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Ciência Rural, Santa Maria,

Das Américas
v.40, n.6,para
p.1473-1483,
o Mundo -jun,
origem,
2010domesticação e dispersão do abacaxizeiro. 1473
ISSN 0103-8478

Das Américas para o Mundo - origem, domesticação e dispersão do abacaxizeiro

From the Americas to the World - origin, domestication and dispersion of pineapple

Maraisa CrestaniI* Rosa Lia BarbieriII Fernando José HawerrothI


Fernando Irajá Félix de CarvalhoI Antonio Costa de OliveiraI

- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA –

RESUMO Key words: Ananas comosus, Bromeliaceae, history, evolution,


fruit crop, genetic resources, plant breeding.
O abacaxi (Ananas comosus (L.) Merril), fruto
símbolo de regiões tropicais e subtropicais, originário das
Américas, foi difundido para todo o mundo, principalmente
pelos navegantes europeus, em razão de seu aroma e sabor INTRODUÇÃO
característicos e exuberante aparência. Batizado como o “Rei
das Frutas Coloniais”, o abacaxi encontra-se entre as 11 frutas
mais produzidas no mundo, sendo cultivada e consumida pelos
O abacaxi, símbolo de regiões tropicais e
cinco continentes, e o Brasil destaca-se como maior produtor. subtropicais, tem grande aceitação em todo o mundo
Assim, o objetivo desta revisão bibliográfica é abordar a história tanto na forma natural, quanto industrializado,
da cultura do abacaxi, contemplando sua botânica, sua origem agradando aos olhos, ao paladar e ao olfato. Por essas
e dispersão pelo mundo, seu cenário atual, também aspectos
relacionados à conservação de germoplasma e ao razões e por ter uma “coroa”, coube-lhe o título de “Rei
melhoramento genético. dos Frutos Coloniais”, conferido pelos exploradores
europeus, que, no Novo Mundo, encontraram tão
Palavras-chave: Ananas comosus, Bromeliaceae, história,
evolução, fruticultura, recursos genéticos,
exuberante fruta, a qual também foi lembrada por Santa
melhoramento vegetal. Rita Durão, em 1781, no canto XII e na estrofe XLIII do
poema Caramuru: “Das frutas do Paiz a mais louvada...
ABSTRACT
He o Regio Ananas, fruta táo boa,... Que a mefma
The pineapple(Ananas comosus (L.) Merril), fruit- Natureza namorada... Quiz como rei cingilla da
symbol of tropical and subtropical regions, originated in the coroa:...Táo grato cheiro dá, que huma
Americas, was widespread throughout the world mainly by talhada....Surprende o olfato de qualquer peffoa;...
european navigators because of its aroma and flavor, and lush
appearance. Named as “King of Colonial Fruits”, pineapple is
Que a náo ter do Ananas diftincto avilo,... Fragrancia
one of the eleven most produced fruit in the world, growing a cuidará do Paraifo...” (DURÃO, 1781).
consumed in every continent, with Brazil as the largest producer. O abacaxi é uma fruta muito apreciada, sendo
Then, the objective of this literature review is to approach the consumido in natura, enlatado, congelado, em calda,
pineapple history, contemplating its botany, origin and
dispersion in the world and its current scenario and issues cristalizado, em forma de passa e picles e utilizado na
related to germplasm conservation and breeding. confecção de doces, sorvetes, cremes, balas e bolos. É
I
Programa de Pós-graduação em Agronomia, Departamento de Fitotecnia, Faculdade de Agronomia ‘Eliseu Maciel’, Universidade
Federal de Pelotas (FAEM/UFPEL), Campus Universitário Capão do Leão, CP 354, 96010-900, Pelotas, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]. *Autor para correspondência.
II
Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, Brasil.
Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.
Recebido para publicação 28.09.09 Aprovado em 16.05.10 Devolvido pelo autor 15.06.10
CR- 2584
1474 Crestani et al.

também consumido na forma de suco, refresco, xarope, Botânica e taxonomia


licor, vinho, vinagre e aguardente e serve de matéria- O abacaxi é uma planta pertencente à família
prima para a extração de álcool e ração animal, pela Bromeliaceae, que apresenta aproximadamente 2700
utilização dos resíduos da industrialização. O suco de espécies, herbáceas, epífitas ou terrestres, distribuídas
abacaxi é altamente dietético e energético; 150ml de em 56 gêneros, originárias das Américas,
suco contém aproximadamente 150 quilocalorias e teor predominantemente neotropicais, com exceção apenas
de açúcar variando entre 12 e 15%, dos quais da espécie Pitcarnia feliciana (A. Chevalier) Harms &
aproximadamente 66% são sacarose e 34% açúcares Mildbraed, que é encontrada na costa oeste africana
redutores (MEDINA, 1978). O fruto é abundante em (BENZING et al., 2000). Pertence à subfamília
açúcar, se amadurecido na planta, e muito rico em sais Bromelioideae, gênero Ananas, que compreende
minerais e vitaminas A, B1, B2 e C, em que cada 100g de espécies cultivadas, bem como espécies silvestres
polpa fresca de abacaxi contém aproximadamente 50 (SIMÃO, 1998). A maioria das cultivares de abacaxizeiro
quilocalorias, 89% de água, 0,3% de proteína, 0,5% de pertence à espécie Ananas comosus (L.) Merril, espécie
lipídios, 5,8% de glicídios, 3,2% de celulose e 0,3% de diploide, apresentando 2n=2x=50, havendo também
sais, apresentando quantidade considerável de variedades poliploides do gênero Ananas (COTIAS-
potássio, ferro, cálcio, manganês e magnésio (GOMES, DE-OLIVEIRA et al., 2000).
1976; SOARES et al., 2004). O abacaxizeiro (A. comosus) é o membro da
A literatura cita as propriedades abortiva, família Bromeliaceae mais importante economicamente,
diurética e vermífuga do fruto do abacaxi quando ainda apesar da existência de várias espécies ornamentais
verde (XIE et al., 2006). Além disso, pode ser destacada que compõem essa família, enquanto outras são
a substância obtida do resíduo da industrialização do também utilizadas como matéria-prima em tecidos,
abacaxi: a bromelina (EC 3.4.22.4), enzima proteolítica fibras, fibras para confecção de cordas, linha de pesca,
muito usada na composição de medicamentos por rede de pesca e outros artigos similares (LEAL, 1995).
possuir propriedades medicinais que auxiliam na O fruto do abacaxi é caracterizado por um
digestão. É diurética e depurativa, além de possuir ação aglomerado de uma ou duas centenas de pequenos
anti-inflamatória, sendo utilizada no tratamento de
frutos (gomos) em torno de um mesmo eixo central, em
hematomas, contusões e também como solvente de
que cada “olho” ou “escama” da casca do abacaxi é
mucosidades no sistema respiratório (MANETTI, 2009).
um fruto verdadeiro que cresceu a partir de uma flor, e
Segundo a maioria dos naturalistas e
estes se fundem em um grande corpo, chamado
historiadores, o abacaxi é originário da América tropical
infrutescência, no topo do qual se forma a coroa (SILVA
e subtropical e, muito provavelmente, do Brasil
& TASSARA, 2001).
(MEDINA et al., 1978). Há indícios que sua
O abacaxizeiro é uma planta perene, não
domesticação ocorreu muitos séculos anteriores à era
propagado comercialmente via sementes, as quais são
pré-colombiana (SIMÃO, 1998). Sua dispersão pelos
geralmente vestigiais (abortadas), em razão das
vários países americanos iniciou com o intercâmbio
entre tribos; contudo, com o descobrimento da América, variedades de abacaxi serem altamente
se tornou conhecido mundialmente, quando foi levado autoincompatíveis e/ou apresentarem baixa fertilidade,
para a Europa, Ásia e África e se disseminou pelos apesar da importância das sementes para a variabilidade
vários países rapidamente (CTENAS & QUAST, 2000). genética da cultura e o melhoramento genético, sendo
Atualmente, o abacaxi é extensivamente produzido em estas obtidas principalmente via hibridações artificiais
todos os países tropicais, sendo o Brasil seu maior (CABRAL et al., 1999; CABRAL et al., 2003). Segundo
produtor, onde encontra excelentes condições para seu COPPENS d’EECKENBRUGGE et al. (1993) e LEAL
desenvolvimento, sendo cultivado em quase todos os (1995), a autoincompatibilidade no abacaxi se deve à
Estados (FAOSTAT, 2010; IBGE, 2010). A partir do inibição do crescimento do tubo polínico após a
século XVI, o abacaxi se tornou conhecido pelo mundo, fecundação, que é determinado pelo sistema
ganhando importância como espécie cultivada em gametofítico controlado pelo loco S com múltiplos
virtude de sua beleza e qualidade como alimento. Nesse alelos. Segundo esses autores, a ocorrência natural de
sentido, o objetivo desta revisão bibliográfica é efetuar formação de sementes em algumas variedades é
uma abordagem da história da cultura do abacaxi, decorrente da autocompatibilidade, sendo a polinização
contemplando sua botânica e taxonomia, origem e realizada por aracnídeos, insetos ou pássaros.
dispersão pelo mundo até as primeiras lavouras De forma geral, a propagação do abacaxi é
comerciais, a situação atual de produção e os aspectos vegetativa, por meio do uso de estruturas diversas da
relacionados à conservação de germoplasma e ao planta adulta, tais como coroa (brotação do ápice do
melhoramento genético dessa cultura. fruto), filhote (brotação do pendúculo, que é a haste

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que sustenta o fruto), filhote-rebentão (brotação da correspondendo às regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste
região de inserção do pendúculo no caule ou talo) e do Brasil e Norte da Argentina e do Paraguai (COLLINS,
rebentão (brotação do caule) (SIMÃO, 1998). A 1960). Entretanto, a maior diversidade do gênero é
multiplicação vegetativa do abacaxi é realizada por meio encontrada na área compreendida entre as latitudes
do seccionamento de caule, da destruição do meristema 10º Norte e 10º Sul e as longitudes 55º Leste a 75º Oeste
apical e do tratamento com substâncias reguladoras (LEAL & ANTONI, 1981). Dessa forma, o centro de
de crescimento (HEENKENDA, 1993; COELHO et al., origem parece ter sido o Brasil Central (MEDINA, 1978;
2009). Para aumentar e acelerar a taxa de multiplicação SIMÃO, 1998; CTENAS & QUAST, 2000) ou o Paraguai,
e diminuir o potencial ou até mesmo evitar a de acordo com outros autores (SILVA & TASSARA,
disseminação de pragas e patógenos por meio de mudas 2001), de onde se disseminou para as outras regiões
convencionais, técnicas de propapagação in vitro tem do mundo (Figura 1).
sido indicadas (BARBOZA & CALDAS, 2001); porém, Segundo FERREIRA & CABRAL (1993), o
no Brasil, a produção comercial ainda é restrita Brasil é considerado um dos principais centros de
(COELHO et al., 2009). diversidade genética do abacaxi porque, além de A.
De acordo com SAMPAIO (1914) e comosus, todas as espécies do gênero Ananas são
GIACOMELLI & PY (1981), o termo “abacaxi” é encontradas nas formas silvestres ou cultivadas em
provavelmente oriundo do palavra “ibacaxi”, que várias regiões brasileiras. Segundo a classificação de
significa fruto cheiroso, pois “iba” representa fruto e ZOHARY (1970) e GIACOMETTI & FERREIRA (1987),
“caxicati” representa cheiroso, da língua guaraní, falada a região central da América do Sul é considerada o
ainda hoje no Paraguai; já a designação “ananás” tem centro mundial de diversidade genética do abacaxi, a
origem da palavra nana, substantivo no grau qual abrange o Brasil, o Paraguai e a região andina. De
aumentativo, significando o aroma grande, o que cheira, acordo com LEAL & COPPENS D’EECKENBRUGGE
da língua tupí, falada pelos índios tupis, nativos que (1996), estudos mais recentes evidenciaram a ocorrência
habitavam o litoral do Brasil; enquanto a terminologia de maior variação morfológica nos tipos silvestres e
“comosus” significa empenachado e se refere às hastes
cultivados do gênero Ananas, nas áreas situadas ao
das frutas. Algumas outras espécies do gênero Ananas
Norte do Rio Amazonas, nas regiões do Orinoco, Rio
frequentemente são erroneamente chamadas abacaxi.
Negro, Amapá e Guianas, do que nas regiões Sul do
A designação universal para a fruta abacaxi é “ananás”
Brasil e Norte do Paraguai.
ou “piña”, sendo o nome “abacaxi” restrito ao Brasil e
De acordo com BERTONI (1919), o abacaxi
Paraguai (MEDINA, 1978). No Brasil, atualmente,
é originário, mais especificamente, da região que
somente são designados por “ananás” os frutos
circunscreve as bacias dos rios Paraná e Paraguai, e
selvagens ou pertencentes a variedades não cultivadas
sua planta foi levada dessas regiões para locais ao
ou menos conhecidas ou frutos de qualidade inferior.
Norte pelas tribos tupi-guaranis, sendo levado à
A palavra “abacaxi” costuma ser empregada não apenas
América Central e à região do Caribe, seguindo a prática
para designar os frutos de melhor qualidade e oriundos
de intercâmbio de produtos entre as tribos. A
de variedades conhecidas, mas também é o nome
utilizado para identificar a própria planta que o produz, domesticação do A. comosus var. comosus, de interesse
apesar da existência da palavra “abacaxizeiro”, para a fruticultura, perece ter ocorrido nas Guianas,
específica para tal finalidade (GIACOMELLI & PY, 1981). onde foi realizada a seleção de clones com fruto grande
Quando descobriram esse fruto tropical, os e acidez moderada (COPPENS d’EECKENBRUGGE et
exploradores espanhóis o chamaram “piña”, em razão al., 1993).
da similaridade do fruto do abacaxi com a pinha, ou O abacaxizeiro é uma planta de clima tropical,
estróbilos, de pinheiros (COLLINS, 1960), sendo a com crescimento ótimo e melhor qualidade de frutos
palavra “pinha” designada “pine cone”, em inglês. na faixa de temperatura de 22 a 32°C, com amplitude
Posteriormente, os ingleses acrescentaram “apple” na térmica diária de 8 a 14°C e chuvas de 1.200 a 1.500mm
palavra “pine”, e o fruto começou a ser identificado em anuais (NASCENTE et al., 2005). De acordo com esse
inglês com o nome “pineapple” (HAYS & HAYS, 1973). autor, a planta exige boa luminosidade, com insolação
anual ótima de 2.500 a 3.000 horas, ou seja, 6,8 a 8,2
Origem, domesticação e dispersão horas de luz solar por dia. O cultivo é recomendado em
O centro de origem das espécies do gênero altitudes variando desde o nível do mar até 400 metros
Ananas é o Hemisfério Oeste, na América tropical e e verificando-se o aumento do ciclo vegetativo da
subtropical, e compreende a área entre as latitudes 15º planta na medida em que há elevação da altitude
Norte e 30º Sul e as longitudes 40º Leste a 75º Oeste, (SIMÃO, 1998).

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Figura 1 - Ilustração demonstrando o centro de origem do abacaxi, assinalado com o círculo, e diferentes rotas de
dispersão da fruta para as outras regiões do mundo, demonstradas por meio das setas.

A ausência de sementes em variedades por ele denominados de Belen e Puerto Bello; outro
cultivadas é atribuída à antiguidade de sua fato marcante foi o envio de Gonzalo Fernandez de
domesticação, que remonta há muitos séculos da era Oviedo e Valdés pelo rei Fernando, em 1513, ao Novo
pré-colombiana (SIMÃO, 1998). O abacaxi já era Mundo, para dirigir as fundições de ouro, sendo
cultivado pelos indígenas em extensas regiões do Novo responsável por realizar a primeira descrição da planta,
Mundo, antes do descobrimento, inclusive no Brasil e ilustrando-a por meio de desenhos e sendo publicada
na América Central. Provavelmente, as atuais variedades em 1535, em Sevilha, na obra História General y
cultivadas descendem de abacaxizeiros silvestres ali Natural de las Índias (PY & TISSEAU, 1969).
existentes e, segundo HAYS & HAYS (1973), os índios De acordo com HOEHNE (1937) e DUKE
sul-americanos reconheceram a fruta como comestível (1946), o padre jesuíta Anchieta citou o reconhecimento
e começaram a domesticá-la por volta de 4000 a.C. do abacaxi pela intensa doçura, pela morfologia, pelo
A literatura relata que o primeiro encontro cheiro, pelas propriedades medicinais e pelo uso do
entre os europeus e o abacaxi ocorreu em 4 de novembro fruto em suas variadas formas botânicas e locais de
de 1493, quando Cristóvão Colombo, em sua segunda ocorrência, sendo indispensável nas festas indígenas
viagem para a região do Caribe, ancorou em Guadalupe, e nos rituais de afirmação das tribos, utilizado na
nas Pequenas Antilhas, e foi inspecionar a vila produção de refrescos e bebidas alcólicas para
caribenha em terra e, entre a rica flora, conheceu os consumo e difundido nas plantações dos civilizados.
frutos de abacaxi (SIMÃO, 1998). Esse fruto foi Segundo esses autores, o suco de abacaxi em fase de
oferecido aos invasores europeus pelos índios num apodrecimento era utilizado pelos índios como veneno
gesto de hospitalidade e boas-vindas (SILVA & na ponta da flechas para defesa contra os inimigos. Ao
TASSARA, 2001). Os navegadores espanhóis mesmo tempo, o fruto era também utilizado como
experimentaram o fruto, apreciaram muito o novo símbolo de amizade e hospitalidade, sendo pendurados
alimento e associaram a morfologia do curioso fruto de frutos na entrada de moradias, simbolizando um convite
exterior abrasivo e segmentado com uma pinha, para entrar, costume introduzido na cultura espanhola
batizando-lhe com o codinome piña, em espanhol, e e que se espalhou por toda a Europa e posteriormente
pineapple, em inglês (MEDINA, 1978; HAYS & HAYS, nos Estados Unidos da América, tornando comum a
1973). presença de abacaxis de cerâmica nas entradas e nos
A presença do abacaxi nas ilhas do Caribe portões (HAYS & HAYS, 1973).
não foi um evento natural, mas sim resultado de séculos A expansão do abacaxi no mundo foi
de migração e comércio indígena realizado por tribos seguindo a abertura das vias marítimas pelos espanhóis
exploradoras, que navegavam em canoas por extensas e portugueses durante o século XVI, sendo os
áreas tropicais oceânicas, mares e rios (BERTONI, 1919). navegadores responsáveis por essa difusão, talvez por
Em 1502 e 1503, Colombo relata a presença de cultivos acaso, com o carregamento dos frutos para consumo a
indígenas de abacaxi nas costas do Panamá, nos locais bordo durante as viagens e o abandono das coroas

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nos vários portos de desembarque da África e Ásia e A. comosus var. bracteatus – composto pelas espécies
que ali se prestaram como primeiro material de A. bracteatus e A. fritzmuelleri; A. comosus var.
multiplicação natural (MEDINA, 1978). De acordo com comosus – representado pela espécie A. comosus; A.
CTENAS & QUAST (2000), o abacaxi foi propagado comosus var. erectifolius – composto pelas espécies
naturalmente até a América Central e foi disseminado A. lucidus e A. erectifolius; A. comosus var.
no mundo pelos portugueses, durante as grandes parguazensis – representado pela espécie A.
navegações, a começar pela África ocidental, via Tomé parguazensis; e pelo complexo A. macrodontes,
e Príncipe, África oriental, passando por Madagascar, formado pela espécie Pseudananas sagenarius.
e finalmente chegando às Índias. Foi levado para a No Brasil, são conhecidas cinco espécies
Europa como testemunho da exuberância exótica das de Ananas e uma de Pseudananas, gênero afim ao
terras existentes a oeste do Atlântico (SILVA & gênero Ananas. O gênero Pseudananas contém uma
TASSARA, 2001). Segundo MORTON (1987), os única espécie, P. sagenarius, vulgarmente designada
portugueses introduziram o abacaxi na costa leste da por gravatá-de-rede ou pseudo-ananás, cujos frutos
África, em 1548, na China já crescia abacaxi em 1594 e não possuem coroa, são revestidos por longas brácteas,
no sul da África, em 1655, e em 1650 já havia chegado possuem grande quantidade de sementes e não são
na Europa, com os frutos sendo produzidos na Holanda, comestíveis. Ocorrem em diferentes regiões do Brasil,
em 1686, e em casas-de-vegetação na França e notadamente na região da Bacia do Rio Paraná, tendo
Inglaterra, no início do século XVIII, com temperaturas sido identificadas cinco variedades botânicas: typicus,
equivalente à temperatura tropical que a planta bertonii, boliviensis, dardanensis e thevetii
necessitava para crescer. Esse autor relata ainda que o (GIACOMELLI & PY, 1981).
Capitão Cook plantou abacaxizeiros nas Ilhas do Além das cultivares de abacaxi de interesse
Pacífico, em 1777, e missioneiros de Lutero, na Áustria, frutícola pertencentes à espécie A. comosus, no Brasil,
importaram plantas do Novo Mundo em 1838, incluindo são ainda encontradas as espécies silvestres A.
a cultura do abacaxizeiro. Os espanhóis aprenderam a ananassoides, A. bracteatus, A. fritzmuelleri e A.
cultivar o abacaxi com os índios, em virtude do grande erectifolius (MEDINA, 1978). Ananas ananassoides é
apreço que tinham pelo fruto, e assim foram implantadas composta por frutos pequenos (até 15cm), com grande
lavouras dessa cultura no sul da Espanha, região quantidade de sementes e não comestíveis, cuja
ensolarada e mais quente, e rapidamente foram também variedade botânica típica dessa espécie, var. typicus,
verificados cultivos em casa-de-vegetação e estufas ocorre comumente em campos naturais e cerrados,
em outras localidades do continente europeu, como na recebendo o nome vulgar de ananás-do-campo. Pode
Inglaterra, França e Holanda (HAYS & HAYS, 1973). ser citada também a variedade nanus, conhecida na
Esse fruto foi transformado em iguaria de Amazônia como ananaí-da-amazônia (GIACOMELLI &
reis e rainhas, e era oferecido como símbolo de PY, 1981). A espécie A. bracteatus é conhecida
hospitalidade a convidados especiais da nobreza, vulgarmente como ananás-do-mato, por ser encontrada
também nas cortes europeias, sendo representado pelas em matas de diferentes regiões do país, caracterizada
belas artes e estudado e admirado pelas ciências da por frutos de tamanho equivalente aos cultivados,
natureza. Um dos registros pioneiros de prestígio do polpa amarela, mas de qualidade inferior pela elevada
abacaxi em outras terras é uma pintura datada de 1664, acidez e grande presença de fibras, merecendo destaque
que retrata o Rei Carlos II recebendo das mãos de um as variedades albus (ananás-branco-do-mato), rudis
jardineiro do palácio o primeiro abacaxi cultivado na (ananás-vermelho-do-mato) e variedade tricolor. Na
Inglaterra (CTENAS & QUAST, 2000). região meridional da Mata Atlântica brasileira, são
O cultivo comercial de abacaxi nos Estados encontrados frutos da espécie A. fritzmuelleri, que
Unidos iniciou no começo do século XX, no Havaí, atingem mais de 15cm de comprimento, mas também
quando as empresas alimentícias Dole e Del Monte não são comestíveis (MEDINA, 1978). Já a espécie A.
começaram a cultivar abacaxi na Ilha de Oahu, em 1901 erectifolius tem origem na região amazônica, recebe o
e 1917, respectivamente (FISCHER, 2006). Em 1909, a nome de “curauá” e apresenta frutos de até seis
empresa Maui Pineapple Company iniciou o cultivo de centímetros, geralmente com coroas múltiplas, com
abacaxi na ilha de Maui (MAUI PINEAPPLE polpa doce, branca e bastante fibrosa (GIACOMELLI
COMPANY, 2009). & PY, 1981). O curauá é uma planta característica da
Segundo COPPENS d’EECKENBRUGGE & Amazônia paraense, cuja folha é aproveitada para a
LEAL (2003), atualmente o gênero Ananas é composto produção de fibra no Estado do Pará, apresentando
pelos complexos A. comosus var. ananassoides – características interessantes para o aproveitamento
formado pelas espécies A. ananassoides e A. nanus; farmacêutico (FUJIHASHI & BARBOSA, 2002). Além

Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.


1478 Crestani et al.

disso, em razão da resistência, maciez e massa reduzida Produção no Brasil e no mundo


das fibras extraídas dessa planta, desponta como Considerando o mercado mundial de frutas
sucedâneo na fabricação de cordas, sacos e utensílios no ano de 2008, a cultura do abacaxizeiro caracteriza a
domésticos e como substituinte da fibra de vidro na décima quinta lavoura em área produzida e a décima
indústria automobilística (PEREIRA et al., 2007). primeira em relação à produção total de frutas, sendo
No Norte da América do Sul, nas Antilhas, cultivados 848.100ha (FAOSTAT, 2010). A Ásia é o
na América Central e no Sul do México, é possível continente com maior produção total (9.596.000t) e área
produzida (399.200ha), sendo responsável por 47,1%
encontrar em cultivo as espécies A. bracteatus, A.
da produção mundial de abacaxi (Figura 2A). Entre os
fritzmuelleri e A. comosus, em que a espécie A. comosus
10 principais países produtores do abacaxi no mundo,
caracteriza a principal espécie explorada
o Brasil é o maior produtor, responsável por 13,0% de
comercialmente, sendo bastante variável em formas e toda a produção total mundial (Tabela 1).
cultivares, apresentando as variedades dessa espécie No Brasil, nas últimas cinco décadas, foi
classificadas basicamente em cinco grupos: Spanish, observado o crescimento constante da área cultivada
Cayenne, Queen, Pernambuco e Maipure (LEAL, 1995). e da produção total de abacaxi (Figura 2B), refletindo o
Existem centenas de cultivares crescente apelo e a expansão do mercado consumidor,
desenvolvidas no Brasil e no mundo, e a Singapore sendo cultivados, no ano de 2008, em torno de 62.142ha
Spanish, Queen e Espanhola Roja, juntamente com a dessa cultura, caracterizando a sexta lavoura entre as
Perolera, Smooth Cayenne e Pérola, caracterizam as mais frutas cultivadas no país. O aumento significativamente
conhecidas no mundo (CABRAL et al., 1999). Uma das superior da produção total nacional em relação à área
principais variedades de abacaxi cultivadas no mundo cultivada é reflexo dos constantes aumentos da
é a Smooth Cayenne, que provavelmente era cultivada produtividade observados a cada ano, decorrentes das
pelos índios na América do Sul e já em 1886 foi melhorias das condições de cultivo, contrastando a
selecionada e enviada para a Flórida, e daí levada para média de produtividade de 10,8t ha-1 em 1961 com os
o Havai, onde se tornou a favorita e impulsionou as 40,10t ha-1observados em 2008 (FAOSTAT, 2010). A
região Nordeste se destaca com a maior produção
produções comerciais da cultura (HAYS & HAYS,
nacional de frutos, seguida da região Sudeste, Norte,
1973). Por apresentar fruto com excelente aspecto, de
Centro-oeste e, por fim, a região Sul (IBGE, 2010). O
elevado tamanho e formato cilíndrico, pesando de 1,5 a
Estado da Paraíba é o principal produtor, respondendo
2,0kg, polpa firme e amarela, com elevado teor de por cerca de 17,9% da produção nacional, a qual
acúcares e elevada acidez, a ‘Smooth Cayenne’ é a juntamente com os Estados de Minas Gerais (17,5%),
cultivar mais utilizada na industrialização por ser Pará (16,4%) e Bahia (9,9%) totalizam 61,7% da produção
considerada um padrão internacional (CTENAS & brasileira de abacaxi (Tabela 1). Em 2008, a exportação
QUAST, 2000; NASCENTE et al. 2005; CUNHA, 2007). de abacaxi na forma de fruta fresca foi de 32.566t e de
Outra variedade que merece destaque é a Pérola, a qual fruta processada totalizou 6.623t, das quais 1,29%
é a mais cultivada no Brasil, particularmente na região corresponderam à fruta processada na forma de polpa
Nordeste e no Estado de Minas Gerais, sendo destinada e 98,71% na forma de suco (IBRAF, 2010).
principalmente para o consumo in natura pela sua alta Apesar de encontrar no Brasil excelentes
qualidade organoléptica (CABRAL et al., 1999; condições para seu desenvolvimento e produção, e
CUNHA, 2007). Apresenta frutos menores que a Smooth ser cultivado em quase todos os Estados, o abacaxi
Cayenne, levemente cônicos, variando de 1,0 a 1,5kg, ainda não se destaca no cenário agrícola nacional e
polpa branca e rico em suco contendo elevado teor de apresenta pequena contribuição no valor total das
açúcares e reduzida acidez (NASCENTE et al. 2005). culturas produzidas no país. No entanto, caracteriza
uma atividade absorvedora de mão-de-obra,
Entretanto, tanto a ‘Smooth Cayenne’, quanto a ‘Pérola’,
contribuindo para o mercado de trabalho e na fixação
são suscetíveis à fusariose (Fusarium subglutinans
do homem no meio rural, fato importante do ponto de
f.sp. ananas,), principal moléstia da cultura do abacaxi
vista sócio-econômico (CUNHA, 2007).
no Brasil (CABRAL et al., 1999). Nesse sentido, as Em relação à bromelina, enzima com
cultivares ‘Perolera’, ‘Primavera’, ‘Roxo de Tefé’, importância econômica na produção de fármacos, na
‘Imperial’, ‘Alto Turi’, ‘IAC Fantástico’ e ‘Vitória’ vêm indústria alimentícia, na indústria têxtil e na produção
sendo cultivadas no Brasil, tendo como caráter de detergentes (DRAETTA & GIACOMELLI, 1993), a
diferencial a resistência à fusariose (SANTOS et al., produção brasileira é insuficiente em relação às
2001; VENTURA et al., 2009; CABRAL et al., 2009). necessidades de mercado, tornando-se um produto

Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.


Das Américas para o Mundo - origem, domesticação e dispersão do abacaxizeiro. 1479

Figura 2 - Produção total de abacaxi (t 10000) e área cultivada (ha 1000) observada nos continentes e no mundo,
no ano de 2008 (a), e evolução da produção total de abacaxi (t 10000) e área cultivada (ha1000)
observada no Brasil, no período compreendido entre 1961 e 2008 (b). Fonte: FAOSTAT (2010).

oneroso devido ao alto valor comercial, por não ser na África do Sul, em Porto Rico, no Brasil, na Venezuela,
produzido no Brasil (GONÇALVES, 2000). em Okinawa, em Cuba, na Costa do Marfim e na
Martinica (LEAL & COPOENS d’EECKENBRUGGE,
Melhoramento e recursos genéticos 1996).
O primeiro trabalho de melhoramento de Os primeiros trabalhos conduzidos com a
abacaxizeiro foi desenvolvido no Estado da Flórida, cultura do abacaxizeiro no Brasil foram dedicados à
nos Estados Unidos da América (EUA), buscando avaliação de germoplasma disponível, competição de
obter cultivares mais adaptadas às condições locais e cultivares e produção e avaliação de híbridos pela
melhorar a qualidade do fruto para a industrialização, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio
com posteriores trabalhos desenvolvidos no Havaí de Janeiro e pelo Instituto Agronômico de Campinas,
(EUA), na Austrália, em Taiwan, nas Filipinas, Malásia, no período de 1978 a 1997. No entanto, o maior programa

Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.


1480 Crestani et al.

Tabela 1 - Países e Estados brasileiros que mais produzem abacaxi em relação à área cultivada, produção total e produtividade (dados
observados nos anos de 2008 e 2009). Fonte: FAOSTAT (2010) e IBGE (2010).

---------Área cultivada1--------- -----------Produção1----------- Produtividade1


País
ha 1000 %a t 10000 %b t ha-1

1. Brasil 62,1 7,3 249,2 13,0 40,1


2. Tailândia 93,1 11,0 227,9 11,9 24,5
3. Filipinas 58,3 6,9 220,9 11,5 37,9
4. Costa Rica 33,5 3,9 162,5 8,5 48,5
5. China 70,6 8,3 140,2 7,3 19,9
6. Índia 81,9 9,7 130,6 6,8 15,9
7. Indonésia 20,8 2,5 127,3 6,6 61,2
8. Nigéria 117,5 13,9 90,0 4,7 7,7
9. México 16,4 1,9 68,6 3,6 41,9
10. Vietnã 36,2 4,3 47,0 2,5 13,0
Outros 257,8 30,4 452,6 23,6 17,6
Total 848,1 100,0 1916,7 100,0 22,6

---------Área cultivada2--------- ---------Produção2--------- Produtividade2


Estado Brasileiro
ha 1000 %c Frutos 1000 %d frutos ha-1
1. Paraíba 10213 13,4 263000 17,9 25,8
2. Minas Gerais 11191 14,7 257556 17,5 23,0
3. Pará 9971 13,1 240693 16,4 24,1
4. Bahia 9393 12,4 145059 9,9 15,4
5. Rio Grande do Norte 3902 5,1 119296 8,1 30,6
6. São Paulo 6029 7,9 92308 6,3 15,3
7. Rio de Janeiro 5078 6,7 67257 4,6 13,2
8. Goiás 3920 5,2 49304 3,4 12,6
9. Tocantins 3506 4,6 48657 3,3 13,9
10. Mato Grosso 2033 2,7 45972 3,1 22,6
Outros 10763 14,2 142074 9,7 13,2
Total 75999 100,0 1471176 100,0 19,4

1
Estimativas da FAOSTAT (2010) para o ano de 2008; 2 Estimativas do IBGE (2010) para o ano de 2009; a, c Porcentagem da área total
cultivada no mundo e cultivada no Brasil, respectivamente; b, d Porcentagem da produção mundial e da produção brasileira, respectivamente.

de melhoramento genético do abacaxizeiro do Brasil Os programas de melhoramento do abacaxi


conduzido ininterruptamente é da Embrapa Mandioca visam a obter cultivares mais produtivas, adaptadas às
e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas (BA), sendo condições climáticas locais e resistentes a pragas e
conduzido desde 1978 (CUNHA, 2007). moléstias. Entre as principais características
A substituição de cultivares locais por preconizadas no melhoramento do abacaxizeiro em nível
cultivares melhoradas e o desmatamento acelerado que mundial, está a busca de genótipos resistentes à
vem ocorrendo nas regiões consideradas como centros fusariose. Além disso, são almejados genótipos que
de diversidade genética do abacaxi são as principais evidenciem crescimento rápido, folhas com ausência
causas de erosão genética no gênero Ananas, em que ou poucos espinhos nas extremidades dos seus bordos,
a utilização de poucas cultivares dessa cultura já é rebentão precoce localizado na base da planta, fruto
considerada um problema a ser resolvido por meio do de forma cilíndrica, casca amarela e pouco fibrosa,
melhoramento genético, com a promoção da elevado teor de sólidos solúveis totais, acidez
diversificação das cultivares exploradas (CABRAL et moderada e alto teor de ácido ascórbico, adaptação ao
al., 1999). sistema de produção integrada e genótipos com

Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.


Das Américas para o Mundo - origem, domesticação e dispersão do abacaxizeiro. 1481

potencial para uso ornamental (PY et al., 1984; A conservação de recursos genéticos de
CABRAL et al. 1999; CUNHA, 2007). Entre as abacaxi é realizada pela Embrapa Recursos Genéticos e
estratégias de melhoramento adotadas, podem ser
Biotecnologia (CENARGEN) e por uma rede de Bancos
citadas a utilização direta dos recursos genéticos, a
seleção clonal, explorando a variabilidade intravarietal Ativos de Germoplasma (BAGs) e coleções de
existente, e a realização de hibridações diretas entre germoplasma espalhados por todo o país nas unidades
genitores superiores (CABRAL et al., 1999). de pesquisa, universidades e instituições privadas e
A conservação do germoplasma de públicas, podendo-se destacar as seguintes
abacaxizeiro é feita no campo e in vitro, por ser uma instituições: Banco de Germoplasma da Embrapa
cultura que raramente apresenta formação de sementes.
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Município de
Essa característica faz com que a conservação dos
recursos genéticos da cultura seja dificultada, mais Brasília, Distrito Federal; Banco de Germoplasma da
onerosa e vulnerável, devido à necessidade de Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Município
adaptação dos genótipos no local de instalação do de Cruz das Almas, no Estado da Bahia; Coleção de
banco de germoplasma e desenvolvimento de germoplasma do Instituto Agronômico de Campinas (
protocolos específicos, no caso da conservação in
IAC), no Município de Campinas, Estado de São Paulo;
vitro, exigindo disponibilidade de mão-de-obra e
cuidados específicos com as plantas cultivadas devido Coleção de germoplasma da Embrapa Acre, no
à exposição às condições adversas de ambiente. Município de Rio Branco, Estado do Acre; Coleção de
Segundo FERREIRA (1999), em 1999, era realizada a germoplasma do Centro Educacional São Francisco de
conservação de 1618 acessos representantes do Assis (CEFAS), Município de Floriano, Estado do Piauí;
germoplasma de A. comosus e espécies afins em Coleção de germoplasma da Empresa Pernambucana
coleções e bancos de germoplasma no mundo e destes
de Pesquisa Agropecuária (IPA), Estação Experimental
51% estavam livremente disponíveis. De acordo com
esse autor e dados do CENARGEN (2009), os principais de Itambé, no Município de Itambé, Estado do
países colecionadores da variabilidade dessa espécie Pernambuco. Na tabela 2, são apresentadas as
são: Brasil (851 acessos), Estados Unidos da América instituições que atualmente estão cadastradas no
(274), França (227), Costa do Marfim (129), Japão (109), Sistema Brasileiro de Informações em Recursos
Nigéria (84), Malásia (54), Taiwan (54), Indonésia (48),
Genéticos (SIBRAGEN), as respectivas variedades da
Austrália (40), Índia (33), México (31), Espanha (25),
espécie A. comosus conservadas e o número de
Vietnam (21), Moçambique (21), Tailândia (16), Camerron
(14), Nicarágua (14), Filipinas (10) e Costa Rica (5). acessos e curadores cadastrados (CENARGEN, 2009).

Tabela 2 - Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs), variedades da espécie Ananas comosus mantidas, número de acessos e respectivos
curadores cadastrados no SIBRARGEN (Sistema Brasileiro de Informações em Recursos Genéticos) no ano de 2009. Fonte:
CENARGEN (2009).

---------------------------Curadores---------------------------
Variedade Acessos Curador
Município BAG
Brasília – DF CENARGEN-ABACAXI A. comosus var. comosus 191 Francisco Ricardo Ferreira
Brasília – DF CENARGEN-ABACAXI A. comosus var. ananassoides 30 Francisco Ricardo Ferreira
Brasília – DF CENARGEN-ABACAXI A. comosus var. bracteatus 10 Francisco Ricardo Ferreira
Brasília – DF CENARGEN-ABACAXI A. comosus var. erectifolius 5 Francisco Ricardo Ferreira
Belém – PA CPATU-CURAUÁ A. comosus var. erectifolius 20 Osmar Alves Lameira
Cruz das Almas – BA CNPMF-ABACAXI A. comosus var. comosus 458 José Renato Santos Cabral
Cruz das Almas – BA CNPMF-ABACAXI A. comosus var. ananassoides 98 José Renato Santos Cabral
Cruz das Almas – BA CNPMF-ABACAXI A. comosus var. bracteatus 21 José Renato Santos Cabral
Cruz das Almas – BA CNPMF-ABACAXI A. comosus var. erectifolius 8 José Renato Santos Cabral
Cruz das Almas – BA CNPMF-ABACAXI A. comosus var. parguazensis 10 José Renato Santos Cabral
Total 851 acessos

Ciência Rural, v.40, n.6, jun, 2010.


1482 Crestani et al.

CONCLUSÃO COPPENS d’EECKENGRUGGE, G. et al. Fertility and self-


incompatibility in de genus Ananas. Acta Horticulturae,
v.334, p.45-51, 1993.
O grande sucesso do abacaxizeiro como
planta cultivada é decorrente da ampla adaptabilidade COTIAS-DE-OLIVEIRA, A.L.P. et al. Chromosome numbers
da espécie nas áreas tropicais e subtropicais, elevada in Bromeliaceae. Genetics and Molecular Biology, Ribeirao
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rusticidade, além da fácil e eficiente propagação
assexual e, principalmente, da grande aceitação e do CTENAS, M.L.B.; QUAST, D. Abacaxi. In: _____; _____.
apreço dos consumidores, consagrando sua majestade (Ed.). Frutas das terras brasileiras. São Paulo: C2, 2000.
entre as diversas frutas tropicais e justificando sua p.41-45.
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