Breve Historia Da Pintura Contemporanea
Breve Historia Da Pintura Contemporanea
Breve Historia Da Pintura Contemporanea
Contemporânea
Breve História da
Pintura Contemporânea
Marco Giannotti
2020
Marco Giannotti
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G372b
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-88386-71-6
1
SARAMAGO, J. Manual de pintura e caligrafia. São Paulo:,
Companhia das Letras, 1983, p.195.
5
artísticas estejam cada vez mais entrelaçadas e vários
artistas façam arte em diversas maneiras, procuro focar na
pintura sem desmerecer outras linguagens contemporâneas.
Entretanto, algumas referências externas são necessárias
para entendermos a complexidade do lugar da imagem no
mundo contemporâneo. Ampliar o escopo artístico, dar
espaço a pintura feita atualmente no mundo todo e em
diversas culturas, classes e gêneros é algo que transcende
em muito o objetivo deste ensaio. Infelizmente o nosso
ensino ainda é muito pautado na Europa e na America do
Norte. Em Diario de Kyoto (2012) procuro discorrer sobre a
arte japonesa. Mas as lacunas sempre estarão presentes,
pois quando focamos em algo, sempre a outra parte fica na
penumbra ou na escuridão total 2. Por fim, esta versão revista
e ampliada contou com a revisão minuciosa e a colaboração
de Raquel Magalhães, que acaba de concluir seu mestrado
sob minha orientação.
Janeiro de 2020
Para meu pai, que certa vez me ensinou a ver uma pintura.
Para Emilia e Jack, uma recordação do aprendiz de
historiador.
2
AGAMBEN. Giorgio. editora Argos. O que é Contemporâneo e outros
ensaios. Chapecó: Editora Argos, 2009. “E como se aquela invisivel luz,
que é o escuro do presente, projetasse a sua sombra sobre o
passado, e este, tocado por facho de sombra, adquirisse a
capacidade de responder às trevas do agora”, p.72..
6
Sumário
3
GADAMER, Hans-.Georg. A atualidade do Belo: a arte como jogo,
símbolo e festa. Coleção Tempo Brasileiro, Diagrama, vol.14. Rio de
Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1985.
4
ADAMS, D. (captura de video) Malraux’s Shoes, 2012 (imagem) :
<https://neatlyart. wordpress.com/2013/05/30/andre-malraux-chez-lui-maurice-jarnoux-over-the-last/>.; PHAY, Soko. Aby
Warburg’s concept of artistic survival. Disponível em: <http://www. diptyqueparis-memento.com/en/aby-warburgs-
concept-of-artistic-survival/> Acesso em 2 de novembro de 2019.
5
Trata-se do célebre escritor francês cujo romance mias conhecido
é A Condição Humana. Tornou-se ministro da cultura após a
segunda Guerra Mudial com o presidente Charles de Gaulle, e
fortaleceu as instituições culturais e em particular os museus. Ele
escreveu um livro sobre a relação entre as imagens e o museu:
MALRAUX, .A. O museu imaginário. Arte e Comunicação; Edições 70,
Lisboa, 1989..
O museu impôs uma nova relação com a obra de arte. Este é um
fenômeno recente, que remonta ao período da Renascença. Esse
fenômeno retira a funcionalidade das obras, o que Malraux chama
de metamorfose. Em um o museu, não há [mais] lugar para mais
veneração, as imagens diferem entre si e que são confrontadas
como tal.
6
AGAMBEM, G. oOp. cCit., p. 58. Pertence verdadeiramente ao seu
tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide
perfeitamente com ele, nem está adequado às suas pretensões e é,
portanto, nesse sentido, inatual.
DamischAMISCH afirma que não há uma alternativa à arte do passado
que não seja vê-la através do presente. Ver Revista ARS, da Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da USP, (volume 16, número 32, 2018).
7
”Quem não tem tradição e a deseja é como o amante infeliz. Deve-se dizer
algo novo e no entanto isto deve ser antigo. Deve-se falar sobre coisas
antigas e ao mesmo tempo isto deve ser novo.” WITTGENSTEIN, Ludwig.
Culture and Value. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
8
Se a modernidade é uma simples conseqüência da passagem do
tempo – afirma Octávio Paz – escolher como simples denominação a
palavra moderno é resignar-se a perder de antemão e de repente
seu nome. Como se chamará no futuro a época moderna? (...) A arte
contemporânea sofre dos mesmos paradoxos: “Para resistir à
erosão que tudo apaga, as outras sociedades decidiram denominar-
se com um nome de um deus, uma crença, ou um destino:
Islamismo, Cristianismo, Império do centro. Todos estes nomes se
referem a um princípio imutável ou, pelo menos, a idéias e imagens
estáveis.
PAZ, O. Os filhos do Barro. Rio de Janeiro: Editora nova Fronteira,
1974.
9
É certo que a arte contemporânea passa por uma
reavaliação da própria arte moderna, mas muitos de seus
melhores artistas não continuam a metamorfosear imagens
do passado? Talvez a empreitada radical da arte moderna
em se diferenciar das outras épocas tenha se esgotado –
justamente porque ninguém mais tem dúvidas a respeito de
seu estatuto, visto que, a partir da década de 1960, a arte
contemporânea efetivamente se desprende do período
moderno. Atualmente é possível atestar o enorme impacto
das novas tecnologias na arte [bem como], na nossa vida
cotidianaarte. Os dispositivos eletrônicos digitais permeiam
nossas vidas, lemos, nos comunicamos, enviamos imagens
pela internet com uma rapidez inaudita. O universo do
Instagram demonstra como as pessoas preferem se
comunicar cada vez por imagens ou códigos. Câmeras e
computadores digitais criam uma informação com uma
acuidade visual que vai muito além da nossa visão.
Recorrem a sistemas binários matemáticos, distantes de
uma concepção da imagem como representação, um espelho
analógico de uma realidade exterior.
9
A tradição do moderno encerra um paradoxo maior do que deixa
entrever a contradição entre o antigo e o novo, o moderno e o
tradicional. A oposição entre o passado e o presente literalmente se
evapora, pois o tempo transcorre com tal celeridade, que a
distinção entre os diversos tempos - passado, presente, futuro -
apagam-se ou pelo menos se tornam instantâneas, imperceptíveis e
insignificantes...
A tradição do moderno é a expressão da condição dramática de
nossa civilização, que procura seu fundamento, não no passado
(exemplaridade) nem em nenhum princípio imóvel, mas na
mudança. PAZ, O. oOp. cCit.
“Estético ou moral, o juízo é sempre um juizo histórico, porque não
é um pronunciado com base muma verdade científica, mas em
relação com uma determinada situação humana.” ARGAN.G.
História da Arte e como História da cidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1998, p.18
10
A polêmica relativa ao termo pós-modernismo, por exemplo,
também se transformou ao longo do tempo, pois o termo cunhado
tinha em vista equipamentos tecnógicos nos anos 80 que diferem
radicalmente do que temos hoje em dia. O filósofo Jean-François
Lyotard realizou no Centre Pompidou em Paris em 1985 uma
exposição polêmica intitulada Les Immatériaux (“O imaterial”) A
10
O problema recorrente de fazer uma análise mais
abrangente ou uma mais específica sobre a obra de arte
sempre reaparece. Neste sentido, escolhi algumas
referências artísticas como uma espécie de baliza para o
nosso percurso. Não é preciso dizer que muitos pintores
relevantes ficaram de fora. Estabelecer critérios sem cair
num subjetivismo não é facil, por outro lado, jamais
perdemos nosso ponto de vista. Impossivel esquecer que
estamos no Brasil, por isso uma atenção especial recai sobre
alguns de nossos artistas bem como sobre pintores
estrangeiros que tiveram uma particular reverberação aqui.
11
“História é um conceito que não assume o mesmo sentido, o
mesmo significado, os mesmos usos, quando aplicado à política, à
economia, à religião, ao direito, e antes de tudo à ciência. A história
não é a mesma, a propria palavra não tem a mesma ressonância, o
conceito não opera da mesma maneira quando aplicada a tópicos
como arte ou ciência e todo o resto”. DAMISCH, Damisch., Uma
entrevista com Stephan Bahn. Revista ARS da Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da USP, (volume 14,rs nnúmero. 27, 2016), p. 22.
11
para si obras onde encontra afinidades poéticas. O processo
criativo é uma viagem no tempo que recontextualiza
imagens passadas em uma nova escala e dinâmica. As
conexões desafiam a ordem do tempo cronológico. Toda
criação é uma espécie de colagem de tempos diversos.
12
NIÉPCE, N. Vista da janela em Le Gras, 1826-7 (imagem):
https://www.google.com.br/search?q=NI%C3%89PCE,+N.+Vista+da+janela+em+Le+Gras,+1826-
7&sxsrf=ACYBGNR8sK8gKnnjguXk26zeeRfkkVQ-
zA:1580065962716&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjTqLez_KHnAhUMELkGHb_2DPEQ_AUoAXoECAwQAw&b
iw=1440&bih=744#imgrc=_
Fonte?. DE CHIRICO, G. Enigma de Um Dia, 1914: https://www.google.com.br/search?
biw=1440&bih=744&tbm=isch&sxsrf=ACYBGNTej76OTa-Eigx8Vrad1JdTPdrG9g
%3A1580066124581&sa=1&ei=TOUtXuSQI9S05OUP7eKDyA4&q=+MAC+%2C+DE+CHIRICO%2C+G.
+Enigma+de+Um+Dia%2C+1914+&oq=+MAC+%2C+DE+CHIRICO%2C+G.+Enigma+de+Um+Dia
%2C+1914+&gs_l=img.12...34599.51474..53135...10.0..0.131.1610.10j6......0....1..gws-
wizimg.......35i39.6pPbumrOtkk&ved=0ahUKEwjk5s6A_aHnAhVUGrkGHW3xAOkQ4dUDCAc#imgrc=oNB3J-4zB7M_dM.
Acesso em 24 de janeiro de 2020
fonte?
12
Corre-se grande perigo em datar a produção de um artista
em uma determinada década - . bBasta evocar artistas como
Frank Stella, que produz atualmente pinturas muito distantes
do que fazia há 40 anos. Há casos antagônicos como o de
Soulages, que adquiriu plenitude em sua obra mais recente,
enquanto Johns já aos 24 anos realizava obras geniais. O fato
é que mesmo os pintores mais importantes do século
passado, Pablo Picasso e Henri Matisse tiveram altos e
baixos na carreira, especialmente entre os anos 30-40, mas
conseguiram recuperar na velhice uma força vital exemplar.
A obra do último Picasso, entretanto, só é devidamente
entendida nos anos 80 em um contexto onde a volta à
pintura é valorizada. .
13
GELONCH-VILADEGUT, Antoni (org.). 200 citations de Picasso et sur
Picasso, 2013. Disponível em: <http://www.gelonchviladegut.com/wp--content/uploads/2013/06/200
_citations_Picasso.pdf .>. Acesso em 21 de janeiro de 2020.
13
Diego Velazquez, Las Meninas, 1656., Pablo Picasso, Las Meninas, 195714.
14
VELAZQUEZ, D. Las Meninas, 1956 (imagem): <https://www.google.com.br/search?
q=velazquez+las+meninas&tbm=isch&ved=2ahUKEwiBiZOUj9bmAhXhALkGHefjAkcQ2cCegQIABAA&oq=velazquez+las+
meninas&gs_l=img.3...281918.287450..287951...0.0..0.110.2044.13j8......0....1..gws-
wizimg.......0j0i10j0i30j0i5i30j0i8i30.ocI2g2BMiCk&ei =yR8GXsGAEOGB5OUP58eLuAQ&bih=742&biw=1440&tbs=isz
> Acesso em 20 de Novembro de 2019 .PICASSO,
%3Al&hl=pt-BR#imgr c=ur_NbZShf BOeYM
P. Las Meninas, 1957. PICASSO, P. Las Meninas, 1957 (imagem): fonte?
15
Sobre Las Meninas ver ainda Velásquez, ORTEGA Y GASSET, José.
Velazquez. São Paulo: Martins Fontes, 2016: “Las meninas vem a ser a críica
da pura retina. A pintura encontra assim, sua propria attitude ante o mundo
e coincide consigo mesma. Compreende-se por que Velazquez foi chamado
”o pintor dos pintores”, p. 36.
16
17
SCHAPIRO, .Meyer. A unidade da Arte em Picasso . São Paulo: Cosac
& Naify, 2002. Ver ainda GINSBURG, .Carlo. Medo,R reverência e Tterror:
quatro ensaios de iconografia política. São Paulo, Companhia das Letras,
2014.
18
“Os grandes revolucionários da arte negam o antigo como preceito, mas
colocam-no como problema” ARGAN, G.C. op. cit., p.37.
15
Pollock com Picasso etc. Em 1936, ao doar uma obra de
Cézanne (Les Baigneuses, 1879-1882) para o Petit Palais,
Matisse comenta: “Há trinta e sete anos que a possuo,
conheço-a bastante bem, não totalmente, espero; apoiou-me
moralmente em momentos críticos da minha aventura de
artista; bebi nela a minha fé e a minha teimosia”19.
19
MATISSE, Henri. Escritos e Reflexões sobre arte. São Paulo:, Cosac &
Nnaify, 2007. Grandes artistas tendem ser grandes colecionadores,
como por exemplo Rubens, Rembrandt, ou Picasso.
20
“Cortadas as ligações com o passado, a arte só da sua atualidade
dispõe. Éé como se ela estivesse nascendo, para viver o instante
precário e tumultuoso da gestação. Nesse sentido de uma nova
existência que se afirma por si mesma, atualizando potencialidades
pertencentes a esta época, e que com ela estão nascendo e se
manifestando numa profusão desnorteante - na qual procuramos
ver claro, sem muitas vezes consegui-lo, é que a arte
contemporânea não existe. Ela ainda não é uma realidade, mas um
vir-a-ser, célere, tumultuoso. É com razão que Ortega y Gasset em
seu ensaio sobre a Desumanização da Arte observa que o esforço
artístico em nossos dias se processa em ritmo de laboratório, de
trabalho experimental, o que explicaria o fato que hoje ‘se
produzem mais teorias e programa do que obras”.
NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte., São Paulo: Editora
Áticaedições Perspectiva, 1999.
21
O ex-voto de Yves Klein foi colocado em segredo em 1961 para
Santa Rita, no mosteiro de Cascia, onde fica guardada a relíquia de
seu corpo. Esse ex-voto foi redescoberto acidentalmente vários
anos após a morte do artista em 1962. Os danos causados pelo
terremoto de 1979 tornaram necessária a sua restauração. O
16
uma zona imaterial o leva a expor o vazio de uma galeria.
Portanto, ele não está mais interessado em investigar a
relação entre as cores, mas como uma única cor se
apresenta de forma diversa nos materiais, como a cor
interage nos corpos. Nas Antropometrias, por exemplo, os
corpos de várias mulheres são impregnados por esse azul e
são posteriormente impressos em uma tela. Essa nova
imagem é impressa na tela como uma imagem fantasma.
Elas remetem às primeiras pinturas rupestres, as imagens
primordiais do homem. O ato pictórico em si é performático,
sem tocar na tela Klein rege o movimento das mulheres ao
som de uma orquestra que emite um único acorde.
22
Fotografia do Reichstag em flamas, 1933 (imagem):<https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%
C3%AAndio_do_ Reichstag>. Acesso em 21 de janeiro de 2020.
23
https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_do_Reichstag1982: Anselm
Keifer’s Innenraum. In: ARTFORUM (volume 41, número 7), março de 2003.
Disponível em: <
https://www.artforum.com/print/200303/1982-anselm-kiefer-s-innenraum-4306 >. Aacesso em 10 de janeiro de 2020.
17
diversos elementos sobre a tela, Kiefer desafia as convenções da pintura
plana com uma perspectiva vertiginosa. Mas, ao aplicar sobre fotografias de
paisagens que ressuscitam o romantismo alemão, materiais como o
chumbo, plantas secas, palha, areia, ele faz da paisagem uma terra
arrasada. Não há mais espaço para o cultivo do centeio como em Van Gogh
e Milliet. O artista busca uma grandiosidade operística, uma obra de arte
total, preconizada por Nietzsche e Wagner. Resulta daí a imensa resistência
aà sua obra na Alemanha, pois ele mexe com os fantasmas da história
alemã. Muitos matériais são orgânicos e efêmeros, e remetem ao ciclo da
vida. Basta nos aproximar das pinturas de Kiefer para vermos uma alquimia
onde tudo parece em transformação, metarmofose e erosão .
24
“Eu estava sempre procurando uma terceira maneira pela qual o
realismo oriental e o modernismo ocidental seriam resolvidos em
uma construção redentora. Além disso, trabalhar na
clandestinidade, desafiadoramente desconhecido e isolado, nunca
foi para mim - isso não era coisa para mim”. RICHTER, Gerhard apud
ELGER, Dietmar.. A Llife in Painting. ELGER, DietmarChicago: University of
Chicago Press, , 2009. p.22.
18
Gerhard Richter é considerado por muitos um "pintor
conceitual", cujas "pinturas são declarações sobre ideias
para pinturas".
O próprio Richter dizia que queria expressar "a inadequação
com relação ao que se espera da pintura", da criação das
imagens. Busca deste modo realizar um exame crítico sobre
o estatuto das imagens. Ele é considerado um mestre na
"desconstrução" de convenções formais da pintura. Ele
manteve uma "distância cética daqueles como vanguardistas
e conservadores, sobre como a pintura deveria ser". De
acordo com Storr, todos os trabalhos de Richter apontam
para a "perda básica de orientação"; ele é um "poeta da
vigilância e contenção, da dúvida e da ousadia 25. Não há
dúvida que ele possui uma técnica pictórica magistral. Mas o
que mais incomôda é que se mostra capaz de realizar
pinturas com uma verosimelhança fotográfia e ao mesmo
tempo as expor ao lado de pinturas enormes onde uma
imagem primordial oparece apagada, esfacelada, desfocada,
destruída. Nenhum artista que conheça possui um site tão
organizado: www.gerhard-richter.com.
Temos acesso a todas as obras de todos os generos que
produziu, acompanhadas por um texto crítico e a sua última
cotação de mercado. Difícil ver um artista romântico tão
realista.
25
Trechos da biografia de Gerhard Richter. “Visto que não há nada
como correção e verdade absolutas, nós sempre buscamos o
artifício/artificial, que conduz à verdade humana". RICHTER, G.
("Notes, 1962". Daily Practice:15)In: RICHTER, G. Gerhard Richter: text,
writings, interviews and letters 1961-2007. Londres: Thames & Hudson,
2009, p. 15. Gerhard Richter https://www.gerhard-richter.com/“Richter
lançou um desmembramento crítico da prática da pintura.
Desfazendo a unificação desta arte que tinha marcado sua história
desde Manet: separou-a em gêneros. Em categorias, às quais se
referiu uma a uma (o nu, o retrato, a natureza-mortaviva, a
paisagem, etc.. Mas a introdução da abstração, até então um outro
gênero, como um outro jogo de possibilidades históricas, deslocou a
irônica posição inicial: tornou-se clara para Richter, por todo seu
mistério dos códigos da pintura. Para todas suas intervenções
críticas sobre o legado da tradição, teve que aprender outra vez o
prazer pintar.”. , STORR, RRobert Storr. , Gerhard Richter: forty years of
painting (catálogo). Nova York: The Museum of Modern Art (MoMA) do
MoMA, 2002.
26
DE OLIVEIRA, Helder Manuel da Silva. Alberto Burri (1915-1995) e a Bienal
de São Paulo. Publicação para o XII Encontro de História da Arte (EHA)
Unicamp, 2017. Disponível em: < Helder Manuel da Silva de Oliveira. ALBERTO BURRI (1915-1995) E A
BIENAL DE SÃO PAULO.https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2017/Helder%20Manuel%20da %20Silva%20de
%20Oliveira.pdf >. A acessado em 19 de Novembro de 2019.
19
27
Brice Marden by Saul Ostrow. BOMB Magazine. (01/01/1988). Disponível
em: <https://bombmagazine.org/articles/brice-marden/ >. Acesso em 21 de janeiro de
2020. ; MARDEN, B. Thira (imagem):
<https://www.wikiart.org/en/brice-marden/thira-1980>. Acesso em 21 de janeiro de 2020.
20
A originalidade está, antes, na capacidade do artista de
transformar suas influências em uma linguagem nova, mas
para isso ele não pode recusar este diálogo com a tradição.
A relação da pintura com o passado ocorre a partir das fotografias que Sean
Scully fez das ruínas em Aran, uma ilha situada na Irlanda, em 2005.
Observamos em suas pinturas uma variação entre linha, cor, forma, espaço,
que não é apenas de ordem compositiva, é uma experiência poética. Por
isso é que seus quadros nunca são previsíveis, pois surgem de uma
experiência sempre renovada do exercício da prática da pintura. Embora
utilize um esquema aparentemente repetitivo, as formas geométricas
possibilitam sempre novas experiências pictóricas, parecem desgastadas
pelo contato com o mundo e revelam sempre rastros de luz contidos nas
suas frestas. Mas como diz Gombrich, “o artista não pinta o que vê, mas vê
o que o pinta”. O quadro Durango realizado em 1990 nos instiga a olhar
para estas ruínas de modo distinto.
28
SCULLY, S. Stones , 2005 (imagem): <https://www.google.com.br/search?q=Sean+
Scully+Aran&tbm=isch&ved=2ahUKEwjSm7Sn_-HlAhW7A7kGHT3yASkQ2-
cCegQIABAA&oq=Sean+Scully+Aran&gs_l=img.3..0i8i30.285691.289699..290415...0.0..0.167.1835.4j12......0....1..gws-
wiz-img.......0i67j0i131j0j0i30j0i19j0i8i30i19j0i30i19j0i5i30i19.6Jv mW3k-
fzI&ei=6T3JXZKDAruH5OUPveSHyAI&bih=742&biw=1440#imgrc=N8u7IT9Qn WAv2M>. Acesso em 8 de
janeiro de 2020. SCULLY, S. Durango (imagem):
< http://seanscullystudio.com/new-arts-holder/paintings/durango/ >. Aacesso em 8 de janeiro de
2020. Vver ainda, Entrevista com Sean Scully (concedida a Eric Davis) para
o Journal of Contemporary Art. Disponível em: < http://www.jca-
online.com/scully.html>. Acesso em 21 de janeiro de 2020.
29
SCULLY, S. apud INGLEBY, Florence. Sean Scully: . resistance and
persistence: selected writings.Selected writings: resitance and persistance.
Londres/ Nova York:Editora Merell, 2006.
21
Muitas obras recorrem a um universo de citações sem
assumir uma posição crítica. Instaura-se no cenário
contemporâneo uma antinomia entre uma defesa radical do
modernismo formalista e um ecletismo histórico, que só
parece se dissolver se formos capazes de rever nossos
preconceitos e nos atermos mais às particularidades poéticas
de cada artista.
30
Viola foi professor visitante do Instituto de Pesquisa Getty
juntamente com um grupo de historiadores de arte e estudiosos que
participaram de um programa de estudo intitulado "A
Representação das Paixões”. O ponto central de sua pesquisa foram
as questões que envolvem a expressão de emoções extremas. Viola
ja tinha em seus antecedentes o aprofundamento no misticismo
oriental, hindu e budista.
Estudou os místicos cristãos da Idade Média e a história da arte
medieval ocidental assim como as pinturas religiosas dos séculos XV
e XVI de Bout Dieric, Andrea Mantegna, Hieronimus Bosch e os
estudos sobre expressão do pintor francês Charles Le Brun. O
artista iniciou assim, novas abordagens em sua obra se inspirando
em pinturas clássicas para produzir belíssimas cenas em cinema
digital. (Guto Araújo, artigo inédito).
31
GAYFORD, Martin. The Odd Couple: Bill Viola/ Michelangelo at the RA
reviewed. Publicado para o The Spectator (02/02/2019). Disponível em:
<https://www.spectator. co.uk/2019/02/the-odd-couple-bill-viola-michelangelo-at-the-ra-reviewed/>. Acesso em
21 de janeiro de 2020.
22
Jacopo Carucci Pontormo,: Visitataçãoion, circa 1528–1529.; Bill Viola
The Greeting (captura de vídeo), a still from Bill Viola’s The Greeting, 199532
32
PONTORMO J. C. Visitação, circa 1582-1529 (imagem): fonte? . VIOLA, B.
The Greeting, 1995 (imagem) : https://www.ft.com/content/8bd99930-1555-11e7-b0c1-37e417ee6c76,
acesso em 20 de janeiro 2020
fonte?
33
“A história cultural à qual Benjamin opões o materialismo
histórico é exatamente o que o museu oferece. Ele arranca os
objetos de seus contextos históricos originais não como um ato de
celebração política, mas com o objetivo de criar a ilusão do
conhecimento universal”. (CRIMP, Douglas. Sobre as ruinas de
museu. São Paulo: , Martins Fontes, 2005, p.181).
Com isto, ao contrário do que propunha Benjamin —de que a
consciência do presente recontextualizaria o objeto e portanto seria
a possibilidade de reescrever a história—, a coleção cria um circuito
mágico de petrificação do objeto ao afastá-lo do seu contexto
inicial, congelando-o numa imagem eterna do passado, e criando o
que Douglas Crimp chama de um falso continuuum da história.
Esse falso conhecimento, cria a distância entre o público em geral e
a arte e a cultura - enfatizada pelo espaço vazio, pelas lacunas. Os
cubos brancos e seus espaços vazios enfatizam o inacessível,
mistificam o mito, e com isso mantém a hierarquia social, da qual a
cultura é símbolo. É, justamente, essa alienação da obra de arte a
responsável pela falência da instituição museológica nos dias de
hoje, posto que reafirma o historicismo ao acomodar a arte
contemporânea como decorrência do moderno, e ao não deixar
espaço para as práticas artísticas contraditórias à essa versão
linear da história da arte.
35
Fotomontagem do MASP com imagem de Andrea Mantegna por Marco Giannotti.
25
O lugar do observador
36
Fotografia de Vaslav Nijinsky (imagem): <https://alchetron.com/Vaslav-
Nijinsky>. Acesso em 22 de janeiro de 2020. KLEIN, Y. Salto no Vazio, 1960
(imagem): TORRES, Fernanda L. Yves Klein Ícaro do Modernismo. Revista
ARS, a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, (volume 11, número
21, 2013). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678--
53202013000100096 >. Acesso em 22 de janeiro de 2020.
37
Sobre o salta de Nijinski ver: BRANDSTETTER, Gabriele. Le Saut de Nijinski:
la danse en littérature, représentation de l’irreprésentable. Publicado na
revista Littérature (número 112), 1998. Disponível em:
<https://www.persee.fr/doc/litt_0047-480 0_1998_num_112_4_1596>. Acesso em 27 de dezembro de
2019.
26
Yve-Alain Bois nos diz que Courbet foi o primeiro artista que,
ao pressentir uma progressiva mercantilização da obra de
arte, posicionou-se contra a montagem fragmentada e
dispersa de suas obras durante a exposição universal de
185538. Ali as obras de artes eram expostas como máquinas
em busca de uma medalha de ouro. Num ato de rebeldia,
Courbet reúne suas obras em um pavilhão
independenteexterno ao salão; assim conquistava a
liberdade, e salvava a independência autonomia da arte.
Esse movimento de independência libertador frente aos
salões e ao mercado foi levado adiante pelos sociedade
impressionistas em suas exposiçõesdos artistas
independentes em sua exposição em 1884.
Além de Courbet, vários artistas como Monet, Matisse,
Rothko, grandes pintores coloristas, buscaram um lugar
específico para abrigar suas pinturas num conjunto. Ao invés
de disporem apenas obras dispersas em museus, realizaram
projetos para que espaços específicos fossem criados para
suas obras, um diálogo entre a obra e o ambiente, entre
pintura e arquitetura. Este diálogo a relação entre
arquitetura e arte sempre ocorreu, mas talvez tenha se
tornado esgarçado justamente pela revolução
industrialmercantil, que ressaltou o aspecto da pintura como
mercadoria, quando justamente a obra passa a ser feita em
cavalete e se torna móvel.
39
DUCHAMP, M. Fonte, 1917 (imagem): <https://www.khanacademy.org/humanities/ ap-art-
40
“O neodada, que agora é chamado de novo realismo, pop arte, montagem,
etc., é uma derivação barata do que a DADA fez. Quando descobri o que
realmente havia feito, esperava desencorajar o carnaval da estética. Mas os
neodadaístas usam o ready-made para descobrir seu valor estético. Joguei o
porta-garrafas e o urinol na cabeça deles como uma provocação e agora eles
admiram a beleza estética”. DUCHAMP, M. Carta a Hans Richter
(10/11/1962). Disponível em: <http://dadasurr.blogspot.com/2010/02/blog-post_23.html>. Acesso
em 22 de janeiro de 2020.
41
O neodada, que agora é chamado de novo realismo, pop art, montagem
etc., é uma derivação barata que do que a DADA fez. Quando descobri o que
realmente havia feito, esperava desencorajar o carnaval da estética. Mas os
neodadaístas usam o ready-made para descobrir seu valor estético. Joguei o
porta-garrafas e o urinol na cabeça deles como uma provocação e agora
eles admiram a beleza estética.
28
a coloca num objeto produzido em série. O título “ fonte” faz com
que este objeto,artefato industrialmente fabricado, agora
desprovido da sua função original, passe a fazer parte das obras os
objetos nomeadaos como artísticaos
Já Broodthaers se apropria de uma concepção museológica do
século XIX para questionar a própria natureza do museu. Em sua
mostra na Documenta de Kassel de 1972, ele afirmava que seu
museu era uma ficção, que pode, por um momento, desempenhar o
papel de uma paródia política de eventos artísticos e, em outro
caso, , de uma paródia artística de eventos políticos. Ele joga
justamente com a dubiedade da reprodução fotográfica de uma
obra de arte e se pergunta em que medida é possível catalogar essa
reprodução como arte. Ela conserva ainda uma dimensão artística
ao ponto de ser plausível fazer um museu de reproduções?
Voltamos ao problema de Malraux.
44
PEDROSA, M. In: ARANTES, Otília. (org.). Acadêmicos e modernos.
Textos escolhidos iii. São Paulo: Edusp, 1998., p.11.
45
JUDD, D. Objetos específicos , (1965). InTexto retirado do Livro:
FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília (orgs.). Escritos de Artistas – Anos
60/70,. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, organização de Glória Ferreira e Cecília
Cotrim. (pgs.96-106).
46
OITICICA, Hélio. “Notas, 16/02/1961”. In: Aspiro ao grande
Labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. Ver mais à este respeito em
GIANNOTTI, M. (org) Reflexões sobre a cor. São Paulo: , Martins
Fontes, 2020 . "
Outras interpretações enfatizam o aspecto da cor comn a
organização bidimensional do espaço: a ênfase na cor também
reflete no âmbito do desenho. Em um universoe planar, apenas a
cor é capaz de decodificar as linhas com significado: as linhas
coloridas nos mapas distinguem as avenidas”. HALLEY, P. Peter
Hhalley Sselected Eessays 1981-2001. Nova York/ Paris: Published by
Edgewise Press, 2013, p. 172.
31
Colagem e fragmentação
32
O papier collé (papel colado) foi realmente o cerne da descoberta, mesmo
se, esteticamente, os quadros cubistas possam ser mais valorizados. Um
dos pontos fundamentais do cubismo visava deslocar a realidade: ela não
estava mais no objeto, mas na pintura... O objetivo da colagem era de
mostrar que materiais diferentes poderiam entrar na composição para se
tornar uma realidade no próprio quadro, uma realidade distinta da natureza.
Tentamos nos livrar do trompe-l´oeil (ilusão óptica) a fim de chegar ao
trompe l´esprit (ilusão da mente).
Pablo Picasso
Braque, papier collé e carvão sobre papel on paper, 1912, Georges Braque. Picasso47
Georges Braque, Fruteira e Vidro, 1912. Pablo Picasso, Natureza-Morta com
Cadeira de Palha, 191248.
“No instante em que o primeiro pedaço de papel de parede foi colado por
Georges Braque naquela que é considerada a primeira colagem da arte -
Fruteira e Vvidro (1912) - o plano da pintura, o espaço pictórico e o
préóoprio processo de construção de uma obra mudam radicalmente. A
superfície da tela se torna um espaço de operaçnãao, uma realidade per se,
na qual elementos da vida coitidiana “recortados” e “colados” tanto quanto
formas geométricas ou planos de cor, poderiam compor um novo tipo de
espacialidade. Uma espacialidade que surge exatamente das relações entre
os elementos que compõem o plano e onde a cor exerce papel
fundamental.”49
Raquel Magalhães50
47
’A composição da colagem é distinta das colações do sec. XIX pelo fato
de que nem sempre implica a transferência de materiais de um contexto
para outro, ainda que o contexto original não possa se apagado.” Marjorie
Perloff, O momento Futurista, Edusp.
https://en.wikipedia.org/wiki/Papier_coll%C3%A9
https://br.pinterest.com/pin/434245589060759680/?lp=true
48
“A composição da colagem é distinta das colações do século XIX pelo fato
de que nem sempre implica a transferência de materiais de um contexto
para outro, ainda que o contexto original não possa ser apagado”. PERLOFF,
Marjorie. O Momento Futurista. São Paulo: Edusp, 2018, p. 102.
49
MAGALHÃES, Raquel. Cor e Colagem. In: GIANNOTTI, M. (org.) Reflexões
sobre a cor. São Paulo: Martins Fontes, 2020, p.119.
50
33
ou a arte concreta. Segundo Picasso, a grande novidade não
foi a invenção do cubismo, mais da colagem, pois é ela que
torna possível romper com uma espacialidade derivada da
perspectiva.
A colagem demarca a passagem do cubismo sintético para o
analítico, ou seja, substitui uma análise formal que
decompõe os objetos linha por linha, plano por plano, e
pensa o espaço a partir dos seus elementos mínimos, para
uma pintura que passa juntar, sintetizar, colar estes
elementos em uma nova composição. Com esta técnica é
possível obter arranjos distintos espaciais a partir da
fragmentação e da justaposição de diferentes materiais na
superfície da tela. Novos horizontes surgem para a arte
moderna com este novo raciocínio construtivo. Mediante a
utilização de materiais até então alheios à arte como jornal,
terra, vidro, a colagem alimentou a fusão entre a alta cultura
e o popular. Ao invés de criar imagens originais a partir da
tela em branco, o artista passa a manipular imagens pré-
existentes. O mito romântico do artista criador de uma
imagem única é assim questionado. Surge daí uma
investigação sobre a natureza do signo, sobre os elementos
específicos da pintura como linguagem. Ao invés de copiar a
realidade, a colagem permite a incorporação de pedaços de
mundo na própria obra.
51
RAY, M. Hommage a Lautréamont, circa 1935 (imagem): <https://www.1stdibs.co.uk/
furniture/wall-decorations/photography/man-ray-surrealist-framed-black-white-photogr aphy-hommage-lautreamont/id-
f_8685473/>. Acesso em 22 de janeiro de 2020.
34
Belo como encontro fortuito entre um guarda chuva e uma máquina
de costura numa mesa de dissecação”52.
52
Conde de LAUTREAMONT, Conde de. Os Caontos de Maldoror: poesias,
cartas (obra completa). São Paulo: Iluminuras, 2005. Disponível em:< .
https://books.google.com.br/ books/about/Cantos_de_Maldoror.html?
>. A
id=0U8oHL3B0BoC&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
acesso em 26 de dezembro de 2020.-
https://www.1stdibs.co.uk/furniture/wall-decorations/photography/man-ray-
surrealist-framed-black-white-photography-hommage-lautreamont/id-
f_8685473/
53
STEINBERG, Leo apud GREENBERG e o debate critico. Zahar, 1997, , op
cit., p. 205. [dê uma olhada na citação... não tem nenhuma referêencia
anterior a algum livro do Greenberg ao qual possamos nos referir aqui com o
op.cit.]
54
RAUSCHENBERG, R. Factum I e II, 1957 (imagem):
35
Em Factum I e II, Rauschenberg claramente questionam o conceito
da originalidade. Até onde uma obra se distingue da outra? Não
bastam critérios exclusivamente visuais, que buscam indícios
expressivos na obra, para garantir a originalidade de uma obra
frente a outra. Se o Expressionismo Abstrato é um movimento
artístico que procurra ressaltar a capacidade expressiva do artista
por meio de uma linguagem abstrata, já os artistas alinhados do que
viria a ser chamado arte Pop, como contraponto, enfatizam uma
linguagem de signosmais impessoal os integrando com referencâs
simbólicas concretas da realidade, não apenas presentes na subjetividade
do artista a ser figurativos e não abstratos.. Mesmo a pincelaida torna-se
um signo no caso de Rauschenberg, e a própria originalidade é
colocada em questão diante dos fatos.
Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, Amoco — by Jean-Michel Basquiat and Andy Warhol, 1984 56 .
https://www.semanticscholar.org/paper/%E2%80%9CJust-What-Was-It-That-Made-U.S.-Art-So-Different%2C-
Spicer/60450d28baba3555174fd7e0dae8c7f83a70453c/figure/61 acesso em 20 de janeiro 2020
fonte?
55
KRAUSS, R. A voyage on the North Sea: art in the age of the post-
medium condition. , Massachusetts: MIT Press, 1996, p. 56.
56
BASQUIAT, J.; WARHOL, A. Almoco, 1984 (imagem): < https://br.pinterest.com/pin/
.
458030224602907520/?lp=true >. Acesso em 22 de janeiro de 2020
36
Basquiat e Warhol fizeram quadros em conjunto, é interessante
notar como a atitude de um desafia a do outro. Warhol celebra o
mundo da propaganda numa instância idealizante, basta observar
como o cavalo remete, ainda, à figura de Pegasus. Basquiat utiliza o
recurso do grafite, da saturação urbana, para colocar ironicamente
o sentido das imagens em xeque : “Keep frozen” ( mantenha
congelado)
Adicionando-se a estas a tecla Z, para desfazer a operação tem-se: [parece que falta algo aqui?]
37
como foi definida por Max Ernst, com uma diferença.
Ernst disse que a colagem é “o encontro de duas
realidades distantes num plano estranho a ambas”.,
Aa diferença, insiste, é que “não há mais um plano
estranho às distintas realidades artísticas, nem são
essas realidades tão distintas umas das outras”.58.
Cor e espaço59
58
Danto, A. After the End of Art: contemporary art and the pale of
history. Princeton: Princeton University Press, 1997, p.5.
59
Questões que envolvem a cor na Arte Contemporânea são contempladas
com mais profundidade no livro Reflexões sobre a Cor organizado por mim
em parceria com o Grupo de Estudos Cromáticos da USP. , GIANNOTTI, M.
(org.) Reflexões sobre a cor. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2020.
60
Fotografia de Henri Matisse desenhando A Dança, 1931 (imagem):
<https://br.pinterest.com/pin/319896379780596891/ >. Acesso em 22 de
janeiro de 2020. MATISSE, H. O Atelir Vermelho, 1911 (imagem): fonte?
38
O Atelier Vvermelho de Matisse, de 1911, por exemplo,
“foi um marco na libertação moderna da cor, alcançava-se ali pela primeira
vez a dimensão planar mediante a força de estruturação da cor. O espaço
transformava-se em pulsação, inconstância, no mesmo lance adquiria uma
nova potência lógica, deixava de ser um a priori, ponto pacífico, para
emergir vivo e descontínuo, na vibração da luz” 62. Matisse nesse quadro
coloca definitivamente a cor antes da forma, pois os objetos são envolvidos
por um vermelho (a cor do espaço). Como ele mesmo afirma: “aA cor é
utilizada na sua qualidade aparente, como um fenômeno”.
61
Fotografia de Henri Matisse desenhando A Dança, 1931 (imagem):
<https://br.pinterest.com/pin/319896379780596891/ >. Acesso em 22 de
janeiro de 2020. MATISSE, H. O Atelier Vermelho, 1911 (imagem):
https://www.moma.org/collection/works/78389 acesso em 24 de dezembro, 2020
fonte?
62
BRITO, Ronaldo. Desvio para o vermelho: Cildo Meireles. (cCatálogo
da exposição). São Paulo: mMAC/USPac-usp, nov.-dez. 1986.
Curiosamente, o caso paradigmático dessa atitude é o Ateliê Vermelho
(1911) de Matisse, que “balizou o surgimento de uma “arte do real”, pois
mostra justamente através da estrutura e da opacidade da cor “um espaço
interior hermeticamente fechado, maciçamente comprimido na superfície:
um mundo permanentemente vermelho, no qual a porta se fechou, a janela
foi vedada, o relógio parou – somente os quadros representados no quadro
indicam que ainda existe um outro lugar além dessa atmosfera
surpreendentemente densa”. Ou seja, o caráter fechado desse ‘espaço
vermelho’ é imaginário, recusa a referência a um mundo dado, abrindo-se
“tão somente para a relação entre o espectador e a superfície vermelha
como lugar da experiência”(ibid.). A Cf. SARTRESarte, J.P. Imaginaire, p. 240-
1; Merleau-Ponty, Phénomenologie de La Perception, p361 [alguma delas é
fonte aqui? Ou são outras referências?]. Ver ainda, KUDIELKA, Robert.
Objetos da observação - Lugares da experiência: sobre a mudança da
concepção de arte no século XX. Revista Novos Estudos (número 82),
nov.2008, p. 176.
39
permite apenas o deslocamento do olhar; só é possível
percorrê-la, literal ou virtualmente, com os olhos”63.
63
Vide GREENBERG, C. Clement Greenberg e o debate críeitico”. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1997,. pp.101-109.
64
Idem. Vide ainda STEINBERG, LLeo. Outros critérioas. São Paulo:
Cosac & Naify, 2008.
40
de quem observa”65. Cria-se um jogo entre a obra e o nosso
espaço circundante. O espectador torna-se cúmplice nesse
jogo onde “uma percepção deve conduzir imediata e
diretamente a outra percepção”, como num filme, onde a
nossa retina nos proporciona a sensação de um movimento
constante a partir da sequência de fotogramas.
65
MATISSE, Op. cit
66
NEWMAN, .B. Selected writings and Interviews.The Sublime is Now.
Nova York: Knopf, 1990.
41
puramente sensorial, retiniana, e vai explorar as relações
entre as cores e a nossa percepção, uma nova dimensão que
envolve não apenas o olho, mas a relação entre a mente, a
linguagem e a visão.
Imagem e conceito
Desde Courbet, acredita-se que a pintura é dirigina à retina. Esse foi o erro
de todos. Antes, a pintura tinha outras funções: poderia ser religiosa,
filosófica, moral... todo o nosso século é completamente retinal, exceto os
surrealistas, que tentaram sair um pouco dela.
Marcel Duchamp.
42
Desde Courbet, acredita-se que a pintura é dirigida à retina. Esse
foi o erro de todos. Antes, a pintura tinha outras funções: poderia ser religiosa,
filosófica, moral ... todo o nosso século é completamente retinal, exceto os
surrealistas, que tentaram sair um pouco dela.
Marcel Duchamp
A imagem acima é uma colagem de Marcel Duchamp, uma das versões que
mais causaram escândalo n éo século vinte. Afinal existe algo pmais ousado
do quee profanar a pintura mais conhecida de tosos os tempos? Bricar ainda
com a suposta homossexualidade de Leonardo da Vinci ao tornar uma
mulher uma figura ambígua com bigode? Mais enigmático é o título
L.H.H.O.CQ. Ao ler estas palavras em francês teríamos na versão em
português algo como “ela tem o rabo quente”. No Dadaísmo bem como no
Surrealismos, os tíintulos tendem a nos levar para regiões mentais distantes
da imagem apresentada, muitas vezes criando paradoxos. Duchamp é
considerado o gtrande mentor da arte conceitual, que tem seus seguidores
até hojJe. Mais do que um ato de profanação, o que mais nos instiga é nossa
incapacidade de constatar que Duchamp está interferindo não na obra
original, mas em uma reprodução. Com o advento da fotografia e agora com
os computuadores e celulares, cada vez mais lidamos com copias [e não
mais/ ao invés de] que como o original.
67
DUCHAMP, M.. L.H.O.O.Q, 1919 (imagem): <https://en.wikipedia.org/wiki/L.H.O.O. Q.>.
Acesso em 22 de janeiro de 2020.
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Marcel_Duchamp,_1919,_L.H.O.O.Q.,_391,_n._12,_March_1920.jpg
68
O roubo aconteceu em uma segunda-feira, no dia 21 de agosto de
1911, um dia em que o museu estava fechado. A ausência do
quadro só foi notada na terça-feira. A polícia começou uma
investigação e o centro permaneceu fechado durante uma semana
em meio ao escândalo. ”
’"La Joconde’" (A Gioconda) - como os franceses chamam a Mona
Lisa - desapareceu por mais de dois anos e foi recuperada em 10 de
dezembro de 1913, quando Vicenzo Peruggia foi capturado ao
entregar a obra a Alfredo Geri, um vendedor de antiguidades de
Florença, na Itália. imagem começou a aparecer em noticiários
cinematográficos, caixas de chocolate, postais e anúncios
publicitários. De repente, ela se transformou em uma celebridade
como estrelas de cinema e cantores”". , escreveu o escritor britânico
43
70
DUCHAMP, M. O ato criador (O ato criador Marcel Duchamp. 1965). In:
(em BATTCOCK, Gregory. A Nnova Aarte. Coleção “Debates (vol.73).
São Paulo: Perspectiva, 2013.”
47
Johns procura a todo instante questionar o que estamos vendo de fato, suas
obras sempre se apresentam como paradoxos visuais. Em Jubilee (1958)
olhamos para um quadro em preto-e-branco com variações de tonalidades
e, nos atentamos para a variação das pinceladas e pela relação de
contrastes na pintura. Mas se nos atentarmos para o fato de que sobre as
manchas novamente palavras cromáticas estão aplicadas em toda
superfície, conseguimos imaginar todo um universo de cores e formas que
está lá na pintura ao mesmo tempo em que não está. Johns joga
radicalmente com as diferentes maneiras de perceber as cores. Nessa
pintura, as manchas em variados tons do branco ao preto entram em
conflito com as palavras aplicadas coladas sobre elas: Johns denomina de
laranja uma superfície preta, uma mancha cinza tem o nome de azul e assim
por diante. A presença da cor na nossa sensação não mais corresponde ao
significado da palavra aplicada. A identidade da cor é posta em xeque, pois
dois critérios de identificação são utilizados simultaneamente, um se
contrapondo ao outro. Essa atitude atinge seu ápice crítico com essaaqui
pintura de Johns, onde o conceito que define o que são as cores entra em
choque com nossa capacidade de ver as cores. O resultado é aturdir e
desqualificar nossa percepção. As marcas da fatura carregam uma camada
espessa material que reitera a presença objetiva da superfície da tela, mas,
ao mesmo tempo, reduz seu potencial expressivo pela sua opacidade pelo
mediante o emprego da encáustica. A visão está imbricada com a
palavra e o conceito no mundo contemporâneo. Johns procura a todo
instante questionar o que estamos vendo de fato, sSuas obras sempre se
apresentam como paradoxos visuais. 72.
72
GIANNOTTI, Marco. A Imagem Escrita. Revista ARS, da Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da USP (volume 1, número 1, 2003). Disponível
em: < (SãoPaulo) vol.1 no.1 SãoPaulo 2003http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
53202003000100009> .Acesso em 21 de Dezembro 2019.
73
“Marcel Duchamp, um dos artistas pioneiros deste século,
deslocou seu trabalho dos limites retinianos que foram impostos
pelo impressionismo para um campo onde a linguagem, o
pensamento e a visão interagem. Ele transformou deste modo a
forma por meio de um jogo complexo de novos meios mentais e
materiais. Introduzindo muitos aspectos técnicos, mentais e visuais
que podem ser encontrados recente mente”. JASPER JOHNS., J. “An
48
quando a cor se torna um fenômeno cada vez mais mediado
por outras formas de linguagem, não corremos o risco de
perder esse componente irredutível da representação? Será
possível resgatar, hoje em dia, uma experiência expressiva
da cor através da pintura? Experimentos cromáticos como os
de Carlos Cruz Diez são extremamente instigantes
cromaticamente e investigam a fundo a natureza da nossa
percepção. Como bem diz Braque, a pintura “apaga a ideia”.
A obra que não joga mais com a dimensão sensível pode se
tornar um jogo de palavras, uma mera ilustração de
conceitos. Este é um dos grandes dilemas da pintura
contemporânea.
74
JOHNS, J. The Critic Sees, 1961 (imagem):
https://shop.royalacademy.org.uk/postcard-the-critic-sees-by-jasper-johns
fonte?
75
MERLEAU-PONTY,. Maurice. O Olho e o Eespírito. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
49
reveladoras. Quando uma obra se resume a um conceito, as
condições materiais mediante as quais a obra aparece
podem ser descartadas. Corre-se o risco de se interpretar
uma obra como mero suporte para ideias, como se ela não
fosse uma matéria aà procura de outra natureza, uma
alquimia transformadora do metal76.Nela, o jogo das
aparências se tece muitas vezes na cor, fenômeno instável e
efêmero. Entretanto, na arte contemporânea é possível notar
uma tendência de afirmar que basta uma obra revelar seu
conceito para mostrar sua validade. Alguns artistas chegam
a dizer que não importa como a obra de arte aparece! Não
seria melhor, nesse caso, permanecer no plano da palavra,
capaz de lidar muito melhor com os conceitos do que as
imagens? As artes plásticas, entretanto, sempre estiveram
ligadas a esse terreno ardiloso da aparência. Mas a arte em
geral nunca pode satisfazer o seu conceito, nunca prescinde
da aparência para revelar-se, pois ela se tece justamente
nesse jogo ambíguo de ser e não ser algo, de indicar uma
outra realidade e afirmar ao mesmo tempo sua autonomia.
Embora lute por firmar sua especificidade, a arte moderna
conquista sua autonomia arduamente, pois não temos mais
verdades divinas que atestem seu legítimo valor. Daí seu
aspecto crítico, já que sempre almeja uma dimensão mágica,
num mundo cada vez mais dessacralizado.
76
Luigi Pareyson nos diz que há três definições tradicionais da arte: ”
a arte como fazer, como conhecer ou como exprimir. Na antiguidade,
prevaleceu a primeira, a arte foi entendida como tekné. Mas o
pensamento antigo pouco se preocupou com teorizar a distinção
entre a arte propriamente dita e o ofício da técnica do artesão (...) A
distinção entre estética e poética é particularmente importante e
representa uma precaução metodológica cuja negligência conduz a
resultados lamentáveis. Se nos lembrarmos que a estética tem um
caráter programático e especulativo enquanto que a poética, pelo
contrário, tem um caráter programático e operativo.
A obra de arte não é simbólica, ela não representa nada além de si
mesma.”. PAREYSON, L. Os Problemas dae Estética. São Paulo: , Martins
Fontes, 2001, .p. 15-20. E ainda, Pierre Francastel em
FRANCASTEL, Art et Ttechnique, escreve: “não poderiamoas fazer da
artre a traduçnao fragmentária de um real daodo, a arte não é um
sombolo, é criação”. FRANCASTEL, P. Art et Technique. Paris: Gonthier,
1964.
77
PICASSO, P. O Touro, 1941 (imagem):
<https://drawpaintacademy.com/the-bull/>. Acesso em 22 de janeiro de
2020.
50
“ Em busca dea representar o mundo real, o cérebro (ou o artista) deve
descontar (“sacrificar”) uma grande quantidade de informação proveniente
que não é essencial a fim de representar o verdadeiro caráter dos objetos
(..) Penso que os artistas de alguma forma são neurologistas, estudam o
cérebro mediante técnicas que são únicas mesmo sem saber sua a
organização. Afinal foi Pablo Picasso que, num depoimento, quase antecipa a
mania por estudos sobra a capacidade cerebral de formar imagens quando
disse que seria muito interessante registrar fotograficamente (...) as
metamorfoses de uma imagem. Possivelmente seria possível descobrir o
caminho seguido pelo cérebro e materializar um sonho.” Semir ZeEkKiI78
78
ZEKI, Semir. Inner Vision:, an exploration of aArt and the brain,
Oxford:
Oxford University Press, 2000, p.20.
79
ROSENBERG, Harold. The De- definition of Art. Chicago: University of
Chicago Press, 1972.
51
Doravante a linguagem se interpõe entre o quadro e o olhar,
que por si só não é capaz de discernir se um objeto é
artístico ou não. Isso modifica o rumo da crítica moderna,
que, ao invés de derivar princípios a partir do que vê, passa
a ensinar nosso olho a ver tais princípios. As consequências
nocivas desse processo hoje em dia se tornaram mais do que
evidentes, pois a criação artística muitas vezes passa a ser
ilustração de conceitos previamente estabelecidos. O fato de
uma imagem ser dependente de uma situação histórica, de
um contexto linguístico para ser decifrada não pode nos
levar a confundir interpretação com produção de uma obra
de arte.
80
DANTO, Arthur C. A transfiguração do lugar- comum: uma filosofia da
arte. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
52
O excesso de citações nas obras contemporâneas é notável.
Se, por um lado, a utilização cada vez maior de imagens
produz um impacto imediato no espectador, essa relação
está, entretanto, muitas vezes mediada por um texto
explicativo. Saímos da era da contemplação e entramos na
era da informação. O espectador busca decifrar o mais
rápido possível a imagem que tem diante de si. Warhol teve
um papel fundamental nessa mudança de paradigma da arte
contemporânea, onde a obra muitas vezes merece apenas
15 minutos da atenção do observador.
Técnica e poética81
A fotografia acima foi feita especialmente pelo artista Dudi Maia Rosa para
este capítulo. A imagem de imediato nos leva a pinturas rupestres feitas
com o sopro de pigmentos sobre as mãos, criando uma imagem em
negativo. Com o avanço da tecnologia medida que a tecnologia, a datação
das pinturas rupestres se torna cada vez mais distante. Últimas pesquisas
indicam que foram realizadas a cerca de 40 mil anos atrás, onde quando os
homens ainda coabitavam com neandertais. Seu futuro, porém, é cada vez
mais mais incerto. Afinal, qual é o domínio que circunscreve esta atividade?
Pinturas feitas por robôs, neandertais ou símios teriam a mesma importância
para nós? Nesta imagem, ao invés de se apresentar como imagem negativa,
81
Temas abordados neste capítulo estão também presentes no livro
Reflexões Sobre a Cor São Paulo: Martins Fontes, 2020.
82
Fotografia de impressão de uma mão na caverna de El Castillo, Espanha (imagem):
https://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=262473¬icia=arte-rupestre-encontrada-na-espanha-tem-40-mil-anos-diz-estudo
fonte?
53
a fotografia aparece como um negativo da pintura, que aqui aparece apenas
como fragmento de uma superfície transparente. Este seu aspecto por sua
vez nos faz lembrar da analogia renascentista entre a pintura e a janela. Só
que ao invés de uma paisagem distante, vemos uma imagem invertida da
mão daquele que constrói a superfície. Dudi não colocou sua imagem de
perfil, preferiu mostrar talvez o que é mais importante ao pintor ou ao
pianista: a capacidade de manipular o som ou os materiais de um modo
único, de modo a transmutar estes fenômenos em experiência estética.
83
“A arte deve nascer do material e do instrumento, e deve
conservar vestígios do instrumento e da luta dele com o material. O
homem precisa falar, mas o instrumento e o material também
precisam.". DUBUFFET, Jean. Notas para oos finos letrados (1945). In:
LICHTENSTEIN, Jacqueline. , p.86. A Pintura: textos essenciais. Vol. 13: O
Ateliê do Pintor. São Paulo: Editora 34 Letras,, vol. 13, 2014, p.86..
84
“Mas o trabalho do artista, mesmo na sua parte mental, não pode
se reduzir às operações de um pensamento determinante. De uma
parte a matéria, os meios, o instante, e uma porção de acidentes
(os quais caracterizam o real, ao menos para aquele que não é
filósofo) introduzem na fabricação de uma obra uma quantidade de
54
sobre a produção da obra -, a estética nasceu de uma
reflexão filosófica sobre o ato de contemplar uma obra já
feita. A poética se distingue da história justamente por seu
caráter utópico, projetivo. Francastel sempre ressaltou esse
aspecto imaginário da arte, ao lembrar que os artistas do
Renascimento projetaram uma cidade ideal que só iria se
consumar posteriormente. Infelizmente a técnica tende a ser
vista apenas sob a ótica das novas tecnologias; nota-se a
ausência de um pensamento sobre as questões técnicas
vinculadas à imaginação como em Francastel. A pintura é
uma técnica que continua a ser atualizada pelos artistas
contemporâneos. É pela imaginação, e pela imaginação
artística , que se orientam as técnicas”.85
Análises restritas a procedimentos técnicos são raras e
muitas vezes decepcionam, pois ficam aquém dos estudos
teóricos sobre arte. A arte moderna obrigou o artista a
depurar sua técnica de modo solitário, até mesmo quando
assume declaradamente certas influências. A técnica não se
resume a um conhecimento sobre a fabricação homogênea
de objetos utilitários. Já há algum tempo procurou-se
estabelecer os critérios que distinguem a atividade do artista
da de um artesão, e, para isso, foi preciso reformular a noção
de técnica86. O artista, ao inventar novas regras e proporções
na arte, não está simplesmente reproduzindo um saber
artesanal: está criando uma nova técnica de abordar os
materiais, formulando, assim, uma nova linguagem.
85
FRANCASTEL, Pierre. Pintura e Sociedade. São Paulo: Martins
Fontes, 1990, p.154.
86
“Ars, artis, palavra latina da qual da qual a nossa arte derivou,
corresponde ao grego tékné, que significa todo e qualquer meio
apto à obtenção de determinado fim, e que é o que se contém na
idéia genérica de arte. Quanto a poésis, de significado semelhante a
tékne, aplica-a Aristóteles, de modo especial, para designar a
poesia e também a arte, na acepção estrita do termo (...) A arte,
enquanto processo produtivo, formador, que pressupõe aquilo que
ordinariamente chamamos de técnica, e enquanto atividade prática,
que encontra na criação de uma obra o seu termo final é poésis”.
NUNES, B. op. cit.,enedito, Introdução a Filosofia da Arte, editora Ática
2000, p. 20.
55
emoção. Por isso é que ele nos diz que a pintura é o que
permitia o adiamento de um colapso iminente.
Volpi, por exemplo, passa a utilizar a têmpera a ovo quando sua pintura se
torna mais calcada na superfície da tela e a cor, por sua vez, passa a ter um
papel predominante na formação do espaço. A têmpera demarca o processo
de amadurecimento de Volpi, pois a transparência do óleo muitas vezes
tornava suas pinturas diáfanas em demasia. A têmpera ressalta a presença
corpórea do pigmento sobre a superfície da tela, faz o pigmento respirar,
produzindo uma intensa saturação cromática.
Mira Schendel escolhe a têmpera acrílica, menos acetinada que a têmpera
aàà ovo mas com mais capacidade de saturação. Devido a alta
pigmentação, a cor pulsa no espaço, a presença corpórea do pigmento é
enfatizada como elemento primordial da cor. Mira explora diferenças de
opacidade e brilho que cada cor pode ter -, uma alquimia cromática nos
materiais No caso desta série intitulada Sarrafos, a artista trabalha
especificamente com o preto e o branco., Ppoderíamos afirmar que há quase
uma economia de natureza oriental (zen) onde a linha assume uma
coporeadade que desafia o limite do quadro. A sombra projetada do sarrafo
sobre a superfície também confere um aspecto efêmero, pois muda a cada
instante. O quadro não se faz mais pela relação de cores. Mira sempre soube
utilizar a cor como afirmação da sua existência efêmera.
87
“Assim como o pensador tenta se defender das palavras e das
expressões prontas que dispensam os espíritos de se surpreender
com tudo e tornam possível a vida prática, do mesmo modo o
artista pode, pelo estudo das coisas informes, isto é, de forma
singular, tentar encontrar sua própria singularidade e o estado
primitivo e original da coordenação de seu olho, de sua mão, dos
objetos e de seu querer”. VALÉRY, Paul. Degas Dança Desenho. São
Paulo:, Cosac & Naify, 2003.
88
VOLPI, A. Barco da Morte, 1960 (imagem): <
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ obra1786/barco-da-morte>. Acesso
em 23 de janeiro de 2020. SCHENDEL, M. Sarrafo, 1987 (imagem): <
https://bergamingomide.com.br/exposicao/mira-schendel-sarrafos-e-pretos-
e-brancos/>. Acesso em 23 de janeiro de 2020.
89
ROTHKO, Mark.“ Você não pode projetar sua mente na tela porque
existem coisas concretas que interferem, coisa técnicas. É um
enfraquecimento da sua ideia original.”. ROTHKO, Mark. Writings on
56
Vários pintores contemporâneos procuram resgatar técnicas
tradicionais como a encáustica, a têmpera e o afresco; trata-
se de uma forma de bloquear a janela virtual que surge na
pintura mediante o emprego da velatura da pintura à óleo.
Aqui no Brasil temos o exemplo da pintura de Paulo Pasta,
que, com admirável habilidade, consegue uma vibração
cromática a partir da relação entre o óleo e o verniz de cera,
que coloca a estrutura formal, na maioria das vezes
arquitetônica, em suspensão.
:
Jackson Pollock, Detalhe de Nnumber Oone (detalhe), Jackson Pollock, 1948.
Jasper Johns, , Detalhe de Flag (detalhe),, Jasper Johns, 1954.91, Foto:
Marco Giannotti
92
Fotografia de Andy Warhol trabalhando na impressão em silkscreen de
Marilyn Monroe, 1962 (imagem): <https://www.google.com.br/search?q=warhol++working++
on+Marylin+Silkscreen&tbm=isch&ved=2ahUKEwjYts7HhuLlAhUPHLkGHTSSD14Q2cCegQIABAA&oq=warhol++working+
+on+Marylin+Silkscreen&gs_l=img.12...8269.12776..14262...1.0..0.129.1243.5j7......0....1..gws-wiz-img.d-
QE2XnyCkA&ei=g0XJXZjpJ Y-45OUPtKS-8AU&bih=742&biw=1440#imgrc=ZdQsYSmsaBAJCM&imgdii=MceW1a
G6Bk4B5M >. Acesso em 23 de janeiro de 2020. WARHOL, A. Marylin Monroe in
58
Pintura e fotografia
“Quando copiei as primeiras fotos, senti pela primeira vez que estava
fazendo algo especial e, acima de tudo algo por conta própria. No jargão do
dia, era “radical”. E aqueles que viram isso de repente não tiveram
argumentos, exceto o de que era inaceitável simplesmente ignorar as regras
e copiar uma foto.”
Gerhard Richter
Quando copiei as primeiras fotos, senti pela primeira vez que estava
fazendo algo especial e, acima de tudo, algo por conta própria. No jargão do
dia, era "radical". E aqueles que viram isso de repente não tiveram
argumentos, exceto o de que era inaceitável simplesmente ignorar as regras
e copiar uma foto.
Gerhard Richter
96
RICHTER, G. Photographs from Newspapers, Books, etc. (Atlas, p.15).,
1964-1967. E Toilet Paper, 1965 (imagens): fonte?www. Gerhard Richter.com
62
Em 1965 Gerhard Richter cria suas pinturas a partir de um banco de
imagens que ele intitula Atlas, uma homenagem a Aby Warburg como
vimos no começo deste ensaio. O problema que se coloca é quando vemos
as fotografias de papel higenico ao lado de um dos trabalhos seminais do
cubismo de Picassso, juntamente com um candelabro, uma cena tropical e
uma cena do Kremlin. Warburg procurava estabelecer conexões primordias,
internas e ocultas entre as imagens através des suas reproduções. Nesta
sequência de Richter, que claramente se ambienta no clima da crítica da
cultura de massa da década de sessenta, tudo parece ser descartável, um
jornal, um papel higiênico, parecem durar menos que 15 minutos, mas se
tornam perenes na pintura.
97
RICHTER, Gerhard.
Photographs from Newspapers, Books, etc
98
“Suas pinturas em preto e branco anteriores tinham uma qualidade
diferente para você, um significado diferente das cores? Por exemplo, o
preto e branco era uma maneira de se distanciar ou era um meio para você
tentar ilustrar a objetividade? Naquela época era incomum criar pinturas a
óleo em preto-e-branco, mas todos os jornais, cotidianamente quando
utilizavam material fotográfico, incluindo a televisão, era em preto-e-branco;
álbuns de fotos e fotografia – tudo era preto-e-branco, o que é difícil de
imaginar nos dias de hoje. É por isso que impregnou um senso de realidade
na pintura que representava algo completamente novo. Olhando para eles
agora, a semelhança com a fotografia, a qualidade do documentário, não são
tão evidentes, porque as pinturas parecem apenas pinturas. Mas a fotografia
em preto-e-branco conseguiu manter uma qualidade única; o F.A.Z.
(Frankfurter Algemeine Zeitung) ainda usa fotografias em preto-e-branco,
mesmo que a maioria provavelmente prefira que sejam coloridas”. RICHTER,
G. Interview with Babette Richter (2002). In: RICHTER, G. op. cit. p. 442.
Disponível em: <https://www.gerhard-richter.com/en/quotes/search/? keyword=photography&year-from=&year-
to= >. Acesso em 21 de Dezembro de 2019.
99
Suas pinturas em preto e branco anteriores tinham uma qualidade
diferente para você, um significado diferente das cores? Por exemplo, o preto
e branco era uma maneira de se distanciar ou era um meio para você tentar
ilustrar a objetividade?
63
Richter afirma que ficou surpreso com a fotografia que
usamos todos os dias de maneira massiva: “De repente, vi
isso de uma nova maneira como uma imagem que me
oferecia uma nova visão, livre de todos os critérios
convencionais que sempre associei à arte. Não tinha estilo,
nem composição, nem julgamento. Isso me libertou da
experiência pessoal. Pela primeira vez, não havia nada: era
pura imagem. Por isso que eu queria utilizar, não para
mostrá-la – não usá-la como um meio para pintar, mas usar a
pintura como um meio para fotografar”100.
Em seu livro sobre arte e fotografia, na conclusão, Aaron
Scharf afirma como a fotografia efetivamente permitiu um
enorme ecletismo das imagens. Tudo parece contemporâneo,
nada se apaga. Mesmo um afresco de Mantegna feito
durante o Renascimento. Embora tenha sido destruído por
bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, perdurar
como imagem fotográfica. Estranha ainda mais o estilo
eclético do artista, que num mesmo ano faz uma pintura com
uma semelhança “fotográfica” da imagem de sua filha e no
momento seguinte faz uma pintura abstrata que parece a
fotografia de uma pintura figurativa que se apagou. Tudo
pode ser reproduzido ad infinitum. Mas isso não nos coloca
uma questão ética se tudo pode ser reproduzido de fato?
Na capa deste livro podemos observar uma pessoa
fotografando com seu telefone celular a Marilyn Monroe de
1962 de Andy Warhol no Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque enquanto escuta uma gravação eletrônica. O quadro
de Andy Warhol por sua vez, surge a partir de uma imagem
fotográfica de Marilyn Monroe.
Cada vez mais, o observador solitário se perde na multidão
do museu, sua relação com a obra de arte é inteiramente
mediada pela tecnologia. O ato de observar parece cada vez
mais se confundir com o ato de fotografar. De fato, vivemos
num mundo em que as reproduções podem ser mais úteis e
significativas do que uma imagem original. Neste caso o que
buscamos ainda numa pintura contemporânea? Sua
unicidade, sua originalidade?O ato de observar parece cada
vez mais se confundir com o ato de fotografar. De fato,
vivemos num mundo em que as reproduções podem ser
mais úteis e significativas do que uma imagem original.
Neste caso o que buscamos ainda numa pintura
contemporânea? Sua unicidade, sua originalidade?
100
RICHTER, G. Interview with Rolf Schön (1972). In: RICHTER, G. Idem, p.
59. Disponível em: <https://www.gerhard-richter.com/en/quotes/search/?keyword=photo graphy&year-
from=&year-to= >. Acesso em 21 de Dezembro de 2019.
64
Pintura e fotografia não devem ser entendidas como modos
de produzir imagens concorrentes. Desde a exposição
impressionista dos recusados, que ocorreu no estúdio de
Nadar, o fotógrafo e o pintor antes cooperaram do que
competiram entre si. Degas foi um dos primeiros a entender o
que a fotografia poderia ensinar ao pintor e o que o pintor
deveria evitar tomar emprestado dela. A natureza que se
dirige à câmera não é a mesma que se dirige ao olhar. A visão
é transformada pela técnica. No caso célebre de como
Muybridge retrata o galope do cavalo, a fotografia nos mostra
como nenhuma tomada fotográfica em si é suficiente para
nos dar a ilusão do movimento. O que nós realmente
percebemos é uma sequência infinita de pontos estáticos.
Existem pintores como Francis Bacon que só pintavam a
partir de fotografias: Vejo imagens em série. Suponho que
poderia ir muito além do tríptico e fazer cinco ou seis juntos,
mas acho que o tríptico é uma unidade mais equilibrada”.
Bacon nunca pintou ao vivo e sempre trabalhou a partir de
fotografias. Ele tinha uma cópia do livro pioneiro de Eadweard
Muybridge dos anos 1880, A Figura Humana em Movimento,
que explorava o movimento através de uma série de imagens
ainda sequenciais de pessoas andando, correndo pulando e
lutando. As fotografias de Muybridge podem ser reconhecidas
como a fonte de muitas das figuras que aparecem nas
pinturas de Bacon. Outro livro a que o artista se referiu para
algumas de suas poses mais tortuosas foi Positioning in
Radiography (1939), de Clark101.
103
WALL, J. Dead Troops Talk (A vision after an ambush of Red Army patrol, near Moqor, Afghanistan,
winter 1986), 1992 (imagem): https://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/exhibition/jeff-wall/jeff-wall-room-guide/jeff-wall-room-guide-room-8.
Acesso em 20 de janeiro 2020
fonte?
66
No mundo de hoje, o que está em jogo não é mais a
contemplação da natureza, mas a utilização de imagens cada
vez mais artificiais. Se a técnica conforma os sentidos, mais
do que nunca as novas tecnologias interferem na nossa
maneira de ver e interpretar o mundo. A natureza não é mais
o anteparo último que permite ao artista verificar se o seu
esquema representacional está correto ou não. Não há mais
espaço para a “dúvida de Cézanne” como afirma Merleau-
Ponty em o Olho e o Espírito.. Interpretações que se apóiam
na mimese para dar sentido ao trabalho artístico se tornam
cada vez mais problemáticas. Temos dificuldade em aplicar
critérios fenomenológicos quando a pintura se torna cada
vez mais autorreferente e passa a comentar um mundo
virtual. Nesse sentido é que podemos entender que
inspirados na Pop, tantos pintores [hoje?] hoje em dia
realizam quadros a partir da fotografia e não mais da
natureza. :
“
Por que a fotografia é tão importante em seu trabalho?
Porque fiquei surpreso com a fotografia, que todos nós usamos tão
intensamente todos os dias. De repente, vi isso de uma nova maneira, como
uma imagem que me oferecia uma nova visão, livre de todos os critérios
convencionais que sempre associei à arte. Não tinha estilo, nem
composição, nem julgamento. Isso me libertou da experiência pessoal. Pela
primeira vez, não havia nada: era pura imagem. É por isso que eu queria tê-
la, para mostrá-la - não usá-la como um meio para pintar, mas usar a
pintura como um meio para fotografar.104
104
RICHTER.Entrevista com Rolf Schön, 1972 https://www.gerhard-richter.com/en/quotes/search/?keyword=photography&year-from=&year-
to=
67
será de negar essa realidade para realizar imagens de
um mundo melhor (como sempre)”105 .
106
“O conteúdo ético das fotos é frágil. Com a possíivel exceção
daqueles horrores como os campos nazistas, que adquiriram a
condição de pontos de referência éticos, a maioria das fotos nãop
conserva sua carga emocional. Uma foto de 1900 que, na época,
produziu grande efeito por causa do seu tema, hoje,
provavelmente, nos comoveria por ser uma foto tirade em 1900”.
SONTAG, S. op. cit.,Sobre a fotografia, Companhia das letras, p.63.
107
Ver a este respeito o lLivro “ Why Photography Mmatter Aas Nnever Before. FRIED,.
Michael. New Haven: Yale university Press, 2008
108
https://www.brainyquote.com/quotes/andy_warhol_109768
69
70
Novas perspectivas
Robert Ryman, por exemplo, é um artista que trabalha sempre com a ideia
de limite. Ele utiliza usa os elementos mais simples para fazer uma pintura:
ele utiliza sempre a cor branca , e recobre as superfícies com uma trama.
Ele disseca o gesto, o suporte, a moldura e, ainda assim, consegue extrair
uma enorme força poética de elementos mínimos
109
Robert Ryman trabalhando (captura de video), 1993. KAPPELER,
Friedrich; LÄUCHLI, Marco. Robert Ryman: A Talk with the Artist, 1993.
Disponível em: <https://raussmueller-insights.org/ en/robert-ryman-a-talk-with-the-artist/ >. Acesso em
23 de janeiro de 2020.
71
110
MORANDI, G. Natureza-morta de Vasos em uma Mesa, 1931 (imagem):
> . Acesso em 23 de
<https://www.estorickcollection.com/exhibitions/giorgio-morandi-lines-of-poetry
janeiro de 2020. CALDAS, W. Tridimensional, 1997 (imagem): <
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra38408/espelho-sem-aco>. Acesso em 23 de janeiro de
2020.
72
111
Na obra de Waltercio Caldas pode se ver constantemente um
diálogo com questões pictóricas. Ele chegou a dedicar um livro
inteiro a Velázsquez, explorando seus espaços na medida em que
apagava os personagens.: Segundo o artista: “No
livro Velázquez sugiro que as questões impressionistas foram
prematuramente tratadas por este artista (1599-1660), que pintava
imaginando que o espectador veria suas imagens de uma distância
maior. A pintura impressionista nublava ainda mais o olhar,
abstraía mais. Velázquez, de certa maneira, revelava um "desfoque"
peculiar em sua pintura - "desfoque" que o impressionismo utilizará
depois.”.
CALDAS. Waltercio, Meio-Ato: eEntrevista com Thiago HonórioWaltercio
Caldas (entrevista concedida a Thiago Honório). a Revista ARS , da Escola
de Comunicações e Artes (ECA) da USP (São Paulo) volume .4, noúmero .8,
2006). São Paulo, 2006
73
minimalismo, que retirava qualquer resquício de
subjetividade da obra de arte. Suas últimas obras, diáfanas,
representam uma reviravolta em seu percurso. Quadros
simples, com a tinta bem diluída em terebintina, recusam
qualquer concessão ao belo efeito cromático. Essas pinturas
revelam o desespero em atribuir sentido a cada gesto, como
se estivesse à procura de dissimular a morte. Jorge Guinle foi
capaz de juntar arte e vida com uma intensidade invejável,
sem cair nos clichês de uma expressividade fácil. Ele
conseguiu conciliar o rigor de uma boa pintura abstrata com
uma vontade figurativa sempre latente; em cada uma de
suas obras podemos sentir a afirmação de que a pintura
ainda pode representar uma visão de mundo e partilhar
experiências de vida. Há uma desenvoltura, uma busca
desenfreada por uma forma de liberdade.
112
“" A pergunta, em tom casual, dá título a uma grande exposição
realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque
Lage) Jardim Botânico, Rio de Janeiro, aberta em 14 de julho de
1984. Os curadores da mostra, Marcus de Lontra Costa (1954), Paulo
Roberto Leal (1946 - 1991) e Sandra Magger, afirmam o caráter de
sondagem do empreendimento, que visa trazer à tona a produção
variada que tem lugar na década de 1980. Não se trata de lançar
manifestos, determinar modelos e/ou posturas unívocas, mas de
aferir algumas tendências artísticas que se manifestam no
momento. (...) Espécie de balanço realizado no calor da hora, a
exposição reúne 123 artistas de idades e formações distintas
como Alex Vallauri (1949 - 1987), Ana Maria Tavares (1958), Beatriz
Milhazes (1960), Cristina Canale (1961) e Daniel Senise ( 1955). Ainda
que o título da exposição faça menção a uma "geração 80" genérica,
o fato é que dela participam majoritariamente artistas do Rio
de Janeiro e de São Paulo. Boa parte dos cariocas tem ligação com a
EAV/Parque Lage, na época coordenada por Luiz Áquila (1943). Os
paulistas, em sua maioria, formam um grupo oriundo dos cursos de
artes da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap)
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento83465/como-vai-voce-
geracao-80>. Aacessado em 10 de dezembro de 2019.
Certamente outros nomes devem ser acrescentados: Ester
Grinspum (1955), Frida Baranek (1961), Gonçalo Ivo (1958), Jorge
Guinle (1947 – 1987), Karin Lambrecht (1957), Leda
Catunda (1961), Leonilson (1957 – 1993), Luiz Zerbini (1959), Luiz
Pizarro (1958), Mônica Nador (1955),Sérgio Romagnolo (1957),
Nelson Felix (1954) e Elizabeth Jobim (1957).
74
uma vertente Pop. Já a 18º Bienal de São Paulo que ocorreu
em 1985 mostrou em grandes corredores (intituladao Aa
Ggrande Ttela) artistas estrangeiros e brasileiros de uma
vertente neoexpressionista estrangeiros e brasileiros.113.
Neste movimento se destacava o grupo casa 7 formado por
Rodrigo Andrande, Paulo Monteiro, Nuno Ramos, Fábio
Miguez e Carlito Carvalhosa. Embora fortemente
influenciados pelo neo expressionismo alemão, estes jovens
artistas demontraram um apreço àa materialida de da
superfície pictórica que se faz presente na obra de vários
destes artistas atualmente e que inclusive, torna-se uma
referêiencia para os mais jovens. Certamente souberam
resisitir ao tempo na medida em que aprimoraram a técnica
pictórica, e desenvolveram, cada um a seu modo, uma
poética singular.114. Todos passaram pelo atelier de Sergio
Finguermann, artista que fez a passagem entre uma pintura
refinada de origem gráfica da chamada Escola Brasil115 para
uma pintura com uma carga mais lírica.
113
Para ver mais à este respeito:
<http://www.bienal.org.br/exposicoes/18bienal>. Acesso em 23 de janeiro
de 2020.
114
Havia dois modos distintos de formação artística então, aquele
que ocorria em ateliês de artista como no de Carlos Fajardo e Sergio
Fingermann e os que ocorriam em Faculdades de Arte como no
Departamento de Artes Plásticas da USP e na FAAP (Faculdade
Armando Alvares Penteado). Sem dúvida, naquele período, no que
concerne a pintura, a atividades nos ateliers e na Faap era bem
mais livre e menos engessada. Na USP o atelier de pintura era
praticamente vazio, pois a “morte da pintura” havia sido decretada.
Com o tempo estas anomalias foram sendo sanadas, de modo que
hoje em dia lá se formaram pintores de grande qualidade como
Eurico Lopes, Tais Cabral, Vitor Iwasso, Henrique Oliveira, Rafael
Carneiro, André Ricardo entre outros.
115
A respeito da Escola Brasil ver:
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao407326/escola-brasil
75
essencial na obra de arte não consiste no ser imagem ou
sinal, mas no ser uma coisa, um objeto, uma realidade. Fazer
arte significa, em primeiro lugar, realizar: é só
secundariamente que ela é significação, ou expressão, ou
qualquer outra coisa. Desvincular o conceito de expressão da
obra propriamente dita poderia nos levar a um espiritualismo
artístico.
116
“A arte permanece na sua categoria, como o mar, que apesar do
fluxo e refluxo, continua no seu próprio leito. As investidas da anti-
arte não fazem mais que afirmá-la. Muitos são os arautos da
destruição da arte e, portanto. Do homem que morrerá com ela.
Vaticinam também o fim da religião e do pensamento filosófico. Com
o advento da bomba atômica, também apregoam o fim do mundo”.
CAMARGO, Iberê. Texto original no jornal Correio do Povo (24/12/1969), Porto
Alegre. In: LAGNADO, Lisette “Conversações com Iberê Camargo”. São Paulo:
Iluminuras, 1994, p 145.
117
“O discurso historico não nasce nunca. Sempre recomeça.
Constatamos isso: a história da arte (…) recomeça vez após outra.
Toda vez, ao que parece, que seu próprio objeto é vivenciado como
morto…é como renascendo”., DIDI-HUBERMAN, Georges. A Iimagem
Ssobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby
Warburg. Rio de Janeiro: , p.13. Contraponto, Rio de Janeiro, 2013, p.13.
76
Ingmar Bergman, O Sétimo selo, Igmar Bergman, 1959118.
Lucas Arruda,
UntitledSem título ((da série from the Deserto-Modelo series), 2018121
120
“Pode-se concluir então que, se a partida ‘“pintura modernista’”
está concluída, não significa necessariamente que o jogo ‘“pintura’”
está acabado: muitos anos virão para essa arte.
Mas a situação é ainda mais complicada, visto que a partida
‘“pintura modernista’” foi a partida do fim da pintura; isso foi
tanto uma reação ao sentimento do fim quanto um trabalhar o
fim, de ponta a ponta. BOIS, Y.Yves Alain Bois, idemIdem.
121
ARRUDA, L. Sem título (parte da série Deserto-Modelo), 2018. Cortesia do
artista e galeria Mendes Wood São Paulo (fotografia de Kristien Daem).
77
desta parede que parece feita de pedra, de matéria calcinada, buscamos
ainda um ponto de luz num resquício de tinta branca, uma esperança em
tempos tão turbulentos. Tons tão poucos avessos à atmosfera
impressionista, um céu amarronzado acinzentado diante de um horizonte
negro carrega por sua vez uma certa leveza. Não sabemos ao certo onde
estamos, perdidos num deserto sem fim, como alude ou título, ou diante dos
mares carregados de petróleo. O pequeno formato não deixa de produzir
uma sensação de grande escala, de algo tão distante e tão próximo ao
mesmo tempo. Se seu espaço é paradoxal, o mesmo vale para sua
temporalidade, presente no ardil em fazer da matéria alguma ilusão, mesmo
que perdida. Certamente não encontra espaço nos museus modernistas e, à
distância, devido ao gênero escolhido, não destoaria se estivesse à primeira
vista num salão do século XIX. E, no entanto, este descolamento temporal é
o que mais nos intriga, pois parece ter resistido a todos movimentos
demolidores da vanguarda e ainda mantêm um frescor contemporâneo. Joga
assim com as forças do passado, algo que o modernismo sempre procurou
negar em seus manifestos.
127
Esta discussão não ocorre apenas aqui, mas mundo afora, como
atesta a reportagem da folha de São Paulo “Como os super-ricos
assumiram o controle dos museus . MASSING, Michael. Como os super-
ricos assumiram o controle dos museus. (reportagem originalmente
publicada no New York Times). Publicado no caderno Ilustríssima, Folha de
São Paulo ( p.4, 12/01 de/ janeiro de 2020), p. 4.
128
Mais informações em: < http://www.sesc.com.br/portal/sesc/o_sesc>.
Acesso em 23 de janeiro de 2020.
80
dimensão utópica e incita o mundo da fantasia, que se
transforma em mercadoria. Nesse sentido, basta lembrar da
dimensão utópica e política na obra de Beuys para nos
sentirmos órfãos. Os limites da arte e da vida, de fato,
parecem cada vez mais se extinguir se não encontrarmos
certas medidas para refletir sobre a especificidade da
atividade artística. Se, por um lado, palavras como
autonomia, liberdade e expressão devem ser
redimensionadas no debate contemporâneo, por outro,
corremos o risco de perder as dimensões utópicas, projetivas
da arte, em detrimento de considerações sociológicas
primárias.
Bibliografia
131
Em seu Inistagram Bansky postou auma citaçnãao do crítico inglês
Robert Hughes: “A arte deve nos fazer sentir de maneira mais clara
e inteligente, deveria prover sensaçcões coerentes que não
teriamos de outra forma. Mas o preço de uma obra de arte faz parte
agora da sua função. Seu novo papel é ser colocado na parede e
tornar-se mais cara. Ao invés de ser uma propriedade comum da
humanidade como um livro, a arte se torna propriedade particular
de alguém que tem meios para isso. Suponha que um livro valioso
custe um milhão de dolares, imagine o efeito catastrófico que
causaria”. Postagem do dia 3 de outubro de 2019.
132
“A arte é o invisível que se torna visível, não como um passe de
mágica, mas pelo próprio fazer do artista com a matéria, que se
torna obra.”. HÉLIO OITICICA, H. op. cit. p.2.
ASPIRO - AO GRANDE LABIRINTO seleção ..https://we.riseup.net/.../OITICICA,
+Helio+aspiro+ao+grande+labiri...
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Brasileiros
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Bibliografia
Alemães
Americanos
Belgas
Canadenses
Holandeses
Ingleses
Italianos
Franceses
Espanhóis
El Greco (1541-1614)
Pablo Ruíz y Picasso – Málaga, 1881 – Mougins, 1973.
Diego Velásquez – Sevilha, 1599-1660.
Irlandês