de componentes principales (ACP).
Medida de adecuación muestral Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) =0,81; valores inferiores a 0,5 no son aceptables.
32.7 Conclusiones
Este trabajo tiene como finalidad contribuir a la difusión teórica, de las medidas de
Aprendizaje y Conocimiento, mediante el relato de los procedimientos utilizados en materia de
cooperación, con apoyo de las TIC´s, y otras actividades de formación propuestas por la
Universidad. Estas medidas podrían fomentar la aplicación de los conocimientos de diversas
técnicas para la formación, el aprendizaje profesional, y el desarrollo personal de los
participantes, y así propiciar un ambiente de trabajo que en primer lugar, motive o anime a las
empresas a practicar acuerdos de cooperación, y en segundo lugar lleve a las empresas a
colaborar con la Universidad en temas de gestión medioambiental.
217
cumplimiento de las responsabilidades medioambientales y aumentaría el compromiso
adquirido por todos; para ello, creen que la preparación y formación de los alumnos de la
Universidad y futuros profesionales del mercado de trabajo, aumentaría las posibilidades de
desarrollo personal de los mismos, y mejoraría los beneficios redundantes de tal colaboración,
mejorando la reputación y el prestigio de las empresas.
32.8 Referencias
• Bueno Campos, E. (1999): “La gestión del conocimiento y el capital intelectual desde la
perspectiva de la empresa”. En Bueno Campos, E. (editor): Gestión del conocimiento y
capital intelectual. Experiencias en España. Instituto Universitario Euroforum Escorial y
Comunidad de Madrid. Madrid, pp. 15-19.
• Clausewitz, C.V. (1999): De la guerra. Secretaría General Técnica. Ministerio de
Defensa.
• Dyer, J.H.; Kale, P., y Singh, H. (2005): “Cuándo aliarse y cuándo adquirir empresas”,
Harvard Deusto Business Review, nº 131, enero, pp. 71-79.
• Malhotra, A.; Gosain, S., y El Sawy, O. (2005): “Absorptive capacity configurations in
supply chains: gearing for partner-enabled market knowledge creation”, MIS Quarterly,
vol. 29, nº1, pp. 145-188.
• Martínez-Sánchez, A., y De Luis, P. (2005): “Teletrabajo y flexibilidad del trabajo: un
estudio del impacto en los resultados de la empresa”, XV Congreso ACEDE,
Septiembre, La Laguna, Canarias.
• Reuer, J., y Ariño, A. (2003): “Strategic alliances as contractual forms”, Academy of
Management Best Conference Paper.
218
33 O Portefólio na formação de professores: uma experiência
Brasileira
Universidade de Brasília
33.1 Resumo
O portefólio tradicional e o e-portefólio são coleção de evidências de aprendizagem e
foram desenvolvidos no curso de Pedagogia na Universidade de Brasília, Brasil, entre 2001-
2005. As atividades desenvolvidas com os alunos durante o semestre letivo, eram por eles
organizadas em hipertextos, agregando a história de vida, reflexões temáticas, trajetória e
atuação profissional. A avaliação através do processo de construção de portefólios contribuiu
para a formação de um professor reflexivo e comprometido com a qualidade de ensino público.
Um educador em condições de desenvolver constantemente suas habilidades e, além disso, de
desenvolver novas aptidões, justapondo à renovação incessante dos objetos tecnológicos e
sempre dispostos a se (auto)renovar incorporando as tecnologias de informação no cotidiano
escolar e potencializando a organização pedagógica da escola.
33.2 Introdução
“O PIE (Pedagogia para Professores em início de Escolarização) modificou não só a minha vida
profissional, não só a minha prática pedagógica, mas a minha postura diária em casa, no lazer, em
família, com amigos (...) Sinto-me mais reflexiva, usando mais o bom senso, aceitando melhor novas
idéias e mudanças, e acreditando mais em mim mesma, em minha capacidade de fazer a diferença”.
Depoimento de uma professora aluna, Junho, 2005.
219
módulos, professores tutores, professores mediadores e professores alunos30, que viesse ao
encontro de uma formação nos e pelos recursos informatizados, isto é, que associassem a
finalidade da formação ao meio em que ela se realiza, proporcionando ao professor condições
de desenvolver uma reflexão crítica sobre sua realidade e conjuntura social, além do domínio
pedagógico e instrumental dos recursos das tecnologias de informação e comunicação. O
desafio que estava posto para todos os educadores é como se apropriar desses novos
artefatos tecnológicos (multimídias) e utilizá-los a favor da melhoria do processo ensino-
aprendizagem.
Sendo assim, o presente artigo buscar explicar as características do Curso PIE e a
formação tecnológica que proporcionou aos seus professores alunos. Durante esse período de
formação, a avaliação foi o portefólio do professor aluno, construído a cada semestre letivo,
agregando sua história de vida, sua trajetória profissional e a análise e reflexão sobre sua
atuação pedagógica. Sobre o portefólio tradicional e/ou eletrônico e sua construção ao longo
do curso é que vamos detalhar a seguir.
Aquilo que poderia ser apenas mais uma tarefa a ser cumprida pelas instituições
públicas de educação do Distrito Federal – a Universidade de Brasília e a Secretaria de Estado
de Educação – se constituiu em um amplo espaço de formação tocando, de muitas maneiras,
uma gama significativa de pessoas que trabalham em educação em todos os níveis, sejam eles
pessoais, acadêmicos, profissionais.
30
O termo Professores tutores são os professores da Universidade de Brasília e autores dos fascículos; professores
mediadores são os professores que trabalham diretamente com os alunos, que são os professores alunos em exercício
profissional.
220
A articulação institucional que sustentou o curso ensinou aos seus gestores caminhos
administrativos e burocráticos, nem sempre fáceis, mas fundamentais para a consolidação de
um trabalho de parceria e de tal envergadura. Um convênio entre a Universidade de Brasília e
a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal foi criado para realizar a formação
superior dos professores que atuavam no Ensino Básico nas escolas públicas. Esse convênio
garantia por parte da Secretaria de Estado de Educação a disponibilidades de espaços
regionalizados e acesso a laboratórios de informática para os alunos selecionados em
concurso público. Por parte da Faculdade de Educação-UnB, os professores desenvolveram
módulos semestrais para serem trabalhados duas vezes por semana, conforme a organização
pedagógica do curso. O Curso estrutura-se a partir de um currículo de formação não
disciplinar. Constitui-se de eixos e áreas que integralizam as dimensões formativas requeridas
na contemporaneidade para a formação docente, contemplando o contexto histórico-cultural, a
relação prática-teórica, apropriação de tecnologias educacionais, entre outras características.
A rede de profissionais que atuavam diretamente no curso era constituída dos tutores,
na sua maioria professores da Faculdade de Educação-UnB, que escreviam o texto relativo à
sua área de ensino e pesquisa e distribuíam para todos os professores alunos em módulos
impressos. Eles também trabalhavam semanalmente com os professores mediadores no
planejamento das aulas presenciais e demais atividades. Os mediadores eram professores da
Secretaria de Educação-DF, selecionados em concurso para atuarem no curso, diretamente
com os professores alunos, na sala de aula e nos laboratórios de informática. Trabalhavam
com todos os temas do curso tecendo ações que ligam a teoria e a prática da formação dos
professores alunos. Estes, por sua vez, ao mesmo tempo em que participavam das atividades
do curso, estavam com os seus próprios alunos refletindo a prática e estabelecendo novos
modos do fazer pedagógico.
221
• Postos de atendimento dos alunos do Curso PIE no DF - BRASIL.
Fonte: http://www.geocities.com/augusto_areal/regioes.htm Acesso em 22 de fevereiro de 2006.
222
O programa do uso do laboratório de informática estava integrado com o estudo e
pesquisa nos módulos, dependendo do semestre em curso. Gradualmente, as atividades
passaram a integrar outras tecnologias e a construção de projetos de intervenção na escola de
atuação dos professores alunos foram acontecendo naturalmente.
A forma de organizar essa coleção era livre, mas baseada em critérios pré-estabelecidos.
Alguns alunos optaram por fazer essa coleção virtualmente. A seguir, vamos relatar o seu uso.
33.4 O e-Portefólio
O processo avaliativo no curso buscou, desde sua concepção inicial e nos passos
seguintes para sua implantação e implementação, uma dinâmica de trabalho que possibilitasse
um permanente ressignificar sobre o pensado, o vivido e o realizado. Com base nesse
entendimento, desenvolveu-se uma rede de avaliação em que todos avaliavam o processo de
produção de conhecimento e eram avaliados em diversos momentos, nas diferentes instâncias,
por meio de múltiplos procedimentos, instrumentos e formas de registros. Criou-se assim, uma
relação dialógica entre aqueles que dela participam, trabalhando as contradições advindas da
implantação e implementação do novo, promovendo a construção de uma verdadeira Rede de
Formação que, por meio do seu processo avaliativo, indagava, ampliava e redimensionava
constantemente a sua prática.
O que é portefólio? Hernández (2000:166) “um continente de diferentes tipos de
documentos (anotações pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de
aprendizagem, conexões com outros temas fora da escola, representações visuais, etc) que
proporciona evidências do conhecimento que foram sendo construídas, as estratégias para
aprender e a disposição de quem o elabora para continuar aprendendo”.
Então, era uma coleção de produções selecionadas e construídas pelos próprios
professores alunos, como evidências da sua aprendizagem, acompanhadas de reflexões sobre
o seu progresso. Como síntese de todas as atividades realizadas pelo aluno, o portefólio e/ou
e-portefólio era a sua maior produção, sendo organizado de modo a conter os seus propósitos,
os descritores de avaliação e conclusão do trabalho executado em um determinado período de
tempo. Sendo uma produção sistematizada permitia o seu acompanhamento pelo próprio
autor, o aluno, e o professor.
Segundo Moita (1992) a história de vida permite captar o modo através do qual uma
pessoa organiza seus pensamentos, ações, energias, valores, dando forma à sua identidade,
“num diálogo com os seus contextos”. O impacto dessa etapa foi grande e sugeriu enormes
possibilidades e desafios... Desafio por ter colocado o sujeito (aluno) na frente de seu ser, de
seu poder ter sido, de seu poder ser... Desafio por que colocou o sujeito a se compreender
como agente construtor de sua história. Desafio porque impôs um novo olhar ao que pode ser.
223
“No meu grupo de trabalho, somos 10 professoras que fazem o PIE, e nesta
semana pude ver como o curso tem causado impactos em toda a escola.
Durante a coordenação coletiva, um dos assuntos abordados foi à mudança de
postura do grupo em relação aos alunos, onde foi sugerida a leitura do livro”
“Professora sim, tia não”.Depoimento de uma professora aluna do PIE ““.
Por isso, no início do curso, convidamos o professor aluno a resgatar sua história de
vida, possibilitando na sua formação, o espaço de parar e refletir; de aprender a re-significar o
vivido, de tomar consciência de seu papel na história... Assim, na parte inicial do seu portefólio
e/ou e-portefólio, essa dialogicidade está garantida, contando com a articulação entre sua
história de vida e profissional.
O trabalho com o portefólio, se apoiou em seis princípios básicos (Villas Boas, 2001:
207): a construção pelo próprio aluno, possibilitando-lhe fazer escolhas e tomar decisões; a
reflexão sobre as suas produções; a criatividade, porque o aluno escolhe a maneira de
organizar o portefólio e busca formas diferentes de aprender; a auto-avaliação pelo aluno,
porque ele está permanentemente avaliando o seu progresso; a parceria professor aluno e
entre alunos, eliminando-se ações e atitudes verticalizadas e centralizadoras; a autonomia do
aluno frente ao trabalho. Ele percebe que pode trabalhar de forma independente e que não
precisa ficar sempre aguardando orientação do professor. É um procedimento que exige mais
trabalho por parte do aluno porque ele tem de construir, refletir sobre o que faz, analisar,
buscar informações complementares, acompanhar e avaliar o seu progresso, registrar suas
produções, com vistas a conquistar sua autonomia intelectual.
Villas Boas (2004: 41) afirma que [...] o portefólio beneficia qualquer tipo de aluno: o
desinibido, o tímido, o mais e o menos esforçado, o que gosta de trabalhar em grupo e o que
não gosta, o mais e o menos motivado ou interessado pelo trabalho escolar, o que gosta de
escrever e até o que não gosta – porque ele pode passar a gostar, assim como pode
apresentar suas produções utilizando outras linguagens.
224
Nesse tipo de portefólio algumas atividades/produções são comuns a todos os
professores alunos e outras atividades complementares são por eles incluídas. Tem-se, assim,
uma parte das atividades/produções solicitadas pelos professores mediadores e outra parte
que é acrescentada pelo professor aluno. O formato de apresentação do portefólio era de
escolha do seu autor. Ele poderia ser tradicional ou eletrônico. Os portefólios apresentavam as
diversas atividades/produções do semestre, suas reflexões, experiências vividas
profissionalmente e sua história de vida, com um balanço de como começou o curso, como
está e como o terminou. Tivemos portefólios na forma de caixas, pastas, barcos, garrafas,
armário etc. Outros não apresentavam uma forma específica, pois a criatividade no sentido de
organizar foi muito grande. A foto abaixo apresenta alguns exemplos:
225
• Sistematizar produções com base na organização do trabalho pedagógico realizado.
• Evidenciar transformações da prática pedagógica mediante a permanente reflexão
sobre a ação.
• Fornecer elementos para a produção do trabalho de conclusão do curso (TCC).
• Evidenciar produções coletivas.
• Apresentação que possibilite a compreensão do portefólio.
• Atividades acompanhadas de análises/reflexões.
• Atividades apresentadas com coerência, clareza, seqüência de idéias e correção
textual.
• Apresentação, nas diversas produções, de confronto da discussão teórica com a
prática pedagógica.
• Desenvolvimento processual, isto é, ao longo do período indicado para a sua
construção.
• Desenvolvimento das atividades propostas e articuladas com as áreas/eixos do
currículo do PIE.
226
• Compartilhamento de aprendizagens: com a discussão e construção em grupos sobre
as possibilidades de solução dos problemas, os alunos compartilhavam o
conhecimento e a troca de experiências. Além disso, eles transformavam-se em
SUJEITOS capazes de construir conhecimentos e promover a troca de saberes de
forma dialógica e interativa.
• Transformação da prática pedagógica: as experiências vivenciadas possibilitaram a
construção de trajetórias coletivas e individuais, compartilhadas pelos cursistas. Os
vários depoimentos colhidos durante o processo demonstram a mudança qualitativa no
processo de ensino onde nossos cursistas atuam.
• Constituição da rede de formação: a formação do professor reflexivo que desenvolve
uma articulação entre o conhecimento adquirido e os projetos de escola, criando,
repetindo e reconstruindo práticas tecidas e retecidas por outros educadores,
avançando e superando obstáculos, num movimento ininterrupto de ligações e com
extraordinária elasticidade.
227
Dessa maneira, a formação tecnológica do professor-aluno, da forma que foram
desenvolvidas no curso PIE, viabilizou a idéia do conhecimento em rede e promoveu uma
pluralidade de caminhos, na qual nenhum é privilegiado, nem subordinado em relação a um
outro. Cabe ressaltar que um dos princípios do PIE é justamente a pesquisa, é formar o
professor pesquisador, aquele que, a partir da sua experiência, aliada à fundamentação
teórica, passa a pesquisar sua prática pedagógica, as relações desenvolvidas no espaço
escolar, bem como o espaço social em que ela está inserida. Aquele que, nas dimensões micro
e macro do contexto social pesquisa para transformar, para alterar essa realidade tão
excludente em que a educação e a sociedade brasileira estão inseridas.
228
computadores e cerca de 25% das escolas não tinham laboratório de informática. Nesse
sentido, durante o processo de formação, os professores foram agregando valor ao
equipamento e na medida que podiam, iam passando a adquirir o seu próprio computador.
Também passaram a usar o computador na escola com mais qualidade, passando a
desenvolver projetos integrados com várias áreas de formação e temas diversos.
Um caminho se abriu durante esse processo de formação. Muitos o trilharam. Outros
passaram a partilhar conosco desse objetivo de inclusão digital. Muitas bandeiras por essa
inclusão foram incorporadas na categoria de professores. Agora o grupo cresceu e fortaleceu.
O caminho continua. Muito ainda temos que avançar. Mas agora somos grupo e estamos mais
fortalecidos.
33.6 Referências
• HERNÁNDEZ, Fernando.(2000) Cultura visual, mudança educativa e projeto de
trabalho.Tradução: Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
• LDB - Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9.394, de 1996. (1997)
Brasília.
• MOITA, Maria da Conceição. (1995) Percursos de Formação e de Transformação, in
NÓVOA, A. Vidas de Professores. Portugal, Porto (ed.)
• UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/FACULDADE DE EDUCAÇÃO - Convênio nº 03/2000
– FEDF.
• ___________. 1º Termo Aditivo ao Convênio nº 03/2000 que entre si celebram a
Fundação Educacional do Distrito Federal e a Fundação Universidade de Brasília para
os fins que especifica. Processo: 082.001955/2000.
• VILLAS BOAS, Benigna. M. F. (2001) Avaliação Formativa: Em busca do
desenvolvimento do aluno, do professor e da escola. In VEIGA, I, P. A, FONSECA, M.
(Org). As dimensões do projeto político-pedagógico: novos desafios para a escola.
Campinas, SP: Papirus.
• ____________.(2004) Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas, SP:
Parirus.
229
34 Pratiques du portfolio par les enseignants-documentalistes
en 2ème année d'IUFM : les concepts en information-
documentation et leur "mise en scène"
• Yolande Maury
Formatrice IUFM31 Paris/ CEMTI-GRAME (Paris 8)
34.1 Résumé
Cet article aborde l'utilisation du portfolio en 2ème année d'IUFM, notamment son rôle,
en tant que processus réflexif, dans l'appropriation, par les enseignants-documentalistes, des
savoirs propres au champ professionnel de l'information-documentation. Dans un premier
temps, sont interrogés les principes théoriques qui sous-tendent sa pratique, puis à partir d'un
exemple, les concepts en information-documentation et leur "mise en scène" par les stagiaires,
est posée la question de l'élaboration des trames conceptuelles à partir desquelles est pensée
l'éducation à l'information.
31
Institut Universitaire de Formation des Maîtres
230
à terme d'établir une cartographie de ces concepts, éléments d'un curriculum documentaire à
construire.
32
Barrett, Helen C. Electronic Portfolios. In : Educational Technology : An Encyclopedia. ABC-CLIO, 2001.
33
Diez, Mary. The portfolio : Sonnet, mirror and map. In : Burke, Kay. Professional portfolios : a collection of articles.
Arlington Heights, IL: IRI Skylight Training and Pub, 1996.
231
34.2.1 Le portfolio, un processus "documentant" les parcours
C'est la fonction "miroir" qui donne à voir le cheminement, les hésitations, les
avancées… La dimension dynamique, conjuguée à la dimension "présentation" - à la manière
du portfolio des artistes -, permet au stagiaire de gérer les "preuves" de son parcours,
l'inscrivant dans une démarche d'exposition et de connaissance de soi (notamment comme
professionnel de l'information-documentation).
Au-delà des textes et des productions sélectionnés, c'est une histoire personnelle et
professionnelle qui est contée, exprimant les rapports à l'information-documentation, des
rapports inscrits dans la dynamique d'un projet et témoignant des liens et des va-et-vient
constants entre réflexion individuelle, formation et pratique de terrain.
34
Mucchielli, Alex. La nouvelle communication : épistémologie des sciences de l'information-communicatio. Armand
Colin, 2000, p. 165.
232
éclaire les situations vécues en favorisant une prise de distance par rapport à l'expérience
ordinaire et à sa compréhension immédiate.
La composante "dépôt" et "gestion des traces" du portfolio s'enrichit ainsi d'une
composante "commentaire" qui permet un retour différé sur la pratique : il s'agit non seulement
de noter, mais d'organiser, de hiérarchiser, de ponctuer, éventuellement d'effacer (en mettant,
par exemple, un "point final") ou de reformuler en fonction de l'évolution de la réflexion et de la
pratique.
"Marqué par des contradictions, des hybridations, des tensions", le texte est un
compromis entre visée de cohérence et traitement de l'hétérogénéité, écrit Yves Jeanneret35.
Dans le cas du portfolio, au-delà de la mise en mots, c'est par la mise en lien d'informations au
départ éclatées, si ce n'est contradictoires, que le texte devient objet de sens, favorisant le
tissage des connaissances comme le souligne Dominique Bucheton36 tandis que le stagiaire
construit un discours cohérent, retenant comme "instruments pour penser" des trames
conceptuelles complexes, où des propositions provisoires viennent questionner les certitudes
initiales.
C'est la fonction "carte" du portfolio, comme mise en cohérence des parcours,
permettant d'orienter ces derniers, de donner des buts, tout en favorisant la gestion de
l'hétérogénéité des apports. Dans ce processus de construction, la transformation du texte, son
"montage", intervient comme une pause, ou même une rupture, face à la pratique ordinaire. Elle
participe au détachement de son auteur qui trouve là une forme de réappropriation par rapport
à la force du vécu et au discours des formateurs, indicateur de l'émergence de l'identité
professionnelle et témoignage de l'avancée de la réflexion.
Bien que singulier dans sa dimension écriture, le processus portfolio dans lequel le
stagiaire se trouve engagé n'évacue pas la dimension sociale, puisque la mise en perspective
de tous ces éléments est effectuée avec un objectif de communication – certes limitée au cercle
restreint de la formation -, et que ce travail de maturation s'enrichit progressivement par la
confrontation avec les pairs et les formateurs.
Toujours revu, toujours à construire, le portfolio, "lieu social d'interaction et de
coopération", permet non seulement l'expression et l'implication de chacun à travers le travail
d'écriture, mais aussi le croisement des points de vue sur des pratiques proches, les
observations et les analyses de cas concrets contribuant à nourrir la réflexion et à ouvrir le
35
Jeanneret, Yves. Informatic literacy : manifestations, captations et déceptions dans le texte informatisé. Spirale, 2001,
n° 28, p. 15-16.
36
Bucheton, Dominique. Du portfolio au dossier professionnel : éléments de réflexion. IUFM Montpellier, 2003.
Disponible en ligne : http://probo.free.fr/textes_amis/portfolio_bucheton.pdf
233
champ des possibles. Le stagiaire, interrogé sur sa manière de traiter un sujet, peut prendre
conscience qu'il n'existe pas "une" mais "des" cultures info-documentaires (et professionnelles)
au regard desquelles il va pouvoir se situer. Il peut aussi être conduit à défendre son approche
personnelle, à marquer sa différence, éventuellement "contre" les regards portés sur lui, par les
pairs ou les formateurs.
Cette dimension de co-construction est un encouragement à l'expression des
différences, à l'opposé de tout formatage, elle est une invitation à laisser une place à
37
l'imaginaire, "ce qui tend à devenir réel", selon les mots d'André Breton . Car le portfolio a une
dimension créative, soulignée par Mary Diez lorsqu'elle l'envisage comme un "sonnet", une
trame pour la créativité, encourageant la diversité au sein d'une structure adaptative,
nécessaire pour faire émerger la prise de conscience et autoriser les comportements inventifs.
En effet, si une trame est nécessaire pour mettre au clair les intentions propres au
dispositif, et donner les repères essentiels aux stagiaires, selon les options retenues par les
formateurs, le caractère évolutif du portfolio comme trace d'un cheminement, l'écriture grise
(écriture de travail) qui le caractérise, s'accommodent mal d'un cadre figé qui briderait les
intelligences et les initiatives. Il s'agit plutôt d'inventer sa propre définition du portfolio (forme,
contenu), en fonction de son tempo, de son parcours, de ses préoccupations…
La fonction "miroir" rejoint ici la fonction "sonnet", dans un mouvement conjoint qui, par la
"mise en mots" et la "mise en scène" des concepts du domaine, met les stagiaires en situation
d'élaborer progressivement les trames conceptuelles orientant et organisant leur action, dans
une interaction permanente entre individuel et collectif, entre théorie orientée vers les
connaissances et empirie tournée vers la pratique. Par ce travail de transformation, se mobilise
et se renforce un espace commun préparant l'accès, à terme, à une culture de groupe,
commune et hétérogène, et favorisant l'intégration dans une communauté de connaissances38.
234
ce "point de vue directeur" que nous cherchons à cerner, comme caractéristique d'une volonté
et d'un essai de maîtrise dês éléments nécessaires aux "représentations" que sont les pratiques
d'éducation à l'information, objet de notre analyse.
L'étudier devrait permettre, à terme, de dégager un réseau de concepts éclairant
épistémologiquement l'éducation à l'information, même si dans un premier temps, il s'agit
davantage d'interroger les principes à l'œuvre dans la construction des discours, de décrypter
leur signification, et de donner des repères pour comprendre le sens des évolutions
perceptibles en cours de formation.
235
(classifications ; champ sémantique ; évaluation….) ; d'autres davantage centrées sur la
recherche d'informations dans ses composantes opératoires, et dans ce cas plutôt orientées
vers les technologies de l'information et les connaissances stratégiques relatives au
déroulement de la tâche40 ; d'autres plutôt soucieuses de connaissances rhétoriques relatives à
la documentation, articulant dans une même réflexion, les espaces documentaires, matériels et
symboliques41 ; d'autres encore, attentives aux questionnements épistémologiques, offrant un
cadre pour penser l'activité documentaire42 et se situer, de manière plus globale et distanciée,
en tant que professionnel de l'information-documentation.
Ces dimensions ne sont d'ailleurs pas exclusives l'une de l'autre ; derrière la complexité
des formes que peut prendre chaque portfolio, elles se combinent souvent en fonction des
moments et des contextes, mais les dominantes – et les concepts-clés – qui ressortent de ce
listage offrent un premier balisage de la "grammaire informationnelle" utilisée à l'entrée dans le
métier.
Objets singuliers et hétérogènes, les portfolios ne prennent cependant toute leur valeur
que lorsque leurs "points de vue directeurs" sont analysés dans leur évolution et leurs inter-
relations, en tension entre visée de cohérence et traitement de l'hétérogénéité.
Ainsi, du tissage des connaissances qui accompagne la mise en lien des informations,
émergent des îlots de savoirs, "îlots de rationalité" selon les mots de Gérard Fourez43, qui sont
autant de modèles simples présentant des scénarios possibles pour éclairer l'action, pertinents
dans certains contextes. Si toute théorisation inutile est évitée, le processus n'est pas figé,
restant ouvert aux approfondissements nécessaires, dans une logique de continuité plutôt que
de rupture.
Des évolutions sont ainsi perceptibles, dans la manière de penser les relations entre
concepts, activités, outils, culture(s). Alors qu'initialement le souci de maîtriser l'outil
documentaire et d'en favoriser une utilisation performante par l'élève est très présent, peu à
peu, le retour réflexif amène le stagiaire à se préoccuper, moins de poursuite de résultats, que
de construction de savoirs spécifiques. Au minimum, il s'attache à dépasser la démarche
opératoire, méthodologique, de l'élève "chercheur d'information", pour encourager un regard
critique et distancié. Au-delà, il peut chercher à "donner des armes" aux élèves, y compris
40
Denecker, Claire. Les compétences documentaires : des processus mentaux à l'utilisation de l'information. Presses
de l'Enssib, 2002, p. 133.
41
Béguin, Annette. Didactique ou pédagogie documentaire. Ecole des Lettres collège, juin 1996, n° spécial Quel CDI
voulez-vous ?, p. 49-64.
42
Fondin, Hubert. La "science de l'information et la documentation" ou les relations entre science et technique.
Documentaliste-Sciences de l'information, 2002, vol. 39, n° 3 [et] La conception et le fonctionnement du CDI, principes
et rôles. Inter-CDI, janvier 2006, n° 199, p. 6-11.
43
Fourez, Gérard. Apprivoiser l'épistémologie. De Boeck, 2004.
236
contre leur gré, pour leur permettre de développer leur propres algorithmes, de gérer
l'inattendu, l'incertitude, et avoir ainsi plus de prise sur leurs actions et leurs savoirs. Il peut
aussi, dépassant une approche critique de la technologie, et pratique de la recherche
d'information, essayer de penser techniques et savoirs comme des instruments théoriques dont
l'homme a besoin dans la société de l'information pour en appréhender la complexité. L'objectif
étant alors de favoriser une "vision du monde" qui permette de se situer et de repositionner son
action dans un ensemble (institution, société…)44.
Une autre manière de s'affranchir d'une approche techniciste, déterministe, de
l'éducation à l'information, est de considérer l'information, non comme un "objet", mais comme
une "relation", "unissant des sujets par l'intermédiaire des médiations matérielles et
intellectuelles"45. L'humain, l'esprit de partage, l'échange sont alors mis au premier plan,
amorçant toute une dynamique, de l'ordre de l'action, appelée à jouer un rôle essentiel dans le
processus de formation.
A l'épreuve du terrain, certaines thématiques reviennent de manière récurrente dans
les propos, comme celle du positionnement de l'information-documentation, entre transversalité
et autonomie des savoirs documentaires, à la recherche de solutions que n'apportent pas les
réponses théoriques partielles et insatisfaisantes des disciplines traditionnelles.
Certains outils intellectuels se trouvent également interrogés : remise en cause des
référentiels de compétences, cadrant souvent le travail au départ, puis mis à distance car
laissant peu de place aux heuristiques inventives des élèves, et en contradiction avec le
principe d'un processus global et de stratégies multiples d'information ; questionnement de
l'entrée par les concepts ou notions, de manière réticulaire46, difficile à réaliser pour les termes
à portée moins large que "document", "information", "validation"…
D'un portfolio à l'autre enfin, les processus de transformation qui interviennent, souvent
en décalage suivant l'avancée du travail, expriment davantage de convergences que de
différences, témoignant du fait que le choix de laisser une place à la créativité (fonction sonnet)
peut trouver sa limite dans les mises en commun et le travail d'accompagnement en IUFM, au
rôle involontairement égalisateur, si ce n'est modélisateur.
Pour conclure, nous soulignerons qu'en donnant à voir comment s'élaborent les trames
conceptuelles à partir desquelles est pensée l'éducation à l'information, le portfolio témoigne du
lien existant entre objet de formation et objet de recherche. Avec ce premier regard, quelques
44
Baltz, Claude. Culture informationnelle : définition, effets, enjeux, appropriation. Journée d'étude du 18 novembre
1997. ADBS, 1997.
45
Jeanneret, Yves. Forme, pratique et pouvoir, réflexion sur le cas de l'écriture. Sciences de la société, octobre 2004,
n° 63.
46
Marcillet, Frédérique. Le modèle de la recherche documentaire, dans sa progression linéaire permet-il d'acquérir une
culture du document ? Est-elle la seule à permettre son approche critique? Grenoble : CRDP, juin 2003.
http://www.crdp.ac-grenoble.fr/doc/activpeda/politiquedoc/index.htm
.
237
jalons ont pu être posés, faisant ressortir la nécessité d'investigations approfondies dans la
perspective de la clarification d'un champ de recherche en construction. Nous pointerons
cependant le risque que, sur la durée, en devenant un "objet commun", le portfolio ne change
de nature et perde ainsi sa dimension première qui est aussi sa richesse.
238
35 Fabricando edentidades - A problemática dos saberes da
escolarização
• João Paraskeva
[email protected]
35.1 Introdução
Quando pensava no que escrever para este encontro muitas coisas me passaram pela
cabeça. Lia na altura um escritor que me é muito querido, africano como eu, da mesma África
de identidades titubeantes como ele próprio denuncia incansavelmente. Sabia que na minha
escrita não podia deixar de situar a problemática do ‘e-portfolio’ (chamo-lhe desde já a nova
dança na pedagogia) (a) no amplo quadro das políticas neo-liberais – que em outro contexto,
mais desenvolvido denomino por neo-centristas radicais48 – (b) abrir neste quadro espaço para
retomar uma velha questão por mim trabalhada49 – e muito ignorada em Portugal – do ensino
doméstico e (c) a intricada questão – eternamente adiada – da relevância dos conteúdos
curriculares. Este texto percorre (retoma) assim velhos terrenos por mim calcorreados, mas vai
mais além e, não só situa a problemática do ‘e-learning’ na tensão ‘novas tecnologias vs velhas
desigualdades’, como também questiona a sua posição no amplo quadro daquilo que Mia
Couto denomina ‘desenvolvimentês’.
No que tange à educação, a nova Direita reitera que esta deve submeter-se a uma
reforma administrativa, curricular e pedagógica que privilegie a eficácia e a produtividade
optimizando os resultados educativos, numa estratégia em que o primado da gestão
239
educativa se sobrepõe e dilui o da democratização autêntica. Daí que se intensifiquem,
ainda que ao abrigo de retóricas de descentralização, participação e autonomia, os
controlos administrativos e fiscalizadores sobre o trabalho dos professores e alunos com o
intuito de aumentar a sua produtividade, assegurando-se assim, a eficácia nos resultados
de acordo com os ritmos específicos do mercado, até porque, como assinalam Ball, Bowe &
Gewirtz52, o mercado é um mecanismo que produz os seus próprios compassos e a sua
própria ordem. Para tal, e segundo Fernández53, muito naturalmente se sedimentou a
crença na qualidade e eficácia da gestão e resultados da iniciativa privada, conceitos estes,
que passam a estruturar as políticas educativas e curriculares, as instituições escolares, os
modelos e as práticas curriculares. Importa aqui levantar uma primeira reflexão: qual o papel
do ‘e-portfolio’ no seio da crença peregrina dos resultados?
Quer como cultura de antecipação (neo-liberalismo), quer como cultura de reacção (neo-
conservadorismo), a Nova Direita consegue diluir as suas contradições – por um lado, os
neo-conservadores mobilizam os argumentos da racionalidade economia neo-liberal com o
intuito de bloquearem a degradação dos valores tradicionais e da família e imporem
estandardes elevados, curricula e avaliações nacionais, por outro, os neo-liberais restringem
a escola à disciplina e regras do mercado colocando-o como árbitro da meritocracia social
capaz de (re)distribuir os recurso de acordo com esforço de cada um –, desacreditar a
viabilidade da educação pública e despolitizar a educação tornando-a num produto a ser
consumido de acordo com escolhas e opções específicas tal como tem vindo a acontecer,
em vários países, em finais do século XX. Assim, “ao abrigo das políticas das Nova Direita
as crianças são percebidas como um custo para o qual os pais têm responsabilidade, o seu
bem estar psicológico e físico é da responsabilidade dos pais e o seu futuro depende em
grande parte da capacidade dos pais terem ou não acesso a determinados recursos”54.
No âmbito da educação, e para além, tal como deixamos dito em outro contexto56, dos
planos “choice” e “charter”, emerge agora nos Estados Unidos da América, no Canadá, no
240
Reino Unido, na Austrália, na Nova Zelândia, no Japão e na África do Sul, o projecto
“homeschooling”, na linha estratégica de desmonopolização do Estado e de cristalização, das
reformas políticas capitalistas actualmente designadas, neo-liberais, e que têm contribuído para
que todos, tal como nos sugerem Althusser, Rancière & Macherey57, continuemos a ler ‘O
Capital’, como o quadro que teima ainda em descrever o real que nos rodeia diariamente com
todos os seus dramas e sonhos.
35.3 Http://www.curriculum.com
Na continuidade das políticas neo-liberais, cujo grande objectivo visa a construção de uma
nova ordem global58, inicia-se em 1991, nos Estados Unidos da América do Norte59, e em 1994
no Canadá60, mais uma reforma escolar – aliás profundamente estrutural – com a
implementação das “charter school”, entendida como um novo pulmão para a escola pública61,
que não se revelava eficaz no combate ao insucesso escolar.62 Segundo o AFT63, as reformas
“charter” visam diluir a crise de confiança e credibilidade que se instaurou no sistema público
de ensino, tornando as escolas mais inovadoras, mais responsáveis e objectivas nos seus
resultados, catalizadores e regeneradoras da melhoria do sistema público, criadoras de
melhores oportunidades profissionais para os professores64.
Para tal, assinala o documento65, as escolas “charter” devem fundamentar-se em níveis
académicos elevados e professores qualificados pautando-se por padrões de competitividade e
eficácia. Estas instituições são, na verdade, laboratórios onde se testam novas ideias, novos
métodos, onde se refinam novos modelos e estruturas de gestão. Assim, um dos mecanismos
de implantação do projecto neo-liberal no âmbito educacional nos Estados Unidos da América
do Norte, é as escolas “charter”, que, segundo Vanourek, Manno, Finn e Bierlein66, são o que
há de melhor, em termos de reforma educativa e curricular, para crianças com péssimas
experiências educativas, para as crianças em situação de risco e para evitar o abandono
escolar, uma vez que, se encontram estruturadas de acordo com os desejos dos professores,
alunos, pais e comunidade, têm elevados estandardes educacionais, classes pouco numerosas
e os professores sentem-se (re)dignificados. Ou seja, como assinalam os autores, as escolas
“charter” conseguem responder ao desejo de reforma e de credibilização do sistema público de
ensino injectando-lhe liberdade, escolha e prestação de contas conseguindo desta forma uma
educação melhor. Criou-se assim nos pais a sensação de que as escolas “charter” são a
“última chance de reformar a educação. Dito de outro modo, é fazer ou morrer”67.
Pelo que diz respeito à realidade portuguesa, e inserido no projecto de reforma neo-liberal,
assistimos hoje em dia ao novo modelo de gestão, previsto pelo Decreto-Lei n.º 115/A-98, de 4
de Maio, que estabelece os aspectos fundamentais para uma nova organização do sistema
educativo impondo assim o regime de autonomia68, administração e gestão da educação pré-
escolar e dos ensinos básico e secundário. Este novo modelo assente na autonomia e na
241
descentralização – baluartes da nova organização educativa que se quer fomentadora da
democracia, da igualdade de oportunidades e da qualidade – projecta para a escola um
envelope estrutural que compreende os seguintes órgãos: assembleia de escola, conselho
administrativo, conselho pedagógico e conselho/direcção executivo(a). É de acordo com este
novo modelo – que designamos novo envelope ou pacote organizacional - que irá acontecer o
que surge também previsto no Artigo 3º do referido Decreto-Lei: a autonomia da escola
traduzida num determinado projecto educativo, um regulamento interno e um plano anual de
actividades.
Todavia, e tal como já referimos anteriormente, uma outra reforma, na linha da lógica neo-
liberal, começa também a cristalizar-se com alguma solidez nos Estados Unidos da América,
no Canadá, no Reino Unido, na Austrália, na Nova Zelândia, no Japão e na África do Sul,
começando a inflamar outros pontos do globo, onde Portugal, certamente encontrará muitas
dificuldades em construir as suas imunidades. Referimo-nos ao “homeschooling”, um projecto
que surge como reacção à incapacidade demonstrada pelas instituições escolares, e que tem
contado com enorme adesão por parte dos pais, estando também a ser muito impulsionado por
movimentos religiosos. As origens do «homeschooling» remontam aos finais da década de 60,
com Raymond Moore e John Holt, representando um e outro perspectivas bem distintas que
viriam a ser determinantes nas duas grandes correntes que viriam a influenciar o movimento. O
primeiro muito ligado à direita religiosa e o segundo mais identificado com as dinâmicas da
contracultura levada a cabo pela esquerda. No entanto, seria em Maio de 1997, [altura em que
uma aluna – Rebecca Sealfon, de Nova York - do programa «homeschooling» ganhou pela
primeira vez, o “National Spelling Bee”, num concurso que envolvia 245 candidatos] que o
«homeschooling» seria transplantado definitivamente para a ribalta das políticas sociais, em
geral e educativas, em particular69. Moore e Holt revelam-se agastados com o declínio da
qualidade da educação. Para Holt, o que era mais importante na aprendizagem realizada em
casa para o crescimento da criança no mundo, não era porque a casa era melhor escola que a
escola, mas precisamente porque a casa não era, de todo, escola. Ou seja, a casa, local onde
se dava a aprendizagem não era um espaço artificial, montado propositadamente para
acontecer aprendizagem, e no qual não acontece mais nada a não ser aprendizagem. O lar é
sim uma instituição humana fundamental, natural, orgânica, central, o fundamento de todas as
outras instituições humanas”70. Holt criticava ainda o carácter compulsivo da escola,
entendendo-a como uma violação grosseira às liberdades individuais de cada um71.,
advogando uma reforma profunda no sistema escolar.
De acordo com Holt, a maior parte dos pais não se encontrava preparado para a encetar a
reforma de que o sistema necessitava Servindo-se da sua longa experiência como professor,
denuncia o facto de as escolas estarem a retardar a curiosidade natural das crianças72. Em
essência Holt, espraia toda a sua filosofia – aprender vivendo - , uma filosofia que viria a ser
caracterizada por «unschooling». Assim, o programa «homeschooling» implica por inerência
242
um «unschooling», ou seja, um claro contraste em relação ao que se passa nas escolas e que
de acordo com Fetteroll73, se circunscreve a cinco etapas, nomeadamente: (1) inicia-se com
uma atenção cuidada face os interesses da criança; (2) garantir que a criança tem
oportunidade de expandir os seus próprios interesses; (3) não deve existir uma preocupação
em criar uma criança educada mas que a criança aprenda por si própria; (4) Contrariamente
aos que aprendemos na escola [o conhecimento está guardado em livros e ler é a única
maneira de apreendê-lo], o conhecimento é livre. Estamos rodeados de conhecimento; (5) A
apreensão de conhecimento não se faz através de abordagens lineares. Assim, e segundo
Paine74, o «unschooling» implica retirar o processo de educação da escolarização, permitindo
que esta ocorra de uma forma natural, conduzida pelos interesses, paixões, necessidades,
desejos e crenças com o intuito de satisfazer objectivos imediatos ou mediatos. O essencial
deste género de aprendizagem é que ela se torna significativa para a criança. A aprendizagem
natural permite que o processo ocorra sem interferências, num determinado contexto social,
onde a criança não se encontra isolada do mundo de acções com significado. A aprendizagem
natural é muito similar ao «unschooling», segue apenas o senso comum, constroi-se a partir do
interior do próprio indivíduo, crescendo e procurando relações directas com o real. Daí que a
observação e a demonstração sejam palavras chave neste processo de aprendizagem.
No que tange aos Estados Unidos da América, mais concretamente no estado de
Wisconsin, e de acordo com a WPA75, o «homeschooling» [o termo referido na lei é “home-
based privatre educational program”], prescreve (1) a existência de 875 horas de instrução, que
poderão ocorrer durante um período de 175 dias, a um ritmo de 5 horas por dia. Os pais, ao
planificarem as etapas da aprendizagem, consideram as mais variadas maneiras através das
quais ocorrerá a instrução, ou seja, o projecto/programa privado de educação doméstica é
muito mais do que uma relação convencional de ensino [o professor fala e o aluno ouve],
podendo os alunos aprender através de uma variedade de mecanismos e estratégias,
nomeadamente jogos educacionais, filmes, videos, computadores, experiências práticas que
lhes permite a aprendizagem por descoberta, etc; (2) um currículo apoiado numa
sequencialidade progressiva, isto é, é necessário um projecto educativo em que os novos
conhecimentos se apoiem naquilo que o aluno já aprendeu; (3) o propósito principal do
programa é facultar uma educação privada religiosa; (4) o programa é privado. Segundo a
NHA76, [que tem como propósito advogar a escolha individual e liberdade na educação, servir
as famílias que escolhem o programa «homeschooling» e informar o público em geral a
respeito do programa «homeschooling»] o programa «homeschooling» é extremamente
positivo dado que não só fortalece as dinâmicas familiares e da comunidade, como também
providencia uma alternativa credível às escolas convencionais, poupa dinheiro ao contribuinte e
oferece perspectivas valiosas de aprendizagem e de educação:
243
“As pessoas nascem prontas a aprender. A aprendizagem envolve-nos a todos
diariamente. Viver e aprender não são actividades separadas. A aprendizagem não pode ser
restrita a um determinado tempo e espaço. Aprender é maravilhoso e poderoso de mais para
poder ser limitado apenas às escolas convencionais. As crianças necessitam de amor e de
apoio dos seus familiares e das comunidades, tal como os adultos. Ao longo dos tempos, as
famílias educam os filhos para serem adultos competentes e munidos de conhecimentos.
Basta os pais formularem o desejo de construírem um programa «homeschooling» para que
77
efectivamente tal desejo se concretize”.
244
menos esforço. Daí que, o «homeschooling» se revele um projecto de aprendizagem mais
agradável, “muito menos fastidioso que a escola pública dado que a aprendizagem acontece
com toda a naturalidade, não levando os jovens até à exaustão”. Mais, e “porque não é preciso
saber tudo para se ensinar”86, e porque “a melhor maneira de aprender é ensinar”87, o
«homeschooling» aceita como tutores, os pais, os irmãos mais velhos, até porque umas das
“grandes recompensas do projecto é que a aprendizagem acontece mutuamente no seio da
família88.
Tomando agora como exemplo o caso da Austrália, “o «homeschooling» surge também
como uma alternativa prática e de sucesso à educação baseada na escola, permitindo às
famílias escolher perante a abundância de materiais e abordagens educativas disponíveis,
seleccionando apenas aqueles elementos que entendem enquadrar-se nas características
individuais educativas da criança e nas necessidades educativas da família”89. Deste modo, as
famílias que “pretendem um maior controlo sobre a educação dos seus filhos assumem total
responsabilidade pelos programas de aprendizagem das suas crianças, ensinando-lhes em
casa”90. Na Austrália, o «homeschooling» consegue cativar a sensibilidade do cidadão graças a
um conjunto de factores, nomeadamente, a falta de confiança nas instituições educativas do
estado, perda de influência na determinação das agendas educativas, conflito entre os valores
difundidos pela escola e os da família, ausência de uma atenção individual às crianças com
necessidades educativas especiais, preocupação com a descida nos estandardes académicos,
preocupação com as influências negativas e danos provocados por nefastas socializações,
ausência de uma sólida educação espiritual91. Assim, o «homeschooling» apresenta
características muito distintas da educação ocorrida na escola, ou seja, os pais envolvem-se
directamente na educação dos seus filhos, com as mães a desempenharem o lugar de
professoras na maior parte dos casos, os programas de aprendizagem perdem a sua estrutura
formal assumindo um cariz muito mais informal, espontâneo, gerando experiências de
aprendizagem interessantes92.
Fundamentalmente o «homeschooling» consiste na educação em casa e não na escola93.
Destarte, o «homeschooling» é um projecto educativo familiar, onde cada família é um caso e
cada criança é um facto, daí que não existe uma única forma de concretizar a sua
implementação. Apesar de ser muito importante, partilhar o modo como outras famílias estão a
efectuar o seu projecto «homeschooling», cada família vale por si própria e deve construir o
seu próprio projecto curricular familiar que sirva os interesses e as necessidades da família.
Estamos perante um movimento que, tal como já deixamos atrás dito, tem como grandes
impulsionadores Moore e Holt. Ambos possuíam uma imagem muito forte nos Estados Unidos
da América, no entanto, nos inícios da década de 80 a direita religiosa viria a revelar-se como o
grupo dominante na liderança do projecto «homeschooling», alterando por completo a
verdadeira essência do movimento: de um movimento que emerge face à descrença
desmesurada nos trilhos que a escola perseguia, enquanto instituição pública, o
245
«homeschooling» viria a transformar-se numa estratégia de consolidação de valores e lógicas
conservadores, de cristalização dos valores religiosos, um espaço de segregação.
Paulatinamente, o pensamento de Holt se desvanece, ganhando robustez as dinâmicas
sugeridas por Moore e seus percursores. O ideal de Holt, o quadro social proposto por Illich94,
perverter-se-ia por completo, ao abrigo de uma fundamentação evidente: a crise da instituição
chamada escola. Esta estratégia de perversão de conceitos ou ideais, que em outro local e
relacionado com outras temáticas deixamos já denunciado como fazendo parte de uma das
muitas estratégias do projecto neo-liberal95, surge também denunciada por vários autores96,
para quem o sistema público de ensino se encontra em crise face ao desinvestimento
propositado de que tem sido vítima. De facto, e tal como salienta Torres Santomé, “a escola
sempre esteve e estará desajustada. Se olharmos para a história da educação não há ninguém
que diga que a escola está a cumprir aquilo que se lhe pede. Em nenhum momento da história.
E isso é uma característica particular da escola. No entanto, penso que actualmente os
desajustamentos são muito maiores, dado estarmos a atravessar um período de grandes
transformações, como é exemplo a revolução da informação”97. Mais, para o autor98, o acesso
à informação continua a ser um processo ferido de democracia. É neste contexto de crise que
se dá aquilo que Hall99 denunciou como a reformulação da direita, desenvolvendo esta,
estratégias políticas que implicam uma conivência aguda entre o(s) governo(s) e a economia e
que passam, pela criação de uma ideologia orgânica que tenta alargar-se a toda a sociedade e
que cria uma nova forma de vontade popular nacional, procurando intervir ao nível do senso
comum influenciando de um modo cada vez mais determinante a consciência prática das
pessoas. Assim, a crise e as situações de ruptura que as escolas têm enfrentado, prendem-se
com o estrangulamento paulatino [a quase todos os níveis] que têm vindo a viver, com o intuito
de descredebilizar o ensino público começando a despertar ao nível do senso comum, a noção
de que o é público é mau e o que é privado é bom100.
Tal como podemos constatar, tanto os projectos «charter school», quanto os programas
«homeschooling», impõem-se como ferramentas da estratégia neo-liberal que passa pela
diminuição progressiva, não só do poder, como também do papel social da escola, enquanto
instituição pública. Na verdade, se os projectos «charter school», devem ser percebidos como
a recredibilização da educação formal, os programas «homeschooling», dado que têm na
«world wide web» uma grande base de apoio, não só colocam em causa muitos dos princípios
mais elementares da educação pública, como ainda contribuem para a multiplicação dos
desequilíbrios sociais. Com efeito, e tal como assinala Torres Santomé, a internet, “é um canal
com todo o tipo e classe de informações”101 e o acesso à informação que veicula “depende
muito de como os professores procuram essa informação e a utilizam, e de como ensinam os
alunos a utilizá-la”102. Neste contexto um dos grandes objectivos de todos os projectos
educativos deve passar pela formação de “pessoas capacitadas para lutar pela democratização
e acesso à informação”, o que implica a assunção de uma perspectiva crítica da educação,
246
aprendendo a descobrir, não só o modo e as razões pelas quais se manipula determinada
informação, como também quem beneficia e quem sai prejudicado com a ocultação de tal
informação103.
No fundo, os programas «homeschooling» [tal como aliás o projecto «charter schools»]
continuam a encobrir o debate em torno da velha questão spenceriana “qual é o conhecimento
socialmente mais valioso?”104, dado que o currículo que veiculam continua ser uma poderosa
arma de segregação, construído na base de opções e selecções, garantindo a perpetuação da
ordem social estabelecida. E, já agora como se comporta o ‘e-portfolio’ e seus construtores na
contenda dos conteúdos da escolarização? Na verdade, e à semelhança do que acontecia na
educação formal, o currículo surge no projecto «homeschooling» como veículo privilegiado de
difusão de determinado padrão cultural que se fundamenta num constante silenciar das vozes
dos mais desfavorecidos, onde tanto o currículo quanto os manuais surgem [novamente] como
os grandes (re)configuradores das práticas educativas, anulando-se por completo o professor,
enquanto agente substantivo no processo educativo, numa estratégia que se tem apoiado na
falácia da tecnologia. Dito de outro modo, esperar que a tecnologia seja o mecanismo através
do qual a sociedade encontrará e fabricará patamares de igualdade é das mais ingénuas
ilusões. A «world wide web» se para muitos [e estamos aqui a falar, provavelmente, em
milhões] é um sonho, outros [e estamos também a falar de milhões105] nem fazem a mínima
ideia da sua existência. Estamos perante uma virtuarealidade inatingível para milhões e
milhões de pessoas. No entanto, construiu-se a noção falaciosa, ao nível do senso comum, de
que na «Web» todos somos iguais, precisamente porque todos temos acesso ao mesmo
estendal de informação. Na verdade, e sem o intuito de querer aqui realizar uma apologia à
escola tradicional, até porque nesta, tal como denuncia Gomes, “a esmagadora maioria tinha
[também] acesso ao insucesso”106, o facto é que, porque nos encontramos comprometidos na
luta por uma educação que transpire justiça social, nos cumpre o dever de problematizar
algumas das consequências do funeral antecipado da escola tradicional e do consequente
emergir de uma educação paralela mas sobretudo alternativa, expressa através da nova
escol@.
35.4 http://www.que.escola@?
De facto, a pergunta impõe-se. Se a educação convencional se revelou pouco expedita na
liderança da transformação social e na criação de uma sociedade mais justa, contribuindo para
o abrir de chagas sociais profundas, o facto é que o emergir de determinados movimentos
sociais que conseguem construir ao nível do senso comum a ideia [pervertida] de uma
sociedade sem escolas, deve de todo constituir motivo de profunda preocupação. O êxito do
projecto neo-liberal deve-se sobretudo à sua política de acção ao nível do senso comum – e
nisto, muito contribuíram, e têm ainda contribuído, os mídia - conseguindo fabricar
247
paulatinamente uma “Estadofobia” no cidadão comum, chegando-se a confundir conceitos
básicos que devem sedimentar qualquer sociedade, como por exemplo, o conceito de
instituições de bem público. A escola - tal como a saúde, água e electricidade, ao deixar de ser
monopólio do Estado - não deixa de ser um bem público, e será sempre nessa base que deve
estar o objecto da sua dialéctica, tal como aliás, o faz o mercado. Assim, e para além da
perversão de determinados conceitos que consubstanciam os argumentos do projecto neo-
liberal [inovação, democracia, autonomia curricular, eficácia, estandardes, diversidade,
privatização, qualidade], importa também considerar outras questões.
Em primeiro lugar a problemática do conhecimento. O programa «homeschooling», tal como
a educação convencional insere-se na linha de «dogmatização» do conhecimento a ser
difundido. É neste contexto que entendemos que o projecto neo-liberal é tão maligno quanto as
crises do padrão pós-moderno gerando, segundo Pérez Gomez107, uma ambiguidade que
deriva da matriz sócio económica do mercado e que se caracteriza pelos seguintes aspectos: a
promoção paradoxal do individualismo exacerbado e da conformação social; ecletismo acrítico
e imoral expresso num pensamento único e débil; individualização e debilitação da autoridade;
importância transcendental da informação como fonte de poder; obsessão pela eficácia como
objectivo prioritário da vida social; mito da ciência; concepção ahistórica da realidade; império
do efémero num paraíso de mutações constantes; a urgência e consolidação de movimentos
alternativos. O projecto neo-liberal, mais do que adiar a reforma dos conteúdos, mais do que
hipotecar a problematização do conhecimento a ser ministrado, delimita o campo em que essa
análise acontece. Assim, tanto o conhecimento, quanto as formas de experiência mais valiosas
para os alunos108, continuam a ser representações conseguidas e extraídas nos limites
[máximos] impostos. De que forma se intromete o ‘e-portfolio’ na desconstrução dos saberes
da escolarização?
A problemática do conhecimento não se consegue discernir com base em reformas lineares
e simplistas. O projecto neo-liberal, por conveniência não consegue criar espaço [natural] para
uma discussão aberta e salutar sobre o conhecimento socialmente válido, porventura a génese
de toda a problemática educacional e isto porque, como assinala Boomer et al109, em essência
esta polémica assenta em três aspectos cruciais intimamente relacionados: um sistema
educativo, que de um modo geral – sobretudo em quase todos os países ocidentais – se
caracteriza por uma subordinação face aos mitos educacionais da sociedade (dignificados e
convertidos em teorias nas universidades); os professores sujeitam-se aos mitos do sistema
(rarefazem os mitos em programas curriculares, manuais, testes estandardizados e exames
públicos); e os alunos sujeitam-se aos professores que coreografam todos os mitos em
disciplinas, cada género educacional com os seus próprios rituais, linguagem, sequências e
ambientes e cada um com o seus próprio valor (por exemplo, a física clássica, vale muito mais,
em termos sociais, que arte popular ou o "punk rock", ou ainda a educação sexual).
248
Outra questão de fundo despoletada pelo programa «homeschooling» e que requer alguma
atenção é a socialização. Pese embora, e de acordo com Ray110, as crianças inseridas no
programa «homeschooling» apresentem índices de ajustamento emocional e social muito
superiores às restantes crianças inseridas nas escolas convencionais, o facto é que este
programa conduz no limite à «coocoonização» da criança, fazendo-a crescer num mundo que
se assume como parco de ferramentas para a compreensão do real que o circunda. No
entanto, retenha-se que para os defensores do programa «homeschooling» a problemática da
socialização é precisamente o grande motivo para as crianças não irem à escola. Nas palavras
de Bunday111, a questão da socialização tem sido indevidamente levantada por alguns
investigadores, dado que vários estudos revelam que os índices de autoestima das crianças
inseridas no programa «homeschooling» é superior ao das crianças inseridas na educação
convencional, destacando que o programa «homeschooling» não afecta socialmente as
crianças. No entanto, embora a família possua argumentos necessários para o
desenvolvimento lúcido da criança, o facto é que tais utensílios não são de modo algum
suficientes para que a criança possa interpretar convenientemente o real, actuando como um
agente de transformação social. Além do mais, o espírito de partilha na aprendizagem
acontece num território muito reduzido, e contrariamente ao que acontecia na educação
convencional, onde a criança cedo se apercebia como um entre muitos outros, o programa
«homeschooling» ignora por completo a importância desta dimensão social criando uma
relação cataléptica entre a criança e o social. Além do mais, o programa «homeschooling»
parece-nos sofredor de um dos sintomas que abalavam a educação convencional, que é o
facto de a aprendizagem se constituir só como um exercício futuro.
Finalmente a questão do professor. A descredibilização do sistema público de ensino
passou muito pela imagem que se foi construindo em torno da pessoa do professor. Nas
palavras de Nóvoa, na viragem deste milénio, a classe docente deambula por entre quatro
grandes questões, nomeadamente: “do excesso da retórica política e dos mass-media à
pobreza das políticas educativas; do excesso das linguagens dos especialistas internacionais à
pobreza dos programas de formação de professores; do excesso do discurso científico-
educacional à pobreza das práticas pedagógicas; do excesso das «vozes» dos professores à
pobreza das práticas associativas docentes”112. O programa «homeschooling» é o culminar a
fragilização da classe docente dado que a esta classe se imputam culpas pela crise de sucesso
que vivem as escolas. Trivializou-se a profissão Professor. Frequentemente o professor,
enquanto classe profissional, surge na lista de profissões que correm um sério risco de
extinção. A sociedade ao acusar a escola [mais precisamente a educação convencional] de
incapacidade de resposta face às crises sociais, atinge também os professores uma vez que
entende serem eles os grandes culpados, por exemplo, dos níveis medíocres de qualidade a
que se tem assistido. No entanto, o professor é apenas um espelho da sociedade em que se
insere e, em essência, é a imagem da formação que lhe ministram. Daí que a (falta de)
249
coragem política que tem sido exibida em não mexer convenientemente, tanto na formação
inicial, quanto na formação contínua de professores, deve também ser entendida como parte
integrante da estratégia de descredibilização do sistema público de educação. Na verdade, o
programa «homeschooling» coloca em causa o professor dado que consegue criar legitimidade
para construir um projecto educativo cuja operacionalização se dá à margem do professor.
Em qualquer dos exemplos apresentados constatamos que os aspectos substantivos das
políticas educativas deixam de ser planificados de acordo com as necessidades do indivíduo e
passam a submeter-se não só aos critérios de escolha, por parte dos pais como também às
tomadas de decisão do mercado. Constrói-se um mundo com base em classes com eficaz
poder de escolha e de aquisição113 sob a batuta do mercado que quer deixar transparecer que
é politicamente descomprometido. Em essência, os programas de escolha educacional
[projecto «charter schools», programas «homeschooling»], crucias no projecto de reforma neo-
liberal, impõem um processo apoiado na construção de uma identidade própria (no caso
português através da elaboração de um projecto de escola) dando expressão à sua autonomia,
que mais não é do que uma crença na conversão do Estado em Estado mínimo114 e uma fé
profunda na matriz do mercado que consegue criar, ao nível do senso comum, uma
recodificação perigosa dos discursos e das práticas educativas e curriculares. Com efeito, se a
velha educação convencional se revelou sempre como um projecto social ferido de justiça,
arrepiando quotidianamente mais do que a verdade, as vozes dos mais desfavorecidos, o facto
é que é com grande preocupação que assistimos à implementação e cristalização de mais uma
reforma – os programas «homeschooling» - que pese embora surja como consequência da
crise da educação convencional, não só coloca em causa baluartes essenciais da civilização
humana, nomeadamente a escola, como continua a adiar intencionalmente a problematização
em torno do conhecimento que deve constituir o projecto educacional de uma determinada
sociedade. Na verdade, se a educação convencional provocou uma crise profunda, até porque
tal como salienta Gomes só “a poeira do tempo não nos permite distinguir já, lucidamente,
aqueles que foram ficando cobertos pelo musgo do insucesso”, adiantando que “os que teriam,
em princípio algum sucesso, pelo menos escolar, seriam «nosso tempo» uns «happy few»”115,
a educação alternativa emergente – mais concretamente os programas «homeschooling» -
fundamentada numa plataforma outra de socialização, veiculada fundamentalmente pela
«world wide web» incorre das mesmas «travestizações» do conhecimento. De uma escola que
sempre teve na carteira e na ardósia, os ícones identificativos de um espaço muito próprio e
inconfundível, através do qual aluno e professor interagiam, assistimos paulatinamente ao
emergir de uma noção alternativa à ideia de escola, que tem no lar o território por excelência e
em que a virtualidade da «web» quase que se prepara para a extrema-unção não só do quadro
de sala de aulas, como também da própria classe docente, e que no fundo, adultera
determinados princípios que até então se encontravam confinados à escola, nomeadamente, “a
função socializadora, instrutiva e educativa”116. De uma sala de aulas tida “como santuário dos
250
professores”117, caracterizada como um espaço “sacrosanto”118, um “elemento central na
cultura escolar”119, emerge um espaço diferente, onde o protagosnismo do professor se
esvanece, até porque se esvazia, por completo, o seu sentido social. Daí que, muito
naturalmente, e com toda a justificada preocupação, se imponha a questão: que escol@?
Não há uma fórmula única para qualquer reforma que se pretenda efectuar no sistema
educativo. No entanto isto não impede a certeza de algumas convicções pelo qual todo e
qualquer processo de reforma se deve nortear, nomeadamente; a reforma deve basear-se num
compromisso pela igualdade; na defesa de níveis elevados a serem atingidos por todos os
alunos; no reconhecimento das reais necessidades da sala de aula, centrando-se nas
verdadeiras necessidades de alunos e de professores; deve envolver parcerias entre alunos,
professores, pais e comunidade; perspectivar o currículo como um continuum de tomadas de
decisão; na melhoria da formação profissional dos professores; deve criar condições para a
colegialidade e inovação; na reforma da administração; na assunção e na defesa da escola
como um bem público; na reformulação não só da forma mas também dos conteúdos
escolares; na diversidade cultural existente; na coragem de manter o que está bem e melhorar
apenas o que está mal; num processo participativo; na luta pela defesa de um padrão cultural e
ideológico comum mínimo que crie espaço à alteridade. Ora, é precisamente isto que as
soluções avançadas pelo projecto neo-liberal não conseguem fazer. Mais do que ignorar a
escola como um envelope social que tem uma matriz muito mais alargada do que a que nos é
fornecida pela racionalidade económica, tentam por completo anular a própria ideia de escola.
A escola surge, no fundo como a grande culpada das crises sociais. Ora, a reforma do sistema
educativo não pode assentar apenas na desmonopolização do papel do Estado e na
subjugação da educação ao mercado, continuando por se discutir uma questão ancestral que,
pela sua complexidade se persiste em adiar: qual o conhecimento mais valioso a ser veiculado
pela educação?
Se «privatizar» fosse a solução, a educação teria sido sempre um bem público sem nunca
terem sido públicas e provavelmente hoje estaríamos numa outra plataforma de
problematização. No entanto, continuamos ainda a lutar por uma educação justa e igual,
atributos aliás, que não são visíveis no projecto neo-liberal120, numa altura em que assistimos a
uma tentativa de monopolização do monopólio ou, dito de outro modo, à mercadorização de
instituições. Independentemente da sua fundamentação social, económica, cultural, política,
ideológica e religiosa a educação deverá ser sempre um propósito público ou então, estará
[sempre] em causa a própria essência da democracia. No entanto, ao abrigo do projecto neo-
251
liberal, embora as escolas sejam potencialmente espaços viáveis para a consecução da prática
democrática, o facto é que os seus processos e resultados têm reproduzido e difundido
padrões de desigualdade e injustiça social que se haviam proposto atenuar, na base de uma
reconversão de determinados conceitos que se vão paulatinamente sedimentando ao nível do
senso comum.
Não poderá ser a virtualidade a resolver algo que, de todo, não tem nada de virtual. Pelo
contrário, desigualdade e injustiça sociais é bem real e tem sido o mote impulsionador de
muitas das conturbações sociais. Esta educação alternativa é um estrugido social mais
perigoso que o anterior, até porque assenta num pressuposto erroneamente interpretado da
tecnologia. Tal como assinala Noble121, criou-se uma redoma falaciosa em torno do verdadeiro
propósito e natureza da tecnologia:
“Na nossa sociedade, a tecnologia é vista como um processo autónomo. É algo constituído
e visto à margem de tudo como se tivesse vida própria, independente das intenções sociais,
poder e privilégio. Examinamos a tecnologia como se fosse algo que mudasse constantemente,
e que constantemente provoca alterações profundas na vida das escolas. Decerto que isto é
parcialmente verdade. No entanto, se nos debruçarmos sobre o que mudou e sobre o que tem
vindo a mudar podemos incorrer no erro de não questionar quais as relações que permanecem
inalteráveis. De entre estas, as mais importantes são as desigualdades económicas e culturais
que dominam a nossa sociedade”.
A tecnologia, que cria o berço da valência social da «world wide web» não pode ser vista
como uma mera soma de «hardware» e «software». De facto é muito mais do que isto. De
acordo com Woodward122 a tecnologia “corporiza uma forma de pensamento que orienta a
pessoa para uma abordagem muito específica do mundo. Ou seja, a forja do conhecimento
através dos computadores envolve formas de pensamento, que de acordo com a actual
condição do campo educacional são essencialmente técnicas. A perversão da solução (ou das
soluções) para a crise que se vive na educação, levada a acabo pelo projecto social neoliberal,
passa também pela intencional perversão das potencialidades da tecnologia, até porque ao
abrigo desta até a verdadeira noção de escola perde sentido social.
Há cerca de um século o mais proeminente discípulo de Dewey, Kilpatrick, denunciava que
uma nova palavra – projecto - havia batido à porta da educação nos Estados Unidos e
questionava se a deveríamos deixar entrar ou não. As palavras de Kilpatrick123 merecem ser
destacadas:
252
à palavra proposta - e aguardando pelo seu baptismo -, uma noção, um conceito válido, que
prometa prestar um serviço apreciável ao pensamento da Educação? (2) Será que o termo
‘projecto’ designa precisamente o conceito que dele se espera? Uma vez que a pergunta
relativa ao conceito e ao seu valor é tão ou mais significativa do que qualquer mera questão
terminológica, esta discussão tratará exclusivamente a primeira das duas interrogações”
Exposto o escrito, importa assim questionar com Kilpatrick, e tendo em consideração o que
até aqui temos vindo a analisar, se (1) ‘haverá, subjacente à palavra ‘e-portfolio’ uma noção,
um conceito válido, que prometa prestar um serviço apreciável’ à teoria e práticas da
escolarização e (2) será que o termo ‘e-portfolio’ designa precisamente o conceito (e já agora a
prática) que dele se espera?’ Couto mostra-nos uma rota possível. Preocupado com o facto de
estarmos a ceder “à tentação de olhar a tecnologia como solução global para os nossos
múltiplos males [em que] muitos de nós acreditamos que é a técnica que nos vai salvar da
miséria”124 Entendo o ‘e-portfolio’ no amplo quadro de uma sociedade, cada vez mais, afogada
em ‘webatitudes’, Couto não só critica “a grande tentação de hoje reduzirmos os assuntos à
sua dimensão linguística”125, como ainda desafia os ‘sujeitos da modernidade’ a olharem para a
“web como uma rede, mas também como uma teia”, uma teia em que “voluntariamente
aderimos [e] seremos aranha se tivermos estratégia[;] seremos mosca se nos mantivermos
pensando com a cabeça dos outros”126. Sendo o currículo produção de identidades, importa
perceber como, por exemplo, o ‘e-portfolio’ se intrometerá na construção de tais identidades.
Se conseguir ajudar a compreender “um passado que foi mal embalado e que nos chega
deformado, um presente que vem vestido de roupa emprestada e um futuro que nos chega
encomendado por interesses que nos são alheios’, conseguiu muito. No fundo, importa
perceber como esta ‘nova-tecnologia’ vai lidar com ‘velhas desigualdades’, tantas delas
multiplicadas por aquilo que Macedo denomina por ‘pedagogia das grandes mentiras’127
35.6 Notas
253
48
Paraskeva, J. (2006) (org) Currículo e Multiculturalismo. Lisboa: Edições Pedago.
49
Paraskeva, J. (2003) Desescolarização: Genotexto e Fenotexto das Políticas Curriculares Neoliberais. In J. Torres
Santomé, J. Paraskeva e M. Apple. Ventos de Desescolarização: A Nova Ameaça à Escolarização Pública. Lisboa:
Editora Plátano, pp., 57-115..
5050
Torres Santomé, J. (1997). Sistema escolar y atención a la diversidad: la lucha contra la exclusión. In J. Gimeno
Sacristán; A. Pérez Gomez; J. Torres Santomé; F. Angulo Rasco; M. López Melero e M. Guerra. Escuela pública y
sociedad neoliberal. IX Jornadas de formacion del profesorado. Málaga.
51
Eagleton, T. (1999). Burke e a benevolência. In M. Filomena Louro et al (orgs). Inquérito à modernidade. Centro de
Estudos Humanísticos: Universidade do Minho, pp., 119-127, p., 121.
52
Ball, S; Bowe, R., e Gewirtz, S. (1994). Market forces and parental choice: self-interest and competitive advantage in
education. In S. Tomlinson (Ed.) Educational reform and its consequences. London: Rivers Oram Press.,pp., 13- 25.
53
Fernández, M. (1997). Introducción. Escuela pública y atenciín a la diversidade. In J. Gimeno Sacristán; A. Pérez
Gomez; J. Torres Santomé; F. Angulo Rasco; M. López Melero e M. Guerra. Escuela pública y sociedad neoliberal. IX
Jornadas de formacion del profesorado. Málaga.
54
Atwool, N. (1999) New Zealand children in the 1990s: beneficiaries of new right economic policy? Children & Society,
nº 13, pp., 380-393, p., 387.
55
Marques, R. (1999).Currículo nacional e autonomia curricular: os modelos de E.D. Hirsh e Ted Sizer. In Investigar e
formar em educação. IV Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, Volume 1, Aveiro:
Universidade de Aveiro, pp., 27-43., p., 33.
56
Paraskeva, J. (2000) Projecto neo-liberal: a (re)codificação do discurso e das práticas curriculares. Comunicação
apresentada no V Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. O particular e o global no virar do
milénio. Algarve: Universidade do Algarve
57
Althusser, L., Rancière, J., & Macherey, P. (1979) Ler o Capital, Volume 1. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
58
A este respeito viria a propósito consultar a obra de Chomsky, N. (1999) Profit over people. Neoliberalism and global
order. New York: Seven Stories Press.
59
A primeira “charter school” surge no estado de Minesota, em 1991 (St. Paul’s City Academy) criada pelos próprios
professores. que sentiam que a educação tradicional não se revelava eficaz no combate ao insucesso escolar.
60
Canada’s Charter Schools: Initial Report. (1998). The Society for the Advancement of Excellence in Education.
Alberta: Canadá. Segundo o documento, a primeira legislação surge em 1994, no estado de Alberta. Ainda de acordo
com o “Canada’s Charter School: Initial Report” as escolas “charter” são autónomas e destinadas a realizar inovações
no domínio organizativo e curricular com o intuito de melhorarem a aprendizagem dos alunos. No entanto, assinala o
mesmo documento que, a eficácia destas escolas depende fundamentalmente do clima regulador e da assistência
técnica que é da responsabilidade do governo.
61
Manno, B., Finn, C., Bierlein, L. e Vanourek, G. (1998) Charter Schools: Accomplishments and dilemmas. Teachers
College Record. Vol. 99, nº 3, 537-558.
62
A national study of charter schools: executive summary (1998). Office of Educational Research and Improvment.
Washington, D.C.: United States Department of Education.
63
AFT Report of Charter Schools Reseacrh Project. (1997) Washington, D.C.: United States Department of Education.
64
Cf: Paraskeva, J. (2000) Projecto neo-liberal: a (re)codificação do discurso e das práticas curriculares. Comunicação
apresentada no V Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. O particular e o global no virar do
milénio. Algarve: Universidade do Algarve
65
AFT Report of Charter Schools Research Project. (1997) Washington, D.C.: United States Department of Education.
De acordo com estudos publicados pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos da América do Norte
constatamos que das 800 “charter school’s” que se encontram em funcionamento, cerca de 60% surgiram de raiz tendo
como principais impulsionadores, os professores – que se opõem, à burocracia vigente e ao modelo tradicional de
ensino e entendem poder realizar projectos na educação de uma forma diferente -; os pais – que insatisfeitos com o
sistema escolar lutam por uma melhor escola para os seus filhos – e organizações comunitárias sem fins lucrativos que
defendem um processo educativo que ministre mais destrezas técnicas e experiência. Com base em inquéritos
realizados, o Departamento de Educação dos Estados Unidos da América do Norte apurou 19 categorias sobre a razão
pela qual eram fundadas as escolas “charter”: (1) a concretização de um ideal educativo; (2) maior autonomia sobre as
questões organizacionais e governamentais; (3) servir uma população específica; (4) questões económicas; (5)
conseguir o envolvimento e o compromisso dos pais; (6) atrair os alunos e os pais.
66
Vanourek, G., Manno, B., Finn, C., e Bierlein, L. (1997). Charter Schools in Action Project. Final Report, Part 1.
Charter Schools as seen by those who know them best: Hudson: Hudson Institute.
67
Vanourek, G., Manno, B., Finn, C., & Bierlein, L. (1997). Charter Schools in Action Project. Final Report, Part 2. The
birth pains and life cicles of charter schools: Hudson: Hudson Institute.
68
A este propósito seria útil cf: Morgado, J. (2000) A (des)construção da autonomia curricular: Porto: Asa; Paraskeva,
J. & Morgado (1998) Autonomia curricular: uma nova ferramenta ideológica. In J. Pacheco, J. Paraskeva e A. Silva
(orgs.) Reflexão e Inovação Curricular. Braga: Universidade do Minho, pp., 107-126.
69
Lyman, I. (1998) Homeschooling. Back to the future? Policy Analysis, nº 294., p., 1-13.
70
Holt, J. (1981) Teach your own. New York: Delacorte, p., 21.
71
Holt, J. (1981) Teach your own. New York: Delacorte, p., 21.
72
Holt, J. (1964) How children fail. New York: Pitman
73
Fetteroll, J (2000) Five steps to unschooling. Home Education Magazine, pp., 1-3, pp., 2-3.
74
Paine, B. (2000), Deschooling, unschooling and natural learning, Homeschooling Today
http://www.adelaide.net.au/~rnbpaine/natural.html
254
75
The Wisconsin Parents Association. Homeschooling in Wisconsin. At home learning. Wisconsin: Wisconsin Parents
Association.
76
National Homeschool Association. Mission Statement. Homeschooling families: ready for the next decade. New York:
National Homeschool Association. http://www.n-h-a.org/nha.html.
77
National Homeschool Association. Mission Statement. Homeschooling families: ready for the next decade. New York:
National Homeschool Association. http://www.n-h-a.org/nha.html, p., 2.
78
Lines, P. (1997) Homeschooling: An overview for educational policymakers. United States Department of Education
Working Paper, p., 4.
79
Home School Legal Defense Association.(2000) The home school report. http://www.leah.org/hslda.html
80
National Home Education Research Institute at http://www.nheri.org.
81
Ray, B. (1996) National Home education Research Institute, at http://www.nheri.org.
82
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/.
83
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
84
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
85
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
86
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
87
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
88
Alberta Home Education Association. How to start Home Schooling. Wysiwyg://13/http://www.abhome-ed.org/, p., 1.
89
Home School Today. Looking for an alternative to school based education? Teach your children at home!
http://www.adelaide.net.au/~rnbpaine/homescho.html, p., 1
90
Home School Today. Looking for an alternative to school based education? Teach your children at home!
http://www.adelaide.net.au/~rnbpaine/homescho.html, p., 1
91
Home School Today. Reasons for homeschooling. http://www.adelaide.net.au/~rnbpaine/homescho.html, p., 1
92
Home School Today. Characteristics of homeschooling. http://www.adelaide.net.au/~rnbpaine/homescho.html, p., 1
93
Lines, P. (1993) Homeschooling: Private choices and public obligations. Washington: United State Department of
Education, Office Research.
94
Illich, I. (1985) Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes
95
Paraskeva, J. (2000) Projecto neo-liberal: a (re)codificação do discurso e das práticas curriculares. Comunicação
apresentada no V Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. O particular e o global no virar do
milénio. Algarve: Universidade do Algarve.
96
A título de exemplo vide: Apple, M. (1996) Cultural Politics and education. New York: Teachers College; Apple, M.
(1998) Education and new hegemonic blocs: doing policy the "right" way. International Studies in Sociology of
Education, Vol. 8, nº 2, 181-200; Apple, M. (1999) Power, meaning and identity. New York: Peter Lang
97
Torres Santomé, J. (20000) Jurjo Torres Santomé em Entrevista a “a Página”. Jornal a Página da Educação, nº 87,
p., 11.
98
Torres Santomé, J. (20000) Jurjo Torres Santomé em Entrevista a “a Página”. Jornal a Página da Educação, nº 87,
p., 11.
99
Hall, S.(1980) Popular democratic vs authoritarian populist: two ways of talking democracy seriously. In A. Hunt (ed).
Marxism and democracy. London: Lawrence and Wishart.
100
Apple, M. (1996) Cultural Politics and Education. New York: Teachers College Press; Apple, M. (1998) Education
and new hegemonic blocs: doing policy the 'right' way. International Studies in Sociology of Education, Vol. 8, nº 2, 181-
200.
101
Torres Santomé, J. (20000) Jurjo Torres Santomé em Entrevista a “a Página”. Jornal a Página da Educação, nº 87,
p., 11
102
Torres Santomé, J. (20000) Jurjo Torres Santomé em Entrevista a “a Página”. Jornal a Página da Educação, nº 87,
p., 11
103
Torres Santomé, J. (20000) Jurjo Torres Santomé em Entrevista a “a Página”. Jornal a Página da Educação, nº 87,
p., 11
104104
Spencer, H. (1902) Education: Intelectual, Moral and Physical. London: Williams and Norgate, p., 39.
105
A este respeito, lembremo-nos das crianças de Angola, ou das de Timor, ou das da Eritréia, ou das da Somália
106
Gomes, A. (1990) Pressupostos que fundamentam a formação dos professores de português. Revista Portuguesa
de Educação, 3 (3) pp., 45-49, p., 47. [o parênteses recto é meu].
107
Pérez Goméz, A. (1997). La socialización postmoderrna y la función educativa de la escuela. In J. Gimeno
Sacristán; A. Pérez Gomez; J. Torres Santomé; F. Angulo Rasco; M. López Melero e M. Guerra. Escuela pública y
sociedad neoliberal. IX Jornadas de formacion del profesorado. Málaga.
108
Beyer, L. & Liston, D. (1996). Curriculum in conflict. Social visions, educational agendas and progressive school
reform. New York: Teachers College Press.
109
Boomer, G; Lester, N.; Onore, C, & Cook, J. (1992). Negotiation the curriculum. London: The Falmer Press, p. 5.
110
Ray, B. (1999) Home Schooling on the Threshold: A Survey of Research at the Dawn of the New Millennium.
National Home Education Research Institute.
111
Bunday, K (1999) Socalization: a great reason not to go to school. Learn in Freedom, pp., 1-3.
112
Nóvoa, A. (1999)Os professors na virada do milénio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Conferência
proferida na Universidade de S. Paulo. Brasil, (policopiado).
113
Honderich, T. (1990) Conservantism. London: Hamish Hamilton.
114
Gimeno, J. (1997) Gimeno, J. (1997). La educación publica: cómo lo necesario puede devenor en desfasado. In J.
Gimeno Sacristán; A. Pérez Gomez; J. Torres Santomé; F. Angulo Rasco; M. López Melero e M. Guerra. Escuela
pública y sociedad neoliberal. IX Jornadas de formacion del profesorado. Málaga.
255
115
Gomes, A. (1990) Pressupostos que fundamentam a formação dos professores de português. Revista Portuguesa
de Educação, 3 (3) pp., 45-49, p., 47.
116
Pérez Gómez, A. (1998) La cultura escolar en la sociedade neoliberal. Madrid: Morata, pp., 255-260.
117
Bullough, R. (1987) Accomodation and tension: teachers, teacher role and the culture of the teacher. In J. Smith (ed)
Educating teachers. Changing the nature of pedagogical knowledge. London: The Falmer Press, p., 92.
118
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