PSICOLOGIAS DA EDUCAÇÃO E TEORIAS DA APRENDIZAGEM - Aula 10

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Psicologias da Educação e Teorias da Aprendizagem

Autoria: Nancy Capretz Batista da Silva

Tema 10
A Psicanálise Lacaniana e a Educação
Tema 10
A Psicanálise Lacaniana e a Educação
Autoria: Nancy Capretz Batista da Silva
Como citar esse documento:
ZANFELICI, Tatiane Oliveira. Psicologias da Educação e Teorias da Aprendizagem: A Psicanálise Lacaniana e a Educação. Anhanguera
Publicações: Valinhos, 2014.

Índice

CONVITEÀLEITURA PORDENTRODOTEMA
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portuguesa ou qualquer outro idioma.
CONVITEÀLEITURA
A psicanálise é uma das vertentes de entendimento da psique humana mais populares. Freud deixou um grande
legado quando construiu a ciência psicanalítica com seu método e tratamento de doenças psicológicas. Foram muitos
seus discípulos e entre eles, há grande destaque para Lacan, o qual tratou de forma inédita e muito construtiva a
psicanálise, fazendo relações muito claras e pertinentes com o contexto educativo. Assim, a psicanálise lacaniana
constitui uma importante abordagem a ser considerada na Psicologia da Educação.

PORDENTRODOTEMA
A Psicanálise Lacaniana e a Educação

A Psicanálise se desenvolveu e se difundiu por meio das associações de psicanalistas. Jacques Lacan (1901-
1981) foi um discípulo de Freud na França que desejava corrigir desvios desvirtualizadores da obra freudiana. Depois
de algumas dissidências, já no final de sua vida, em 1980, ele criou a Escola da Causa Freudiana para este fim, a qual
ainda existe em Paris.

Na sua leitura de Freud, Lacan adota um modelo antropológico-cultural ao invés do tradicional modelo biológico,
entendendo o inconsciente como um conceito estruturado pela linguagem na relação do sujeito com o Outro, ou seja,
no contato da pessoa, inserida em uma cultura, com seus semelhantes (JUSTO, 2004). Desta forma, para ele, é na
ordem do simbólico que o homem se constitui:

(...) o sujeito, se parece servo da linguagem, ele o é mais ainda de um discurso em cujo movimento universal seu
lugar já está inscrito desde seu nascimento, ainda que seja sob a forma de se nome próprio (LACAN, 1978, p. 226).

Quase todos os comportamentos humanos surgem por meio do processo de aprendizagem, diferentemente do que
acontece com os animais, cuja maioria dos comportamentos ocorre por instintos. O não determinismo biológico na
conduta do homem faz com que ele seja capaz de criar, inventar, buscar conhecimento. Seus instintos são modificáveis

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PORDENTRODOTEMA
pela experiência. Assim, enquanto os animais buscam satisfação de acordo com a necessidade, no homem é possível
observar renúncia à satisfação ou busca excessiva do prazer, indo além das necessidades biológicas por estar em uma
condição de produção de cultura (JUSTO, 2004).

Essa relação com a cultura coloca o homem em uma posição de não saber, tanto em relação ao mundo externo, como
em relação a si mesmo e aos seus desejos. As condições sociais do homem o impedem de realizar plenamente seus
desejos, os quais representam uma falta do encontro entre a necessidade e o objeto (JUSTO, 2004).

O que está em questão no desejo é um objeto, não um sujeito. É neste ponto que reside aquilo que se pode
chamar de o mandamento espantoso do deus do amor, esse mandamento é, justamente, de fazer do objeto
que ele nos designa algo que, em primeiro lugar, seja um objeto, e, em segundo lugar, um objeto diante do qual
desfalecemos, vacilamos, desaparecemos como sujeito. Pois essa queda, essa depreciação, nós, como sujeito,
é que a sofremos (LACAN, 1992, p. 172).

Diferentemente do que ocorre com os animais quando se trata das heranças biológicas, as heranças culturais não são
anunciadas ou autorreveladoras nem se realizam de forma automática. É no contato com o outro que o indivíduo produz
o saber, a prescrição de sua existência no mundo que direciona sua conduta. As heranças culturais são desconhecidas
pela geração transmissora devido a bloqueios e censuras de forças sociais. Mas o sujeito precisa, para constituir-se,
apropriar-se desta herança, havendo neste processo uma busca, seguida de uma apreensão, renomeação, ressignificação
e orientação no tempo. Este processo e a transmissão ocorrem por meio do pensamento e da linguagem (JUSTO, 2004).

Na releitura de Freud, Lacan fala sobre a importância do espelho na constituição do sujeito. No estádio do espelho o bebê
elabora imagens na relação com o mundo. A princípio, não há nenhuma atração pela sua imagem refletida no espelho,
pois não há um reconhecimento de si. Na sequência do desenvolvimento, o bebê percebe uma imagem, mas não se
reconhece ainda. Não há uma diferenciação do mundo, não havendo, portanto, o outro. A imagem é uma imagem-coisa,
pois não há diferenciação entre representante, representado e agente da representação. Em seguida, na representação
cênica, percebe-se o início da separação entre sujeito e objeto, embora não se distingam as intencionalidades e ainda
se confunda eu e outro. Em um momento posterior, há representação da palavra: a criança reconhece sua imagem,
diferenciando representante, representado e agente. Isso permite “a instituição da relação significante/significado na
linguagem e para o domínio da palavra” (JUSTO, 2004, p. 85). Para Lacan:

Basta compreender o Estádio do Espelho como uma identificação, no sentido pleno que a análise atribui a
esse termo, ou seja, a transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem11(...). A assunção
jubilatória de sua imagem especular, por esse ser ainda mergulhado na impotência motora e na dependência da
amamentação que é o filhote do homem no estágio de infans, parecer-nos-á, pois, manifestar, numa situação

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exemplar, a matriz simbólica em que o eu [je] se precipita numa forma primordial, antes de se objetivar na dialética
da identificação com o outro e antes que a linguagem lhe restitua, no universal, sua função de sujeito (...) (LACAN,
1978, p. 97).

E ainda:

(...) o Estádio do Espelho é um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para a antecipação - e
que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da identificação espacial, as fantasias que se sucedem desde
uma imagem despedaçada do corpo até uma forma de sua totalidade que chamaremos de ortopédica - e para
a armadura enfim assumida de uma identidade alienante, que marcará com sua estrutura rígida todo o seu
desenvolvimento mental (LACAN, 1978, p. 100).

Portanto, o nascimento do eu acontece a partir de uma imagem criada pelo outro, que ao invés do espelho, pode ser
o olhar da mãe. Neste, serão construídas as primeiras representações das suas necessidades, sentimentos e ações,
dando sentido às experiências. O desejo do sujeito, inclusive, nasce no desejo do outro (JUSTO, 2004).

No acesso ao plano simbólico, eu e outro se diferenciam. Representante e representado ou significante e significado se


separam, o que possibilita o surgimento da palavra e da linguagem. Aparece um terceiro elemento na simbiose entre
mãe e criança que parecia o alcance do gozo absoluto, a figura do pai. Como interdição a esse gozo, aparece como lei,
que é mais um significante do que uma pessoa e permite a constituição do lugar da criança, sua imagem, identidade
e nome, independentemente da mãe. Na relação com o outro, na ocupação dos lugares, produz-se o inconsciente
(JUSTO, 2004).

Desta forma, no desejo da mãe, está, a princípio, o lugar do sujeito no mundo e, na presença do pai, em seguida, seu
lugar próprio. Em um entendimento lacaniano da cultura brasileira, pode-se concluir que a ocupação europeia ocorreu
basicamente sem resistência, gerando um sentimento de ausência de leis e de satisfação plena dos desejos. Isso
acarretou em um tratamento não sério das leis pelo povo, assim como em um relacionamento pais-filhos baseado em
uma projeção de sonhos não realizados pelos pais sobre seus filhos, dificuldades de interdição e, consequentemente,
uma falta de um lugar próprio pela criança (JUSTO, 2004).

Na educação, a visão lacaniana permite perceber a escola como um cenário humano e mundano: constituído por
pessoas inseridas em lugares designados por uma rede de relações, onde cada um ocupa um lugar designado por uma
função. No caso do aluno e do professor, este serve como espelho para aquele e seu lugar-função será constituído “no
lugar do ideal do ego do aluno; ele terá que representa para o aluno suas aspirações mais elevadas, seus projetos, o
ideal de si mesmo que persegue e procura alcançar” (JUSTO, 2004, p. 95). Assim,

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PORDENTRODOTEMA
sob a ótica da psicanálise, é de fundamental importância ouvir o aluno na sua individualidade para que a palavra
seja resgatada em toda a sua autenticidade a partir das diferenças. Obviamente, o professor, diante da realidade
cotidiana, não poderá se tornar um clínico, nem poderá escutar o aluno como faz o psicanalista, dando lugar ao
inconsciente. Mas poderá, através de uma ética, que leva em conta os fenômenos inconscientes presentes na
sua relação com os alunos, ajudá-los a avançar diante das muitas questões que os mesmos encontram no curso
de sua trajetória escolar (NUNES, 2004, p. 3).

O professor representa os ideais do aluno simbolicamente, pois o saber está além dele. Além disso, ao professor é
atribuído não só o conhecimento, mas também afetos. Percebe-se, então, a existência de relações transferenciais entre
professor e alunos, que vêm de modelos de relações e vínculos emocionais estabelecidos com outros. O espelhamento
permeia essas relações, com ideais e projeções depositados de um para o outro. Assim, da mesma forma como deve
ocorrer na relação pais-filhos, na escola os lugares precisam estar bem delimitados, permitindo a expressão dos sujeitos
e é necessária a existência de lugares vazios para circulação do sujeito, do conhecimento e da palavra, oportunizando
liberdade, criatividade e expansão (JUSTO, 2004).

A interdição também é importante neste contexto, pois na delimitação de lugares o limite de cada um deve ser estabelecido,
devendo haver uma lei que estabeleça direitos, coíba transgressões, inibindo a violência e a opressão e promovendo
contatos diante do posicionamento efetivo de cada um no seu lugar. Assim, o professor tem entre suas funções a de
provedor do conhecimento e interditor que regula o acesso ao conhecimento. Existe, assim, uma relação triádica entre
aluno, conhecimento e professor, sendo um bom professor aquele que se coloca não como detentor do saber, mas
que permite a autonomia do aluno sendo mediador do mesmo. Da mesma forma, o professor quem vai intermediar o
relacionamento entre os alunos, possibilitando uma livre circulação dos mesmos por diferentes lugares psicossociais a
fim de que se estabeleçam e não se aprisionem (JUSTO, 2004).

Os lugares psicossociais existem previamente configurando a estrutura das relações na escola e a ocupação deles
acontece com professores e alunos adaptando ou modelando os mesmos a partir de cristalizações de modos de ser e
agir da pessoa nos seus relacionamentos. Tais lugares são formados por desejos ou expectativas, intenções e buscas
circulantes. Percebe-se um problema se há aprisionamento em lugar pelo desejo do outro, sendo o ideal que se possa
circular pelos lugares simbólicos para o sujeito ir se ressignificando e se encontrando (JUSTO, 2004).

O professor pode ainda ser visto como um representante da cultura. Ele faz referência a uma lei maior, ou seja, as
normas e referências culturais, nos atos cotidianos escolares: rotina, hábitos de higiene, lugares e espaços escolares,
festividades, horários, atividades programadas, etc. Seu modelo é de submissão à lei, pois seus desejos não determinam
o acontecimento dessa rotina (LEITE, 2011).

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PORDENTRODOTEMA
Para Kupfer (2010, p. 97), a psicanálise não transmite uma técnica a partir da qual o professor possa atuar em sala de
aula, mas transmite “uma ética, um modo de ver e de entender a sua prática educativa”. Leite (2011, p. 97) acredita que a
psicanálise permite uma transformação do professor, no sentido de que “a partir desta mudança de posição, deste novo
atravessamento ético, ele modificaria sua relação com todos os outros conhecimentos”

Moura e Silva (2009), por sua vez, acreditam que a psicanálise tem contribuído com a formulação de diretrizes educacionais
na medida em que está considerando fatores subjetivos no processo de ensino-aprendizagem, como o respeito à cultura
do aluno, suas dificuldades de aprendizagem, a necessidade de obter apoio, acompanhamento, adquirir confiança em si
mesmo e o processo de avaliação que deve servir como um diagnóstico da necessidade de repensar o ensino e a forma
de avaliar. Ainda é necessário que considerar a subjetividade do professor, podendo a psicanálise auxiliá-lo na resolução
de conflitos e entendimento dos alunos durante seu desenvolvimento escolar.

Com a constatação da importância das relações sociais na teoria lacaniana, percebe-se um entendimento de uma menor
rigidez quanto à hierarquia, uma retirada do poder e da excelência das figuras de autoridade e o estabelecimento de uma
escola participativa, com um papel mais central atribuído ao aluno. A noção de gozo também ocupa lugar fundamental
na teoria de Lacan, sendo “uma mistura de prazer e insatisfação – ou também pode ser de dor e satisfação –, que nos
torna apegados a formas de relação conhecidas como sintomas, inibições ou angústias” (REVISTA NOVA ESCOLA,
2008, p. 2). A linguagem também é um lugar de gozo. Segundo Lacan, não há um verdadeiro desejo de saber. Somado
a isso, faltam novas possibilidades de gozo dos alunos, caracterizando-se uma situação de fracasso escolar na cultura
atual (REVISTA NOVA ESCOLA, 2008).

Nos problemas encontrados no ensino, a leitura lacaniana da psicanálise permite entende-los sob a ótica da transferência
de trabalho. Ensinar seria colocar os alunos a trabalhar, buscar o que não sabem. Como o saber se encontra atrelado ao
processo do sujeito, sendo semblante e não saber verdadeiro, inclusive na escola, é na emissão do discurso, sua análise
e de seus efeitos que podemos determinar se um saber é verdadeiro. Segundo Lacan (1990, p. 221), “desde que haja
em algum lugar o sujeito suposto saber (...) há transferência”.

Como alternativa para modificar o processo de ensino-aprendizagem, é possível uma ruptura com o ensino tradicional
e proporcionar o desejo de aprender no aluno com ajuda dos quatro discursos de Lacan: do mestre, do universitário, do
analista e da histérica (REIS, PENNA E SOUZA, 2001). Discurso é o estatuto dos enunciados e os quatro discursos são
a condição para uma comunicação bem sucedida (BALDINO, CABRAL, 1997).

O discurso do mestre diz que governar é impossível e se apresenta no início, quando o professor apresenta o contrato
de trabalho definindo o regime de promoções: número de provas, indicação do livro texto, nota de aprovação, etc.

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PORDENTRODOTEMA
(BALDINO, CABRAL, 1997; REIS, PENNA E SOUZA, 2001). Esta fase precisa ser superada ou se constituirá um ensino
tradicional: professor que esconde sua falta de conhecimento sob uma autoridade magistral e aluno constituído pelo
gozo de passar de ano, embora não seja possível que na presença do mestre o aluno comece a trabalhar e querer
passar de ano (BALDINO, CABRAL, 1997).

Para o discurso do universitário, educar é impossível. A autoridade magistral precisa ser recalcada para o saber exercer
sua posição como agente. O professor estabelece que o saber adquirido promove o aluno. (BALDINO, CABRAL, 1997;
REIS, PENNA E SOUZA, 2001).

Segundo o discurso do analista, ou discurso do objeto, analisar é impossível, então o professor aplica a teoria, passa
exercícios e prova, os quais devem mostrar a intimidade do aluno com o objeto de conhecimento. Por fim, de acordo
com o discurso da histérica, fazer desejar é impossível. O outro deve aparecer como demanda para aprendizagem do
aluno, caracterizando o nível simbólico da transferência, pois de sujeito do saber o professor passa a lugar do outro para
o aluno (BALDINO, CABRAL, 1997; REIS, PENNA E SOUZA, 2001).

ACOMPANHENAWEB
Um encontro com Lacan.

• Este documentário sobre a vida de Lacan mostra seu trabalho e suas ideias. É possível
compreender como ele desenvolveu sua leitura de Freud e como alguns de seus pacientes viam
este importante estudioso das questões psíquicas.
Link: <https://www.youtube.com/watch?v=S-QtbFaZjmw>. Acesso em: 1 maio 2014.

Tempo. 52’54’’

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ACOMPANHENAWEB
Os quatro discursos de Lacan e o teorema fundamental do cálculo.

• Neste artigo os quatro discursos de Lacan são investidos na caracterização do ensino


tradicional-vigente da Matemática e na análise de uma alternativa metodológica a partir da
psicanálise lacaniana. As diferenças dessas estratégias metodológicas em termos da teoria dos
campos semânticos no caso do teorema fundamental do cálculo foram discutidas. Os quatro
discursos lacanianos são apresentados e contextualizados na sala de aula de Matemática. A
apresentação do teorema fundamental do Cálculo feita por um livro-texto usual foi analisada e
conclui-se com um encaminhamento pedagógico fundado nas análises feitas.
Link: <http://www.apm.pt/portal/quadrante.php?id=35633&rid=35632>. Acesso em: 1 maio 2014.

Territórios Lacanianos – Psicanálise e educação na EBP SC.

• Este vídeo retrata algumas questões colocadas pela escola na relação professor-aluno, sobre
as quais a psicanálise lacaniana pode contribuir. As psicanalistas falam sobre como auxiliaram
professores a resolverem problemas na interação com os alunos sobre os quais tinham dúvidas
se estavam lidando adequadamente.
Link: <https://www.youtube.com/watch?v=3pha5_HVuTk>. Acesso em: 01 maio 2014.

Duração: 04’32’’.

Educação primordial, transmissão simbólica e advento do sujeito.

• Este texto parte da definição de Educação como inscrição de marcas simbólicas que possibilitam
a transmissão de uma posição de filiação a partir da qual o sujeito pode advir. Procura-se situar, a
partir das teorizações de Lacan, como os impasses na Educação Primordial podem implicar em
fracasso na constituição do sujeito. Analisa-se como o discurso (psico)pedagógico hegemônico
– que impregna o modo como os adultos se dirigem às crianças atualmente – pode redobrar
este fracasso, na medida em que as crianças em impasse subjetivo tendem a ser colocadas em
tratamentos reeducativos/ortopédicos que podem dificultar o processo de estruturação subjetiva.
Link: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032006000100024&l-
ng=en&nrm=abn>. Acesso em: 06 jun. 2014.

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AGORAÉASUAVEZ
Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla
escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
Questão 1

Como Lacan trata o inconsciente em relação à Freud?

Questão 2

Em que consiste o estádio do espelho?

I. Um momento psíquico da evolução humana, entre 6 e 18 meses.

II. Estruturação da criança como sujeito, num processo inconsciente.

III. A criança identifica a sua imagem antes que os outros ao seu redor.
a) I e II estão corretos.

b) I e III estão corretos.

c) II e III estão corretos.

d) Todos estão corretos.

e) Todos estão incorretos.

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AGORAÉASUAVEZ
Questão 3

Qual item não se relaciona à forma como a psicanálise pode contribuir com a prática do professor?
a) Definindo técnicas avançadas de ensino.
b) Influenciando seu modo de ver e de entender a sua prática educativa.
c) Modificando a sua relação com todos os outros conhecimentos.
d) Transformando a relação do professor com o conhecimento.
e) Transmitindo uma ética à visão do trabalho do professor.

Questão 4

Destaque alguns aspectos dos lugares psicossociais.

Questão 5

A que se refere a noção de gozo e como se relaciona ao ensino?

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FINALIZANDO
Este tema apresentou a você os conceitos e as abordagens mais relevantes da psicanálise lacaniana. Todos eles
têm um importante papel no entendimento das relações que se estabelecem no processo de ensino-aprendizagem,
iniciando-se nas relações familiares e sendo continuadas na instituição escolar. Assim, a visão psicanalítica da escola
traz importantes pontos de vista para a prática do educador em uma melhor execução de suas funções, tendo sido
Lacan essencial para uma ampliação da teoria no sentido de entender o que se passa nos contextos educacionais.

REFERÊNCIAS
BALDINO, Roberto Ribeiro; CABRAL, Tânia Cristina Baptista. Os quatro discursos de Lacan e o teorema fundamental
do cálculo. Revista Quadrante, Lisboa, v. 6, n. 2, p. 1-24, 1997. Disponível em: <http://www.apm.pt/portal/quadrante.
php?id=35633&rid=35632>. Acesso em: 10 mai. 2014.
JUSTO, José Sterza. A psicanálise lacaniana e a educação. Em: CARRARA, Kester. Introdução à Psicologia da Educação: seis
abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004, p. 71-107.
KUPFER, Maria Cristina. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 2010.
LACAN, Jacques. Escritos. São Paulo: Perspectiva, 1978.
LACAN, Jacques. O seminário, livro VIII: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.
______. O seminário, livro XI: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1990.
LEITE, Mônica Fujimura. De que serve a psicanálise à educação escolar? Dissertação de Mestrado em Educação,
Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR, 2011.
MOURA, Francisco; SILVA, Talitha Elen. A educação clínica como metodologia pedagógica: investigação sobre a aplicação da
psicanálise na área educacional em Minas Gerais. Educação em Revista, v. 25, n. 1, p. 265-291, 2009.

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REFERÊNCIAS
NUNES, Marcia Regina Mendes. Psicanálise e educação: pensando a relação professor-aluno a partir do conceito de
transferência. In: COLOQUIO DO LEPSI IP/FE-USP, 5, 2004, São Paulo. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032004000100040&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 10 Mai. 2014.
REIS, Ayrton Rodrigues; PENNA E SOUZA, Orion. Onde se esconde o desejo de aprender do aluno? Revista Linguagem &
Cidadania, Ed. 5, p. 1-7, 2001. Disponível em: <coral.ufsm.br/lec/01_01/Ayrton-OrionL5.htm>. Acesso em: 10 abr. 2014.
REVISTA NOVA ESCOLA. Jacques Lacan, o analista da linguagem. Editora Abril, edição 216, Outubro 2008. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/formacao/analista-linguagem-423050.shtml>. Acesso em: 10 mai. 2014.
SANTANA, Carolina Andrade de; LIMA, Christiano Mendes de. Educação primordial, transmissão simbólica e advento do
sujeito. Em: Psicanálise, educação e transmissão, 6, 2006, São Paulo. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032006000100024&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 06 Jun. 2014.

GLOSSÁRIO
Inconsciente: “um sistema decorrente da linguagem, cujo traço fundamental é operar por intermédio de representações
nas quais o representante (significante) é separado do representado (significado). Assim o recalcamento age sonegan-
do ou barrando uma figura à consciência, pela qual um material poderia ser apreendido ou representado. Além disso,
por não aprisionar os significantes a determinados significados, o inconsciente, à semelhança da mobilidade da pulsão,
pode valer-se de todo tipo de metamorfose para se expressar, fazendo uso de analogias, como no caso da metáfora, e
de outros meios passíveis de expor figurativamente um material capaz de significação” (JUSTO, 2004, p. 105).

Outro: “designa tudo aquilo que determina o sujeito, que funciona como seu espelho e especifica, na relação, seu lugar
no mundo. (...) o “Outro”, grafado com inicial maiúscula, designa todo tipo de contraste pelo qual o “Eu” se reconhece
localizado num determinado lugar. Pode ser tomado como a cultura, o mundo social e simbólico que ronda o sujeito.
Grafado com a letra inicial minúscula, refere-se aos pares estabelecidos concretamente nas relações, concebidos de
forma imaginária, ou seja, numa relação de espelhamento” (JUSTO, 2004, p. 106).

Desejos: “alude a um fenômeno da linguagem: é a expressão, pela palavra, da incompletude do sujeito e de sua condi-
ção de faltante. O desejo, portanto, expressa as buscas, por meio da palavra, dos objetos supostamente perdidos. (...)

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GLOSSÁRIO
se forma na relação entre o “Eu” e o “Outro” e, devido ao espelhamento, ele se constitui a partir do “outro” ” (JUSTO,
2004, p. 104).

Significante/significado: significante “refere-se ao substrato material do signo, isto é, designa tudo aquilo que trans-
porta o significado: sons, imagens visuais, impressões táteis, olfativas, gustativas, cinestésicas etc. Entretanto, é pre-
ciso considerar que tal substrato material é, antes de tudo, um fenômeno psicológico, ou seja, não é o som em si, mas
a impressão ou imagem acústica gerada pelo psiquismo”. Significado “é a ideia ou conceito veiculado pelo significante.
Trata-se de um fenômeno psicológico, posto que o significado não é o referente ou o objeto real, mas a ideia formada
sobre ele e que o representa na mente do sujeito” (JUSTO, 2004, p. 106).

Gozo: “diferencia-se do prazer, comumente tomado como a sensação de alívio produzida pela redução da tensão no
uso de um objeto desejado. O gozo situa-se no campo da relação do sujeito com a palavra e desenrola-se no plano sim-
bólico. É a satisfação obtida no manejo da linguagem, na obtenção dos sentidos das buscas do sujeito e não da posse
propriamente dita dos objetos. O protótipo do gozo é aquele que acompanha as visadas do desejo do “outro”. O que
desejamos na relação com o “outro” não é ele em si, mas seu desejo, suas intenções em relação a nós, ou seja, visamos
a significantes e nos realizamos com o encontro simbólico do “outro” ” (JUSTO, 2004, p. 105).

GABARITO
Questão 1

Resposta: Lacan adota um modelo antropológico-cultural ao invés do tradicional modelo freudiano biológico, entendendo
o inconsciente como um conceito estruturado pela linguagem na relação do sujeito com o Outro, ou seja, no contato da
pessoa, inserida em uma cultura, com seus semelhantes.

Questão 2

Resposta: Alternativa A.

Justificativa: Somente as afirmações I e II estão corretas: o estádio do espelho é um momento psíquico da evolução
humana, que ocorre entre 6 e 18 meses de idade e há uma estruturação da criança como sujeito, num processo

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GABARITO
inconsciente. A afirmação III está errada, pois, na verdade, a criança antecipa o domínio sobre sua unidade corporal
através de uma identificação com a imagem do semelhante e da percepção da sua própria imagem num espelho.

Questão 3

Resposta: Alternativa A.

Justificativa: A alternativa não diz respeito à forma como a psicanálise pode contribuir com a prática do professor, pois
ela não define técnicas de ensino, mas transmite uma ética, influenciando o modo do professor ver e entender a sua
prática educativa, transformando o professor e modificando a sua relação com todos os outros conhecimentos.

Questão 4

Resposta: Os lugares psicossociais existem na estrutura das relações escolares e se dá na ocupação, adaptando-se
ou modelando-se a partir de cristalizações de modos de ser e agir. São formados por desejos ou expectativas, intenções
e buscas circulantes, havendo um problema quando ocorre um aprisionamento pelo desejo do outro, sendo o ideal que
se possa circular por lugares simbólicos diferentes. O professor influencia na rede de relacionamentos influenciando na
tomada desses lugares.

Questão 5

Resposta: Basicamente, o gozo situa-se no campo da relação do sujeito com a palavra e desenrola-se no plano
simbólico. Trata-se da satisfação obtida no manejo da linguagem, na obtenção dos sentidos das buscas do sujeito. No
ensino, observa-se frequentemente o fracasso escolar, o qual pode ser entendido como falta de novas possibilidades de
gozo dos alunos.

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