Noções de Bioética
Noções de Bioética
Noções de Bioética
O vocábulo “bioética” foi empregado pela primeira vez em 1927, por um pastor
protestante, filósofo e educador chamado Fritz Jahr (1895-1953). Ele publicou
um artigo intitulado “Bioética: uma análise da relação de ética para humanos,
animais e plantas” – a ética, portanto, aplicada a todos os seres vivos.
Potter, como oncologista que era, chegou à conclusão de que o câncer não era
apenas uma enfermidade física, mas a manifestação das ameaças do
ambiente. Sentiu, então, necessidade de criar um novo campo de atuação ética
e de pesquisa, que tivesse conteúdo ecológico o bastante para se preocupar
com a sobrevivência da espécie humana. E usou o termo “bioética” para essa
nova “ciência da sobrevivência”, que mais tarde chamou de “bioética global”.
Ainda em 1970, o termo “bioética” foi usado, em língua inglesa, por Hellegers,
em estudos sobre reprodução humana, mas foi com Reich, organizador da
Encyclopedia of Bioethics, que o termo passou a ser usado definitivamente.
Para ele, a “Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais – incluindo
visão moral, decisões, conduta e políticas – das ciências da vida e atenção à
saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário
interdisciplinar [...]”.
BIOÉTICA E MORAL
A moral depende dos valores de cada grupo social, e, por isso, tanto pode ser
diferente no mesmo período em sociedades distintas, como em períodos
distintos na mesma sociedade. A moral muda no tempo e no espaço e orienta a
conduta dos indivíduos de uma sociedade específica. Existe, então, a moral
burguesa, a moral cristã, etc. Por conseguinte, para que se possa conhecer a
diversidade de valores presentes na sociedade, a moralidade humana deve ser
enfocada no contexto histórico e social.
A ética faz a reflexão e/ou o juízo crítico sobre os valores que geralmente estão
em conflito, para poder optar de forma adequada e responsável. Essa opção
exige, como condição fundamental, a liberdade. Para que a liberdade não
perca seu verdadeiro sentido, é indispensável que cada ser, antes de optar,
esteja despido de qualquer tipo de preconceito, coação, coerção, falsidade ou
sectarismo, para que o exercício da ética seja pleno e faça vir à tona a razão, a
emoção, o sentimento, o patrimônio genético e os valores morais. É por isso
que todo exercício ético provoca uma evolução da cidadania.
A bioética, por ser uma ética prática, quer acabar de vez com os conflitos. Para
isso, tenta modificar a maneira de abordar os problemas e acaba por acarretar
uma transformação da própria vida.
BIOÉTICA: MULTI, INTER E TRANSDISCIPLINAR
A interdisciplinaridade requer:
• interação de pessoas;
• troca de saberes e opiniões;
• uma linguagem comum;
• objetivos comuns;
• reconhecimento da necessidade de considerar as diferenças existentes;
• domínio dos conteúdos específicos de cada um dos participantes; e
• elaboração de uma síntese complementar.
NASCIMENTO DA BIOÉTICA
O Código deu, ainda, liberdade ao sujeito da pesquisa com seres humanos de,
a qualquer instante, poder desistir do experimento. Assim, estabeleceu a
condição de liberdade e soberania do ser humano, com rejeição do ato de
tortura. Esse código foi tão importante que, no ano seguinte (1948), a
Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
O Código de Nuremberg foi revisto e transformado na Declaração de
Helsinque, que foi depois atualizada por assembleias médicas mundiais no
Japão (1975), em Veneza (1983), em Hong Kong (1989) e em Somerset West,
na África do Sul (1996). O Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque
inspiraram o Belmont Report, ou Relatório Belmont, que tem esse nome por ter
surgido no Centro de Convenções Belmont, em Elkridge, estado de Maryland,
Estados Unidos.
CRÍTICA AO PRINCIPIALISMO
Inicialmente, a teoria dos princípios foi bem aceita, por não se opor à teoria das
virtudes de Aristóteles: “[...] todo ser humano quer prosperar, e para isso só há
o caminho da virtude [...]”.
A teoria dos princípios veio perdendo força diante de situações bioéticas mais
complexas, inclusive no campo da ética biomédica. A partir dos anos 1990,
passou a ser criticada pelo fato de os princípios serem muito abstratos e
brigarem entre si por hierarquia, além de serem insuficientes para acompanhar
as atualizações éticas contemporâneas quanto à maneira de apreciar o que é
bom ou ruim.
Teve início, então, o período antiprincipialista, no qual a ética da qualidade
moral não se preocupa tanto com o bom, mas com cultivar virtudes como a
alegria, a fidelidade, o cuidado solícito e as decisões morais específicas. É a
ética da casuística, em que a tomada de posição é feita a partir de casos
concretos, para serem usados como exemplo de consenso. O período
antiprincipialista não conflita com os princípios, apenas não os absolutiza.
DIÁLOGO BIOÉTICO
Apesar de não ter surgido como ciência, por não possuir conceitos ou métodos
próprios, a bioética ou ética biomédica chegou para mostrar que a reflexão
ética é importante, não apenas nos campos da saúde, das ciências da vida e
nas ciências do meio ambiente, mas também na interface desses campos. Isso
quer dizer que a bioética avalia de que maneira cada opção tomada em um
desses três campos irá interagir com os outros dois.
Por ser um processo plural, o diálogo bioético não visa ao monopólio do saber
solitário, mas ao consenso, que é a estrutura da bioética. Este é conseguido
graças à credibilidade do tribunal multidisciplinar que sustenta as discussões
bioéticas, fundamentadas nos seus valores trinos.