Artigo - A Criança, o Adulto e o Infantil Na Psicanálise
Artigo - A Criança, o Adulto e o Infantil Na Psicanálise
Artigo - A Criança, o Adulto e o Infantil Na Psicanálise
enuncia a infncia como a base causal necessria para fundamentar a interpretao dos
sexual que chega ao psiquismo imaturo da criana com o impacto de um trauma. Como
Essa busca pelo infantil, ainda pelo vis da infncia cronolgica, apenas uma
prpria teoria freudiana uma patente oscilao com relao compreenso da infncia e
do infantil. Apesar da aparncia enganosa das palavras, o fato que, num primeiro
momento, o infantil surgiu como uma funo de adjetivo, o que foi posteriormente
conseqncia uma revoluo dentro da prpria psicanlise, atravs da qual uma nova
feita Fliess: no acredito mais em minha neurtica. Aqui, Freud cristalizava uma
material para o da realidade psquica, e, com isso, o corpo passa a ocupar o lugar do
em que j era patente a sua diferena com relao infncia. Podemos dizer que o
Uma segunda toro que o infantil sofreu na obra freudiana veio como
para a psicanlise, pois ele faz do infantil um aspecto intrnseco prpria pulso sexual.
sexualidade em sua face ertica. Aqui a pulso de morte surge como uma modalidade
pulsional, que opera em oposio pulso de vida, fazendo com que o infantil seja
passa a se identificar com o real da angstia e com o trauma, com aquilo capaz de
erotismo como aquilo que vem possibilitar o advento do sujeito, na medida em que ela
faz frente ao impulso pulso de morte. Contudo, apesar deste enlaamento ertico
nascido possa manejar a pulso de morte, porm o trauma inevitvel. A razo para
esse trauma se encontra na lacuna ineliminvel que surge entre o excesso pulsional, que
1997)
Se de incio o trauma tinha sua gnese na seduo real, visto como um excesso de
erotismo, agora o trauma era visto como fruto de um encontro com o real (no sentido
agora no era mais habitada pelo erotismo, ela encarna o poder da morte, do excesso
da carcia para o que h de frio e de rido no horror da morte (BIRMAN, 1997, p. 26).
permite afirmar, portanto, que o sujeito infantil por vocao e no por contingncias
chegou a ter um lugar destacvel enquanto conceito, a partir do ensino de Lacan, ele
(1985) nos permite empreender uma distino necessria entre os conceitos de infncia
lgica que se aplica a este tipo de desenvolvimento cognitivo, no mesma que pode
porm no se desenvolve, ele se constitui num processo, cujo tempo lgico singular.
neste processo que o infantil deve ser compreendido em sua relao com o conceito de
estrutura.
Para explicar a constituio do sujeito, Lacan formaliza aquilo que Spitz abordou
demanda para que advenha o sujeito disjunto do gozo. Isso quer dizer que o recm-
nascido um organismo que chega ao mundo sendo recebido por um Outro que encarna
o campo simblico. Uma vez situado dentro deste campo, acontece que aquilo que do
organismo puder ser capturado pela linguagem ser o que permitir o advento de um
sujeito. No entanto, aquilo que do organismo no puder ser dito pelo simblico passa a
estar no campo do que Lacan chamou de registro do real, do gozo, da pulso sem
Sendo o instinto incapaz de responder s questes cruciais do ser humano, ser pela via
da pulso que o sujeito vai se constituir, sendo que a pulso justamente esse silncio
separao com o campo do Outro, o sujeito se constitui diante uma escolha que o fora
a se deixar afetar pelo significante, na medida em que isto lhe obriga a viver amputado
negativa que o sujeito encontra como lhe fazendo fundamentalmente falta. Desse modo,
o infantil aquilo que podemos conceitualmente extrair dessa diviso entre pulso e
de gozo, o infantil o que est envolvido na condio faltosa que move a constituio
aquilo que da criana no se desenvolve, porque se trata daquilo que o sujeito como
gozo ineliminvel, que ele deve ao fato de ser um ser falante (SAURET, 1998). No
Para concluir vamos de lanar mo de uma idia, desenvolvida por Serge Leclaire
(1977), para embasarmos nossa aposta diante do infantil. Para Leclaire, a criana,
faz dela um extremo de esplendor, uma jia cintilante de poder absoluto; mas ela
...em tornar manifesto o trabalho constante de uma fora de morte: esta que
consiste em matar a criana maravilhosa (ou aterrorizante), que, de gerao
em gerao, testemunha acerca dos sonhos e desejo dos pais; s a vida a esse
preo, pela morte da imagem primeira, estranha, na qual se inscreve o
nascimento de cada um. Morte irrealizvel, mas necessria, pois no h vida
possvel, vida de desejo, de criao, se cessarmos de matar a criana
maravilhosa que renasce sempre (LECLAIRE, 1977, p. 10).
Diante do infantil, o psicanalista deve estar atento ao seu carter ambguo, pois, ao
condenar-se a no viver. Existe para cada analisando uma criana a matar, um luto a
cumprir e a refazer continuamente; uma luz de gozo imvel que precisa se ofuscar para
cime, o medo de crtica, a dependncia, tudo isso constitui rastros que so deixados por
uma criana que est viva no inconsciente do adulto. No entanto, a anlise efetua uma
A travessia da fantasia remete a uma queda do que se refere quilo que fixa o sujeito na
sua alienao ao Outro, mas naquilo que surge da depurao da fantasia: o desejo.
Lanamos ento nossa aposta de que, atravs de Lacan, podemos extrair de Freud a
o sujeito do inconsciente, sujeito do desejo, sujeito este que possui em sua estrutura
algo do infantil.
BIBLIOGRAFIA
______Alm do princpio do prazer (1920) In: Edio Standard Brasileira das Obras
Psicolgicas Completas, v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1996..
______Os instintos e suas vicissitudes (1915) In: Edio Standard Brasileira das
Obras Psicolgicas Completas, v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
SOBRE O AUTOR