Pedagogia Da Terra
Pedagogia Da Terra
Pedagogia Da Terra
O termo Pedagogia da Terra é uma construção social e, como tal, não tem
autoria individualizada. Gadotti (2000, p. 20) nos diz que "a nossa Pedagogia
da Terra, como o canto do poeta, não pertence àqueles e àquelas que a
escreveram, mas àqueles e àquelas que dela necessitam em sua luta cotidiana
por uma escola melhor, por um mundo melhor...". Nessa perspectiva, o termo
aparece na pauta de luta dos movimentos sociais, sindicais, ambientais,
religiosos e políticos, nas agendas de organizações não-governamentais e
governamentais, nos programas de pesquisa, ensino e extensão das
universidades, entre outros. O que unifica os diferentes usos da expressão é o
compromisso com a superação de uma visão centrada nas questões
ambientais e com a construção de sentidos da terra como habitat humano
global, fonte e lugar da vida, terra de todos, terra como um bem comum, como
um organismo vivo.
A Carta inspirou e sustentou uma discussão que vai além da questão ambiental
no que diz respeito à relação com a terra. Ao reafirmar o conceito de
desenvolvimento sustentável, agregou aspectos políticos, sociais, culturais,
afetivos e religiosos numa perspectiva indicadora da necessidade de profundas
formulações nos processos formativos, com vistas a conceber a terra não
apenas como lugar e meio de produção, mas como espaço de vida e de direito.
Leonardo Boff é, sem dúvida, um dos principais responsáveis pela discussão
que alimenta o paradigma que tem a terra como fundamento. Podemos citar
como referência o livro Saber cuidar – ética do humano – compaixão pela terra,
publicado em 1999. Boff enfatiza que cada ser humano precisa descobrir-se
como parte do ecossistema e desenvolver uma consciência coletiva sobre a
relação com o planeta. Segundo Boff, precisamos passar por uma
alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo e, ao mesmo
tempo, desenvolver uma ética do cuidado.
Dessa forma, a missão do ser humano não seria estar sobre as coisas,
dominando-as, mas ficar ao seu lado, cuidando delas, pois ele é parte
responsável da imensa comunidade terrena e cósmica. Para Boff, uma
educação sustentável pode ajudar a criar uma visão global de uma ecologia
libertadora, que abrange o meio ambiente, a mente humana, a sociedade e a
integralidade da criação.
Nesse sentido a palavra "terra" apresenta uma significação para além de solo,
constitui lugar aonde os sujeitos do campo vão recriando as suas pertenças,
reconstruindo a sua identidade. A palavra pedagogia indica a presença da
dimensão educativa na relação do ser humano com a terra de cultivo, de luta,
ambiente livre, sem cercas, habitada por muitos. Traz uma concepção que
rompe com a idéia da terra como espaço puramente da produção econômica e
* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª
a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: [email protected] ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
[email protected]
alavanca a luta pela existência na terra como um espaço de produção da vida e
de relações vividas, um espaço de invenção do novo.
Pensando no meio ambiente pautado na relação indissociável ser humano-
desenvolvimento sustentável-eticidade e política, Moacir Gadotti, em seu livro
Pedagogia da Terra (2000), afirma que a defesa do meio ambiente não se pode
fundar apenas num compromisso ecológico, centrado no ambientalismo, mas
ético-político, nutrido por uma pedagogia e uma prática social definida. Nesse
sentido, a ecopedagogia, arraigada nesse movimento sociohistórico, formando
sujeitos aptos a escolherem os indicadores de qualidade de seu futuro, se
constitui numa pedagogia absolutamente nova e intensamente democrática.