Histcomvol 3 Mar

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De inveíFps

iHA ACADEMIA AiAH^HeNSe 06 VeJKÍS)

MARANHÃO
1896+1934

eDlçm DA ASSOOAPfiD COM^RPAL DO MARM^W!)

SAOLUjS
)964
Jerônimo José de Viveiros
é nome sobejamente conhecido nos
meios intelectuais do Maranhão e do
Brasil.
Nasceu em São Luís do Mara-
nhão, aos 11 de agosto de 1884,
.
num
velho e formoso sobrado da Rua de
Santo Antônio, antigo solar de seus
avós maternos, os Barões de São
Bento,
Estudou as primeiras letras em
colégio particular e, nos preparató-
rios para ingresso no Liceu Mara-
nhense, foi discípulo de Antônio Lo-
bo e do professor Machadinho, (Do-
mingos Afonso Machado). Ao sair
do Liceu ingressou na Faculdade de
Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro,
abandonando o curso no 4' ano.
Regressando à província natal,
dedicou-se ao magistério, regendo, na
qualidade de catedrático, a cadsira
de História Universal e do Brasil,
do Liceu. O
estudo dos aconteci-
mentos históricos despertou-lhe pro-
fundo interesse pela ciência de
Toynbec, interêsse que não mais o
abandonou. Os auditórios do país
possivelmente perderam mais um ba-
charel verboso e superficial como,
talvez, devera ter sido Jerônimo de
Viveiros se concluísse o curso de di-
reito, mas, em compensação ganhou

o magistério um excelente mestre de


história, culto e preciso no transmi-
tir o espírito da disciplina que por
aturados anos lecionou.
Infatigável no trabalho, de com-
petência insuspeita. Viveiros ocupou
lugares de projeção na administra-
ção pública de sua terra, mormen-
te no sctor da educação. Foi por
diversas vezes Diretor da Instrução
Pública, cargo em que se houvt com
invulgar eficiência.
Seu incessante labor intelectual,
a que não faz mossa o pêso dos
anos, o trato diuturno de massa con-
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HISTCÍRIA DO
MARANHÃO
J896+1934

PUBLICAÇÃO ^
coMeMORAnvA
DA PASSAGEM >

DO JJO^ANJVGRSARIO
DA FUNDAÇÃO
DA COMISSÃO
DA PRAÇA

SAD LUJS+ )964


i

1
Presidente da Astocia{ão Comercial do Maranhão

Biénios - 1961 a 1964


i
CONTINUANDO A HISTÓRIA

Este
aparece
terceiro volume da "Hislória do Comércio do Maranhão"
anos depois da publicação dos dois primeiros. È
oito
que o autor da obra entendeu, a princípio, ser demasiado cedo
para escrever a história de uma época cujos acontecimentos, na sua
maior parte, tiveram como protagonistas p.?ssoas que ainda hoje com-
põem o cenário da vida maranhense.
Realmente, os últimos capítulos do livro ocupam-se de fatos,
por assim dizer, de ontem, fatos que se conservam vivos na memória
dos prováveis leitores da obra. E essa proximidade, no tempo, sobre
nem sempre permitir uma apreciação desapaixonada dos homens e dos
eventos em tela, constitui, não raro, motivo de constrangimento para o
historiador, o qual se vê, assim, forçado a emitir julgamentos, que não
podem ser definitivos, sobre a conduta de personagens ainda atuantes
no meio.
Mas, apesar de tais inconvenientes, consegu u dar-nos o Autor,
nas, páginas que se vão lêr, uma nítida oisão do panorama económico
do Maranhão, nos derradeiros anos do século passado e nas três pri-
meiras décadas do atual.
Através dos 16 capítulos que formam o presente volume, pode-
mos, com efeito, acompanhar, como se estivéssemos vivendo a época
de que se ocupa a narrativa, o drama em que se tem debatido a nossa
economia, desde o tremendo golpe que lhe desferiu a lei de extinção do
elemento servil no país.
Numa linguagem simples, despretenciosa, às vêzes descuidada,
mas que encarj-ta pela sua singeleza, conla-nos o Autor a história do
abandono dos engenhos de cana, cujos proprietários, não mais poden-
do movimentá-los, à falta de braços e de recursos financeiros, se vi-
II

iam forí^udos a encenai suas atividades agrícolas c a se transferirem


para a Capital: pinta-nos a aguda crise comercial que, após o colapso
da tatuara canaiieira, empolgou a praça de São Luís; salienta a tre-
menda repercussão da crise económica nas, finanças públicas; registra
n fragoroso insucesso de várias unidades da nossa, então, incipiente
indústria fabril; diz das falhadas tentativas que se fizeram para criar,
no Estado, uma rêde bancária; descreve o estado de profundo desâni-
mo em que ficaram os líderes da nrodução, até mesmo os mais arro-
jados, diante da derrocada geral.
Depois, surgem tempos melhores. Uma causa mórbida a —
guerra de 14, provocando continuadas elevações de preços, possibilita
a obtenção de lucros cada vez maiores. E uma riqueza nova o 6a- —
baçu, incorpora-se a nossa economia, fortalecendo-a enormemente.
Em consequência, à recessão que acompanhou os primeiros lus-
trosda República sucede uma quadra de prosperidade : a Praça de
São Luís recompõe-se ; fortalece-se o comércio do interior; aumentam,
em volume e valor, as exportações para o estrangeiro; melhoram as
finanças públicas; instalam-se na Capital as agências do Banco do
Brasil e do London of Bank.
Por fim, vem a revolução de 1930, e, como parte do sistema
por ela implantado, os interventores militares, com quem as classes
produtoras se viram forçadas a sustentar luta desigual mas incessan-
te, que lhes acarretou a prisão de todos
os membros da sua Comissão
Executiva, mas. da qual saíram, afinal, vitoriosas.

« * *

Nêste seu terceiro volume, a "História do Comércio do Mara-


nhão" avança até à primeira fase da Ditadura. Mas o Autor não parou
ai. Dar-nos-á, dentro em breve, o quarto volume, trazendo a
narrativa
(tus dias presentes.
E uma obra que desperta vivo e permanente interesse, não só
pela abundância de informações que oferece, mas, também, pela
idéia
geral que dá ao leitor, do sistema de trabalho e do estilo de
vida dos
maranhenses, desde os primórdios da era colonial.
Publicando-a, a Associação Comercial, a quem, igualmente,
se
deve a iniciativa da sua elaboração, presta às letras históricas
do país,
'

inestimável serviço.

CLODOALDO CARDOSO

São Luís. Setembro de 1962.


CAPÍTULO I

A economia maranhense no -primeiro


quartel da República

liberdade dos escravos e o advento da República,


uma desorganizando o trabalho agrícola e outro
criando novas obrigações para o Estado, determi-
naram no Maranhão uma tremenda crise económica, que
se prolongou por um lapso de tempo de cêrca de um
quarto de século.
O abalo fôra formidável, diminuindo, num im-
previsto estarrecente, as nossas fontes de rendas.
Deixamos de produzir um dos nossos géneros de
consumo e de exportação — o açúcar, decrescemos nc
algodão, nunca mais atingindo o costumeiro limite de
sessenta mil fardos, paralisamos em relação ao artoz e
apenas progredimos na mandioca e no milho, que eram
géneros de valores ínfimos.
Aliás, não são lisongeiras as referências à agri-
cultura maranhense, deixadas pelos nossos escritores.
Manoel de Bethencourt, inegàvelmente, o maior entre
êles, na época a que nos referimos, —
comêço da Repú-
blica— nos contou o que a seu respeito pensava "John
BuU", figura de ficção, que criara no jornal "A Cruza-
da". Eis a opinião do famoso jornalista :
JERÔNIMO DE VIVEIROS
no Mara-
"Não há agricultores, propriamente ditos,
cultivar a terra, os
nhão No que diz respeito à arte de
primei-
maranhenses estão ainda tão adiantados como nos
espécie de trabalho
ros tempos da Colónia, em que esta
era confiada ao índio, sob direção do
padre jesuíta.
"As soberbas matas, de que se falava com tanto orgu-
lho, quase desapareceram já ao combate dos machados
precursores do incêndio devastador. As cinzas de tantas
madeiras preciosas são o adubo único que fica sobre a ter-
ra e que a fertilísa para o plantio da cana do açúcar,
do
algodão, do arroz, da mandioca e de outros cereais. Ape-
nas acaba de lançar a semente nas matas devastadas, e
logo, antes da completa germinação destas, tem ele neces-
sidade de empunhar o sacho, para vêr-se livre da vegeta-
ção daninha, que rebenta de todos os lados, como que pro-
curando afogar a plantação. A própria fertilidade da ter-
ra, portanto, é uma das causas do retardamento em que se
acha, a agricultura no Maranhão.
"As outras causas são fáceis de explicar-se^ desde
que se souber que o serviço de cultura da terra esteve até
pouco tempo entregue a escravos africanos, e que os cha-
mados lavradores não tinham a menor noção do que era
agricultura."

Todavia, apesar desta observação verídica de Ma-


noel de Bethencourt, a economia maranhense, até o ano
de 1888, esteve mais ou menos equilibrada.
Comecemos pelo açúcar, cuja produção perdemos,
como notamos acima, e comparemos dados já expostos
(43 ly com os do ano da abolição da escravatura, e subse-
qúentt-i. Que se vê ? Em 500 engenhos de cana, dos quais
mais da metade movida a máquina a vapor e a fôrça hi-
dráulica, e o resto de tração animal, chegamos a produzir
em 1882 cêrca de 16.100.000 quilos de açúcar, e êsses
mesmos estabelecimentos baixaram, no próprio ano da
liberdade dos escravos, a sua produção de mais de 50Vo.
E não ficará só nisto. Se levarmos o nosso estudo compa-
rativo às safras do Engenho Central São Pedro, que era
a maior usina açucareira do Estado, verificaremos que

[\'Ml - Jrrúninio dr Viveiros — "História «lo ConuTcio do Maranhiio". vol. 1.",

.u|). Wll.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 3

lá onde se fabricou em 1887 2.200.000 quilos, em—


1888 —
1.120.000, em 1889 1.098.000, em 1890 — —
1.700.000, em 1891 —
1.125.000, em 1892 —
1.120.000, em 1893 —
855.000, se descia a produção,
em 1894, para 634.000, em 1902 501.000, em 1903 —
— 517 000, em 1904
. —
371 000, em 1905 106 000, —

. .

em 1906 135.000. Aproximemos os pontos extremos


desta escala de produção —
2.200.000 e 106.000 qui-
los, convenhamos que, com efeito, a indústria açucarei-
e
ra caminhava para a sua extinção completa no Mara-
nhão. E assim aconteceu. Em 1917, já importa voamos
60^/o do que consumíamos e desde 30 que essa importân-
cia passou a ser quase total. Com a perda da fabricação
do açúcar, perdemos também a sub-indústria das refina-
rias. Eram 11 na Capital, uma até acionada a vapor, to-
das em prosperidade, notadamente a da firma Gonçalves,
Irmãos e Primos.
Passemos ao algodão e vejamos pelo quadro abai-
xo, extraído da obra de Carneiro de Freitas (432), como
a nossa produção passou a ficar abaixo das 60 000 sacas .

dos anos passados.

PRODUÇÃO DO ALGODÃO

1889 39 865
. sacas 1899 24.137 sacas
1890 41.629 1900 34.106
1891 57.981 1901 28.993
1892 39.490 1902 34.644
1893 48.810 1903 36.380
1894 39.090 1904 28.869
1895 34.616 1905 31 .744
1896 24.369 1906 43.874
1897 14.975 1907 31.111
1898 22.612 1908 24.110

(432) — J. Cariipiío de Freitas — "Hclatórid

na Parga".
4 JERÓNIMO DE VIVEIROS

tocante ao arroz, evoquemos esta


página de
No
português, que foi
Fran Paxeco (433), o erudito escritor
estrangeiros que maior so-
com Martinus Hoyer os dois
ma de relevantes serviços prestaram ao Maranhão :

"As tradições agrícolas do Maranhão chegaram


u
emparelhar-se-lhe às tradições literárias. Eram
dois pre-

domínios que nenhuma zona brasileira lhe requestava,


porque se criara um tom uníssono em torno dessas verda-
des axiomáticas.
"Mas os anos correram e os iconoclastas deitaram
abaixo aqueles quase exclusivos. Surgiram competições

e, tanto nos arrozais como nas letras,
escancarou-se o de-
clínio. Passou a viver-se da fama. Os tribunos e os jor-
nalistas, porém, persistiram em se boqúiabrir, diante das
glórias pretéritas.
"Não se renovaram os instrumentos aratórios, nem se
espandiram as inteligências. A terra continuou a trdba-
Ihar-se pelos ronceiros processos de há séculos e as casas
de ensino conservaram-se as mesma, usando os mesmíssi-
mos métodos. Parpu-se Retrocedeu-se."

Era esta a situação dá nossa cultura de arroz,


quando- nos bateu às portas a crise económica, provocada
pelo 13 de maio de 1888 e 15 de novembro de 1889.
Nestas condições, é fácil compreender-se a crise
que assoberbou o Maranhão no começo do novo regime,
e que, como vamos ver linhas adiante, não soubemos de-
belar.
Emverdade, ninguém a negava, todos a una voce,
a reconheciam como calamidade pública que era. Diver-
giam no inquerir-lhe as causas. Petias, pseudónimo que
ocultava naturalmente um notável lavrador da terra, re-
conhecia a existência desgraçada do fato, mas dava-lhe
como causa a liberdade dos escravos. (434). Cobden, ou-
tro agricultor não menos culto, dizia "Erramos, conven-
:

cendo-nos que a salvação do Estado depende do reapare-


cimento da grande lavoura que existia. Ela aniquila-se.

(433)

(434)
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 5

não pela extinção do elemento escravo, e sim porque o


desânimo veiu selar a nossa inaptidão. Pretender dar
sangue a um corpo morto é preparar um abismo para o
dia de amanhã. O que fomos como lavradores prova-o a
nossa decadência".
A mesma confusão estabeleceu-se na maneira de
achar a solução para a crise. Enveredamos pelo velho
caminho de apêlo ao Govêrno. Era o mais pronto e mais
de acordo com a nossa índole. Confirmava-mos assim, o
que a nosso respeito dizia arguto jornalista :

"O maranhense tem uma noção falsa dos recursos do


Govêrno. Imaginam que ele é assim uma espécie de sujei-
to nahaho, possuidor de tesouros inexgotáveis e portanto
no caso de fazer frente à tôda sorte de despesa. Contam
todos com êle, esquecendo-se de que as rendas públicas
são o reflexo vivo do estado dos negócios particula-
res." (435)

Parcimoniosamente, o Govêrno Federal deu-nos


o auxílio pedido, através das carteiras hipotecárias dos
nossos bancos locais. Êstes, porém, embaraçaram os em-
préstimos, por isso que as suas diretorias, compostas de
experimentados comerciantes, de espírito conservador,
sabiam não comportarem os patrimónios das velhas fa-
zendas agrícolas valores que garantissem as hipotecas.
E era uma verdade. Os próprios agricultores confessa-
vam-na, quando afirmavam não haverem invertido no-
vos capitais nos seus estabelecimentos depois de funda-
dos. (436) Cometeram, no seu tempo, o mesmo êrro, em
que incorreram os industriais de tecidos dos nossos dias.
Para a época, os empréstimos hipotecários à la-
voura não eram considerados boa política financeira- na
praça do Maranhão. O nosso próprio banco, cuja princi-
pal carteira era a hipotecária, acabou descrente e anun-
ciando a venda de fazendas de hipotecas vencidas e con-

(435) Manopl de Belhoncourt — "Apontamento* <!<• .lolin Buli"", in "A Cru-

i.ada".

(436) — Lincoln — '-Pacotilha", de 4 de agôslo de 1390.


6 JERÓNIMO DE VIVEIROS

sideradas insolventes, como se vê no "Diário do Mara-


nhão", de 19-6-1893, em que comunica alienar 4 estabe-
lecimentos rurais na Comarca de São Bento, 3 na do Al-
to Mearim, 2 na de Guimarães e 1 na de Codó.

Do auxílio do Estado, concedido pelo Governador


dr. Lourenço de Sá (dec. n°. 84, de 2-6-91), fazendo em-
préstimos de 250 contos, sob hipoteca, em apólices do
Estado, juros de 7%, aos lavradores para fundarem fá-
bricas de açúcar, pequenas usinas ou desenvolverem as
existentes, ninguém se aproveitou, porque a praça, des-
falcada de numerário como estava, não oferecia possibili-
dades para negócio de um avultado número de apólices.

Por outro lado, a nossa moeda desvalorisava-se


com a baixa do câmbio. Decorrido um ano depois da pro-
clamação da República, isto é, em 14 de novembro de
1890, êle já havia rolado de 24 a 11 e 3/4 "O Nacional", !

jornal que circulava na época, comentava :

"O câmbio por picardia


Agora teima èm descer
É um desmancha —
alegria.
Mas o Costa intimorato
Força-lo-á a s' erguer
O câmbio por picardia
Agora teima em descer?"

Desta maneira, qualquer alta, por menor que fos-


se, era anunciada alviçareiramente pela imprensa. Ve-
ja-se esta, divulgada pelo "Diário do Maranhão",
em
sua edição de 2-8-1893 :

"Câmbio.
"Animadoras noticias têm vindo, e que já dão ^'wis
esperanças aos consumidores, que até agora são os único»
sofredores com a baixa do câmbio e que elevou os
preços
das mercadorias a um tal ponto, impossível de imagi-
nar-se.
"Hoje foram recebidas noticias de cotação a 12
1/4
d. por mil réis.
"A éste câmbio a libra custa 19$594".
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 7

Dêste cáos resultou o esfacelamento da velha e


prestigiosa classe dos agricultores maranhenses, que a-
balou para São Luís, onde veio colaborar com o comér-
cio, companheiro de todos os tempos, numa nova tenta-
tiva de salvação comum.

Infelizmente, não tiveram sorte. Desiludidos com


a lavoura, quiseram substituí-la. como elemento básico
da nossa economia, pela indústria têxtil; Sonhou-se
transformar São Luís numa Manchester. Na quimera
deixou-se embalar todo o Maranhão. Fran Paxeco, sem-
pre meticuloso nos seus trabalhos, catalogou as princi-
pais figuras dessa plêiade de esforçados :Henry Airlie,
dr. José Francisco de Viveiros, dr. Cipriano Viana, Hen-
rique Delfim da Silva Guimarães, Jerônimo José Tava-
res, Crispim Alves dos Santos, Carlos Ferreira Coêlho,
Francisco da Costa Rodrigues, Hermenegildo Jânsen Fer-
reira, Manoel José Francisco Jorge, Francisco Xavier de
Carvalho, Antônio Cardoso Pereira, José Pedro Ribeiro.
Inácio do Lago Parga, Manoel Matias das Neves e Cân-
dido José Ribeiro, o qual, entre todos, foi o que mais se
distinguiu pela clarividência de suas iniciativas e pela
ilustração económica e financeira. Se não cabe a êstes
homens o desastre da baixa da taxa cambial de 24 para
12, fato imprevisível e que ocasionou o pagamento da
maquinaria fabril do dôbro da quantia orçada, cabe-lhes,
sem dúvidu, o êrro do planejamento de um parque indus-
trial do valor de 20.000.000,00, evidentemente acima
das nossas possibilidades financeiras, o que veio criar no-
vas obrigações às companhias recem-formadas, quer sob
a forma dd empréstimos bancários, quer sob a forma.de
debêntures. Dessa solução irrefletida e, sobremaneira,
errada, resultou, como é bem de ver, o agravamento
da
crise.

Nã5 estamos isolados nesta opinião, que, aliás, ex-


posamos há muitos anos. Fran Paxeco também
defendia

a mesma tese, quando dizia :


8 JERÓNIMO DE VIVEIROS

"Os abalos oriundos do 13 de maio, da disenteria fa-


briqueira e da proclamação da República, succionaram o
sistema nervoso-econômico do Estado." (437)

O fato é incontestável. O êxito das duas primei-


ras fábricas de tecidos uma —
na cidade de Caxias e ou-
tra em São Luís —
arrastou-nos impensadamente no
vórtice da aventura. Das têxteis passamos às de outros mis-
téres. Fundamos fábrica para tudo, não levando em con-
ta as nossas possibilidades financeiras. Por isso, muitas
ficaram no período das incorporações, tais como a "Com-
panhia Viação Maranhense", capital 150.000,00; "Com-
panhia da Bolsa", capital 400.000,00; "Companhia de
Destilação, Bebidas e Gêlo", capital 200.000,00; "Com-
panhia de Panificação", capital 200.000,00; "Compa-
nhia Cultora de Cururupu", capital 200.000,00; "Com-
panhia Predial Edificadora", capital 1.000.000,00 e
"Companhia de Pesca de Tubarões", capital 100.000,00.
Outras colimaram o fim, para depois fracassarem.
Dêste número foram a "Progresso", a "Fiação", a de
"Calçados", a de "Tecidos de la", a df^ "Tecidos de ma-
lha", a de "Chumbo e Pregos", a de "Fósforos", a "Sali-
neira Alcantarense", a "Cooperativa de Consumo" a
"Pastoril", a "Cerâmica", a "Popular". (12)
Ainda outras, com mil tropêços, foram adiante,
mas com os seus títulos desvalorizados na praça, como :

Cânhamo — ação — 100$000 por 50$000


Fabril — ação — 100$000 por 30$000
Anil — ação — 100$000 por 40$000
Confortava aos maranhenses constatar o fenómeno
em outras praças muito mais ricas e fortes que a de São
Luís, como a do Rio de Janeiro, onde, diziam os jornais,
"títulos que há três mêses se vendiam por 350$000 estão
se vendendo agora oor 150$000, como se tivessem des-

(437) — Fran Paxi-ro — "As^ qiii-stões. conuitiui»" — "Puiolillia" ilc 7 '.lo íi-
U-nil>ro ik- 190,1.
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO 9

merecido em
mais de cento por cento em tão pouco tem-
po; outros,que se cotavam a 280$000, como Melhora-
mentos do Brasil, estão se vendendo por 50$000, duzen-
tos e cinquenta por cento menos do que outrora".
Lá, a desvalorização provinha do jôgo da bolsa,
tão bem
descrita no "Encilhamento", por Alfredo de
Taunay; aqui, o fenómeno revelava-se na solução irre-
fletida com que quisemos debelar uma profunda crise e-
conômica, que também teve a sua história esteriotipada
num romance Crise—A —
de Manoel de Bethencourt,
do qual vamos trasladar um trecho do primeiro capítu-
lo : (438)

"De pé, em frente a um dos muros engradados da


rua que, pelo lado direito, margina o Campo d'Ourique, ar-
rimado ao chapéu de sol, o João Arnaldo Seixas, com impa-
ciência, aguardava que o BOND descesse, que o levasse a sua
faina quotidiana de negociante moirejador. Eram sete horas
da manhã, a casa já devia estar aberta pelo caixeiro, o só-
cio provavelmente lá estaria, que coisas graves, sabidas de
vésperas, obrigavam a que seriamente se cuidasse dos negó-
cios.
"O sol começava a esquentar e o João, na sua impa-
ciência, suava a bom suar. Emfim surgiu o BOND, mas cheio,
extraordinàriamente cheio, sem um só lugar vasio. Com isso
o comerciante não se importou; galgou a plata-forma poz-se
ao lado do 'condutor. Mas alguém, que se achava no banco de
traz, desceu no Largo do Quartel, e o João poude pôr-se a
vontade, ruminar em posição cómoda uns tantos pensamen-
tos sôbre as coisas do dia. Desta meditação fê-lo, porém sair
a voz estridente de um sujeito assentado num dos bancos da
frente. Era um mulato alto, de cabelo e suiças grisalhas, cha-
péu mole côr de café, desempenado e pernóstico nos dizeres.
Gritava este contra o que chamava de má fé comercial, di-
zendo que não era lícito o que estavam fazendo firmas da
praça que, de há muito em atrazo, só agora é que patentea-
vam o descalabro das suas finanças. Soií um artista, dizia
êle, o meu negócio é limitado, mas por casa já me andaram
aS
traças; se não abrisse o ôlho, teria ficado emcamisa. O tem-
po é dos espertos e quem não se acautelar^ mal se dará.

(438) — Manoel de Bcllienccuri — "A (loinaiu-c) . iii


' \ Cii-ir- 1
-lin",

1902. São Luís — Alaianlião.


10 JERÓNIMO DE VIVEIROS

"Neste ínterim, o BON D chegava no Largo do Car-


mo. O Seixas apeou e tomou o caminho da Praia Grande.
"Tinha razão o mulato; o tempo não estava para
graças, êle bem o sabia. Sócio de uma firma comercial res-
peitabilissima —
João Arnaldo Seixas & Cia., lutava êle com
embaraço para fazer face aos compromissos da casa, isto de-
vido a prejuízos sofridos com comerciantes do interior, que
não só deixavam de satisfazer os seus débitos, como não mais
efetuavam remessas de géneros. Nada se vendia, o dinheiro
escasseava no mercado, a confiança comercial retraira-se e
duas enormes falências iminentes ameaçavam abalar todo o
crédito. Eram duas casas antigas, reputadas comercialjnen-
te, conceituadas no exterior^ e a sua queda traria inevitàvel-

mente males incalculáveis. Que a perspectiva das cousas não


era boa, isso dizia-o éle comsigo, emquanto entrava êle no
armazém, onde foi achar o sócio debruçado sobre uns papéis
e com cara de pouco contente.

"— O que há de novo? disse o João, dirigindo-se ao


examinador de papéis.
— Mais uma bucha, respondeu-lhe o sócio, uns dez
contos de réis que ficamos a ver por um óculo.
— Como assim?
— Você sabe, seu João, que Guedes, Terra & Cia.
abriram falência, ou antes, requereram que lhes fos-
sem abertas?
— Não!
— Pois bem, à hora em que você ôntem subia para
casa, lá iam
papéis dêles caminho do juís. Estão
os
quebradinhos, dali nem se pode tirar vinte por cen-
to sequer. Deviam-nos seis contos em mercadorias e
nós lhes endossamos uma letra na importância de
quatro. Ao todo, um prejuízo de dez contos de réis.
"O Seixas coçou a cabeça, exasperado, deu uns
passos pela casa e por fim interpelou o sócio:
"

O culpado disto é o senhor! Quem o mandou
endossar a letra? O senhor Peixoto tem destas fa-
cilidades...
"— Mas quem lhes vendeu as
mercadorias não fui
eu, a culpa é tanto suaquanto minha.
"O João calou-se ante o reparo, como soe a gente
fazer quando a sua sem razão é evidente. Assentou-se num
banco alto, junto da carteira, e passou a
desdobrar os papéis
que o socto ali depuzera. Não teve. comtudo,
tempo de con-
tinuar na tarefa, que, pela porta
do armazém, entrou um su-
jeito que para êle se dirigiu,
falando em voz alta.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO U
Como vai você, seu João?
"
— Mal, meu amigo, muito mal. E como vão os ne-
gócios do hanco?

: Já deixei isso.Emquanto você estava lá pela
Europa, puz de lado bancos e companhias, que só
serviam para me dar desgostos. Estou cuidando das
minhas casinhas, que é negócio seguro.
Todo o meu mal foi meter-se em outras cousas, em
que perdi tempo e dinheiro.
— Lá isso é.
— Mas agora é que estou reparando que você, moço
ainda, está com a cabeça branca. Que diaho joi
isso?
—É o chique da época. Também esta vida, cheia
de consumições, é o que nos deixa. Mas, diga, que
traz meu velho amigo por aqui: simples visita?
— Não, vim colher informações sobre alguém que
com o senhor fez viagem, o dr. Eduardo Vasconce-
los da Silveira. Que sujeito é êsse?
— Um excelente e distintíssimo rapaz. Encontrei-
o em Paris, visitando a Exposição. Ê delicadíssimo,
muito conhecedor da vida na Europa.
— É homem que tenha fortuna?
— Isso não sofre dúvida. Vi-o gastar à larga.
— Você nCo calcula como essas informações me a-
gradam.
— Por que? Que negócios você tem com êle?
— Não sou eu, mas meu compadre Nicolau José da
Costa, a quem o sr. Silveira veio recomendado. O
Nicolau pediu-me que colhesse umas informações-
sinhas e eu procuro satisfazê-lo.
" —Que tal vai o negócio do Nicolau?
" —
Menos mal. Todavia êle calcula ter prejuízo com
a falência da casa Simpson, Silva & Cia., uns cin-
qiienta contos que lá tinha a juros. Não é cousa, po-
rém, que o abale.
" — Comtudo, acudiu o Peixoto, que estava de pé, -
silencioso, a ouvir a palestra dos dois, cinquenta
contecos não são palha nestes tempos bicudos e a
fortuna do Nicolau não é lá essas cousas. A gente
dêle gosta de luxar, a mulher anda sempre rasgan-
do sedas e usa anéis de brilhante em quase todos os
dedos, a filha lê pela mesma cartilha e tem uma por-
ção de professores. Ê raro o domingo que não há for-
robodó em casa dele, onde comparece uma menina-
JERÔNIMO DE VIVEIROS
por agradar à pe-
da uns pelintras que se esiorçam
Nicolau tenha
quena. Assim não é possível que o
ajuntado minto dinheiro
Lá a isso replicou o sujeito, é verdade.
Na casa do
os criados furtam des-
compadre há' muito disperdicio,
comadre^ Joa-
caradamente, sendo a culpada a minha
quina, que passa anos e anos sem dar
uma vista d olhos
pela dispensa e cozinha. O Nicolau bem que se amofi-
na, ralha, masé uma voz clamando no deserto.
A mu-
governa, mais a delambida da filha, que
lher é que o
só vive a ler versos e romances e não
sabe sequer coser
uma camisa. Tôda a roupa de casa se faz fora.
— Não é tanto assim, sr. Gomes, obtemperou o
Seixas.

É uma família estimável a do Nicolau, gente que tem


tratamento, criada na abastança.
— Eu,não quiz dizer mal do compadre, nem da gente
dele, retrorquiu o Gomes, fiz apenas uns reparos ino-
centes. Eu também gosto muito da casa do compadre.
Mas está ficando tarde, tenho que receber os aluguéis
de uma casa, onde moram empregados do Tesouro.
Vou à repartição ver se já receberam. Dantes era cou-
sa certoi no primeiro de cada mês, mas estamos a cin-
co e ainda lhes não foi paga a folha. Aquilo por lá vai
muito mal. Gastaram mais do que podiam: telegra-
mas, Escola Modelo, Estatística e não sei que mais, e
agora estão torcendo as orelhas. Se êles pensaram que
a farinha era eterna, que sempre daria mais de dez
tostões o quilo! Até logo, seu João, até logo, Peixoto!
— Até logo!

"Com o mesmo andar apressado, saiu o Gomes, e se-


guiu caminho da rua do Trapiche, em direção do Tesouro. O
Seixas voltou a compulsar os papéis, que largo tempo percorreu,
sem dar palavra, emquanto o Peixoto, com as mãos no bolso,
de pé, na porta da rua, olhava para o pequeno movimento da
praça do comércio, Lia-se-lhe na fisionomia um que de triste,
de profundamente melancólico. Raros eram os transeuntes. Em
frente à Associação Comercial: vm carro de condução, vasio,
estacionava e o burro tinha lazer bastante para olhar, pungido,
para as pedras da calçada, onde nenhum fio verde de herva
brotava. A Alfândega começava a se abrir, via-se uma ou ou-
tra face de empregado sonolento surgir a uma ou outra janela
ou porta, com o ar aborrecido de quem não aguarda no trabalho
a sua satisfação pessoal. Vindo do ilado da rua da Estrela que
vai ter 00 largo do Palácio, um preto descia com um barril va-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MAKANHÂO 13

sio ao omhro, em passo miúdo, sem suar, como se aquilo jôsse


a sua primeira tarefa no dia. Não se via entrar pessoa alguma
nos armazéns, apenas numa ou noutra porta dêstes estavam in-
divíduos a jazer o mesmo que Peixoto jazia: a olhar. Dois outros
árahes, à porta duma das barracas, jalavam no seu idioma gu-
tural, com abundância de gestos. Mais longe, sacudiam da por-
ta baixa de um armazém uma enorme ratazana morta. Tudo
era torpor, nem um bajejo de vento rumorejava nas jolhas das
árvores, nem um ruido de carroça se ouvia. Ali, naquele lugor,
outr'ora tão animado, sentia-se a atmosjera pesada de um luto
que não se podia dejinir, talvez o dó do credito perdido dos que
tão acreditados haviam sido. Um
chamado do Seixas jez que
o sócio saísse da porta, acudindo pressuroso.
"— Quanto temos em caixa?
— Uma bagatela. No sábado, mandei o caixeiro receber
umas contas, mais de uns vintes contos de réis, em vá-
rias casas comerciais que me tinham jicado de pagar:
voltou, trazendo unicamente trezentos e tantos mil réis,
que ^recebeu dum quitandeiro no Portinho. Os outros
devedores disseram-lhe que voltasse para a semana,
que não tinham dinheiro.
— E onde está o caixeiro?
— Mandei-o à Intendência, ajim de satisfazer aquelas
décimas das nossas casas,uns quatrocentos e tantos mil
réis.
— A quanto monta o que temos em casa?
— A sessenta e sete mil quatrocentos e sessenta réis. Ê
tudo quanto há.
"O Seixas meteu a mão pelos cabelos, com modo de-
sesperado de quem vê as cousas mal paradas, e em voz rouca,
disse:
— E o saque que temos de pagar a Batista Campos &
Cia.?
— Não há remédio senão recorrer ao José Muqueca.
Atualmente, é quem. tem dinheiro na praça. Vó você,
seu João, à casa dele e leve o saqiLC. Êle é muito seu
amigo e de tôda sua jamília.
Sem se dar ao trabalho de envergar de novo o pale-
tó nem pôr o chapéu, o Seixas saiu em passos lentos, como pes-
soa que vai jazer uma cousa contra vontade,
ordenada pelo
império das circustâncias. Cruzou com êle, ao sair, um
rapa-

zote magro, alto, olhos grandes, moreno, cabelo liso, buço pe-
vermelhas
queno, trajando terno de casimira cinzenta, botinas
de palha comum. Era o caixeiro que regressava
da
e chapéu
Intendência e logo disse ao Peixoto:
JFnÒMMO DE VIVEIROS
" —
Aquilo está uma balbúrdia. Quiz pagar e não achei
a quem. Disseram-me que ainda não era a hora do ex-
pediente e que voltasse mais tarde.
— Pois então, disse o Peixoto^ vá o senhor a casa de
Lopes Couto & Cia. e compre o que consta dêste pedido.
— Mas nós temos em casa estas mercadorias!
— Não se importe, faça o que lhe digo. Se carregarem
nos preços, discuta, mas emfim aceite
— Já entendi.
O rapazote saiu, procurando, mas debalde, confiar as
guias do bigode ausente.
O Peixoto novamente se assentou, olhando vagamen-
te^ pelo armazém. No semblante avermelhado e embaciado, ca-

ra larga de burguês sério, uma expressão de atonia se pintou,


de tédio por aquela vida que só o trabalho podia tornar supor-
tável, e que, c mingua dêste, lhe pesava sôbre os ombros, como
um fardo esmagador. Ans quinze anos, viera de Portugal tentar
fortuna no Brasil, fora caixeiro, aturara muitos patrões, até que
o Seixas lhe dera sociedade na casa. Bfitia à porta dos quarenta
anos, cançado, com o organismo depauperado por enfermidades
que o tinham perseguido, sempre honesto e bom, mas um caipo-
ra na extensão da palavra. Quando lhe chegara a época da for-
tuna, quando tudo parecia tender a contentá-lo, o descalabro
financeiro da praça vinha escarnecê-lo, zombar dele, que o tem-
po não se mostrava próprio para realizar lucros que a ele che-
gassem. Lembrava a sua perdida juventude, o seu tempo gasto
na meia luz dos armazéns, entre mercadorias e mesas empoeira-
das, o seu vigor de homem, desaparecido nos amores fáceis, o
seu horizonte intelectual estreitado entre o Deve e Haver, na
r^cnotonia de um viver sempre o mesmo, ev.brarecedor; e logo
se lembrou do sócio, um rapaz que fora como êle alegre, dile-
tante apaixonado de compnhias líricas, possuindo uma regular
voz de baritono e cantando com brio algumas árias de ópera»
italianas. A vida dêles fôra parecida, mas o Seixas já possuía
fortuna, tinha um primo que lhe estendia a mão, o maior fabri-
cante do mercado, influência consagrada no presente económico
do Maranhão. Se a casa sofresse prejuizo, João teria onde se
acolher do naufrágio, mas êle onde se abrigaria? Teria de reco-
meçar novamente a vida, ir para outra parte ser caixeiro, passar
de cavalo a burro, êle que já tinha aversão por aquilo, que de-
sejava descansar um pouco, ir ver as terras dos seus, a pequena
aldeia de casinhas brancas, a alvejarem entre a rara vegetação
do solo pedregoso do velho Portugal, lá onde ficara
o inicio de
sua vida distante de criança ao abandonar a pátria,
forçado ao
trabalho neste clima tórrido, sem lar e sem
família.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 15

"Salteado destas idéias, o Peixoto ergueu-se e foi


esbarrar com Seixas, que, já de volta do armazém do Muqueca,
trazia o cheque pago.
— Não disse ao Peixoto^ mas o homem sempre
foi fácil,
emprestou-nos os cobres.
— Por onde anda o caixeiro?
— Mandei-o ao Lopes Couto & Cia. ver se salvamos al-
gumas mercadorias. Ei-lo a chegar.
O moço foi logo dizendo aos patrões:
— Infelizmente, encontrei-lhes as prateleiras vasias.
Outros mais avisados do que nós, tinham-lhe dado uma
corrida. Estão limpos.
— Mais uma, disse suspirando o Peixoto. Atrás desta
irão outras.
— Sim, virão."
Como se não bastasse, para a atrofia das forças vi-
tais do Maranhão, a crise económica e financeira, descri-
ta, como acabamos de ver, com maestria, no romance de
Manoel de Bethencourt, quiz a nossa pouca sorte que fos-
se ela fomentada pelas calamidades dos êxodos da sua
população.
O êxodo do trabalhador maranhense foi oriundo
da nossa penúria na vizinhança da riqueza da Amazónia.
De fato, a nossa pobreza contrastava com a fortuna os-
tentada pelos dois Estados do extremo Norte Pará e —
Amazonas, mercê da borracha, artigo então, de valor ele-
vado nos mercados consumidores. Essa riqueza seduzia
o m^aranhense e daí a sua emigração para o El-Dourado
da sua fantazia, a qual a estrada do fio telegráfico íacili-
ta\'a.
Contra êste despovoamento da terra maranhense,
vinham clamando desde 1890 as nossas gazetas, notada-
mente "O Globo", redigida por Francisco Paula Duarte
e Cazemiro Dias Vieira Júnior, republicanos de idéias
exageradas de liberdade, mas que, não obstante, preco-
nizavam, para a malandragem da escória de serviçais
que nos ficava, um regime de leis trabalhistas draconia-
no, executado pelo pulso forte de um homem da
fibra de

um Tenente Queiroz. (439)

(4,39) __ Artigo redacional, in '"O Globo", de 3-3 1890.


16 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Mas não eram só os trabalhadores rurais que nos


deixavam, faziam-no também as pessoas da classe média
da sociedade. O mesmo jornal citado comentava :

"Não pode passar despercebida a quem tem ainda um


pouco de amor a esta terra o fato contristador do abandono a
que está jicando reduzido o Maranhão.
"De certo tempo para cá, raro é o vapor que daqui sai
para sul, que não leve a seu bordo muitas jamílias que vão fi-
xar residência noutros Estados.
"Isto parece nada valer, mas a nosso ver tem importân-
cia bastante para que seja notado.
"Indica perfeitamente que o Maranhão já não oferece
vantagem alguma, que não há mais atividade, trabalho, luta;
que o desânimo tudo invadiu, que de todos apoderou-se um cer-
to ifitorpecimento, que ninguém tem mais fé no futuro.
"E vão pouco a pouco abandonando o Maranhão."

Desta maneira, demos os primeiros passos no re-


gime de govêrno, preconizado como paradigma de pro-
gresso e de felicidade geral sob a tortura de uma crise e-
conômica, agravada pelo êxodo da sua população.
CAPÍTULO II

O Corpo comercial do Maranhão no tempo da crise. Os líderes


da classe. Os grandes retalhistas. Os anúncios pelo Natal. O
contrabando no fantasma do Genipapeiro. A exportação
e a importação. Preços correntes da época.

umEstado como o Maranhão, que possuía 400 000 .

habitantes, com uma capital que não atingia


40 000, não era pequeno o seu corpo comercial, no
.

tempo da grande crise económica que o acometeu.


Compunham~no 57 armazéns (29 de fazendas em
grosso, 23 de estivas e 5 de ferragens), 47 lojas, 5 livra-
rias, 8 tipografias, 9 farmácias, 11 refinações de açúcar,
20 padarias e 181 quitandas.
A estas 338 casas comerciais serviam em numerá-
rio 3 bancos — Comercial, Hipotecário e do Maranhão
— e 3 agências bancárias —
a do Banco do Brasil, a do
English Bank of Rio de Janeiro Limited e a do The New
London & BraziUan Bank, Limited. Neste todo, forma-
vam o alto comércio os armazéns de fazendas, os de fer-
ragens e de estiva que por isso mesmo enumeramos Al- :

meida Júnior & Cia. Sucessores, Almeida Santos & Tei-


xeira, Antônio Prado & Cia., Azevedo Almeida & Cia.,
B. Machado & Cia., Bastos Guimarães & Cia., Bento
18 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Dias, Irmão Bernardino Silva, Filho & Cia., Bri-


& Cia.,
to Pereira, Filho Cia., Francisco Antônio de Lima &
&
Cia., Freitas, Novas & Cia., Graça & Cia., Jânsen Ramos
& Guimarães, J. B. Prado & Cia., Joaquim Julio Corrêa,
José de Carvalho Camões & Cia., José Domingues Mo-
reira, Filho & Cia., José Inácio Fernandes & Cia., José
Pedro Ribeiro & Cia., Maia, Sobrinho & Cia., Manoel
Lopes dc Castro, Irmão & Cia., Miranda, Gonçalves &
Cia., Moreira da Silva, & Cia., Moura, F°s. & Cia., Oli-
veira Borralho & Cia., Ribeiro, Gandra & Cia., Santos
,

& Irmão, Sousa & Burnett, Vinhas & Cia., Cunha San-
tos & Cia., Graça & Cia., Joaquim Marques Corrêa &
Cia., Manoel José Maia & Cia., Peixoto Dias & Cia. e
Jorge, Santos & Cia.
Lideravam o alto comércio Carlos Ferreira Coêlho,
Manoel Jorge, Cândido Ribeiro e João Batista Prado.
Mas de todos, a figura mais destacada era a do último.
De menino pobre de Alcântara, escalando pelos estágios
de caixeirinhos de um armazém em São Luís e outras
funções da carreira, chegou êle, em menos de vinte anos,
à alta posição de banqueiro da praça. Numa época de
crise, quando outros viam paralisados lucros ou perdidas
fortunas, J. B. Prado enriquecia, num jôgo de câmbio de
verdadeiro predestinado e especulações sagazmente diri-
gidas nas situações angustiosas das fábricas. Rico, explo-
rou o prestígio do fausto na vida dos argentários e passou
a viver num mar de ostentações. A
residência, um palá-
cio —
o palácio Cristo Rei dos nossos dias, escritório e
armazém numa casa principesca, que iôra moradia do
Visconde de Itacolumí (Rua Cândido Mendes canto com
José Augusto Corrêa), carruagem à porta, puxada por
parelhas de cavalos do rio da Prata, indumentária esme-
radamente cuidada, sempre com a mesma espécie de flor
na boutonnière, era uma figura que impressionava em
tudo nos hábitos do viver cotidiano, na generosidade
:

dos gestos e até nas festas que oferecia aos amigos. (440)

(440) — "A Campanha", tle 19-5 1902.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Certamente, que êstes lideres não conseguiram


jugular a crise, causada por fenómenos intangíveis, mas
prestaram à sua classe o inolvidável serviço de evitar
que as falências fossem além de duas, estabelecendo uma
corrente de auxílios mútuos, num gesto dignificante de
solidariedade humana.
Entre as 47 lojas existentes em São Luís, havia
duas que se destacavam —
a Casa Inglêsa e a Casa Bra-
sileira.

Localizada à Rua do Sol, n.° 13 (Nina Rodrigues,


hoje), em
prédio que depois foi demolido, a Casa Inglê-
sa era, no seu tempo, o paraíso das moças maranhenses.
Dirigi-a Miss Emily Brack, entendida em modas femini-
nas e que tinha um corpo de vendeuses admirável, na
arte de cativar os freguêses. Dispunha de variado sorti-
mento, frequentemente renovado em Londres e Paris.
Nos seus anúncios dizia bem o que ela era para o mundo
elegante feminino de São Luís. Vejamos êste :

"Quereis, mocinhas bonitas,


Ficar "chies", bem vestidas,
Ganhar na Festa as tetéias
Que vos foram prometidas;

"Vinde, munidas de "money"


À nossa Casa Inglesa
Preparai, vosso chiquismo
Com elegância e beleza.
Aqui achareis de tudo
Quanto pede a nova moda.
Coisa lindas de fazer— vos
A cabeça andar à roda!"

de ver a concorrência que a casa de Emil>


É bem
Brack que por isso lhe moviam
fazia às suas congéneres,
guerra de morte, atribuindo-lhe a pecha de contraban-
dista.
Verdade ou mentira, o fato é que, com aumente
dos impostos alfandegários, devido a quota de 5Vo em
20 JERÔNIMO DE VIVEIROS

ouro, então estabelecida pelo Govêrno Federal, incre-


mentou-se entre nós a prática do contrabando.

Mas o contrabando no pôrto de São Luís era ta-


refa difícil : o fisco tinha o olho vivo e o policiamento dc
cidade bem A
mercadoria contrabandeada só po-
feito.
dia saltar a noite, numa
das praias Genipapeiro, Cajú. —
Desterro ou Madre-Deus, além de ter de atravessar ruas.
mais ou menos frequentadas. Daí a necessidade de es-
tabelecer o pânico na população. Surgiu, então, um fan-
tasma, que o vulgo batisou com o nome de "Manguda".
Começou a aparecer lá para as bandas do Genipapeiro,
nos terrenos da "Quinta Vitória", propriedade e residên-
cia do solitário poeta Sousândrade, o autor do "Guêsa
Errante". A farça era bem arquitetada. A "Manguda"
surgia de uma fumaça e atingia altura fantástica. Tran-
sidas de pavor, as sentinelas da cadeia desmaiavam.
Chegaram a morrer dois soldados. O mêdo afastava os
transeuntes das ruas e o contrabando passava livre-
mente.

Em versos, que corriam ria cidade serem da pena


do dr. Luiz Domingues, 8 "Cruzada" ridicularizou o tal
fantasma :

"Era noite e já bem tarde, I


"Saltaram fora os remeiros,
Singrava às águas do Anil I
Descarregaram o hatel
Batel veleiro, apres'sado. I
De fardos, mercadorias,
Chegando à praia sutil. I
Prestes juntaram o farnel;

"Receiosos, caminhrvam, \
"Alerta estou! Brada ela,
Como se andassem à toa \
Quando a Manguda velhaca
Espreitando a sentinela, \
Passou-lhe diante dos olhos.
?ostada junto à Camhoa. j
Nas costas levando a "maca".

"Pobre soldado bisonho, I


Não lhe valeu a "Comhlaim",
Aturdido e tresnoitado, I
Do sabre vem se lembrou.
Viu crescer a bicha horrenda I
Caiu prostrado no chão,
E ficou desnorteado. I
E não mais, — alerta estou!"
HISTÓRIÁ DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 21

A "Casa Brasileira" ficava, nos seus primeiros tem-


pos, sita ao Largo de N. S. das Mercês, n." 16, e depois
de 1.° de maio de 1891, à Rua Grande n.° 18, hoje Os-
waldo Cruz. O seu proprietário — Ezequiel Antônio Ro-
drigues, homem inteligentíssimo,
alegre e folgasão, era
o único negociante da cidade que não falava em crise.
Para êle tudo corria bem, o câmbio continuava a 27,
sortindo o seu estabelecimento verdadeiro bric - a - —
brac — com mais disparatadas mercadorias, sempre
as
com o mesmo entusiasmo. Era original nos anúncios que,
às vêzes, conseguia as redações dos jornais transmuda-
rem em entrevistas, como, por exemplo, o que vamos
transcrever : (441)

"Exihe-se de novo o popular proprietário da Casa


Brasileira, acima dos seus retumbantes anúncios, proclamando
aos quatro ventos grande parte do que tem armazenado no
seu vasto ^estabelecimento. Como isempre,o homem quer ca-
sar o mundo em peso e lá atulhou as suas prateleiras de futti
quanti um noivo e uma noiva catita podem precisar para a
cerimónia do conjugo-vobis e das palavras sacramentais
proferidas pelo juiz dos casamentos.
"Previdente, êle preparou-se já do preciso para os
batisados, tendo como dogma infalível que o multiplicamini
acompanha por força o crescut.

"Era bom se ficasse só nisso. Não vê que o Ezequi-


el é homerri que se contente com pouca coisa!
"Dos bebés e dos noivos passou para o restoda hu
manidade e assoalha tudo de que pode precisar um pobre r
mesmo um rico neste vale de lágrimas, que para êle é vr
vale de negócios.
"O homem chegou-se a nossa mesa e encheu-a de tiras
de papel.
" — O que é isto, popularíssimo dono da Casa Bra-
sileira?
" — São anúnciosl São anúncios! Sorti a caço de no-
vo, tenho tudo, para tudo e para todos. Leia! Ninguém me
aguenta. Ninguém compete com a Casa Brasileira. Sempre

(441) — "Pacotilha", de 3-7-1890.


22 JERÔNIMO DE VIVEIROS
na ponta! E compareço de novo, em carne e osso, comandan-
do o batalhão.

Quer dizer, põe o retrato de novo a cumprimentar
'•

as nossas leitoras e nossos leitores.

"— Exdtamente. Êle já estava criando môfo e não foi


para criar môfo que o mandei fazer na Europa.
" — Faz bem, mas então tem de tudo, para tudo e para
todos.
" — Veja, veja!
" — E leu-me por alto os dizeres de boa meia dúzia de
seus espetaciilosos anúncios, dando-nos preços e mais preços,
e uma longa prelação sobre as diferenças que para menos só faz
a Casa Brasileira.
"

Mas é impossível sair isso tudo num só dia, a menos
que nos queira desalojar da gazeta, não nos deixando um can-
tinho sequer para a notícia sobre os vapores a sair, desastres
na Fiação e o mais que já anda por tiras lá por dentro.
"
— Não faço questão. Não precisa que tudo saia de uma
só vez. O que quero é que saiam na "Pacotilha" e que o meu re-
trato passeie pelas ruas da cidade.
"

Ah! nem precisava recomendação. Seria um crime
desobedecer o Rei da barateza.
"

Devagar. Rei foi noutros tempos. Hoje é Presidente^
General.
"
— Presidente da República da barateza.
" — Isso, isso.

"
— E se o Ezequiel dando gostosas
lá foi gairgalhadas
na alegria de quem tem bons contecos na burra e um armazém
abarrotadu de mercadorias, que vende baratíssimas. Duvidai':?
E' só ir à Casa Brasileira, no Largo das Mercês".

Outras vêzes, a Casa Brasileira anunciava em


versos :

"Aqui estou.' Já tenho dito |


"Questionar por bugatekis,
Que quem manda aqui sou eu; j Com freguez que trás di-
I
nheiro
Se o negóci» não der lucro \ E' por pouco, perder muito, .

O prejuízo é só meu. | Desmentindo o Brasileirv'\


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 23

De um modo geral, todo o comércio retalhista en-


trava na resenha que a "Pacotilha" publicava pelo Na-
tal. Vale a pena vê-lo enfileirado nessa versalhada :

"Se quiseres ver de tudo I


"Lunetas, pentes, espelhos
Numa pejjeita Babel, I
Alhuns, óleos e até Santo
Vai à Casa Brasileira I
Tudo ali já se liquida
Visitar o Ezequiel. I
E tem bandeira no Canto."

"Defronte da Presidente, "O Alfredo Silva no Alham


hra
Quase ao pé da Conceição, Com o seu riso prasenteiro
Vende Garrido^ cigarros Vende tudo que se queira,
E charutos — Exposição." Mas se levando dinheiro."

"Se quiseres belos lenços "Se queres uns bons sapatos.


Lindos fatos de encantar Catitas, bem acabados
Descansa, não te amofines, Vai compra-los sem demora
Que no Teixeira hás de Lá na Emprêsa de Calçados."
achar"

"Se queres andar na moda "Se exp'rimentar desejares


Todo chie e superfino, O que seja bebedeira.
A Notre Dame está perto, Prova dos vinhos manho-
sos
Prega o calo no Claudino." Que tem à venda o Taveira."
neira."

"Sinhá, se queres no haile "Desejas um rico mimo


Fascinar quem de ti erto ' Tetéias, lindo bijou?
Pede amostra das fazendas Tem, o Opílio a casa cheia,
Da cas a de Antônio Alber Dize lá que queres tu "
to."

"Presuntos apetitosos "Chapéus, capotas, manti-


lhas,
A vinte paus anda um Rendas, bordados e fitas,'
Paios, chouriços e queijos Nas lojas da Casa Inglêsa
Dá, não vende, o 31." Vendem caixeWas bonitas."

"Cooperativa! Cruz! Credo! "Na Havaneza que brincos!


Tanta cousa existe ali, Que cort3s cie enfeitiçar!
Que não bastam dez colunas Só tu os vendo,, menina,
P'ra dizer tudo o que vi." Poderás acreditar."
24 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"De ventarolas mimosas Gentil leitora, se queres


Se queres ver grossa mina. Vestir-te com fidalguia,
Bota o chapéu na cabeça Manda vir rendas e sedas
Vai à casa do Gahina," De Sá, Lebre & Cia"

"Quem quizer passar sadio


Esta quadra climatérica
Beba a pinga saborosa
Do belo Paris na América

Sóbre êsse comércio de fazendas a retalho não se


em tôda a sua extensão, por isso que gi-
refletia a crise
rava em torno de artigos importados e de necessidade
mais ou menos imediata. Certo, que lhe sentia os efeitos,
mas não eram como o alto comércio de exportação, em
que o desequilíbrio provinha da falta de géneros expor-
táveis.

Há cinquenta e oito anos passados, isto é, num


dos anos da crise económica de que nos ocupamos, a ex-
portação do Maranhão era simplesmente ridícula. O ma-
nifesto de qualquer navio, que partisse de São Luís, nes-
sa época, demonstra isso mesmo. Analisemos êste, do
vapor alemão "Paranaguá", que daqui saiu em 24 de a-
gôsto de 1902, época de plena colheita, para os portos de
Lisboa, Pôrto, Havre e Hamburgo. Que exportávamos
no seu carregamento ? Fardos de algodão, 968; couros de
boi, 2.702; chifres de boi, 5.000; sacos de tapioca, 300;
de farinha sêca, 100; de mandioca, 30; de resina de jato-
bá, 50; de maniçoba, 184; de osso, 100 e de cravo, 16.

Esta mesma apoucada exportação observa-se nos


dados do quadro abaixo, que abrange um período de de-
zessete anos e no qual sempre compramos mais ao es-
trangeiro do que vendemos.
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
25

COMÉRCIO INTERNACIONAL DO MARANHÃO


(442)

Ano Exportação Importação

1901 1.894.830.$000 4 .821 .000$000


1902 3.930.228$000 6 .207 .000$000
1903 5.209.446$000 8 .893 000$000
1904 4.111.612$000 o
0 OO. 1 UUU<pUUU
1905 2.558.905$000 7 .887 000$000
1906 3.957.096$000 7 .325 000$000
1907 4.094.086$000 8 .454 000$000
1908 2.002.393$000 6 .102 000$000
1909 1.617.224$000 6 .873 000$000 1

1
1910 1.683.906$000 9 054 000.$000 -1

1
1911 1.718.991$000 9 .548000$000 '

1
1912 1.594.577$000 9 .9860€0$000 1

I
1913 2.592.305$000 8 581 000$000 1

1 1914 2.296.565$000 5 079 ooo$ooo 1

I
1915 2.538.337$000 4 996 000$.000 !

1
1916 3.580.599$000 5 387 000$000 '

1 1917 6.080.456$000 '

7 424 OOOÍfíPOO 1

1 1 1

No tocante às nossas transações mercantis com


os outros Estados da Federação, verificava-se o mesmo
deficit para a economia maranhense. Haja vista êste
quadro relativo ao último quadriénio da crise :

(442) — Fran Paxeco — "Geografia do Maranhão", págs. 281 o 202. Ti.-. TH-
xeira, Sao Luís, Maranhão — 1923.
16 JERÓNIMO DE VIVEIROS

Ano Kvnnrtacão Importação |

1911 9.229.000$000 8.157.000$000 1

1912 9.208.000$000 7.725.000$000 \

1913 6.308.000$000 9.408.000$000 i

1914 3.933.000$000 '


9.625.000$000 !

1
1

o qual demonstra o deficit de 6 237 000$000 contra o


. .

Maranhão. E é para notar que nestas exportações esta-


vam incluídas as partes concernentes às fábricas de teci-
dos, que, passada a época em que foram construídas e
das aperturas financeiras, elas passaram a segundos pro-
prietários, que as fizeram mais ou menos trabalhar. Em
verdade, q*ue neste cômpúto não devia ser pequena a
quota dessas onze fábricas maranhenses, que com o capi-
tal de
8.88.J^.000$000
faziam trabalhar 3.360 H. P.—
e 3.557 operários, produzindo em 2.336 teares cêrca de
13.974.411 metros de tecidos no valor de
11.776.640íl:}8-í)0.

Estudando a pobreza da nossa exportação, quer


estrangeira, quer nacional, Fran Paxeco não acreditava
que a podessemos resolver de pronto, porque escassea-
vam ao nosso trabalho os elementos essenciais na instru-
mentagem económica transporte, dinheiro e braços.
:

Justificando a sua opinião, argumentava que os três ban-


cos locais — Comercial, Hipotecário e do Maranhão —
tinham de capital efetivo quantia que não ia além de
4.351 .300$00.0 e que com esta soma nem se poderia fa-
zer um mínimo das urgências de São Luís, quanto mais
do Estado. E para provar a nossa pobreza, o ilustre escri-
tor português usava dêste lógico raciocínio :

"Os cabedais em movimento, na indústria màquinofatora,


tanto na Capital como no interior, noutras emprêsas, induin-

1 i
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 27

do os bancos, a Fluvial, a Caixa Popular, a Predial do Norte,


etc. reduzem-se a uns dezesseis mil contos, arredondando. Su-
ponha-se que, na lavoura e no comércio, só se emprega o triplo
de semelhante importância ou quarenta e oito mil contos. Cal-
culando o número de habitantes em oitocentos mil e tirada
a média, apuraremos que a fortuna de cada um, móvel e imó-
vel, se resume à bagatela de sessenta mil rés. Ainda que fôs-
sem apenasi quatrocentas as pessoas aqui moradoras, os centos e
vinte concretizam uma migalha. Para se averiguar isto os econo-
mistas tomam por base o valor dos bens transmitidos por heran-
ça, e multiplicam-no por 35, número de anos em que se avalia
uma geração. Aqui,baldar-se-ia o cálculo, porque, regulando-
nos pelo orçamento de 1915-1916, que estima o imposto de he-
ranças e legados em cinquenta contos, a riqueza estadual se
estreitaria à insignificância de mil setecentos e ciníiúenta con-
tos:" (443)

Se é tal resultado deve ser considerado


verdade que
absurdo, é também
certo que essa riqueza não atingia a
muitas dezenas de milhares de contos de réis, sobretudo,
no período da crise, em cujo final minguavam até as últi-
mas reservas do pé de meia das famílias maranhenses.

a afirmativa o movimento da Caixa E-


Comprova
conômica do Estado, no triénio de 1912-14, em que os
saldcG contra a Caixa, balanceadas as entradas e retira-
das de numerários, foram em números redondos, respec-
tivamente, de 522.000$000, 762.000$000 e
432.000$000, ou sejam 1 707 000$000, importância. .

que denota o empobrecimento da fortuna privada do


Maranhão.

claro que esta situação da nossa economia


viesse
É
influir fortemente na administração financeira do Esta-

do. E assim foi.

êste capítulo
Antes, porém, de mostrá-lo, fechemos
dos preços corrantes daquêles tempos :

com a relação

Í443) — Fran Paxeco — Obra cit., págs. 476 —


28 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Preços Correntes da Praça do Maranhão

9 de dezembro de 1890

GÉNEROS NACIONAIS
n A AAA r? r- AAA
Aguardente de 22° |
pipa <I*
YUÍpOOO a 75$000
cl»

Algodão 1
quilo $420 a $440
O U» A A A O AAA
Arroz em casca |
alqueire úíf>000 a 3$200
Cl*

Arroz pilado j
quilo $260 a $280
u
Açúçar branco |
$300 a $320
n
Dito somenos |
$200 a $240
Ulto mascavo purgado
C í

;
$160 a $180
n
Dito bruto 1
$070 a $100
Azeite de côco litro $500 a $600
íi
Azeite de carrapato \
$320 a $340
Cacáu 1
quilo $400 a $500
Cale de la. | $950 a 1$000
íi
Caie ae za. | $750 a $900
6t
v^aie ae oa. 1 $640 a Ç750
Camarão ]
íi
$240 a $440
Carne sêca U CAA
Cí*
j $500 a $600
a
Carrapato | $080 a $090
Caroço de algodão 15 quilos $300 a $320
Cêra de carnaúba quilo $400 a $440
ípZZO a M>Z40
Couro espichado |
((
$300 a $320
Couro verde |
Um 3$500 a 3$800
Couro de veado \ quilo í$700 a 1$750
Farinha sêca (<
$050 a $055
Farinha dágua (<
$040 a $070
Favas <<
$100 a $120
<<
Feijão frade $100 a $120
<(
Dito manteiga $120 a $140
Fumo de corda ((
1$000 a 2$500
Dito de molho-(Codó) arroba 15$000 a 25$000
Dito de molho-(Ana-
jatuba) 6$000 a 8$000
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 29

Dito baependi lata 10$000 12$000


Gergelim quilo $160 $180
Milho $070 $075
Sabão de andiroba $120 $160
Sebo $240 $320
Tapioca $100 $160

GÉNEROS ESTRANGEIROS

Alhos i
maço $060 a $070
Alfazema |
quilo j
$400 a $450
Alpiste I
$300 a $320
Arroz da índia j
1
$220 a $240
1 OAA
ti'

Azeite doce I
litro 1$000 a 1$200
Azeitona em latas
grandes lata 1$200 a l!t>400

Azeitonas em latas
u $450
pequenas $400 a
Bacalháu barrica 15$000 a 18$000
Dito (cx. de 20k) 9$000 a 10$000
Banha de porco quilo $600 a $700
Batatas em caixas de
30 quilos caixa 3$500 a 4$000
Cebolas em caixas de
C molhos 12$000 a 16$000
Chá Hisson quilo 3$500 a 5$000
Chouriços em latas i
arroba 27$000 a 30$000
Cominho quilo 1$000 a 1$100
Farinha de trigo ame-
ricana I
saco 16$000 a 18$000
" 18$000 a 20$000
Dita de Trieste i

arroba 6$000 a 6$500


Figos em caixinhas 1

" 7$000 a 8$000


Figos em latas 1 j

quilo $900 a $960


Erva doce 1
1

Querosene em latas 1

3$800 a 4$000
de 5 galões 1
f

lata-quilo 2$ooo a 2$400


Manteiga em latas 1
;
30 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Passas caixa 6$000 a 7$000


Papel de embrulho resmas $700 a 1$200
Pimenta da índia quilo 1$000 a 1$100
Pólvora inglêsa barril 24$000 a 25$000
Queijo flamengo um 2$800 a 3$000
Sardinhas de Nantes 1/4 $300 a $320
Toucinho de Lisboa quilo $700 a $800
Velas stearinas maço $300 a $400
Vinagre de Lisboa pipa 130$000 a 135$000
Vinho da Figueira 250$000 a 260$000
Vinho de Lisboa 250$000 a 260$000
Vinho branco 250$000 a 260$000
Vinho do Pôrto caixa 8$000 a 15$000
CAPITULO III

Repercussão da hecatomhe económica na administração do Esta'


do. Os impostos interestaduais e a sua inconstitucionalidade, argúi-
da pela oposição. A defesa do novo tributo feita pelo Cxovernador
Belfort Vieira. O patriotismo do comércio.

s detentores do Governo Republicano no Mara-


ni nhão, reconheceram a grave crise por que passava
a nossa terra logo nos primeiros dias do novo re-
gime.
Em 21 de janeiro de 1890, pouco mais de dois meses
após a proclamação da república, Eleutério Vareb, que
tinha substituído interinamente a Pedro Augusto Tava-
res Júnior, na curul governamental do Estado, convocou
em palácio as classes conservadoras maranhenses para
tomarem conhecimento das precárias condições financei-
ros da nossa terra. Compareceram cerca de oitenta cida-
dãos, inclusive os redatores dos jornais "Pacotilha",
"Diário do Maranhão" e "Globo". Varela expoz a situa-
ção aflitiva das finanças do Governo, em consequência
da crise económica em que se debatia a nossa terra e
sugeriu dois alvitres: um empréstimo externo ou procu-
rar-se reaver do Govêrno Federal a importância de 400
contos de réis, que nos devia das obras do canal de Ara-
Gomes de Castro combateu o empréstimo, ale-
32 JERÔNIMO DE VIVEIROS

gando estar o Maranhão em banca-rota. Ficou de pé a


outra sugestão. Nomeou-se uma comissão, que, se tratou
do caso, nada conseguiu.
Assim, José Tomaz da Porciúncula, 2.° Governador
nomeado pelo Governo Provisório da República para o
Maranhão, encontrou as nossas finanças na mesma si-
tuação precária. Para minorá-la, contraiu um emprésti-
mo, no Banco Nacional, da praça do Rio de Janeiro, na
importância de 300 contos, tipo 93, juros de 6"/o, amor-
tização de 2^Iq, representado por 600 apólices de
500$000 cada uma, e do qual destinava 65 contos para
pagamento dos herdeiros de Francisco Gonçalves dos
Reis, saldo da construção do prédio do Tesouro, confor-
me contrato de 10-2-1871.
Defendendo esta operação financeira, dizia o "Diá-
rio do Maranhão", citado por Porciúncula no seu rela-
tório de 7-7-1890, passando a administração ao Vice-
Governador Gomes de Castro:

"que o Estado devia dez meses de vencimentos a muitos


Juncionários e que nem pagava em dia os alimentos das asi-
ladas de Santa Teresa, dos Expostos e dos Lázaros, confiados
aos cuidados da Santa Casa de Misericórdia."

O empréstimo contraído por Porciúncula apenas


aliviou a situação,momentâneamente. Nos fins de 1890,
o Govêrno embaraçava-se de tal modo para fazer o orça-
mento, ajustando a receita, que não aumentava, com a
despesa, acrescida com os novos serviços do regime, que
teve de pedir a colaboração da Associação Comercial,
presidida, então, por Hermenegildo Jânsen Ferreira, a
qual ]ha concedeu, contra o voto de Inácio do Lago Par-
ga. De fato, levado pela paixão política, e não pelo espi-
rito comercial, abafando todo e qualquer sentimento de
patriotismo, Parga opôs-se, fazendo consignar o seu voto
na ata:

"Nego todo o meu apõlo a todo e qualquer imposto que 6


Govêrno queira estabelecer, protesto por quaisquer aumentos
que em tal sentido se queiram fazer."
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
Estava o Maranhão a braços com a sua grande
se económica — financeira, talvez a maior em que
cri-
se de-
bateu — quando uma medida do Govêrno Federal lhe
veio agravar a situação.

Foi o decreto estabelecendo o pagamento em ouro


dos impostos alfandegários.

Para logo, a nossa Associação


Comercial dirigiu êste
ofício ao Presidenteda República, oficio que é um docu-
mento honroso para o corpo do comércio daqueles tem-
pos, já pela argumentação, já pelos conceitos emitidoc, e
que por isso transcrevemos :

"Cidadão Presidente da República.

"O comércip da praça de São Luís do Maranhão, em reu-


nião convocada pela Associação Comercial, resolveu vir pe-
rante a primeira autoridade da União representar contra os
últimos decretos do Governo Provisório em relação aos siste-
mas bancário e financeiro, inaugurado no país, produtores da
perturbação económica em que se acha mergulhado todo ele,
e submeter ao exame e alto critério que vos distingue, algu-
mas considerações tendentes a chamar a vossa atenção para
os perniciosos efeitos por êsses decretos produzidos, que são
consequências forçadas de tais anormalidades financeiras e
que afetam na totalidade o jôgo natural das transações de co-
mércio
"Nem mesmo nos tempos da transformação do trabalho
pela abolição, executada de chofre e com prejuízos enormes e
de tal ordem que a ^muitos pareceu arrastar a nação tôda a um
estado de dificuldades sem remédio por muitos anos; nem
mesmo com o abalo da transformação política pela extinção
do regime monárquico, em tempo algum enfim anterior, sofreu
a nação, e em especial êste Estado tanto, nem passou por tão
penosa crise, acentuada sobretudo pelo decreto de 4 de novem.-
bro de 1890, que pôs remate aos anteriores desacertos, bastan-
tes por si sós para introduzir a desordem no mercado nacional.
"O comércio, dizemos mal, o consumidor não encontra
ainda no desenvolvimento do pais elementos de prosperidade
de importância a lhe permitir fazer face à carestia da própria
existência, carestia fictícia e de criação exclusiva da dispari-
dade e incongruência do sistema financeiro atualmeníe pre-
dominante.
JERÔNIMO DE VIVEIROS

"As medidas tomadas pelo Governo Provisório, quer em


relação áo sistema bancário, quer em relação às disposições
aduaneiras, trouxeram para a vida económica da nação um
mal estar até hoje desconhecido entre nós.
"A taxa du câmbio, que nos últimos anos da monarquia,
conseguira manter-se em condições vantajosas no nosso mer-
cado, tem ido descendo continuadamente e por maneira as-
sustadora desde que os decretos financeiros do Governo Pro-
visório começaram a atuar nas transações, estci(gnando para
logo o coviércio e produzindo a incerteza e a dúvida em todo
o empreendimento mercantil.
"O câmbio par, obtido pelos derradeiros Ministérios da
Monarquia, se não indicava segurança absoluta das finanças
do país e orientação económica legitima e perfeita, por isso que
eram mais aparentes que reais tais prosperidades, devidas so-
bretudo a responsabilidade da fazenda pública na diferença
cambial, pelos empréstimos então contraídos, que tiravam do
mercado o governo, podia ter permanecido firme e por largo
trato de tempo, com as pequenas variantes que a crise política
teria necessariamente determinado, se da parte do Governo
da República tivesse havido mais prudência.
"Infelizmente assim não sucedeu.
"O Govêrno entendeu assentar em outras bases o sistema
financeiro da República e, parecendo, a princípio,que obede-
ciam todos os decretos do Ministro da Fazenda a um pensa-
mento geral, subordinado a um descamba-
ideal preconcebido,
ram entretanto êles, com sur.presa geral, para o sistema de
moéda papel de obrigatoriedade de conversão quase impossí-
vel, terminando pelos direitos de importação em ouro, incom-
patível com aquele.

"Se fossem os bancos emissores forçados ao troco à vista


do f upel fiduciário, e permanecesse o Govêrno retirado do mer-
cado cambiário, o pagamento em ouro dos direitos aduaneiros
•ra mais do que uma medida salutar, era consequência força-
da da explèndida concepção manifestada a princípio pelo Go-
vêrno Provisório, que em tão má hora foi abandonada com o
curso forçado dado às notas bancárias até que o câmbio se
conservasse por um ano ao par!
"Crer possível a elevação do câmbio e sua permanência ao
par entregue êle aos interessados no jôgo cambiário e legislar
sob tão estranha persuasão, foi mais do que um êrro, demons-
tra uma verdadeira desorientação económica.

Se fôsse dado ao comércio desta praça escolher, aconse-


'

lharia o estabelecimento do legítimo sistema


bancário, funda-
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO 35

ão nos princípios verdadeiramente democráticos — emissões


livres sob base metálica com
pluralidade bancária; — mas se
não é possível hoje ao Govêrno revogar os decretos e compor
pelo acordo feito com os bancos, então tomaria êle como me-
dida de grande alcance presente a revogação imediata do de-
creto dos direitos de importação em ouro.
"Em todo o caso é necessário tomar o Govêrno uma pro-
vidência que faça cessar êste estado anormal do mercado, e o
comércio desta praça, confiado no distinto patriotismo, alta
moralidade do Govêrno e firmado na lei constitucional e no
seu direito, ousa esperar que medidas sejam de pronto toma-
das em ordem a evitar que os males produzidos pelos decre-
tos financeiros do Govêrno continuein a espalhar o desordem na
economia da nação."

Não ]he deu resposta o Govêrno Federal, assim co-


mo naturalmente fez às suas congéneres dos outros Es-
tados.
Em maio de 1891, a nossa Associação Comerci-
9 de
al recebia da sua colega da Bahia êste telegrama:

" Comer ci^antes Bahia reunidos em assembléia geral ex-


traordinária da Associação Comercial deliberaram unanimemen-
te não despachar mercadorias alfândega do dia 15 em diante,
enquanto Govêrno não revogar decreto imposto ouro ou tomar
medidas que corrijam efeitos. Pede acompanhe."

No dia seguinte, a Associação respondeu, aderindo


ao pacto. Começou a abstenção. O Govêrno, então, solu-
cionou o caso, criando uma taxa de câmbio especial^ para
os despachos alfandegários superior à do dia. Ao câmbio
18, a taxa para a alfândega seria 20"/o.
Mas isto era um incidente na nossa luta com a crise.
Continuávamos a debater-nos no seu pélago, que amea-
çava submergir a administração púbhca. Abrindo a
sessão,
em 1893, como 1." Vice-Gover-
do Congresso do Estado,
Júnior contou-
nador em exercício, Casimiro Dias Vieira
encontrado as finanças do Estado tão precárias
Ihe haver
quotidianamente assediado por toda sorte
"que se via
entre êles emprega-
de credores do Tesouro, avultando
públicos, a pedirem preferência no pagamento dos
dos
ordenados em lastimável atrazo".
36 JERÔNIMO DE VIVEIROS

E Dias Vieira só conseguiu governar fazendo uma


emissão de debêntures, no valor de 200 contos, — os
chamados cazimíros, que aliás o Govêrno valorizou, pa-
gando juros e amortizações, pontualmente.
Decorridos dois anos, as consequiiências da crise per-
sistiam ainda mais na administração pública, Benedito
Leite —o grande estadista de que nos orgulhamos re- —
conhecia-a e proclamava-a, quando dizia, como presiden-
te da comissão de finanças do Congresso do Estado:

"Sei perfeitamente que não foi possível abordar todas as


questões importantes que devem prender a atenção dos repre-
sentantes do povo; sei que muitas e muitas delas, a maior par-
te, talvez, ficou completamente Como que esquecida; mas, srs.

esse abandono, esse esquecimento não foi proposital,


não foi uma falta do Congresso, e únicarríinte ex-
prime a atitude coacta em que nos achamos, diante das cir-
cunstâncias precárias em que se debate o nosso Estado.
"Volvamos os olhos para todos os ramos da atividade hu-
mana entre nós e reconheceremos que rnuito ou quase tudo
está por fazer.

"Olhemos para a lavoura e de certo veremos que os srs.


deputados voltam às suas casas sem terem podido tratar mui-
to diretamente da parte principal da riqueza pública.

"Hão de perguntar-nos, mas o que fizestes? Por que não


procurastes ligar vossos nomes a melhoramentos importantes,
dos quai^ deveriam resultar fontes enormes para a prtAução
do Estado?
"A resposta é simples. V. Exc. sabe perfeitamente que não
é somente com projetos, com disposições expressas em papel
que se promovem melhoramentos materiais em qualquer pais;
para isso é preciso que este se ache em condições financeiras
de tal ordem que possa fazer face a certas despesas,
que pare-
cendo perdidas, na ocasião, no futuro vão tornar-ee
reprodu-
tivas, verdadeiras sementes que hão de dar os frutos espera-
dos.
"Se por simples medida de patriotismo nós
pudéssemos,
entrando por êsse campo imenso da agricultura,
estabelecer re-
gras para que ela se transformasse,
e em vez de quase inerte
e atrofiada como se acha,
se reerguesse, acredito que os nobres
deputados a quem me dirijo, não se
levantariam daqui sem
atender a isso.
'

HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO


37

_
"Mas V. Exc. conhece, sr. Presidente, como conhecem todos
quão difíceis são as condições financeiras
do Estado.
"Se lançássemos mão dos dinheiros públicos, ari iscando
quantias avultadas (porque tal é o nosso estado que qualquer
quantia para nós é avultada), se procurássemos empreender em
grande escala reformas e melhoramentos, de certo nada con-
seguiríamos porque nos faltaria para isso o dinheiro necessá-
7in. F. se quiséssemos, por outro lado, deixar na ici medidas,

sem possibilidade de execução, ficaríamos reduzidos a um pa-


pei, de legisladores platónicos, papel êsse indigno d? um Con-

gresso criterioso e que sente o pêso da responsabilidade que


lhe cabe na gestão dos negócios públicos.
"Portanto o Congresso do Maranhão neste ano, deixando de
emaranhar-se nessa floresta que fica como que ínvia de me-
lhoramentos materiais do Estado, o fez, tendo consciência de
que devia entrar por essa vereda mas que considerações de
ordem superior o colocaram no papel de espectador aguardan-
do ocasião oportuna, menos arriscada, mais segura, a fim de
que um descalabro inesperado ou um resultado infeliz não au-
torize a dizer-se que fomos precipitados, que comprometemos o
futuro do Estado, decretando medidas mal pensadas, sem re-
flexão, sem estudo, sem oportunidade
"Eoi êsse o motivo que atuou no ânimo dos membros do
Congresso na presente sessão, para levantarem-se destas cadeiras
sem terem-se atirado de peito aberto a êsse mar imenso de
melhoramentos materiais que o futuro e a prosperidade do
nosso Estado tanto reclamam.
"Por outro lado volvamos nossos olhares para a indús-
tria fabril, um dos ramos de indústria que com bastante sa-
liência se tem desenvolvido entre nós.
"Também o Congresso como que se viu coacto diante de
dificuldades inauditas com relação a ela. O que lhe pôde fa-
zer foi o mesmo que fez à lavoura —
procurou diminuir tan-
to quanto possível o pêso dos impostos sobre essa fonte de
produção.
"Algumas empresas arriscadas, que foram organizadas no
nosso Estado, lutam hoje com dificuldades, provenientes da
falta de cautela com que entre nós se tem procedido relativa-
mente à aplicação de capitais
"O Congresso reconhece tudo isso, sabe que era de seu

dever estender a mão, a fim de amparar a indústria fabril


que vem como que desabando e ao mesmo tempo ameaçand"
deixar quase que reduzidas a ruínas, fábricas que ainda ontem
eram a esperança de todos; mas diante das dificuldades em
que nos achamos, entendeu que era ousadia atirar-se assim
JERÔNIMO DE VIVEIROS

tão afoutamente ao regime da proteção às indústrias, porque


evi vez de salvá-las poderia colocar o Estado debaixo dessas
ruínas como uma vitima do desmoronamento.
"Em condições, o Congresso procedeu com cautela
tais
Via de umlado a lavoura agonisante, do outro a indústria ja-
hril também a estender-lhe a mão; mas sentia-se na impossi-
bilidade de socorrê-las com os recursos atuais do Tesouro, os
quais são insignificantes para isso e também não quis contrtir
Compromissos para o futuro, entendendo que era dever impe-
rioso proceder com cautela para não arriscar em caso algun
a sorte de interêsses maiores e mais respeitáveis, como são oí
que afetam em sev todo a vida do Estado.
"Seria possível o Congresso ter atirado certos favores à
lavoura; seria mesmo possível que êle se tivesse abalançado
a fazer à indústria fabril alguns benefícios; mas todos com-
preendem que, podendo resultar de tudo isso um descalabro
futuro para as finanças estaduais^ um estorvo mais tarde à
marcha do nosso desenvolvimento e progresso qualquer que
uma ou outra dessas fontes de rique-
fôsse o benefício feito a
za, em vez de um resultado real haveria apenas vantagens
aparentes, que dentro de pouco tempo se converteria em ca-
lamidade enorme para tôdas as classes.
"Foi reconhecendo tudo isso que o Congresso como que
estacou diante dêsse dever.
"Êle sabe perfeitamente que a opinião pública diante do
mal estar geral pode interpelá-lo pela inação que teve a esse
respeito. Mas, si a opinião pública acredita porventura na
sinceridade com que o mais humilde dos membros desta ca-
sa exprime a intenção de seus colegas, ela que fique certa de
que o Congresso conhece perfeitamente a situação do Esta-
do, procedeu, como acabei de mostrar, com a mais nítida ori-
entação enxergando bem claro o caminho que trilhava e ten-
do por único alvo o interêsse geral do Estado.
"Sr Presidente, nesta questão de proteção às indústria-'!,
V. Exc. sabe que há um grande perigo. Levada a proteção até
certo ponto, pode tornar-se uma fonte importante de melho-
ramentos ede receita; quando, porém, essa proteção se des-
virtua, quando se desvia do verdadeiro caminho,
já disse c
repito — pode tornar-se um mal muito maior do que aquele
que se procurava curar.
"E' portanto com a consciência de haver procurado cum-
prir o seu dever que o Congresso se retira deste
recinto sem
haver se emarahhado em medidas arriscadas que podessem
acarretar para o futuro arrependimentos e
prejuízos.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
"Entretanto o Congresso ponderando, pesando bem os
condições do nosso orçamento, procurou
fazer um melhora-
mento enorme nas finanças do Estado.
"V. Exc. não ignora, que não há muitos
anos o DEFICIT
era constante, contínuo nos orçamentos
do arUiga província.
"Entramos na situação republicana e apenas em um ano
ele deixou de prosseguir; em todos os mats exe'>-cicios
foi sem-
pre o balanço do Tesouro encerrado com êle, o que significa
que houve aumento de despesas ou as fontes de receita não fo-
ram bem apuradas.
"Pois bem; o Congresso êste ano procurou estabelecer um
verdadeiro equilíbrio, tornar a receita uma realidade em fren-
te da despesa fixada.
"Todos devem recordar-se de que, quando, na qualidade
de relator da comissão de fazenda, eu fiz a exposição dos mo -

tivos do projeto tal como foi elaborado, disse que havia sido
êsse o maior empenho da comissão. Pois bem; repito hoji a
mesma coisa.
"A comissão o maior emppnho que teve no seu trabalho
foi calcular como cifra de receita uma soma que venha a ser
arrecadada e teve t- bom senco de estabelecer uma despesa
que não poderá ir além da receita votada.
"O Congresso aiX-itoic o plano apresentado pela comissão;
o orçamento foi nessa cofcrmidcde votado e eu estou ceito de
que, salvo algum caso extraordinário, que não podemos pre-
ver, o orçamento de 1896 há de corresponder à realidade.
"Ora, se consega rvi-: i por êsse meio acabar com o cancro
terrível do DEFICIT nc orçamento do Estado, pode o Congres-
so orgulhar-se de ter efetuado um grande benefício.
"O público aindr. nàr si ^ltr;^lf^stou acêrca da lei do or-
çamento, que aliás foi publicada, tendo a comissão convidado
todos os que quisessem fazer reclamações a vir diante dela
expôr o seu modo de pensar.
"Introduziu-se êste ano êsse sistema, que acho prefeita-
mente compatível com os nossos moldes de governo.
"Ao confecionar as suas tabelas de receita e despesa a co-
missão convidou todos os interessados a fazer as reclamações
'

que entendessem e atendeu a algumas dcs que apareceram.


"Dessa forma o Congresso êste ano apresentou esta ori-
entação, tornou patente ao público inteiro que o corpo legisla-
tivo tem o maior interêsse em respeitar os direitos e as con-
veniências dos contribuintes.
"Sim; nós não procuramos lançar impostos firmados unica-
mente na autoridade e no poder que nos confere o mandato
nestas cadeiras. Apresentamos a nossa proposta de orçamento
40 JERÔNIMO DE VIVEIROS

ao público e convidamos aos contribuintes, a todos em geral a


apresentarem as reclamações que por ventura tivessem a fa-
zer." (444)

Os dados abaixo não só comprovam o pensamento


dos legisladores em relação ao nosso regime de orçamen-
tes deficitários, como também demonstram a exiguidade
da nossa receita:
"De 1890 a 1892, orçamos a receita em 852 contos e
arrecadamos pouco mais de 600; em 1893, dobramos
quase a receita, para atender aos novos serviços impostos
pelo regime republicano, a qual foi elevada a 1.517 contos
e a arrecadação ficou em 1.384; em 1894, calculamos
ainda mais elevada a receita 1.911 —
esó recolhemos —
1.573; em 1895, o deficit é mais ou menos o mesmo —
1906 para 1.525; em 1896, orça-se a renda em mais —
1.682 e recebe-se menos —
1.467; em 1897, calca-se mais
na previsão —
1 735 e recolhe-se 1 660; em 1898, inter-
. .

rompc-se o regime de deficit depois de oito anos conse- ,

cutivos, orçando-se a receita em 1.321 contos, arrecadan-


dc-se 2.129 e gastando-se 1.760; seguem-se três anos de
saldos, para virem quatro deficitários, e assim por diante.
Para a receita subir de 850 a 2.000 decorrerarn dez anos
e desta quantia a de 3.000, doze anos. (445) Tôda esta
lentidão era motivada pela crise que não conseguíamos
debelar. A própria solução, dada por nós ao nosso proble-
ma económico, com cs últimos recursos de que dispú-
nhamos, —
a indústria fabril —
foi vítima do m.al que vi-
nha curar.
Entretanto, Governo e comércio, conjugados, esfor-
çavam-se por combatê-la; aquêle tributando impostos
cem cautela e critério, êste pagando-os com espirito pa-
triótico.

(Hi) — Discurso <lc Benedito Lcilc, in "Anais do Congresso Legislativo do Ma-


ranhão", ano dc 189.3.

(\\^) — "Hrlatório fio Secrotárioda Fazenda ao Governador Dr. Herculano


Nina Parga". ImpFcnsa Oficial —
1916 — Maranhão.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 11

Em verdade, isto mesmo apuraremos, numa vista re-


trospectiva nas leis orçamentárias daqueles
tempos. Ve-
iamos, por exem.plo, o do ano de 1896.
Provinha nele a receita das principais fontes :

Imposto sobre géneros de produ-


ção do Estado . . .
600.000$000
. _
Imposto
de indústria e profissão 200.000$000 —
Direitos de exportação 160.000$000 —
Imposto de consumo 150.000$000 —
Selo 50.000$000 _
Analisando o imposto de exportação, dizia Bene-
dito Leite, o notável estadista que presidia a comissão de
finanças do Congresso, naquele ano, e já por nós citado :

"Infelizmente, a comissão não pôde abrir mão dêsse im-


posto.

"O orçamento regularmente organizado não o suporta


como medida fiscal, como meio de receita, senão em casos
muito excepcionais. Em regra, qualquer taxa sôhre o géne-
ro,por ocasião de sua saída^ dificulta essa saída e prejudica a
produção e o comércio.
"A vantagem do produtor^ a condição especial para que
ele desenvolva seu trabalho e aumente a produção, com que
lucra a riqueza púhUca, é ter procura para dentro e fora do
País. Tudo quanto dificulte essa procura, diminui necessaria-
mente a produção, porque o produtor não pode despender, em
pregar capitais e tempo produzindo objetos que fiquem sem
valor. Assim, à proporção que diminuir a procura, invariàvel-
mente diminuirá a produção, com prejuízo para o produtor,
que deixa de ter maim lucro, e para a riqueza pública em ge-
ral, que deixa por isso de ser aumentada.

"Só há umahipótese de cer tolerado o imposto de expor-


tação, hipótese que se verifica quando a produção do género
a exportar constitui monopólio do país donde éle sai ou
pelo menos faz-se em condições muito superiores à produção
do mesmo género nos outros países, como por exemplo, a
borracha e o café no Brasil, o guano no Perú, o chá da índia,
o ópio) da China, enxofre da Itália. (446)

(446) — Jerônimo dè Viveiros — "Benedito Leito, um verdadeiro rep-iíi^^i-aio".


Indústrias Gráficas Taveira Limitada. 1957 — Rio de Janeiro, ;;ág. 1 »4.
42 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Convém observar que na tabela dos géneros sujeitos


ao imposto de exportação só estavam incluidos couros em
geral, gado vacum, cavalar, muar, suíno, lanígero e ca-
prino, borracha, algodão, buxo de peixe, aves, óleo de co-
paíba, chifres, ossos, sola, aguardente e fumo. Géneros
que exportávamos em grande escala como farinha de mi-
lho, eram isentos.
Se a comissão do orçamento procedia assim relati-
vamente a um imposto perfeitamente legal, julgando-se
obrigada a justificá-lo pelo imperativo do seu conceito
sôbre política — um meio de trabalhar para o bem do
Estado 0.do País —
é bem de imaginar-se a sua atitude,
em tratandc-se de um tributo inconstitucional, qual se
dizia ser o chamado imposto de consumo, ou de estatís-
tica (lei n.° 83, de 29-8-1894), na hipótese de considerá-
lo como tal. Incluiu-o no seu orçamento por considerá-lo
boa e legal fonte de renda.
Vinha éle consignado na lei do orçamento e era cal-
culado na importância de 150.000$000 ou sejam perto
de 10"/o da receita total do Estado.
A imprensa oposicionista, representada pelo jornal
"Pacotilha", combateu-o forte e tenazmente, com o fun-
damento de haver a Constituição Federal, nas suas dis-
posições preliminares, em que assinala a competência
da União e dos Estados para a decretação de impostos,
estabelecido, no art. 7, n.° 1, ser livre o comércio de ca-
botagem de mercadorias nacionais, bem como as estran-
geiras, que já tenham pago impostos de importação, o
que quer dizer, atenta a matéria de que trata ésse art.,
que essas mercadorias não podem ser tributadas; e, mais
adiante, no art. 9, declarado ser da competência dos Es-
tados decretar impostos sôbre a exportação de mercado-
rias de sua própria produção; e, no art. 11, ter vedado
aos Estados, como à União, criar impostos de trânsito
pelo território de um Estado,' ou na passagem de um pa-
ra outro, sôbre produtos de outros Estados da República
ou estrangeiros e bem assim sôbre os veículos de terra e
água, que os transportarem.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
Mas a verdade é que a inconstitucionalidade do im-
posto não estava perfeitamente esclarecida; discutiam-
na ainda os jurisconsultos, — Rui Barbosa afirmando-a,
André Cavalcanti negando-a. E foi com êste caráter que
êle surgiu em
outros Estados da Federação.
No Maranhão, defendendo o imposto, o Governador
Belfort Vieira, naturalmente inspirado pelo irmão —
dr. João Pedro Belfort Vieira —
que era jurista notável,
publicou no "Diário do Maranhão" —
e depois em fo-
lheto, com o título "O Estado e o direito de importação
em face da Constituição Federal", os seguintes argumen-
tos :

"O Estado tem competência para tributar as merca-


dorias nacionais entradas para consumo no seu ter-
ritório.

"A má compreensão do N.° 2 do art.° 7." da Constituição


tem dado lugar a que se pretenda firmar a inconstitucionali-
dade do imposto que certos Estados lançaram sôbre as mer-
cadorias nacionais importadas para consumo nos seus respec-
tivos territórios.
"Não tenho a veleidade de combater a opinião emitida
por diversos estadistas, em cujo número se acha o atual Mi-
nistro da Fazenda; mas o dever de dar o fundamento consti-
tucional da lei n.° 83, de 29 de agosto de 1894, do Estado do
Maranhão, que, sob a denominação de imposto de estatística,
taxa as mercadorias nacionais importadas para consumo no
seu território. E julgo tanto mais imperioso êsse dever, quan-
do, por solicitação do Sr. Presidente da República, na sua últi-
ma mensagem, o Congresso terá de ocupar-se do assunto.
"Eis o que em circular do Ministério da Fazenda vai ca-
minhando com viso de doutrinu.
"Os Estados não podem tributar como receita as mer-
cadorias importadas para consumo no seu território, por?
quanto, se são estrangeiras, o produto deve reverter para
os cofres da União, e se nacionais, comete-se uma incons-
titucionalidade (Art. 9.° parag. 3.° e 7." n." 2 da Const.)"
"Quanto a mercadorias estrangeiras não há quem duvide
da incompetência dos Estados para tributá-las, como fonte de
receita, mas quanto â nacionais o caso é inteiramente diverso,
pois torna-se improcedente o fundamento do art. —7." n." 2.

"E se não vejamos:


41 IKRÒNIMO DE VIVEIROS

"O n.° 1 do art. 7° 3° dp art. 9.» são as


e o parag.
única^s que tratam de impor-
disposições constitucionais
tação e se referem exclusivamente às
mercadorias de pro-
cedêncii: estrangeira, jirmando a competência da
União
para trihutá-las e dando também essa faculdade aos Es-
tados, mas sendo êstes obrigados a entregar o produto
do
imposto ao Tesouro Nacional."

"A não ser o art. 11 combinado com o parag. 3." do art.


9.° que veda tributar as mercadorias em trânsito de
para um
outro Estado e as que, pertencendo a um, forem exportadas
pelo território de outro, não há disposição alguma na Consti-
tuição que trate diretamente do imposto de importação de
mercadorias nacionais.
"Isto pôsto, analisemos a íntegra do n." 2 do art. 7.®:

"Ê da competência exclusiva da União decretar direi-


de navios sendo livre o co-
tos de entrada, saida e estadia
mércio de cabotagem cs mercadorias nacionais, bem como
as estrangeiras que já tenham pago imposto de impor-
tação."
"Refletindo-se sobre a segunda parte desta disposição, que
diz — sendo livre o comércio de cabotagem etc.^ vê-se 'clara-
mente que a icompetência exclusiva da União de decretar di-
reitos de entrada, saída e estadia de navios cessa, tratando-se
de comércio de cabotagem às mercadorias nacionais e às es-
trangeiras já tributadas de importação. É o que se deduz posi-
tivamente do particípio sendo, que subordina a segunda parte
do período à primeira —
idéia principal dele.
"A ÚJiica igeneralidade que se pode atribuir a êste precei-
to constitucional é a de estarem isentos de qualquer ónus os
navios que se empregarem no comércio de cabotagem, pois
taxá-los a :União, sob qualquer pretexto, importaria indireta-
mente taxar o comércio de cabotagem às mercadorias nacio-
nais e às estrangeiras já tributadas, o que seria inconstitucio-
nal para a .União em face do. próprio n.° 2 do art. 7."
"Assim, o que)é da competência exclusiva da União, é de-
cretar direitos de entrada, saida e estadia de navios, salvo tra-
tando-se de navios de cabotagem às mercadorias nacionais e
estrangeiras \já tributadas, e não impedir, como pretedem, que
os Estados taxem a importação por cabotagem, observado o
disposto no parag. 3." art. 9" no n.° 1.° do art. 11.
"Fugir desta interpretação é ofender as mais comesinhas
regras de hermenêutica; é firmar doutrina contrária ao nosso
direito constitucional. E a prevalecer tão cerebrina teoria, ve-
jamos a que conseqiiência se chegará:
HISTÓRIA DO COMÉRCIO 1)0 MARANHAO 43

"Pelo art. 13, parag. único ^ ter-se-á o livre comércio


de.cahotagem realizado somente por navios nacionais!
"Ainda mais, abrangendo o comércio de cahotagem tanto
a importação como a exportação, a liberdade dêsse comércio
esbarrará de encontro ao n.» 2 do art. 9°, que jirma
ser da
competência exclusiva dos Estados taxar a exportação das
mercadorias de sua própria produção.
"E jinalmente, se o legislador constituinte tivesse em mira
isentar ^de qualquer ónus a importação de mercadorias nacio-
nais, tê-lo-ia estabelecido em art. ou parag. e não como se
pretende, em complemento do n.° 2 do art. 7.°.
"É verdade que a Constituição não diz abertamente que
os Estados tributem a importação de mercadorias nacionais;
mas, só proibindo à União, permite tacitamente que os Esta-
dos, íundados no art. 12, recorram a ela como fonte de re-
ceita.

'
Firmada assim a constitucionalidade do impôsto em ques-
tão, ficaipso facto firmada a procedência da taxa que O
Esíaiio do Maranhão lança ieôbre cs mercadorias nacionais
entradas para consumo no seu território.
"Em tôrno das questões levantadas por diferentes casas
Comerciais^ contra a fazenda de diversos Estados, a despeito do
modo claro e terminante porque pronunciou-se o Supremo
Tribunal Federal, levantou-se a grita de que os Estados esta-
vam invadindo a zona dos impostos reservados à União.
"Com
relação aos impostos de estatistica, patente comer-
c al e outros,não se dá a suposta invasão pois o Estado tam-
bém pode taxar a mercadoria estrangeira, quando destinada
ao consumo^ no seu território. O que se nota é que, em vez do
produto desta taxa ser entregue ao Tesouro Nacional, fica
como renda do Estado que a cobra. Vê-se claramente que não
há invasão, mas uma inconstitucionalidade, proveniente tal-
vez, de julgarem nacionais as mercadorias estrangeiras pelo
fato de se confundirem quando expostas no mercado para
consumo
"No entretando, nada se tem dito contra a União, estando
ela no domínio absoluto de impostos de sêlos e outros, a que
estão submetidos os navios de cabotagem e os que se empre-
gam na navegação dos rios interiores, que banham as terras
de um mesmo Estado.
um o que lhe compete; o restrinja cada um
"Tenha cada
suas despesas ao indispensável, que cessarão os choques e
itritos que, a continuarem, poderão trazer conseqiiências fa-
tais para o regime federativo."
46 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Inconstitucional ou não, o imposto, cobrado


sôbre
que importávamos para
mercadorias de outros Estados
o nosso consumo, era uma lei protecionista. Com êle de-
dos nossos géneros de produção.
fendíamos os preços
Fran Paxeco, que era protecionista, defendia-o :

os ergotis-
"Mcí cUes -.rihutos são inconstitucionais, dirão
Serão. Mas inconstitucional é igualmente
que num pais
tas.
Va-
com a Igreja separada do Estado tenha delegado junto ao
ticano —
e essa legação pompêia lá. Mas
inconstitucional é

também o jogo das loterias —


e esse vicio alastra-se diària-

mente. Mas inconstitucional é da mesma forma mantercm-se


os cemitérios no usofruto de irmandades —
e a Misericórdia

do Rio de Janeiro gosa o monopólio escandaloso dos entêrros


na Capital Federal. Inconstitucional é o anonimato jornalísti-
co —
e assim por diante. Êsse^ argumento, portanto, é natural-
mente capcioso, fútil, hipócrita, insubsistente.
"Que se clame contra os impostos inter-municipais, con-
cordamos. São odiosos e opressores. Miram a ressuscitar no
Brasil as feudais fintas de barreira da Europa, onde tôdas as
cogitações dos estadistas se cifram neste alvo espoliar o po- —
vo pelo fisco, para com os seus rendimentos assoldadar mer-
cenários que espingardeiam o contribuinte à menor recalcitra-
ção. Somos tão decididos opositores dêstes vexatórios tributos
quanto resolutos defensores dos interestaduais. Êstes não con-
vém aos Estados florescentes, mas abroquelam o porvir dos
Estados ainda não emancipados da tutela dos que tudo QUE-
REM, PODEM e MANDAM. Quando as forças produtoras de
todos os Estados se nivelarem, generálizando-se a policultura,
então, sim, - - adote-se um franco livre-cambismo nacional. An-
tes disso não, mil vezes não, que os nortistas também têm di-
reito à existência!" (447)

Afinal, em 1898, o Supremo Tribunal Federal de-


clarou o discutido imposto contrário à Constituição da
República.
Mas o comércio maranhense, que já o vinha pa-
gando, cem exceção da firma Bastos, Lisboa & Cia., úni-
ca a impugná-lo perante o Poder Judiciário, continuou a
fazé-lo, muito patriòticamente.

(147) — Fran Paxeco — "O Maranhão e os seus recursos" — págs. 62 c 63 —


Tip. Frias. São Luís.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHAO 47

Muito patriòticamenie dissemos, e com proprieda-


de, porque a falta dêsse tributo desorganizava profunda-
mente o nosso minguado orçamento.
Pagando-o apesar da sua inconstitucionalidade, o
comércio reconhecia a penúria da época em que vivía-
mos, penúria já provada pelos fatos alegados e ainda pe-
la miséria em que se debatiam os nossos municípios, dez
anos depois.
Caxias, o mais desenvolvido município do Estado,
com três fábricas de tecidos, rendia 38 contos de réis.
Segue-lhe Codó, que tinha uma fábrica e arrecadava 22
contos; o Brejo e São Bento, 20 cada um; o Rosário e Al-
cântara, 16; Viana, 15; Cururupu, 13; Itapecuru, assim
como Flores, 12; Pinheiro e Araioses, 10 cada; Coroatá,9.
E nesta escala decrescente, chega-se até Santa Helena
com a receita de 1 600$000 e Chapadinha com a de
.

1.200$000.
Os 56 municípios, em que, então, se dividia o Esta-
do do Maranhão, rendiam 499 contos de réis.
CAPÍTULO IV

Os descalabros administrativos das fábricas "Cânhamo",


:

"Tecelagem" e "Progresso". Os dehêntures.


Os sucessos da Camhoa e o seu declínio.

fomento da indústria brasileira data de 1846. O


seu desenvolvimento de 1855 a 1895 —
40 anos
— é atestado por 134 estabelecimentos. Já vimos
ern capítulo anterior que, no último ano citado, ocupava
o primeiro lugar, entre os Estados, neste cômputo, o de
Minas Gerais, com 37 fábricas, e o segundo, Maranhão,
com 16. Estávamos acima da Capital Federal, do Rio de
Janeiro, Bahia e São Paulo, que tinham, respectivamen-
te, 15, 14, 12 e 10. Entretanto, tinhamos começado em
1885. Em dez anos, pois, construímos um parque indus-'
trial de 15 unidades, com capitais exclusivamente nos-
sos, sem recorrermos a um ceitil do estrangeiro.

O esforço fôra grande, além das nossas possibilida-


des financeiras. Em fábricas e outras empresas ficamos
com um.a inversão de 20:226 160$000, como se verifica
. :
50 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Banco do Maranhão 1: 350.000$000


Banco Comercial 1: 351 .300$000
Banco Hipotecário e Comercial 1: 025 160$000
.

Companhia de Seguros Esperança ... 100.000$000


" " Maranhense . . 200 000$000
.

Popular Seguradora .. . . 200.000$000


" de Navegação a Vapor do
Maranhão 1: 500 . 000$000
Fluvial Maranhense .... 430 . OOOfjíOOO
Progresso Agrícola 604 700$000
.

Exploração Agrícola .... 60 000$000


.

de Aguas de São Luís . . . 350 000$000


.

" iluminação a Gaz .... 540 000$000


.

Ferro Carril São Luís 400.000$000


" Reboques e Alvarengas 150.000$000
" Tráfego Marítimo ... 200.000$000
Cerâmica São Luís . . . 100 000$000
.

Usina Castelo 160.000$000


Telefónica . 25 000$000
.

Aliança 210.000$0C:'
" Fiação e Tecidos Mara-
nhenses ....... 1 :200.000$000
Fabril Maranhense ... 1: 700.000$000
Tecidos Rio Anil .. . . 1: 600 000$000
.

Progresso 700.000$000
Tecelagem 300.000$000
Industrial Caxiense .. 1: 000 000$000
.

União Caxiense .
,. . . 850 000$000
.

Manufatora Caxiense . 800.000$000


Manufatora do Codó . . 1: 000 000$000
.

Lanifícios Maranhense 420.000$000


Tecidos de Cânhamo . . 900 000$000
.

Industrial 300.000$000
Fábrica de Calçados . . 100.000$000
Fábrica de Roupas ... 50 000$000
.

Fábrica de Chumbo e
Pregos 150.000$000
'

HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO


51

Fábrica de Fósforos do
Norte 200.000$000

20: 226.160$000

Nesta inversão de soma tão avultada para aquela é-


poca, esgotamos todos gs nossos recursos financeiros.
A
praça ficou exânime de reservas monetárias. Foi o nosso
primeiro êrro. A
baixa da taxa cambial e a má adminis-
tração das fábricas, desde as construções aos funciona-
mentos, completaram a hecatombe. O resultado foi fica-
rem sem numerário para movimentarem o funcionamento.

O caso da Cânb.amo é expressivo. Concluída a insta-


lação da fábrica e depois de funcionar por alguns meses, o
seu diretor-gerente publicava no "Diário do Maranhão",
edição de 20-6-1895, êste ofício ao Presidente da Direto-
ria :

"Não vos é estranho o estado a que se acha reduzida esta


Companhia, impossibilitada de funcionar a sua fábrica, pelos
fatos que estão no domínio público, com grave prejuízo para
os capitais nela empregados; e como não me convenha contri-
nuar a acarretar com a responsabilidade da gestão em tais con-
dições e abandonado por seus acionistas ou proprietários, ve-
nho rogar vos digneis convocar mais uma vez os srs. acionis-
tas para deliberar a respeito, designando pessoa competente
para tomar conta da fábrica.

"A requciimento meu, foi convocada a nova diretoria e


tomarem posse no dia 27, às 7 horas da
os novos eleitos para
manhã, do mês próximo passadio, e apenas apresentou-se o di-
retor eleito Sr. Viriato Lemos.

"Não me convindo, como acima digo, continuar a ter a


meu cargo uma fábrica abandonada por seus proprietários, es-
tou disposto^ de acordo com o n.*" 4 do artigo 26 dos Estatutos
da Companhia Fabril de Tecidos do Cânhamo, a entregar-vos
a chave, protestando não responder por qualquer prejuízo que
possa vir aos srs, acionistas.

Francisco da Costa Rodrigues


Diretor Gerente."
JERÔNIMO DE VIVEIROS

Ern 25 de junho de 1895, reuniu-se afinal a assem-


bléia gerál dos acionistas, que, depois de várias peripé-
a aprovação das contas da última
cias, inclusive rejeitar
diretoria, resolveu, dianteda recusa sistemática dos a-
cionistas para comporem a nova diretoria, eleger uma co-
missão, que o vulgo cognominou Junta da Salvação, para
reorganizar a empresa.
Foi esta Junta, composta de José Pedro Ribeiro,
Pvlcnoel Froncisco Jorge, Carlos Ferreira Coêlho, Manoel
Matias das Neves e João Alves dos Santos, quem narrou,
sem recriminações, no seu relatório aos acionistas, os fa-
tos seguintes :

"Que
o diretor-tesoureiro da diretoria passada havia em-
sem autorização da assemhléia geral, dos cofres da
prestado,
Cânhamo à Companhia de Tecidos Progresso, da qual era tam-
bém diretor-tesoureiro, a quantia de 26 contos de réis e a sua
própria casa comercial 25;
"Que este ato levado ao conhecimento dos outros direto-
res não merecera protesto algum;
"Que apesar de cobrados repetidas vezes, estes devedo-
res não tinham pago aqttelas importâncias à Cânhamo;
"Que já tendo a Companhia concluído os seus trabalhos
de alvenaria ainda comprava à Cerâmica 1 500 tijolos por
825$000".

Para felicidade da Companhia, a junta foi mesrno


de sDlvação. Reorganizou a emprêsa e salvou-a.
Porque não tivesse tido Juntas de Salvação, a "Te-
celagem" acabou vendida, com grandes prejuízos dos a-
cicnistas, após uma vida inglória, em que chegou a dei-
xar maquinicmos na Alfândega por falta de recursos pa-
ra Jcnpachá-los; e a "Progresso" foi entregue, para pa-
ganrjnto de dois avultados empréstimos, ao Banco da Re-
miblica, que tentou movimentá-la, cometendo tal mister
-rresentr^nte ?qui —
Pedro Nunes Leal. Hom.em
) e consciencioso, ouviu êste os pareceres daquê-
les que julgava entendidos na nossa indústria têxtil,
e,
portanto, aptos a opinar sôbre a qualidade de fazenda a
ser fabricada pela "Progresso". Dos consultados o pare-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 53

cer do competente engenheiro Palmério Cantanhede foi


o mais completo e elucidativo.
Palmério considerava a crise da indústria têxtil no
Brasil como tendo origem nas bruscas emissões de papel
moeda em 1890. O capital até então escasso, apareceu
ràpidamente e em grande abundância nos mercados a
procura de emprêgo, dando lugar a êsse rosário de erros,
chamados encilhamento. Não foi o menor entre êles, no
pensar do ilustrado engenheiro, a aplicação de somas fa-
bulosas em fábricas de tecidos de algodão, encabeçadas
e dirigidas por homens estranhos completamente aos
processos técnicos, comerciais e económicos, e que por
isso mesmo ignoravam a deficiência de operários habili-
tados no país. A pletora de papel moeda determinou a
baixa do câmbio. Para fazê-lo subir, limitaram-se as e-
missões. Mas o vulto dos negócios era colossal e por con-
seguinte faltou dinheiro ao comércio e às fábricas, que
acabaram ficando sem capital móvel e impossibilitadas
de conseguí-lo emitindo novas ações ou vendendo os seus
estoques de produção, que cresciam dia a dia, apesar do
preço da fazenda quase igualar ao da matéria prima. Era
inclusive
o caso da maioria das fábricas maranhenses,
pela ne-
da "Progresso". O notável engenheiro concluía
cessidade da mudança do tipo do produto, isto é, fugir

algodão cru e riscados, para assim evitar


dos tecidos de
E lembrava à "Progresso" substituir o
a concorrência.
fabricado pela
seu produto pelos morins do tipo então
era insuficiente para
Companhia do Anil, cuja produção
que reputava exequível, pois,
o consumo, transformação
Banco da Re-
além de ambas as fábricas terem o mesmo
trabalhavam com fio de 30
pública como maior credor,
branqueamento
a 35 e a Anil dispunha de uma
seção de
superior às necessidades de
e acabamento duas vêzes
seus teares.
preferiu fechar de-
Não aceitou alvitre o banco, que
maquinaria para o
finitivamente a fábrica, vendendo a
o povo maranhense que,
sul do país. O fato consternou
êxodo de nova moda, a
por fim, habituou-se com êsse
54 JERÔNIMO DE VIVEIROS

fôrça de sua repetição na nossa história industrial, como


são provas as exportações dos maquinismos da "Indus-
trial", da "Companhia de Fósforos", "Fábrica de Chum-
bo e Pregos", "Engenho Central São Pedro" e, presen-
temente, da "Camboa".

Caindo no domínio público aquêles e outros fatos


que atestavam o desbaratado das fábricas maranhenses,
formou-se contra elas uma onda de revoltados. À sua
crista, figurava Ricardo Vale, engenheiro civil, filho de
Raimimdo Ferreira Vale, o qual confiara nas fábricas,
nelas invertendo tôda a sua fortuna.

Acusavam-nas os membros dessa falange de revol-


tados por moverem-se mutuamente encarniçada luta, já
na disputa de operários especializados, conquistados à
fôrça de exagerados salários, o que encarecia o custo da
mão de obra dos tecidos; já na baixa do preço do produ-
to, na conquista dos mercados. Diziam que aos negocian-
tes do Ceará elas vendiam o doméstico n.° 1, cujo preço
era de 300 réis a 360, por 260 réis.

Abordando comentários sôbre êste último caso, di-


zia o redator comercial do jornal "Federalista" :

"É natural que gosem as fábricas, montadas a melhor


câmbio e em posições mais 'vantajosas, de superioridades
económicas, e possam vender a preços mais baixos os seus
produtos, o que é legítimo; mas procurar lutas e perder a me-
lhor ocasião para as suas vantagens pelo só gosto criminoso de
prejudicar as suas rivais naturais, não se concebe da parte dos
administradores de dinheiros alheios, a menos que falte a es-
ses tais o necessário conhecimento destas cousas.

"A luta será a ruína; procuremos na conciliação a solu-


ção da nova indústria.
"Dois meios se oferecem para uma conciliação vantajosa:
a fusão de tôdas as companhias de tecidos de algodão em uma
só, ou a criação de uma alta direção de venda, por delegação
de tôdas as companhias". (448)

(448) — "O Federalista", de 12 -6 1894.


HISTÓRIA DO COMi^^RCíO DO MARANHÃO 55

Crispim Alves dos Santos, comerciante rico, que di-


rigia a Fabril, onde havia empregado grande parte da
sua fortuna e da qual veio depois se tornar seu único do-
no, dava como razão da luta a circunstância de haverem
as fábricas ficado sem capital para movimento e terem
por isso necessidade de forçarem a venda. (449)
A polémica foi-se agravando. Ricardo Vale redobra-
va os ataques. Dizia haver na Praia Grande um grupo
que monopolizava os cargos de diretores de fábricas e
dava a entender que dêles vivia. De certo comerciante
contava êsses cargos e encontrava 14. Anarquizava as al-
tas figuras da nossa indústria, do que resultou duas delas
promoverem-lhe um processo por crime de injúria, no
qual foi condenado na primeira instância a dois meses de
prisão e 300$000 de multa, e absolvido na apelação, re-
corrida pelo seu advogado, dr. Agripino Azevedo.
Era esta a situação do nosso mercado quando o Go-
vêrno Federal instituiu pelo decreto n.° 17 7- A, os debên-
tures.
Nas aperturas financeiras com quese arrastavam,
as fábricas para logo fizeram largas emissões de debên-
tures, que botaram em circulação, com curso forçado, e
que Belfort Vieira calculou orçarem até janeiro de 95 em
cêrca de 2 000 000$000.
. .

Seguindo o exemplo da indústria, o próprio Govêr-


no do Estado, exercido, então, pelo Vice-Governador Ca-
zimiro Dias Vieira Júnior, que, como já vimos, atravessa-
va também uma época calamitosa, fez uma emissão de
25-6-
debêníures, autorizado pela lei estadual n.° 68, de
1894, que a limitou em 300 contos. Foram chamados ca-
zimiros.
Desta autorização, porém, não sc utilizou o Gover-
porque a
no no seu totum, restringiu-se a 130 contos,
época, a im-
União restituiu ao Estado, justamente nessa
retinha do deposito
portância de 439.496$532, que lhe
do canal do Arapapaí.

(449) — Idem, edição de 28 -9- 1894.


53 JERÓNIMO UE VIVEIROS

Nada obstante esta atitude do Governo do Estado,


que prestigiava os debêntures, Ricardo Vale atacou vio-
lentamente a sua qualidade de moeda de curso forçado.
Escreveu êle no "Diário do Maranhão", de 7-6-1895 :

"Os debêntures são legais e até salutares, quando emiti-


dos como títulos de renda, com as exigências da lei e tôda
seriedade; são, porém, ilegais, quando os fazem desempenhar
as junções de moeda, cem curso forçado, como está escanda-
losamente acontecendo no nosso Estado.
"Aqueles que se querem salvar a custa do suor do povo
são os únicos que não pensam assim.
"O comércio procura justificar o curso forçado dos de-
bêntures pela falta de cédulas gerais. Mas essa falta é feita
pelos negociaantes €sp';ivladores, que fazem delas monopólio
em s^.u benefício, c as substituem pelos debêntures nas tran-
sações.
"Para onde vão as importâncias em dinheiro geral dos
produtos das nossas fábricas de tecidos, do açúcar do Enge-
nho Central e fretes da Cmpanhia de Navegação a vapor,
que nos vêm de fora, em boa espécie? Que fins lhe dão, se
pagam tudo em debêntures?"

Por sua vez, a "Pacotilha", no seu papel de órgão


começou a combater o curso forçado que o
oposicionista,
Estado dava aos cazimiros, o que considerava medida in-
constitucional. (450)
Da
parte das companhias a defesa era fraca.
Nestas condições, criou-se por todo o Maranhão
uma situação de descrédito para os debêntures, que o co-
mércio retalhista passou a recusar receber, num movi-
mento, que a imprensa dizia ser de pânico e explorava em
contos jocosos, como o de "Braz e os debêntures". (451)
Salvou-os as grandes firmas da praça —
Airlie &
Cia., Maia Sob.° & Cia., Jorge, Santos & Cia., Crispim
Alves dos Santos, Vasconcelos & Cia. e José Pedro Ri-
beiro & Cia., os quais, com vitais interêsses nas fábricas,
reuniram-se na Associação Comercial e, secundados por

(450) — "Pacotilha". «It- 27-6- 180t.


(151) — "Pacotilha", de .5-4-1895.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

vários outros negociantes, declararam, categoricamente,


por todos os periódicos da capital, receber os debêntures
nas suas transações comerciais. Tal atitude do alto co-
mércio jugulou a crise. Em
breve, porém, as próprias fá-
bricas nulificavam-lhe os efeitos, não pagando os juros
dos debêntures e só os resgatando a trôco de produtos.
Voltou-lhes o descrédito, sobretudo quando o Poder Ju-
diciário obrigou a Gamboa a pagar ao dr. Ricardo Vale
os juros das ações pertencentes a êste em dinheiro geral
e não em debêntures como queria.

Em verdade, os debêntures prestaram relevante


serviço às sociedades anónimas do Maranhão, propician-
do-lhes numerário para o seu movimento, mas é inegá-
vel que, como má moeda que era, afastou a moeda boa
que circulava —
o dinheiro geral —
dando lugar a uma
agiotagem tremenda para adquirí-lo, o que chegou a
20% de ágio, conforme informou o cônsul inglês Henry
Airlie no seu re^.?.tsrio de 1895, e a qual nem mesmo o
Tesouro do Estado escapou, pois recebendo os impostos
na razão de 2/3 em dinheiro geral só pagava em debên-.
tures.

Por outro lado, o exemplo das sociedades anónimas


foi seguido pelos retalhistas, que, a pretexto de falta de
trôco, lançaram em circulação cartões de vários valores,
gostos e qualidades. De um dêles ocupou-se a "Pacoti-
lha" :

"Dinheiro ...do Codó —


um negociante do Codó, de
nome Manuel Januário de Almeida, dono da casa comercial
Palhabote, fez uma larga emicsão de 100, 200 e 500 réis, os

quais só pela numeração dos apreendidos importavam em


40.092$000.
"Recolhendo a emissão, dizia o tal Almeida no jornal ãà
sua terra, textualmente:
"Tendo de seguir até o fim do mês corrente para o
Estado do Pará, pede ao respeitável público e especial-
mente ao corpo comercial desta vila, que mandem trazer
os seus bilhetes que dizem resto de trôco e
aos quais cha-
ma vales, a fim de serem pagos. Serão pagos em d-bcnfu-
res por falta de outra moeda, por isso
os filhinhos dos de-
58 JERÔNIMO DE VIVEIROS

bêntures devem vir em quantidade nunca inferior a


5$000.
"Aproveitem enquanto Braz é tesoureiro!
"Codó, 18/4/1896."
"Como se verifica pela data, Braz dava o praso de 12 dias
para recolher 42 contos em vales de 100, 200 e 500 réis!" (452)

Finalmente, o Govêrno da União pôs fim a esta a-


normalidade, proibindo o curso forçado dos debêntures.
Do estudo feito e que explanamos acima, afigura-se-
nos, de um modo geral, que as fábricas maranhenses,
exceção da Gamboa no seu primeiro decénio, tôdas, umas
m.ais, outras menos, tiveram êrros e atos injustificáveis
na sua administração. Entre as 11 que formavam o par-
que industrial de São Luís, só a Gamboa conseguiu um
período verdadeiramente áureo. É a razão por que nos de-
temos na apreciação de sua formação e atividades.
Desde a lei que concedeu liberdade aos escravos se-
xagenários (1885), que as classes conservadoras do Ma-
ranhão não mais confiaram na escravidão. Ninguém mais
duvidou da liberdade; viria mais dias, menos dias. Mas
também ninguém tom.ou uma deliberação decisiva. Dis-
cutiu-se mxuito. Agrícola e Quintinus Gincinatus despeja-
ram carradas de erudição. De prático, porém, apenas
uma realização —
a Sociedade Auxiliadora da Lavoura
e Indústria.
Foi esta Associação que promoveu em Palácio, na
noite de 12 de agosto de 1887, sob o patrocínio do Presi-
dente José Bento de Araújo, uma reunião de lavradores
e ccm.erci antes, para estudar o problema da transforma-
ção do trabalho escravo em tr.-^balb.o livre.
Nesta reunião surgiu a idéia da organização de uma
fábrica de fiação e tecidos em São Luís. E logo vencedo-
ra, lá mesmo foram subscritos 75 contos, dos 450 que se-
riam o seu capital.
A idéia, recebida assim entusiàsticamente, não mor-
reu, como vamos ver :

(452) — "Pacotilha", de 4 • 5 • 1896.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 59

Acompanhia foi constituída em 17 de outubro de


1887, quando foi eleita a sua primeira diretoria, assim
composta dr; Cipriano José Veloso Viana, José Pedro
:

Ribeiro, Inácio do Lago Parga, Henrique Delfim da Sil-


va Guimarães, Manuel José Maia, e suplentes dr. Manuel
da Silva Sardinha, Henry Airlie, Leontino Ramos, Cris-
pim Alves dos Santos e Cândido da Silva Rio.
Reunidos em
20 de outubro, os diretores escolheram
para tesoureiro Inácio Parga.
Cuidaram, então, da compra do terreno, para edifi-
cação da fábrica, abrindo para isso concorrência pública.
Apresentaram-se as seguintes propostas, em núme-
ro de 14 :

Franklin da Costa, metade de uma quinta à Rua da


Madre de Deus, com 83 metros de frente, pela quantia
de 4.000$000.
Inácio Frazão da Costa, uma quinta no Caminho
Grande, com 91mx 4.440, por 8.000$000.
Henrique de Brito Guilhon, uma quinta na Rua do
Apicum, 44mx 220, por 8.000$000.
Francisco da Silva Miranda, uma quinta à Rua da
Independência, 132mx87, por 14.000$000.
O mesmo um terreno na Rua dos Prazeres, 77mx
132, por 5.000$000.
José Celso Pereira, uma quinta à Rua da Concór-
dia, 40m X 280 por 20 000$000.
.

José Maria de Freitas Vasconcelos, uma quinta a


Rua Grande denominada Laranjeiras, por 40.000$000.
O mesmo, uma quinta no Cutim, por 12.000$000.
D. Antônia Martins Lira, parte de uma quinta
no
Gavião, por 5.000$000.
Virgílio de Jesus Cantanhede, uma qumta próxima
à Casa dos Educandos, 158mx
233, por 10.000$000.
Dr.Ricardo Décio Salazar, um terreno em frente
sabão dos srs.
ao largo de S. Tiago, a partii* da fábrica de
Martins & Irmão até à Rua das Cajaseiras, sem declara-
ção de preço.
60 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Simeão José da Costa, um terreno com casas no lu-


gar Gamboa, por 25.000^000.
Anastácio Jânsen Pereira, uma quinta à margem do
rio Anil, denominada Itamacaca, por 6.000$000.
Maia Sobrinho & Cia., uma quinta no Apicum, por
10.000$000.
Foi aceita a proposta de Simeão Costa, mas com o
abatimento de 7.000$000, isto é, pela quantia de
18.000$000.
Justificando a preferência, a diretoria dizia "se é
— 4$160
:

foreiro o terreno, os foros são insignificantes


por ano, além de que é uma área de 116 160 metros qua-
.

drados, servida por excelente pôrto de mar, em lugar de


fácil acesso aos operários e ainda com 4 casas de pedra e
cal".
AGamboa do Mato era um terreno limpo, sem tra-
dições vergonhosas. A
primeira instalação que lá existi-
ra fôra uma fábrica de pilar arroz, ainda nos tempos co-
loniais. Não era como o da "Progresso", em frente do Ga-
sómetro, que se dizia haver sido galpão de africanos,
muitos dos quais deixaram lá as ossadas, encontradas
quando se abriram os alicerces do edifício da fábrica.
Ficava numa península, com 200 braças de compri-
mento por 120 de largura, à margem do rio Anil, batida
pelas brisas do oceano.
Tinha uma história que vinha de 1787, quando o
Ouvidor João de Abreu poz o seu aforamento em praça.
Arrematou-o por 4$ 160 anuais Manuel José dos Reis,
que o deixou de herança a sua filha, mulher de Manuel
de Azevedo Ramos. Tudo indica que Ramos era um ho-
mem desidioso perdeu o título de aforamento pelo que
:

teve de renová-lo em 11 de maio de 1844 e acabou en-


tregando o terreno ao comendador Antônio José Meire-
les em pagamento de dívidas.
Na época, Meireles era o negociante mais forte da
praça depois de José Gonçalves da Silva —
o famoso Ba-
rateiro. Os louvaminheiros boatejavam que êle tinha es-
palhado pelo interior 4 milhões de cruzados movimen-
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO 61

tando negócios dos seus fregueses, mas a verdade é que


era na praça o comerciante que forçava maior número
de falências. Dever a Meireles era perigoso. Isto talvez
explique a transferência do terreno da Gamboa para a
posse de Meireles.
Herdaram-lh'o as duas filhas Joana e Maria, bas-
tardas, legitimadas depois, educadas em Lisboa, e de
quem Donana Jânsen dizia, ironizando os costumes da
sociedade maranhense — quando bastardas, —
eram as
pequenas do Meireles; legitimadas, passaram a ser as
meninas do comendador, e, após o regresso da Europa,
são as senhoras Meireles, mas pequena, menina ou se-
nhora o bode não desaparece.
Como quer que fôsse, o comendador casou bem as
filhas:
— Joana com o desembargador José Mariani e
Maria com Antônio Jânsen do Paço.
José Mariani era baiano. Em 1831, já estava no Ma-
ranhão ocupando o cargo de Ouvidor.
Em 1832, foi nomeado desembargador da Relação
da mesma Província. Político de projeção, chefiou o par-
tido Estrêla. Administrou, como presidente, o Pará e o
Rio Grande do Sul. Por 4 vêzes, entrou no tôpo da lista
tríplice para senador, sem conseguir a preferência do Im-
perador, o que seus adversários políticos atribuíam à
certa proteção que, como Ouvidor, dispensara no recebi-
mento de uma conta majorada de Meireles. Parece ser
falsa esta imputação, porque Mariani morreu no alto
pôsto de Ministro de Superior Tribunal de Justiça, na
Côrte, em 2-12-1875.
Antônio Jânsen do Paço era maranhense. Foi chefe
político de larga projeçãona Província, redator e copro-
prietário do jornal "Estandarte" e nosso representante
na Assembléia Geral Legislativa em várias legislaturas.
Quem vendeu o terreno de que nos ocupamos a Jo-
sé Simeão da Costa foram William Jânsen do Paço e Joa-
quim Serra, que o houveram por herança do casal Antô-
nio Maria, o que nos induz a supôr haver Joana e Ma-
riani vendido o seu quinhão aquêles cônjuges.
62 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Por escritura de 10 de abril de 1888, a Companhia


comprou a Simeão José da Costa, por 18 contos de réiS;
o domínio útil do terreno da Camboa do Mato, foreiro à
Câmara Municipal, já calculado em metros —
440 me-
tros de norte a sul e 264 de nascente a poente, com 4 ca-
sas,de pedra e cal.
Fez novas aquisições de pequenas porções de terra
na circunvizinhança e, de posse dessa magnífica área, a
Companhia meteu mãos à obra.
Oorçamento da fábrica foi feito por Hugh Evans
e Henry Rogers Sons & Cia., os quais mandaram ao Ma-
ranhão um representante Richard Groenning discu-—
tir pessoalmente a sua proposta.
Já por êsse tempo, o dr. Palmério de Carvalho era
o engenheiro da Companhia, e assim coube-lhe a tarefa
de entendimentos com Richard.
Nesses estudos, verificou-se ser mais vantajoso uma
fábrica de 300 teares a uma de 100, mas que se devia
começar com uma instalação provisória de 100, dada a
carência de operários habilitados.
Constatou-se mais a necessidade de modificar a
planta do edifício, feita para clima frio, e disto foi en-
carregado o dr. Palmério.
Afinal, assentou-se o preço de £12.960 para a pri-
meira instalação — 100 teares, afora frete, seguro e co-
missão.
Contratada a maquinaria, abriu-se concorrência pa-
ra construção do edifício da fábrica e materiais precisos.
Venceram nesta concorrência dr. Manuel Jânsen

:

Pereira construção das obras de alvenaria do edifí-


cio e da chaminé; dr. Manuel Lima Vieira e Raimundo
Pereira Pinto — fornecimento das pernas mancas e ri-
pas; Bento Wenescop Ribeiro —
preparo e colocação das
janelas. Em 15 de abril de 1888, assentou-se a primeira
pedra, lavr'ando-se em auto, que foi assinado pelo dr.
José Bento de Araújo, Presidente da Província, pela di-
retoria, acionistas, etc.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Levaram dois meses a limpar o terreno, dt modo


que as escavações dos alicerces só começaram em
junho.
Mas decorrido um ano, em 28 de julho de 89, expe-
rimentou-se o motor, montado pelo mecânico inglês
John
V\^ale e, em 1.° de setembro, Thomas
Hyde fazia traba-
lhar o primeiro tear.

No dia 1.° de janeiro de 1890, o Governador Pcídro


Augusto Tavares inaugurou a fábrica, depois dc havpr
sido benta pelo Bispo D. Antônio Cândido de Alvarenga.
Discursaram o Governador, o comerciante Cândido Ri-
beiro e o estudante Antônio Lôbo. Assistiram a soleni-
dade cêrca de 2.000 pessoas.
Do ato lavrou-se esta ata :

"No dia 1." de janeiro de 1890, na cidade de São Luís do


Estado do Maranhão, Estados Unidos do Brasil, presentes no
edifício da fábrica da Campanhia de Fiação e Tecidos Mara-
nhense o presidente da mesa da assemhléia geral dr. Fran-
cisco Joaquim Ferreira Nina, os secretários Cândido José
Ribeiro e Virgílio de Jesus Cantanhede, a diretoria da Cam-
panhia, Icomposta dos seguintes senhores: dr.Ctjiriano. José
Veloso Viana, presidente; Henrique Delfim da Silva Guima-
rães, secretário; Inácio do Lago Parga, tesoureiro; Manuel
José Maia; dr. Manuel da Silva Sardinha, estando também
presentes o Revdm°. sr. Bispo Diocesano, Monsenhor João To-
lentino Mourão, outros representantes do Clero, Exm.° Sr. Dr.
Pedro Augusto Tavares Júnior, Governador dêste Estado, seu
secretário, sr. Epifânio José dos Reis, muitos senhores acionis-
tas da Companhia e grande número de senhoras e cavalheiros,
o sr. presidente da mesa declarou aberta essa sessão extraor-
dinária, e fazendo uma alocução análoga ao ato, declarou que
o fim da reunião era inaugurar os trabalhos da fábrica da
Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense. Usando da pala-
vra, o dr. Cipriano Viana mostrou as vantagens dêste estabe-
lecimento, e convidou o Exm.° Sr. Dr. Pedro Tavares Júnior
a declarar inaugurada a fábrica, depois da bênção a que pro-
cedesse o sr. Bispo Diocesano. Usou também da palavra o sr.
Leal Lôbo. Após a bênção, foram postos em movimento todos
os maquinismos e pelo sr. Governadqr do Estado declarada inau-
gurada a fábrica, proferindo S, Excia. nessa ocasião um elo-
quente discurso. E para que a todo tempo conste, o primeiío
secretário lavrou o presente têrmo".
64 JERÔNIMO DE VIVEIROS

A2 de janeiro, a Gamboa começou a trabalhar. Na


gerência estava um grande administrador —
Francisco
da Costa Rodrigues; chefiava as máquinas Neo Oscar
Pereira; dirigia a contabilidade José Cândido dos Reis,
era mestre de fiação William Chalk e de tecelagem

John Scott.
Nesta ocasião, a fábrica estava por 406.287$712,
assim discriminados :

Móveis 561$540
Mananciais e canalização 10.249$604
Edifício 201.173$000
MaquirJsmos 184.624$493
Guindaste e materiais de locomo-
ção 6.839$075
Cais e ponte 2.740$000
Semoventes 100$000

406.287$712

No seu primeiro seméstre de trabalho, a produção


foi de 417.428 metros de tecidos, 3.093.500 quilos de
fio e 154.940 quilos de punho, os quais renderam a im-
portância de 104.936$270. Com esta produção gastou-
se 71 contos e picos. Houve, pois, um lucro de 33 con-
tos, o qual permitiu se distribuir 18 contos de dividen-
do, ou sejam 4$000 por ação.
No segundo semestre, a produção de tecidos subiu
para 560.675 metros, dando 130 contos brutos e o lu-
cro de 46. Os dividendos foram de 6$000 por ação.
Do exposto conclue-se que no primeiro ano a Cam-
boa deu aos acionistas um juro de lOVo.
Êste resultado animou os acionistas a aumentar as
instalações, para o que elevaram o capital para 650 con-
tos, emitindo mais 2.000 ações.
O público recebia *a Camboa com curiosidade. Aflb.
iam os atrapalhando os serviços. A diretorla
visitantes,
viu-se forçada a regulamentar as visitas. Só as terças-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 65

feiras periftitiram-nas e assim mesmo com ingresso fir-


mado por um dos diretores.

Compreende-se a curiosidade era a primeira fá-


:

brica de tecidos que montávamos em São Luís.


No relatório do 3.° semestre, a diretoria comunica-
va que, coberta a emissão de 2 000 ações no valor de
.

200 contos, verificara-se não chegar essa importância


para o aumento das instalações projetadas, e que se fazia
mister uma terceira emissão de 3 500 ações. Ficaria
.

assim a Companhia com o capital de 1 000 contos, re-


.

presentado por 10.000 ações no valor nominal de


100$000 cada uma.
Confiantes na indústria têxtil, os acionistas concor-
daram em assembléia geral. E não se enganavam. Nes-
te semestre, a produção subia para 707.600 metros e no
seguinte para 816.000 metros.
Neste segundo ano de funcionamento, a companhia
deu 16^ /o de dividendos aos acionistas. As suas ações su-
biam de 100$000 a 170$ e 180$000.
E convém observar que a fábrica lutava com a pou-
ca habilidade dos operários e falta de frequência no ser-
viço. Edificada numa cidade, que levantava na ocasião
um parque industrial de boas proporções, sofria a Cam-
boa a concorrência de suas congéneres na aquisição do
novo operariado que se formava.

Outro fato que é digno de nota é o cuidado que ha-


via na escolha dos gerentes da fábrica. Homens integral-
mente completos, como êstes Francisco da Costa Ro-
:

drigues, comendador Francisco Pinheiro, dr. Raimundo


Honório do Lago Parga e Vitor Lobato. Dá bem amos-
tra desta seleção feita pela diretoria a impugnação do
nome dêste último, feita por Inácio Parga, em relatório,

não obstante a reputação ilibada do impugnado —


o ce-
lebrado fundador da "Pacotilha". Parga não tergiversou
em afirmar a sua incapacidade em matéria de direção de
fábricas, o que Vitor Lobato, desmentiu categoricamen-
te, como vam-^s ver.
66 JERÔNIMO DE VIVEIROS

No terceiro ano, em 1892, gerência de fíiobato, por


motivos de obras, a fábrica esteve paralisada 2 meses no
primeiro semestre, produzindo só 582.943 metros de pa-
no e dando de dividendos 6Vo, deficiência que recuperou
no segundo semestre, em que fabricou 1.000.210 me-
tros de pano, a maior produção até então obtida, e deu
25% de juros aos acionistas. Nesse ano, pois, a Gamboa
propiciou 31 7o. Lucro fantástico E a produção não era
!

a média do qu« podiam dar os seus maquinismos monta-


dos — 274 teares e 36 bancadas de fiação.
No quarto ano, o capital da companhia eleva-se a
1.200.000$000 em 12.000 ações, com uma quarta e-
missão no valor de 200 contos. A produção do primeiro
semestre não atinge um milhão de metros de fazenda,
mas a do segundo bate o record —1.031.791 metros.
Os dividendos são de 20%. Tinha, então, 526 acionistas.
A baixa de preços dos tecidos, motivada pela con-
corrência, fazem diminuir os dividendos em 94, 95 e 96,
que passam a ser, respectivamente, de 15, 10 e 6%. Era
o começo do declínio, que, com alternativas, se vai acen-
tuando, por dezenas de anos, até que a grande fábrica é
vendida a particulares, que se sucedem Cunha & Cia.,
:

Ribeiro Enes & Cia., Cardoso, Enes & Cia., Bessa & Cia.,
Sabóia de Albuquerque & Cia. e Francisco Aguiar & Cia.
que, definitivamente, fecharam as suas portas em 1959,
pagando de indenização aos operários cêrca de 16 mi-
lhões de cruzeiros.
Esta sucessão de nomes e o fato do encerramento
com o dispêndio de tão elevada importância dizem cla-
ramente da precariedade da indústria têxtil maranhen-
se. Mais não se fazia mister. Todavia, explanaremos o
assunto, oportunamente.
CAPÍTULO V
o "Banco Emissor do Norte" e sua agência em São
Luis. Ataques ã organização do novo estabelecimento ban-
cário. Seus projetos a respeito da Companhia de Navega-
ção a Vapor do Maranhão e o fracasso da transação. A ten-
tativa da incorporação do Banco Industrial e Mercantil".

Kntre Govêrno da Repú-


as instituições criadas pelo
após a sua proclamação, no sentido de
blica, logo
debelar a crise econômica-financeira-, que, como já
assinalamos em capítulos anteriores, a abolição da escra-
vatura e o próprio regime inaugurado haviam deflagra-
do no país, nenhuma foi cercada de mais espetacular re-
clame do que os "Bancos Emissores".
Faziam êles parte do programa financeiro do Minis-
tro da Fazenda do Govêrno Provisório — Dr. Ruy Bar-
bosa, que os defendiam com o seu portentoso talento.
Eram três o do : Sul, sede na cidade de Pôrto Ale-
gre; o do Centro, sede em Salvador; e o do Norte, sede
em Belém. A praça de São Luís coube uma agência dês-
te últim.o, da qual foi encarregada a casa comercial
José
Pedro Ribeiro & Cia.
Ocupando uma página inteira c'-', jornais, e alarde-,
"Ban-
ando as vantagens dos seus títulos, os anúncios do
Norte" procuravam empolgar a praça.
co Emissor do
Exemplifica o caso, êste que a "Pacotilha" inseria
em
31-7-1890 :
6B JERÔNIMO DE VIVEIROS

"BANCO EMISSOR DO NORTE" ^


Aprovado pelo Decreto de 19-6-1890. Sede na
n." 499,
cidade de Belém, circunscrição Estados do Pará, Maranhão,
Amazonas e Piaui.
Operações comerciais e contratos de hipotecas, penhor
agrícola e outros de qualquer espécie com a lavoura e indús-
triap auxiliares e com as indústrias extrativas, de conformidade
com os decretos n^s. 164, 165, 165- A e 169- A, de 17 e 19 da. ja-
neiro do Corrente ano.
Capital —
20:000.0000000, dividido em 100.000 ações
de 200$000 cada uma. Chamadas até SQo/o, feitas^ em moeda ou
fundos piíhlicos. Integração, com o excedente dos dividendos.
Entrará o Banco em operações, subscrita metade do ca-
pital e realizada a primeira entrada de 10"/ o.
Favores —
concedidos pelo Govêrno ao Banco:
">
1. —Cessão gratuita de terras devolutas para locali-
zaçãó de colonos;
2. " —Fundação de estabelecimentos industriais e de
qualquer ordem;
3. " —Isenção de imposto predial, de consuma, de im-
portação de materiais de construção;
4. ° —Explorações de minas;
5. ° —Preferência nos contratos de navegação, cons-
* truções de estradas de ferro e outras obras pro-
jetadas pelo Govêrno;
6. " —Auxilio aos empréstimos hipotecários, com o que
receber o Govêrno a título de redução do juro
das apólices, e valor equivalente à metade dos
mesmos juros, depois que cessarem, que serão
levados a um fundo especial de garantia às le-
tras hipotecárias.

COMPENSAÇÃO
"Anulação dos valores das apólices constituintes do
fundo capital, à proporção do aumento do fundo de reconstitui-
ção, formada de 2 l/2''/o do lucro bruta da empresa".

Em prospectos que circulavam na cidade e os jor-


nais transcreviam, o Emissor pormenorizava as suas a-
tribuições, estatuídas pelo artigo 2.° do Decreto de 17 de
janeiro de 1890 :

— Em empréstimo, descontos e câmbio;


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

2.» — em hipotecas a curto e longo prazo, emitindo


letras hipotecárias;
S.» — em penhor agrícola sôhre frutos pendentes, co-
lhidos e armazenados;
4. » — em adiantamento sôhre instrumentos de traba-
lho,máquinas, aparelhos e todos os meios de
produção das propriedades agrícolas, engenhos
centrais, fábricas e oficinas;
5. » — em empréstimos de caráter e natureza indus-
trial para construção de edifícios públicos e
particulares, estradas de ferro e outras, cais,
docas, melhoramentos de portos, telégrafos, te-
lefones e quaisquer empreendimentos indus-
triais;
6. "» — em comprar e vender terras, incultas ou não,
parcelá-las e demarcá-las por conta própria 3u
alheia;
7. " — encarregar-se de assuntos tendentes à coloni-
zação, fazendo os adiantamentos necessários,
mediante ajuste e contrato com os colonos ou
terceiros interessados;
8. " — incuhir-se por conta própria ou alheia, de desse-
camento, drenagem ou irrigação do solo;
9. " — tratar do nivelamento e orientação de terrenos,
abertura de estradas e caminhos rurais, canali-
zação e direção de torrentes, lagoas e rios e fa-
cilitar os meios necessários, mediante ajuste e
condições, à qualquer cultura, criação de gado
de tôdas as espécies e exploração de minas,
principalmente de carvão de pedra, cobre, ferro
e outros metais;
10." — Finalmente, poderá efetuar tôdas as operações
de comércio e indústria, por conta própria ou
de terceiros.

Em
verdade o programa empolgava qualquer cole-
tividade por mais próspera que fôsse.
Mas não era novo no Maranhão êsse tipo de estabe-
lecimento bancário com a faculdade de emissão. Tivemo-
lo desde 1846 e isto já mencionamos neste mesmo traba--
lho. (452) E ainda no último ano do regime monárquico,

(452) — Vide: Jerônimo de Viveiros — "História do Comercio do Maranhão",


vol. 1, cap. XXII. Rio. 1954.
70 JERÔNIMO DE VIVEIROS

tínhamos pleiteado junto ao Conde de Figueiredo, presi-


dente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, a fun-
dação na nossa Capital dum banco dessa natureza.
Entretanto, a praça de São Luís quase na sua totali-
dade, se insurgiu contra a incorporação do "Banco Emis-
sor do Norte". A abstenção, por parte dos que estavam
em condições de subscrever-lhe as ações, não era peque-
na. Os jornais achavam-lhe inaceitáveis as bases orgâ-
nicas, além da sua fundação extinguir a faculdade de e-
mitir dos bancos locais que a possuíam.

O primeiro periódico a combatê-lo foi o "Nacional",


órgão do partido político de Gomes de Castro. Seguíu-
se-lhe "O Globo", que tinha como redator-chefe Paula
Duarte, a cuja pena atribuímos o vigoroso editorial de
1.° de maio de 1890, que trasladamos :

"BANCOS EMISSORES"
"As ações dos" Bancos e Companhias tendem todas a bai-
xar mais ou menos; e as dos Bancos terão de sofrer um ahálo
formidável, se o Banco que o Governo projeta, aqui para o nor-
te, com sede no Pará, for levado a efeito, como está decretado.
"Êste Banco com certeza qfue servirá para aniquilar os
que cá temos, p^is, autorizado a bater moeda papel até o dobro
do seu depósito, em apólices, sendo o seu capital de 20 000
contos, certamente que nada lhe poderá resistir, e os nossos
atuais Bancos terão forçosamente de liquidar por não poderem
entrar em competência com um estabelecimento assim privile-
giado, que faz dinheiro de tiras de papel sem valor real, e as
quais o Governo já prometeu dar curso forçado !
"Isto é simplesmente monstruoso; e seremos fatalmente con-
duzidos a um estado de anarquia monetária, a uma banca rôta
geral, se o nobre^ Ministro da Fazenda não refletir que, com
suas medidas financeiras, referentes aos Bancos de emissão,
com base de apólices, em notas inconversíveis, está irremedia-
velmente cavando a ruína da nação.
"Parece-nos impossível tdnta cegueira da parte de um
homem ilustre como é o nobre Ministro da Fazenda, pois não
podemos crer que êle ignore que o papel-moeda inconversível
é condenado por todos os economistas, dignos dêsse nome e
que êle, uma vez espalhado em larga escala pelo país, sem um
valor real equivalente, fará descer o câmbio de uma maneira
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

assombrosa, não sendo para admirar, a quem estuda um pou-


co êstes assuntos, que êle desça a 10 ou 12 dinheiros,
por mil
réis, o que será uma verdadeira calamidade
para o país.
"O nobre Ministro da Fazenda, nesta questão de Bancos,
tem sido infeliz. Nada menos de três decretos jez baixar à
respeito, e é certo que todos êles têm. sido severa e fortemen-
te combatidos. E com razão; pois se é condenável a emissão
de papel-moeda inconversívsl, por parte do Governo, que na
frase do ilustre A. Smith "é o último recurso de que lançam
mão as nações caducas ou em via de dissolução para fazer di-
nheiro", muito mais o é quando essa perigosa faculdade é
permitida aos particulares, como sejam os novos Bancos.
"Vê-se que o nobre Ministro está completamente iludido
ou confundido nesta questão bancária, e sendo justo esclare
cê-lo, cumpre-nos dizer-lhe, unicamente como aviso, que «
um erro económico, um verdadeiro perigo financeiro, autori-
zar qualquer estabelecimento bancário a emitir notas ao por-
tador que estas não sejam conversíveis em valor real ouro —
oit prata — a vontade dêsse mesmo portador, como e quando
queira.

"Permitir o contrário, seja sob que pretexto for, é abrir


as portas ao abuso, é preparar o país para uma agiotagem
desenfreada, que dará em resultado um cortejo de males in-
calculáveis para o país.

"Como se sabe, o último decreto do nobre Ministro au-


toriza a criação de ,uns poucos deBancos de emissão com um
capital enorme. Só aqui para o norte, sem se atender aos que
já existem, são autorizados nada menos de três com o capital
de vinte mil contos cada um. "Êstes três, portanto, só por si,
p^dem pôr em circulação uma massa de papel-moeda superior
a metade de tôda a que já existe no pais, emitida pelo Go-
verno, que monta cerca de cento oitenta mil contos, visto
como, segundo o decreto, é-lhes facultado emitirem em notas
ao portador o dobro do capital que converterem e deposita-
rem em apólices.

"Ora, se o câmbio atualmente está a 21 dinheiros, repre-


sentado em ouro nos saques que se produzem pagáveis em
Londres, a que taxa não descerá se a massa de papel-moeda
se elevar ao dôbro, com as emissões dos novos Bancos ?
"A conta é fácil de fazer, assim como infelizmente é fácil
aos novos Bancos espalhar o seu papel —
a juros de 5 ou 6»/o,
que tudo é lucro para êles, com prejuízos de todos os outros.
"Nesta circunstância, não sendo possível fazer crescer
o ouro, e sim o papel — que nada vale — teremos que o cãm-
72 JERÓNIMO DE VIVEIROS

bio terá de descer à miserável taxa de 10 ou 11 dinheiros por


"
mil réis, como se vai ver do seguinte cálculo :

"Se uma massa de 180. 000 contos em papel moeda deter-


mina umcãmhio de 21 d., uma massa do dôhro dêste papel,
360. 000 contos certamente que determinará um câmbio de
metade de 21 d., isto é, 10 1/2 d.
"Ê cálculo que não falha, pois ninguém há que ignore
que o câmbio sobe ou desce na razão inversa da quantidade
de papel fiduciário que exista na circulação.
"Se este abunda,, desce o câmbio, se êste escasseia, sobe
o câmbio.
"A moeda, como qualquer mercadoria, está sujeita às leis
da oferta e da procura, e sobe ou desce segundo há falta ou
abundância dela.
"Estabelecidos êstes princípios económicos, que são capi-
tais, e que nenhum sofisma pode destruir, sabido fica que a
criação dos novos Bancos emissores só servirá para nos con-
duzir a um estado financeiro desgraçado, depreciando o nosso
rri.eio circulante de uma maneira horrorosa e perturbmdo tô~

das as ran^ações sociais e comerciais de um mod-j lamentá-


vel, pcs, como muito bem diz Bast::.t nas sua? Harmonias,
"naòc há que mais concorra para prejudicar e di's<ic- editar
um Este do ";<; cue seja a instabilidade da sua mofct".
"Condenai portanto, a instalação de semelhantes Bancos,
.

é segwamente um dever de todo homem bem intencionado.

"O que se projeta, aqui para o norte, e a cuja subscrição


já se acha aberta nesta cidade, e longe de ser um
bem, será
um mal; só produzirá efeitos negativos; e sem dúvida, con-
forme já afirmamos, aniquilará de vez os nossos estabeleci-
mentos congéneres, que, montados sobre bases muito diver-
sas, mas muito mais sensatas, têm até hoje produzidos átimos
resultados.

"Depois, esta história de decretar Bancos em dados e de-


terminados lugares, como quem decreta quartéis, é coisa que
realmente nos espanta, sendo esta a primeira vez que vemos
o Governo querer arregimentar o dinheiro como quem arre-
gimenta soldados. Mas também só se faz dinheiro sem valor
pois o que tem valor, o que custa o suor do rosto, não se ar-
regimenta assim com duas razões.

"O Pará, pelo menos, já deu o exemplo, pois, que nos


conste, a subscrição que lá foi aberta teve um
resultado tão
lisongeiro, que o comissário que lá foi para tal
fim, já se re-
tirou para o sul, cônscio de que estava a perder
o seu tempo.
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

"É preciso, pois, que o Maranhão faça o mesmo,


compre-
endendo que semelhante Banco é um verdadeiro presente
de
gregos que lhe querem fazer.
"Estamos persuadidos que se o nobre Ministro da Fa-
zenda^tivesse uma orientação mais segura do que sejam ins-
tituições bancárias teria procedido por modo diverso
na con-
fecção dos seus projetos, que tão combatidos têm sido.
"Teria reconhecido que a liberdade bancária é uma das
condições indispensáveis para a vida de tais estabelecimentos,
e que, portanto, estar a dizer ou a decretar que tais
e tais
Bancos têm de ser levantados aqui ou acolá, não passa isso de um
rematadci absurdo, impróprio de homens superiores. Os Bancos
não se montam, nem nunca se hão de montar assim.
"Estabelecem-se naturalmente onde o capital aflui para
êles, e a iniciativa particular, que não o Govêrno, é quem ge-
ralmente os corporisa e desenvolve.
"Não precisamos sair fora de casa para fornecermos ao
Govêrno um exemplo frisante do que levamos dito.
"A praça do Maranhão é, sem dúvida nenhuma, uma pra-
ça pequena, muito inferior à do Pará e também à de Pernam-
buco; pois bem, esta pequena praça sustenta há uns poucos
de anos nada menos de três Bancos, com grande proveito de
seu comércio, ao passo que a do Pará apenas tem dois, há
muito menos tempo, e a de Pernambuco começa agora a ter
o primeiro.
"E é singular que sendo a praça do Maranhão s que mais
estabelecimentos bancár.os possui aqui no norte, fôsse a única
esquecida para a criação do novo Banco, pois no número dos
seus incorpor adores não aparece um só nome maranhense.
"Finalmente, os novos Bancos, tais quais estão decretados,
ou já ou logo, serão mais um desastre para o nobre Ministro
da Fazenda, o que sinceramente sentimos, com prejuízo para
o país inteiro.
"Não se transige impunemente com certos princípios; po-
d.endo S. Excia. ficar certo que em quanto não forem decreta-
dos Bancos emissores, com base metálica, podendo emitir o
dinheiro que quiserem, contanto que o convertam em espécie,
num momento dado, nunca no Brasil há de haver como há
em todos os países bem organizados, uma medida pública de
valores.
"A liberdade bancária é originada da liberdade comercial;,
e assim como o Govêrno nunca cogitou em estabelecer peias
às casas de negócios, limitando ou ampliando as suas transa-
ções, assim também não pode e não deve estabelecer limiten
aos Bancos, desde que uns e outros estejam sujeitos ao direito
74 JERÔNIMO DE VIVEIROS

coiiium. Conceder-lhes privilégios condenáveis, ê que é um


erro se não um perigo grave."

Por último, apareceu na imprensa, pelas colunas da


"Pacotilha", —
que aliás vinha defendendo a criação de
Rúy Barbosa —
um novo contendor, sob o pseudónimo
de Belisário, e no qual se nos afigura ocultar a persona-
lidade de Cardoso Pereira, comerciante, que era também
entendido em economia e finanças.
Depois de expôr a formação do banco, segundo os
seus estatutos, Belisário dizia no seu primeiro artigo, in-
serto na "Pacotilha" de 17-7-1890 :

"Aqui chegando, é justo passar a apreciar agora as van-


tagens que êle promete aos seus acionistas, que é, sem dútn-
da, êsse para nós o ponto principal do assunto, desde que se
trata de obter aq^ii subscritores para suas ações.
"Segundo o artigo 4° dos estatutos, todq o capital do ban-
co, fornecido pelos acionistas, terá de ser convertido em títu-
los do Governo, com a cláusula de inalienáveis e ditos títulos,
que não são outros se não apólices de juros de 5'/n, conforme
o sr. Ministro da Fazenda insinua no seu relatório, terão de.

sofrer, desde o começo das operações do banco, em conforrp.t-


dade fom o art. 6° dos estatutos, as seguintes reduções nos
seus juros:
"No primeiro ano 2" lo, no segundo 2 112, no terceiro S'/?,

no quarto 3 l/2''/o no quinto á^h, no sexto 4 1/2. no sétimo S^/o


— ou coisa nenhuma, por serem estes justamente os juros do.s
apólices gerais atualmente em circulação.
"Disto se conclui que no fim de seis anos as apólices que
representam o capital do banco e que foram compradas com o
dinheiro dos acionistas, nada mais rendem para o tanco, nem
para ninguém, visto como, sendo inalienáveis, vão podem ser
vendidas a pessoa alguma.
"Com este rasgo de generosidade é que o Govê'no, por
meio dos bancos emissores, pretende auxiliar e desenvolver
no país o comércio, a lavoura, as artes e as indústrias, refor-
çando o seu desideratum com mais metade dos juros das apó-
para auxiliar o serviço das letras hipotecárias,
lices (2 112'! o)
visto concorrer para isso com a soma [que recebeu Oo banco a
titulo de redução do juro das apólices que constitui um fundo
social e depois de extinto êsse juro, conforme já ficou dito.
HISTÓRIA DO COMii^RCIO DO MARANHÃO 75

"Isto, porém, até a data da duração do banco, 50 anos, de-


pois de cuja data ficarão as apólices: sem valor algum e nulas
para fodos os efeitos, conforme as expressões do próprio decre-
to do Governo.
"Analisando, pois, o caso, e resumindo-o o mais possível
para nos tornarmos sucintos e claros, temos que o Governo
pretende:
"Auxiliar e desenvolver no país o comércio, a lavoura, as
artes e as indústrias, e tudo mais quanto os hanros prometem
nos seus estatutos, numa espécie de programa "atraente e se-
dutor", obrigando tais estabelecimentos a empregnr todo o seu
capital em apólices que rendem, desde a data da sua compra,
2 ll2''lo de juros e que no fim de 50 anos não tem valor algum.
"Ora, isto não é somente irrisório, é indecorosa e impró-
prio de um pais honrado como o Brasil.
"Não se armam assim ciladas ao povo, que, não tendo tem-
po de estudar êstes assuntos, nem mesmo sabendo estudá-los,
pega nas suas economias e as entrega, sem mais exame, a esta-
belecimentos de tal ordem.
"Bancos semelhantes não são somente um erro; são um pe-
rigo social.
"Ê mister, pois, combate-los até a última, não lhes dando
guarda e denunciá-los por tôda parte como instituições perigosas
em caça de capitais incautos.

"De modo que o Governo, a título de auxiliar o desenvolvi-


mento c progresso do país, propõe'se ao seguinte sacrifício:
"A reduzir os juros de sua dívida, da qual está pagando
50/0 a 2 ll2^lo,e a declarar que se houver tolos que comprem tais
títulos ao preço porque êles estão no mercado um conto de réis
— que no fim dé 50 anos êles não terão valor algum.
"Isto acredita-se porque está escrito, e para que ninguém
suponha que exageramos, para aqui transcrevemos as próprias
palavras do sr. Ministro da Fazenda, quando submeteu o seu
decreto à aprovação do Chefe áo Governo Provisório
"Ora, o sistema da circulação sobre apólices acomoda-se
simultãneamente aos dois fins: expandir o meio circulante pro-
porcionando ao desenvolvimento económico do país os recursos
de que necessita e minorar, senão extinguir, as obrigações da
divida nacional, cujo sreviço absorve imensa parfe da nossa
re-

ceita .

"Para adotar a êsse desideratum o mecanismo


que vamos
aceitarão desde o comêço
instituir; os bancos, que os servirem,
no juro das apólices
de suas operações, diminuição considerável
que avultará
que lhes compuserem o fundo social, diminuição
76 JERÔNIMO DE VIVEIROS

de ano em ano até se extinguir ao caho a seis o prémio dêsses


títulos, em benefício do Estado.
"Supondo que os bancos correspondentes as três regiões
— norte, centro e sul — nasquais divide, o país o decreto que
ora vos propomos, absorvessem no seu lastro 300. 000. 000$ 006
(trezentos mil contos), teríamos feito a redução do premio nos
seis anos de 68. 500. 000$000.
Daí em diante, a economia seria de 15. 000:000 $000 anuais,
ou nos 44 anos remanescente a existência dêsses estabeleci-
mentos, mais 600. 000 -.000$ 000 poupados pelo erário. Acreseen-
tc-se a êsse valor o do capital em apólices, cujo completo res-
gate então se terá concluído, e temos 1.080.000:000$, salvos
por êsse meio em 50 anos, ao sorvedouro da dívida pública."
"Simplesmente assombroso!
"O nobre Ministro da Fazenda com esta medida financei-
ra, nunca até hoje cogitada, nem lembrada por estadista al-
gum pretende ensinar aos incrédulos e aos incultos, que se
pode extinguir uma dívida do Estado sem a pagar, e que com
tal providência fornecem-se recursos ao país para êle entrar
francamente na posse de todos melhoramentos e reformas que
são compatíveis com um povo livre e civilizado.
"Ora, sendo esta a base dos bancos emissores, criados pelo
decreto de 17 de janeiro, isto é, apólices de um conto que de-
pois de adquiridas pelos bancos não valem nem sequer metade
desta importância, em virtude dos ânus a que ficaram sujeitas,
que crédito se pode ligar as suas fantásticas promessas?...
"Que vantagens podem êles oferecer aos seus acionistas e ao
bem geral do Estado, se têm como base de suas operações um
capital nulificado pelo Govêrno? ...

"Que importância se pode dar a uma emissão, se ela é


justamente igual ao valor nominal do seu capital em apólices
que custaram precisamente o valor da referida emissão, pago
com o dinheiro dos acionistas? ...
"Emtal caso pode-se dizer que não há emissão, pois
as notas que emitirem representam justamente o dinheiro que
os bancos receberam dos acionistas e pagaram pelas apólices,
"Depois) que valor podem ter tais apólices desde que per-
tençam aos bancos?...
"A conta é fácil de fazer, e aqui a vamos estampar para
que tudo fique bem claro e caiam de uma vez para sempre as
escamas dos olhos dos tais cegos que não querem ver.
"Se uma apólice de um conto de réis, de valor e juro per-
pétuo de 5^10 vale, presentemente, o mesmo conto de réis,
quanto deverá ela valer se o seu juro fôr reduzido à metade ?
HISTÓRIA DO C0Mt.RC10 DO MARANHÃO 77

"Certamente que não valerá mais de 500$000, mas, se adi-


cionar a condição de que ela no fim de 50 anos não terá valor
algum, duvidamos que haja quem a queira por mais de 200$000
ou 300$000.
"E é com títulos desta natureza que se forma o fundo so-
cial dos hancos emissores ! . .

"E tais hancos tomam ainda assim o encargo de resgatar


as notas do Governo, sem remuneTação alguma, quando o câm-
hió atingir a 27, e nele se conservar por mais de um ano.
"Repetimos —
isto acrediia-se porque está escrito, mas em
economia política o sacrilégio é de tal ordem, que nem merece
a honra de ser refutado.
"Vamos concluir cônscios de havermos cumprido um du-
plo dever : o de prevenir o capital incáuto contra tais estabele-
cimentos, e o de protestar, em nome da ciência, da justiça t da
razão, contra as falsas doutrinas de um sistema económico que
ninguém entende, e que infelizmente não concorrerá somente
para o descrédito de um Ministro, mas para o descrédito do
país^o que é mais alguma coisa".

Refutando a argumentação de Belisário, surgiu pela


mesma gazeta outro articulista, oculto pelo pseudónimo
de Lincoln, para quem os Bancos Emissores faziam par-
te de uma grande reforma financeira, que abrangia to-
dos os fatores da produção nacional, subordinando-os à-
regras científicas, determinadas pela legislação, já na re-
forma cias sociedades anónimas, das hipotecas e ónus
reais, já na criação do novo regime do crédito móvel, e
que, sem analisar êsse âmbito imenso das reformas, era
impossível ííompreender o mecanismo dos Bancos Emis-
sores. (453)
Afinal, anunciando para 30 de julho o encerramen-
Emissor, a "Pa-
to do prazo das subscrições dos títulos do
notamos, lhe era simpático,
cotilha", diário que, como já
confessava :

retraíu-se, mostrando-se prevenida^


"A nossa praça
impressionas-
com onovo hanco, cujo mecanismo talvez a
pelo jogo dos juros das apóltces e
se desagradàvelmente
dívida, sem que oJus-
posterior anulação dêsses títulos de
tado entre para êsse efeito com a quantia equivalente .

(453) _ "Pacotilha", 18-7-1890.


78 JERÔNIMO DE VI '/EIRÓS

A verdade é que não era só o Maranhão que recebia


mal o novo instituto bancário. Do Pará constava haver
sido tão grande o insucesso da incorporação, que o ins-
petor fiscal a abandonara ainda em meio, rumo ao Rio e
de Pôrto Alegre vinham telegramas de comicios de pro-
testos, num dos quais Demétrio Ribeiro, que acabara de
ser Ministro, se manifestara contrário à reforma bancá-
ria de Ruy.
Essa má vontade do Maranhão não deixou de ser
compreendida pelo diretor da sede da circunscrição a
que pertencia a nossa agência, dr. Vicente Sucupira da
Cunha Freire, que a fim de minorá-la, para cá se trans,
feriu,homenageando a nossa sociedade com festas es-
plêndidas,como êsse falado pk-nic à Alcântara.
Das festas passou Cunha Freire aos negócios, que
começaram pela compra da nossa Companhia Ô0 Nave-
gação a Vapor pelo Banco Emissor dó Norte.
A Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão,
como ficou exarado no capítulo XXI do volume 1.° desta
obra, foi criteriosamente e inteligentem.ente organizada
em 1856 pelo engenheiro Raimundo Teixeira Mendes,
formado pela Escola de Pontes e Calçadas de Paris, o
qual, para isso, se associara às firmas comerciais de Lei-
te & Irmão e José Pedro dos Santos & Irmão, da praça
de São Luís.
Com duas seções — a costeira com linhas para o
norte até Manáus e para o sul até Recife, e # fluvial nos
rios Itapecuru, Mearim, Pindaré e na região do Preá —
a emprêsa prosperou tanto que chegou a dar dividendos
de 24^/o aos acionistas e aumentar o seu fundo de reser-
va ao mesmo tempo que acrescia a sya frota de novas u-
nidades, a qual atingiu o número de 5 navios costeiros.
5 fluviais e 26 barcas de reboque.

Essa prosperidade não arrefeceu durante mais de


um quarto de século. Em 1890, a Com.panhia de Navega-
ção a Vapor ainda era uma potência no nosso corpo co-
mercial, e a sua organização, o orgulho do espíiito admi-
nistrativo maranhense.
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO
79

Foi nessa época que Cunha Freire


propoz compra^
a empresa para o "Banco Emissor do Norte".
A propos-
ta era vantajosa ficava com o ativo
:
e passivo e pagava
1 800 contos de réis aos acionistas,
.
o que dava a cada a-
ção, cujo valor nominal era de
100$000, um ágio de
800 /o

Reunida a assembléia geral para deliberar a respei-


to dois terços votaram a favor da venda, mas o
restante
se opôs, o que foi suficiente para que se malograsse
a
transação, visto como os pareceres dos advogados
da
companhia Jânsen Matos e Lapemberg eram acordes em
achar ser bastante um voto em. contrário para impedí-la.
Advinhassem os acionistas o futuro, e a organização
de Teixeira Mendes teria sido vendida.

Com efeito, a partir dessa data, começou-lhe a de-


cadência. O lucro da navegação fluvial não dava para co-
brir o deficit que deixava a seção costeira. De 1900 em
diante, suspendeu o pagamxento de dividendos, aos acio-
nistas.

Na assembléia geral para aprovar o relatório de


1904, J. B. Prado & Cia., comerciantes e banqueiros de
nossa praça, a que já nos referimos neste trabalho, pro-
puseram adquirir o acerco da empresa, oferecendo pagar
não 800% de ágio pelas suas 15.000 ações, mas o des-
conto de 65Vo, isto é, 35$000 por cada uma. Recusaram.
E de retrocesso em retrocesso, no govêrno de Luís Do-
mingues (1910-1913), viu-se na necessidade de pedir
ao Estado um empréstimo para reformar o seu material
de navegação. Sob um contrato de anticrese, e com o in-
tuito de salvar a velha companhia, o Estado emprestou-
Ihe cêrca de 2.106. 000$000 Após três anos, foi execu-
.

tado o contrato de anticrese por falta de pagamento de


juros, e a emprêsa passou a pertencer ao Estado, que
com a sua administração ainda dispendeu dos cofres pú-
blicos uns 400 contos. No quatriênio seguinte, o Gover-
nador Herculano Parga arrendou os navios novos e en-
costou-os depois. Veio a revolução de 30, em que um dos
:

80 JERÔNIMO DE VIVEIROS

inúmeros interventores, que tivemos, vendeu-os,. beni


assim o resto do acervo, como ferro velho.
E da outrora próspera Companhia de Navegação a
Vapor do Maranhão, só resta hoje a recordação históri-
ca, já empalidecida pela ação do tempo.
Do insucesso da agência do "Banco Emissor do Nor-
te" na nossa terra, o seu comércio e indústria procura-
ram inteligentemente tirar proveito, fazendo-o incorpo-
rador na praça do Rio de Janeiro de um instituto bancá-
rio, talhado nos moldes antigos, e com a denominação de
"Banco Industrial e Mercantil do Maranhão".
Era ainda mais uma tentativa do nosso comércio
para aliviar a pressão financeira das fábricas maranhen-
ses.
O capital do Industrial e Mercantil seria de 5.000
contos de divididos em 25.000 ações do valor de
réis,
200$000 cada uma, subscritas quase todas no Rio, pois
pouco mais de duas mil foram tomadas no Maranhão.
A sua Diretoria e Comissão Fiscal compunham-se
Diretoria —
dr. Manoel Bernardino da Costa Rodri-
gues, presidente; José Pedro Ribeiro, secretário; dr. Cân-
dido César da Silva Rios e dr. Pedro da Cunha Beltrão.
Comissão Fiscal —
dr. Pedro Leão Veloso Filho, dr. Dâ-
maso Pereira, dr. Antônio Batista Barbosa de Godois e
Pacífico Duarte Soeiro.

O Banco propunha-se :

í.° — Fazer tôda sorte de operações hancárais, como sejam:


a) Descontar títulos particulares, do Tesouro Na-
cional e dos Tesouros dos Estados;
h) Receber dinheiro a prémio por letras e por con-
ta corrente;
c) Comprar e vender ou receber em guarda metais
preciosos e quaisquer títulos e valores;
d) Encarregar-se de comissões, liquidações e em-
préstimos;
e) Criar entrepostos ou armazéns para depósitos de
géneros, mediante remuneração emitindo ^tu-
los de depósito (warrants) de mercadorias arm^-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

zenadas e fazendo adiantamentos sôbre êstes ti-


tulas;
Efetuar operações de dei credere;
f)

g) Realizar
operações de câmbio;
h) Realizar tôdas as operações de crédito móvel.
2-° —Auxiliar, por meio de operações bancárias, a indús-
tria, o comércio e a lavoura no Estado do Maranhão;
3. ° —Explorar privilégios e concessões dos Govêrnos Fe-
deral, dos Estados e das Municipalidades.

4. ° — Montar explorar estabelecimentos


e industriais,
agrícolas e comerciais.
5. ° — Organizar emprêsas companhias.
e
6. ° — Comprar, vender beneficiar terrenos,
e
7. ° — Executar obras públicas,
8. ° — Edificar construir por conta própria de
e e terceiros.

Infelizmente, o mercado monetário do Rio, já atin-


gido pelo crack do jôgo da bolsa, não permitiu fôsse ul-
timada a incorporação do banco maranhense, tornando
sem efeito o único benefício que nos poderia ter presta-
do a reforma financeira de Ruy.
Galhofando do caso, o "Federahsta", órgão do parti-
do dominante, que considerava o "Industrial" obra da a-
gremiação oposicionista, publicou êstes versos :

"PIADA S"

Aquele banco do Costa


Esperança do partido,
Dizem todos vir agora
Se Deus nosso for servido.

O mais creiam, ser tal peta


Não merece ser ouvido.
Apenas o banco do Costa
.Esperança do partido.

Todos os crentes da goma.


Embora hajam descrido,
Sonham o banco do Costa,
Esperança do partido.
82 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Jogue-se muito na bolsa, ( Ou m'engano e erro agora!


Seja o jogo divertido, I
Nestas coisas mal ouvido,
O banco do Costa vem, I
Banco choco já gorou
Esperança do partido. I
Esperança do partido. (454)

(454) — o "Federalista", 7-12-1895.


CAPÍTULO VI

A Companhia Geral de Melhoramentos do Maranhão e seus


fins. Traços Biográficos do seu idealizador. Triunfos e
derrotas. Atividades malogradas.

inda no tempo do "Banco Emissor do Norte" e qui-


çá provocada pela desconfiança nos seus propósitos,
surgia, na colónia maranhense domiciliada no Rio
de Janeiro, o plano da organização de uma emprêsa, com
grande capital, para promover melhoramentos no Mara-
nhão, capazes de salvá-lo da grande crise que o assober-
bava, ocasionada pela abolição da escravatura e que o
sonho industrial ia agravando dia a dia.
Foi a "Companhia Geral de Melhoramentos do Ma-
ranhão", cujo plano era realizar na nossa gleba os se-
guintes empreendimentos :

1.° — Construção, uso e góso das estradas de fer-


ro de Caxias a São José das Cajàzeiras (Ti--
mon) e de Caxias ao rio Araguaia, de con-
formidade com a legislação vigente e, bem
assim, quaisquer outras que, de futuro, ad-
quira por contrato com o Govêrno Federal,
ou com o do Estado, ou por transferência.
84 JERÔNIMO DE VIVEIROS

2. ° — A construção, uso e gôso das obras de me-


lhoramentos do pôrto da Capital do Esta-
do do Maranhão, de conformidade com o de-
creto n.° 909, de 23 de outubro de 1890.
3. ° — A instalação, uso e gôso dos dois engenhos
centrais para o fabrico de açúcar, concedidos
pelo decreto n.° 610, de 31 de julho de 1890,
e bem assim, quaisquer outros que, de futu-
ro, adquira ou instale.
4. ° — A construção, uso e gôso dos saladeiros cen-
trais para o preparo de xarque e fábricas a-
nexas, concedidas pelo decreto n.° 840, de 11
de outubro de 1890.
5. ° — A introdução e localização das 3.000 famí-
lias de imigrantes a que se refere o contrato
de 30 de agôsto de 1890, e das que, de futu-
ro, contrate introduzir e localizar no Estado
do Maranhão.
6. ° — O desenvolvimento e aperfeiçoamento da
navegação fluvial e costeira, estendendo esta
última até às Guianas brasileira e estran-
geiras, para o norte, e até aos diversos portos
do Estado do Rio Grande do Norte, para o
sul.

7. ° — A exploração em larga escala da indústria e


comércio do algodão e de quaisquer outros
produtos naturais do Maranhão.
8. ° — Fazer tôda sorte de operações bancárias que
tenha por objeto auxiliar os fins sociais.
9. ° — Organizar companhias, encarregar-se de le-
vantamento de empréstimos e da compra de
materiais no país ou no ^estrangeiro.
10. ° — Empreitar ou sub-empreitar obras.
11. ° — Edificar, comprar e vender terrenos e pré-
dios e proceder a divisão e demarcação de
terras pertencentes a terceiros,
12. ° — Organizar e explorar fábricas e estabeleci-
mentos industriais.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 85

Como organizador e presidente da primeira


_
direto-
ria,deu-lhe este planejamento o engenheiro
Aarão Reis
figura hoje desconhecida na nossa
terra, e da qual se tor-
na por isso mesmo preciso avivar-lhe a
biografia para
melhor compreensão dos fatos narrados neste
capítulo.
Filho do dr. Fábio Alexandrino de Carvalho
Reis
que representou o Maranhão, por largo trato de tempo
(1848 a 1883), quase sem solução de continuidade, na
Assembléia Geral Legislativa, genro do Senador Francis-
co José Furtado, nasceu Aarão Reis, em 6 de maio de
1853, na Capital da Província do Pará, onde,- então, se
achava seu ilustre progenitor no desempenho de impor-
tante comissão do Govêrno Imperial.
Encetou o curso primário no "Instituto de Humani-
dades", dirigido por seu tio Dr. Pedro Nunes Leal, em
São Luís Concluíu-o no famoso colégio do Monsenhor
.

Reis, situado à Rua do Passeio, em frente ao Passeio Pú-


blico, no Rio, onde fez os estudos de preparatórios até
seu pai montar o colégio "Perseverança", para o qual se
transferiu e completou os referidos estudos.
Matrj.culou-se em 1869, no curso de engenharia da
Escola Central, estabelecimento que foi transformado'
em Escola Politécnica pela reforma de 1874, feita pelo
Ministro João Alfredo,
Em março dêste mesmo ano de 74, recebeu o gráu
de bacharel em ciências físicas e matemáticas, diploma
só conferido aos alunos aprovados plenamente em tôdas
as disciplinas do curso, e em novembro diplomou-se em
engenharia civil.
Quando estudante, Aarão Reis foi auxihar de enge-
nheiro na "Inspetoria de Obras Públicas" e nas "Obras
Hidráulicas da Alfândega" do Rio.
Formado, a sua primeira comissão foi fiscalizar a
construção do "Matadouro de Sant?. Cruz", cargo que
deixou para ser sucessivamente professor do curso ane-
xo à "Escola Politécnica", chefe do serviço telegráfico da
"Estrada de Ferro Pedro 11", diretor das obras civis do
"Arsenal de Marinha", diretor da "Estrada de Ferro de
86 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Pernambuco" e inspecionador dos açudes de Quixadá, no


Ceará.
Proclamada a república, e já conceituadíssimo como
um dos grandes engenheiros do país, o dr. Aarão Reis e-
xerceu o lugar de consultor técnico do Ministério da A-
gricultura, no tempo em que ocupou a pasta o General
Francisco Glicério. Retirando-se êste do Ministério, exo-
nerou-se êle do cargo, para dedicar-se, exclusivamente,
à organização da Companhia Geral de Melhoramentos
do Maranhão.
Teve ainda Aarão Reis a honrosa incumbência de
chefiar a comissão encarregada de estudar o local pàr'a a
mudança da Capital de Minas Gerais.
Dos cinco estudos elaborados, a comissão apresentou
três ao Govêrno de Minas, classificando-os nesta ordem :

"Várzea do Marçal", "Belo Horizonte" e "Barbacena".


O Congresso do Estado decidiu-se pelo segundo local.
Finalmente, o ilustre biografado, depois dessa co-
missão, foi Diretor Geral dos Correios, Diretor do Ban-
co da República do Brasil e Deputado Federal pelo Es-
tado do Pará.
Organizada por um profissional da capacidade dêsse
que acabamos de descrever, dirigida por uma diretoria
da qual era êle o presidente e vogais homens da respeita-
bilidade do Barão de Penalva, Júlio Benedito Otoni e
Francisco José Ribeiro e com uma comissão fiscal com-
posta das figuras honradas do Barão do Mearim, enge-
nheiros Raimundo de Castro Maia, Manoel Buarque de
Macedo, Amarílio Vasconcelos e bacharel Cipriano José
Veloso Viana, a "Companhia Geral de Melhoramentos do
Maranhão", logrou um verdadeiro Sucesso no seu lança-
mento na praça do Rio de Janeiro, onde ia ter a sua sede,
apesar do vulto do seu capital social de 25 000 000$000
. .

de réis.
Decorridos dois dias após a sua instalação a 15 de
janeiro de 1891, o Dr. Aarão Reis telegrafava do Rio ao
Barão de Penalva no Maranhão :
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO
Melhoramentos lançada sucesso
do rn^rr^'^ espUndu

Não era para menos. Além de ser


incorporada pela
Empresa Industrial de Melhoramentos
do Brasil" que
era entidade de larga projeção na
praça, trazia, nó seu
lastro de garantias efetivas aos
acionistas, vantajosas
concessões de serviços federais, contratados
com aquela
Empresa e com o próprio Aarão Reis, as quais
havia ad-
quirido por escritura pública de promessa
de venda.
Em 29 de abril do mesmo ano de 91, o "Diário do
Maranhão" transcrevia da "Gazeta de Notícias", do Rio,
uma notícia em que dizia terem sido assinados na secre-
taria do Ministério da Agricultura os têrmos de transfe-
rências em virtude dos quais tornou-se a futurosa "Com-
panhia Geral de Melhoramentos do Maranhão", cessio-
nária e proprietária dos contratos firmados com o Govêr-
no Federal para a reahzação dos seguintes importantís-
simos melhoramentos materiais no Estado do Maranhão :

"1° —Estrada de Ferro de Caxias a Cajàzeiras, medindo


cerca de 80 quilómetros, com privilégio por 70 anos, isenção de
direitos de importação para os materiais de construção e cus-
teio, e garantias de juros sôhre o capital correspondente a 30
contos de réis por quilómetro.
"2° —
Estrada de Ferro de Caxias até o Araguaia, medin-
do cerca de 700 quilómetros de extensão, com privilégio por
60 anos, sem reversão, isenção de direitos de importação para
os materiais de construção e custeio, concessão de terras de-
volutas existentes na zona privilegiada, e garantia de juros sô-
bre o capital correspondente a 30 contos por quilómetro.
"3." —Obras de melhoramento do pórto da Capital do
Estado, com todos os favores das leis de 1869, o que importa
para o pórto em questão juros garantidos, superiores a 6*lt
para capital que for empregado nas obras.
"4.° —
Dois engenhos centrais para o fabrico de açúcar
de cana, com garantia de juros sóbre o capital de 1 500 contos,
necessários para o estabelecimento dessas fábricas.
"5.° —
Quatro saladeiros centrais para o preparo de xar-
que e mais produtos similares e congéneres, com privilégio de
10 anos, para todo o Estado do Maranhão, iserição dos direi-
88 JERÔNIMO DE VIVEIROS

tos de importação para os maquinismos à construção de tais


estahelecimentos e fábricas anexas e dos direitos de exportação
para os produtos manufaturados que tiverem de sair para os
mercados estrangeiros.
"6.°— Localização de 3.000 famílias de imigrantes, com
todos os favores do decreto n.° 528, de 28 de junho de 1890."

Depois desta explanação, o noticiarista acrescentava


êstes informes :

"Os estudos definitivos para a Estrada de Ferro Caxias a


São José das Cajàzeiras só dependem de aprovação do Govêr-
no Federal, tendo acusado um desenvolvimento de quase 78
quilómetros e preço médio quilométrico inferior a 31 contos.
"Dentro de 30 dias, deverão ser começados os estudos pa-
ra a estrada ao Araguaia.
"Qualquer dia destes, serão iniciados os estudos para as
obras do pórto, sob a direção do Dr. Fábio Hostílio de Morais
Rêgo.
E arrematava a gazeta do Rio:
"Com tão preciosos elementos, esta companhia há de ser
forçosamente uma das de maior futuro de quantas têm sido
organizadas ultimamente nesta praça".

Cercou-se Aarão Reis de homens de probidade ili-


bada e competência incontestável para os cargos de che-
fia nos serviços que a Companhia se propunha executar
no Maranhão engenheiro Fábio Hostílio de Morais Rê-
:

go, para Superintendente Geral e diretor das obras do


pôrto; Dr. Pedro Nunes Leal para secretário da empresa;
Dr. José Francisco de Viveiros para chefe da seção agrí-
cola e de colonização e Sílvio Nava para gerente dos en-
genhos centrais.
Mas antes da grande emprêsa iniciar seus trabalhos,
sofreu ela o seu primeiro desastre, o màior de todos, que
lhe diminuiu a capacidade de ação, pelo tempo em fora.
Foi o caso de não conseguir que os acionistas atendessem
a segunda chamada para a coleta de 10"/o de capital se
não nos 2/3 de seu número. Motivara a abstenção a for-
midável crack, estabelecido na praça do Rio, em conse-
quência de haver atingido o ápice o desenfreado jôgo da
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

bolsa. A diretoria da Companhia fez tôdas


as concessões
possíveis aos possuidores das 39.735
ações em falta mas
o pânico era tal que êles preferiram
perder o capitai em-
pregado, na importância de 794.700$000.
Daí por dian-
te, o mercado monetário no país
não mais permitiu as
chamadas restantes, o que lhe restringiu o capital a cêr-
ca de 3.200 contos. Pensaram, então, os diretores
num
empréstimo externo, de 400.000 hbras, em Londres, e
disso encarregou a firma de José Pedro Ribeiro & cia.,
da praça do Maranhão. A revolução da Armada, porém
retraindo os banqueiros inglêses, obstou-o.
E como se não lhe bastassem êsses revezes, veio-lhe
ainda um prejuízo no jôgo da bolsa que a diretoria con-
tou desta forma no seu relatório :

"Iniciando sua missão em uma quadra de verdadeira fehre


de que ofereciam lucros consideráveis, fáceis e prontos
títulos,
— tendo à sua disposiçã.o alguns capitais que teriam de ficar
imobilizados em um hanco até que fossem lentamente conver^
tidos em obras e trabalhos —
desejando também, proporcio-
nar a seus acionistas alguns lucros imediatos que lhes dessem
paciência para aguardar o resultante do emprego do respecti'
vo capital, não podia a Compofnhia furtar-se ao irresistível
arrastamento para tais negociações e de fato adquiriu, como
tôdas as outras, alguns títulos, visando transferi-los com ágio
e beneficiar-se com as diferenças.
"E nesse mesmo propósito, então louvável, empreendeu
a incorporação de uma modesta Companhia.
"Infelizmente, tais negociações não lhe surtiram os dese-
jados e esperados proventos; mas, ao menos, a lição serviu-lhe
de dolorosa e eficaz experiência para pô-la ao abrigo da ver-
dadeira fascinação que, sôbre os capitais disponíveis, exerceu,
no último quartel do ano findo, o jôgo dos debentures e re-
porfs. De modo que, se tem a Companhia diminuta parte de
seu capital empregada em títoilos que, não obstante de primei-
ra ordem, não podem ser, por enquanto, transferidos sem
algum prejuízo, não arriscou a mínima parcela nos tão sedu,-
tores negócios dos reports e debentures, nos quais d procura
de lucros fabulosos, muitas emprêsas encontram inevitável
naufrágio.
"Acresce que, mediante pequeninas mas seguras transfnrma-
mações, conseguiu a Companhia aumentar os lucros anuais que
90 JERÔNIMO DE VIVEIROS

lhe proporcionavam os modestos juros de suas contas correntes,


de modo a quase equilibrar as despêsas gerais, sendo pequeno o
deficit.
"E este desapareceria, fechando-se, ao contrário, com sal-
do considerável o balanço que ora vos é apresentado, se nele
tivesse a diretoria podido incluir as verbas, cujo recebimento
depende ainda de decisão do Governo, se bem que sobre algu-
mas não pareça restar dúvidas."

E cita a diretoria quatro parcelas na importância de


172 contos.
Todavia, em começos de 1891, todos os chefes de
serviços da Companhia de Melhoramentos do Maranhão
estavam a postos Fábio Hostílio batendo a primeira es-
:

taca da construção da linha-férrea de Caxias-.Cajàzeiras,


cujo orçamento de 2 419: 000$0G0 feito na base de
.

30 000$000 por quilómetro o Govêrno Federal já havia


.

aprovado, abrindo a picada do trecho Caxias - Pedreiras,


da Tocantina e iniciando as obras do pôrto de São Luís;
Viveiros adquirindo os engenhos Pindaíba e Itabira, que
seriam transformados em engenhos centrais; e Nava
fundando as futuras safras dêsses engenhos.
Foi por êsse tempo que surgiu a questão sôbre a
construção da estrada de ferro ligando Caxias às mar-
gens do rio Tocantins, passando por Pedreiras e Grajaú.
Era ela concessão do Govêrno Federar ao Dr. Aarão
Reis, que a transferira à Companhia de Melhoramentos.
Mas aconteceu que o Governador do Maranhão Dr. —
Lourenço de Sá, havia decretado em outubro de 1890,
autorizado pelo Congresso Legislativo do Estado, várias
concessões no mesmo sentido, naquela zona, a outras pes-
soas Leontino Francisco Ramos, do Codó a Pedreiras;
:

José Pedro Ribeiro, de São Luís a Rosário; Henrique Del-


fim Guimarães, de Rosário a Caxias.
A picada do primeiro trecho da Tocantina deu lu-
gar a um protesto de Leontino Ramos, por seus procura-
dores Trajano Valente & Cia. Fábio Hostílio contrapro-
testou-lhe, alegando estar a zona da concessão de Ramos
incluída na da Companhia. Travou-se polémica a respei-
f

HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO


91

to. Os concessionários apelaram para o Govêrno do Es-


tado. José Viana Vaz, na curul governamental maranhen-
se, como seu primeiro vice, consultou
telegràficamente
ao Ministro da Agricultura .

"Ministro Agric^uXtura.

"Têm aparecido sérias reclamações contra concessão Aarão


Reis.De acordo decreto 524 de 26 junho, meu antecessor havia
concedido diversos cidadãos estrada zona ora concedidas aquê-
le engenheiro. Todos julgam-se prejudicados, seus direitos
ofen-
didos. Alguns concessionários têm feito despêsas estudos. Te-
nho-me visto embaraçado dar qualquer resposta. Peço me habi-
liteis a fazê-lo.

Viana Vaz
Vice-Governador
"Governador Maranhão:
"Estrada concedida engenheiro Aarão Reis, de Caxias o
Araguaia, faz parte integrante tronco principal norte plano ge-
ral viação férrea República, destinados ligar capitais Estados
Capital Federal. Ê, portantOi, competência exclusiva gover-
no federal em virtude parágrafo único artigo primeiro decreto
número 524 —
26 junho corrente ano. Concessão feita basea-
da nesse plano. Não há fundamento reclamação de interêssses
privados contrários aos gerais dêsse Estado e União.
"Concessionário oferece completa idoneidade para sucesso
empreendimento, para cuja realização organiza já grande
companhia nacional que será lançada qualquer destes dias.
Concessões feitas govêrno local não oferecem garantias sufi-
cientes para congregação tão avultados capitais.
"Publique esta resposta.
Glicério."
Ministro da Agricultura:
"Em vista vosso telegrama de ontem, devo declarar sem
nenhum efeito, como meio eficaz pôr têrmo reclamações, con-
cessões feitas meu antecessor, que são afetadas pela conces-
são feita Aarão Reis? Peço urgência resposta para publicá-la
com telegrama, como determinais."

"Viana Vaz
Vice-Governador."
Governador Maranhão:
"Ao vosso telegrama de ontem respondo que sim."
Glicério."
92 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Comentando a deliberação do Govêrno Federal, a


"Pacotilha" — dizia haver sido ofendida a autonomia do
Maranhão.
O curioso do caso é que todos brigavam para serem
os construtores da via-férrea e acabou ninguém a cons-
truindo, nem mesmo a vencedora no litígio a Compa- —
nhia de Melhoramentos — que já estava sem recursos
para isso.
De fato, a partir dessa época, ela abandonou o pla-
no da Tocantina, bem como os dos saladeiros, dos núcleos
coloniais e dos engenhos centrais, ficando apenas com a
construção da estrada de ferro de Caxias a Cajàzeiras, cu-
jos trabalhos corriam céleres, e as obras do pôrto de São
Luís, construções vantajosas —aquelas pelas condições
citadas e estas pelas que passamos a enunciar :

1.° — Importância da taxa geral de 2% sôbre o va-


lor oficialda importação, que já orça atual-
mente em cêrca de 9 000 000$000 anuais e
. .

tende a elevar-se de ano para ano.


2° — Idem da taxa geral de iVo sôbre o valor ofi-
cialda exportação que já orça em cêrca de
4.000. 000$000 anualmente e tende a elevar-
se de ano para ano.

3. ° — Idem das taxas estabelecidas pela lei de 1869


e relativas aos serviços de acostamento, car-
ga e descarga, armazenagens, etc. etc.
4. ° — Idem das taxas de transporte pela via-fér-
rea das de
e pelò
trânsito canal.
5. ° — Idem dos proveninentes dos
lucros serviços
das capatazias e armazenagens da alfândega,
se tais serviços forem incumbidos à Compa-
nhia.
6° — Direito de desapropriar os terrenos proprie-
dades e benfeitorias particulares, que se a-
charem em terrenos necessários às obras.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 93

Em 1893, pairava no espírito do engenheiro-chefe


da concessionária das obras do pôrto da nossa Capital, a
dúvida do local em que êle ficaria melhor localizado —
São Luís ou Itaqui. Minuciosamente, estudou os dois pon-
tos, a fim de que o Govêrno Federal pudesse proceder
com acêrto a sua decisão. Parece-nos ser esta a primeira
vez que o Itaqui vinha à baila em. cogitações sérias.

Noticiando os dois estudos, a "Pacotilha" dizia, em


relação ao último :

"É êste pôrto um dos mais belos do Bxasil, só comparável


ao do Rio de Janeiro e acessível a tôdas as horas em qualquer
estado da maré, com área e profundidade suficientes para mi-
lhares de navios e do mais elevado colado.

"Abrigado pela Ilha do Mêdo, que lhe serve de atalaia,


tem franco acesso pelo canal do Boqueirão, entre aquela Ilha
e a do Maranhão, ou pelo canal ainda mais franco, entre aque-
la ilha e o continente.

"No plano, projeta o dr. Fábio Hostílio um cais e trapiches


para atracação dos navios, alfândega e a estação da ferro-via
que o deve ligar à Capital. Compreende a, ferro-via dois tre-
chos, um do Tamancão ao Itaqui e outro daquele ponto à cida-
de, com ponte sôbre ó rio Bacanga."

Decidiu-se o Govêrno Federal pela Capital - S. Luís.


E as obrasforam atacadas pela desobstrução do canal de
acesso e pelo prosseguimento do cais, começado em 1841
e que ainda não alcançara a Praia do Cajú, pois, o popu-
lar Euclides Faria dizia no seu tempo, como novidade :

"Também gostei n'outro dia


de passear pelo cais;
tapou-se tudo de areia,
a maré não entra mais;
quem vem lá do baluarte
e quer ir a outra parte
não precisa ir pela rampa,
porque, sem molhar o pé,
sobe a Rua dos Barqueiros,
vai sair atraz da Sé".
94 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Nesta morosidade caminharam os trabalhos da Com-


panhia até rescisão do seu contrato com o Govêrno da
União. De real, deixou-nos, no setor pôrto, o Cais da Sa-
gração, levado então, ao seu fim, na Praça Gonçalves
Dias.
E malogrou-se mais esta esperança de soerguimen-
to do Maranhão.
CAPITULO VII

A "Associação Comercial do Maranhão", seu grande secre-


tário MANOEL FRAN PAXECO >e suas representações
perante os Poderes da República.

as instituições que despenderam energia para o


soerguimento do Maranhão —
Fábricas, Banco
Emissor, Companhia Geral de Melhoramentos e
Associação Comercial, nenhuma como esta última o fez
por tempo tão prolongado e com maior esforço. Vinha do
regime monárquico o seu trabalho, e sem esmorecer,
sempre impávida, entrou pelo republicano.

É certo que os seus esforços pela prosperidade do


Maranhão convergiam também para a do comércio, mas
é inegável que neles havia não pouco desinterêsse pró-
prio e mesmo sentimentos patrióticos.

Era um trabalho hercúleo e continuado o que fazia,


amparado apenas pelo prestígio da classe que represen-
tava, pois ainda não cogitaria dos meios de tornar-se uma
instituição de recursos opulentos. Adiava, indefinida-
mente, êste problema financeiro, que julgava de some-
nos importância, diante dos encargos que se lhe apresen-
tavam.
:

96 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Assim, a Associação Comercial do Maranhão chegou


ao ano de 1891 em precária situação financeira, que to-
cava ao ridículo, como demonstra o seu balanço anual,
aprovado pela comissão fiscal

Despesa

Pago ao empregado Marcírio Oliveira,


seu ordenado de janeiro, fevereiro, março
até 16 de abril 105$000
Idem ao empregado Manoel Rodrigues
Valente, seu ordenado de 16 de abril a 31 de
outubro 195$000
Idem empregado Artur Guimarães,
ao
seu ordenado de 1.° de novembro a 31 de de-
zembro 60$000
Idem à tipografia da Pacotilha, por im-
pressão do relatório de 1889 50$000
Idem à João de Aguiar Almeida & Cia.,
sua conta de livro, papel, etc . . 33$000
Idem à Moura Filhos & Cia., sua conta
de 1 botija de tinta . $900
Idem Rodrigues & Cia., sua
à Corrêa
conta de papel e penas 9$200
Idem ao tesoureiro Raimundo Archer da
Silva 261 $640
Idem
à Crispim Ssntos &
Cia., por 6 ma-
ços de velas 3$600
Idem a Jaime Pinto Carneiro & Cia., por
aluguer de lanternas 3$400
Idem à Cunha Santos & Cia., por aderiça
para a bandeira 3$200
Idem à João Henrique Martins,^ por co-
locar aderiça em um mastro 6$000
Idem por telegrama a Crispim, recebido
do Pará 27$340
Idem por despesas miúdas 23$400
Idem à Companhia Confiança, aluguel da
casa, de 1/1 a 31/12 200$000
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
97

Receita

Recebido de anuidade de 64 sócios a


10$000
640$000
Idem de 6 a 30$000 ....
. . . \
,
'

" ' 180$000


Idem de 1 a 20$000 [[ "
20$000
Idem pela venda de um armário 20$000
Idem do tesoureiro por empréstimo para
auxiliar o custeio da Associação
61$720

921$720
31/12/1890.

Comissão Fiscal

José Pedro Ribeiro


José Inácio Fernandes
José Manoel Vinhais

Nadaobstante, essa escassez numerária não impediu


a Associação Comercial de agir, pronta e enèrgicamente,
sempre que se fazia mister, sobretudo, depois que teve
a sua secretaria dirigida e reformada pela formidável
capacidade de trabalho e aprimorada cultura de Manoel
Fran Paxeco.
Escrevendo para uma geração de maranhenses que
D não conheceu e ignora-lhe os serviços prestados em
Qosso benefício, faz-se preciso consagrar-lhe aqui os tra-
jos biográficos, não só para seguir a praxe observada pe-
la Associação em rememorar os trabalhos de tão dedica-

do colaborador, se não também para maior clareza dêste


2studo.
Depois de Martinus Hoyer, dinamarquês de nasci-
[nento, sôbre cuja personalidade nos ocupamos, com de-
:alhes,no 2° volume desta obra, foi Fran Paxeco o es-
:rangeiro que mais elevada soma de serviços prestou à
lossa terra.
Dava-nos, espontâneamente, sem visar as recom-
Densas, sem colimar interêsses.
98 JERÔNIMO DE Vlv^EIROS

Metódico, assombrosamente ativo, resistente como


poucos, Fran, que aqui aportou aos 26 anos de idade, em
2 de maio de 1900, dedicou ao Maranhão o melhor de sua
inteligência e o melhor de seu esforço. Naturalmente, a
princípio, foi a isso levado pelo seu temperamento labo-
rioso e fecundo, depois, pelo amor que a terra lhe inspi-
rou. Não se julgue que as suas posses lhe permitiam êsse
desprendimento pelas recompensas materiais, que êle
como homem pobre vivia do fruto do seu trabalho. É que
não tinha em conta êsse fator, quando entrava em jôgo
o progresso maranhense. E era animador, e era confor-
tante, então, vê-lo dedicado de corpo e alma, todo entre-
gue ao empreendimento que se tentava. Prová-lo não é
difícil; basta recordar-lhe a vida.

Na cidade de Setúbal, à beira do Sado, nasceu Ma-


noel Fran Paxeco, em 9 de março de 1874. José Anastá-
cio Paxeco e Carolina Amélia Paxeco foram seus pais.
Numa escola municipal e num colégio de jesuítas da sus
cidade natal estudou instrução primária. O curso secun-
dário fez na Casa Pia de Lisboa, destinada aos órfãos de
pai, dos 10 aos 14 anos de idade. Regressou, então, à Se-
túbal onde se empregou numa conservatória, cujo aju-
dante era o diretor da "Gazêta Setubalense". Neste jor-
nal ensaiou os primeiros vôos de jornalista. Gostou tantc
do ofício que fundou um jornal seu — o "Elmano", em
junho de 1890, quando tinha apenas 16 anos. Neste ano
entrou para o exército, que deixou em 1894, para ir sei
o redator político da "Vanguarda", a mais incendiária
das fôlhas portuguêsas da época, e orientar os semaná-
rios "Montanha", de Trancoso, e "Cezimbrense". Um ar-
tigo exaltado da "Vanguarda", secundado pela "Monta-
nha", deu lugar a que o Govêrno mandasse processar a
Fran Paxeco, sujeito ainda ao fôro militar como reser-
vista, pelo que resolveu êle exilar-se.

Eis como no "Sangue Latino", livro de sua autoria,


o caso é contado pelo próprio Fran, sob o pseudónimo de
Viegas Guimarães :
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

"É trivial a causa do nosso exílio. Moveu-o uma


vulgar
querela jornalística e um vulgarísmo chinfrim. A querela
ha-
seou-se em preadivinhadas injúrias ã loura pessoa de
sua ma-
jestade fidelíssima. O chinfrim promanou de hipotéticos
agra-
vos ao rubicundo comando das augustas guardas municipais.
C jornal acusado dá pelo nome d'" A Montanha" e penetra nas
mercearias dos beirões penhascos de Trancoso; o indivíduo
peado pelas injustiças pseudominava-se Brissos Galvão. O
monarca chamava-se Carlos Simão de Bragança, afora o res-
tante; o general é conhecido por Antônio Abranches de Quei-
roz. O tumulto ocorreu na redação do vermelho diário "A Van-
guarda" e foi originado pelo médico militar Duarte Egas Pinto
Coelho, esposo de uma filha do referido brigadeiro, o qual se
estribou numa enigmática local inserta no famoso órgão lis-
boeta. Éramos autores e declaramo-nos"

No prefácio do mesmo livro —


"O Sangue Latino",
Teixeira Bastos, esclarece o episódio:
"Expulso do nosso meio, emigrante, fugitivo, o autor de-
majidou o Brasil, que sempre foi e continua sendo para nós,
apesar da guerra brutal que lá nos move o jacobinismo dos na-
tivistas, uma segunda pátria. Não foi o espírito de aventura,
nem o desejo de fugir ao serviço militar, nem^ tão pouco a mi-
séria — causas principais da nossa emigração —
que o leva- ,

ram a abandonar a sociedade portuguêsa; mas um incidente


devido ao seu ânimo irrequieto, as suas tendências de revolu-
cionário, um delito de imprensa classificado de ato de indis-
ciplina, praticado num instante de esquecimento de que ain-
da estava, apesar de ter deixado a vida militar, sob a alçadc.
dos conselhos de guerra. Entre apodrecer num calabouço infec-
to e emigrar, optou Francisco Paxeco pela segunda proposi-
ção do dilema e sob um nome suposto partiu em viagem de re-
creio para a Andaluzia, donde, na primeira ocasião que se lhe
ofereceu, se transportou diretamente para o Brasil". (455)

Depois de haver trabalhado na casa comercial de


Soto Maior & Cia. no Rio de Janeiro, de dirigir uma li-
vraria, em Manaus, e exercido as funções de redator
da
"Fôlha do Norte" e outros periódicos, em Belém, Fran
passadc
veio ao Maranhão, atraido pelo brilho do nosso
literário, que de longe o fascinava.

(455) - Joaquim Vieira da Luz - "Fran Paxeco c as figuras maranhenses",

p. 84. Edições Dois Mundos.


Rio de Janeiro — 19o7.
100 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Para logo, engolfou-se na nossa mocidade, que, des-


pertada por Coelho Neto na sua visita dé" 1899 e dirigi-
da por Antônio Lôbo, então, se aparelhava para as lides
literária. Em pouco, tornou-se o seu conselheiro e ami-
go incomparável.
Estava Fran todo absorvido nesses afazeres, quando
Manoel Inácio Dias Vieira, a quem Pedro Freire, mara-
nhense, residente em Manáus, o recomendara, reconhe-
cendo-lhe a capacidade de trabalho, convidou-o para
dirigir a secretaria da Associação Comercial.
Fran aceitou o cargo. Para a Associação, era êle
uma belíssima e útil aquisição; era o homem que lhe fal-
tava organizador, laborioso e culto. Em breve tempo,
:

conhecia como poucos os nossos fenómenos económicos e


começou a publicar no jornal "Pacotilha", semanalmen-
te, com uma regularidade de pasmar, uma série de arti-
gos, sob o título "Questões Comerciais", que passamos a
enumerar O algodão —
o açúcar —
a maniçoba —
os
— — —
:

transportes o protecionismo as comunicações a


cabotagem — a estatística —
a navegação estadual —
as fibras — as pequenas indústrias —
a bananeira —c
arroz —
a estrada-férrea
— —
o pôrto

o cacaueiro —
feijão, milhe
a Companhia de Melhoramentos dc
e sal
Maranhão — o lendário furo do Arapapaí, —a carnau-
beira — —
o cânhamo o café e o fumo —
o projetado
pôrto do Itaqui e o mais que se projeta para inglês ver.
Formariam êstes artigos, mais tarde, com o título
"Os Interêsses Maranhenses", um dos livros da sua bi-
bliografia.
De fato, foram reeditados em livro, em 1904, sob o
patrocínio dos comerciantes João Alves dos Santos, Cân-
dido José Ribeiro, Henrique Bastos, Crispim Santos e
João de Aguiar Almeida.
Referentes aos problemas do Maranhão, seguiram-
Ihe, com o decorrer dos tempos, as obras "Os Recursos
:

Maranhenses", "O Trabalho Maranhense", "O Mara-


nhão" e a "Geografia do Maranhão", que é dividida em
três partes —
física económica e administrativa.
,
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO
101

Sao todos eles livros excelentes,


utilíssimos para o
estudo da nossa economia, nos quais
não se perdem uma
so informação, nem um só conceito,
mas que se acham
infelizmente, de edições esgotadas.
Mas de todos os serviços prestados por Fran Paxeco
ao Maranhão nenhum se compara ao que nos
fez, promo-
vendo, com entusiasmo, a célebre assembléia da
Asso-
ciação Comercial, de 14 de agosto de 1903, da
qual ad-
veio a Estrada de Ferro São Luís - Caxias, iniciativa
de
que muito se orgulhava.
Depois de tomar parte, a convite do Coronel Tau-
maturgo de Azevedo, na comissão que foi fundar a Pre-
feitura do Alto-Juruá, onde contraiu grave enfermidade,
Fran voltou ao Maranhão.
Restabelecido, dedicou-se, então, ao professorado,
lecionando português, aritmética, geografia, história, li-
teratura e francês. Quase tôda a Escola Normal freqúen-
ta-lhe as aulas.
Em 8 de setembro de 1910, casou-se com d. Isabel
Eugênia de Almeida Fernandes, moça de primorosa ilus-
tração e do consórcio teve uma filha —Elza.
Já por êsse tempo, Fran tinha entrado para a reda-
ção da "Pacotilha", jornal político, onde trabalhavam
José Barrêto, Clodomir Cardoso, Luso Torres e Agosti-
nho Reis, e era o de maior circulação.
Proclamado o regime republicano em Portugal,
Fran foi nomeado cônsul de carreira no Maranhão (24 -
8-1911). Promoveu-lhe a nomeação o grande sociólogo
Teófilo Braga, Chefe do Govêrno Provisório, de quem
era êle amigo dos mais afetuosos e dedicados, conside-
rando-o o Mestre dos Mestres.
Daí por diante, Fran divide a sua pasmosa ativida-,
de entre o Consulado Português e os interêsses mara-
nhenses. Continuou, em relação ao l^íaranhão, o mesmo
amigo. Não lhe arrefeceu o ardor no que nos dizia res-
a
peito. Assim como o vimos no passado, organizando
pro-
"Oficina dos Novos", colaborando na solução dos
propugnando tenaz-
blemas da Associação Comercial,
102 JERÔNIMO DE VIVEIROS

mente pelos nossos interêsses económicos na imprensa,


ocupando a tribuna de conferencista literário, vamos vê-
lo agora fundando o "Instituto de Assistência à Infân-
cia", o "Casino", a "Faculdade de Direito" e promoven-
do o "Congresso Pedagógico".
Proclamam-no, os seus contemporâneos, possuidor
dessa capacidade de labor eficiente e inteligentemente
dirigida :

"Homem de ação pronta, sempre, "diz LtLSo Torres," não


adia para amanhã
o que hoje pode fazer, e é admirável como,
no meio de tôdas as suas ocupações, desde as de simples etique-
ta social até as da representação consular, desde a de jornalis-
ta ativo as de professor e animador da mocidade, divide as suas
horas de lahor e nunca lhe falta o tempo para nada, nem se-
quer para o desporto do bilhaV, com os seus amigos. E não
sobe o que é cansaço, quando o dever o impele. Nunca se aba-
teu ante as situações mais difíceis. Ê um forte, que ama o tra-
balho e detesta as hesitações, as dubiedades". (456)

Alfredo de Assis não pensava de outra maneira só-


bre a personalidade de Fran. A seu respeito, escreveu a-
Ihures :

"Basta vos recorde que se trata de um homem cuja vida


ativa assumiu proporções nada comuns, cuja força de vontade
pode ser assemelhada a um' jorro d'âgua abundoso e perene e
também àquela "Grande Árvore", solene e dominadora, can-
tada por Alberto de Oliveira em versos maravilhosos que o
gente nunca mais esquece. E não haverá decerto quem, de eS'
pirita bem orientado, imagine que isso é pouco, porque is^o, em
verdade,é quase tudo. A vontade é a faculdade do homem
consoante lhe chama, com tôda justeza, o Barão Fouchtorele-
ben. E essa faculdade em tanta marteira dignificadora, tem-na
Fran Paxeco em gráu admiràvelmente desenvolvido, o que
explica a sua existência de trabalho incessante e fecundo, a
confiança que o alenta na eficácia de todo o esforço bem orde-
nado, a fortaleza com que há transposto as barreiras que no
itinerário lhe hão surgido, muitas vezes das mais difíceis âe
vingar". (457)

(456) — Joaquim Vieira da Luz — Obra cit. p. 95.


(457) — Joaquim Vieira da Luz — Obra cit. p. 97.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 103

Fran deixou-nos, definitivamente, em 1922, trans-


ferido para o consulado do Pará, donde passou para o de
Cardif, na Inglaterra.
No exercício de suas funções de cônsul, depois, a-
posentado, Fran viveu na Europa até 1952, quando fale-
ceu em Lisboa.
Do valor dos trabalhos da Associação Comercial do
Maranhão, examinados através das suas representações
aos Poderes da República, no tempo em que êle foi di-
retor da secíetaria, são documentos demonstrativos,
além de outros, que oportunamente, havemos de men-
cionar, os seguintes :

No tocante aos serviços aduaneiros, a nossa Associa-


ção Comercial dirigiu ao Ministro da Fazenda, em julho
de 1900, esta representação :

"A Associação Comercial do Maranhão como intérprets


direta dos interêsses do Comércio deste Estado, ousa dirigir o
V. Ex° uma justa reclamação, que tem por fim único garan-
tir os seus direitos e o bem estar da população maranhense.
"É intuitivo que, sem um bem montado serviço alfande-
gário, praça comercial alguma consegue viver normalmente.
Desde que a repartição aduaneira, por falta de pessoal ou
qualqtier outro motivo, deixa de corresponder ao
seu intuito,
comerciantes e os consumidores sofrem gran-
claro está que os
Capital, no entanto, se V. Exa. atender a
nossa
demente. Nesta
exposição, como cremos, esses prejuízos cessarão
com o máxi-
ma rapidez.
Maranhão, que
"O quadro dos empregados da alfândega do
acha-se extraordinÁrta-
deveria manter-se em plena aUvidade,
providências do inspe-
mente desfalcado. De pouco servem as
que diariamente pror-
tor interino, sr. José Maurício da
Silva,

hora regulamentar do expediente. Os louváveis esfor-


roga a
impotentes para suprir a mais
ços do digno funcionário sáo
de pessoal. Basta dizer que de
trmtae
que sensível carência
e um prr-
seis empregados,seu número total, um conferente
um terce^
Zirres Jturário faleceram, andam em licença
guarda-mor c com
Escriturário, um quarto e o
ajudante de
servindo em comissão, em
^^r^e de doente o porteiro; estão
:.rrra/repartiçõe
.wiro Dos
J
insp^^^^^ os dois chefes
escriturário. dois contínuos
d-^^^/^;-
^^'^fj^'''
quase xnuUlizado para o tra
e o outro
mo, conforme dissemos,
JERÔNIMO DE VIVEIROS

halho. Não pode haver maior redução, segundo Y. Exa. verifi-


ca, num quadro já de si exíguo, verdadeiramente insuficiente
para o crescente e animador movimento alfandegário dêste Es-
tado. E como se não fôsse bastante desalentadora a instabilida-
de observada na repartição burocrática, presenceamos uma in-
suficiência ainda mais profunda na capatazia que apenas con-
ta cinqiienta trabalhadores, dos quais metade é distraida em
serviços menores, quando todos reunidos não chegam para en-
frentar a\ faina das descargas.

"Outro mal, que nos prejudica imensamente é o da im-


prestabilidade manifesta da ponte da alfândega. É estreita c
curtíssima. Nela não pode funcionar mais do que um guindaste.
Êstes aparelhos exigem imediatos reparos, particularmente um
deles, que se encontra num estado miserando.

"A ponte dos inflamáveis, por sua vez, é completamente


nula. Feita de madeira ordinária, assente sobre colunas de car-
naúba, acha-se radicalmente danificada. Não suporta o funcio-
mento de um guindaste. As descargas, por esta evidente razão,
tornam-se impossíveis. As mercadorias são arrojadas tumul-
tuaricmente. Nas marés baixas a descarga fica paralizada e
nas altas arruinam-se ou estragam-se os géneros, em] particular
o petróleo, que se derrama, causando enormes perdas.

"Por esta sucinta exposição comp-^eende V. Exa. claro,-

mente a tristíssima situação da praça comercial do Maranhão,


sujeita a tôda ordem ãe lesões e contratempos, padecendo nns
seus compromissos e no seu giro existencial. E tudo isto con-
tudo, se remediará prontamente, se V. Exa. se dignar atende-'-
as nossas razoabilissifmas reclamações, que não podem ser
mais modestas.
"A última lei do orçamento marca uma verba geral para
melhoramentos nas alfândegas nacionais. Mas para a do Mara-
nhão, até hoje, ainda não foi consignada soma alguma de be-
neficiação, certamente por não terdes conhecimento das impe-
riosas necessidades que nos assediam.
"Nem mesmo se pode alegar que o Maranhão desmerece
da atenção instante do poder central, porque, a sua contrib^ii-
ção para as despesas gerais impõe-se no seu clariss/mo desen-
vohnmento. Uma ligeira referência demonstrativa da renda
no primeiro semestre de 1899, comparada com a de igual pe-
ríodo em 1900, comprovará a grande justiça do nosso pedido.
Em 1899, produziu a alfândega dêste Estado, no citado prazo,
2 :528 .250S187 réis. Diferença para mais, no ano corrente,
235.459$524 réis.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO lOõ

tado
"É em demasia ponderável, como

tmrá o melhor dos argumentos em


V. Exa. vê êste re^n^
Acreditamos que êle, na sua singela
nosso favor
"Onde há algarismos são demais as
eloc^T
palavras, porque êl^s
' ^
possuem a maror e mais concludentes
das supremacias Aguar •
damos, por tsso, do vosso provado
amor à causa pública a i/,-
gente solução que o sacrificadíssimo
comércio maranhense an-
siosamente reclama". (458)

Ao mesmo Ministro era, logo depois,


dirigida
s esta
ebid
outra representação :

Associação Comercial do Maranhão,


^^w.w representando os
múltiplos interesses do comércio
desta praça, vem novamente
reclamar perante V. Exa. sôhre assunto
que de perto o afetam.
Ires questões se acham agora aqui
emaranhadas qual
delas mais importante, porque
todas lesam altamente o comer-
CIO,

"A primeira contende com a exigência feita pelos


agentes
de vapores, de faturas consulares, o que
importa num gasf'j
injusto de cerca de IO»lo sôhre o valor da
mercadoria. Devemos
notar, todavia, que êste pedido é realizado
somente pelos a-
gentes .das' Unhais de Portugal.
"Esta exceção ainda mais clamorosa torna a imposição
de
fatura consular, porque não atinamos com os motivos
justifi-
cativos dêste estranho procedimento.
"A segunda,
tão melindrosa ou mais do que aquela, refe-
re-se è cobrança indébita do sêlo proporcional por todos os
cheques em ouro, que parcelarmente se passam. Esta prática
afigura~se-nos abusiva, porque no Pará e no Amazonas, pelo
menos, há mais equidade ou seja verdadeira justiça na execu-
ção dêste serviço. Nesses Estados não existe semelhante sêh)
e sim exclusivamente o pagamento legal, na ocasião em que
se resgatam os vales fragmentários em depósito. Somente en-
tão é que se embolsa o tesouro dessa contribuição, o que nos
parece mais racional e menos opressor das regalias comerciais.
"A terceira dúvida, origem de numerosos embaraços por
parte dos interessados, é a que concerne aos recibos dos divi-
dendos das campanhias aqui existentes. Os fiscais exigem o
sêlo fixo de 300 ré s sôhre quantia de 25$000 para cima, clas-
sificando como recibos de qualquer natureza, quando é certo

(458) — Fran Paxeco — "0 Maranhão e os seus recursos", ps. 66 — 69.


106 JERÔNIMO DE VIVEIROS

que essas emprêsas, pela sua organização especial, já vivevi


sujeitas ao impôsto de 2 112" lo sôhre o dividendo geral. leiA
do, orçamento, impondo êste ónus, preveniu qualquer outro sô-
hre as sociedades anónimas e companhias. Desta forma, a man-
ter-se essa incidência da lei do sêlo, as companhias ficarão du -

plamente oneradas, sendo indubitável que o recebimento dos


referidos dividendos não constitui transação comercial e sim.
um prémio do capital empregado. Pensamos por esta razão,
que as disposições recentes não discriminam suficientemente
este ponto, conforme conv>ém.

"As leis relativas aos três assuntos apresentam-se-nos


bastante omissas, em alguns lances até ininteligíveis. De ma-
neira que o comércio do Maranhão está debaixo do árbitro dos
respectivos intérpretes, os quais aliás ainda se não manifesta-
ram definitivamente. Vive-se em perpétua confu^são, o que ori-
gina dificuldades constantes e lamentáveis transtornos finan-
ceiros aos estabelecimentos locais, já sobrecarregados.

"Ousamos, por isso, levar ao conhecimento de V. Exa. es-


tas naturais apreensões, como órgão que somos da primeira a-
gremiação comercial dêste Estado, a fim de que o elevado e
com a possível bre
justiceiro espírito de V. Exa. providencie
vidade a cêrca das questões declaradas. Só a autoridade de
V. Exa., esclarecendo os funcionários federais desta capital,
poderá acabar por uma vez as irregularidades que apontamos
na aplicação dessas leis.

"O Maranhão, como V. Exa. observa, não pede mais do


que a sua equiparação aos Estados do Amazonas e do Pará noa
casos dos cheques em ouro e da entrega dos dividendos de
companhias —e o harmonia, a respeito das faturas consulares,
com o que preceituam os mais países, os quais nada exigem.
Parecem-nos soberanamente aceitáveis as nossas considerações.
E, se não fôsse a justiça que as ampara, nunca nos atrevería-
mos a redigir esta brevíssima exposição, que certamente mere-
cerá a V. Exa. a acostumadal atenção".

A respeito de transportes marítimos, a Associação


Comercial dirigiu ao Ministro da Viação, em 1 5-8-1 90C,
o seguinte ofício :

"A Associação Comercial do Maranhão, como constante


zeladora dos interêsses desta praça, ov^a dirigir a V. Exa., a
fim de expor um dos maiores travões do comércio local.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 107

"Fundamo-nos, ao fazer esta sucinta representação, n«


contrato existente entre o Govêrno Federal e a companhia u
que nos vamos referir. Não fora essa despesa dos contribuintes,
principalmente do corpo comercial brasileiro, subsidiando o
LOIDE, e não nos lembraríamos de incomodar os poderes pú -

blicos do país com semelhante reclamação.


"É sabido de todos, por todos conhecidíssimo, o péssimo
serviço do Loide Brasileiro, quanto ao tratamento e acomoda-
ções dos passageiros. Mas nem todos estão a par dos prejuízos
causados por essa emprêsa ao comércio nacional.
"Antigamente, antes da reforma do convénio do Loide com
o Govêrno, a companhia era obrigada a receber e entregar
mercadorias de cais a cais, responsabilizando ao mesmo tempo
pelas deteriorações sofridas pelos géneros. Hoje, êsse compro-
misso, ou é letra morta no contrato, ou, se nele foi consigna-
do, não tem a menor pratícabilízação.
"O Loide, julgando talvez cumprir os seus deveres de qua-
se monopolisador da nossa navegação de cabotagem, apenas se
compromete a conduzir a mercadoria de costado e cotasdo-
Chegada tudo ao ponto do destino, lançam os artigos em alva-
rengas e seguem a viagem sem mais se importarem com os es-
tragos que aparecerem e sem correrem por sua conta os gastos
restantes. O comércio é quem tudo perde e é quem tudo paga.
"Ora como V. Exa. compreende, é absolutamente in-
isto,
tolerável. Os gravames, além de extraordinários, são verda-
dão
deiramente injustos. Ao passo que estas irregularidades se
com o Loide, companhi(Á sem êmulos no seu imenso e contínuo
giro, a navegação estrangeira toma os
produtos de cais a cais
seu estado e acondicionamento até à
e responsabiliza-se pelo
satisfazer a ter-
entrega ao comerciante. O Loide, além de não
ça parte destas condições de segurança,
nem sequer indeniza
confiança das caixas, latas e barns
os que nele depositaram
volumes, que e vul-
arrombados e menos ainda pela falta de
garissma^^
cabotagem as
da lei que forçou a naturalização da
comerciais eram muito maiores. Concordamos intei-
garantias
essa patriótica lei. Mas, para
que de fruto e se
ramente com
que os que
torne um fato real, é necessário '^^H^m corre-
execução correspondam corre
seus ombros o encargo da sua
tamente aos seus intuitos.
era plena para as
"Noutros tempos, quando a liberdade
navegação, o comércio tinha o direito natura-
companhias de
agências que
lissímo de escolher e preferir as
as transações. Mas atualmente, ^^^^nZÍdos
embaraçados por
vor
assegurassem
sentem-se na dura contingência de
Ze decreto, os negociantes
108 JERÔNIMO DE VIVEIROS

socorrer-se dos meios que lhes faculta o Loide, sujeitando~se a


sua incúria e a sua carência de pontualidade, acarretando com
lesões insuportáveis, que representam um travão enorme ao
seu desenvolvimento. Outros fossem os transportes marítimos
e outra seria, por certo, a prosperidade nacional. Desta defici-
ência resulta um estacionamento lastimável.
"Estas verdades, expostas em tôda a sua singeleza, por-
que são do domínio de todo o comércio do Maranhão, como
do conhecimento prático do resto do Brasil, por certo provo-
carão a V. Exa. uma providência enérgica, no sentido de me-
lhorar êste relevante serviço, como já foi reformado o da Es-
trada de Ferro Central.
"Acreditamos que V. Exa., qué tantas provas tem prodi-
galizado do seu amor ao progresso do pais, valerá com o sen
zêlo prestimosíssimo à situação deveras angustiosa em que se
encontra o comércio brasileiro perante o Loide, que até hoje
tem cuidado exclusivamente dos interêsses particulares curan-
do pouquíssima das necessidades gerais.

"O comérco do Maranhão pede somente que, pelo novo


contrato, se acautelem os incessantes esforços, estabelecendo
claramente a obrigação de o Loide receber e entregar as mer-
cadorias de cais a cais, como fazem as empresas estrangeiras,
porque só desta maneira se conhecerão os responsáveis pelus
arrombamentos dos envólucros, danificações e faltas ev~dentes.
"É êste um pedido equitativo, que reverterá em bem de
tôda a República". (459)

Sôbre a momentosa questão do protecionismo, a As-


sociação Comercial dirigiu, em 18 de setembro de 1901,
aos membros do Congresso Federal, esta representação :

"A Associação Comercial do Maranhão, como representante


do comércio desta praça, toma a liberdade de vir a vossa presen-
ça nesta ocasião, em que se está discutindo o orçamento geral
da República, a fim de vos submeter algumas considerações,
inspiradas nos mais justos sentimentos de patriotismo.
"Não ignora s que a crise intensa e extensíssima que o País
atravessa neste momento é devida fundamentalmente ao exces-
so de produção de café e açúcar, que são os principais artigos
da lavoura nacional. Ninguém de boa fé dirá, por outro lado.

(459) — Fran Paxeco — "O Maranhão e os seus recursos" — ps. 57 — 60.


HISTORIA DO COM.r.C:0
DO MAHANHAO

neves, fatalmente se 1^°' '


tomard menor „ -

desoprimindo o pais do pêso


que o está asfixiando.
"^ào se atreve, porém, a agricultura
a agir no sentido tp,
taurador de praticar a valer
a policultura, plantaZo com
dancia tao necessários cereais, ahun
sem que uma razoLTl reforma
se opere nas pautas
alfandegárias, aumentando as
portaçao dos citados produtos. taxas de
Foi deste modo como sabl
Z
criando d.reitos quase proibitivos,
extremamente prot^^l
tas, que os Estados Unidos
Norte- Americanos e outras
elevaram, ao apogeu da riqueza naçõeTse
econômica-financeira. Somos
de opimao que, em tudo quanto
respeitara produção agrícola
todo o favor das leis será diminuto.
Podemos não concordar com
a proteção em tempo concedida à
indústrias exóticas, de difi-
cil aclimação no Brasil. Mas
a lavoura não incorre nessa pecha
porque pode produzir todos os géneros
alimentícios até hoje
importados, em larga escala.
"Não valerá, todavia, a pena experimentar essas culturas,
desde que não se conte com o apôio efetivo e
irrevogável das
tarifas. A lavoura proclama como regime
salvador a policultu-
ra, o único capaz de nos arrancar da dolorosa
situação econó-
mica em que nos encontramos. Mas o seu trabalho e
o seu es-
forço serão baldados, se umas equitativas concessões pautas
a
não patrocinarem, contra a concorrência estranha. Todo sos gran.
des países hastearam a bandeira do protecionismo. E Brasil,
o
se na indústria, em geral, não pode por ora arvorar o mesmo
programa, pode e deve sustentar na lavoura esse espírito de
emancipação, a fim de acabar de vez o estigma de colonial
que caracteriza a nossa vida económica. Precisamos essencial-
mente de duas cousas — prepa'^ar por nossas mãos o que co-
memos e transportar esses produtos com. facilidade a todos os
Estados, estabelecendo-se ligeiras e módicas permutas comer-
ciais. Da falta de carinho com a agricultura inferior e com a
navegação, promana igualmente uma boa parte da crise atual.
"A adoção dêste patriótico protecionismo, permitindo um
firme desenvolvimento de todos os géneros agrícolas, atrairá
por certo os capitais e braços estrangeiros de que tanto neces-
sitamos. Êsses capitais, e êsses braços, que agora vivem longe
110 JERÔNIMO DE VIVEIROS

dos nossos vastos campos, acorrerão imediantamente as nossas


feracíssimas plagas, quando lhes faltar o mercàdo que agora
exploram comodamente. Deu-se isto nos Estados Unidos. O
mesmo se dará no Brasil, por idênticas razões. E, de resto, o
nosso país é hoje o que mais garantias oferece aos imigrantes
e aos capitais estrangeiros. Assim nós nos empenhássemos em
chamá-los por meios de um sábio protecionismo pautal e du-
ma contínua propaganda!
"A vós compete, a bem dos interesses nacionais e do nos-
so reerguimento económico, como digníssimos Representantes
da República, aproveitando o ensejo que se vos depara na
discussão do orçamento geral, responder se estas nossas res-
peitosos ponderações merecem a atenção dos nossos juizes im-
parciais Ci retos". (460)

Outro documento que prova o esforço da Associação


Comercial do Maranhão, para debelar a crise económica
que então nos estrangulava, é êste ofício, dirigido à co-
missão revisora das tarifas alfandegárias, quando esta se
reuniu no Rio de Janeiro, em 1903.
Temendo a nossa Associação, não obstante a com-
petência daquêle órgão revisor, que dêsse trabalho saís-
sem novas escoras para o privilégio sulista, olvidando os
interêsses nortistas, resolveu fazer ouvir a voz da praça
de São Luís, e dirigiu-se, em 8 de julho do citado ano, à-
quela comissão nos expressivos têrmos que se seguem :

"Esta Associação toma a liberdade de enviar-vos o seu úl-


timo relatório e o folheto "O Maranhão e os seus recursos", on-
de vêm algumas representações da sua diretoria de 1900 sôbfe
o protecionismo alfandegário.

"Julga esta agremiação que a comissão a que dignamente


presides se :nsypirará num legítimo protecionismo intransi- —
gente e radical quanto a lavoura e ponderado quanto as in-
dústrias, pois só algumas destas, as já enraizadas, solicitam
um patrocínio incondicional.
"O melhor e mais fortificante dos protecionism^s, esclare-
cidas as atuais condições económicas do Brasil, consistiria num
auxílio direto às companhias de cabotagem, generalizando a

(460) — Fran Paxeco — "O Maranhão e os seus recursos" — ps. 51 — 54.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO III

tôdas as que se formarem com este intuito as mesmas garan-


tias do Loide, para que cesse o abusivo monopólio desta emprê-
sa por uma vez. Reclamam iguais subsídios as pequenas com-
panhias de navegação costeira. Seria o primeiro passo a dar
nesta cruzada ressuscitadora. O governo central, desde que li-
beralizasse ta!is subvenções, marcaria as taxas dos fretes, de
acordo com as Associações Comerciais do Norte e do Sul.
"Êste protecionismo, aplicado imediatamente, de envolta
com o que concerne à agricultura e às indústrias radicadas,
melhoraria consideravelmente a existência económica e finan-
ceira da República. Todos compreendem que na faciUtação dos
transportes —marítimos e terrestres —assenta o pedestal da
prosperidade mercantil de qualquer sociedade. Ora, as nossas
vias de penetração, caríssimas ef defeituosas na parte marítima,
são quase um mito em terra. Estradas de ferro, até hoje, s6 se
tem executado no sul. O extremo Norte vive há meio século de
planos, quanto a esses caminhos. Do Piauí ao Amazonas notam-
se avenas dois insignificantes trechos de vias-férreas — um,

de Caxias à Flores defronte de Teresina, no Maranhão e ou-


tro, de Belém a Bragança, no Pará.
"É doloroso ter de constatar semelhante deficiência. O ex-
tremo Norte permanece na mesma insulação terrestre de há
séculos, em pleno período colonial, a mercê de invasões estran-
geiras ou de veleidades separatistas.
"V. Exa., como digníssimo presidente da Comissão Reviso-
ra de Tarifas, bem poderá concorrer para que se inaugure um
salutar protecionismo e se inicie uma real união do pensamen-
do Sul, Centro, Norte e do Oeste.
to e dos interêsses
"Supomos que a rápida exposição acima exprime o sentir
comercial maranhense, para não dizer do Brasil".
CAPITULO VIII

A Nova mentalidade da juventude maranhense.


O feriado dominical. O Centro Caixeirál.
Suas lutas e seus triunfos

om a propagação do regime de govêrno republica-


no e seu advento no país, criou-se uma nova men-
talidade na juventude maranhense. A estrondosa
e surpreendente vaia com que os estudantes do "Liceu
Maranhense" receberam o Conde d'Eu, ilustre Príncipe
Consorte da Herdeira do trono, quando da sua passagem
pelo Maranhão em viagem de divulgação do chamado ter-
ceiro reinado, é uma prova dessa afirmativa.
A
renovação de idéias, abolindo velhos usos e rei-
vindicando novos direitos, avassalava todas as classes so-
ciais. A êste influxo não escaparam os numerosos auxi-
liares do comércio, cuja vida afanosa e um tanto humi-
lhante já descrevemos no capítulo XIV, volume I, des-
ta obra. Ninguém mais do que êles tinham tantas reivin-
dicações a fazer, notadamente o feriado dominical que
pleiteavam antes mesmo da república, e do qual tínha-
mos noção desde 1822. (461)

(461) — Leia-se ofício da Junta Governativa, era 10-5-1822,


ao Major Coman-
no Livro 17
dante Militar José Leandro da Silva e Sousa, a respeito,
Justiça e Segurança
do Arquivo da Secretaria dos Negócios do Interior,
do Maranhão.
114 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Assim, proclamada, a 18 de novembro de 1889, a


adesão do Maranhão à nova forma de govêrno, estabele-
cida no Rio de Janeiro, em data de 15 do mesmo mês, a
Junta Provisória, aclamada para governar o nosso Esta-
do, composta do Tte. Cel. João Luís Tavares, dr. Fran-
cisco de Paula Belfort Duarte, dr. José Francisco de Vi-
veiros, comerciante Francisco Xavier de Carvalho, Ca-
pitão João Lourenço da Silva Milanês, l^^s. Tenentes
Cândido Floriano da Costa Barreto e Augusto Frutuoso
Monteiro da Silva, apesar dos atropêlos decorrentes da
transformação do regime governativo, considerou medi-
da de inteira justiça baixar em 14 de dezembro, isto é,
vinte e seis dias depois de assumir a administração pú-
blica, êste decreto, que devia ser executado pela Comis-
são de Intendentes, nomeada também, naquela data pa-
ra substituir a Câmara Municipal de S. Luís do regime
decaído.
Dizia a Junta Provisória no mencionado decreto :

"Considerando que é legitima a pretensão das classes tra-


balhadoras de repousarem aos domingos;
"ConsMerando que tais dias são consagrados ao culto ou ao
descanso em todos os países civilizados;
"Considerando, enfim, que antigas posturas municipais,
e em especial nesta Capital, condenam e punem o trabalho que
os patrões' impõem a seus prepostos e operários,

Decreta

1. ° — É proibido expresssamente o trabalho aos domingos em


todo o Estado do Maranhão.

2. ° — Todos os em grosso e a retalho^


armazéns de comércio
quitandas e outros, conservar-
lojas, oficinas industriais,
se-ão fechados aos domingos sob pena de multa de
200$000 réis, aos donos dos estabelecimentos e mate
prisão por 15 dias em casos de reincidência.
Excetuam-se de tal regra os hotéis, restaurantes,
farmácias, padarias e açougues, estas duas últimas até o
meio dia.

3. ° — Ê igualmente proibido, sob pena de multa de 30$000


vender nos referidos dias e nas ruas e praças da cida-
HISTORIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 115
des e vilas do Estado,
quaisquer mercadorias de aual
quer natureza, inclusive doces,
,

sujeitas a mercância. oZÍ'


alfeloas, frutZ e ouiras,

Pena de prisão por 15 dias em caso de reincidência."

Masêste decreto da Junta Provisória


^ durou apenas
três dias porque aconteceu que, o dr. Pedro
Augusto Ta-
vares Júnior, primeiro Governador
nomeado para o nos-
so Instado, tendo assumido a
administração a 17 de de-
zembro, anulou, nesta mesma data, todos
os atos da Jun-
ta Provisória.
Decepcionados, os caixeiros não se conformaram
com este ato do Governo. Começaram a agir,
com respei-
to e atividade.
Em 21 de dezembro de 1889, o jornal "O Globo" in-
formou terem os interessados pelo feriado dominical pe-
dido ao dr. Governador o restabelecimento do decreto da
Junta Provisória que o instituía, e a "Pacotilha", no dia
seguinte, publicou, subscrito pelo pseudónimo de "Olím-
pia", êste artigo que transcrevemos para evidenciar o e-
levado nível mental a que já havia então atingido alguns
membros da nossa classe caixeiral

"Há pouco, quando se achava de posse das rédeas do Go-


vêrno dêste Estado, a Junta Provisória, composta de conspí-
cuos cidadãos, foi, muito naturalmente, expedido um decreto
com relação ao comércio desta praça, proibindo o trabalho
nos armazéns aos domingos e dias santificados.
"Embora, alguém por aí se manifestasse em perfeito de-
sacordo com êste ato de verdadeira justiça e moralidade, teve,
contudo, grande alcance e o apoio franco de cavalheiros diÉ-
tintos de nossa sociedade, sendo recebido com geral contenta-
mento da classe beneficiada.
"Nada mais justo."
"Hoje que a nossa Pátria goza de foros de livres, e que há
de necessàriamente trilhar a âmpla estrada do progresso e da
civilização, torna-se mesmo de necessidade absoluta, que êstes
dois sublimes elementos sejam muito razoàvelmente introdti'
zidos.

"Desde o palácio é choupana


"Desde a floresta à cidade
uc JERÔNIMO DE VIVEIROS

"A empregados do comércio, a ^mais laboriosa


classe dos
talvez de outras, tem pleno direito de reclamar
tôdas as
que se lhe conceda um dia de descanso em cada semana, já
para esquecer por momentos as fadigas a que se submete du-
\

rante seis dias consecutivos, como para dedicar-se mais a sua


educação comercial, de modo a tornarem-se no futuro os
seus membros —
inteligentes —
sustentáculos do comércio essa
parte ativa da sociedade, a quem o país tanto deve.
"Não se diga que o fechamento das casas comerciais nat
quêles dias trará o atropêlo ao serviço do negociante, preju-
dicando-lhe interesses.
"Não!
"O rabiscador destas linhas, que convive desde a infância
com o comércio, por via de regra, está habilitado a provar o
que deixa dito. E de mais, o que aqui agora no Maranhão se
pretende levar a efeito, já é coisa bastante antiquíssima nas
outras praças, quer se fale em relação à velha Europa e quer
com a América, onde semelhante medida, em coisa alguma
embaraçou o movimento comercial.
"O decreto aludido foi, pois, um ato de madura reflexão,
onde apenas salientava-se a justiça do governo da liberdade
e o direito que assiste à classe caixeiral.
,"Tendo, porém, sido declarados nulos todos os atos da
Junta Provisória, que não fossem de mero expediente, os
empregados do comércio contam que o ilustrado Governador
dêste Estado, procedendo com justiça, independência e pa-
triotismo, que lhe são peculiares, mandará pôr em devida
execução a postura municipal relativamente ao fechamento
das casas comérciais, em os mencionados dias. E o signatá-
rio destas linhas espera ter ainda ocasião de vaLtar à im-
prensa e protestar ao distinto cidadão maranhense, em nome
dos caixeiros, a sua inolvidável gratidão."

Baldada esperança Não a realizou Pedro Tavares,


!

talvez por haver deixado o Govêrno logo depois, que es-


pírito republicano não lhe faltava. Também evitou fazê-
la Eleutério Muniz Varela, seu substituto interino, quiçá
influenciado pelos negociantes. Sucederam-se dias e se-
manas, e a luta entre as duas classes —
negociantes e
caixeiros —
foi se acentuando de mais a mais, porém
sempre à socapa, sempre sigilosamente. Sentiram, então,
os caixeiros a necessidade de um centro que lhes coorde-
nassem as energias, uma sociedade que lhes representas-
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 117

sem na defesa de seus direitos. Surgiu assim o "Centro


Caixeiral".
Convocados os membros da classe, reuniram-se em
22 de janeiro de 1890, na casa particular de Raimundo
Tribuzi, à Rua dos Afogados esquina com a Rua da Cruz
e aí resolveram a criação de uma sociedade de auxílios
mútuos, sob aquela denominação. (462)
Aclamaram os componentes da mesa provisória —
Mariano Pompílio Alves para presidente, Raimundo Tri-
buzi para 1° secretário e Leôncio Jânsen Medeiros, a
fim de organizar os estatutos, que foram aprovados a 23
e publicados no dia seguinte. (463)
Instalada, na mesma casa de Tribuzi, em sessão so-
lene, presidida por Hermenegildo Jânsen Ferreira, presi-
dente da "Associação Comercial" e tendo como orador
Antônio José de Almeida, no dia 2 de março de 1890, a
nova associação começou suas atividades pelo momento-
so caso do trabalho dominical e com tal habilidade se
houve que o Conselho de Intendência de S. Luís, instituí-
do por José Porciúncula, segundo Governador nomeado,
o proibiu terminantemente nas suas posturas. Todavia,
não foi ela rigorosamente observada. Fiscalização desi-
diosa. Em muitos armazéns, continuou-se a trabalhar nos
domingos e feriados. O "Centro Caixeiral", então, puWi-
cou na imprensa a lista das firmas comerciais que vi-
nham respeitando a postura, e assim, por exclusão, de-
nunciou os infratores. Não eram muitos aquêles. Consig-
nemo-lhes os nomes e a nacionalidade Henry Airlie &
:

Cia. (Tíiglêsa) —
Moreira & Saraiva, Marcelino Gomes
de Almeida e Lázaro Moreira de Sousa & Filho (Portu-
guesas), Francisco Antônio c^e Lima & Cia., José Pedro

Ribeiro & Cia., Trajano Valente & Cia.,


Antônio Joa-
quim de Lima & Cia. e Brito Pereira & Cia. (Brasileiras).

Total — 9 Diante desta


.
atitude dos caixeiros,
e um
a fiscali-
comerci-
zação municipal tornou-se mais eficiente

(462) — "Pacotilha", de 22-1-1890.


(463) — "Pacotilha", de 24-1-1890.
118 JERÔNIMO DE VIVEIROS

ante multado. Não se conformou, apelando para os


foi
companheiros de classe. Argumentando com o artigo
constitucional de estar o Estado separado da Igreja, uma
parte dos armazenistas pediu ao Conselho de Intendên-
cia a suspensão da debatida postura. O Centro replicou
pedindo a manutenção da postura, que fundamentava
com o argumento de ser o feriado aos domingos uma con-
quista da civilização. Num gesto de elevação moral, dig-
no de nota, o Conselho de intendência decid^i eni favor
dos caixeiros, indeferindo o requerimento dos patrões.
Foi por essa época que apareceram na imprensa da
terra a Ave Maria e o Credo dos caixeiros, que bem de-
monstram o espírito galhofeiro da classe, e que por isso
trasladamos para o nosso estudo :

"Ave Maria Caixeiral"

"Ave Patrãoi, cheio de bondade, o fechamento das portas


seja sempre contigo. Bento o fruto do teu trabalho. Santa In-
tendência, Mãe de nossa classe, protege a nós caixeiros, ago-
ra, e na hora em que tentaremos a lei de 16 de janeiro. Amén."

"Credo Caixeiral"

"Creio em meu Patrão, todo meu


amigo, criador do lugar
onde ganho os cobres, creio na do fechamento das portas,
lei
t:otada pela Intendência, nossa protetora, a qual foi decretada
por obra e graça dó dr. Justo Chermont, nasceu de um reque-
rimento de nossa dasse, padeceu sob a pressão dos carrancis-
tas gananciosos, foi anatematisada, guerreada e violada pelos
ejuáicados, subiu ao Conselho Mumcipal, desceu às mãos
dos fiscais para executá-la, está arquivada na Intendência e
em Palácio, donde não mais há-de ser revogada, creio em meu
patrão, que não é carrancista, no dr. Justo Chermont, na In-
tendência, na lei de fechamento das portas. Amén."

F.m 26 de junho, a redação da "Pacotilha" escrevia :

"Daqui cumprimento o "Centro Caixeiral" pela vitória


que alcançou em uma luta tôda caprichosa e a Intendência
Municipal pela posição independente, que assumiu, fazendo
manter uma determinação, cuja revogação se pedia, sem uma
razão plausível."
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 119

Como se vê, a "Pacotilha" supunha encerrado o dis-


sídio.Mas tal não sucedeu. Vejamos as próprias palavras
da Diretoria do Centro no seu relatório de 1890 :

"Fechamento de portas"
"Logo no começo de seus trabalhos, quando acahava de
ser investido dòs poderes que lhe confiastes teve a Diretoria
de enjTontar a questão de fechamento de portas, que como
medonho espantalho, surgiu a emhargar-lhe os passos. Assim
foi que tendo sido a Diretoria empossada a 2 de março, teve
logo a 6 de representar ã. Intendência Municipal pedMdo a
manutenção da lei que alguns negociantes, apadrinhando-se
com a Associação ComercM, a qual, estretanto, não lhes fa-
voreceu os desígnios, pretendiam fôsse revogada. Mas manti-
da a lei, com uma pequena alteração, sugerida pela Associação
Come-f &al parecia morta a questão,
"Não aconteceu, porém, assim.
"A 20 de junho, estava de novo esta Diretoria à braços
com a interminável questão.
"A pedido de um negociante desta praça, alguns outros
ass'inu.ram uma representação à Intendência Municipal, em
que se pedia a revogação da postura.
"A Diretoria só teve conhecimento desta representação,
que fôrn urdida em segredo, no próprio dia em que ela tinha-
de ser levada Intendência.
ã,

"Tomada de surpresa, pôde apenas requerer \à Municipa-


lidade o adianmento do seu veridlctum, no que foi atendida, e
a 24 do mesmo mês representou por sua vez, pedido a conser-
vação da postura.
"Ainda desta vez, conseguiu a Diretoria ver triunfante a
justiça de sua causa.
"Mas não parou aí a questão.
"Publicando o INouo Código Penal, espíritos mal inten-
da pos-
cionados enxergaram no seu arf go 204 a revogação
de uma
tura municipal; e aquele mesmo negociante, promotor
insinuações
representação à Intendência tantas voltas deu, tais
fez, que obrigou esta a dirigir
uma consulta ao Cidadão Gover-
nador do Estado.
logo o seu
"Ciente do ocorrido, esta Diretoria consultou
de Carvalho
advogado e digno consócio, o sr. dr. Francisco
Machado, em quem achou sempre nesta como
em outras ve-
os mais salutares conselhos e
zes o mais cordial acolhimento,
indagando se a pos-
resolveu telegrafar para a Capital Federal
tura era, ali mantida.
:

120 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"Com a resposta afirmativa, dirigiu uma representação ao


Governador do Estado, cujo despacho, inteiramente favorável
à causa que advogamos, deveis ter visto publicada no jornal
oficial.

"A Postura municipal continua, pois, em vigor, mau grado


a vontade, o capricho de uns, a indiferença, o abandono de
outros, e a atual Intendência, composta de homens de carac-
teres elevados, conhecedores das nossias necessidades, há-de
mantê-la, estamos certos, a despeito de tudo
"Terminando este artigo, não pode a Diretoria deixar de vos
indicar que nestas questões de fechamento de portas, por ela
tantas vezes travada, sempre encontrou o apoio e simpatia '

na maioria do corrvércio desta praça, e a este apoio e simpa-


tia deve ela talvez, o seu \constante triunfo.
"Isto quanto aos patrões .

"Os s<.'ií.s colegas, os seus companheiros de trabalho, aquê-


les por cujos direitos ela pugnara, esses, sente dizer-vos, não
se portaram com o interêsse, com a 'solicitude que lhes devera
merecer questão de tão momentosa transcendência."

Pelos estatutos eram fins do Centro

1.
""
— A união da em tôdas
classe caixeiral as exi-
gências sociológicas;
2. ° — Auxiliar moralmente seus associados;
3. ° — Socorrê-los pecuniariamente;
4. ° — Difundir a instrução entre criando pa-
êles,
ra êsse fim cursos gratuitos.

Entre os auxílios aos sócios, obrigava-se a prestar os


seguintes :

a) promover por todos os meios ao seu alcance co-


locação para os sócios desempregados;
b) socorrê-los quando desempregados ou atacados
por moléstia grave que o impossibilite de traba-
lhar;
c) conceder-lhes uma pensão de 20$000 mensal,
quando inutilizados para o serviço;
d) arbitrar-lhes uma mesada de 30$000 enquanto
estiverem prêsos;
e) envidar a sua soltura por todos os meios lícitos;
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

f) dar-lhes passagem de 2a. classe,


no caso de fica-
rem sem emprêgo, para procurá-lo em outra
par-
te, e também 50$000 para as
^
primeiras despesas-
^^^^^^^^^^ ^ ^"^^ família coni
lOoloOO^^
Para ser sócio exigia estas condições :

~ empregado no Corpo Comercial;


^'o
2. ° — gozar de boa saúde;
3. ° — maior de 12
ser anos.

O Centro era dirigido por uma Diretoria, uma Ás-


sembléia Geral e uma Comissão Fiscal. No período
ini-
cial, formaram êstes corpos administrativos os caixeiros:

Diretoria —
Artur Couto Lobão, Leôncio Jân-
sen de Medeiros e Raimundo Alves Tribuzi, cu-
jos suplenteseram —
João Martins do Rêgo
Andrade, João Alves dos Santos e Raimundo
H. Carneiro. Assembléia Geral Mariano —
Pompílio Alves, presidente; Antônio Otávio
Rodrigues Lima, vice; Aristides Seixas da Cu-
nha, 1.° secretário; Euclides Pereira de Sousa,
2.° secretário.Comissão Fiscal Horácio Jo- —
sé Corrêa, Mariano Gomes de Castro e Antônio
Francisco da Silva.

O Centro foi instalado com 181 sócios, cujos nomes


a Pacotilha publicou. (464) Dessa lista respigamos os
nomes dos que mais se distinguiram na carreira comer-
cial Artur Couto Lobão, Artur Napoleão Lebre, Filo-
:

meno Tavares, José de Carvalho Camões, Eduardo Melo,


Luís Ericeira, Alfredo Pinto Teixeira, Emílio José Lis-
boa, Fabrício Diniz, Garibaldi Pinheiro de Brito, Joa-
quim Ferreira Rabelo, Zeferino Archer da Silva, Manuel
João Coqueiro de Viveiros, Joaquim Alves Júnior, Alba-
no Mendes da Silva, Serafim Teixeira, José da Silva

(464) — Fran Paxeco — "Geografia do Maranhão", menciona 217, à página 662.


122 JERÓNIMO DE VIVEIROS

Malta, José Serrão Pinheiro, João Alves dos ^Santos, He-


ráclito PiresSeabra e José Francisco Jorge.

Passados vinte anos da sua fundação, isto é, tm


1910, não tinha aumentado o número de componentes do
quadro social, pois não ia além de 183. E nem se pense
que as diretorias se descuidavam de incrementá-lo. To-
dos os anos eram feitas novas aquisições, que as elimina-
ções por falta de pagamento das mensalidades nulifica-
vam. Esmiucemos o caso relativo aos anos de 1910 a
1912:

Existiam em 31-1-1910 — 215 sócios


"
Admitiram-se 29

"
244

Retirados por falta de pa-


"
gamento 18
"
e por falecimento 1

"
19

"
Existem 225

Existiam em 31-1-1911 — 225 sócios


"
Admitiram-se 30

"
255

"
Retirados 19

"
Existem 236

Em 1912, repete-se o mesmo resultado, mas baixa


para 155 no ano de 1914.

As diretorias, que se sucederam, martelavam nos


relatórios :
HISTORIA DO COMERCIO DO
MARANHÃO 123

ob"9«dos a retirar do quadro


social 18 í-óc^o, vor
inlt7f'^'''
falta de pagamento, visto não ser
prm.ento do dever. Lastimamos
possível ohter dêl^s o \Z
mao deste meio, mas desde que
Ler amei ter l^^^^^^
êles se negarn a con "bu,
para o engrandecimento de uma "
instituição 'que iL/pod
uUl

Í!T
emcaso de necessidade, forçosamente,
cumprimos a
Acham-se atrasadls nos
pi-
Z
mentos 29 soczos, os qua:s contamos
venham y""-u/ coTaa
se com
quitar-se
maior brevidade,"
Além de ser relativamente pequeno,
acha-se em atraso
um bom numero de sócios, notando-se entre êles,
alguns que
pela sua posição no comércio,
jamais .deveram consentir a sua
eliminação. A êstes nossos consócios
solicitamos um pouco mais
de atenção para a nossa Associação,
que incontestàvelment»
presta grandes benefícios a seus
associados."
"Ê relativamente pequeno o nosso ,quadro
social e acha-se
em atraso um número regular de sócios, entre
êles alguns que
pela sua posição no comércio desta praça
,

não deveriam 'con-


sentir na sua eliminação. Chamamos a atenção dêstes nossos
consócios para que venham satisfazer seus
débitos em atraso,
pois a instituição vive das contribuições
dos associados, a fim
de poder desenvolver-se e beneficiá-los. na
ocasão que mais
necessitem."

O relatório de 1914, ano em que o quadro social de-


caiu para 155 sócios, explicou o fato com a crise que as-'
solava a praça. Mas a crise existia desde 90, e antes de-
la, já em 1878, a Associação Comercial, sociedade forma-
da com elementos —
os patrões —
de muito mais recur-
sos, queixava-se de idêntica desidia, pela voz do seu di-
retor José da Cunha Santos Júnior que, sem favor, foi
um dos mais adiantados espíritos da Praça de São Luís,
no seu tempo.

"Ê com pesar que apresentamos o reduzido quadro dos


sócios que compõem a nossa Associação. O seu número, quando
foi instalada era de 90; entraram outros por proposta de al-
guns diretores, e hoje é de 122. Êste número não está em rela-,
çãa com o movimento da nossa praça e o seu pessoal. Acham
todos excelente a instituição e quando dela precisam, não he-
sitam em procurar o seu auxílio, mas 'é notável a frsesa com
que a tratam para dar-lhe vida e mantê-la com todo pres-
tígio."
124 JERÔNIMO DE VIVEIROS

É que o mal vinha da falta de espírito de coopera-


ção de que se ressentia parte do corpo comercial do Ma-
ranhão, patrões e caixeiros. Foi assim por muito tempo.
Só com a criação do Curso Superior de Comércio e ou-
tras alterações progressistas, como aula de datilografia,
instrução militar, etc. conseguiu-se extirpar o mal desi-
dioso. Houve como que uma ressurreição. Em 1929, o
número de sócios era superior a 500.

Convém, porém, observar que contrastava com êsse


indiferentismo da classe pelo Centro, o entusiasmo de
não poucos daquêles 181 caixeiros que o fundaram. Em
verdade, foram autênticos idealistas. Revelaram isto
mesmo na escolha da sua diretoria para o ano de 1891.

Recordemos o fato.

Como associação recentemente fundada, era o "Cen-


tro Caixeiral", nos princípios de 91, uma Sociedade sem
passado que a recomendasse à consideração pública e por
isso desluzida de credenciais para focalizar os seus dire-
tores. Além disso, desprovida de patrimônio, não gozan-
do de subvenções oficiais, mantendo-se exclusivamente
com as quotas dos sócios, lutando com múltiplas dificul-
dades financeiras, vista com indiferença, senão má von-
tade dos negociantes, é bom de ver que os lugares do seu
corpo dirigente só acarretassem trabalhos, sacrifícios,
dissabores. Pois, apesar de tudo, nada menos de oito cha-
pas diferentes disputaram aquêles cargos nas eleições
para o exercício de 91, discutindo-lhes os valores pela
imprensa. Com êste propósito, diziam alguns sócios na
"Pacotilha" de 19 - 12 - 90 :

"Em virtude de ter aparecido diversas chapas para corn-


por a assemhléia geral e diretoria do Centro Caixeiral, con-
vém que oS srs. sócios tenham muito cuidado na escolha dos
novos funcionários, pois deles dependem a boa ordem e o pro-
gresso da sociedade, que se torne útil à classe, queiram ter em
vista que a nova diretoria tem de gerir a sociedade na época
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

das beneficências, precisamos de uma diretor ia


justiceira e
prudente.
"Achamos que a última chapa publicada ontem
(Mariano
Pompílio Alves, Roberto das Neves e SUva e Antônio
José de
Almeida), está no caso de ser aproveitada por
figurar nela pes-
soas já abalisadas em negócios de sociedade."

Refutando êste suelto, um outro grupo de caixeiros


argumentava, na edição de 20 do mesmo periódico :

"Em artigo, publicado na Pacotilha de ontem, alguns só'


cios do Centro fazem reclame em favor de uma chapa sui ge-
neris e que se vê ali estampada.
"O alcance desta publicação está bem patente e desmas-
cara o seu autor, conhecido já por suas pretensões menos pró-
prias de um. homem sério e justiceiro.
"O Centro 'é uma sociedade nova, criada sob a influência
da moderna evolução do país. Como tal carece de elementos
novos, cheios de vida, que lhe impulsionem umu marcha largi
e progressiva.
"Querem fazer dele uma sociedade de retrógrados, que
visam mais o seu interesse do que o interêsse comum, é um
êrro que afeia os bons princípios de moralidade, é uma peia ao
seu desenvolvimento e progresso."

A 20 de dezembro, realizaram-se as eleições com


grande entusiasmo, e o elemento renovador venceu com
a chapa já sufragada no ano anterior. Em verdade que
a reeleição era um ato de justiça, pois ao grupo de cai-
xeiros reeleitos devia-se a fundação do Centro, o triunfo
do feriado dominical e o critério com que agiram nesta
questão. Ninguém melhor do que essa plêiade de moços
idealistas podia dirigir o Centro. Já o tinham provado na
gestão de 1890, em que, além dos fatos descritos, haviam
conseguido um saldo de 4.670$000, num movimento de
5.275$000 de receita e 602$000 de despesa.
Garantida com êste saldo, a Diretoria de 1891 deu
comêco ao cumprimento do seu programa, alugando pré-
dio para a sua séde —
Rua da Palma, 8 (hoje Herculano
Parga), abrindo aulas de curso secundário para seus só-
cios e iniciando a organização da sua biblioteca.
126 JERÔNIMO DE VIVEIROS

O curso foi instalado a 2 de março de 1891, com o


selecionado professorado que se segue e que se propu-
nha a trabalhar gratuitamente :

Português — Raimundo substituído Tribuzi,


por José Ribeiro do Amaral.
Francês — Dr. Álvares Pereira.
Geografia — Dr. Justo Jânsen Ferreira.
Inglês — Dr. Nestor Rosa.
Aritmética — Major Artur Pereira E.
Escrituração — Antônio de Almeida J.
Direito Comercial — - Dr. Manuel Jânsen Fer-
reira.

A iniciativa dêste curso, a regularidade e eficiência


com que funcionava deram lugar a que Augusto Viveiros
de Castro aventasse, para logo, pelas colunas do diário
"O Nacional", a sugestão do Centro abrir uma Academia
Comercial, para a qual ofereceu os seus serviços, gratui-
tamente. (465)
Em 1892, a diretoria do Centro, composta então por
Raimundo Tribuzi, Leôncio Medeiros e Libânio Vale,
conseguiu melhor prédio para a sua sede, alugando por
35$000 por mês e contrato de 5 anos, o sito à Rua de São
João canto com Sol, hoje denominadas respectivamente,
"13 de Maio" e "Nina Rodrigues".
No novo edifício, com âmplas acomodações, inclusi-
ve esplêndido salão, o Centro passa a propiciar à socie-
dade maranhense concêrtos e conferências como atestam
êstes anúncios :

"Centro Caixeirctx.

Festa de Caridade.

Grande e variada soirêe concertante domingo, 18'3-1894


Direção musical do maestro e 1.° tenor A. Raiol —
Em benefício de D.D. Zulmira e Idalina Guimarães".

(465) — "0 Nacionar', de 22-2-1892.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
127

Centro Caixeiral

Salão Nobre

25—1—1894
Grande soirêe musical promovida pelo
arUsta brasileiro —
Gervásio de Castro."
Em 94, O Centro,
sempre agindo com economia já
possuía o saldo de 7.173$578 réis. Nesse ano,
as suas
despesas foram :

beneficência 1.445$800,
curso 843í^330 ,

gastos gerais 1 . 066$680 .

Para a sua diretoria entrou nessa época José Fer-


nandes da Silva Malta, que seria uma das vigas mestras
da asgociação.
Vendendo-se em 1896 o imóvel que ocupava para
Joaquim José Gonçalves Júnior e subindo o aluguel pa-
ra 100$000 mensais, o Centro mudou-se para a Rua de
Santana, hoje "José Augusto Corrêa". (466)
Circulou em 2 de março do ano citado, em comemo-
ração ao seu sexto aniversário, pela primeira vez, a re-
vista "Centro Caixeiral", na qual colaboraram Hercula-
no Nina Parga, Firmino Saraiva, Ulisses Lemos, E. J.
Albuquerque de Melo, Pedro Alexandrino Cardoso Fi-
lho, Almeida Júnior, Pacífico Bessa e A. Reis.
Por êsse tempo, o Centro estabeleceu soirées
dançantes mensais, no intuito de atrair maior número de
associados. Eram festas encantadoras, para o que con-
tribuíam o espírito fino da classe e as belas salas do pré-
dio ocupado, então, pela Sociedade, à praça Benedito
Leite, n. 2.
Foi com um
dêstés saráus que os caixeiros homena-
gearam a Coêlho Neto, quando de sua visita ao Mara-
nhão, em junho de 99, no qual o príncipe das letras bra-
sileiras exarou, no' livro de visitas, o seu conceito sobre
a função dos auxiliares do comércio :

(466) — "Pacotilha", maio de 1896.


128 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"Asf duas derivações do Trabalho: a Lavoura e .a Indústria


saindo da mesma fonte — a Terra, por entre leiras e oficinas, vão
ter a um estuário: o Comércio onde as^produções se tornam em
benefícios —desde a loura poeira dos milhos que dá o pão até a
ardentia dos diamantes que luci-luzem em tôrno da'náu que na-
'.

vega a Humanidade.

"O caixeiro é a vaga que executa o 'movimento do estuário,


sempre a agitar-se no balcão, que é o litoral, recebendo 'e trans-
mitindo.

"Nesse estuário, as naus que sulcam desfraldam um alvo pa-


vJlhãq de paz.

"Durante o dia, as vagas labutam e, com o suor do trabalho,


vão fazendo as pérolas da riqueza, à ^noite, porém, remansadas,
tranquilas ao SanfElmo das lâmpadas de estudo, o Poesia, como
uma sereia, surge d'alma e canta balouçando-se na espuma bran-
ca e eterna das páginas dos livros, entrelejadas de cintilações:
conceitos.

"Ai! dos que não aprendem, águas turvas jamais refletirão


a douçura dos luares do sonho — ficarão como as águas mortas,
cobertas de sargaço, que é a imundície do abismo, como a ignO'
rância é o sargaço do espírito."

E, assim, dando exemplo de quanto pode realizar a


fôrça de vontade, Tribuzi e depois Malta foram dirigindo
o "Centro Caixeiral", com mil dificuldades, é certo, mas
serenamente.
Ainda em 1910, no seu vigésimo aniversário, conta-
vam apenas com 215 sócios, que lhe davam de renda
5.282$999, da qual deduzida a despesa restava o saldo
de 193$070. Com rendimentos tão minguados, entretan-
to, continuava' a aumentar o seu fundo de reserva, já na-
quela época, na importância de 14 407$000, e a sua di-
.

retoria, formada por José Fernandes da Silva Malta,


Washington Lôbo, Júlio Jacobson, Fabrício Diniz e Iná-
cio Botão, podia escrever no seu relatório :

"Acha-se em via de realização a compra do prédio para


o funcionamento do Centro, e contamos que os nossos
sucessores levem a efeito èsse desiderátvim de grande
necessidade para a sociedade,"
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

O seu curso compunha-se de português primário e


secundário e escrituração mercantil, matérias que eram
lecionadas por Joaquim Alfredo Fernandes, Joaquim de
Oliveira Santos e Antônio Pereira de Figueiredo e tinha
a matricula de 51 alunos.

No ano seguinte, como estava previsto, o Centro fez


aquisição por compra a Raimundo Gabriel Viana, do Rio
de Janeiro, do edifício da sua sede, à praça Benedito Lei-
te, 2, por 18.000$000, sendo representado na transação
pelo maranhense Cândido Bordeaux Rêgo. Para isso, to-
mou um empréstimo de 5.000$000, sem juros,
2 000$000 a Malta e 3 a José da Cunha Santos Guima-
.

rães.

A diretoria daquêle ano —


José Malta, Licurgo Cha-
gas, Júlio Jacobson, Bias Azevedo e Washington Lôbo —
cabe a benemerência desta aquisição para o patrimônio
da sociedade.

Decorrido um quinquénio, o número de associados


diminuía para 155. Nada obstante, mantinha os seus
serviços — instrução e beneficência aos sócios — e apre-
sentavam no relatório, relativo ao ano social de 30-1-
1914 a 30-1-1915, o seguinte patrimônio: valor do prédio
— 18.000$000, móveis —
3.516$020, biblioteca —
4.795$370, Emprêsa Predial do Norte —
175$000, ações
da Companhia Industrial Maranhense —
500$000, idem
da Companhia União Caxiense —
1.261$400, Caixa E-
conômica —
58$562, dinheiro em cofre —
639$000. To-
tal _29.445$352 réis.

Mais quinquénio, constatava-se a mesma dimi-


um
nuição de sócios, mas o curso verificava-se ampHado, com-
o estudo de português em 3 anos, aulas de aritmética e
inglês. Eram professores: Rubem Ribeiro de Almeida,
Sa-
lomão Damasceno Ferreira, Severo Ângelo de Sousa,
Da-
Luís Gonzaga dos Reis, Júlio Jacobson e Raimundo
masceno Ferreira.
130 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Dessa época em diante, escasseiam-nos as fontes de


informações. Há notícias orais dos fatos, mas sem datas
que os precisem. (467)
Desta maneira, sabe-se que o Centro adquiriu o edi-
fício contíguo, ligando-o ao da sua sede e reformando-o,
que criou o Curso Superior de Comércio, de acordo com
as disposições vigentes e fiscalização do Govêrno Fede-
ral, que lá houve uma sociedade de Tiro de Guerta para
instrução militar dos seus sócios, os quais se contam ho-
je por centenas, que, apesar de duas cisões, abertas nas
suas diretorias e entre os sócios, ocasionando as forma-
ções da "Academia do Comércio do Maranhão" e da "As-
sociação dos Empregados no Comércio do Maranhão", o
Centro prossegue, impávido, a sua missão, em franca
prosperidade, e que para essa prosperidade, contribuí-
ram, entre muitos outros, Caio José de Carvalho, Ed-
mundo Fernandes, Pedro Vasconcelos, Júlio Jacobson;
de todos êstes fatos têm-se notícias, mas sem os dados
precisos para historiá-los. São notícias como esta, que
deparamos na "Revista da Associação Comercial do Ma-
ranhão", incerta no seu número de outubro de 1925, pri-
meiro ano da segunda fase. É um anúncio nestes têrmos :

"Sociedade Centro Caixetral"

"Fundada em 21 de janeiro de 1890 e instalada em 2 de mar-


ço de 1890.
"Considerada de utilidade pública pelo dec. n." 3.582 do Go-
vêrno Federal, de 25 de novembro de 1918 e pelo decreto n."
1.111, de 23 de maio de 1911, do Govêrno do Estado.

"Sede Social — Praça Senador Benedito Leite, 2


Maranhão — Brasil
"Sociedade beneficente, protetora e educadora da classe cai-

xeiral.
"Mensalidade —
2$000. Jóia 25$000, pagas de uma só vez ou
em prestações mensais de 5$000.

(467) — É lamentável que o "Centro Caixeiral", associação de um longo pas-


sado de faustos brilhantes, não tenha um arquivo que permita recons-
tituir a sua história.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 131

Mantém a
Escola de Comércio

com o curso preparatório e curso teórico-prático, profissio-


nal constante do seguinte:
Curso preparatório —rudimentos dei Português, Aritmética,
Geografia, Geometriu, História do Brasil, Ciências Físicas e Na-
turais e Caligrafia.
Curso Profissional — está divid'jdo em 5 anos, compreendendo
as seguintes matérias: Português, Francês, Inglês, Alemão, Ita-
liano, Geógrafa, Cosmografia, Corografia, Aritmética, Álgebra,
História Universal e do Brasil, Escrituração Mercantil, Conta-
bilidade, Direito Comercial e Economia Politica.
CAPÍTULO IX

O contrahundo, seu conc>nto e suas causas. O caso escanda-


loso do jurará. A atitude do íntegro Juiz Seccional.
A contaminação do micróbio.

Segundo o art. 265 do antigo Código Penal da Repú-


blica, hoje revogado, entendia-se por contrabando
não só a importação ou exportação de géneros ou
mercadorias proibidas, como também todo ato tendente
a iludir, no todo ou em parte, o pagamento dos direitos
e impostos estabelecidos sobre a entrada, saida e consu-
mo de mercadorias e por qualquer modo iludir e fraudai
êsse pagamento. O Código atual, em seu art. 334, faz
idêntica conceituação do fato.

Para A. O. Viveiros de Castro, ilustrado jurisconsul-


to que faleceu no alto cargo de Ministro do Supremo Tri-
bunal de Justiça, esta definição peca por não ser etimoló-
gica,além de ter o defeito de submeter à mesma penali-
dade fatos que não são inteiramente idênticos, nem reve-
lam nos seus autores o mesmo gráu de temibilidade (468).

(468) — A. o. Viveiros de Castro — "O Contrauanclo". Editor Domingos


Magalhães. Rio de Janeiro, s.d. p. 14.
134 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Em verdade, o comerciante que exporta ou importa


mercadorias proibidas comete um ato atentatório à higie-
ne, à ordem e à segurança pública, enquanto que aquêle
que deixa de pagar, no todo ou em parte, os direitos de
uma mercadoria e defrauda por qualquer modo êsse pa-
gamento, age contra as rendas da Nação.
Em qualquer dos casos, êle é um crime, mas é den-
tro da segunda hipótese que o vamos encarar.
Regime centralizador por excelência, a Monarquia
sempre teve rendas para os serviços públicos, embora ti-
vesse deixado sem elas as antigas Províncias. Assim,
nunca houve necessidade de recorrer-se a um sistema e-
xagerado de tarifas alfandegárias, o que, de certo modo,
dispensava o negociante dos riscos do contrabando. Com
o advento da República, porém, levantou-se, no seio da
Constituinte, uma forte reação em prol dos novos Esta-
dos, em que se tinham transformadas as Províncias, dei-
xando a União reduzida quase que exclusivamente aos
impostos de importação. Daí originou-se o aumento das
tarifas e, consequentemente, o incremento do contraban-
do, como se fôsse uma epidemia, contaminando tôdas as
praças do país.
Estudando esta epidemia, Viveiros de Castro enu-
mera-lhe as causas :

1. ^ — A incapacidade de parte do pessoal encarregado da cOTi'


ferência das mercadorias.
2. " — A impunidade que por tanto tempo favoreceu aos que
se entregavam prática do contrabando, aumentando

assim consideràivelmente a influência sugestiva' do e-
xemplo.
3. ° — A animosidade que o contribuinte tem contra o Govêr^
no cujas exigênc'.as em matéria de impostos, êle consi-
dera fundadas exclusivamente no direito do mais forte,
sem a mínima preocupação do bem público; ora, a um
inimigo 'é lícito, senão louvável, pregar uma boa peça.
4. " — As numerosas concessões de emprêsas e melhoramentos
industriais, feitas não raro sem critério, e no interêsse
exclusivo dos concesssionários, que enriqueceram sem
trabalho, da noite para o dia; e a escandalosa jogatina
HISTÓRIA DO COMi^RCia DO MARANHÃO

da bolsa, senão promovida, atentada pelas emissões de


papel moeda, pervertendo a moral pública, com o de-
senvolvimento do luxo.
5-" — '
Finalmente, a má organização das tarifas (469).

Qualquer uma dessas 'causas era suficiente para le-


var ao contrabando o negociante, que, na opinião de Le-
tourneau, citado por Viveiros de Castro, sempre teve
uma moral que subordina a humanidade ao lucro.
A esta epidemia geral não podia escapar o comércio
maranhense, diante de tantas circunstâncias sedutoras.
Na sua maioria, envolveu-se no caso escabroso e vimos,
estatelados, homens da mais imaculada probidade em
suas transações comerciais, da mais rigorosa pontuaiiuc-
de nos seus compromissos, homens cuja palavra falada
valia tanto quanto escrita, apanhados nas malhas do mo-
mentoso processo, quando tudo veio à baila.
O uso do contrabando na nossa Alfândega era fato
notório quando o Ministro da Fazenda o denunciou à pá-
gina 231 do seu relatório ao Govêrno, dizendo :

"Da Alfândega do Maranhão


são acordes todos os elemen-^
tos e opiniões acerca do quanto oí passou no último biénio
constituindo, embora, especial meio de defraudamento das reri'
das púbVxas".

Já anteriormente, Benedito Leite denunciara o fato


criminoso na Câmara dos Deputados e uma parte da im-
prensa de São Luís dele se ocupara largamente.
Foi só depois de ocorridos todos êstes acontecimen-
tos, que se nomeou uma comissão para
apurar o delito,
abrindo inquérito na Alfândega, o qual constatou não
Era quase geral. Poucas
poucos casos de contrabando
comerciais escapavam da prática dêsse velho tipo
casas
de moamba. O Juiz Federal no Maranhão instaurou q
a in-
processo dos indigitados. Para logo, verificou-se-lhe
tegridade e energia. Os acusados puzeram-se
em guarda

(469) _ A. 0. Viveiros de Castro — obra cit., p.


136 JERÔNIMO DE VIVEIROS

e com êles o comércio em pêso, culpados e inocentes. E


uma tremenda começou entre a Justiça representa-
luta
da por um homem, e uma classe poderosa e rica, que era
o comércio.
Mas quem era êsse homem de fibra que enfrentava
tantos adversários numa questão de honra profissional ?
Chamava-se José Viana Vaz.
Detenhamo-nos a respeito de sua figura, que ela é
das mais merecedoras de um registro.
Viana Vaz descendia de uma família prestigiosa no
Maranhão. O pai —
Coronel José Caetano Vaz —
lavra-
dor de algodão na antiga vila do Codó, foi um dos chefes
do partido liberal na Província.
Vaz nasceu em São Luís, numa casa de sobrado da
Travessa do Machado, aos 22 de junho de 1852. Fez os
cursos primário e secundário no "Colégio de Nossa Se-
nhora dos Remédios" e "Instituto de Humanidades". For-
mou-se em Direito na Faculdade de Recife, em 9 de no-
vembro de 1878. Iniciou a vida pública, exercendo o
cargo de Inspetor da Instrução Pública do Maranhão. Fi-
liou-se ao partido liberal, que o mandou como seu repre-
sentante à Assembléia Geral Legislativa, no ano de 1882,
pelo 6.° distrito e à Assembléia Provincial em 1889.
Proclamada a República, aderiu ao novo regime e o Ge-
neralíssimo Deodoro da Fonsêca o nomeou 1.° Vice-Go-
vernador do Maranhão (16-8-1890), em cujo caráter as-
sumiu a curul governamental, de outubro de 90 a mar-
ço de 91, presidindo assim a eleição para 1° Governador
Constitucional, a quem entregou o cargo. Em 24 de no-
vembro de 90, Deodoro distinguiu-lhe com a nomeação
do alto cargo de Juiz Seccional do Maranhão, lugar que
assumiu a 3 de março de 1891 e exerceu durante 31 anos.
Durante todo êste longo período, o dr. José Viana
vaz foi um Juiz de integridade completa, pelo que gozou
de grande e elevado conceito na sociedade maranhense.
Tal foi o Juiz que no seu terceiro ano de judicatura
teve de arcar com o comércio num caso momentoso como
êsse que ora estudamos,
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

No decorrer do inquérito, apenas se cochichava na


cidade as suas peripécias. Segredava-se, porque a im-
prensa nada noticiava, tolhida pelas relações de amizade
com os acusados, que eram muitos —
falava-se em vinte
— e que tinham empenho na não divulgação do caso.
Depoimentos espetaculares, como os de José Auguste
Corrêa, Jânsen Muller e José Maurício da Silva, valiosos
pela idoneidade dos indivíduos e função que exerciam na
Aduana, não eram comentados. E assim foi até o fim.
mesmo depois da cena burlesca de encontrar-se no con-
teúdo de uma das caixas de procedência da Inglaterra, e
que apresentava sinais de violação, vários cascos de ju-
rarás, achado que se viu logo proceder dos restos de re-
cente almoço de trabalhadores da nossa Alfândega. Pois
êsse caso, que, pelo grotesco, devia provocar boas piadas,
tão do sabor da verve maranhense, só foi glosado quando
o fato passou às velhas tradições da terra. Então deram-
Ihe significação dupla jurará
:
—contrabando, jurará —
contrabandista.

Afinal, chegou-se ao fim e Viana Vaz pronunciou-


os, mandando recolhê-los à cadeia. Mas o comércio tínha-
se prevenido com notáveis advogados — Gomes de Cas-
tro, Joaquim Barradas, João Pedro Belfort Vieira, con-
tratado cada um por 60 contos de réis, os quais agiam no
outros
Rio, onde dispunham de boas relações, além de
de menor projeção, como Viveiros de Castro, que a-
Esta equipe de causídicos
companhavam o processo aqui.
conseguiu uma ordem de habeas-corpus do
Supremo
Tribunal e as prisões foram evitadas. Como é bem de ver,
que o Supremo
êsse habeas-corpus era o prenúncio de
Tribunal ia botar abaixo o processo. E assim
aconteceu.

Mais alguns dias, e a questão estava hquidada. O corpo co-


contentamento. Boatejou-se que Via-
mercial exultou de
Jornais do Piauí chegaram a noti-
na Vaz seria vaiado.
em re-
ciar o fato. O Juiz exasperou-se com
a derrota e,

Maranhão", meses de
presália, publicou no "Diário do
sentenças, que cons-
janeiro e fevereiro de 1896, as suas
138 JERÔNIMO DE VIVEIROS

tituem, hoje, as únicas fontes históricas do acontecimen-


to.
uma dessas sentenças que vamos transcrever,
E'
com o fim de mostrar o modo de proceder dos jurarás,
dos jurarás dizemos bem, porque o estalão era um só pa-
ra todos.
Vaz precedeu a publicação das sentenças inserindo
uma carta ao redator do "Diário do Maranhão", na qual
explicava os motivos do seu gesto.

"Sr. Redator :

"Dando-vos ciência do telegrama em que o Senador João


Pedro e p conselheiro Barradas comunicaram ao Senador Go-
mes de Castro ter sido provido o recurso interposto pelo nego-
ciante F do despacho, em', que o declarei incurso nas pev^s
do art. 265 do código penal da República, disse um vosso as-
sinante e colaborador : — Êsse provimento (aliás esperado
porque era a consequência lógica do "habeas-corpus" concedi-
do pelo Supremo Tribunal ao referido negociante, e no qual
foi expressamente declarado que o processo contra ele instau-
rado constituiu uma. verdadeira coação a suu liberdade, sem
base na lei, causou a maior satisfação a todos os que desinte-
ressadamente têm acompanhado a questão, etc.
"Tratando-se de um fato que interessa ao fisco nacional e
portanto à comunhãa brasileira, julgo-me na obrigação de tor-
nar público os despachos de pronúncia que,, até hoje, tenho
proferido.
"Não começo como pede a cronologia, pelas proferidas con-
tra F. e F. por terem os autos subido em grau de recurso e eu
aguardar a decisão do Supremo Tribunal a fim de publicá-la
conjuntamente com os meus despachos".
"Vistos e examinados êstes autos;
"Do manifesto n. 37, do vapor inglês Bourbon, entrado no
pôrto desta cidade em 7 de agosto de 1894, consta uma caixa
n. 225, com o pêso de 250 quilos, embarcada em Liverpool e aos
denunciados consignada.
"Em 14 do mesmo mês e ano, foi ela descarregada na pon-
te da Alfândega e recolhida ao armazém n. If conforme o reci-
bo passado peloi respectivo Fiel no rol de condução onde o pê-
so do manifesto é confirmado.
"O livro do armazém n. 1, também confirma o pêso do ma-
nifesto e do rol, com os quais está de acôrd& o do conhecimen-
to opcial^ que não difere do exibido pelos próprios denuncia,^
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

dos; mas em um dos compartimentos da Alfândega existe, com


a mesma marca e o mesmo número 225, uma caixa com o pê-
so de 15 quilos, pêso êste que, sob rasura, aparece no caderno
particular do Fiel, tão somente.

"A
discordância isolada do caderno particular do Fiel com
os demais documentos oficiais; os vestígios de que fala o do-
cumento de fls. 4, induzem a crer que o volume encontrado no
arm.u:.ém n. 1 não é certamente o que foi recebido pelo Fiel,
mas sim um outro que o substituiu.
"E' fato significativo o achar-se a caixa encontrada em in-
tegro desacordo com os papeis e livros oficiais, onde os peri-
tos nenhum vício ou rasura encontraram, mas em perfeita e
completa harmonia com o caderno particular do Fiel, onde se
nota uma rasura indicativa do algarismo que foi substituído.

"Já ficou provado que a caixa desembarcada na ponte e


recolhida no armazém n. 1 pesava 250 quilos no valor de 2 700
francos conforme o conhecimento oficial e o exibido pela
parte.
"Declara o documento de fls. 5, ser pano (draperie) o con-
teúdo do volume, entretanto, segundo o documento de fls. 7,
foi verificado ser dezesseis pacotes de linha de algodão em no-
velos, pesando cento e cinco quilos e 400 gramas, o conteúdo da
caixa que ocupar o lugar da recebida e recolhida ao arma-
zém n. 1.
"Tambémo documento de fls. 7 deixa ver o que o verda-
deiro volume foi embarcado no Havre no paquete "Diana",
por Albert Leblond e com direção a Southampton.
"O pôrto do embarque, o nome do remetente e os dizeres
do conhecimento demonstram claramente ser o volume de pro-
cedência francesa, no entanto na etiqueta de cada pacote de
linha, conteúdo da caixa existente em um dos compartimen-
tos aduaneiros, se lê a palavra —
Glascow.
"Em uma parte do globo, onde são conhecidas e perfei-
tamente combinadas as inúmeras i Vos de comunicação, qne
a põem em contata com o resto do mundo, inadmissível é a
hipótese de ser um produto inglês e\iviado à França para de
novo voltar à Inglaterra, a fim de ser exportado, e quando se
constan-
quisesse sustentar ter havido engano na declaração
ter dezesseis
te do conhecimento, impossível seria sustentar
pesando bruto 5 quilos e 400 gramas, cus-
pacotes de linha,
tado 2.700 francos.
declararam
"Por ocasião ,do exame, a que procederam,
ter a caixa examinada sido dim.nuida
os peritos parecer-lhes
140 JERÔNIMO DE VIVEIROS

em suas dimensões, porquanto de um lado a serradura é nova,


o que não se nota do outro e tem indícios de ter sido repre-
gada.
"No volume, amda declaram os peritos, as dimensões in-
dicadas são cento e dez por oitenta e dois e por setenta centí-
metros, mas as reais, tomadas nas arestas de altura, compri-
mento e largura, são trinta, por quarenta e sete e meio, e por
trinta e quatro centímetros.
"Esta divergência firma de modo inconcusso a verdade da
substituição, confirmando absolutamente a declaração dos pe-
ritos, mostra que a diminuição se operou do lado oposto ao
em que foram escritas as dimensões do volume primitivo, que
foi tirado da alfândega com o fim de defraudar as rendas pú-
blicas.
"Mais perfeita e completa não pode ser a prova do delito
praticado na Alfândega dêste Estado, onde já foram verifica-
dos muitos fatos idênt'.tos, os quais levaram o atuál Ministro
da Fazenda a escrever à página 231 do seu importante e minu-
cioso relatório o seguinte:
"Da Alfândega do Maranhão são acordes todos os elemen-
tos e opyniões acerca doquanta aí se passou na último biénio,
constitu'!ndo, embora, especial meio de defraudamento das
rendas públicas.
"A substituição de volumes por inteiro e de mercadorias
dos armazéns chegou di altura de uma indústria das mais ou-
&adas e aperfeiçoadas e a tal ponto que já é elevado o número
de despachantes demitidos e de proibições de entradas de co-
merciantes praticadas pelo respectwo inspetor nos têrmos das
faculdades que a legislação em vigor lhe confere.
"De há muito estava na consciêfncia pública a prática da
,

indústria ousada e aperfeiçoada, de que falou o alto funcio-


nário da República, a quem corre o dever de acautelar os in-
,

t^rêsses da Fazenda Nacional.


"Da tribuna da Câmara dos Deputados, o Congressista Dr.
Benedito Leite denunciou o fato criminoso, chamando para ele
a atenção do Governo.

"Uma parte da imprensa do Estado ocupou-se largamente


do assunto e depoi\s de tôdas estas circunstâncias foi nomeada
uma comissão, que já conseguiu descobrir considerável núme-
ro de casos de defraudamento das rendas públicas.

"O corpo de delito demonstra, de modo a não deixar dú-


vida, que o crime foi praticado e aproveitando d fato crimi-
noso aos denunciados, indícios veementes contra eles existem.
HISTÓRIA DO COMERCIO DO
MARANHÃO Hl
'^^"'^"«^ '^«^ denunciados
não de-


corre de znatczos veementes
somente, contra êles ioram
das provas seguras de ser antigo colhi-
hábito de evitar o pagamei
;r" ' «

"Os documentos de fls. 125 e 195 juntos aos autos,


depois
da denuncia e em virtude de diligências ordenadas por
êste
Juízo, mostram que. pelo processo ora empregado,
os denuncia-
dos fizeram substituir, nos armazéns da
Alfândega, mais de
Uma caixa que com mercadorias lhes foram remetidas do es-
trangejTO.
"É assim que os sumariados, segundo a nota
n."? 3.255, de
5 de abril de 1893, fizeram despachar com peso de 8 quilos,
pêso que sobre rasura se encontra no livro do amarzém
n." 1
e no caderno particular do Fiel, uma caixa
n." 14 contendo 3
quilos, no envoltório de Vinha de algodão. Entretanto,
a caixa
n.° 14, vinda de Liverpool no vapor inglês Braganza,
entrado
neste pôrto em 16 de fevereiro de 1893 e aos sumariados con-
signada, continha 4.995 jardas de tecidos de algodão e pesava
218 quilos, conforme consta do rol 115.
"O extrato do conhecimento oficial a fls. 128 confirma o
manifesto e dá ao volume subtraído e a um fardo o valor de
£ 96, mas o valor oficial do conteúdo da caixa despachada é
7$260 réis.
"Isto dispensa qualquer comentário.
"Mais um
fato idêntico, verificado pela Repartição adua-
neira, vem tornar patente o costume antigo, em que se acha-
vam os denunciados, dc fugir ao pagamento de impostos e dos
direitos devidos 'à Fazenda.
"Em 13 de setembro de 1893, ancorou no pôrto desta Ca-
pital o vapor inglês "Brunewick" procedente de Liverpool e
nele veio segundo o manifesto, com o marca dos denunciadm
e a êles consignada, uma caixa n.° 5492, que foi descarregada
em 18 domesmo mês e ano.
"O manifesto dá òi referia caixa o conteúdo ds 93 quilos,
pêso líquido, de tecidos de plgcdão.
"Em relação a íste volume sucede o mesmo que sucedeu
com a caixa n.° 14 —
o manifesto está de acordo com o conhe-
cimento oficial que dá ao volume o valor dc £ 71. mas, confor-
me a nota de importação n.° 11 853, de 27 de novem-
bro de 1893, pelos sumariadosi fora despachada, com o mesmo
n.° e marca, uma caixa com o pêso de 10 quilos, pêso,
que sobre,
rasura, aparece no rol, no livro do armazém n." 1 e no caderno
particular do Fiel.
142 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"Convém ainda uma vez notar que também em relação â


caixa n.° 5492 senFÁvel 'é a diferença entre o valor dado pelo co-
nhecimento e o real das mercadorias encontradas. Com efeito,
12 dúzias de pares de meias de algodão, cujos direitos, consumo
e ad.cional de GO^Io, segundo o documento de fls. 131, importa-
ram em 38$400 e o valor ofJcial em 40.000, não poderiam custar
£71.
"O silêncio dos denunciados, que, por duas vezes retiraram,
por meio de despachos organizados, de combinação com papais
e livros oficiais, onde existem vícios e rasuras, volumes de pêso
insignificantes e conteúdo de pouco valor, quando os volumes
por eles importados eram de grande pêso e crescido valor, ca-
balmente justifica o que escreveu o Ministro das Finanças que,
segundo a decisão do Conselho d& Fazenda, que vem publicada
no Diár.o Oficial de 29 de setembro último, condenou os suma-
riados na multa dos direitos em dôbro, relevando-os do proibi-
ção de entrada na repartição.
"Nos termos da parto segunda do art. 490 da Consolidação
das Leis das Alfândegas e Mesas de Rendas, a multa dos direitos
em dôbro só tem aplicação dando-se circunstâncias que revelem
fraude ou subtração de mercadorias e foi pela fraude e subtra-
ção de mercadorias que os denunciados, nos termos do art. 265
do Código Penal, evitaram o pagamento dos direitos e impostos
estabelecidos sôbre a entrada e consumo de mercadorias, o que
constitui o crime de contrabando
"Como se tantas e tão positivas provas não bastassem para
mostrar o crime e a reponsabilidade dos sumariados, verificou
o administrador das Capatazias não ser do trabalhador Benja-
min Constâncio Ferreira, que serve o lugar de contra-marcador,
a letra da contra-marca do volume n.° 225, a qual parece ser
feita com a mesma tinta da marca.
"O Fiel do armazém n:°l, respondendo a uma Portaria

do Chefe da 2.° secção, diz a fls. 12: "Como acima disse, não
se pode negar, que houvesse troca de caixas; além de ser isto
notório, corroboram mais os incidentes da diferença de pêso
nos volumes, como também a confissão que verbalmente me
fez o negociante F , um dos complicados neste crime, de ter,
além de outros, trocado alguns volumes dos depositados no
dito comparvlmento sob a guarda do dito marinheiro e que es-
sas trocas eram feitas de combinação com o trabalhador Eu-
clides José Pereira e mais outros, cujos nomes ignorava."

Os contestes, claros e precisos, dos depoimentos das tes-


temunhas afirmam também a existência do crime de responsa-
bilidade dos denunciados."
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO
143

"A 1° testemunha José Augusto Corrêa "Em primeiro


diz:
lugar afirma de modo peremptório deu-se a suhsttuição do
volume n.° 225. consignado a F....: Pelo acordo entre os pêsos
do manifesto, Iconheeimento oficial e conhecimento da par-
to. (dÍ3Cv.mento organizado na Europa) com o livro de descar-
ga, rol e livro do armazém, porquanto há apenas uma dife-
rença devida à mudança de latitude; segundo
insignificante
porque no caderno do Fiel o pêso mínimo ali lançado, não
só está sôhre rasura, como em desacordo com o livro da parte
e rol, nos quais nem uma rasura sé vê; terceiro, porque o vo-
lume importado tinha, segundo conhecimento e o manifesto,
quase que um metro em cada aresta, ao passo que a que se acha
no armazém tem menos de meio metro em cada aresta.
"Quanto & autoria da substituição não pode de arar de ser
imputada senão aos negociantes F... pela razão que passo a tx-
pôr: 1.°, porque com a substituição de volume deixariam de
pagar soma avultada, talvez excedente a dois contos de réis de
direitos, adicionais, armazenagem e capatazia e nulo pela in-
significância relativa; 2°, porque o bom senso repele que tra-
tando-se de centenas de casos idênticos, admitida a inocência
dos negociantes, não tivessem eles apresentado uma só recla^
mação, organizando antes os seiLS despachos, na ma<nr'u ilis ca-
sos de acordo com oS volumes, que vinham substituir os impor-
tados; 3.°, porque a capatazia não podia levar a efeito seme-
lhante processo de substituição, exercido por longo tempo e
em tão grande escala, em prejuízo dos negociantes, sem recla-

mação e a devida punição.

"A2.° testemunha José Maurício da Silva assim depõe:


Que pela repartição foram, com fundamento, considerados
responsáveis pela troca ou substituição do volume importado
pelo encontrado no referido armazém, pois não é crível,
que o
por sem acordo com os interessados, efetuas-
Capatazia, si só,
manifesto, tinha
se a substituição dos volumes, que segundo o
certamente não
por fim a redução dos direitos devidos, no que
mas os negociantes consignatários da re-
tinha ela interesse,
ferida caixa.
3° testemunha Manuel Jânsen Muller depõe é fls.
88.
A
sendo claro que a substituição dos volu-
Respondeu que,
direitos devidos à
mes tem por fm evitar o pagamento dos
Pública, só pode nteressar a quem os tenha de satis-
Fazenda poderia a-
a substituição so
fazer e assim a hipótese vertente
negociantes F ...... J"^"»'
proveitar aos donos das caixas os «
recair a autoria do fato, doutrina
pensa ele testemunha, deve
prática aduaneira:
que 'é assim entendida e seguida na
144 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"Em virtude do exposto e dos mais autos julgo procedente


a denúnc'\a da fls. 2 e prenuncio como incursos nas penas do
art. 265 do Código Penal aos réus F. e F. e os sujeitos à prisão
e livramento. O escrivão passe mandado de prisão contra os
réus e lance seu nomes no rol dos culpados, pagas pelos mes-
mos réus as custas em que os condeno.

"Indefiro a petiçrio de fls. por entender que os atas


J87,
legislativos das Assemhléias Estaduais não podem, embora por
exceção, limitar ou tornar dependente de qualquer formalida-
de o livre exercício do Poder Judiciário da União, um dos ór-
gãos da soberania nacional."

A
esta sentença, qne foi datada a 11 de setembro de
1895, seguiram-se publicações de muitas outras, tôdas
versando casos vergonhosos de contrabando, repetindo o
mesmo processo de fraude —
diminuição do tamanho e
pêso do volume e substituição do conteúdo, conforme já
assinalámos.

Há, porém, alguns casos, que vale mencionar. Veja-


mo-los 1.352 Jardas de tecidos de algodão despachados
:

como se fossem 4,700 quilos de cadarço do mesmo teci-


do; 3.145 Jardas de fazendas de algodão, cujos direitos
orçavam em mais de 1.000$000, pagam 15$167; tecidos
do custo de 2.000 francos saíam como se fossem botões
de osso; confeitos como obras de ferro; leques como latas
de azeitonas, etc.

Se diante de tudo isto que aí fica narrado, ainda pai-


rava no espírito de alguém, algum resquício de dúvida
sôbre a justiça de Viana Vaz, êsse resquício, de certo, de-
sapareceu com os fatos desvendados em futuro próxim.o.

Com efeito, não tardaram niuito e confirmando os


jurarás.

Foi a carta de um freguês maranhense de A. Fon-


tes Cia., de Manchester, e publicada por êstes em re-
&
vide, numa questão comercial, na qual havia um tópico,
assim redigido :
líSTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 145

"Alfândega —Vai mal o negócio por lá.


"Felizmente, até hoje
estamos jor a do baralho, no
qual só entraremos se os canalhas quiserem passar para
anos passados, mas neste caso êles igualmente dança-
rão". (470)

Foi também quando certo negociante, envolvido nos


contrabandos da Alfândega, quis despachar no Tesouro
do Es tado, chapéus fabricados no país como sendo de pro-
cedência estrangeira, com direitos pagos em Recife, onde
tinham embarcados. A conferência do Tesouro cobrou-
Ihes o imposto de estatística (interestadual) na qualidade
de indústria nacional. O Inspetor de então sustentou-lhe
o ato. Com as costas quentes pela vitória dos jurarás, o
negociante exasperou-se, esbravejou, apelou para o Su-
premo Tribunal. Mas agora, talvez por estar isolado o
caso, ou por qualquer outro motivo, a imprensa não ficou
muda e o "Federalista", órgão do Govêrno do Estado,
glosou o episódio, ao qual cognominou Jurará de chapéu :

"Que lindos que êles são


os jurarás de chapéu?
só parecem cangapara
que não podem ir ao céu.

"Santo Deus! Que tempestade!


Que girândola de asneiras!
Que repiques de asneiras!
Que descarga de besteiras!
"Comeu bola, está danado;
Morde agora e causa riso!

Pobre pelado, que sorte!


Não tem barba e perde o sizo!"

O Tesouro contaminou or» Correios. A denúncia par-

tiu do "Federalista" nesta quadra


:

"Pela Alfândega há jurarás,


Jabotís dizem que tem,
Pelo Corre' o há refugos
Que jurarás são também."

im) — Carta de 31 de novembro de


1894.
146 JERÔNIMO DE VKEIROS

Assim, o jurará que nasceu na Alfândega, penetrou


no Tesouro do Estado e passou-se à Repartição dos Cor-
reis.
Era a ação do contágio, de que nos fala Paulo
Aubry :

"O crime não 'é o resultado de uma deliberação livre


e responsável da consciência e sim o efeito do contá-
gio." (471)

(471) — Paulo Aubry — "La fonlaíjion du meurtre", apud. A. O. Viveiros de


Castro.
CAPÍTULO X

O — Libanesa
estábelecmento da Colónia Síria
no comércio maranhense

S povos árabes do Oriente Próximo e do Oriente


Médio formam, hoje, quatro países distintos, com
uma
população de 10.500.000 habitantes: Jordâ-
nia —
1.250.000; Líbano —
1.250.000; Síria —
3.000.000 e Iraque —
5.000.000.
Dessas quatro nações, que foram outr'ora províncias
turcas, sob o mandato francês ou britânico, e hoje são
países independentes, duas —
Síria e Líbano —
estabe-
leceram correntes emigratórias para América, notada-
mente para os Estados Unidos e Brasil.
São êsses dois países, portanto, que interessam ao
estudo dêste capítulo.
A Síria —
taboleiro de xadrez de grupos étnicos, re-
ligiosos e culturais —
é uma das terras clássicas da His-
tória.
Não há pedaço do seu território que não tenha ser-
vido de campo de batalha, desde a idade da pedra las-
cada e dos elefantes de guerra à época das fortalezas
aéreas e jeeps. Não se erra, dizendo que qualquer dos
seus habitantes pode ter sangue hétita ou fenício, assírio,
148 JERÔNIMO DE VIVEIROS

babilónico, persa, grego, romano, turco ou árabe e; em


^
muitos casos, uma mistura dêles. (472)
A República da Síria está situada entre a costa dos
Alanitas o Jbel Draso e o Deserto Chamiga, com um^a po-
pulação que se divide em muçulmanos (2.500.000) e
cristãos (500.000).
As
cadeias de montanhas dividem o país em três re-
giões. A
parte oriental é a mais larga, porém em sua
maior parte deserta. País agrícola, tem zonas fertilíssi-
mas, como o Hauran e as montanhas ao redor de La-
takieh, famosas pelo tabaco que produzem o Abu-r- —
-Kiha, (pai do bom odor).
Passam por seu território duas pipes-lines, o que lhe
dá certa importância.
Em matéria de instrução, está acima do Egito, Tu-
nísia, Jordânia, Iraque, Irã e Paquistão. Tem perto de
300.000 alunos. Só o Liceu Francês de Damasco conta
3.000 discípulos. Data de 1860 a adoção da língua fran-
cesa no país. (473)
Além da Capital —
Damasco —
a Síria tem ainda
quatro cidades importantes, com mais de 100.000 habi-
tantes cada uma: Alepo, Homs, Ramah e Latakiel.
A República do Líbano não é mais do que uma es-
treita e pequena faixa de terra, limitada ao norte e leste
pela Síria, ao sul pelo Israel e a oeste pelo Mar Mediter-
râneo.
Ê um país minúsculo, cuja maior parte fica nas mon-
tanhas do Líbano, acima de 1 000 metros de altitude.
.

Como a planície de Bekaa, o Líbano é uma das re-


giões mais férteis da Ásia Ocidental. Seus vinhêdos go-
zam de fama, com.o outrora gozaram os seus cedros, que
os genovezes e venezianos reduziram de dezenas de mi-
lhares a 400, protegidos hoje pelo Govêrno como monu-
mentos da nação. Muitos estão tão mortos como a gente
que à sua sombra viveu, amou e trabalhou.

(472) — Edward J. Byng — -El Mundo de los Árabes, Madrid — 1956, p. 74.
(473) — Vicem Monteil — "Os Árabes", cap. ITT. parágrafo 3.°.
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO 110

A religião é um
mosaico: mulçumanos, cristãos,
orientais, protestantes e católicos.
Superior à Síria é a obra educacional libaneza. Com
uma população de 1.500.000 habitantes, como já nota-
mos, mantém 200.000 crianças em escolas e 4.500 ra-
pazes e moças nas duas universidades que possui.
Além da Capital, que é Beirute e possui 250.000
habitantes e pôrto de primeira ordem, o Líbano conta
duas outras cidades —
Tripoli e Sidon —
que são de co-
mércio movimentado por dar saída a duas pipes-lines do
Levante. Aliás, convém observar que vem da .antiguida-
de, dos tempos da velha Fenícia, a fama dessas cidades.
Há milénios, elas conquistaram e conservaram por sé-
culos, Sicília, Malta, a península Ibérica, o norte da
África, onde fundaram Cartago, o sul das Gálias, simpli-
ficaram o alfabeto, e fabricaram o bronze o material —
estratégico da época.
Sôbre as capitais do Líbano e da Síria, Plínio Sal-
gado tem um estudo que vale transcrever aqui:
"Beirute é uma cfdade de belíssimo; aspecto, assentada nu-
ma península que se apoia nos contrafortes do Lihano.O seu
pôrto, assim como a posição privilegiada em que se encontra,
exatamente no centro do litoral, dão-lhe grande importância
comercial^ Ê um centro industrial de fiação de sêda e algodão
e a porta natural para o escoamento das riquezas da
região,

entn: a. quais os icmcsos tecidos de Da^i^ aoco, à qi-al se acha


li-

gada por uma estrada de ferro.

"As ruas de Beirute são limpas e oferecem um hom aspec-


to. Pouco tem de oriental. É moderna e elegante. Mas o que ela
que se
possui áe mais encantador é o bairro alto, magnífico,
das montanhas do Líbano.
desenrola pela encosta ocidental

cimen-
"O auto começa a subir a encosta, pela estrada de
to Beirute fulgura ao sol, diante do mar. A estrada se desato
paisagem vai ganhando
pela montanha verde. Em caracóis. A
interesse. Vejo bosques e bungalôs. Numa larga extensão al-
mais, pelu estrada de asfalto, larga,
pestre O automóvel sobe
E os panoramas se desenrolam maravilhosos.
magnífica.
JERÔNIMO DE VIVEIROS

"É o Líbano. Com suas florestas, onde se abrem clareiras


ajardinadas, de onde se evola o aroma dos canteiros, como uma
sinfonia de perfumes.
"O sol agora é como uma lâmina transparente no céu azul.
A névoa da serra se desfaz. As matas têm um verde vivo no
fundo das grotas, nos espinhaços dos contrafortes. É uma ma-
nhã gloriosa, que rutila como um diamante. Paisagem de apo-
teose, com tôdas as tonalidades da côr, desde o azu\ escuro do
mar lá em baixo, ao azul claro do céu sobre o corutó do hibano
de verde rutilante,, em cujas faldas cintilam os telhados es-
carlates das vivendas modernas, entre oleias claras de saibro
e pedregulho e o amarelo vivo das flores.

"O Nahr-Baradi, que desce do Ante-Líbano, para ir mor-


rer no espelho claro do Bahr-Atebe, de quietas águas salga-
das, nas portas do deserto, desliza, entre verduras, pelo am-
plo vale de El-Gatah, que se abre, com dois braços, floridos
para as areias calcinadas dos panoramas centrais. E ali, entre
esguias palmeiras que se recortam no ceu escarlate das tar-
des asiáticas, ergue as latadas de rosas, entre jardins e açuce-
nas e lírios, a cidade suntuosa das mesquitas: Damasco, envol-
vida nas folhagens verdes, com suas torres muçulmanas e seus
vitrais que cintilam. A grande mesquita dos Omiadas atira
para o firmamento o minarete esguio de Medinet — Isa (ci-
dade de Josué), com 80 metros de altura. Não muito longe, a
mesquita de Senan-Pachá, exuberante de ornamentações e a
cidadela, com as imponentes portas romanas de Babel-Char-
ki e Bab-es-Saghir.

"As ruas estreitas de Darnasco têm um cunho perfeita-


mente oriental. É o comércio. Ali chegam, dali partem cara-
vanas de camelos, que atravessam o deserto, rio rumo de
Bagdad. Damasco é o grande empório, onde os ricos merca-
dores de turbante, amplas gambazias de finas sedas e mantos
esvoaçantes, chegam em camelos ajaezados de selas e man-
tos franjados de ouro. AU se mescla os aspectos da indumen-
tária européia, síria, árabe, no borborinho dos bazares. Artí-
fices trabalham em armas brancas: espadas de copos cinzela-
dos, punhais de cabos opulentos, adagas, floretes, semAtarras
lunares, de bainhas sarracenas estilizando com luxos de de-
talhes o Crescente que esplende no alto dos zimbórios nos
crepúsculos mágicos. Toma-se chá em pequenos copos, sen-
tando-se em banquetas quase rente ao chão, as pernas cru-
zadas, para ver sôbre mesinhas hexagonais encrustadas de
madre-pérolas (as graciosas SCAMLAS) as sêdas, os famo-
sos damascos, os tapêtes pomposos, os mantos de pêlo de ca-
KISTÔRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

hra. Edao~nos a cheirar os perfumes exótkos,


de âmbar e
lótus, que são como segredos da terra volutuosa
e lânguida
da Síria. Ostentam-se aos olhos dos mercadores
do deserto
as selas rangendo os couros novos, com peitorais,
rabichos e
loros prateados, estribos de prata ou metais
diversos lavra-
dos e o cheiro característico da còurama e dos
vernizes. E
não raro se vêem arreios de ouro luzente, que iluminam as
manchas noturnas dos cavaleiros que resplandecem ao clarão
das estrelas. E a turba se movimenta nas ruas. no vai-vem
mesclado de raças.
"Damasco é a cidade das flores, dos jardins, das latadas,
dos arredores amáveis em que resplandecem as
romanzeiras
e damasqueiros, as macieiras e pereiras, as sebes perfumo-
sas, de onde emergem com altas colunas, entre
os leques das
tamareira.'! tvfuda-í e dos fetos, a silhueta esguia e esp/ritual
das palmeiras."

Foram estes dois povos sírios e libaneses —


que, —
depois de serem livres como o foram seus ancestrais —
beduínos e fenícios —
caíram debaixo do domínio dos
turcos.
Não faltam
historiadores que considerem haver sido
tolerável jugo otomano, alegando, nesta ordem de
o
idéias, a existência de perfeitos estadistas entre vários
chefes turcos. Como exemplo, vem sempre à baila a fi-
gura de Mohamed II, transformando a basílica de Santa
Sofia em mesquita, mas deixando, na mesma cidade de
Constantinopla, não poucas igrejas para uso dos bizanti-
nos. Esquecem-se, porém, que êsse mesmo regime jul-
gado tolerável permitiu, mais de uma vez, por questões
religiosas, o massacre em massa dos arménios. (474)
A verdade é que todo regime coator da liberdade
humana é execrável.
com a emigra-
Sírios e libaneses a éle subtrairam-se
ção para a América, especialmente Estados Unidos e
Brasil.
Calcula-se, para esta última nação, em 300.000 o
número de emigrantes, que dizem, se terem desdobrado,
com a sua descendência, em 2.000.000.

(474) — Edward J. Byng — Obra cil. p. MT


152 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Começou insignificante, no período colgnial. Assim


conservou-se, durante o Império. Movimentou-se quase
em massa, a partir de 1900, no rumo do Estado de São
Paulo, de onde se irradiavam para todos os rincões do
Brasil.
Era —
e é ainda —
uma emigração espontânea, que
entra no país de maneira imperceptível, aos magotes de
pequeno vulto, ou então isoladamente, sem passar pelas
repartições oficiais do trabalho. (475)
Daí não ser um
emigrante do tipo patriarcal coloni-
zador, como o que trazem
italiano, o espanhol, o japonês,
as famílias, mais ou menos, numerosas. Sai da sua terfa
só, para "fazer" o Brasil, mas o faz a seu modo, diver-
gindo dos outros povos.
Chega, acampa-se em qualquer parte. A profissão,
o meio de ganhar ã vida, o sangue fenício já lha indicou:
o comércio. É negociante por natureza. Em última aná-
lise, é um aventureiro, e o comércio não passa de uma
série de aventuras. Atira-se, pois, com heroísmo, a elas,
e, "jurando não ganhar nada, mercadeja a própria vida".

Humildes e modestos, dando a impressão de julga-


rem-se inferiores aos demais, inimigos de basófias e jac-
tâncias, repelem as outras profissões. Ninguém os vê no
ofício de operário industrial ou agrícola, garçons, etc. A
tudo preferem o m.ascatear, mesmo com poucos cruzei-
ros de capital, emprestados por um patrícia. E lá se iam
e se vão ainda, por êstes rincões afora, expostos a sol
e à chuva, sem refeições e sem dormida certa, tolerados
por uns e motejados por outros, com as mercadorias às
costas em pesadas malas de couro, indiferentes a tudo,
só entregues ao seu mascatear. Nessa árdua profissão de
teque-teque o libanês e o sírio sentem-se felizes, porque
é a liberdade numa aventura.
Mas quem descreve, com nitidez e colorido, a vida
tormentosamente heróica do emigrante libanês é a talen-

(475) — Alfredo Elis Júnior — "Os Sírios", in. "As Vaiilagcns da Imigração
Síria para o Brasil", de Amarílio Júnior.
HISTORIA UO COMÉRCIO DO MARANHÃO 153

tosa romancista maranhense Maria da Conceição Neves


Aboud, no seu belo romance "Galhos do Cedro", e o faz
tomando como personagem central a figura real da liba-
nesa Naibira, a fundadora do ramo maranhense da famí-
lia Aboud.
São páginas interessantes que, transladadas para
aqui, bem animarão esta narrativa:

"Um dia Nahira tomara a resolução de executar o plano


que o marido, Nassim, tivera em vida: emigrar para o Bra-
sil.

"A aldeia escandalizou-se. Muitos acharam-na louca.


Outros, que queria liberdade, amantes. Julgaram-na crimi-
nosa por desejar levar os filhos e abandonar o sogro, contan-
do só com ela. Nabira não ligava aos comentár-os: Justiji-
cou-se apenas com a mãe. Disse-lhe não pretender sujeitar-
se nunca ao triste e monótono destino que ela tivera. Jamais
se casaria de passar anos labutando na terra para ga-
novo e
rantir Uma vida medíocre, não queria. O padre veio aconse-
lhá-la. Foi em vão. A mãe nunca mais lhe dirigm a palavra.
Em vão. O sogro chorava horas a fio. Em vão.
Só o velho poderia defendê-la, contando que ela esta-
va pretendendo realizar o sonho do marido. Mas numa tris-
te vingança, porque ela o abandonaria, não disse a
verdade,
a ninguém. Também, foi o único a não pedir a Nabira que
ficasse. Tinha mêdo, mêdo de inteferir outra vez contra o

destino.
haviv. par-
"O surto de emigração se adensava. Da aldeia
Agora formava-se outro maior, que
tido um grande grupo.
seguiria dentro de um mês. Apenas dois
homens levaram as
Os outros aventuraram-se sós. Ou eram
esposas e os filhos.
solteiros ou deixavam as famUias para mandá-las buscar
melhor situçao. Nabira
mais tarde, quando estivessem em
com êsse grupo. As mulheres da al-
declarou que partiria
Consideravam-na uma inde-
deia não lhe dirigiam a palavra.
solta no
cente, uma perdida. O que faria,
era uma mulher. Era uma
que nela o sexo 'estava morto. Não
tecer sonho, de enriquecer
famiUa.
máquina de
metada para si, metade
"Ela dividiu o dinheiro da arca,
mais novo fi-
para o sogro. casa não ser u vendida. O filho
A
com o velho. Nabira rogou-lhe para educar a criança
caria
P--eteu que^o
ZZdZdo-a à escola o mais cedo possível. morte do avo. No
depois da
mandaria huscar o seu caçula
154 JERÔNIMO DE VIVEIROS

fundo do coração, o velho admirava a nora, que era forte,


corajosa e não alijara de seus ombros de mulher, a tarefa
que o marJdo determinara intentar.
"Partiram os emigrantes numa grande carroça pela es-
trada de Beirute, acompanhados, até muito longe, pelos seus
familiares. Apenas à Nahira, ninguém acompanhou. O sogro
em casa, sofrendo as saudades
ficara dos netos mais velhos.
Adama fôra embora, viver com uma das filhas. Disse não
ter Coragem para continuar morando na cidadezinha em que
Nabira a envergonhara. Não atendeu os rogos desta, no sen-
tido de ficar ali para ajudar o velho a criar o menino.
"Nabira não tinha ninguém que lhe desse o último a-
deus, desejando-lhe boa sorte, mas, talvez, fôsse a mais ani-
mosa daquelas criaturas que enfrentavam o desconhecido.
Apertava no seio Samir e Abdo, enquanto lágrimas grossas
lhe escorriam no rosto. Lágrimas de saudade do seu Yussef,
nascido num dia de sol, num dia muito, azul, em que Nassim
dera uma pulseira de ouro, iorcida, arrematada por dois cora-
ções. A pulseira estava no seu braço, destoando de seu ves-
tido de luto.

"A noitinha, separaram-se, entre lágrimas e votos de


ventura, os que seguiam dos que ficavam^ Os parentes re-
gressaram a pé ']à aldeia e a carroça continuou para Beirute,
gemendo nos gonzos, parecendo chorar também. Samir e Ab-
do dormiam. Nabira estava serena, confiante na sorte, com
a sensação de que Nassim a protegeria sempre. Sentia-se iso-
lada, porque as duas mulheres do grupo não lhe jalavam. Só
um rapazinho imberbe se aproximara dela com simpatia e
carinho. Nabira imaginou que êle sentia falta ui mãe e que
o egoísmo atirava-o para ela. Mesmo assim interesseu-se.
Quando arranjou sua ceia e a dos filhos, chamou-o para co-
mer também.
"Terrível saga de heróicos emigrantes que tendo vivido
sempre nas restritas limitações de suas aldeias, audaciosa-
mente se atiravam num mundo de idéias, língua e costumes
completamente diversos dos seus. Quandx) o navio que os le-
vara do Líbano para Marselha, deixou-os em França, senti-
ram-se perdidos e medrosos. Ninguém os compreendia. As
passagens para o Brasil eram compradas por gestos ou atra-
vés de raríssimos e providenciais intérpretes. Enganados pe-
los intermediários, passagens de terceira classe em porões
'

infectos, custavam-lhe os olhos da cara. Muitos empregavam-


se em Marselha, fazendo trabalho bruto, para arranjar o di-
nheiro aue os transvortaria à Terra da Promissão,
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHAO I5â
"No navio em que Nabira e os
jilhos viajaram além do,
companheiros de
Um
aldeia, vinham mais
de Zarley. outro de Alepo,
dois arJn t f^
nTZiTZ:^,^^^^^^^^
--^-^^^ote de Zarley que fôra
XcfL
nhecM vagamente a terra onde mlrlZirl c
huscaria,n fortuna. Bebiam
suas palavras, embora estas os
desencorajassem. O velhZ
era pessimista. Contava que a água do BrasH
pesava como
oleo, as frutas eram ácidas e mirradas, as crianças pálidas
e maltratadas pelo calor. Febres, transmitidas
por rnosaui.
tos, mataram centenas de
pessoas.

"Nahira ouvindo isso, apertou


instintivamente os filhos
cont-a o se o, domo se quissesse protegê-los
daquelas ameaças
e perguntou-lhe num desafio
porque então emigrava para
la. O velho, mirandense entre
os olhos semicerrados, teve de
confessar que. entre os países por êle conhecidos,
nenhAim
lhe parecera mais promissor para quem buscava fortuna,
como aquele Brasil ggante, ralamente povoado.

"Sorriram, cheios de esperanças. O riso de Nabira


foi o
mais amplo. Agora, depois de tantas vxissitudes atravessa-
das em comum, o grupo a aãotara. Nabira impunha-se pela
sua coragem, pelo seu rosto triste e vontadoso, sua impres-
sionante dignidade.

"Uniam-se todos numa mesma esperança, mas os grupos


se faziam de acordo com os lugares de onde tinham vindo.
Do seu, Nabira transformara-se numa espécie de líder. Aju-
dava os homens a fazerem planos, lembrando-se das idéias
de Nassim. Consolava as duas mulheres, se choravam. Nas
noites negras e longas, fazia-os dançar e cantar velhasas
canções da aldeia para esquecerem tristezas. E, paradoxal-
mente, a música de ritmo tristonho e plangente os animava.
Sofriam muito, principalmente pela falta de alimentação for-
te e saudável, à qual estavam habituados. Alguns adoeceram.
O rapazinho imberbe teve um febrão e o carinho com que
Nabira o tratou, acabou por óolocá-lo num plano especial no
coração daqueles que de princípio a hostilizaram.
"Longa viagem. Emocionante chegada. As iljtnitadas
costas do Brasil os impressionaram. Quanta terra para con-
ter seus sonhos. O céu claro e azul era um prognóstico de bôa
ventura. O apito estridente da chaminé do arcaico vapor que
os trouxera para a Terra da Esperança soou como um grito
àc. Li-ória. Haviam vencido a primeira etapa! O silvo foi ás-

pero, vibrante, comovente e vívo, como seriam, certamente,


suas vidas ali...
156 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"Saltaram em Santos. Já não tinham qvM.se dinheiro e


tinham ainda menos, coragem de se separar. Os sírios segui-
ram para São Paulo. Os de Zarley e da aldeiazinha de Nábi-
ra uniram-se, na ânsia de deliberar o que fariam, apegan-
do-os uns aos outros, pois eram, reciprocamente, tuó^o, o que
lhes restava na pátria longínqua. Alugaram um barracão
caináo aos pedaços e lá viviam em promiscuidade, homens
mulheres e crianças. A comida era feita em comum. O azeite
para a lamparina, que ilumiriarifa as suas noites, devia ser
dado, cada vez, por um dos fnoradores. Na noite em que se-
ria pago pelo velho marinheiro de Zarley, êle apagou a cha-
ma com um sopro enérgico, pois não tinha um vintém. Falou
que não precisava de luz para iluminar tanta miséria. O ra-
paz imberbe morreu ali mesmo, esvaindo-se em vMenta de-
senteria. As crianças os viram morrer. Samir perguntava ;à
mãe, a todo instante, porque haviam deixado a casa limpa
onde moravam e em que comiam tão bem.

"Lentamente, o grupo foi-se dispersando, cada qual en-


carando a própria sorte. Nenhum enfrentaria as dificuldades
de Nabirra, precisando trabalhar com duas crianças \às costas.
Ela foi heróica. Fez os piores trabalhos, deixando os filhos
aqui e ali. Seus vestidos começavam a rasgar-se. Yárins noi-
tes dormiu sem comer, para que Samir e Abdo tivessem um
pouco de leite. Suas mãos ainda se tornaram mai^ feias e ás-
peras, seu rosto, porém, continuava invulnerável \às agruras
do tempo e da vida. Liso e belo.

"A emigração continuava, cada vez mais caudalosa, liba-


neses e sírios espalhando-se pelo Brasil. Os primeiros a che-
gar começavam a firmar-se e um dêsse pediu Nábira em ca^-
samento. Amou-a pela sua coragem e beleza. Com aquela
mulher ao lado, conquistaria o mundo. Nabira sentiu-se ten-
tada a casar. Estava exausta, cansada de lutar sózinha. A
tentação foi rápida, entretanto. Imaginar-se nos braços do
homem balofo e envelhecido, repugnou-a. Depois, ainda não
estava vencida. Ainda teria força PQ-ra prosseguir. Venceria
só. Só, voltaria, para cuspir na marca que deixara em sua
porta.

"Um dia viu-se com algum dinheiro. Comprou quinqui-


lharias — pentes, grampos, latas de talco e de pomada chei-
m.ta -nara cabelos, de negro. Pôs tudo num taboleiro e foi ven-
dê-los numa das esquinas de São Paulo. Com alguns meses o
taboleiro virou mala pesada de sortimento. Nabira e os fi-
lhos seguiram para o interior do Estado. Samir a ajudava
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 1 57
tvmanão conta do irmãozinho e servindo de intérmete
do era necessárM. "uerprcte anan
quan-
"Então começou uma saga
mais suave, porém ainda
chera de obstáculos. Ela e
os filhos conheceram
0^'nterror hrastlerro, levando a quase tlt
malinha de huqlgangas a vU
larejos afastados, onde
raramente chegavam um
vidro de
perfume mesmo ordinário, fitas para
cabelo ou pílulas purga,
tivas. Os mascates carregavam
e distribuíam ilusões nas re-
^ ^'"''^ começando a a-
cordar
"O tempo corria. Caiu o Império. D. Pedro
foi banido da
patrta estremecida e no vilarejo
onde Nabira mascateava na
ocasião, nem se soube d:sso. O tempo ia correndo, correndo...
"Correndo... correndo... e como seria
impossível fazer
justiça, ao espírito dessa mulher,
embora com adjetivos su-
perlativos, é preferível que sejam relatadas
algumas de suas
atitudes, capazes de defini-la perfeitamente:
uma vez, parou
numa vila, onde três famílias libanesas pereciam de febrr a-
marela; não os deixou em busca de nova praça para
seu o co-
mércio, enquanto não viu curados os patrícios,
que conseguiu
salvar com o risco da própria vida. Outra vez matou com
as pró-
prias mãos um cão que mordera a perna de Abdo
\à entrada
de um aldeiamento. Esbofeteou impiedosamente um sujeito
que lhe faltara com o respeito, numa estrada solitária. Fêz
as pazes cfsm Deus, numa capelinha católica, humilde caia-
da de branco, chorando ante a imagem da Virgem e deposi-
tando no cofre da Santa a féria de um dia de trabalho. Siste-
maticamente, procurava cartomantes, na ânsia de saber notí-
cias do filho deixado no Libano. Quanto aos outros filhos, ta-
rimbados na escola da vida, espertos, matreiros, já faziam
seu próprio comércio. Veneravam a mãe e tinham também
uma grande, uma desmesurada ambição. Liam e escreviam
mal, porque só tomavam lição interrompidamente, à propor-
ção que Nabira parava, mais ou menos tempo, em determi-
nados lugares. Graças, porém, as suas inteligências agudas e
práticas, tinham grande habilidade em resolver problemas e
ganhar dinheiro. Outra grande alegria para ela, era pousar
em casas de libaneses ou sírios. No Brasil, os dois povos
se confundiam, constituindo um só. Conhecida em todo ter-
ritório onde circulava, era recebida com alegria. Várias vêzes
recusou-se a casar com homens que lhe dariam conforto e
paz de espírito. Apesar de não saber ler ou escrever e de sen-
tir dificuldade em expressar-se em português, tapeava ou
Comovia os fiscais, que tentavam obrigá-la a pagar pesados
158 JERÔNIMO DE VIVEIROS

impostos sôbre as mercadorias de sua lojinha ambulante. Os


lucros do negócio, ela os trazia dentro de urà saco costurado
numa das anáguas. Vivia sobressaltada, temendo ser rouba-
da e não se deitava sem 6 saco de dinheiro e uma PEIXEIRA,
adquirida nos sertões de Pernambuco.
"Nessa existência dura e cansativa, encontrava alegrias:
a maior era observar a habilidade comercial de seus filhos.
Levava notícias de uns para outros,, arranjava casamentos,
que continuavam se fazendo à velha maneira das pátrias
distantes.
"Quando chegava numa casa, a vida normal se interrom-
pia. Pediam-lhe conselhos, rerrvédios para doenças, matavam
um carneiro para fazer os pratos típicos da cozinha ori'entál.
Conversavam durante horas. De vez em quando, Ndbira ti-
nha o enorme prazer de encontrar alguém vindo de sua al-
deia que lhe dava notíc.ias do filho e do sogro. Podia também
mandar-lhes dinheiro por amigos, que tendo feito fortuna
iam de visita à terra. Eram tocantes e muitos humanos os re-
cados enviados através desses privilegiados que reveriam o
Líbano dos Cedros Eternos.
'
A
emigração se fazia cada vez mais intensa. O a primei-
ros emigrantes, já estabelecidos e encaminhados, mandavam
buscar irmãos ou sobrinhos para ajudá-los a desenvolver os
negócios. Êsses encontravam o caminho feito: não tinham de
rasgar, sózinhos, e desafaparados, a selva de dificuldades,
onde se viram perdidos os primeiros aventureiros.
"E no Brasil inteiro, nos rincões mais isolados, do Chuí
ao Oiapoc, libaneses e sírios se espalhavam, nostálgicos de
suas pátrias distantes, mas sinceramente amigos do país que
os acolhera.
"Nem sempre recebidon com bôa vontade, eram pejorati-
vamente chamados TURCOS. Dolorosa ironia! Os brasileiros
os enquadravam entre os conquistadores de suas terras! Os
turcos não emigravara por serem os ricos e poderosos sonha-
dores do mundo árabe.

"O destino insondável levou Nábira, Abdo e Samir 'à ve-


lha e graciosa cidade de São Luís do Maranhão. Já viviam
prosperamente algumas famílias libanesas e quem sabe o
canto pacato da cidade, quem sabe a fadiga da vida errante,
levada durante muito tempo, os fizeram, lançar âncoras, de-
finitivamente, naquele pedaço do Brasil? O certo é que para-
ram ali e ali continuaram a lutar pela vida. Em alguns anos,
a casa comercial fundada por Nabira fazia bons negócios e
tinha um crédito sólido."
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

Nabira era um prodígio no balcão. Tinha gôsto, sabia


escolher o sortimento de mercadorias e por isso a "Casa
Otomana" atraiu a freguesia da elite maranhense. Os
irmãos Junqueira, famosos lojistas na mesma rua — a
Rua Grande, hoje Oswaldo Cruz, guerreavam-na. AUás,
o exemplo de Nabira não foi o único dado no Maranhão
pela mulher libanesa na arte de vender. Tivemos outros.
Da minha mocidade recordo-me de dois —
Rosa Facure
e Adélia Haick. Ambos na mesma Rua Grande, que na
época, era uma rua de armarinhos libaneses. Rosa ainda
agia numa loja espaçosa, por baixo de um sobradinho de
azulejo, de três janelas, próximo da praça João Lisboa,
mas Adélia tinha o seu estabelecimento numa casinha de
porta e janela, aí pelas cercanias do local onde se ergue
hoje o palacête de Eden Bessa. Que exímias vendeuses
eram elas? Que jôgo de recursos punham em cena para
cativar a freguesia? Adélia — alta, elegante, bonita —
prendia — logo ao chegar, na frase de saudação: Como
está linda o meu amor?! E, em pouco, o amor, julgando
comprar barato, levava-lhe as mercadorias por altos pre-
ços. Rosa usava outros processos. Eram os presentinhos,
ninharias que a freguesa pagava em dobro.
Com inteligência, Conceição Neves Aboud observa,
no seu citado romance, a transformação que em geral se
opera na mulher levantina, quando deixa a pátria para
viver na América. Lá, são criaturas passivas "contidas
pela civilização oriental nos estreitos hmites do lar e dos
trabalhos campestres"; aqui, são autênticas matriarcas,
"orientando os destinos dos seus e lançando-se no perigoso
mundo dos negócios".
Para a distinta escritora, a causa do fenómeno
socio-

lógico está na diferença das duas civilizações em jôgo —


a oriental e a americana. j -
Ai:oud e
Outra observação apreciável de Conceição
o costume dos casamentos só
serem realizador entre os
fêz, na sup la ci-
da mesma nacionalidade. A propósito,
dialogarem per esta
tada novela, Nabira e o neto querido
forma:
160 JERÔNIMO DE VIVEIROS

— "Vou casar-me no mês que vem. Estou amando uma


hrasileirinha linda.
Nahira se assustava:
—"Sérgio pelo amor de Deus, case com moça de
sua raça. Brasilie 'é fraca, non goste de tê filhos. Non goste
de cozinha. Quem vai fazer QUIBE p'rá ocê? Ocê non faz
hubage, mê netino.
—"A senhora gosta do dinheiro que ganhou no Brasil,
mas não quer seu neto querido para uma hrasileirinha honi'
ta. Por que?
—"Menino, eu goste de brasilie. Gosto muito mesmo.
Mas brasilie de São Paulo chama nós de turque, aqui in Ma-
tanon de carcamano. Ocê non vê qui tem muito pouco hatri^
cio casado com brasilie. Non dá certo, mê netino."

Isto mesmo notou Alfredo Elis Júnior em São Paulo,


onde constatou, no ano de 1927, 50,5Vo casamentos entre
êles para 42,2Vo com paulistas e 7,3*'/o com outras nacio-
nalidades.
Com o tempo, porém, dar-se-á a fusão das raças.
Pelo menos aqui, segundo os prenúncios.
Libaneses e sírios são acusados de serem vítimas do
fascínio do ouro, mas não se pode dizer que êsse fascínio
os arraste à usura, diante da generosidade até exagerada
com que cercam esposas e filhos.

Conforme muito bem afirma Bastani, os libaneses


adaptam-se com facilidade à vida brasileira. (476)
Quer êles, quer sírios, são disciplinados, ordeiros e
respeitadores às instituições. Não são emigrantes vicia-
dos e de maus costumes. Pobres, mascateam suas quin-
quilharias, jurando por Deus que vendem barato; enri-
quecidos, são os grosbonnets do pequeno parque indus-
trial de São Paulo e, no Maranhão, tornam-se proprie-
tários de usinas de descaroçar algodão, de fábricas de te-
cidos, de pilar arroz, de óleos, de sabão, etc. desmentindo
assim àqueles que só os julgam capazes do mister de mas-
cate.

(476) — Tanus Jorge Bastani — "O Líbano e os Libaneses no Brasil".


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO i6l

Haja vista a firma fundada pela velha libanesa Cha-


mes — a Nabira do romance de Conceição — e hoje a
grande organização comercial dirigida por Eduardo
Aboud.
Aí está ela com a maior fábrica de tecidos de algo-
dão do Estado, a mais bem aparelhada usina de desca-
roçar algodão, fábricas de óleo, sabão e pilar arroz, ocu-
pando o primeiro lugar na nossa exportação.
Certo que nenhum outro libanês atingiu êsse desen-
volvimento, mas vários prosperaram, como Quesra Metre,
Duailibe & Irmão, Duailibe & Filhos, Manoel Salomão,
etc.
CAPÍTULO XI

A Estrada de Ferro São Luís — Caxias

primeira estrada de ferro surgiu em Gales, no ano


de 1825, construída pelo engenheiro inglês Jorge
Stefenson, que inventara em 1804 a locomotiva.
Tinha 25 quilómetros: Imitaram o exemplo da Grã-Bre-
tanha outros países, entre os quais o Brasil foi o décimo
quinto, em 1854. Ligando o pôrto de Mauá à cidade de
Petrópolis, construiu a nossa primeira via-férrea o co-
merciante Irineu Evangelista de Sousa, futuramente Ba-
rão e Visconde de Mauá. Seguiram-se-lhe outras de :

Recife a São Francisco em 1858. Dom Pedro II no mes-


mo ano, da Bahia ao rio São Francisco em 1860, de Can-
tagalo, de Minas, de Santa Catarina, de São Paulo, do
Ceará ,etc.

De 1854 a 1889, —
trinta e cinco anos —
o Império
Brasileiro, instalou no seu território 9.355 quilómetros
de linha férrea, o que dá uma média de 267 quilómetros.
Mas dêsse total nem um quilómetro havia tocado ao Ma-
ranhão. Nem mesmo quando se levantou, no mercado fi-

nanceiro da Europa, o avultado empréstimo de 100.000


contos para estradas de ferro nas províncias a nossa ter-
ra foi contemplada. Se tínhamos uma 10 — quilómetros
164 JERÔNIMO DE VIVEIROS

era de emprêsa particular para o seu serviço interno —


o Engenho Central, à margem do Pindaré, organização
nossa, levantada exclusivamente com capital maranhen-
se. Do Govêrno Imperial nada havíamos recebido.
Por que essa exclusão ? Acaso considerar-se-ia a
configuração do nosso território imprópria para tais co-
metimentos, dotado de elevadas altitudes que obrigavam
rampas de grandes declives ? Não, certamente, que todo
êle, em regra geral, é composto de planícies e alagadi-
ços, como atestam as suas altitudes 28 ms. em S. Luís,
:

33 em Pedreiras, 76 em Barra do Corda, 85 em Caroli-


na, 125 no rio Grajaú, 195 em Balsas, 325 no Riachão e
655 no ponto culminante na Serra da Cinta. Seria a nos-
sa gente avêssa aos progressos dos transportes, apegada
ao lombo do burro ou do boi-cavalo ? Também não, que
São Luís teve carris urbanos (bondes) em 1873, três anos
após os do Rio de Janeiro.
Na opinião do engenheiro Fábio Hostílio de Moraes
Rêgo a exclusão do Maranhão provinha da falta de tra-
balho dos seus políticos, que estavam convencidos basta-
rem à Província e, portanto não precisar de
os seus rios,
linhas férreas. O próprio Fábio Hostílio escreveu :

"As estradas de ferro, que porverítura se tenham de e$-


tabelecer na Província, não serão mais do que auxiliares da
navegação fluvial". (477)

Para Fábio Alexandrino de Carvalho Reis, político


notável, que nos representou na Assembléia Geral Legis-
lativa em várias legislaturas e que era entendido nos
problemas económicos maranhenses, do caso em aprê-
ço era causa a falta de harmonia em que viviam os polí-
ticosmaranhenses, a quem aconselhava neste tópico :

"Os chefes políticos dos partidos que se degladiam, na


Província do Ceará —
Pompeu, Aquiraz e Ibiapaba —
eítão-
nos dando o helo exemplo de acordo, para levar a efeito a es-

(477) — Fábio Hostílio de Moraes Rêgo — "Breve Notícia sobre a Província


do Maranhão", p. 38. Rio, 1875.
HISTÓRIA DO COMílRCIO DO MARANHÃO
165

trada de ferro de Baturité, sem quebra dos


prncípios que os
dividem. Imitemo-los, se quisermos ser
atendidos e conside-
rados." (478)

Afigura-se-nos que nenhuma das duas explicações


é aceitável. Com efeito, contradizem-nas, a ambas, as
concessões para linhas-férreas com garantia de juros e
outros favores, que, então, obtinhamos dos Ministérios,
qualquer que fôsse a sua feição partidária. Em 1875, na-
da menos de três projetos dependiam de decisão do Go-
vêrno Caxias a Teresina, Barra do Corda à Carolina e
:

São Luís ao Rosário. E' claro que tais concessões só po-


diam ser conseguidas à sombra dos nosos estadistas
Vieira da Silva, Gomes de Castro, Felipe Franco de Sá
e Francisco Dias Carneiro. E assim aconteceu. Gomes de
Castro nunca deixou de verberar a falta nos seus discur-
sos e Dias Carneiro não descansou senão depois de conse-
guir a estrada de ferro de Caxias à Cajàzeiras. Neste as-
sunto, os chefes da política maranhense, fossem conser-
vadores ou fossem liberais, sincronisavam admiravel-
mente com o povo. Não houve da parte deles menosprê-
zo pela solução do problema. A questão estava na difi-
culdade de levantar capitais na Europa para empreendi-
mentos dêste jaez. Era aí que esbarrava o concessionário
ou a empresa que organisava, mesmo quando era chefe
de uma firma de crédito como Martinus Hoyer ou uma
Companhia como a "Melhoramentos do Maranhão". Am-
bos naufragaram em tentamens idênticos Martinus na :

estrada Barra do Corda - Carolina, a Companhia na es-


trada Tocantina. O banqueiro europeu emprestava o seu
dinheiro, mas exigia um conjunto de condições
nem
sempre fáceis de reunir, e nas quais figuravam, além das
estabi-
atinentes ao caso, a política financeira do país e a
lidade do Govêmo.
de con-
Assim, sem sairmos do enervante marasmo
que se não construíam, abeirava-
cessões de vias-férreas

(478) - Fábio Alexandrino de Carvalho Reis


- "Ligeiro estudo sobre o eMado
Rio. 1877.
económico e industrial do Maranhão", p. 7.
JERÓNIMO DE VIVEIROS

mo-nos já do fim do regime monárquico,- quando, em


1888, o Govêrno conferiu ao engenheiro Nicolau Lecocq
o privilégio de explorar a estrada de ferro que instalas-
se entre Caxias e Cajàzeiras, com a garantia de juros de
6"/o até 30 contos por km. Lecocq transferiu seus direi-
tos à Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil, e
esta por sua vez os passou à Companhia Geral de Melho-
ramentos do Maranhão, que, afinal, construiu a nossa
primeira via-férrea numa extensão de 78 kms, que cus-
taram 2.214.774$517, ou sejam 28.394$288 por km.
Inauguramo-la em 1895.
Embora modestíssima, quebramos com ela o nosso
encanto, mas não tomamo-la como estímulo, que já ví-
nhamos desde 90 assoberbados pela crise éconômica-fi-
nanceira, tantas vêzes referida e estudada neste livro.
Por seu turno, o Govêrno Federal fazia na época uma po-
lítica de economia para estabelecer o seu crédito na Eu-
ropa, abalado com a mudança de forma de regime e le-
vantar o câmbio da taxa de 7.
Nestas condições, o Maranhão continuava a ser, na
frase incisiva de Fran Paxeco, "um réprobo da viação
acelerada, condenado à perpétua galé do transporte em
vapores ronceiros e em burros de cangalhas".
Mas em 1903, no tocante a transportes, eetavamos
num ponto de saturação completa. O Maranhão inteiro
clamava num protesto veemente. A Associação Comer-
cial, então, reuniu as classes conservadoras numa assem-
bléia, realizada a 12 de agosto, que se tornou célebre e
na qual Pahnério Cantanhede, notável engenheiro mara-
nhense, leu um memorial empolgante pela justeza dos
conceitos. Assentou-se estar a salvação do Estado numa
estrada de ferro ligando São Luís a Caxias e transmitiu-
se a Benedito Leite e demais representantes maranhen-
ses no Congresso Nacional o telegrama abaixo :

"Senador Benedito Leite e mais Representantes Mara»


nhenses.
"Associação Comercial reunida conjuntamente classes
interessadas resolveu dirigir-vos apêlo, a fim de prosseguir'
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 167

des louváveisesforços prol estrada ferro São Luís-Caxias


intuito evitar continuada paralização comércio prejuízos ex'
traordinários lavoura devido encalhe tôda flotiUha fluvial
obstrução completa rio Itapecuru. Estado calamitoso reclama
urgentes enérgicas m^edidas.
"Inútil qualquer serviço limpeza, rjo por faltar água. Rio
Parnaíha também sêco. Abaixo apresentamos exposição apre-
sestada Dr. Palmério e aprovada reunião a fim melhor es-
darecer-vos. Pedimos fineza apresentardes nome êste telegra-
ma Exmo. Presidente República e Club Engenharia dando
publicidade se entenderdes conveniente.
"Eis representação aprovada: O projeto de viação geral
de que se tem tratado considera rio Itapecuru fazendo parte
do trecho compreendido entre Caxias-Capitál. Só absoluta
falta Conhecimento condições navegabilidade Itapecuru pode-
ria originar sua inclusão no sistema viação geral subordina-
do rede estrada ferro, sistema transporte por excelência a rio
que não permite barcas superiores 0m,80 calado e 30 metros
comprimento.
"Mas não são esses únicos defeitos essa navegação que só tem
servido de estorvo desenvolvimento Estado, obstando construi
ção vias férreas venham unir sertão ubérrimo matas secula-
res, vastos campos criar ao pôrto São Luís por onde é feito
todo comércio Maranhão parte Piauí-Goiás. Tôda via trans-
porte que não traz de modo direto contínuo e fácil ao pôrto
exportador mercadorias por ela transitam é de nenhum valor
económico. Isso exatamente acontece à navegação Itapecuru.
Além insignificante tonelagem a que estão obrigadas embar-
cações virtude acanhadas proporções rio, são elas ainda su-
jeitas a uma navegação mista, isto é, fluvial e costeira
ao
mesmo tempo. Como conciVur em vapores tão pequenas di-

mensões condições tão antagónicas? Como construir navios de


diminutos
ca<adn insignificantíss^o com a bóca e comprimpv.to
para carga e passageiros e
ao mesmo tempo com capacidade
Embarca-
mais corri condições de navegabilidade no alto-mar?
ções que vêm de Caxias têm depois de
chegar bôca Itapecuru
contornando Ilha para entrar no
de fazer navegação costeira,
São Luís. Esta disposição hidrográfica dá causa tantas
pôrto
obedecer planos que
sujeições que vapores têm forçosamente
nem com ex-gências fluviais nem costeiras..
se não coadunam
r^nto-caa.c ivcndc
Dc Uito. recner Itapecuru pequeno caluda
devido ressacas, necessita
volumá emergido, e a parte litoral,
emergiúa. resultado esta com-
maior calado, menor superfície
acréscimo ^eíes, Pesa-
plexidade exigências se condensa em
difíceis. Condições
navegabilidade
gens e viagens demoradas
168 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Itapecuru outros rios Estado têrrí pesado como atmosfera asfi-


xiante sôhre comércio, agricultura, atrofiando desenvolvimento
material Maranhão. Essa é única razão energia forças produ-
toras parecem estagnadas, apesar ingentes esforços espíritos
esclarecidos e úperosos de quando em vez lampejam nos hori-
zontes noSsa vvda económica. Não há lavoura, comércio, in-
dústria que resistam absurdas inverossímeis tabelas fretes nos-
sas companhias navegação flmnál. Como se não bastassem
tantas dificuldades, tantas resistências a se anteporem desen-
volvimento material Maranhão, eis que surge súbito fantasma
sêca estancar nascentes nossos rios, diminuindo-lhes o caudal a
ponto ficarem interrompidas comunicações com interior. Há 20
anos descarga estiagem Itapecuru diminui continuamente. De
46 metros cúbicos por segundo passou para 30 metros, se é que
a tanto chega atualmente o seu volume. Não há outra coisa es-
perar a não ser continuação essa diminuição e interrupção co-
m'ércio Maranhão transitam Itapecuru e dois terços pòpulaçãó
Estado habitam zonas servidas essa via de comunicações. Que
esperar para essas aglomerações a não ser aniquilamento?
Margem Itapecuru estão situadas cidades Caxias, Codõ Itape-
curu- Mirim, Picos, inúmeras vilas florescentes, tais como Ro-
sário, Coroatá, Mirador, outras menor importância. Zona algo-
doeira Estado está encravada seu vale e produção cereais é tão
abundante que anualmente apodrece uma parte nos paióis, es-
perando transporte e outra fica nas roças, pela inutilidade de
colhê-la, visto falta meios condução. Essa sempre foi situaçãc
normal lavoura comércio êsse^ vale ubérrimo, e se assim já era
aflitiva e dava lugar tantos abusos injustiças nos rateios simu-
dos da carga a transportar, que será agora depois interrom-
pidas c omunicações? A sêca que ameaça s ertões Maranhão,
além de trazer desgraça seus habitantes vem com interrupção
c''>mun'jcações privá-los socorros de que venham carecer. Os va-
pores, que têm conseguido chegar Caxias já só alcançaram
transpor distâncias, força cabo.-, guinchos e auxílios dezenas
homens ás costas suspendiam o suf ciente para vencerem intu'*-
mináveis secos que cada dia aumentam, não só em virtude do
alargamento da seção de vazão, que -diariamente ctfsce, como
também pela diminuição notada nau descarga do rio As viagens
redondas, que eram feitas em seis e oito dias, levam hoje mês
e mais e quando conseguem os vap'''res completá-las, chegam
com avarias tais que têm de entrar para oficinas e sofrer aon-
scrtos avultados e dispendioso. Só há uma solução, êste estado
coisas, e essa é uma estrada ferro ligando São Luís a Caxias, cu-
jo desenvolvimento não será superior a 320 quilómetros. Essa
estrada colocaria íntima comunicação Teresina e São Luís, pois
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

já 3X:Ste uma linha férrea entre Caxias e a Capital do Piauí


Ficaria por esse modo a 400 quilómetros do
pôrto exportador,
isto é, a 15 horas de viagem com pequena
veloc idade a Capital
de um importante Estado, que também se atrofia
por falta de
comunicações. Como. porém, levar efeito empreendimento
que
exige tão avultados capitais em época crse, como ora atraves-
sa êste Estado? Na impossibilidade vir empresa particular re-
solver tão importante problema, só resta alvitre '/mpetrar açãn
Governo Geral para quf s^ja construída essa estrada ie 32
quilómetros, a fim socorrer populações flageladas sêca e acabar
de vez com interrupção comunicações com interior que ameaça
de marte comércio, indústria, lavoura Estado e das zonas Umi-
tiofes no Piauí e Goiás. Diante da ndiim-dade que se nos anto-
lha ])"ro!Osa e será o esfacelamentr '•ovâipico E,*tado pele in-
terrupção comunicações e desgraça tôda uma população amea-
çada sêca e que poderá ser vítima da miséria e da morte, «
necessária ação decisiva parte poderes públicos e esta asso-
ciação ousa esperar as mais prontas providências. De ano pa-
ra ano escasseiam as águas do Itapecuru e breve não haverá
mais comunicações de espé&e alguma para o interior porque
estradas nunca as teve o Maranhão. A via férrea que se pede
Como meio de salvação pública terá grandioso futuro porque
passa tôda sue extensão zona mais fértil — Estado e desen-
volver-se-á exatamente direção prolongamento Estrada Ferro
Central do Brasil. Esta futura via férrea há transitar grande
parte comércio centro norte do Brasil, que terá como término
pórto Itaqui, apenas dista oito quilómetros desta cidade c que
é o mais abrigado do BfrasH.
Êsse magnífico imponente ancoradouro tem a alguns me-
tros de terra 17 metros de profundidade mínima, seu compri-
mento 6 quilómetros e largura mínma 4, podendo dar nresso
qualquer hora dia ou noite qualquer altura maré aos maiores
navios do mundo por um vasto canal de 30 metros de profun-
didade mínima na extrema baixa-mar e algumas milho» de
largura. Êsse porto, primeiro do Brasil depois do Rio dt Ja-
neiro, é ainda superior a este quanto a abrigo e a êle está
reservado importante papel nas vindouras permutas interna-
cionais.Não é estrada sem significação essa cuja construção
era pede. Para a salvação de uma zona em perigo iminen-
«^e

te de aniquilamento além das vantagens enumeradas, tem'


ainda a de pôr em comunicação por meio de futuros prolon'
gamentos o sul da República com o norte, de cujo tronco hão
â-? partir ramais que irão ao Pará. Ceará, Goiás e d<^.mais
tos
económicas
Estados do Norte. A satisfação das necessidades
contingente para
aliará vantagens estratégicas, trazendo como
170 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Unanças união rendas provenientes grande desenvolv'raentr,


terá tõda zona servida por essa via de cofnunicaçãc^, que há
de ter como término quando prolongada e unida a Estrada de
Ferro Central, os dois primeiros portos do Brasil Rh de Ja-
neiro e Itaqui. — Diretoria Associação Comercial."

Nesse mesmo sentido, Palmério Cantanhede escre-


via ao chefe da situação.

"Estrada de Ferro de São Luís a Caxias — Felizmente,


posso, baseado nos estudos que pz sêhre este rio e na planta
do que do mesmo levantei, ter uma ideia de seu valor, como
via de comunicação, e da topcyrafia de seu vale, pata poder
indicar, mais ou menos, io projeto de traçado, nas suas linhas
gerais, de uma estrada de ferro unindo Caxias a São Luís.
"Há vinte anos, em 1883, já eu dizia em documento oficial,
que o rio Itapecuru já não comportava o comércio que seus
recursos, exigiam,
"O movimento comercial de então era talvez metade do
de hoje, e isso é fácil provar-se cem a estatística da renda
das companhias de vapores.
"A criseque atravessa o Maranhão não é simplesmente
oriunda de uma suspensão de negócios ou de uma causa tem-
porária. Estamcs ameaçados de ficar sem pôrto, sem vias de
transporte e, por conseguinte, sem comércio e sem rendas pa-
ra o Tesouro. Além de estarem secos os rios, estão tamh<ém
cheios de coivaras, isto é, madeiras entrelaçadas de modo a
obrigarem as águas a conve:rgir para o canal com o fim de
aprofundá-lo.

"Em vindo as cheias, essas coivaras serão sérios obstá-


culos ã navegação e o rio ficará de todo inavegável, quer
durante a estiagem, quer durante o tempo das águas médias.
"Se a estrada não fôr construída rãpidamente, o Estado
terá que sofrer a diminuição contínua de suas rendas.
"TRAÇADO — Pela planta anexa vê-se que a estação
terminal de S. Luís deve ficar na parte mais ocidental da ci-
dade e mais próxima do comércio, que é o lugar atualmente
ocupado pelos restos das ruínas do dique das Mercês. Escolhi
êsse local por ser o que mais próximio fica do comércio e dos o/r.
mazéns do Tesouro, com os quais poderá mais tarde ligar-se
a estaçãc por meio de um prolongamento insignificante sôbre
um futuro cais. Esta escolha tem mais a vantagem de ficar
sôbre um canal bastante profundo e facílimo de ser melhorado
e no ponto mais estreito do baixo Bacanga, o mais favorável,
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
i7i

para dai se lançar a ponte que tem de


atravessar para o Itauni
Saindo a estrada de ferro do dique,
segue por um atêrro até
S. Tiago, cujo largo atravessará, em nivel de quatro a cinco
metros ahai^o do atual.
"Dai deverá seguir pelo Apicum e por trás dos sitiou do
Caminho Grande em direção ao Batatan e depois ò Estiva —
ponto obrigado — estação terminal da Ilka. O Estreito dos
Mosquitos tem aí 176 metros de largura,
a profundidade «
grande e a amplitude das marés é, nos sizígios de
equinócio, dc
6,80m. Êsse ponto >é muito frequentado pela navegação;
por ai
passem os "--cvores e barcos a vela que vão para os rios Munim,
Itapecuru, Iguará, para os diversos estuários do continente
e
para os diversos pontos da costa oriental da Ilha. Construída a
estrada de ferro, a Estiva tornar-se-á um ponto importante,
pois as embarcações que chegarem até lá não se arriscarão aos
perigos e demoras da passagem pelo Boqueirão, onde tanto
naufrágios são anualm,ente registrados. Aí deverá ser lançada
a. mais importante das obras-de-arte da estrada —
a ponte li-
gando a Ilha ao continente.

"Esta ponte deverá ter 180 metros de largura, além das


aproximações e um vão móvel, sobre eixo vertical. Aí princi-
pia o trecho ma s difícil, o mangal da Estiva, com cinco qui-
lómetros de extensão. Já abri em tempos uma estrada do Ro-
sário à Estiva e é por ela que hoje transita algum gado.
"O fio telegráfico aprove'tou-a em tôãa sua extensão, pois
encontrou solidificados os mangais, isto é, os trechos encrava-
dos nos mangais. Depois atravessa a estrada o Campo Redon-
do, com três quilómetros,, o mangal do Genipaúba (muito flui-
do), com um quilómetro e, finalmente, os campos dos Perizes
(9 km.300) e a faixa da mata com 12 km.200 até Rosário.
"Aconselho que ela vá ma s perto do Peri de cima, on-
de os terrenos são muito mais favoráveis.
"De Rosário à Caxias não há dificuldades técnicas, uma
vez que se siga o traçado indicado na planta, nas suas linhas
gerais.
"Se o explorador se aprocrimar mais do rio Itapecuru do
que está indicado, encontrará terrenos ingratos, morrosos e
pedregosos, ao passo que na zona limítrofe entre os campos
e as matas os terrenos são chatos, permeáveis e
mais ou me-'
nos arenosos.
"Se a estrada fôr localizada margeando o rio, a despesa
muito
será enorme; é preciso seguir o vale, sem se aproximar
baixos, que são
do rio. evitando ao mesmo tempo os campos
A linha telegráfica está em terreno mui-
alagados de inverno.
172 JERÔNIMO DE VIVEIROS

to desfavorávelpara uma estrada de ferro, porque procurou


a proximidade do rio.
"De Rosário a Itapecuru (55 km) o terreno 'é ligeiramente
ondulado em alguns trechos; de Itapecuru a Coroatá a estra-
da passa pelos campos das Pombinhas, campos vastíssimos,
onde os gados se refazem das viagens do sertão e onde se reú-
nem Compradores e vendedores para as feiras de gado.
"De ItapecKru a Coroatá (85 km), de Coroatá ao Codõ (44
km,500) o terreno é plano e firme e de Codó a Caxias (80
km) a estrada atravessa campos altos, secos e planos.
"Todo o terreno escolhido é favorável, exceto o trecho da
Estiva. No percurso total de 320 km só tem uma ponte im-
portante, que é a Estiva.

"CONSTRUÇÃO — A construção deve começar simultâ-


neamente da Capital para a Estiva, da EstÍA}a para Rosário e
de Rosário para a Estiva.
"Esta parte que é mais difícil, é a que tem de ser fe ta
com yuais presteza, a fim de poder ser transportado sem de-
mora e economia todo o material para o prolongamento de
Rosário em diante.
Não só as companhias de vapores não poderão transportar
o material no devido tempo, pqr lhes faltarem embarçações,
como teriam ainda de pedir preços exagerados e deixar apodre-
cer nos paióis do interior maior quantidade de géneros do que
atualmente.
"Em três anos, a contar da data da inauguração dos traba-
lhos, poderia ficar pronta a estrada, uma vez que não lhe faltas-
sem os recursos financeiros.
"A estrada deve ser bem
construída, pois o tráfego há 'de
ser pesado e sujeito a um rápido desenvolvimento.
"Dormentes de madeiras de lei (o que se encontra em todo
o percurso), trilhos pesados, bitola de um metro, curvas rampas
moderadas e económicas, material de primeira ordem, escolhido
por gente entendida e honesta.
"Na planta anexa vai indicado o jprojeto de um ramal de
pequena extensão, ligando o Arari no rfb Mearim, ao tronco da
estrada.
"Ao Arari convergirá todo o comércio do Baixo Mearim e
do Pindaré, o que virá aumentar a renda em não pequena es-
cala."

Benedito Leite, então, apresentou o projeto, justifi-


cando-o em longo discurso :
HISTÓRIA DÓ COMÉRCIO DO MARANHÃO

"O Sr. Benedito Leite começa dizendo que vem, em nome


da representação maranhense, apresentar um projeto autorizan-
do Governo a promover a construção de uma estrada de jerro
entre a Capital do seu Estada e a cidade de Caxias.

"Afirma que não tem por fim simplesmente provocar o e-


feito que fatos desta ordem costumam produzir nos Estados,
porquanto a representação maranhense não tem por habito re-
correr a meios dessa natureza; assumindo a responsabilidade
de solicitar do Congresso medida de tanta relevâjicia, somente
o faz depois de haver ponderado bem o assunto e na inteira
convicção de que essa medida é necessária, útil para o bem
público e não trará para os cofres da União riscos que levem
os poderes públicos a não aceitá-la.
"O orador não tem necessidade] de expor ao Senado o cor>
veniência de uma estrada de ferro.
"Nada mais fácil do que despejar da tribuna grande nú-
mero de citações de autores, uma biblioteca mesjno, para pro-
var isso, mas! seria até falta de critériz- ^'^ocurar provar a uma
corporação tão ilustre, como o Senado, uma coisa que ninguém
ignora e que nãoí deve merecer sequer as honras de uma dis-
cussão. O que convém é verificar se há necessidade da estrada
projetada e se ela pode sei* realizada sem gravame para os co-
fres públicos ou pelo menos se não merece algum auxílio da
parte destes.
"É isto o, que o orador se propõe fazer e espera conseguir,
baseado, como se acha, em dados que representam fatos posi-
tivos e cálculos formulados por autoridades altamente com-
petentes no assunto.
"Faz longas considerações explicando as condições dos riot
Itapecuru e Mearim, cujos vales a estrada vai servir. Mostra
que esses rios não ^oferecem facilidade à navegação e, portan-
to, ao transporte. Diz que istn, é uma verdade que cada vez
mais tií „centua. mas que já } rzcon r.i''Âa de muito tempo.
Não qu^r cansar a atenção do S>.nado -.vm o histórico da na-
vegação no Estado do Maranhão para demonstrar que os
rios

lá não suprem a falta de estrada de ferro.


res-
"Pondera, no meio de algumas considerações a êsse
peito, que já na antiga obra de Gaioso se encontram referên-
que, se por acaso, o
cias pouco lisonjeiras ao rio Itapecuru e
melhorou até certo ponto as condições de
uso da navegação
lado a hab.tação e o cuHivo
navegabilidade do rio. por outro
Diz a*nda que
das margens prejudicou-o em grande parte,
expor ao Senado as obras que nesse no
poderia ^esta ocasião
disso para o projeto
se tem festo, porém, não tem necessidade
4 JERÔNIMO DE VIVEIROS

e não quer absolutamente tratar senão ão opjeto único que o


levou ú, tribuna.

"Explica, Com largo desenvolvimento, que a navegação


fluvial no Estado do Maranhão poderia talvez estar em me-
lhores condições se tivesse, desde seu início, sido dividida em
duas seções, com vapores especiais propriamente para os rios
e outros de maior calado, que fizessem as viagens do porto da
Capital às localidades próximas da foz de cada um dos rios,
esctilhidos para ponto terminal das linhas fluviais; porém diz
o orador que isso, que aliás traria também algum inconve-
niente na bolãeação, poderá quando muito ser aplicado à na-
vegação de outros rios, que não o Itapecuru e o Mearim, cujos
vales pela sua importância reclamam e comportam a estrada
de ferro de que está tratando, como vai demonstrar.
"Apresco.ta um telegrama que foi dirigido a êle e aos
demais representantes do Estado pela ilustre Associação Co-
mercial de S. Luis, o qual contém uma exposiçJo detalhada,
feita pelo ilustre engenheiro do Estado, Dr. Palmério de Car-
valho Cantanhede, acerca da estrada de ferro de São Luís a
Caxias. Apresenta ainda um trabalho de estatística do movi-
mento comercial dos rios Itapecuru e Mearim, preparado
igualmente pelo Engenheiro Palmério Cantanhede, e também
o tópico de lima carta que lhe di -giu o mesmo engenheiro so-
-

bre a referida Estrada e, finalmente, um trabalho sôbre mes-


mo assuntos preparado pelo eminente engenheiro Dr. Osório de
Almeida, peças essas que solicita sejam publicadas juntamente
Com seu discurso.
"Declara que, de posse dos dados estatísticos organizados
pelo Dr Palm^ério Cantanhede, procurou, de acordo com o Sr.
Ministro da Viação, ao Dr. Osório de Almeida, e entregoti-lhe
não só todos êsses dados como o telegrama da Associação
Comercial e o projeto, que havia desde algum tempo formula-
do e sôbre o qual desde então estava procedendo a estudos
juntamente com os demais membros da representação, especi-
almente o Dr. Cristino Cruz, que se encarregara de investigai
na Secretaria do Minstério da Viação quaisquer elementos
que pudessem convir ao trabalho. Éaseado nesses elementos,
"i^reparou o Dr. Osório de Almeida o trabalho a que há pouco o
orador se referiu e cujas conclusões vai resum'/r ao Senado,
para tornar evidente a procedência da medida contida no pro-
jeto.

"Faz diversas considerações e diz que a estrada é de 320


quilómetros e que, pedindo o projeto 40.000$000 para a cons-
trução de cada quilómetro, são precisos de capital
12. 800. 000 $000, tornando-se indispensável uma renda bruta
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
175

de 1 600:000$000 para, retirando 60'>lo


de custeio, ficar umn
renda liquida de 640:0008000, importância
esta que representa
o juro de 5" lo do c:.^J:lal referido de 12.800:000^000.

"Observa que, não percorrendo todas as cargas


e todos os
passageiros a extensão da estrada, é preciso
tomar-se uma me
didn do numero de quilómetros a percorrer,
e que o Dr. Osório
de Almeida, tomou para essa média, a extensão de 250
quilót
metros, tomando também, para méda dos
fretes 150 réis por
quilómetros e para média de passagens 60 réis por
quilómetros.
"O orador faz ponderações diversas, mostrando a razoabili-
dade dês^es cálculos, de acórdo com a exposição do Dr. Osório
de Almeida, e diz que êsle engenheiro, tomando por base êsses
elementos, formulou sob a renda provável da estrada quatro hi-
póteses que o orador vai indicar.

"Neste ponto, explica o orador que os dois dias, Uapecuru 6


Mearim, são servidos por duas companhias, de vapores, mas
que, além dos vapores dessas companhias, navegam nesses rios
muitas embarcações particulares, fazendo não pequeno comér-
cio, s>endo certo que é transportado nessas embarcações todo o
gado abatido na Capital para consumo, além de grande quanti-
dade de cerea's. O orador declara que a estatística organizada
pelo Dr. Palmério Cantanhede compreende apenas os dados co-
lhidos no movimento das duas companhias de vapores, não es-
tando nela incluído, portanto, o movimento comercial das em-
barcações particulares. Passa a tratar da primeira hipótese e
diz que ela é baseada na média do movit/irnin das duas comp^i-
ws de 1899 e 1901. Mostra que a média
nhias nos dois rios nos a
das mercadorias é de 33.343 tonehidas, que a média do número
de passageiros é de 4859, e que, sendo a média da extensão a per-
correr 250 quilômclros, dá isso em resultado para as mercado-
rias a média de 8.335.750 tonelndas-quiíômetros, c para passagei-
ros 1.214.750 passageiros-quiiômctros. Pondera que, sendo a
média de fretes 150 réis por quilómetros e a das passagens 60
réis também por quilómetros, dá isso em resultado uma renda
anual de 1 .250 :362$500 em fretes e 72:885§000 em passagens,
sendo a renda bruta de 1.323:2478500. Deduzidos^ dessa renda
60" lo para custeio, ficará uma renda líquida de 529:2998000
quantia essa que representa juro de 5^10 do capital de .... ...
10.585 :980$000, tocando neste caso para custo de cada quiló-
metro 33:0818187. O orador faz várias ponderações mostrando
que se pre-
que esse cálculo não está longe de corresponder ao
que, provàvelmente, o custo de ca-
cisa para a estrada, por isso
não haver ne-
da quilómetro será infer^or a 40:000$000, visto
melhor possível
cessidade de obras-de-arte e ser o terreno o
JERÔNIMO DE VIVEIROS

desde Caxias alé o Rosário para a Capital, na extensão de 60


quilómetros aproximadamente.
"Depois de estender-se sobre isso, demonstrando o que afir-
ma, declara que o cálculo dessa primeira hipótese está aquém da
realidade, porque o ano de 1901, nele contemplado, foi um ano
de crise em que decresceu muito o movimento comercial, e expli-
ca também que nesse cálculo não está incluido o movimento das
embarcações particulares, nem foi tomado em consideração o au-
mento de renda que a própfla estrada determina, desenvolvendo
a zona que percorre.
"Alonga-se sobre 's&o e passa a considerar a segunda hi-
pótese, tomando por base o movimento das duas companhias de
navegação apenas no ano de 1900.
''Explica que, feito o cálculo de acordo com as bases esta-
belecidas na primeira hipótese, resulta do movimento desse ano
de 1900, 9.601.500 loneladasrquilômetros e 1.266.000 passa-
geiro-quilômetros, produzindo uma renda de fretes de
1 .440 :225$000 e uma renda de passagens de 75.960$000, sen-
do, portanto, a renda bruta de 1 .516 :185$000, da qual deduzi-
dos 60^ lo para custeio, fica uma renda líquida de 606:474$000,
que representa juro de 5" lo do capital de 12.129 :480$000, to-
cando, portanto, para custo de cada quilómetro 37 .904$ 620.
"O orador diz que neste cáhulo não foi incluído o movi-
mento comercial das embarcações particulares nem a renda nova
que a própria estrada deve criar, e que, entretanto, a renda en-
contrada no cálculo muito se aproxima do que se precisa, de a-
côrdo com o projeto, calculando mesmo no máximo, isto é, em
40 :000$000 o custo de cada quilómetro.
"Passa a tomar em consideração a terceira hipótese, e mos-
tra que o Dr. Palmêrio Cantanhede avalia o movimento de mer-
cadorias em 14.000.000 de toneladas.
Com efeito, pondera o orador, tomando^e em considera-
ção o movimento das duas companhias de vapores, das em-
barcações particulares e o aproveitamenlo de géneros que, es-
tando à margem dos r'os, deixam atualmente de ser conduzidos
para a capital por falta de fácil transporte, e de muitos outros
que, estando em centros distantes das margens dos rios, ficam
igualmente perdidos por falta de mçios fáceis de condução para
os portos de embarque, lomando-se em consideração também o
desenvolvimento natural da zona que a estrada atravessará e ain-
da o do comércio e indústrias do Piauí, que muito lucrarão com
ela, não se poderá considerar desarrazoado aquele cálculo.
"Tomando-se esses 14.000.000 de toneladas, prossegue o
orador, e o mesmo número de passageiros da primeira hipó-
tese, que é a pior de todas, ler-se-á uma renda bruta de
HISTÓRIA DO COMÉRCIO
DO MARANHÀO
177
2.172 :885S000. da qual
dcdiHdos os rU)OL
como líguida, 869 :ll4mo
'tZti^^
de 50/0 do capital dc 17 383
0808000 T ''P'"''"'" Z"^"'

tntretanto, o Sr. Dr Osnrin rl» Ji j

do apenas estudar a renda provável ""


da estrada, do nJdo

'o-/«rf-.«./o...-o . M.000.000 de
^al^l^::^'' tonela-

"Tomando-se essa base, têrnwmédio entre


a pior e a me-
lhor hipótese, no que diz respeito
a mercadoria, e aceitandô-se no
que diz respeito a passageiros o mesmo
número da pAmeira hi-
T7lp'n'Á%tnn" '''^'''"^'"'se-ú uma renda bruta df
1.748:066.^.000, a qual dá, deduzidos 60" lo para custeio,
um',
renda liquida de 699:2668 SOO.
'^Portanto, diz o orador, como muito bem pondera o Dr

40.000m0 essa renda e mais que suficiente, por isso que a


renda liquida de 699:226.^500 representa
mais de 3» lo de iuro
do capital de 12.800:0008000, que é o
capital necessário para a
estrada no caso de atingir o máximo de
40:0008000 o custo de
cada quilómetro.
"O orador afirma que, como o Senado acaba de ver. não
fez uma demonstração simplesmente baseada em palavras ou
considerações vagas; jogou com dados positivos e cálculos
pre-
parados por dois engenheiros competentes.
"Como já disse, êsses cálculos detalhados sobre o rendi-
mento provável da que o orador acaba de mostrar ao
estrada,
Senado, são o resultado do estudo do Dr. Osório de Alme da.
cujo nome se impõe com o cunho de uma autoridade absoluta-
mente contesta.
"O orador oferecendo se à consideração do Senado, tem ne-
cessidade de ponderar que nesses cálculos é sempre tomado cm
consideração o juro de S^lo do capital da estrada, porque êsse é
o juro dos títulos que o projeto oferece como um dos meios pa-
ra a sua construção e o Dr. Osório de Almeida que, como se ve-
rá em seu trabalho, reputa êste o meio melhor, tomou-o para base
de seus cálculos.
"O orador tem convicção de que, baseado nos trabalhos dos
engenheiros a que se tem referido, e em tudo mais que expôs ao
Senado, demonstrou à ev'dência a necessidade e a viabilidade
da estrada, sem gravame para o Tesouro que possa tornar ina-
ceitável a medida. Lembra ainda que a estrada entre as cidades
JERÔNIMO DE VIVEIROS

de São Luís e Caxias faz parte do traçado de viação geral da Re-


pública, tal como se acha formulado na proposição que a Câma-
ra votou a êsse respeito e que pende de deliberação do Senado
desde 1896.
"Como se verá da exposição do Dr. Palmério Cantanhede,
contida no telegrama da Associação Comerc al de São Luís, êle
supunha que o rio Itapecuru fôsse ca:siderado parte integrante
do traçado de viação geral da República e muito fàcilmente foi
a isso induzido porque a nda nada se acha definitivamente deli-
berado sobre êsse assunto e parece que já houve época em que
se teve idéia de considerar aquele rio como parte integrante da-
quele traçado.
"Realmente, a concessão feita em 1890^ ao Dr. Aarão Reis,
de uma estrada de ferro partindo de Caxias ao Araguaia, parece
que deixa entrever o pensamento de considerar-se o rio Itapecu-
ru como parte do traçado da viação geral.
"Felizmente, porém, assim rvfio é; o Dr. Osório de Almeida
em seu trabalho, mostra que a Comissão nomeada pelo Governo
Provisórie para tratar desse assunto não adotou êsse alvitre e a
proposição que pende de deliberação do Senado menciona no
§ 3." do art. 1 ." como parte do traçado geral, a linha que, parVn'
do de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, passando por
Caxias, vai ter à cidade da Barra, àmargem do São Francisco,
no Estado da Bahia.
"O orador pede permissão ao Senado para chamar sua aten-
ção para o número de quilómetros de estradas, de ferro trafega-
dos lios diversos Estados, o que faz somente para mostrar que é
de justiça o que agora solicita o Estado do Maranhão. Pondo de
parte a Estrada de Ferro Central do Brasil a qual atravessa ter-
ritório do Distrito Federal e dos Estados do Rio de Janeiro, São
Paulo e Minas, na extensão de 1.237 quilómetros, e esta a quan-
tidade de quilómetros de estradas de ferro da União ou .subven-
cionadas em tráfego nos diversos Estados : Rio Grande do Sul,
1.398 quilómetros; Bahia, 1.040; São Paulo, 928; Pernambu-
co, 651; Ceará, 513; Rio de Janeiro, 504; Paraná, 416; Ahi-
goas, 266; Minas, 252; Paraíba, 141; Rio Grande do Norte,
121; Santa Catar írs^a, 116; Distrito Federal, 85; Maranhão, 78;
Espírito Santo, 38 qiulômetros.
"Como vê por esta nota, tirada da estatística de 1902,
se
ocupa o Maranhão, o penúltimo lugar, havendo também Estados
que não têm sequer um quilómetro de estrada de ferro.
"O orador declara que essa nota, em que tomou em consi-
deração somente os quilómetros desprezando as frações^ é exaía,
podendo apenas haver pequena alteração em estradas que atra-
vessam mais de um Estado, por não ter podido verificar a qunn-
HISTÓRIA 1)0 COMÉRCIO DO MARANHÃO 179

tidade cxaUi que loca a cada um deles, mus isso, em todo caso,
em muito pequena escala, de modo que não altera a ordem de
colocação em que êles se acham na mesma liola.
"O orador, entre outras cons'dcrações, diz que apresentan-
do o projeto, tem necessidade de declarar que não reputa a es-
trada de ferro de São Luís a Caxias a única de que carece seu
Estado, pois Ião convenientes quanto essa considera ele l-nhas
que ligue m oaho-sertão ao litoral. Sem dúvida a zona entre a
Capital e Caxias, oferece por suas condições atuais mais facilida-
de para a construção de uma linha férrea, porém é de nrcessi-
dade urgente, também, cuidar-se dêsse melhoramento no alto-
ser/.ão e, na inipossibilidade de consiruirem-se já estradas que
venham das margens do Tocantins ou mesmo a Caxias, seria de
!ôda conveniência ir lançando trechos, como do Tocantins ao rio
Balsas, de Grajaú a Pedreiras ou entre outros quaisquer ponlos
que ofereçam iguais vantagens, a fim de que mais tarde fossem
êsses trechos ligados à rede geral da viação do Estado.
"Sem isso, e se melhorarem as comunicações do Tocantins
para o Pará, dentro em algum tempo grande parle da região
sertaneja passará para o Estado vizinho as suas riquezas, fican-
do o Maranhão apenas com a compe'ência de nomear para ela
delegados e subdelegados de policia. O orador desde muito pen-
sa no traçado gera^ de viação do Estado, porém seria debalde,
até mesmo irrisório, tentar alguma coisa a êsse respeito, dadas
as c'rcunsf.âncias em que e tem achado o País, desde que ele,
orador, começou a intervir em política, pois ninguém ignora,
que tanto no qualriênio do Dr. Prudente de Moraes como no
do Dr. Campos Sales, era de todo impossível pensar em obras
dessa natureza, quando olé para a construção de linhas telegrá-
ficas o Congresso não votava verba e chegaram a ser suspen-
sas, obras importantes que se achavam iniciadas.

"Agora, porém, as crít'cas circunstância em que .se acharam


as navegações dos rios Ilapecuru e Mearim chamaram de
novo
assunto o orador, conforme deixou dito, ja
a atenção para o e

se achavam juntamente com os demais representantes


do Estado

a cogitar da estrada da Capital a Caxias, quando


as dificulda-
Capital e em
des criadas pela falta de chuvas despertaram na
Caxias, as mais legitimxis reclamações a favor de
um me-o mais
fácil de transporte.

"O orador e seus colegas de representação não poupar o


ahwjado, porem le-
esforços para cons.eguir.se o melhoramento
pugnarão lambem pelos
varão seus esforços mais adiante ainda;
sertaneja, tanto direi-
legítimos e sagrados interesses da região
orador, tem o habitante das cdades.
lo ao favor público, diz
JERÔNIMO DE VIVEIROS

seja qual fôr sua posição, como o humilde sertanejo dedicado à


lavoura ou à indústria pastoril, que concorre com seu trabalho
para a riqueza pública, falta de todo o conforto que os grandes
centros ofer^icem e cercado de todas as privações inerentes aos
lugares remotos.

'O orador lembra que a ca\cessão da Estrada de Ferro de


Caxias e Araguaia fe'ta em 1890 pelo Governo Federal e a con-
ces .uo feita pelo Estado, em 1897, de uma estrada que, partindo
da Capital, fôsse às margens do Tocantins, teriam prestado reais
serviços ao Estado se tivesse sido essas obras levadas, a efeito.

^'Infelizmente tal não aconteceu e o sertão se acha reduzido


às tristes cond'ções da .condução em costas de animais, não ten-
do nem sequer o Irrtisporle que oferece a péssima navegação de
Caxias e Pedreiras para a Capital. De Caxias, a Imperatriz, à
margem do Tocantins, diz o orador, há 564 quilómetros e de
Caxias a Carolina, à margem do mesmo rio, 744 quilómetros.
"Tóda esi'.a região está até certo ponto abandonada e empo-
brec'da por falta de transporte, tendo, entretanto, condições pa-
ru enorme riqueza cm gados e, segundo, se afirma, em minerais
também.

"O orador não poupará esforços para o estabelecimento da


viação geral do Estado, ligando-se, não só os. dois principais cen-
tros São Luís e Caxias, como também tôda a zonx do sertão à
zona litoral. É da realização dêsse problema complexo que de-
pendem o desenvolvimento do Estado e a felicidade de tôda sua
população.

"O orador lê o projelo, e explica a disposição de cada um


dos artigos, declara que, como meio de construção da estrada,
tem mais confiança na emissão dos títulos, e diz que, seria de tô-
da conveniência que ela princip'asse ao mesmo tempo em Caxias
e na Caqntal, não só para ir -se libertando desde logo o trans-
porte da má-navegação na parte pior do rio, como também para
apressar-se a ligação entre a ilha e o continente, medida esta que
é de enorme vantagem.

""Tudo porém, diz o orador, f'cará na dependência de


melhor critério da administração quando tiver de executar as
obras; nesta ocasião é impossível assentar definitivamente deta-
lhes dessa natureza. Só uma coisa, exclama o orador, espero
que esteja assentada neste momento —
é que o Senado honre
com seu voto o projelo que acabo de apresentar-lhe.
HISTÓRIA UO COMÉRCIO DO MARANHÃO

O Congresso Nacional decrclu :

"Alt. 1." — É o Governo autorizado a promover a cons-


trução de uma estrada de jerro entre as cidades de
Caxias c SCio
Luis, no Estado do Maranhão ou contratando
: esse serviço com
quem melhores vantagens oferecer, com garantia de juros de
6yo durante 30 anos até a importância dc 40:000$000 por qui-
lómetro; ou contratando a construção por meio de
emissão dc tí-
tulos de 5"/ o, amortizáveis em 33 anos, devendo
ser a estrada,
depd s de ca:istruída, arrendada mediante concorrência pública;
ou jazendo a obra por administração.

"Ari. 2." —O contratante terá lôdas as obrigações e favores


mencionados nas cláusulas que acompanham o Decreto n." 862.
de 16 de outubro de 1890, respeitadas as disposições especiais
desta lei e as atribuições do Estado naquilo que pela Constitui-
ção Federal ficou privativo de sua competência.

"Art. 3." —A estrada poderá ser iniciada em qualquer dos


pontos extremos ou em ambos ao mesmo tempo, atravessará a
zona que jica entre os vales dos. r'os Ilapecuru e Mearim e pas-
sará pela vila e a cidade de São Luis o traçado que fôr mais a-
propriado para atender com facilidade, a qualquer tempo, ao
serviço do porto de Itaqui.
"Parágrafo tJnico. Em Caxias ligar-se-á ela a linha férrea
dessa cidade a Cajazeíras.
"Sala das Sessões, 23 de novembro de 1903.
— Gomes de Castro, Benedito Leite, Belfort Vieira".

Por êsse tempo, Fran fazia a cobertura da campa-


nha pela imprensa. Dessa cobertura vale a transcrição do
primeiro artigo :

"OS TRANSPORTES-'

"A decadência Estadual —


O SUL E O NORTE
"A descrença geral —
ENTRE A VIDA E A MORTE
"Quem conhece as lastimosas condições comerciais de lodo

o Estado do Maranhão, neste momento a braços com a seca do

vale do Ilapecuru e em breve espaço estorcendo-se nas vascas da


jome, julgará desnecessárias outras palavras, depois da substan-
ciosa exposição do dr. Palmér^o Cantanhede. Mas a imistência,
quando se trata de assunto de tanla magnitude, nunca, é demasia-
da. Ê por isso que vimos também à balha, para conclamar
as le-

gítimas reclamações dos produtores estaduais.


JERÔNIMO DE VIVEIROS

"£ realmente digna de lamentações a situação a que chegou


a economia maranhense —situação esta que se retraia eloquen-
temente nas escalavradas fina>:\ças do Estado. A decadência prin-
cipiou há anos e ameaça locar agora o seu auge, o que equivale-
rá ao total aniquilamento da escarnecida e abandonada Atenas
Brasileira. Todos são culpados neste descalabro —
administrado-
res e administrados, uns porque não qu seram ou não souberam
resguardar o futuro e outros porque, após as perdas incalculáveis
da aboHção e de outras fábricas, se deixarem corroer pelo mais
atroz dos desalentos, nro sem motivo.

"Há no entanto, um meio imediato de se pôr um entrave a


ruina absoluta do Estado, que se aproxima a passos agigantados
— é proceder à edificação duma estrada de ferro, que vá por en-
tre f s rios Mearim e Itapecuru, servindo todo o centro desta zo-
ubertosa. Partirá a linha do Ilaqui, donde virá até São Luís,
atravessando a ilha até a Estiva, onde uma ponte a ligará ao con-
I nente; perto fica o Rosário e daqui a via tomará o rumo cen-
tral dos dois rios citados passando nas alturas de Igarussu, Itape-
curu, Cantanhede, Coroatá e Codó, findando em Caxias, que já
se acha unida ao Piauí pelo trecho de Flores ou Cajazeiras. O
eixo da estrada seria poslo em comunicação com as povoações
próximas por baratos ramais do sistema Decauvlle.
"A região assolada pela seca é a mais habitada e produtiva
do Estado. Só o transporte do algodão e cereais daria para cus-
tear, logo no início, os gastos diários desta senda ferroviária. To-
das estas paragens são mais ou menos planas, favorecendo extra-
ordinàriamente os trabalhos da construção. E a distância da li-
nha — 320 kms — é também diminutíssima, podendo-se afirmar
que em três a quatro a:^\os, no máximo, estaria pronta a ambicio-
nada via- férrea. O importe das obras não será superior a quinze
mil contos de réis.
"Ê ocioso encarecer as vantagens instrumento
d.êste de
transporte sôbre o de vapores. Dir-se que este é mais módico.
Mas não se pondera que tal circunstância somente se observa
'

quando a distância a percorrer é igual, porque anda depressa —


comboio —
pague mais do que quem caminhar devagar —
va-
por. Nesta hipótese —
distã\c'as iguais —
a escolha do meio de
locomoção denota apenas uma quesido de gosto. Mas no caso
que se ventila, posto o transporte em caminho de ferro em fren-
te do transporte pelo Itapecuru, verificaremos que a distância
por terra, de São Luís a Caxias, é de 31 S a 320 kms, ao passo
que por mar é de 420 hms. A diferença ainda mais se acentua
daqui ao Rosário, cujo percurso marítimo é de 83 kms, sendo o
terrestre de 55. Há mais a objetar que um viajante, ou uma mer-
cadoria, indo por mar a Caxias, consumirá 6 a 8 dias, em épo-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHAo

cas normais e mdo por estrada de


ferro a demora será apenas dv
15 horas, ern velocidade média. As facilidades
múltiplas e evi-
dentíssimas dos transportes ferro-viários
metem-se pelos olhos de
um cego. As próprias companhias de vapores, com
um concor-
rente desta natureza, lucrarão duplamente.
"Mas a estrada férrea de São Luís a Caxias não Irará
uni-
camente rapidez de relações. Isto é muito, mas
não é tudo. O
maior dos benefícios das v-as-férreas c o povoamento
dos luga-
res por onde Iransitav.i. Segue-se que este
melhoramento, além de
dar estabilidade aos naturais do Estado, que nos sertões
são qua-
se beduínos, desviará para o Maranhão uma fortíssima corrente
de cohnps, nacionais e estrangeiros, a par de numerosos capitais.
Sem gente co'sa alguma se faz. Um aumento de população pro-
porciona a possibilidade do aparecimento de um maior número
de homens de valor, em todos os ramos de alid'dade, c c.-la uti-
vidade traduz-se num acréscimo de importância económica e pot
lítica.

"boi com as suas colossais redes ferro-viárias que os Esta-


dos Unidos Norte Americanos criaram a sua grande população
que lhe firmou a invejável supremacia econômica-politica que
hoje desfruta. Ao envez, buscando exemplo na história antiga e
moderna, a Turquia, a Pérsia, a Grécia, etc, com a defecção
dos seus habitantes, riscaram-se do mapa das nações preponde-
rantes. E a França, se a sua demografia fôsse mais densa, gosa-
ria um poder económico e politico rruiis vigoroso. Com razão ex-
clamou um estatístico alemão, ao ver a enormidade pavorosa de
nascituros ilegítimos no seu pais, — que a felicidade da Alema-
nha dependia do número da seus filhos legítimos ou ilegítimos.
"É por isso que serão sempre débeis os clamores que cessa-
rem em favor da construção de estradas férreas. A sua efetuação
desenvolverá nestas plagas tôda sorte de prosperidade.
"As diversas ramificações vindouras são óbvias. Em segui-
da virão os trechos de Caxias e Pedreiras a deste ponto, por Leo-
poldina, Barra do Corda, Chapada, São Francisco, Porto Fran-
co, até Carolina; o de Caxias, por Passagem Franca, Mirador.
Pastos Bons, Nova-Iorque, Forquilha, Riachão, terminando cm
Carolina; o de Riachão à Vitoria, aproveitando a rica área do rio
Balsas, nos confins do Estado. E mais tarde, seguindo para ou-
tros lados, convém não olvidar os ramais do Rosário, pelo Icatu.
Miritiba, Barreirinhas, Tutóia, Araioses, São Bernardo, Brein e
ronf-
Poções, até Caxias, se esta Unha não for prejudicada pela
nuação da via do Jpu, no Ceará, pelo sul do Piauí, até o Ilapc-
.^r„
curu-mirim; do Rosário também, por Cajapió, São Vicente,
Bento, Viana, Penalva, Monção, Caonacaócn condwndo
em Pe-
dreiras; e do Rosário ainda, por Alcântara,
Guimarães, Caruru-
.

184 JERÔNIMO DE VIVEIROS


pu, Turiaçu e daqui por Santa Helena, Laranjal,- Januária, Boa
Vista, Sapucaia, Ananã jaz, até Imperatriz, ligando esta a Porto
Franco por um pequeno trecho. Em
ocasião oportuna, jariam as
linhas de Teresina, por Oeiras, à Petrolina, na Bahia, e de Caro-
lina ao Rio Nal-vidadc, em Goiaz.
"Para já, registrada a impr estabilidade do rio Itapecuru e
de quase todos os rios, é indispensável a eslrada-jérrca de São
Luís a Caxias., incluindo o braço da Capital ao Itaqui, oinde se
fundaria o novo pôrto. Esta melhoria é a mais instante e a que
pode ejeluar-se com menos dispêndio de tempo e de dinheiro. E
não será difícil encontrar quem a leve a cabo, seja por intermé-
dio das bolsas estrangeiras, seja por administração do Governo
da União, que nunca fez a menor dádiva a este Estado. Não fal-
tará quem ofereça as. terras devolutas precisas para as linhas e
para o estabelecimento de núcleos coloniais. Os representantes
maranhenses no Congresso Federal, se quiserem interessar-se a
valer por isso de certo acharão apoio para este avio de justiça nos
egoísticos dirigentes sulistas.

"Uma
empresa desta ordem, a que estão presos os mais vi-
tais interessesdo comércio maranhense não permite delongas. O
rio Itapecuru, que todos os anos seca, atingiu este ano o gráii
da mais desoladora estiagem. No próximo ano estará pior e —
por isso é urgentíssimo que as estações competentes curem deste
duro flagelo quanto antes." (479)

A êste artigo seguiram-se outros muitos, que o jor-


nalista português, então secretário da Associação Comer-
cial, como assinalamos, não era do feitio daquêles

que abandonam uma idéia sem vê-la vencedora. Num
dêles —
o de 14-9-903 —
Fran chega a defender o lema
— viação ou separação, afirmando :

"Sem navegação fluvial, sem estradas macadamisadas ou de


ferro, sem pôrto pr estável — enfim, o Maranhão ainda virá a
soltai à gente proterva do sul o grito justiceiro e vindicador de
— VUAÇÃO OU SEPARAÇÃO, pujantemente secundado nas
observações de Couto de Magalhães"

Para a vitória do projeto da construção da São Luis-


Caxias, apresentado no Senado, como vimos, por Bene-
dito Leite, Gomes de Castro e Belfort Vieira, em 23-11-
1903, o momento era oportuníssimo.

(479) — Fiaii Paxcco — -Paculillia'', dc 18 8 1903.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Com Benedito Leite estava no cume da sua


efeito,
Chefiava, com Rosa e Silva, o bloco do
carreira política.
Norte, o que lhe dava destacado valor nas decisões da
política nacional. Em
breve, teria seu nome entre os co-
gitados para a Vice-Presidência da República e seria um
dos pioneiros da candidatura de Afonso Pena para o
cargo de Presidente. E' bem de ver, pois, que, nessa épo-
ca, qualquer projeto apresentado pelo grande chefe ma-
ranhense não cairia no Congresso, e, sobretudo, se era,
como êste, justificado com tanto interesse.
E assim aconteceu.
Em 3 de janeiro de 1905, o Presidente da Repúbli-
ca sancionava a lei n. 1 329, que determinava a cons-
.

trução de uma estrada de ferro entre São Luís e Caxias.


Mas, Benedito Leite não dormiu sôbre seu triunfo.
Vindo Afonso Pena ao Maranhão, como Presidente elei-
to, o itinerário para Teresina foi o rio Itapecuru. De visu,
Pena verificou a necessidade da estrada.
CAPÍTULO XII

A ESTRADA DE FERRO SÃO LUÍS — CAXIAS

( (]ont.iiiu(i<^ão)

Iada começar São


de ferro
o primeiro capítulo da história da estra-
Luís — Caxias, capítulo que, desas-
tradamente, a morte de Benedito Leite, em 1909,
permitiu fôsse um borrão vergonhoso nos 300 anos de
nossa vida de povo. Igualando-lhe em despudor apenas
dois casos até hoje registrados: Arapapaí, no passado lon-
gínquo, e Itaqui, nos dias presentes. Manda a justiça,
porém, assinalar que naquele o elemento prevaricador
não foi maranhense, veio-nos de fora.
Iniciados em junho de 1906, oc estudos do seu tra-
çado foram dirigidos sucessivamente pelos engenheiros:
José Carvalho de Almeida, Samuel Gomes Perejra, José
Palhano de Jesus e Lassance Cunha, os quais lhe encar
rninharam a trajetória para o divisor das águas dos vales
dos rios Itapecuru e Mearim. Concluído o traçado e feito
o orçam.ento da despesa 17.216 contos, o Govêrno apro-
vou-os e abriu concorrência, em dezembro de 1907. Apre-
sentaram-se Proença Echeverria & Cia. com a proposta
18S JERÔNIMO DE VIVEIROS

de 9.052.000$000, C. F. Hargreavor & Cia. com a de


10.390.000$000 e S. C. das BatignoUes com a de
22.560.000$000. O Proença ganhou e com êle o Govêr-
no firmou a escritura do contrato da construção em 24
de outubro de 1908, estabelecendo o prazo de 40 mêses
para cumprí-lo.
Surge aqui a nossa primeira observação. É o caso
do dono de uma obra calculá-la em 17 .216 contos, apa-
recer um construtor propondo fazê-la por 9. 0 CO, isto é,
quase a metade do orçado, e ninguém atentar para a má
fé dêsse empreiteiro excepcional, mais zeloso do capital
alheio do que do seu próprio lucro.
Sôbre esta proposta de Proença, atendendo a um
apêlo de Palhano de Jesus, externou-se Marcelino Ma-
chado, ao tempo nosso representante na Câmara dos De-
putados e que, sem favor, tem lugar de destaque na ga-
leria reservada pelo Maranhão aos seus varões de Plu-
tarco:
"Considere se de um lado o orçamento feito pelo Governo
— 17 .216.000$000 — e do outro a estimativa da. proposta de
Proença, Echeverria & Cia. — 9.052.000$000 —
e deduzorse a
intenção evidente com que esta última fól apresentada ! Como
uma empresa se propõe a jazer pela metade uma obra orçada,
após meticuloso estudo ? 1 Sem admitir a intenção preconcebida
de alterar substancialmente o contrato assim obtido, não se po-
de explicá-lo ! Daí a origem da série de alterações do contrato,
as qutí^s somente beneficiariam a Companhia." (480)

Eni janeiro de 1909, chegou ao Maranhão Antônio


de Gouveia Proença, preposto dos empreiteiros da estra-
da e deu comêço aos trabalhos. Foi nessa ocasião que o
dr. Paulo de Frontin, assumindo o alto cargo de diretor
geral das vias-férreas do Brasil, mandou que se abando-
nasse o risco primitivo e a linha marginasse o rio Itape-
curu, partindo de Caxias.
Comentando esta ordem, diria Palhano de Jesus, em
conferência pública, proferida em São Luís, em 1910 :

(480) — Marcelino Machado — "Pelo Maranhão", p. 34 — Tip. do "Diário de


São Luís. 1923. Maranhão.
HISTORIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

"Invertido o problema, tá'ulo de comc(:iir pelo jim.


iuiuêlc
chefe entendeu que o melhor era ordenar a conshiirra dn ntrada
tronco, de que só se devia cogitar, talvez, daqui a ou 30
anos

Mc-s não era preciso ser engenheiro para reconhecer


b extravagância da ordem de Frontin. De fato, abando-
nar um traçado de uma linha que ia correr em terrenos
rhatos, permeáveis e arenosos, por um outro que margi-
nava um rio, em terrenos baixos e alagadiços, que obriga-
vam numerosas obras dartes, e ainda começar essa linha
pe'3 í:iTi. levando o seu material de construção por via
fluvial tão dificil, que era a razão de ser da estrada pro-
jetada, é uma deliberação que não se concebe num cére-
bro porlentoso como o de Frontin.
A ordem prejudicava-nos em tudo, até mesmo nas
riossar> velhas aspirações da via-férrea Tocantina, porque
afastava do Mearim o traçado da linha em construção.
Perdiamos por todos os lados. A bancada maranhense no
Congresso Nacional envidou esforços para evitar o desas-
tre; chegando a procurar Frontin, mas encontrou-o in-

transigente dentro do que dizia ser execução do plano ge-


ral da viação brasileira e, como tal, questão técnica que
-

lhe cabia. E cumpriu-se a ordem, perdendo-se logo de


partida, algumas centenas de contos de réis. A 5 de mar-
ço de 1909, reprincipiaram-se os serviços da São Luís a
Caxias, começando-os desta última cidade. Por conta pró-
pria, sem aprovação das instâncias superiores, os emprei-
teiros faziam, simultâneamente, o projeto e a locação.
So-
brevindo embaraços financeiros, Proença, Echeverria &
Cia. transferiram seu contrato à firma Ibirocai &
Cia.
para conclu-
Em 1911, esgotava-se o prazo de 40 mêses
são da estrada e não tínhamos pronto um só
quilómetro,

mas em compensação havia duas tabelas uma —


do con-
trato e outra suplementar, que fôra
aprovada pelo Con--
Em estrada, como fica dito, Ibirocai im-
gresáo Nacional.
rodante, que ficou
Dortou orande quantidade de material
não tendo um
nos depósitos do Rosário. Nos fins de 1913,
dispendido
auilônietro em tráfego, já tínhamos
.

190 JERÔNIMO DE VIVEIROS

26.11(:;.000$000. E assim foi caminhando, com longos


nterrognos de paralizações, já com diminutas verbas no
orçanionto, essa estrada que, quando concluida, contaria
entre Rosário e Caxias —
302 quilómetros os números e-
levad ^o de 565 boeiros com menos de 3 ms., 420 com
3 ms., 108 de 3 a 20 m., 17 de 20 a mais. (481)

Pelos escândalos tornou-se famosa a São Luís - Ca-


xias e foi como tal, que a visitou em 1918, o notável en-
genheiro José Pires do Rio, mais tarde nosso Ministro
da Viação e Obras Públicas. Deixou-nos êle as suas im-
pressões em artigo incerto na "Pacotilha", de 7 de agos-
to, no qual, entre outras declarações, dizia :

"Houve o visível erro de se abandonar o primitivo traçado,


cuja linha foi locada e cujo projeto serviu de base à concorrên-
cia, modiflcou-se o traçado, para se alterarem as condições téc-
nicas da linha, e dobrou-se o orçamento, de 17.216.847$830
para 36.51 2. 886$ 126. Sob o pretexto de que a estrada para S.
Luís deveria constituir uma linha tronco, melhoraram-se as con-
dições técnicas (de 2,5^10 para Pio de máxima rampa) e por isso
se trouxe a estrada para a margem do llapecuru, aumentando-se
a importância e o número de obras de arte, assim como avolu-
mando o movimento de terras. Foi um grande erro, do ponto de
vista económico, porquanto nós regiões desertas, onde o povoa-
mento, principal fator da produção, terá de ser moroso, convêm
as estradas de construção barata e que procurem as regiões sus-
ceptíveis de aproveitamento mais fácil. Ao Maranhão tefia sido
preferível uma estrada mais modesta, entre S. Luís e Caxias, mas
que fosse o início de uma linha de penetração do vale do Itape-
curu ao do Tocantins"

E concluía o douto engenheiro as suas impressões


com estas palavras reveladoras do seu espírito prático e

sensato

"Precisamos, agora, para evitar ainda maiores êrros, de


concluir essa estrada e abri-la ao tráfego, até esta Capital, cujo
porto, por sua vez, exige melhoramentos urgentes, já orçados,
podendo o Govêrno Federal, no respeitante ao revestimento e

(481) — Fran Paxeco — "Geografia do Maranhão". — Tip. Teixeira. 1923.


São Luís. p. 78
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MAi{AMlAo

consolidação dos bancos, abandonar


inxediatunienic o regime es-
téril das pequeninas verbas
anuais, consumidas por uma
repar-
tição burocrática, onde se colocam
protegidos, sem aptidão para
coisa nenhuma, escriturários que nada
têm a escrever, auxiliares
que nada escontrum para servir. Ás obras
do cm.nl de acesso ao
porto so danam resultados se as atacas.sem
com energia e termi-
nassem de um jacto. Fóra disso, é perder dinheiro e lempn.
além de cansar a opinião pública"

Nesse mesmo ano em que fomos honrados com a vi-


it.ido Dr. Pires do Rio, elegemos nosso representante na
Jâraaia Federal o dr. Marcelino Rodrigues Machado,
que
ara lá levou no seu programa de trabalho os quatro
randes empreendimentos a conclusão da estrada São
:

iUÍs - Caxias, então, paralizada, há tempos; a ponte li-


ando a ilha ao continente, no lugar Estiva; a encampa-
ão da linha férrea Caxias - Flores, pertencente à Com-
aiihia de Melhoramentos, pelo Govêrno da União; e a
ia fén ea de penetração ao rio Tocantins.

Era, como se vê, um programa grandioso, mas que


ara ser hoje compreendido, se faz mister conhecer a bio-
rnfia do deputado que o defendia.
Na "Fazenda Santa Clara", pertencente à família
Rodrigues, de 1812 até a presente data, situada no muni-
ípio de Buriti, à margem do Parnaíba, nasceu Marceli-
0 Rodrigues Machado aos 22 de dezembro de 1886. sen-
0 seus pais Frederico Gonçalves Machado e d. Torquata
.odrigues Machado.
Feito o curso primário em São Luís, nos Colégios
.aiol e São José, matriculou-se no curso ginasial do Li-
3U Maranhense, passando no 3.° ano para o de prepara-
)rios, que concluiu com brilhantismo em 1904.
No ano seguinte, estava na Faculdade de Medicina
o Rio de Janeiro, onde recebeu o diploma de médico em
de dezembro de 1910, com a defesa da tese "Sinal de
-Imeida Magalhães".
Regressando a São Luís, casou-se em 30-3-1911,
Dm d. Ana Elvira Pires Ferreira Leite, fino ornamento
a nossa sociedade e que era filha de Benedito Pereira
1M2 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Leite, já falecido e de sua esposa d. Angélica Pires Fer-


reira Leite.
Em seguida, embarcou para a Europa, fazendo vá-
rios cursos em Paris.
De volta ao Maranhão, exerceu os cargos de médico
da municipalidade de São Luís, do qual pedira demissão
por haver combatido o Prefeito eleito, de fiscal do Liceu
Maranhense e das associações de beneficências "Santa
Casa de Misericórdia" e "Assistência à Infância".
Em 1918, o partido político que Benedito Leite reor-
ganizara e chefiara até o seu falecimento em 1909, ele-
geu-o Deputado Federal, renovando-lhe o mandato por
duas legislaturas.
Apesar de reeleito em 27 por grande maioria, perdeu
a deputação, Já, então, era chefe de valorosa agremiação
partidária, que rompeu com a situação dominante no Es-
tado, formando nas falanges da Aliança Liberal.
Novamente eleito, em 1930, foi de novo sacrificado
pelo critério dos diplomas ,estabelecido por Washington
Luís.
A vitória da revolução de 30 veio encontrá-lo na
"Sala da Capela" da Casa da Correção do Rio de Janei-
ro, como prêso político.

Nomeado para um cartório da Justiça do Distrito


Federal, em janeiro de 31, permaneceu na direção do seu
partido no Maranhão, que elegeu a maioria da represen-
tação do Estado nas eleições de 33 e 34, apesar de estar
em oposição aos interventores nomeados. Coligado com
o partido do dr. Genésio Rêgo, também elegeu Aquiles
Lisboa Governador do Estado.
Com a volta do regime democrático em 45, entregou
a direção do partido ao seu irmão dr. Lino Machado, reti-
rando-se das atividades políticas.
Atingindo a idade limite, em 1957, Marcelino Ma-
chado foi aposentado compulsoriamente no cargo da Jus-
tiça Federal, que exerceu durante 26 anos, sem licença,
nem qualquer reclamação, tendo o Corregedor de então
desembargador Estácio C. de Sá e Benevides declarado no
HISTÓRIA 1)0 COMÊKCIO 1)0 M \l{\\HÃO 14J

ato do seu desligamento, referindo-se a sua prestação de


contas :

"O vosso trabalho que bem evidencia o vosso esmêro e ele-


vado zelo funcional, de exemplar :íerventuário que sempre foi, e
de cujo concurso se vê privada a Justiça, louvo u cuidadosa pres-
tação de contas, desejando-vos felic dades na merecida apo^^en-
tadoria".

Pelo exposto pode-se evidenciar haver Marcelino


Machado na Câmara Federal representado o pensamento
de Benedito Leite, —
o inolvidável estadista maranhen-
se, cuja única preocupação tinha sido defender os inte-
rêsses do seu Estado. Daí, portanto, a razão de ser do seu
programa másculo, que, sem dúvida, se coadunava com
a sua educação cívica, e que por isso mesmo foi desem-
penhado de modo completo, como êle narra num dos
muitos relatórios em que prestou contas do seu manda-
to aos maranhenses :

Estrada de Ferro São Lais a Teresina


"y4 —
Ao ser eleito
em 1918 estavam paradas as obras da òV/o Luís —
Caxias havia
anos, figurando na lei orçamentária dêsse exercício uma disposi-
ção que obrigava a sua conclusão dentro de se s meses, sob pe-
na de recisão do contrato. Esgotado o prazo foi o contrato res-
cindido, começando o Governo a tratar da comissão que deviu
concluir a estrada. Nomeada essa comissão, puz-me logo a seu
serviço, procurando por todos os meios e diariamente, posso as-
sim dizer, facilitar a sua missão, já dando andamento aos pedi-
dos de crédito no Ministério da Viação e Tribunal de Contas, já
provídenciaifhdo sobre a compra de material necessário para a
conclusão, sobresaindo a remessa de 3.500 toneladas de trilhos
da Bahia, que somente a mu to custo foi conseguida e, sobretu-
precisas
do, pleiteando no Congresso a consignação das verbas
dessa
nas leis orçamentárias. De como me tenho desempenhado
obrigação f/o meu mandato, que por não ser das mais vistosas,

não é 'das e úteis, podem dar testemunhos os


menos trabalhosas
drs. Cunha Lopes, Niepce da SUva e Antônio Avila, aos quais so

para dirigir a estrada. Dtz-me a


conheci depois de nomeados
quer defendendo in-
consciência que nunca lhes criei embaraço,
geral, quer amparando algum
teresses que não fossem de ordem
serem os meus pedi-
amigo, pois a todos hei repetido e cumprido
subordinados à necessidade do serviço e uma vez colocado
dos
o meu recomendado ao bom
desempenho do cargo .
.lERÔNÍMO DE VIVEIROS

"Desse modo de proceder


já deu espontãneamente o seu tes-
temunho o maranhense que há três anos vem dirigindo a
ilustre
Inspetoria Federal das Estradas com raro brilho e extraordiná-
rio proveito para o país, o dr. José Palhano de Jesus. Em cartas
endereçadas ao "Diário de São Luís", que guardo como uma das
maiores recompensas aos esforços que venho dedicando ao meu
Estado, esse ilustre conterrâneo disse como tenho procurado au-
xiliá-lo que d'z respeito ao nosso Maranhão. (482)

"Reiniciado o serviço, joi pouco depois inaugurado o trá-


jego entre Rosário e Cantanhede e, estando pronto havia anos o
trecho entre Caxias e as proximidades de Coroatá, jói êle repara-
do em pouco tempo. Faltava atacar o trecho entre Cantanhede e
Coroatá para ser inaugurado o tráfego até Caxias. Começou-se
então a ver se era possível chegar a um acordo com a estrada de
Caxias a Flores, a fim de que os seus trens chegassem até Co-
roatá".
"Encampação da Estrada Caxias — Flores -— Estudando
a situação dessa companhia, verifiquei que a sua garantia de ju-
ros terrrikmva em 1921 e existindo na lei orçamentária de 1920
autorização para encampar estradas de ferro, procurei agir nes-
se sentido. Entaboladas as negociações entre a "Companhia Ge-
ral de Melhoramentos do Maranhão", proprietária daquela es-

trada e o dr. Palhano de Jesus, foram as mesmas coroadas de


êxito, sendo encampada a mencionada via férrea por decreto de
30-12-920 pelo capital reconhecido, isto é, 28 contos o quilóme-
tro, compreendidos neste preço todo o material rodante, oficinas
e demais benfeitorias. Nesse decreto ficou consignada a sua in-
corporação à São Luís-Caxias, que, por iniciativa minha, tam-
bém teve o nome mudado para São Luís-T eresina, não só porque
assim fica. ao alcance de todos a orientação e importância da es-
trada, como para deixar a má fama que a outra denominação re-
cordava".

"Inauguração —
Nesse ínterim o dr. Niepce da Silva ata-
cava vigor a canstrução dos trechos Cantanhede-Coroatá e
com
São Luís-Rosário, inaugurando o tráfego entre Rosário e Caxias
em 30-10-920, e finalmente, entre^ São Luís e Teresina com a
partida do primeiro trem entre as duas capitais no dia 14 de
março de 1921, no qual tive a satisfação de fazer todo o percur-
so da estrada — 450 h.

— Nota do autor — Da honestidade com que Marcelino Machado sempre


agiu emtôda sua vida pública há ainda o fato de jamais o terem os

seus contendores, que não eram simples adversários políticos mas ran-
corosos inimigos, acusado de um ato menos digno.
HISTÔRJA DO COMÉRCIO Do M\Ua\||AO 195

"A Ponte Benedito Leite Reinirlnri... ,

.uç,o da eirada, eomeeei a


r;r t^;
Canal dos MosguUos, pedindo
Lopes, e ao engenheiro José
.
ao diretor de então o Dr
Domingues da Silva gue de sern
damento aos estudos necessários para
M a
.

o projeto dl refe^l^:^
U. babm que isto demandaria muito tempo,
sobretudo a concor-
rcncia para a construc^clo, de
modo que procurei agir logo Dr
lalo, mais de dois anos se passaram
até a realização do contrato
em novembro de 1921. Enviados pela direção
da estrada os da-
dos e o ante-pro,eto da ponte, que era
de vão móvel, foram sub-
metidos, na Inspeloria das Estradas", a novos
estudos, que ter-
minaram por ser preferido um anle-projeto de
vão fixo. Este an-
le-projeto e os dados colh dos foram
enviados n mais de trinta
casas especialistas em construção de pontes,
quer dos Estados
Unidos, quer da Europa, pedindo-lhes a
"Insnetoria das Estra-
das" gue fizessem proposta de construção ao mesmo
tempo gue
apresenlnssem o projeto definitivo da ponte. Um ano
durou essa
concorrência, vindo, finalmente, três propostas, apresentadas
por
firmas americana, belga e alemã. Já no orçamento para 1921
f gurava uma disposição permiti-.do a emissão de apólices para
a construção da ponte, de modo que foi possível realizar o con-
trato logo após a conclusão do estudo feito sôbre as três propos-
tas, o qual terminou pela escolha da apresentada por Brom-
berg & Cia. Antes, porém, em março de 1921, quando o dr.
Niepce da Silva preparava a inauguração do trecho da ilha, ha-
via pedido permissão para dar à estação da Estiva o nome de
Benedito Léite, o nosso conterrâneo que com tanto critério e de-
dicação dirige a Inspetoria Federal das Estradas, o Dr. Palhann
de Jesus e que tão bem conhece a história da nossa estrada de
ferro, achou gue essa homenagem não condizia com os serviços
a. ela prestados por Benedito Leite e, em vez de dar o nome des-
te estadista à estação, propoz ao ministro da Viação fôsse dado

à ponte sôbre o Canal dos Mosquitos. Aceita pelo Ministro essa


proposta, passou-se a denominar "Ponte Benedito Leite", como
justa homenagem à memória de quem tanto fe: e gui: a sua ter-

Que Marcelino Machado vinha sendo o propulsor


de todo êsse movimento em tôrno da nossa via-férrea diz
claramente o telegrama que lhe passara Urbano Santos,
então Presidente do Maranhão :

"'Com grande prazer recebi comunicação assinatura


contrato para construção ponte Bmed'lo Leite sôbre (.anal
.

196 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Mos quito por cujo falo peço aceite minhas felicitações de-
vidas ao çnipenho com que se dedicou a consecução desse
importante serviço".

Continuando a sua prestação de serviços, narrava o


esforçado e ativo deputado maranhense :

"Feito o contrato (novembro de 1921), procurei imediata'


mente transformar o crédito em apóVces que figurava no proje
to de orçamento para 1922, cm moeda corrente, a fim de faci-
litar a execução da ponte. E, felizmente, obtive essa modifica-
ção, existindo no orçama-Uo vigente uma verba de 1 500 contos
somente para a ponte "Benedito Leite'*, a qual tem permitido o
andamento regular dos serviços. A ponte que tem um vão de
110 metros e dá passagem a pedrestes e cavaleiros, já está con-
cluída, devendo embarcar na Alemanha no fim deste mês e che-
gar no Maranhão em fins de novembro"

Como claramente exposto, Marcelino Machado


fica
cumpriu fielmente o programa que traçara, exceção da
estrada de ferro Tocantina, da qual, entretanto, se cons-
tituiu, daquela data até hoje —
40 anos —
brilhante a-
rauto, conforme se verá no capítulo seguinte dêste estu-
do.
Por esta atitude não lhe faltou a admiração do povo
maranhense, expressa por uma imensa popularidade a-
miga, sobremaneira no corpo comercial, à frente do qual
se destacava a firma Cunha Santos & Cia. Sucessores.
Não deixou Marcelino de corresponder carinhosamente
a essa simpatia, incluindo na chapa do seu partido, para
deputado federal, em mais de uma legislatura, um repre-
sentante da classe comercial.

Com a conclusão da via-férrea São luís-Teresina to-


do o Maranhão exultou de contentamento e, especial-
mente, o corpo comercial, donde tinha partido a idéia, e
que via no fácil transporte a salvação económica da zona
do Estado que primeiro colonizamos.
Assim, porém, não aconteceu.
A estrada, com efeito, impediu o aniquilamento
completo da economia do vale do Itapecuru. Desprovido
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
107

da S. Luís-Teresina e privado da navegação


fluvial em
consequência da imprestabilidade do rio para
isso, seria
fatal êsse aniquilamento. Mas do fato não se pode 'dedu-
zir que
ela tivesse impulsionado o vale para um
progres-
so digno de nota, que os municípios maranhenses
por ela
servido estão para desmenti-lo. É também incontestá-
ai
vel não haver a via-férrea carregado para o pôrto de
São
Luís a produção da zona piauiense fertilizada pelo rio
Parnaíba, à montante de Teresina, fato que se previa,
devido ao pôrto precário de Tutóia, de que se utilisava o
Estado vizinho. Fatores que sobrevieram de várias espé-
cies obstaram à S. Luís-Teresina êsse destino, como afir-
ma o dr. Jurandir Pires Ferreira, que acrescenta :

"Apresenta ela mesmo hoje uma expressão de decadência:


circula por ela apenas um trem três vêzes por semana, entre as
duas capitais. Com êsse tráfego tão pouco intenso, a estrada
caiu no regime acentuado de défic-ts c dêsse regime veio todo o
resto de malefícios correspondentes. Por outro lado, num sim
plismo, aliás comum a todo nosso sistema ferroviário, procurou-
se ampliar a receita a custa de uma tarifação crescente. O resul-
tado por tôda parte tem sido negativo e o Estado do Maranhão,
em razão de não ter correspondido a estrada de ferro às esperan-
ças que iiela se depositavam, também se integra nesse mal, pra-
ticamente comum a todo sistema ferroviário brasileiro, da falta
de atualização de métodos para a exploração de suas ferro-
vias". (483)

Os dados seguintes comprovam estas ponderações.

Em1921, a São Luís-Teresina transportou 26.270


passageiros, sendo 11.133 de la. classe e 15.137 de 2a.
As bagagens e encomendas atingiram 281,6 toneladas,
animais (3.631 cabeças) 354,3 toneladas e mercadorias
17.085,1 toneladas, entre as quais lenha 11.130, cana
sacarina 920,8, caroços diversos 654,8, sal 459,9, amên-
doas babaçu 401,3, algodão 397,3, arroz 371,9, tecidos
337,6, sabão 303,5, açúcar 277,8, petróleo 117,4,
madei-

(483) — Jurandir Pires Ferreira — Prefácio do vol. 15 da '•Eiiriclopi-dia do?

Municípios Brasileiros". — 1859. Rio.


:

198 JERÔNIMO DE VIVEIROS


'

ras 116,5, couros 87, café 68, milho, 64, tijolos e telhas
59, aguardente 59, carvão vegetal 52 e cêrca de 50 tone-
ladas do restante.
Em
relação aos déficits, vejam-se êste dados, com-
putados em contos de réis (mil cruzeiros)

Ano Receita Despesas Deficits


1

!
1921 428 i
2.189 1
1.761 1

'

1922 721 . 2.182 1


1.460 1

1923 1,,056 2.362 1


1.305 1

^
1924 845 2.928 2.083 1

!
1925 879 3.204 i
2.324 1

1926 729 3.194 2.464


1

1
i i 1

:
1927 :
1 .213 3.535 í
2.322 1

1928 1 .229 i
2.933 !
1.704 1

1 1929 1
1 .219 3.387 !
2.174 1

1
1930 .131 3.237 [
2.106 !

;
1931 í
1..513 1i
2.495 i
981 i

Êste resultado último foi obtido na administração do


Dr. Antônio Ávila.
CAPÍTULO XIII

A DESEJADA TOCANTINA

ão há maranhense que perlustre, escrevendo ou fa-


lando, o problemamomentoso da estrada de pene-
tração do nosso sertão — a desejada Tocantina,
também denominada Central do Maranhão, que o não fa-
ça sob a influência daquêle estado psicológico, que o Pa-
dre Antônio Vieira sintetizou na frase "escrevo com to-
:

da a alma na pena."
É o que nos acontece, escrevendo êste capítulo. Fa-
zemo-lo com a alma na pena.
Em verdade que o problema é duplamente impor-
tante para o Maranhão, quer se considere o sudoeste do
nosso sertão, quer se figure o norte de Goiás que conos-
co se limita. Tratam-se das produções de opulentas zo-
nas, que, pelas suas posições geográficas, deveriam ser
incorporadas à economia do nosso comércio e que se des-
viam para outras paragens, ou lá ficam estagnadas, por
falta da estrada "Central do Maranhão".
É de fácil compreensão o problema e só porque é du-
plo, dividimo-lo em nosso estudo em região do sertão
maranhense e região do norte de Goiás.
200 JERÔNIMO DE VIVEIROS

No
primeiro caso, é intuitiva a necessidade que te-
mos de São Luís ao sertão, onde e-
ligar a nossa Capital
xistem no sudoeste núcleos importantes de populações
como Grajaú, Carolina, Imperatriz e Pôrto Franco, bem
assim campos infindos, que começam em Vargem Boni-
ta, perto do primeiro dêsses núcleos e se estendem até ao
rio Tocantins, entre os dois, últimos centros citados. São
campos em que se criam cêrca de 135 000 cabeças de bo-

.

vinos mais de 10®/o de pecuária de todo o Estado, que


era em 1947 calculada em 1.035.000, mas que poderia
ser o décuplo, se não lhe faltasse o sal, pelas dificuldades
de vias de transporte. (484) Dêsse lado e de outro do nor-
te de Goiás o sertão exporta, anualmente, 2 000 bovinos .

para as feiras das Pombinhas (Piqui), os quais lá chegam


emagrecidos e estropiados, após uma viagem de 150 lé-
guas, oneradissimas de impostos fronteiriços, travessias
de rios, ganhos dos tangedores e prejuízos dos que mor-
rem.

O em
verdade, é o elemento essencial da pecuá-
sal,
que o sertanejo exprime nu-
ria, o seu fator principal, o
ma frase precisa —
"ou o dá aos gados, ou perde o fer-
ros". Daí procede o seu grande consumo 20.000 sacas :

por ano na Barra do Corda, 15.000 em Carolina, 12.000


no Grajaú. Género de preço ínfimo no litoral em 1910 —
custava 2$000 a saca de 40 quilogramas em São Luís —
as dificuldades de transportes oneravam de tal forma o
seu preço que em Carolina era vendido a 24$000 e em
Pôrto Franco a 40$000 (485)

fôra essa carência de vias de transportes, o ser-


Não
tão maranhense já teria desenvolvido a sua pecuária e a-
proveitado os noves mercados europeus, abertos desde a
grande guerra de 1914.

(484) — Cássio Reis Costa — "Maranhão" 1948, p. 73.

(48.>) — J. Palhauo de Jesus — "Relatório do reconehcimento da estrada do


Ilapccuru ao Tocantins", p. 21 — São Luís 1910.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO UO MARANHÃO

Traz-lhe também a falta de estradas o encarecimen-


to das mercadorias que consome. A caixa de petróleo,
que em São Luís custava 8$000 (1910), era vendida por
40$000. As despesas com mercadorias de certas catego-
rias eram exorbitantes 50Vo ferragens, lOOVo
: louças,
170Vo vinhos em garrafas.
Como é bem de deduzir-se, esta situação influía nas
exportações sertanejas. Èram insignificantes há 50 anos
passados e da mesma maneira o são no presente. Naque-
la época, Grajaú, que Palhano considerava o empório do
comércio do alto sertão maranhense e do norte de Goiás,
tinha uma exportação ridícula para São Luís: 18.000
couros de boi, 5 000 de veado, 6 000 quilos de borracha
. .

de mangabeíra, 6 000 ditos de caucho, 1 500 quilos de


. .

óleo de copaíba e 400 de penas de ema. Entretanto, as


suas terras continham matas fertilissimas, abundantes
d'água e de madeiras de construção. (486)
No segundo caso, era a posição geográfica do norte
de Goiás que fazia da praça comercial de São Luís, a ex-
portadora natural da sua produção septentrional.
E senão, vejamos :

Havia três vias : pela Bahia, pelo Pará e pelo Ma-


ranhão.
A
descrição que Fran Paxeco faz da primeira via a-
fasta-a de qualquer locubração. Utilisavam-na, é verda-
de, porém era de difícil acesso.

"Largam-se de Carolina, em barcos a vapor, Tocantins a fo-


à foz do seu afluente Sono. Vadeando este rio goiano, de-
ra, até
mandam o derradeiro aniarradoiro, perto do planalto do Jalapão.
nas divisas de Goiás com a Bahia. Desembarcam, devoram 40 lé-
guas, em riste ao rio Sapão. Úe lá, baixam para u confluência
encn Uro
do Preto, que os leva ao rio Grande e dai marcham «-»
qual alcançam o Joazeiro. AH, tomam o
do São Francisco, pelo
comboio para o Salvador. (487)

(486) — Palhano de Jesus — Obra


J.
cit., p. 16.

(487) — Fran Paxeco — "Geografia do Maranhão". i..


71
202 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Por Belém do Pará, servindo-se á(y rio Tocantins era


ainda pior o percurso.
O Tocantins, que nasce no sul de Goiás e é o rio por
onde se transporta para o norte a produção septentrional
dêste Estado, depois de separá-lo do Maranhão, onde tem
franca navegação, recebe o Araguáia e da sua junção pa-
ra baixo, até Arumatéua, 440 quilómetros, deparam-se
as mais formidáveis seções encachoeiradas Tanirí —
Grande e Itaóca, as quais nunca foram transpostas. "Não
é a falta da água, é a demasia do seu volume e corrente-
za." — O grande e intrépido patriota General Couto de
Magalhães tentou fazê-lo, no século passado, mas lá per-
deu o vapor de alto bordo —
o Maranhão —
engulido, lo-
go à entrada do canal, pelo rebojo da Itaóca. Ê claro,
portanto, que pelo Tocantins não poderiam os produtos
norte-goianos alcançar os portos do litoral paraense.

A terceira via —
a do Maranhão —
não resolvia o
problema. Era uma extensa picada de muitos quilóme-
tros, pela qual não se tornava impossível o percurso, era,
sem dúvida, difícil e moroso. Assim, o caso não apresen-
tava solução natural e os produtos dos sertões maranhen-
se e goiano seriam dos compradores qué lá chegassem em
primeiro lugar
Por
— com boas estradas.
mesmo, não o menosprezaram os nossos ad-
isso
ministradores do passado, sem que, contudo, lhe tives-
sem dispensado o esforço devido.
A aspiração era velha, vinha do regime monárqui-
co, quando Augusto Olímpio Gomes de Castro, na Pre-
sidência da Província, em 1873, contratou com os enge-
nheiros Ernesto Diniz Etreet e Reinado von Kriger a in-
corporação de uma companhia para o fim de construir
uma estrada de ferro ligando Barra do Corda às margens
do Tocantins. Kriger foi ao sertão maranhense e levan-
tou o traçado, pedindo ao Govêrno do Império garantia
de juros para o capital a despender e um determinado
praso para uso e gôso da estrada a construir. Não o conse-
guindo, a empresa malogrou-se.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHAo
Passados dezessete anos, já na República,
em 1390
associado ao comerciante de nossa praça
Fcnn \'rlie ê
ao dr. Almir Nina, o engenheiro Nicoláu
Vergueiro Le-
Cocq estudou novo traçado, partindo da Barra
do Corda
e terminando em Carolina, à margem, do
rio Tocantins
Este projeto ficou prejudicado, com a concessão
anterior-
mente dada ao dr. Aarão Reis, que a transferiu à Com-
panhia Geral de Melhoramentos do Maranhão, a qual,
como ficou dito no capítulo VI dêste volume, se íimitou a
abrir uma picada entre Caxias e Pedreiras.

Em 1897, o Govêrno do Estado tentou, debalde, por


uma lei chamar concorrência para a construção da sua
grande via de penetração, e em 1910, o Governador Luís
Domingues fez nova tentativa, propondo à União fôsse o
Estado o seu empreiteiro, para o que o habilitava o em-
préstimo financeiro que acabava de fazer na França. Re-
cusado pela União, em virtude de dispositivo legal, tal-
vez disso se tivesse originado a sua deliberação de encar-
regar o nosso competente conterrâneo engenheiro José
Palhano de Jesus, então, fiscal da construção da estrada

de ferro S. Luís Caxias, de levantar o traçado da dese-
jada Tocantina, partindo de Coroatá.

Executado o reconhecimento técnico, Palhano cons-


tatou a extensão de 584 quilómetros, assim discrimina-
dos de Coroatá a Barra do Corda —
262 kms, de Barra

:

do Corda a Grajaú 137 kms, de Grajaú a Pôrto-Fran-


co — 185 quilómetros. O ponto culminante da estrada
projetada seria o alto da chapada dc Santana, 330 me-
tros acima de Coroatá e 170 acima de Grajaú.

Dormia, sob o pretexto de estudos, no Ministério da


Viação o traçado de Palhano de Jesus, quando Marcelino
Machado, que levara em 1918 para a Câmara Federal,
no seu programa, como já enunciamos, o item da Tocan-
tina, se interessou pelo assunto.

É êle mesmo quem nos conta :


JERÔNIMO DE VIVEIROS

"As dificuldades financeiras e a grande guerra determina-


ram a suspensão dos estudos em 1914. Até 1920 não se cogitou
de tão indispensável via férrea, conver^ndo os esforço» da nos-
sa bancada para a conclusão da São Luís a Caxias, cuja cons-
trução havia sido parada e reiniciada em 1919.
"Na lei orçamentária para 1921, porém, surgiu uma autori-
zação para a construção da Coroatá ao Tocantins, embora não
estivesse de todo concluída a São Luís-Caxias. O Governo não
se utilizou dessa autorização, que aliás só tinha sido pleiteadat co-
mo medida de precaução para o caso de ser viável um movimento
em favor da sua construção, dado o fato de termos um conter-
râneo na h\'$petoria das Estradas e um nortista na Presidência
ia República. Infelizmente não houve oportunidade. Quando
se elaborava o orçamento para 1922, apresentei, como costuma-
va fazer, as emendas que interessam ao nosso Estado, mas não
querendo despertar a atenção para o fato de ser obra nova, vis-
to já haver forte campanha contra o início de despesas, aguardei-
me para a discussão ':\o seio da Comissão de Finanças, combinan-
do previamente com o relator —- o deputado pernambucano Cor-

rêa de Brito. Perante a Comissão apresentei a emenda, consig-


nando do s mil e quinhentos contos para o ramal de Coroatá ao
Tocantins. Na justificação que fiz não só puz em realce as van-
tagens para o Estado e sobretudo para a São Luís-Teresina, da
qual nada mais era a Coroatá ao Tocamtins do que um ramal.
Muito de propósito empfeguei essa denominação de ramal para
contornar a dificuldade de ser considerada obra nova, incorren-
do assim na resolução geral de não se. dar verba para a sua cons-
trução.
"Tive a satisfação de ver a minha emenda aceita pela Co-
missão e pela Câmara, figurando a verba no projeto de orçamen-
to que foi vetado. Novamente providenciei para que fosse con-
servada a mesma verba na lei de emergência, o que foi conse-
guido.
"Estava assim preparado o terreno para se dar o impulso
inicial à Coroatá — Tocantins. Havia sobre isso várias vêzes
conversado com o dr. Palhano de lesus, quando as Câmaras Mu-
nicipais do nosso Estado tiveram a feliz lembrança de se dirigi-
rem ao Presidente da República, focalisando êsse magno proble-
ma.
"A representação maranhense agindo nesse sentido e apoia-
da pelo nosso conterrâneo Palhano de Jesus, cujos serviços nun-
ca serão por demais elogiados, obteve do benemérito dr. Epitácio
Pessoa a ordem do início de tão almejada via férrea.
"Após alguns embaraços e incidentes, que estão na lembran-
ça de todos e oxalá não resurjam, foi solenemente inaugurada a
• HISTÓRIA DO COMÍRCIO DO
MAR.\NHAO 2O5
construção m
dia 12 de outubro de 192^
iicandn n .ti- '

car,o do nosso ilustre e


esforçado co,. j';^::^
guês Nessa ocasião recebi do dedicado
Sao Uus -
Teres^na, dr. Antônio Avila
e competenL t^da I
,0 tX"-grama se^inie
que ranscrevo para o conhecimento
dos meus
um testemunho insuspeito sobre o desempenho LterrâneZ, de
do nu,ndato aue
me confiaram :
^

"Momento em que por entre mais significativas v'-


brantes manifestações júbilo todos maranhenses,
represen-
lados seus mais altos autorizados
vultos, faço inauirurncão
construção ramal Coroatá-Pedreiras,
é-me muito grato en-
viar vossencia ajetuosos cumprimentos,
representante que e
desla grande terra e amda esforçado
defensor verdadeiro
patrono da estrada que tanto lhe deve.
Afetuosas e cordinis
saudações."

"Está assim em via de realização a máxima aspiração


do
nosso Estado. Certamente muitos obstáculos ainda surgirão,
es-
tando a luta apenas iniciada. Não faltarão por certo a dedica-
ção e esforço vigilante de todos para que se leve a efeito essa
obra indispensável ao nosso progresso. De minha parte estarei
sempre na estacada, nki defesa dos vitais interesses da nos.<in terra
e, sem alarde, como até aqui, não pouparei esforços para a rea-
lização de tão imprescindível melhoramento.'' (488)

Que aquêles obstáculos foram muitos e diminutas a


dedicação e esforços, dos quais nos falou Marcelino Ma-
chado, dizem eloquentemente êsses longos 38 anos gas-
tos só na metade do trecho Coroatá-Pedreiras, ritmo de
trabalho que leva o maranhense a pensar na sua conclu-
são lá pelas eras de 1998, se é que ao aludido trecho o
destino não reserva o fim melancólico do canal de Arapa-
paí, do dique e de outras obras do Maranhão.
Entretanto, o comércio vem-na reclamando reitera-
damente, no passado como no presente.
Ainda em 1926, o jornal "O Imparcial", edição de
25/9, publicava uma entrevista de José João de Sousa,
então, presidente da Associação Comercial e um das fi-
guras mais prestigiosas da praça de São Luís, da qual
destacamos êste trecho, referente ao assunto

(488) — Marcelino Machado — Obra cit., ps. 66 a 70.


206 JERÔNIMO DE VIVEIROS


"Talvez venhamos a calhar, perguntando-lhe se acha o-
portuna a construção do porto no presente momento.

— "E acertou. Eu ia justamente falar disso, que me pare-


ce o ponto capital da questão.

— "Na verdade, meu amigo, se o porto de São Luís é uma


necessidade de grande monta, a sua construção, no presente, é
discutível. Eu penso que, antes do porto e apesar de todas as
vantagens que êle nos ofereceria, devêramos preferir a estrada de
ferro do Tocantin.s. Se precisamos de facilitar os meios de trans-
porte para fora do Estado, não menor urgência temos de estabe-
lecer comunicações mais imediatas com o interior do Maranhão.
"Não careço, aliás, de encarecer os porquês dêsse
modo de
ver. Compreende-se facilmente. E
eu penso que para o pôrto de
São Luís faz-se mister a estrada do Tocantins.

"Ligar o sertão, receber os produtos valiosíssimos que êle


nos manda, para então embarcá-los para os outros Estados, para
o estrangeiro. Em todo caso, não quer isso dizer que sejamos
mal agradecidos, desdenhar.<^o do benefício importante que nos
prometem."

E como José João de Sousa, não pequena parte do


comércio assim pensava, aproveitando tôdas as oportuni-
dades para expressar o seu desejo, como fez em 1931,
quando pediu à Inspetoria Federal das Estradas que rea-
lizasse a velha aspiração maranhense, iniciada em 12 de
outubro de 1922, no Govêrno de Epitácio Pessoa, e logo
interrompida em 6 de dezembro do mesmo ano, no qua-
triênio Artur Bernardes, como medida de economia.

No que diz respeito ao Patrono da Tocantina, não


lhe arrefeceu o ardor. Ainda hoje, setuagenário de ver-
dor perene, é o mesmo entusiasta de 40 anos passados. A
um simples apêlo nosso, acudiu logo com êste memorial,
que é um belo fecho para êste capítulo, escrito com alma
de maranhense na ponta da pena.

"A Tocantina, trecho final da Brasília-São Luís, escoa-


mento natural da produção da vertente norte do Pla-
nalto Central para um pôrto de mar São Luís ou Itaqui
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

"O Maranhão pela situação geográfica, a riqueza de


seu so-
lo de transição entre o maciço central do Brasil
p a Amazónia
e a inteligênciu de seus filhos, está destinado
a ser uma das zo-
nas de maior futuro do país. A sua história indicava isso

quando nos primórdios da nacionalidade conslitwu o Estado do
Maranhão, entendendo-se diretamente com a Metrópole devido às
facilidades de comunicação proporcionada;! pela navegação ma-
rítima, estando S. Luís mais próximo de Portugal do que
qual-
quer outra cidade bras'leira. Essas condições naturais permane-
cem, porém não devidame.ite aproveitadas. Ao contrário, têm si-
do descuidadas apesar de acentuadas há mais de século por vá-
rios estudiosos dos problemas maranhenses.

"Não ternos a intenção nesle rápido escorço de fazer uma


exposição do problema capital para o desenvolvimento do Mara-
nhão desde os prime'ros ensáios, porém apenas da atuação da-
queles que conseguiram iniciar u sua execução. Quem examina
o mapa do Maranhão e da vertente norte do Planalto Central.
não têm dúvida que a solução natural para o escoamento da pro-
dução de tão rica região é a ligação por estrada de ferro ou es-
trada tronco de rodagem a um pôr to de mar que ofereça condi-
ções de franco acesso e navegabilidade e, ao mesmo tempo, seja
mais próximo do resto do país e do extcr'or. Ora, a estrada de
ferro que, partindo de Sãc Luís ou melhor de Itaqui. já em trá-
fego até Coroatá, fôr terminar nas margens do Tocantins antes
da sua junção com o Araguaia e a descida para a planície amu'
zônica, será a espinha dorsal, a solução de base para todas as co-
municações rodoviárias e fluviais dessa imensa região de.tde as
nascentes dos dois caudalosos rios. Além da ligação a um porto
de mar de condições naturais excelentes, atravessa região apro-
priada para construção de estradas, já bem povoada, e é mais
baixas e
curta do que qualquer outra ligação através de zonas
alagadiças para outro pôr to, cruzando várhs rios e seus afluen-
tes, como para o de Belém.

"No momento de tua decantado e descontrolado desenvolvi-


mento, quando da Brasília-Belém, longe de nós com-
se fala tanto
alguns técnicos do va-
bater essa estrada que, na sua parle final,
lor profissional intelectual c moral de
um Gustavo Corçao che-
lançada em
gam a denominar de verdadeiro disparate, por ser
dc rios e de terrenos suieilos a
plena baixada amazônica, cortada
anaais, onde no dizer de Euclides da Cunha «,v r.s//j
enchentes
das possíveis são aquelas que andam
— os .-eus nos. Al^-m cia

trecho, a conservr,çao sera am-


construção despendiosíssima nesse
da rnail cara, de modo que não será '/""P"'''
P^^''^''^
maranhense da Brasiha-Bclem.^VaÍ^
trada que, partindo do trecho
JERÔNIMO DE VIVEIROS

entre Pôrtc-Franco e Imperatriz, jôr encontrar em Coroatá com


a São Luís a Teresina, já em tráfego, formando a Tocantina.
"Pleiteamos apenas a prioridade para a ligação à Capital
de outro Estado da Federação no terço final da Brasília-Belém,
dadas as condições naturais expostas. Esta é a solução mais con-
veniente, levando aiida em conta o hinterland tributário de cada
porto, sendo Belém o pôrto natural de toda a Hileia Amazônica
e o de São Luís ou It^ui o escoadouro natural de todo o Mara-
nhão e da vertente norte do Planalto Central. O pôrto de Itaqui.
já em construção, só é comparável pelas suas condições naturais
ao do Rio de Janeiro.. Suo condições\ que não se podem ilidir e
acabarão, mais cedo ou mais tarde, por prevalecer.

"y4 mesma falta de visão foi cometida quando se construiu a

Estrada de Ferro do Tocantins, paralela ao rio, ligando Alcobaça


a Jatobal, num percurso de 112 quilómetros e destinada a trans-
pór as corredeiras, que separam o Baixo do Médio Tocantins.
sem conseguir o objelivo visado — o aproveitamento intensivo
da parte navegável do grande rio, acima das cachoeiras. Se os
milhares de contos despendidos na construção dessa estrada, ho-
je quase esquecida e abandonada, fóssem empregados na ligação
ferroviária para São Luís, outro seria o resultado que teria pro-
porcionado o desenvolvimento de tóda a região e em especial do
Maranhão, vítima de tantas repercussões na sua economia, como
as conseqiientes à terminação da guerra de secessão americana,
da abolição da escravatur-a, do ensilhamento e, por fim, da valo-
rização da borracha, que tão fundo atingiram a economia mara-
nhense.

"Quem acompanhou a marcha da caravana de integração


pela Brasília-Belém, por meio da imprensa e da televisão ,sobre-
tudo pela descrição minuciosa do correspondente de "O Globo".
publicada em fevereiro de 1960, verificou a procedência das ra-
zões a que aludimos e a quase impraticabilidade do trecho Impe-
ratriz-Belém, de modo que a prioridade na construção da Tocan-
tina se deveria ter imposto, como fatalmente se dará em futuro
próximo. Basta citar um pequeno trecho do correspondente do
vespertino carioca para se fazer idéia da região e do volume da
produção que se encaminhará para Itaqui. que é o pôrto natural
do escoamento de lôda essa região :

"Imperatriz está a 620 km de Belém 574 de Brasília,


e a 1 .

portanto, antes do primeiro terço da viagem. Saindo-se de Im-


peratriz para o Estreito, ponto em que o Tocantins se aperta "pa-
ra dar passagem à estrada", ainda se vê alguma mata rala, tran-
sição entre a hiléia e o cerrado que domina Goiás. Conforme se
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARA^HA()

avança para o sul o babaçu toma conla


da paisagem, até „ue lá
por ^Carolina. Filadélfia e Babaçulândia se
torna "um despropó-
sito como ouvi dizer. Mas náo vamos chegar até lá.
,
No
treito a rodovia cnlra em Goiás, tomando
o rumo oeste, para fu-
gir das margens do rio, onde pontes
e aterros .encareceriam mui-
to a obra. 1-ugir do rio é fugir da
umidadc. portanto, do babaçu.
Atmgida a zona das cabeceiras dos curtos afluentes do
Tocantins,
a rodovia toma o rumo suL e o segue até Anápolis.
Dessa cida-
de então procura Brasília, que fica a nordeste. Uma
vez nas ca-
beceiras dos rios. a paisagem é uma .só o cerrado. As árvores
:

são esparsas, de pequena altura, lenhosas e cheias de nós.


Al-
guém já disse dessa vegetação xerófila (jue parece "atormenta-
da". Porque a estação de chuvas
é curta (embora grande a pre-
cipitação) a região apresenta rios que "cortam", como os do
Nordeste. A temperatura é alta de dia. mas sempre fresca à noi-
te. As terras se alteiam lentamente, indo dos 96 metros de impe-
ratriz aos 1.100 de Brasília em que o viajante o sinta. .A. nãn
í

ser ao atravessar os contrafortes da grande e bela Serra Doura


da, o divisor de águas entre as bacias do Prata e do Amazonas,
berço do ouro que deu origem ao povoamento de Goiás, no sé-

culo XVIII."

"De Imperatriz a Brasília levei íele dias. No primeiro dia


fui até Estreito (128 km), passando por Pôrto Franco, onde virá
ter a rodovia cjue ligará São Luís à Bclém-Bi ília. (I) \o se-
;i;

gundo cheguei a Araguaína (143 Km), cidade desde janeiro de


1959, mata fechada em janeiro de 1937. Fica sobre o rio Lon-
tra, afluente Araguaia. Falar em mata do L( ntra. agora, por
aqui, é o mesmo que falar em dinheiro, arroz e cacau. O p'»-
voamento é todo maranhense, desordenado e rápido. A "corri-
da" às matas de Lontra, hoje. em tudo se assemelha à ocorrida
há três anos às matas do Gurupi. um pequeno afluente do To-
cantins, mais ao sul. Adiante falarei da cidade que ali surgiu.
Gurupi (100.000 sacos de arroz em 1959. observando a influ-
ência da rodovia no seu desenvolvimento em relação ao de Impe-
ratriz, a velha cidade viciada no garimpo que hoje é o
que por
alto pintei. No terceiro dia atingi Guará (197 Km), um acam-
pamento hoje. cidade talvez até c fim do ano. No seguinte
fiz

mais 177 Km, pousando no acampamento da Nacional,


uma em-
preitada da Rodcbrás. A dois (juilômetros dali brota como um
Paraíso, talvez já com umas cem
cogumelo um lugar chamado
casas, das quais a primeira se ergueu
em junho. O qumto da
Uruaçu. Pequenas cidades
foi o de estirão maior. 533 Km. até

— Vide nota final.


JERÔNIMO DE VIVEIROS

ficaram de entremeio, como Amaro Leite, garimpo antigo onde há


quarenta anos não morre gente de morte natural ... No sexto
dia entrei em Anápolis (262 Km), que .encontro o dobro do ta-
manho do que era em 1957. Finalmente cheguei a Brasília na
manhã de 21 de janeiro, pelos 134 Km de asfalto que a liga à
BR-14.."

Como se verifica, a Tocantina ou para usar as denominações


atuais, a Brasília-São Luís, porquanto tôda a estrada até esse pon-
to serve igualmente para ligar a futura capital com Belém ou São
Luís, em Pôrto-Franco ou Estreito, onde está sendo
principia
construída uma ponte de 532 metros com um arco livre de 135
metros, o que fará dela nesse particular, a quarta do mundo.

» * »

Voltemos, porém, aos que conseguiram iniciar a execução


dessas vias de comunicação —
Tocantina e Itaqui —
que são a
pedra fundamental do progresso de tão extensa região. Foi Be-
nedito Leite que, consolida a sua posição polít'ca, propôs ao Se-
nado Federal, em 3 de ;\ovemhro de 1903, a construção da Estra-
da de Ferro São Luís a Caxias, em discurso minucioso, como era
de seu feitio c que esgotou o assunto, sendo uma obra completa
de argumentação e cheia de dados preciosos, como se pode veri-
ficar na transcrição feita na obra de Mestre Jerônimo de Vivei-
ros — "Benedito Leite, um verdadeiro republicano". Êsse pro-
jeto foi transformado na Lei n." 1.329, de 3 de janeiro de 1905,,
que o Presidente Afonso Pena executou após ter verificado, de
visu, a precariedade da navegação do Itapecuru, qucfndo passou
por Maranhão e Benedito Leite, no governo estadual, o fez per-
correr o rio rumo à Caxias.

A lei determinava que a estrada "atravessará a zona que fi-


ca entre os vales dos lios Itapecurú e Mearim"*» "passará pela ci-
dade de São Luís o traçado que fôr mais apropriado para aten-
der com facilidade, a qualquer tempo, ao serviço do pôrto de Ita-
qui."
Benedito Leite falecidoem 1909 e diz Jerônimo de Vivei-
ros na obra citada "Mudou-se o traçado para a margem do rio.
:

onde as obras de arte eram numerosas '. E concluindo : "Pelo


que fica exposto, verifica-se bem a parte que coube ao ilustre
morto na construção de nossa estrada. Não fôra êle e ela não
teria sido decretada; vivesse êle. e seu traçado não seria muda-
do".
Era essa a situação, quando, em 1918, o destino me levou à
Câmara dos Deputados. Não pretendo dizer tudo o que procu-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 211

rei fazer pelanossa terra, mas apenas pelo binómio Totantina —


e Ilaqui, comodeclaro no folheio "Pelo Maranhão", que os nos-
sos patrícios editaram, reunindo os artigos por mim publicados
em 1922, dando conta da execução do meu mandato, em cujo
página 55 se lê :

"Ao entrar para a Câmara dos Deputados estabeleci a se-


guinte ordem para a orientação domeu esforço em favor da via-
ção férrea no nosso Estado conclusão da S. Luís a Caxias, in-
:

corporação a esta da Caxias a Flores, construção da ponte sôbre


o Canal dos Mosquitos e finalmente da Coroatá ao Tocantins"'.
Quando fui esbulhado em 1927 do meu direito de represen-
tar a nossa terra, já havia assistido à conclusão da S. Luís a Ca-
xias e sua incorporação com a Caxias a Flores, em 1920, for-
mando a aluai São Luís a Teresina, denominação por mim suge-
rida, e cuja viagem inaugural tive a satisfação de fazer em 14
de março de 1921, em seu percurso lotai de 450 kms.
A "Ponte Benedito Leite" já estava concluída, sem a qual
a São Luís a Teresina seria um organismo estrangulado, incapaz
de subsistir sem o elemento vital que é o transporte dos inúme-
ros produtos que pode e deve dar a rica zona por ria atravessada.
Quanto à Estrada Coroatá ao Tocantins, por mim denomi-
nada Tocantina. já o orçamento para 1921 trazia autorização
para a sua construção, e na sessão da Câmara dos Deputados de
4 de junho de 1923 pronunciei Imgo discurso sobre a Tocanti-
na, no qual demonstrei as suas vantagens, fazendo a devida justi-
ça ao Presidente Epitácio Pessoa e ao nosso conterrâneo José Pa-
Ihano de Jesus, então Inspetor Federal das Estradas, que muito
fizeram pela nossa terra. Não ser'a descabida reproduzir o final
desse discurso, repleto de eslatisticas da população e da
produção dessa região, neste momento da febril construção de
Brasília, como autor do projeto que se transformou na Lei
n."

4.494, de 18 de janeiro de 1922, mandando lançar no planalto


central a pedra fundamental da Capital Federal no dia 7
de se-

tembro de 1922, o que foi realizado por Epitácio Pessoa: "Só en-

tão, quando do planalto central o Gcvêrno


Federal puder abran-

ger de um só golpe de vista lôda a vastidão da nossa pátria;


irradiarem como os dedos de uma das mãos as vias
quando de lá
território; quando,
férreas todas as direcões do nosso imenso
em
cosmopolita desta cidade, estivermos impregnados
fora do meio
cerne da nossa na-
da alma das populações do interior que são o
inspiração do Cruzeiro do
cionalidade, e mais próximos, e sob a
profecia de sermos o pais cio sé-
Sul; só então o Brasil realisará a
culo XX!"
212 JERÔNIMO DE VIVEIROS

^''Embora fora da Câmara dos Deputadas, não me descurei


da Tocantina, orientando no Estado a campanha da Aliança Li-
e,

beral, fiz longa expos-ção ao candidato Getúlio Vargas, que na


sua plataforma, lida na Esplanada do Castelo a 2 de janeiro de
1930, no capítulo "Vias de Comunicações", fez esta única e ex-
pressa cliação : "Entre as grandes linhas férreas que a nação re-
clama, uma das de maior alcance é a chamada "Tocantina", de
Corcatá ao Tocantins. Refiro-me especialmente a esta. porque é
típica.Iniciadas no governo Epitácio Pessoa, as obras dessa es-
trada foram pouco depois suspensas. Com a construção de 560
quilómetros, ficará o pôrto de S. Luís ligado ao Tocantins, cujos
800 quilómetros navegáveis seriam convenientemente aprovei-
tados".

"Com a vitória do mov'mento de 1930 procurei, por inter-


médio da maioria da bancada maranhense, eleita pelo partido sob
a minha orientação em 1933 e 1934, continuar a batalha pela
Tocantina, que permanece até hoje ,embora com insignificante re-
sultado, pois as construções ferroviárias foram quase abandonadas
nesse longo período. Aluahnentc a Tocantina tem construídos de
Coroalá em direção a Pedreiras 40 quilómetros.

"Cabe aos atuws representantes maranhense continuarem a


problema capital para o progresso do Ma-
lutar pela solução dêste
ranhão. Dele depende o seu desenvolvimento e a sua posição na
Federação.

* * *

"Relativamente ao pôrto de Itaqui a solução está mais adian-


tada e em via de corxlusão com n assinatura do recente termo de
ajuste com a firma "Cobrasil", de 21 de janeiro de 1960, e um
crédito de CRf! 326.672.160,00 para a conclusão. Já exilem vá-
rios metros de cais de atracação e, parece que será afinal concluí-
do. Encarregado pelo governador Urbano Santos para estudar o ca-
so dos ouro, cobrados no pôrtò de São Luís, apresentei pro-
jeto em 1920 nvindando entregar ao governo estadual os 2"!»
ouro, arrecadados, projelo que se transformou em lei e com os
quais foram pagas as despesas com os estudos realizados pela casa
Walker, especialista de fama mundial. Depois de feitas várias mu-
danças, voltou a construção do pórto à competência da União que,
felizmente, parece a está levando a bom termo.

• • «
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARAMiAO 313

"Scja-me pennit do lembrar que, devido a êsse projvlu so-


bre o Pôrlo de S. Luís. fiquei coiiliecendo a Irgisidrão a respeito
de construirão de portos, o que me levou a apresentar em 1921
uma proposta sobre a Port-of-Pará, que vinha recebendo ilegal-
mente, até então, cerca de 26 mil contos, ouro, a qual aprovada
pelo Legislativo, cumprida pelo Presidente EpUácio Pessoa e man-
tida pelo Judiciário está até hoje em vigor, apesar da campanha
persistente dos i^nteressados em derrogá-la, como iiltimamente re-
correndo à tentativa do arbitramento.
"Baseado nessa minha proposta o presidente Getúl-o l dr-
gus, pelo Decreto-Lei, n." 2.442, de 17 de abril de 1940, com as
mesmas consicleranda da proposta, encampou o Pôiio de Bclcni.
ficando a Companhia, que o explorava, ainda a dever cerca de
50 mil contos dos recebidos, ilegalmente, no total de 355 mil con-
tos, papel, feita u conversão no câmbio da época !

"Não fique', porém, só nisso, porque com os conhecimentos


adquiridos na ocasião, apresentei outro projeto sobre garantia de
juros a estradas de ferro, que chegou a ser aprovado, pela Câma-
ra dos Deputados, ficando parado no Senado. Mas, com a vitória
de 1930, foi mais tarde posto em execução pelo preside^ite Getú-
lio Vargas na São Paulo Rio Grande c Vitória a Minas, depois
de um inquérito presidido pelo Marechal Juarez Távora.
"Ainda uma referência sobre as vi/is de comunicação para
a nossa terra no discurso que proferi em 24 de setembro de 1924
no qual estudava a ligação ferroviár a do Rio de Janeiro a São
Luí? do Maranhão, aproveitando os trechos já consiruidos de vá-
rias estradas, de modo a formar a grande longitudinal brasileira.
que ligaria as duos cidades.
» » «

Por ocasião da eleição presidenc'ul de 1930, um dos candi-


compromisso, em
datos, o Brigadeiro Eduardo Gomes, assumiu o
pron,unciados em Carolina e São Luís, de cons^
dois discursos
truir a Tocantina e o Pôrto de Itaqui
num quinquénio, nos se-
"Várias gerações de maranhenses iC-m sonhado
guintes termos :
Ha meio
com a liaacão ferroviária do Itapecuru ao Tccantms.
século Be^iiedito Leite —
cujo nome todo o Maranhão guarda
ca-

rinhosamente — afirmava que o desenvolvimento do


Estado e a
do sertão
dependiam da ligação da zona
felicidade do ?cu povo
Para concretizar essa aspiração unanmie. pre-
à zona do litoral.
verba de 50.000 contos em cmco
vê o Plano Salte apenas uma
anos, de maneira que. em todo
um quinquénio, apenas se hguem
Pedreiras, o Itapecuru ao Meanm P'-^'"^'"-^";^
Coroatá a
da República, todo « -u
cmpenh^^
fôr eleito dar. no govérno
destinos da Na.ao. a lu
dirigir os
para que no lusiro cm que
concreta
cantina se tornp realidade

JERÔNIMO DE VIVEIROS

"£ no discurso cm S. Luis : "A queríi contempla e admira


a baía de São Marcos,
acode, desde logo. se tem a vocação do
bem público, a aspiração secular do povo maranhense à constru-
ção do seu pôrto que equivale à abertura do ponto de confluên-
cia dos vossos grandes e férteis vales à navegação organizada. Se
os sufrágios do povo brasileiro fizerem vitoriosa a nossa causa,
prcmcto-vos prosseguir na solução já adotada com a abertura do
pôrto em Itaqui. de maneira que não termine o quinqiiênio sem
(jue se possa aportar lÍAremente à capital da vossa terra".

"A", ainda, assini insiste nesse discurso : "Em Carolina, as-


^umi e acjui reafirmo o meu primeiro compromisso público com
os maranhenses que é o de empenhar todo o esforço que esteja ao
meu alcance, caso eleito, para atender a outra aspiração do vos-
so povo o senho de cinquenta anos, em cuja origem se encontra
:

o grande nome de Benedito Leite, que é a Tocantina".

« « *

"Diante de tão solene compromisso de um homem de bem,


em todos os sentidos, saí do meu silêncio distribuindo um folhe-
to contendo os dois discursos e apelando para os maranhenses.
Infelizmente o ilustre compatriota não foi eleito e agora volto a
insistir na necessidade da campanha para a obtenção dessas duas
imprescindíveis obras.

"5f7o a Tocantina. ligação ferrov'ária ou rodoviária por es-


trada com condições técnicas de linha tronco e o Pôrto de Itaqui
os problemas capitais para o Maranhão.

"A solução de ambos, simultânea e concomitante, constitui


o meio mais rápido e seguro para o seu progresso. A Tocantina
sem o Itaqui não impulsionará a nossa terra como poderá fazê*
lo, assim como o Pôrto de Itaqui. sem a estrada, nãv terá mer-
cadorias necessárias para a exportação.Urge, portanto, que am-
bos sejam impulsionados ao mesmo tempo ! Só com a solução
desses dois empreendimentos pode o Maranhão retomar o lugar
a que tem dire'to na Federação !

"Nunca, portanlo, é demais insistir a todo momento, em to-


das as oportunidades pela consecução desse desideratum. para
o que é indispensável a conjunção de esforços de todos go- —
vèrno, comércio, lavoura, indústria, cr.fim, de todos os mara-
nhenses.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 215

"Êsteé o apelo, como o fiz há dez


anos, veemente e sincero
do fundo d alma, de quem, em
consciência e sem outro in^Zse
que nao o do mais puro patriotismo,
dirijo a todos
conterrâneos
vós, meus
!

"ass.) Marcelino Machado"

"Rio, fevereiro de 1960.

— NOTA :

"Já estava escrita esta exposição quando foi sancionada a Iri n."
3.735, de 15 de março de 1960, que, autoriza a abfirtura de uni credito
especial de dois bilhões de cruzeiros para a conclusão das ligaçõe;-

rodoviárias de Brasília com os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas. Per-


nambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão, Mato-Grosso, c Goiás, sendo consig-
nados para B-R/21 —
Trecho São Luís-Peritoró — • Pôrlo Franco — a
quantia de quinhentos e cinquenta milhões de cruzeiros.

"A B Rl21, acima mencionada, correspo.ulcnlc ao que se


pleiteia nesta exposição A ligação —
de São Luís com o Tocan-
tins, que constituia a antiga Tocantina. e, na linguagem aluai, o
trecho final da Brasilia-São Luís. Agora, falta o principal : a
construção da B-RI21. Os maranhenses devem pleitra-Ui por to-
dos os meios e a todos os instantes até consegui-la, o quanJn an-
"
tes /
CAPÍTULO XIV

Reflexos da guerra de 1914 na economia niaranlienxc


valorização dos produtos, advento do côco babaçu
e fim da crise de 89. Prestígio da Associação Comercial.
Sua "Revista". Seus serviços ao findar a prime-ra Re-
pública. O "magasine Emílio Lisboa" como sinal dc

prosperidade da praça.

A primeira grande guerra, produzindo na Europa a


/\ escassez de produção, ocasionou a alta de preços
dos produtos brasileiros e, consequentemente, do
Maranhão.
A tonelada de algodão, que era o principal produto
da nossa exportação, galgou de 922$000 em 1913 a
1.050$000 em 1915, a 2.214$000 em 1916, a
2.540$000 em 1917, a S.TSg^jíOOO em 1918. Era uma al-
ta galopante, que chegou a 5 200$000. .

Exportávamos para a Inglaterra e p?ra França e,.


íamos com êste artigo, considerado bélico na época, cola-
borar numacontecimento de importância capital do mun-
do Ocidental. É de revelar-se aqui não ser esta a primei-
ra vez que isso acontecia. Já anteriormente, há mais dc
século passado, havíamos, com a introdução dêssc mes-
218 JERÔNIMO DE VIVEIROS

mo produto na Inglaterra, burlando o bíoqueio que lhe


faziam as nações inimigas, por ocasião da guerra dos Se-
te anos, impedido que fôsse retardada a marcha da revo-
lução industrial, operada então na Europa. (489)
Mas à valorização do algodão seguiram-se as de ou-
tros géneros, como os couros, que gosavam de preços re-
gulares. Outros, porém, de preços ínfimos, como a ta-
pioca do Pará —
300 réis o quilo ou de cotação infe- —
rior, como a amêndoa do côco babaçu 140 réis a- — —
tingiram preços jamais previstos e avultadas exporta-
ções e, só explicáveis —
a tapioca, porque ia suprir a fal-
ta do sagu na alimentação dos doentes nos hospitais, e o
— babaçu, porque era gordura, cuja carência entre as
nações em guerra era tal, que levava a Alemanha a cons-
truir usinas para extraí-la dos cadáveres.
Assombram os números que expressam a exporta-
ção da amêndoa de babaçu 588 quilos em 1912, 16.972
:

em 913, 19.462 836.408 em 1915, 4.010.100


em 914^,

em 1918, 5.603.200 em 919. E não desce mais da casa


dos milhões, mesmo depois da guerra.
Como se verifica, o babaçu entrou na nossa econo-
mia de maneira soberana Vinha de um longo passado de
.

utilidades humildes, em que a, sua palmeira só entrava


nas construções dos casebres. Depois, durante o império,
iluminou com o seu óleo as fazendas rurais, onde era a-
juntado no mato pelas crianças escravas, quebrado e re-
duzido a azeite pelos escravos adultos, nos serões do ca-
tiveiro. Valor mercantil êle não tinha, talvez pela abun-
dância com que se apresentava. Dessa situação procurou
tirá-lo o Presidente Eduardo Olímpio Machado, (1851 —
1855), profetisandc-lhe o futuro. Debalde, que a precio-
sa amêndoa continuou nas nossas matas. Só em 1891 te-
ve a sua primeira cotação. Fê-la a firma comercial Mar-
tins & Irmão, que anunciava pelo "Diário do Maranhão",
em janeiro daquêle ano, comprá-lo a 140 réis o quilo de

(489) — M. Nunes Dias — 01)bcivaçã() liaiisniitida, (|uaii(Jo da Mia passagi-ni


per .S. Luís, ciu viagi"in de pcs([uisas históricas, no ano de 1960.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

vianda (amêndoas) e aconselhava queimar o côco ein ru-


mas com fogo de coivara para facilitar a cxtrr.cão da a-
mêndoa.
Que o negócio progredia é de deduzir-se, porque a
mesma firma veio a possuir depois a primeira instalação
para extrair óleos vegetais que se montou em S?o Luís
(490)
Da iniciativa do negócio — incontestável padrão de
glória dianteda apoteótica ascenção do babaçu na eco-
nomia do Estado —
não admira nunca se terem Martins
& Irmão vangloriado, pois sempre foi característica da
firma essas atitudes circunspectas. No passado, não a-
lardearam a perfeição dos seus sabonetes; no presente,
não gabam a excelência do algodão hidrófilo de sua fa-
bricação.
Produto abundante de indústria extrativa, cuja co-
lheita consistia em
ajuntá-lo e quebrá-lo, com um preço
inicial superior ao da farinha de mandioca 100 réis o —
quilo —que exigia cultura e fabricação, e que era um
dos géneros de nossa exportação, o babaçu não podia dei-
xar de entrar nas locubrações do nosso comércio expor-
tador. O busíilis do negócio era um quebrador mecânico
para o côco. Na solução do problema, Marcelino Gomes
de Almeida & Cia. foram os negociantes da praça de São
Luís que mais se adiantaram. Propuseram ao Govêrno
distribuir gratuitamente um tipo de quebrador, meuls'.-
te certa concessão nos impostos cobrados sôbre o baba^-
çu exportado pela firma. O Congresso votou a lei, toi-

(490) _ S. Luís. 11.4.60 — Prrzado Sr. Jcrôniiiif) Viveiros — Saudações —


dados concrcios =ôi)re as pri-
Teria muito prazer cm lhe íorneccr
>-ôbre a exlorarão
meiras investidas tomadas pela nossa fiinia comercial
(las sementes de bahaçu mas, infelizmrnic
naquela época de 870, pou
apenas sei por pales
CO caso se dava aos arquivos das firmas. Assim,
com meu saudoso pai que, naquele tempo, pensava em a
tras havida
indústria de sabão. Fan
provcitar o óleo dessa semente para a nossa
to assim que, a primeira instalação
para extração de óleos vegetais aqui
suas viagens a Ingla
em S. Luís, foi adquirida por meu pai numa de
cheguei a ver trabalhando. Sem ma.^
terra, instalação essa que ainda
subscreve-se atenciosamente, seu admirador.

.loao \. Marim-.
220 JERÔNIMO DE VIVEIROS

nando-a geral aos proponentes que se apresentassem em


idênticas condições. Tirou-lhe assim o aspecto de mo-
nopólio. (491)

A guerra de 1914 fez o resto, incrementando a ne-


cessidade do côco na Europa e impossibilitando a fabri-
cação de um novo modêlo de quebrador. Marcelino Go-
mes de Almeida & Cia. ficaram senhores do mercado,
embora com uma máquina imperfeita, que esmagava o
côco por compressão e ficava inutilizada aos primeiros
choques, reduzindo-a a um traste inútil. Mas a amêndoa
de babaçu continuava a aparecer, cada vez em quantida-
de mais avultada, extraida a machado. Dentro de alguns
anos, a lei foi revogada.

É claro que as possibilidades económicas acima re-


feridas jugulariam a crise de 1889, permitindo a praça
de São Luís recuperar-se. E de fato. Refizeram-se as ca-
sas comerciais. As empenhadas por somas ridí-
fábricas,
culas, restabeleceram seus créditos. O interior nadava
em dinheiro e de lá os negociantes espantavam com seus
pedidos os fornecedores dá Capital. De uma feita, uma
casa de Três Bocas, lugar no interior do Município de Pe-
dreiras, pediu a Leão & Cia. comerciante em São Luís,
200 caixas de Sissí refrigerantes, então, em uso, e fabri-
cado em São Paulo. Do boi-cavalo o caboclo passou ao
cavalo de sela, cujo suador lavava com vinho do Pórto,
marca Santo Antônio, de preço de 5$000 a garrafa. Era
a vohipia da dissipação.

É evidente que esta situação de abastança das clas-


ses produtoras repercutia nas finanças do Estado. Nos
exercícios de 914 916, — —
cessaram os deficits. No se-
guinte, há um saldo de 1 . 314:100$000, que passa para o

(491) — Lei n." 680 — de 30 de março de 1915.


Autoriza o Governo a contratar com um ou mais proponentes a intro-
dução, no Estado, de máquinas portáteis apropriadas à quebra do cOco
babaçu.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 221

91'7-918, cuja despesa orçada


em
3.449:722$000 se eleva a
5.667:114ít;000. (-199y
Passada a guerra, baixaram os preçcs
dos géneros
o que, de certo, dificultou o surto da
nossa exportação'
mas a situação do corpo comercial do Maranhão
estava
consolidada, e, de um modo geral, progredindo a econo-
mia maranhense, o que Cândido Ribeiro, incontesta-
fez
velmente a maior autoridade no assunto da praça, emitir
êsses conceitos :

"/Vão há negar ter o comércio do Maranhão aumentado nes-


tes últimos anos. A exportação é maior e mais valiosa. Novos
produtos têm surgidos : babaçu e tapioca. Lugares insignifican-
tes, outrora, transformaram-se em ativos centros de comércio. O
sertão firmou melhor o seu crédito na praça. Valorizaram se os
prédios das ruas comerciais da Capital, onde, sem prejuízos dos
bancos locais, foram instaladas uma agência do "Banco do Bra-
sil" e uma filial do "London. in Brazilian Bank, Limited".

A
prosperidade do comércio incrementou o prestí-
gio da Associação Comercial, como seu órgão represen-
tativo que o era.
Com o prestígio cresceram as atribuições da A.C.,
o que exigia um boletim de publicidade. De há muito,
desde 1908, tentara uma publicação desta espécie, malo-
grada apesar dos esforços de Raul Astolfo Marques, seu
fundador e que só a manteve até 1911. Desta segunda
vez, porém a publicação teve duração longa — vinte anos
— de julho de 1925 a junlio de 1945.
Dirigi-a Djalma Fortuna, diretor e arquivista da se-
cretaria da Associação, ern cuja sé de, à praça do Comér-
cio, 30, tinha a sua redação.
No seu primeiro número, que circulou em julho de
1925, dizia no expediente cobrar 12$000 por assinatura
mensal, 6$000 por semestral e 1$000 por número avulso
e, no artigo de apresentação êstes informes :

(492) — Dr. Herculano Nina Parga. Mensagens ao Congrp'S4i Legislativo .lo

Maranhão. 1915 16 — 17— —


e 18.
222 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"De publicação mensal, propõe-se o


presente boletim órgão
oficialda "Associação Comercial do Maranhão", a enfeixar nu-
ma sinopse de todo o nosso movimento comercial, com o maior
número possível de informes.
''Quem conhece os imensos entraves que, no nosso meio,
encontram empreendimentos dessa espécie, bem poderá avaliar a
soma de esforços empregada para vencer os empecilhos interpos-
tos ao nosso desideratum.
"Resta, portanto, que nunca nos falte o amparo dos nos-
sos associados e de todos quantos se interessam pelo engrandeci-
mento da classe, de cuja coesão depende, não há negar, todo o
seu progresso, e ande repousam seus promissores destinos,"

Êstes desejos do novo órgão da imprensa foram rea-


lizados. Com efeito, nunca faltou à Revista da Associa-
ção Comercial o desejado amparo dos associados. Não só
a diretoria daquêle ano —
composta de José João de
Sousa, Bernardo Caldas, Francisco Aguiar, José Jorge,
Carlos Neves, Joaquim Almeida e Afonso Matos co- —
mo as que lhe sucederam, lhe deram decidido apôio, du-
rante sua longa existência, o que faz a sua coleção ser
hoje preciosa fonte de informações para o levantamento
da história do comércio daquêles tempos.
Na impossibilidade de focalizar todos êsses aconte-
cimentos, porque assim excederíamos os limites estabele-
cidos para êste trabalho, respinguemos os mais impor-
tantes :

O orçamento para o Município de São Luís, relativo


ao exercício de 1925 —
1926, foi o primeiro entre êles.
A Câmara Municipal elaborou o mencionado orça-
mento sem ouvir à Associação, que reclamou a sua ex-
clusão, alegando ser de praxe tanto o Estado como o Mu-
nicípio receberem-lhe as sugestões a respeito, visto como
as leis orçamentárias afetarem de perto os interêsses co-
merciais. No ano seguinte, o orçamento de 26 —
27, foi
feito em idênticas condições, com a agravante de ser des-
presado entendimento prévio entre os Presidentes da Câ-
mara e da Associação.

Historiando a ocorrência, comentava a Revista :


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO
MARANHÃO 223

"Ressentida pelo não cumprimento


da promessa feilu ao sou
presidente, a Associação Comercial,
usando de um direito leRÍli.
mo que e a defesa das forças vivas e propulsoras
do mecanismo
economico-comcrcial do Estado, fez consignar
sua justificada
surpresa a Edilidade de São Luís por
ter sido discutido aU o
projeto do orçamento sem que fôsse ouvido
o órgão representa-
tivo das classes aue mais contribuem
para o eauilíbrio das finan-
ças municipais : comérc o, lavoura, indústria.
"Vem sendo objelo de atenção dos legisladores no
regime
democrático em que vivemos procurarem ouvir as sugestões das
classesco:iservadoras quando organizam os orçamentos.
Dessa
união de vistas, desse elevado gesto, tem resultado uma
confian-
ça mútua entre contribuinte e exator, produzindo frutos, de resul-
tado prático, positivamente louvável.
"Não quiz, porém a Comuna compreender essa grande ver-
dade sociológica e enveredou por um caminho ingrato. Respon-
deu à Associação Comercial de modo agressivo, usando de ter-
mos ofensivos r^os brios da classe.
"A Associação não querendo acompanjiar a Câmara no in-
grato terreno em que se colocou, enviando ao seu presidente um
ofício em linguagem desalenciosa, deliberou devolver o documen-
to por não encontrar nos seus anais lugar próprio para arqui-
vá-lo."

O caso foi levado pela Associação Comercial ao co-


nhecimento do Poder Executivo do Estado, que suspen-
'

deu a execução da lei orçamentária até que sôbre ela se


manifestasse o Congresso Legislativo, onde, afinal, foi
completa a vitória do comércio.
Ainda em 1926, a Associação Comercial colheu duas
grandes vitórias a do depósito de couros e a revogação
:

do privilégio concedido a uma das fábricas de pilar arroz


da Capital.
O couro foi artigo que sempre figurou na nossa ex-
portação desde o período colonial. (493) Não havia ve-
leiro que daqui saísse demandando Portugal que os não le-
vasse, quer em estado natural-crus, quer já curtidos-ata-.
nados, nos nossos cortumes, entre os quais César Mar-
ques menciona o da Praça do Mercado, pertencente a

(493) — Jerônimo de Viveiro — Obra cit.. 1.° vol. p. 100.


224 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Lourenço de Castro Belfort e a tradição indica o do sítio


Físico, à margem do Bacanga, e o da chácara Nazaré, em
Alcântara, de propriedade do Comendador José Maria
Correia de Sousa. O cortume de couros foi indústria que
aperfeiçoamos e depois nos descuidamos, quando se dila-
tou a procura do género sem beneficiamento. (494) De
1760 a 1771, mandamos para o Reino, em 71 navios,
249.700 atanados. Cêrca de um século decorrido, no de-
cénio de 1859-60 a 1869-70, exportamos 1.012.972 li-
bras de couros. Mas o apogeu do artigo foi no fim da pri-
meira grande guerra e nos dois anos imediatos. Em 1919,
a procura de couros foi enorme, no mundo inteiro. No
ano de 1918, o Maranhão exportou 339.200 quilos por
l'.165:000$000; em 1919, 780.242 quilos por
2.772.000$000; em 1920, 554.700 quilos por
1 738 000$000.
. . Nessa época as cotações começaram a
decair. O seu valor médio, em 21, foi de 1$800 e 2$800,
respectivamente, para salgados e espichados, quando ês-
tes chegâram em 1919, a atingir 4$200.

Do exposto verifica-se a importância do género


para o comércio maranhense. Mas acontecia que o servi-
ço do seu beneficiamento e classificação para exportação
estava a cargo de um contratante, contra quem a praça
levantava reclamações ao Govrno do Estado, por inter-
médio do seu órgão representativo. Depois de efetuado
rigoroso inquérito, o Poder Executivo anulou o contrato
e propoz à Associação dirigir o depósito de couros. Na
sessão, de 3/6/26, por proposta dos comerciantes Albino
Moreira, Pedro Oliveira, Eduardo Burnet, Emílio Lisboa
e Francisco Aguiar, a Associação Comercial aceitou o en-
cargo, assumindo-o em 30/6/26.

Da maneira porque ela se desobrigou diz bem este


tópico da mensagem do Governador, referente ao ano de
1929, após 42 meses de administração :

(494) — Fran Paxeco — Geografia do Maranhão, ps. 248 e 249.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHAO

Continua a Associação Comercial a


administrar proficua-
mente o serviço de couros, concorrendo para
a melhoria dê^w
produto maranhense, que não é mais reputado
de qualidade in-
ferior ao dos Estados vizinhos e gosa de iguais
cotações no co
mércio.
que a causa da sua desvalorização se origina exclusiva-
mente da forma porque era dantes tratado e armazenado".

A 14 de janeiro de 1930, a Associação Comercial co-


municava ao Govêrno estar o Depósito de Couros perfei-
tamente reorganizado e indicava Paulo Cláudio da Silva
para administrá-lo, o que foi feito em data de 17, por
meio de um contrato.

Era mais uma vitória da Associação Comercial. Se-


gui-se-lhe a extinção de favores que o Estado fizera a
uma das fábricas de pilar arroz, sita na Capital, em pre-
juizo das congéneres. Estas apelaram para a Associação
Comercial, que providenciou imediatamente. Como o
.

monopólio se fundamentasse em possuir a fábrica maqui-


nismos mais aperfeiçoados, o Govêrno nomeou uma co-
missão de engenheiros para verificar o fato, a qual não
os constatando, deu lugar a revogação dos favores.

Desde dezembro de 1924 que o comércio reclamava


um serviço obrigatório de classificação de algodão. Em
sessão de 30/3/1927, a Associação Comercial assentou os
seguintes itens, relativos ao assunto :

a) — Pedir ao Govêrno do Estado providências no


sentido da obrigatoriedade da fiscalização do
serviço do descaroçamento no interior, quer
no que diz respeito ao estado das máquinas,
quer quanto às condições do edifício em que
funcionam.

b) — Registro obrigatório, na Associação Comer-


cial, de tôdas as marcas dos descaroçadores
e

prensas.
226 JERÔNIMO DE VIVEIROS

c) — Todo o algodão vindo do interior e destinado


à exportação deverá ser novamente enfarda-
do e devidamente classificado na Prensa que
o Estado possui para êsse fim.

d) — O algodão destinado ao consumo das fábricas


locais ficará sujeitoigualmente à classifica-
ção ao entrar nos armazéns da Prensa.

e) — Todo o algodão, quer destinado ao consumo


das fábricas locais, quer destinado à exporta-
ção, ainda mesmo que não transite pela Pren-
sa da Capital, ficará sujeito a uma taxa de
classificação de dez réis por quilo, que será
reservada a ocorrer às despesas com a classi-
ficação.

f) — Com adoção dessa taxa, fica suprimida a de


vinte réis cobrada atualmente a título de
multa para o algodão quando sujo.

g) — O Govêmo facilitará, isentando dos impostos,


tôdas as máquinas, prensas e utensílios, des-
tinados ao beneficiamento do algodão.

h) — Ficará a cargo do Govêmo no Estado a sele-


ção e distribuição de sementes de boa quali-
dade a todo o Estado.

i) — O Govêrno do Estado promoverá um acordo


com o Govêrno do Piauí no sentido de serem
tomadas nesse Estado as mesmas medidas a-
dotadas para o algodão maranhense, impe-
dindo assim a saída pelos portos dêsse Estado
vizinho do algodão maranhense que não este-
ja devidamente classificado.
Consoante com estas bases, o Govêmo do Estado
criou, pelo dec. n.° 1 .149, de 27/4/1927, o serviço do al-
godão.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

A seu respeito, o jornal "Pacotilha", dando


as im-
pressões que tivera numa visita à Prensa, publicava, en-
tre outras, estas considerações :

"O serviço no Maranhão é muito recente, pelo que se


compreende logo que não seria possível tornar imediatamente áti-
mo o produto. Tudo requer tempo, pois é impossível que um
simples decreto realizasse a modificação de praxe em uso há mais
de um século. Ainda hoje, o nosso caboclo planta, colhe, bene-
ficia e vende algodão como o fazia há cem anos atrás. Não hou-
ve progresso. E' o mesmo machado impiedoso, é a mesma se-
menteira descuidada, é o mesmo depósito húmido e infecto, é a
mesma bolandeira antiquada, e é, ainda, a mesmíssima prática de
misturar as boas com as ruins castas, que constituem o preparo
do algodão maranhense. Têm raízes mui profundas esses costu-
mes, de sorte que é preciso muito tempo para que os nossos rús-
ticos se apercebam das múltiplas vantagens decorrentes com a
instituição da classificação do algodão, em tão boa hora entre-
gue à competência profissiar^al do dr. Protásio Bogéa.
"O serviço na Prensa está em efelivo funcionamento, desde
9 de maio próximo fnido. Naquele mês, foram inspecionados e
classificados 1.987 fardos, com 267,252 quilos, no seguinte
2,794, com 377.091 quilos e, no mês de junho, 3.427 fardos,
com 430.428 quilos.
"E' certo que a maioria dos fardos inspecionados contam
algodão de tipo baixo, de tipo 7 para pior. Mas isso só vem evi-
denciar o descaso no plantio, manipulação c ensacamnto da uti-
líssima malvácea.
"Assim, porém, tem sido em toda a parte. Logo que os nos-
sos lavradores tiverem a certeza de que os melhores preços são
alcançados pelos tipos altos, instigados por maiores vantagens,
cuidarão de produzir algodão limpo, uniforme e isento de humi-
dade.
"O decreto federal n." 15.900, de 20/12/1922, estabeleceu
medidas tendentes a coibir a fraude na colheita, beneficiamenlo
e enfardamento do algodão, com o fim de efetivar essas medi-
das e como meio de fazer a estatística algodoeira no Estado, o dr.
Protásio Bogéa já intimou os proprietários de todas as usinas,
máquinas de descaroçar e bolandeiras a fazerem o registro das
respectivas marcas, no praso de 90 dias.
"Com tais melhoramentos e tão acertadas providências, a-
brem-se a nossa indústria algodoeira novos horizontes de pros-
peridade e progresso." (495)

(495) _ «Pacotilha", edição de 27/9/1927.


j

228 JERÔNIMO DF, VIVEIROS

E não se enganava a "Pacotilha" no seu vatirínio.


Em 1928, o tipo do nosso algodão subia de 7 a 4.
Diante do que fica narrado, é inegável haver sido o
serviço do algodão uma das muitas iniciativas da Asso-
ciação Comercial formadoras do seu alto conceito na pra-
ça, conceito que o Govêrno daquêles tempos reconhecia,
quando a convidava a designar quatro dos seus membros
para representá-la, na qualidade de vereadores e deputa-
dos, na Câmara Municipal e no Congresso do Estado.
Admira-se tanto mais êsse conceito atentando-se
para o fato de ser o órgão representativo do comércio
uma agremiação, que, embora tivesse no seu quadro so-
cial banqueiros e abastados negociantes, era desprovida
de recursos, não passando o seu patrimônio de
70.493$031. (496) e o seu quadro social não chegava a
200.
É que o enorme prestigio lhe vinha da inatacável
moralidade de suas deliberações. Disso não lhe faltaram
casos comprovativos, como aquêle com que levantou o
ânimo da classe, combalido pelos receios de um crack na
praça, ocasionado pela falência de importante firma do
nosso corpo comercial. (497)
Certo, que nesse conceito colaboravam os líderes do
comércio maranhense de então, os quais eram, em última
análise, as colunas mestras da Associação.
Citemo-lhes, por isso mesmo, os nomes Cândido :

José Ribeiro, José João de Sousa, José Francisco Jorge,


Francisco Coêlho de Aguiar, Eduardo Bumet Júnior e
Carlos Soares de Oliveira Neves.
Mas continuemos a enumerar as atividades da Asso-
ciação Comercial, através da sua Revista e em defesa da
classe comercial Barateamento dos fretes fluviais e fer-
:

ro-viários, limpeza dos rios, despachos alfandegários de

(496) — Revista da Associação Comercial do Maranhão, setembro c outubro de


1926.

(497) — Revista cil.. março dc 1928.


HISTÓniA DO COMf.P.CIC DO MARANHÃO
229

armas e munições, criação do Colis Postaux,


novo edifí-
cio para a alfândega, melhoria dos serviços de cabota-
gem, novos guindastes para os serviços alfandegários,
impostos piauienses sôbre o sabão maranhense, material
rodante para a estrada São Luís a Teresina e aquisição
de sementes de algodão pelo Estado.
A série é longa, mas ainda assim a Associação não
pôde fazer tudo que se necessitava para o desenvolvi-
mento econômico-comercial do Estado.
Alfredo Bena —
bela inteligência de agrónomo cul-
to que a Itália nos mandou e aqui se radicou aponta- —
nos algumas dessas faltas em artigos que a "Pacotilha"
publicou e a "Revista da A. C", transcreveu no seu nú-
mero de outubro de 1928.
Por falta de dados estatísticos, que nos digam quan-
to produzimos e quanto consumimos, dizia Alfredo Be-
na funcionar o mercado do Maranhão "como uma barca
sem leme".
Nada obstant as lacunas, notadas pelo douto agró-
nomo na organização do comércio maranhense, é fora de
dúvida haver a Associação Comercial prestado-lhe rele-
vantíssimos serviços no último decénio do período da
primeira república, cujo esboço terminamos aqui com a
evocação, naquela época, dos grandes armazéns Emílio
Lisboa, arremêdo do "Paraíso das Dajnas" da Capital
francesa em São Luís e que atestava brilhantemente o
progresso comercial do Maranhão.
Foi desta maneira que encerramos o ciclo histórico
da primeira república.
Da abastança dos nossos produtos e da valorização
da nossa moeda diz bem a lista de preços correntes abai-
xo :

Aguardente 1$300 a 1$400


Alcóol 1$700 a 1$800
Algodão em rama .
1$500 a 1$600
Algodão em caroço $350 a $400
Algodão hidrófilo .
3$õ00 a 4$000
230 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Amêndca de côco babaçu .... $570 a $580


Araruta $950 a 1$000
Arroz em casca $200 a $250
Arroz pilado $400 a $450
Açúcar branco, refinado .... $800 a $900
Açúcar de la $500 a $550
de 2a $400 a $450
" somenos $400 a $450
" mascavo $350 a $360
bruto $310 a $320
Azeite de carrapato .... .... 1$900 a 2$000
" " gergelim 2$100 a 2$200
" côco 1$500 a 1$600
" " andiroba 1$100 a 1$200
Banha de porco 2$100 a 2$200
Baunilha 3$900 a 4$000
Borracha de mangabeira 1$400 a 1$500
Bucho de peixe 2$000 a 5$000
Cacáu $900 a 1$000
Café 1$500 a 1$600
Camarão sêco .... 1$000 a 2$400
Carne, de porco . 1$000 a 1$300
Carne sêca 1$800 a 2$200
Caroço de algodão $100 a $200
Cêra de carnaúba 2$500 a 2$800
Chifres .... •.
$100 a $110
Couros de boi, salgados 1$400 a 1$700
" " espichado 1$700 a 1$900
" veado . -. . . 3$400 a 3$500
Crina animal 2$900 a 3$000
Cumarú $650 a $700
Farinha sêca $170 a $180
" d'água — branca .... $220 a $240
" " —amarela .... $300 a $400
" lavada $170 a $180
Farelo .'
$090 a $100
Fava $250 a $300
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 231

l^'^^"" $300 a $400


Fio para rêde
4$40o a 4$500
Fumo em corda 2$900 a 3$000
í^lha 3$900 a 4$000
desfiado 8$900 a 10$000
Gergelim ,$380 a $400
M9-mona $350 a $380
Milho $130 a $140
Morim $500 a 1$000
Õleo de copaíba 2$500 a 2$600
Ossos $050 a $060
Peixe sêco $800 a 1$200
Pele de cabra 3$400 a 3$500
" " caitetú 9$000 a 11$000
" " capivara 8$000 a 9$000
" " cobra gibóia 5$000 a 6$000
" cobra sucuruju 1$900 a 2$000
" " gato maracajá 3$000 a 5$000
" " lontra 5$000 a 20$000
onça pintada 5$000 a 20$000
" ovelha 3$400 a 3$500
" " tamanduá-i 1$900 a 2$000
Resíduos $090 a $100
Resinas $390 a $400
Riscados $50D a $700
Sabão $900 a 1$000
Sal . . . ; $150 a $160
Sêbo 1$200 a 1$300
Sola •. 4$500 a 4$800
Tapioca do Pará $350 a $360
Tapioca de goma $350 a $360
Tapioca de forno $350 a $360
Tecidos de cânhamo $950 a 1$000
Tiquira 1$300 a 1$400
Toucinho 1$400 a 1$500
Tucum . . ; $130 a $140
232 JERÔNIMO Dr VIVEIROS

Com êstes preços as nossa casas exportadoras agru-


pavam-se desta maneira, segundoa Revista da Associa-
ção Comercial :

Algodão em pluma

Leão & Cia. Avenida Pedro II, 12


Alves Júnior & Cia. Rua 28 de julho, 25/27
C. S. de Oliveira Neves
& Cia. Rua Cândido Mendes, 28
Eduardo Bumet & Cia. Rua Cândido Mendes, 8
Jorge & Santos Rua Portugal 31
Emílio Lisboa & Cia. Rua Afonso Pena, 39
Oliveira & Irmão Rua Portugal, 30
Joaquim Julio Corrêa & Cia. Rua Cândido Mendes, 25
Duailibe & Irmão Rua Cândido Mendes,
14/20
Chames Aboud & Filhos Rua Cândido Mendes
Salim Duailibe & Cia. Rua Cândido Mendes, 11
Almir Passarinho & Cia. Avenida Pedro II, 8

Algodão medicinal (hidrófilo)

Martins, Irmão & Cia. - Rua Portugal, 20

^mêndoas de coco babaçu

Francisco Aguiar & Cia. - Avenida Pedro II, 13


Berringer & Cia. - Rua Portugal, 45
Jorge & Santos
Leão & Cia.
Oliveira & Irmão
C. S. de Oliveira Neves & Cia.

Arroz
Leão & Cia.
A. Lima & Irmão - Rua Cunha Machado, 26
Alves Nogueira & Cia. - Rua Cândido Mendes, 24
HISTÓn: V DO COMÉKCJO DO MARANHÃO 233

Jorge & Santos


J. Franklin da Costa - Rua Portugal, 32
Duailibe & Irmão
Cunha & Cia.
A. F. de Almeida & Cia. Ltda.

Adubos químicos

Alfredo Bena - Rua Cunha Machado, 19

Babaçu e seus derivados

Artur Gois - Rua Portugal, 29

Produtos farmacêuticos

Jesus N. Gomes Rua Nina Rodrigues, 3


-

Bernardo Caldas & Cruz - Rua Cândido Mendes, 35

João Vital de Matos & Irmão- Rua Quebra Costa, 11


Chaves & Santos - Rua Cunha Machado, 39

Resíduos de côco, gergelim, algodão e mamona


Artur Gois
Martins, Irmão & Cia.
Onézimo Pianchão
J. C. Fernandes

Sabão

Martins, Irmão & Cia.


Cunha & Cia.
J. C. Fernandes
Ramalho Cruz & Cia.
Onézimo Pianchão
Eurico Morais
234 JERÔNIMO Díi; VIVEIROS

Sementes diversas

Francisco Aguiar & Cia.


Berringer & Cia.
Jorge & Santos
Leão & Cia.
Oliveira & Irmão
C. S. de Oliveira Neves & Cia.
Eduardo Bumet & Cia.
A. F. de Almeida

Sola

Emprêsa Maranhense de Cortume Ltda.


Emprêsa Industrial Artur Koblitz Av. Maranhense —
Companhia Maranhense Industrial Ltda.
H. F. da Costa

Tapioca do Pará, de goma e de forno

Jorge & Santos


Cunha & Cia.
A. F. de Almeida
Francisco Aguiar & Cia.
M. Santos & Cia.

Tecidos de Algodão

Cândido Ribeiro & Cia. Avenida Pedro — 11,15


Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil
Companhia Fabril Maranhense
Companhia de Fiação Maranhense (camboa)
S. Silva & Cia. —
Codó
José F. Guimarães Júnior Caxias
A. Brito Pereira — Caxias
Jorge & Santos
Carvalho, Coutinho & Cia.
HISTÓRI A DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Tecidos de Cânhamo

Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo

Tucum

Berringer & Cia.


Jorge & Santos

Vidros e Garrafas vazias

Pires Neves & Cia. - Rua Quebra Costa, 15


Leôncio Castro & Cia. - Rua Osvaldo Cruz
Batista Nunes & Cia. - Rua 28 de julho, 13
CAPÍTULO XV

A Associação Comercial do Maranhão e a Ditadurn


( continuação)

ipi om a revolução de 1930, estabeleceu-se a ditadura


\_j no Brasil.

No novo regime, logo no seu princípio, no govêrno


do segundo interventor nomeado para o Maranhão, ope-
rou-se o eclipse do prestígio da velha e conceituada "As-
sociação Comercial do Maranhão." Deu-lhe ensejo um
ato pouco refletido do então Major Juarez Távora, que a
colocou em choque em face do novo Interventor.
O caso foi simples.
Como encarregado pela ditadura da fiscalização das
interventorias do norte do país, Távora houve por bem
ouvir a seu respeito as opiniões á?/h classes conservado-
ras. Neste sentido, dirigiu à Asscciação Comercial do
Maranhão, em data de 21 de fevereiro de 1932, o seguin-
te ofício :

"Tomo a liberdade de, para melhor desincumbir-me da mis-


são que me foi confiada pelo sr. Chefe do Govêrno Provisório,
/i(o Norte do Brasil, pedir a V. Sa. que me externe com franqueza

e sinceridade a sua opinião pessoal, e, se possível, a opinião do


comércio maranhense sobre os seguintes pontos :
238 JERÔNIMO DE VIVEIROS

a) Julga estar o atual Interventor Fe4eral do Estado se


desincumbindo satisjatòriamente da missão administra-
tiva que lhe foi confiada ?

b) "Julga que a coletividade maranhense tem motivos para


esperar desse governo discricionário novos benefícios ?

c) "Julga que essa mesma coletividade teria mais a lucrar


com a volta imediata do país ao regime constitucional ?

''Rogo-lhe que a resposta a estes quesitos seja entregue na


Intervenloría Federal e encerrada em envoltório lacrado, o qual
deverá ser aberto pelo Ministro da Justiça ou pelo sr. Chefe
sr.

do Governo Provisório, depois de minha chegada ao Rio".

Para logo, o corpo comercial do Maranhão vislum-


brou a situação melindrosa a que o compelia o questioná-
rio do delegado militar do Norte, porquanto a admi-
nistração do Interventor não vinha merecendo os aplau-
sos da classe. Relutou por isso em emitir sua opinião,
mas acabou dando-a com sinceridade e dignamente, nes-
tes têrmos :

"Maranhão, 7 de março de 1932.

"Exmo. Sr. Ministro da Justiça.

"Tendo a Diretoria da Associação Comercial do Maranhão


recebido um ofício do Major Juarez Távora, em que lhe foram
apresntados três quesitos para serem respondidos, vem, com o
presente memorial, e interpretando "com franqueza e sincerida-
de" a opinião pessoal de seus pares, declarar a V. Exia. o seguin-
te :

"Para que a nossa resposta se faça com clareza, repe-


timos, abaixo, os itens do citado oficio do Major Juarez Tá-
vora, aos quais respondemos, a fim de que não pairem dú-
vidas quanto à maneira de pensar desta Diretoria em assun-
to de tão alta relevância :

1." quesito : — Julga estar o atual Interventor Federal do


Estado se desincumbindo satisfatoria-
mente da missão administrativa que
lhe foi confiada ?
HISTÓRIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

2. " quesito : — Julga que a coletividade maranhense tem


motivos para esperar desse governo
discricionário novos benefícios ?

"Respondemos aos dois quesitos acima pela seguinte


forma :

"Sob qualquer ponto de vista, são esses itens de mais


difícil resposta, uma vez que se trata de falar apenas a ver-
dade desapaixonadamente. O Capitão Seroa da Mota, In-
terventor Federal do Maranhão, chegando aqui a 8 de se-
tembro último, dirigiu-se, imediatamente, para o interior
do Estado, onde se demorou cerca de quarenta dias; e de lá
voltando, em 24 de outubro findo, recolheu-se ao seu gabi-
nete, no Palácio do Governo, longe, portanto, do contato
direto com as classes conservadoras, cujas aspirações não
tem procurado conhecer, pelo menos nas suas respectivas
fontes, aqui na Capital do Estado. E, quer com a presença
do sr. Interventor, quer na sua ausência, os interesses do
Estado têm sido julgados pelos seus diversos auxiliares, ex-
tranhos ao meio e desconhecedores das nossas necessidades
vitais; ecom a gestão de alguns dêsses auxiliares, para di-
zer toda a verdade, muito tem sentido o MaranJião. O Go-
verno Provisório deverá julgar êsses motivos de acordo com
as informações que lhes serão, de certo, ministradas pelo
seu emissário, sr. Major Juarez Távora, que aqui esteve, e
que, portanto, deve conhecer a atuação do atual Interventor
do Maranhão.

3. " quesito: — Julga que essa mesma coletividade teria

mais a lucrar com a volta do país ao regi-

me constitucional ?

"Resposta: —
Pode a Associação Comercial garantir que o
pensamento da maioria dos elementos que compõem as clas-
ses que representa é um único: —
A Constituinte deve vir
quanto antes, para evitar tantos males futuros quantos os
que se vêm verificando em todo o país. Essa é a opinião da
Diretoria âa Associação Comercial, que, tendo ouvido, em
reunião, os seus associados e várias outras firmas
que não
impres-
pertencem ao seu quadro social, colheu as seguintes
seguir:
sões, que, para juízo de V. Excia., transmite a

de
"Reunindo os sócios desta Associação, por meio
qual
uma Assembleia Geral, convocada pela imprensa, à
.

240 JERÔNIMO DE VIVEIROS

compareceu número legal para seu functonamento, estando


presentes ainda vários negociantes estranhos ao quadro so-
cial, que foram amplamente convidados a trazer a sua opi-
nião, realizou-se a sessão, sob a presidência de um sócio
estranho à esta Diretoria, aclamado de acordo com os esta
tutos.Após a leitura dos itens do ofício, expedida a opinião
franca de todos os negociantes presentes, foi apurado o se-
guinte resultado:

"Ao' 1." quesito, a Assembléia respondeu:


— Não, (por maioria,contra três votos).

"Ao 2." quesito, a Assembléia respondeu:


— Não, ( por maioria, contra três votos )

"Ao 3." quesito, a Assembléia respondeu :

— Sim, (por maioria, contra um voto).

Servimo-nos do ensejo para apresentar a V. Excia. os


nossos protestos de subida estima e distinto apreço.

A Diretoria (498)."

As consequências desta opinião da praça de São


Luís não demoraram. O Interventor e o seu secretariado
passaram a deixar sem resposta os ofícios da Associação
Comercial, numa atitude de franca hostilidade. Denun-
ciou-a ao público a própria Associação, neste têrmos :

"A Diretoria da Casa do Comércio, depois de se dirigir em


ofício ao sr. Inspetor do Tesouro e Prefeito Municipal, pleitean-
do junto a êsses auxiliares do Govêrno medidas que os interesses
do comércio reclamavam, com relação aos novos tributos cria-
dos para a entrada dos sacos vasios, já usados, e do fósforo, res-
pectivamente, pelo Estado e Município, constatou, com dolorosa
surpresa, que aquelas autoridades não cumpriram o dever precí-
puo de responder o apelo das classes conservadoras, dirigidos em
têrmos justos e linguagem pautada com elevação.

(498) — Veja "Revista da Associação Comercial do Maranhão", n." de março de


1932.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

"Em face dessa atitude pouco vulgar, e jamais registada na


vida do Estado, o órgão do Comércio encaminhou as suas
recla-
mações ao Sr. Interventor Federal, que, também, enveredou pelo
mesmo caminho, silenciando ante o apelo da classe". (499)

E terminava dizendo que ia dirigir-se ao Conselho


'onsultivo do Estado e às altas autoridades da Nação.
A
resposta que lhe deu o Conselho Consultivo deu
ligar a que ela publicasse na imprensa esta nota explica-
iva :

"Há, no ofício do Conselho Consultivo, em que nos eram


explicadas as razões porque essa Corporação nada resolvia sôhre
o caso dos sacos usados, um ponto que está precisando de retiji-
cação. E' aquele em que o Conselho lamenta não ter a Associa-
ção tratado da questão no memorial que lhe dirigiu sobre o Or-
çamento do presente exercício.
"Parece assim que, se esta sociedade se houvesse ocupado
da cobrança de impostos sobre os sacos usados, no referido me-
morial, prontamente teria o Conselho atendido a sua reclamação,
ou, melhor, parece assim que as sugestões apresentadas pela As-
sociação foram todas tomadas em consideração e somente êsse
caso ficou sem solução, por não ter sido lembrado.
"Tal, porém, não se deu. A Associação teve apenas dois dias
para o estudo do projeto e, é lógico, num praso tão diminuto,
nada mais poderia fazer do que fez. Isso mesmo ficou declarado
no memorial, onde esta sociedade, chamando a atenção do Con-
selho para os pontos mais importantes, disse estar ainda o proje-
to cheio de muitas outras incongruências, como poderia verifi-
car pelo exemplar que lhe foi fornecido para estudo, e, no qual,
tais incongruências estavam anotadas devidamente.
"Recebendo o memorial e não mais procurando ter um en-
tendimento com a Associação, o Conselho procedeu como se es-
tivesse ao par de tudo e pudesse agir sem o concurso do
órgão
do comércio para escoimar a Lei Orçamentária do que nela havia
de absurdo.
As-
"Se o resultado final foi contraproducente, não cabe á
sociação Comercial a responsabilidade disso. O caso dos sacos
cor-
não foi tratado no memorial, mas outros, sobre os quais esta
poração chamou a atenção do Conselho, ficaram também insolú-

veis.

(499) _ Veja "Revista da Associação Comercial do Maranhão",


n." de junh. de

1932.
242 JERÔNIMO DE VIVEIROS

''No memorial frizava-se o aumento das patentes para ven-


der bebidas, e o Conselho sancionou esse aumento; no memorial,
a Associação mostrava claramente o inconveniente da cobrança
ad valorem do imposto de produção e consumo (cabotagem) e o ,

Conselho não atendeu a essa demonstração; no memorial, o ór-


gão das classes trabalhistas batia-se pela não taxação das matri-
culas e da frequência no Liceu Maranhense, inexplicavelmente
majoradas, e o Conselho nada fez sobre o assunto, deixando as-
sim que o ensino secundário, em nossa terra, ficasse proibido às
classes pobres.
"Como supor, então, que se esta sociedade houvesse trata-
do do caso dos sacos usados, teria tido ganho de causa ? . . .

"O Código dos Interventores vedava ao Governo aumentar


os impostos, mas o Conselho Consultivo aprovou todos os aumen-
tos, ou pelo menos, a maior parte deles, embora a Associação Co-
mercial, fiel ao seu programa de defender os interesses das clas-
ses conservadoras e do próprio Estado, houvesse protestado con-
tra essasmajorações.
Isso, oque se passou, e essas as conclusões lógicas que pa-
recem ressaltar do exame dos fatos." (500)

Afinal, a resolução tomada pelo Govêrno de prorro-


gar para 1932 o orçamento de 1931 evitou a derrota do
comércio no caso dos sacos usados.

Comimicando aos seus associados as suas relações


com a Interventoria, dizia a Associação Comercial no seu
relatório de 1932, no parágrafo intitulado "A atual admi-
nistração atúa sem a colaboração do comércio" . . .

"E' com real pesar que registamos o fato dos poderes do


Estado recusarem sistematicamente qualquer entendimento com
esta Associação; ainda mesmo por escrito, quando dirigimos ofí-
cios e memoriais, pleiteando medidas em favor dos interesses de
nossa classe, ficam os mesmos sem" resposta. Assim ê que nos em-
penhamos em vários assuntos de ordem administrativa, como os
impostos sobre sacos vasios, as taxas sobre fósforos, as verbas
para limpeza dos rios, interesses de vários municípios, como Lo-
reto, Curr alinho e Brejo, e não tivemos o prazer de receber a me-
nor resposta. Tal práfca, instituída no Maranhão depois do pe-
ríodo revolucionário, muito diminue os foros da apregoada de-

(500) — Veja Revista cit. mesmo número.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

mocracia sob cuja bandeira se fez a revolução; visto como esta


Corporação, em todos os tempos, constituiu sempre uma entida-
de respeitável, alvo das mais eloquentes provas de consideração
da parte dos poderes públicos".

Vinham assim as relações inamistosas entre a Inter-


entoria Federal e o órgão representativo do comércio
laranhense. Agravou-lhe a situação a lei orçamentária
ara o ano de 1933, elaborada sem ser ouvida a Associa-
ão Comercial e majorando a receita de 13.425 contos
ara 14.643, que os financistas da terra calculavam a-
ingir a cifra de 18.000 contos. Publicada no Diário Ofi-
ial do Estado de 31-12-32, nos primeiros dias de janei-
0 já estava na Comissão de Estudos Financeiros, com
uarez Távora designado para relator, a quem a Associa-
ão procurou logo esclarecer o caso em vários cabogra-
las, entre os quais destacamos êste :

"Consoante o teor do nosso telegrama de 17 do corrente


enviamos a V. Excia. o exeijiplar do orçamento do Estado para
1933, contendo cuidadosas anotações, determinadas pelo con-
fronto com a lei de meios do exercício de 1932, que fizemos no
intuito de melhor facilitar a Comissão de Estudos de que V.
Excia. é abalizado relator. Pelo exagero dos aumentos contidos
na lei em apreço, chega-se à conclusão positiva de que o orça-
mento decretado para êste ano irá produzir importância muito
superior à orçada (14.600 contos), não sendo exagero calcular a
,

arrecadação em cerca de 18.000 contos; o que, positivamente,


para um Estado pobre como o nosso, escapa aos limites da boa
razão.

"Contendo no seu texto taxas e impostos verdadeiramente


proibitivos, que importam em promover a asfixia das energias
vitais do Estado, o orçamento apresenta desmarcado aumento
de
despesas, coma criação de novos encargos e repartições, para
custeio das quais a capacidade tributaria do Maranhão não deixa

margem.

"Além de manter o imposto interestadual com um aumento


fora de qualquer expectativa, a Despesa não consigna verbas pa-
atrazados em
ra compromissos sérios como "Juros de Apólices',
de soma as-
muitos semestres, e dá para uma "Divida Flutuante',
sas elevada como a nossa, a bagatela de 40 contos de reis;
244 JERÔNIMO DE VIVEIROS

" Poupamo-nos de consignar as graves falhas do orçamento


em questão, limitando-nos a pedir a atenção de V.Excia. para as
anotações feitas no exemplar que ora enviamos, onde as altera-
ções se vêem (sublinhadas de vermelho) com uma clareza que
não deixa dúvidas.

"De conformidade com a última parte do nosso telegrama


de 11 do corrente, esta Associação está na disposição de contri-
buir para que o Maranhão tenha o seu sistema tributário modifi-
cado de forma mais consentânea; e, reconhecendo que isso de-
manda tempo e estudo acurado, alvitrou a prorrogação do orça-
mento de 1932, até que se pudesse processar aquela modificação.

"O imposto de Cabotagem (interestadual), pelo modo por


que é cobrado em nosso Estado, não pode comtinuar por mais
tempo. Temos uma alfândega estadual, que, sem piedade, mata a
indústria nacional ! E para que se possa fazer uma idéia do que
seja essa tributação aqui, basta d'zer que uma caixa de cognac
faz uma despesa de 22$000 para entrar em consumo !

"O Maranhão seriamente comprometido e endividado, pre-


cisa de um
orçamento que lhe dê margem aos compromissos; e
onde obter êsses recursos, se o Govêrno Federal não tomou ao
seu encargo os seus compromissos externos, e se, por outro lado,
lhe faltar a renda interestadual ? E sob esta convicção que o co-
mércio aconselha que o Estado recorra a outra modalidade tribu-
tária, que seja menos irritante e mais compatível com as tendên-
cias do momento atual. Em que se poderá basear essa nova mo-
dalidade ? —
Recaindo, respondemos nós, sobre o movimento co-
mercial do Estado. E assim, aquêíe que tiver os seus negócios a-
vultados, concorrerá com o maior quinhão, enquanto os que pou-
co movimento registrarem em seus negócios, contribuirão com a
parcela menor. O sistema recém adotado no Pará, do qual temos
conhecimento apenas em linhas gerais, ao que parece, se revela
falho, e, de certo modo, injusto, o que, certamente, será demons-
trado pelo tempo e, para o seu aperfeiçoamento terá de ser modi-
ficado em adaptação mais cuidadosa.
"Quanto ao caso do Maranhão, temos aqui "prata de lei, re-
presentada pelo trabalho do nosso conterrâneo sr. Pedro Men-
des, publicado na "Revista da Sociedade Maranhense de Estu-
dos" n.° 1, de julho de 1931, o qual, uma vez ampliado e rece-
bendo ligeiras adaptações, de acordo com o meio e as condições
especiais desta unidade da Federação, proporcionaria meios para
que o Estado se pudesse manter em equilíbrio, sem ocasionar o
atrofiamento das suas fontes de energias económicas, como os a-
tuais orçamentos se propõem a fazer.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Assim, Exm." Sr., tendo esta Associação


levado às mãos de
V. Èxcia. todos os elementos para que
possa, animado da boa
vontade que tem revelado em favor deste Norte
longínquo e esque-
cido, prestar-lhe os serviços que tanto
reclama esta Corporação,
invocando a solução já oferecida aos casos de outros
Estados,
corno o Pará e Rio Grande do Norte, aguarda confiante
em sua
ação, que os elevados interesses do Maranhão
sejam amparados,
como merecem, com a prorrogação do orçamento passado, até
que uma nova lei de meios possa ser organizada, de colaboração
com as classes, de sorte a trazer aos espíritos a tranquilidade de
que tanto carecem para que todos possam trabalhar, sem esmore-
cimentos, confiantes no futuro da nossa querida Pátria.
"Receba V. Excia. as garantias de nossa elevada considera-
ção.
Saúde fraternidade.

João Alves Júnior Pereira


Vice presidente em exercício."

Mas Távora condicionou o seu parecer às informa-


ções que pedira ao Interventor do Maranhão. Demorando
estas, foi êle, neste Ínterim, nomeado Ministro da Agri-
cultura, em cujas funções alegou não lhe sobrar tempo
para desempenhar o cargo de relator da Comissão de Es-
tudos Financeiros, motivo porque o deixou
Substituiu-o Agenor de Roure, a quem a Associação
Comertial teve de novo ministrar esclarecimentos sôbre
o caso maranhense. Novas protelações seguiram-se. Co-
mentando-as, bem como as antigas, expôs a Associação
no seu relatório referente ao ano de 1933:

"Foram inúteis todas as tentativas feitas pela Direloria da


Associação Comercial, por meio de memoriais, representações e
telegramas, dirigidos às altas autoridades do País; porque a In-
terventoria de então assumira para com o comércio uma atitude
insólita, que não encontra justificativa sob qualquer aspecto que
lh'a queiramos encarar.
"A ação desta Diretoria se estendeu até ao Chefe do Gover-
no Provisório, depois de havermos apelado para a Interventoria,
o Conselho Consultivo, os Ministros da Agricultura (Major Jua-
rez Távora) e da Justiça (dr. Antunes Maciel), sem
que aquela
sôbre o caso
alta autoridade tivesse oferecido solução satisfatória
do orçamento maranhense.
2-16 JERÔNIMO DE VIVEIROS

"A Comissão de Estudos Financeiros dos Estados e Municí-


pios, perante cuja autoridade recorremos por meio de memoriais
descritivos e documentos insofismáveis, depois" de protelar conse-
cutivamente a solução do caso, resolveu mandar arquivar a nossa
reclamação "visto já estar aprovado o orçamento do Maranhão,
não convindo, assim, perturbar a sua vida económica."

Tudo, pois, indicava que as hostilidades da Interven-


toria ao comércio continuariam, quando, por uma dessas
reviravoltas tão frequentes na política, o Capitão Serôa
da Mota foi exonerado do cargo de Interventor Federal
do Maranhão.
Pela notícia que do fato deu ao público a Revista da
Associação Comercial vê-se bem a alegria com que a
davam. É um documento expressivo, que estereotipa uma
época, e que não pode deixar de ilustrar o nosso estudo.
Trazia esta epígrafe:

"NOVOS RAMOS PARA O MARANHÃO"

"Desde o dia 30 de abril último, o Governo do Maranhão


maranhense Coronel Alvaro Jãnsen Serra
está entregue ao ilustre
Lima Saldanha, f'gura de relevo no exército brasileiro e oficial
de grande merecimento pelos seus talentos e virtudes cívicas.
"Sua ascenção àquele posto, por determinação do poder
central, desavindo com o Capitão Serôa da Mota, por motivos
que são do conhecimento público, veio trazer para o Maranhão
um grande, um elevado motivo de sincero júbilo.
"A do sr. Serôa da Mota pelo maranhense ilus-
substituição
tre que neste momento detém em mãos a Interventoria do Estado,
significa um fato digno de registo, notadamente nesta página, on-
de os legítimos interesses das classes conservadoras encontram
sempre o abrigo que a elevação dos seus princípios tanto recla-
mam.
"Entre o Governo do sr. Serôa Mota e as classes conser-
vadoras, representadas pelo seu lídimo órgão —
a Associação
Comerc al — abriu-se um vácuo que a boa razão dificilmente po-
de compreender.
"Responde por aquele gesto inexplicável do sr. Serôa da
Mota, feio crime que, ruo seu conceito, a Casa do Comércio per-
petrou: —o de haver sido sincera, o de haver tido uma atitude
retilínea quando, respondendo os quesitos que o major Juarez
Távora, então delegado do Norte, lhe dirigira, afirmou desas-
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

somhradamenle que aquele interventor não estava se desincum-


bindo satisfatoriamente da missão administrativa que lhe fora
confiada; que a coletividade maranhense não tinha motivos
para
esperar daquele Governo discricionário novos benefícios, e que
essa mesma coletividade teria mais a lucrar com a volta imediata
do país ao regime constitucional.
"Essa atitude da Associação Comercial, com a qual foram
solidárias todas as classes ativas e laboriosas, em memorável con-
clave realisado na sua séde, mereceu de todos os maranhenses
dignos os mais ruidosos aplausos.
"A medida que o gesto do órgão do comércio repercuta fo-
ra do Estado, no sul do país, vinham-lhe sendo enviados os maif
calorosos louvores, as mais confortadoras provas de solidarieda-
de, enquanto os auxiliares da Interventoria, aqui, tomavam a de-
liberação de excluir o comércio, representado pela sua corpora-
ção, de suas relações oficiais. Não mais se lhe respondiam os o-
fícios e memoriais, pleiteando legítimos direitos dos seus associa-
dos, todos vasados sob rigorosa ética, em linguagem elevada, e o
Interventor de então, silenciara aos pedidos de conferência com
aquela instituição, o que valia dizer que o detentor ocasional da
Interventoria não desejava o contato com as classes e, recusava a
sua aproximação com o povo que dirigia.
"A Associação, porém, que se tem mantido acima de com-
petições de campanário, alheiada da politicagem que tem sido em
todos os tempos o maior entrave ao progresso do Maranhão, as-
sumiu atitude compatível com os princípios que defende, e aguar-
dou que o tempo viesse fazer-lhe e ao nosso Estado a justiça in-
flexível que hoje de modo assás eloquente.
se manifesta
"E' assim que com a sr. Seroa da Mota, da In-
retirada do
terventoria Maranhense, que passou a ser ocupada pelo Coronel
Álvaro Saldanha, as classes conservadoras, o povo do Maranhão,
sentem que uma nova era de harmonia, de paz e de trabalho se
descortina para conduzir o nosso Estado aos seus verdadeiros de-
sígnios.
CAPÍTULO XVI

A Associação Comercial do Maranhão e a Ditadura

(Continuação)

era de harmonia, de paz e de trabalho para o povo


maranhense na Interventoria do Coronel Saldanha,
prognosticada pela Revista da Associação Comer-
cial, como vimos no capítulo anterior, foi de duração efé-
mera, pois a Ditadura não tardou em dar substituto à-
quêle oficial, que, diga-se de passagem, era um militar
culto e de nobres qualidades de espírito.

Substituio-o, assumindo o cargo a 29 de junho de


1933, o Capitão Antônio Martins de Almeida, que aqui
chegou animado dos melhores propósitos.

Noticiando o fato, a Revista da Associação Comer-


cial foi dos primeiros órgãos de publicidade de São Luís
a reconhecer êsses propósitos. Dizia ela no seu número
de julho :
.

250 JERÓNIMO DE VIVEIROS

"Recebido neste Estado com as mais robustas provas de


simpatia e confiança, S. Excia. vem praticando atos que mere-
cem justos louvores, revelando seus honestos propósitos de soer-
guer este Estado, restaurando a sua precária situação financeira,
com medidas de compressão nas despesas, fomentando as fontes
de receita e desenvolvendo a sua expansão comercial"

E logo a 3 de julho oficiava-lhe louvando os desejos


de governar ao lado do povo maranhense, empreenden-
do uma administração capaz de "reerguer as forças vivas
do mecanismo económico do Maranhão" e oferecia-lhe a
sua colaboração, apresentando essas teses para estudo :

"O serviço do algodão —


O principal elemento da vida eco-
nómica do Estado entregue ao monopólio de uma companJiia es-
trangeira. — Taxas de prensagem exorbitantes. —
A deficiência
do aparelhamento da Prensa prejudica a exportação.

"A navegação costeira —


Os vapores que no porto estão
sendo consumidos pela ação do tempo. —
A navegação de pe-
quena cabotagem feita por barcos à vela.

"O imposto de cabotagem —


Sua modificação e adaptação
às condições especiais do Estado. —
Contrariamente o que de-
termina o decreto federal que manda diminuir o imposto de en-
trada até sua completa extinção, tem sido aumentado esse tribu-
to vexatório em média de 100^ /o sobre as taxas dos exercícios an-
teriores.

"O escoamento da produção — Os contrabandos na exten-


sa faixa do rio Parnaíba. — Impostos proibitivos que forçam a
canalização dos nossos produtos para os Estados vizinhos —
(Pará e Piauí).

"O ouro — Incalculável riqueza que sae do Estado sem fis-


calização eficiente. — Grande fonte de renda entregue à explora-
— ouro
>

ção de aventureiros. —- Poderoso elemento para o lastro

do Banco do Brasil, que se perde d'ariamente.

"A dívida flutuante —


Compromisso de honra que os Go-
vernos não têm sabido manter, não obstante os s«peravits orça-
mentários e empréstimos contraídos, antes da Revolução, des-
tinados a êsse fim e, que foram desviados para outra aplicação.

"A navegação fluvial — Limpesa dos rios em abandono."


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Aceitando para logo a colaboração da


Associação
Comercial, a Interventoria cometeu-lhe,
per intermédio
do seu Secretário da Fazenda então o habilíssimo ban- —
cário Francisco Franco de Sá Colares
Moreira, a tarefa
de organizar a parte da receita do orçamento
para 1934.
No cumprimento dessa incumbência, a Associação
Comercial preliminarmente, constituiu as comissões
se-
guintes, a fim de emitirem sugestões sôbre o
assunto, na
parte afeta às suas atividades mercantis :

Comércio importador e exportador


Aurino Chagas :

& Penha, Avelino Faria, José Alexandre Oliveira, Joa-


quim Guimarães, Roque Fiquene, José Zoroastro Vieira
e Antônio Pinheiro Martins.
Comércio de estivas : José da Silva Borges.
Comércio de jóias e bijouterias G. Esposito & Cia.
:

Comércio de drogas : João Vital de Matos & Irmão.


Comércio de tecidos : Sindicato Industrial Mara-
nhense.
Comércio a retalho : Associação Comercial dos Re-
talhistas.
Companhias de Seguros : Comité de Seguros do Ma-
ranhão.
Proprietários : Associação dos Proprietários de São
Luís.
Comércio de calçados Pedro Dieguez. :

Comércio de armarinho: Jaime Martins da Mota.


Agências Pinheiro Gomes &
:
Cia.
Perfumarias Valentim Maia.
:

Alves Nogueira & Cia.


Fábrica de pilar arroz :

Algodão medicinal e Martins Irmão & Cia.


óleos :

Artigos de eletricidade J. Gonçalves dos Santos. :

E, sem demora, começaram a Diretoria da Associa-


ção Comercial e a comissão acima enumerada, em ses-
sões extraordinárias, a sua tarefa, que não era fácil,
por isso que consistia em substituir, como prescre-
via o já citado decreto da Ditadura, o imposto de impor-
252 JERÔNIMO DE VIVEIROS

tação por outro tributo novo, no caso o de vendas e con-


signações, lembrado, conforme exaramos em capítulo
anterior, por Pedro Mendes, consagrado e talentoso con-
tabilista da praça de São Luís.
Assim, iniciaram-se os estudos para o orçamento de
1934, na mais completa harmonia entre as duas partes.
Do lado da Associação Comercial com os reiterados lou-
vores às intenções e aos atos do Interventor; do lado
dêste, com fraca sinceridade, o que de. boa mente não se
pode negar (501). E dêsses propósitos ambos tinham fei-
to sentir ao Ditador, quando da sua visita ao Maranhão,
faziam poucos dias.

Mas nasessão extraordinária da Associação Comer-


cial, realizada em 13 de novembro, surgiram as primei-
ras dificuldades. Trouxe-as à baila, em incisivo discur-
so, o diretor Arnaldo Ferreira, moço de bela inteligência
e aprimorada cultura, que acabava de aparecer no cená-
rio do comércio maranhense. Dizia êle no tópico princi-
pal do seu discurso :

"E essa comissão", (referia-se a do orçamento), "cumprin-


do o acordado, meteu mão à obra, reunindo-se uma vez com »
comparecimento de todos os seus membros e a presença do sr. Di-
retor da Fazenda, de seu secretário e o representante do Piauí,
para o estudo do projeto de reforma.
"Devo dizer-lhes, prezados colegas, que o resultado dessa
reunião nos mostrou de logo (a mim, pelo menos) que as coisas
não iriam correr como desejávamos. Senhor dos pontos básicos
do projeto de reforma, o representante piauiense de logo se ma-
nifestou contrário à sua execução, mostrando, de maneira clara
e positiva, que o Estado vizinho não poderia aceitá-lo. Aliás, nes-
te ponto, nada mais houve que uma confirmação do que aqui já
tiveram oportunidade de dizer ao sr. Diretor da Fazenda, isto
é, que a reforma era impraticável, como êle a desejava fazer. A-
cordou-se, então, nessa primeira reunião da comissão, consultar
o Interventor do Piauí, sem cuja anuência a reforma não se viria
efetivar.

(501) — Revista da A. C. outubro de 1933.


HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

"Depois disso, nada mais soubemos. A resposta que o Piauí


teria enviado ao nosso Governo não nos foi ainda transmitida,
embora já nos houvessem dito que o Interventor desse Estado
não concordara com o proposto. Ora, diante disso, a prevalecer
o que aqui ficou combinado, a reforma não poderá ser feita.
Por que motivo, pois, já baixou o Governo um decreto instituin-
do o livro para escrituração das vendas ? Por que razão, ao
. . .

contrário do que conosco combinara, nada nos disse sobre a res-


posta piauiense ? . . Por que, depois de haver pedido ao meu
.

ilustre colega, sr. Pedro Mendes que elaborasse o Regulamento


para a cobrança do novo imposto, já fez o sr. Diretor da Fazen-
da cometimento dessa incumbência ao seu secretário ? . .E .

por que não nos honrou mais, a nós membros da comissão, com
um novo chamado para o estudo de vários casos que se não en-
quadram na modalidade a criar ? . .Tais as perguntas que de-
.

vo fazer e tal o ponto a que chegou a questão."

Diante desta comunicação de Arnaldo Ferreira, a


Diretoria da Associação Comercial, por proposta de Pe-
dro Mendes, oficiou ao Secretário da Fazenda, solicitan-
do o resultado da consulta feita ao Piauí sôbre a unifica-
ção dos impostos entre o nosso e êsse Estado, a fim de
que pudesse continuar os trabalhos da comissão.
A
resposta do Secretário da Fazenda deu lugar a
que, na sessão extraordinária daDiretoria da Associação
Comercial, efetuada em data de 17 de novembro, Arnal-
do Ferreira apresentasse esta proposta, que foi aprovada:

"Considerando que, pelo acordo entre esta Diretoria e o Sr.


Secretário da Fazenda, a mudança do nosso regime tributário só
poderia ser levada a efeito com a anuência do Governo do Piauí,
de modo a não haver diferença na taxação em nenhum dos dois
Estados;

"Considerando ter o mesmo Secretário, como representante


Associação,
do Governo do Maranhão, declarado, na sede desta
a questão,
que a não aquiescência do Governo do Piauí mataria
ficando o assunto da mudança tributária liquidado;

a esta
"Considerando ainda, que a resposta agora enviada
de acordo com o que ficou combi-
Diretoria, não está redigida
deixa bem clara-
nado, por quanto o Sr. Secretário da Fazenda
254 JERÔNIMO Di:. VIVEIROS

mente exposta a disposição em que Governo de


se acha o nosso
efetivar a transformação tributária, qualquer
que seja o resulta-
do do entendimento com o Governo do Estado vizinho.

"Considerando também que a declaração de estar sendo ela-


borada a regulamentarão do referido imposto, que oportuna-
mente será apresentada à Comissão desta Casa, em nada modifica
o propósito do Governo, porquanto nos levará ao dilema de ser-
mos obrigados a aprová-la ou de dela discordarmos, sem com is-
so podermos obrigar o Governo a modificá-la.

"Considerando que o procedimento do Sr. Secretário da Fa-


zenda, anula todos os entendimentos por ventura havidos entre
a sua pessoa e esta Associação;

"Considerando que, de nenhum modo, deve a Associação


Comercial dar o seu apoio para a aprovação de um orçamento
que só trará desvantagens às classes produtoras do Estado;

"Considerando que o nosso papel é o de velar pelos direitos


dos nossos associados, e do comércio, da indústria e da lavoura,
em geral, conciliando-os, interesses êssés que a mudança tributá-
ria, nos moldes porque a deseja efetuar o Governo, virá prejudi-
car;

"Considerando que a resposta do Sr. Secretário da Fazen-


da, em bomportuguês, pode traduzir-se como uma dispensa da
nossa colaboração, por isso que não ma s fomos ouvidos ou con-
sultados ;

"Considerando que a nossa Comissão foi posta de parte na


confecção da futura lei, ao contrário do que ficara estabelecido;

"Proponho :

"Oficiar-se ao Sr. Secretário da Fazenda, agradecendo-lhe


a honra do convite que nos dirigiu para colaborarmos no estudo
da futura lei de meios do Estado, cuja f atura não nos é possível,
diante do seu oficio, acompanhar, uma vez que não está sendo
observado o acordo havido entre esta Casa e a sua pessoa, e

"Considerar dissolvida a comissão nomeação pela Associa-


ção, dando disto ciência aoi seus membros, por escrito".
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
255

E assim ficaram um tanto estremecidas as relações


entre a Interventoria e a Associação Comercial.
Num exame profundo da questão, o que vivamente
impressiona é de ser a administração do Estado dirigida
pelo Interventor e caber ao Diretor de Fazenda a respon-
sabilidade exclusiva dos desacêrtos orçamentários.
Talvez por isso ou por qualquer outra razão, Colares
Moreira exonerou-se do cargo, que passou a ser ocupa-
do por um estranho à terra —dr. Elpídio Lins, filho de
Pernambuco, com o qual a Interventoria julgava remo-
ver os obstáculos inerentes à execução da lei orçamentá-
ria.
Entretanto, agravava-se a situação do Govêrno, ago-
ra a braços com as reclamações do comércio por causa do
aumento do imposto de indústrias e profissões, motiva-
das aliás para prevenir surpresas deficitárias no orça-
mento, na incerteza do que produziria o novo tributo
vendas e consignações.
Surgiram, dêste modo, para a administração mara-
nhense duas modalidades de casos os oriundos da apli-
:

cação do novo tributo e os provenientes do aumento do


imposto de indústria e profissão.
Na sessão extraordinária, de 3 de abril de 1934,
Arnaldo Ferreira levou êsses casos ao conhecimento da
Associação, adiantando que a sua firma comercial tinha
cartas, em que negociantes do interior declaravam que
tinham sido intimados pelo Coletor a apresentarem ven-
das de 800$000 e mais por quinzena, sob pena de serem
multados.
Secundaram a essas comunicações outros negocian-
tes, que mostraram talões de cobranças do imposto sôbre
Transações Mercantis em. partidas embarcadas para esta
Capital em consignação, o que "estarreceu a todos os
presentes", na expressão exarada na ata citada, "por-
quanto as mercadorias vindas em consignação não esta-
vam sujeitas ao imposto senão depois de vendidas, pois
do
somente nessa ocasião o Fisco poderá fazer o cálculo
imposto a pagar, depois de conhecido o seu preço".
256 JERÔNIMO DE VIVEIROS

À vista do exposto, a Associação Comercial resol-


veu convidar o Diretor de Fazenda para uma conferên-
cia, da qual resultou a A. C. cometer o ^estudo do assun-
to a uma comissão, composta dos comerciantes Eden
Saldanha Bessa, José Alexandre Oliveira, Eduardo
Aboud, Arnaldo Ferreira, Afonso Matos, Antônio Sarai-
va e Avelino Ribeiro de Faria, a qual apresentou, dias
depois, esta exposição de motivos :

" Desincumbindo-se
da missão que lhe foi confUida por Vs.
Sas., a comissão infra assinada depois de minucioso estudo do
projeto que nos apresentaram, concluiu que em vista das condi-
ções especiais que o nosso Estado atravessa, não é exequível a
continuação da cobrança do imposto de. Transações Mercantis,
de que tratam o atual, bem como o regulamento organizado pe-
lo dr. Diretor de Fazenda, porque viriam ambos, nos termos em
que foram redigidos, onerar os géneros de produção do Estado
na percentagem mínima de 9^ lo, inclusive exportação ou mesmo
sem ela, ou sejam, realmente, mais de 10" lo, o que redundaria,
infalivelmente, na falência completa das forças produtoras do
Estado, e, consequentemente, no do próprio Estado.

"Este é um ponto sobre o qual nenhuma dúvida pode sub-


sistir. Ou num movimento coletivo. Governo e Comércio se dis-
põem a encarar o problema de frente, com energia e boa von-
tade estudando os meios de solucioná-lo, ou teremos de dar —
nós maranhenses —
ao resto do País o triste exemplo de um po-
vo incapaz de se governar por si mesmo e por esse motivo levado
à mais completa e vergonhosa ruína moral.

"^Não SC queira ver pessimismo no que afirmamos. A ver-


dade deve ser dita, qualquer que ela seja e o momento não com-
porta paliativos ou tergiversações. E a verdade incontestável é
que sòmenle poderemos levar a efeito o soerguimento das finan-
ças do Estado e também das suas fontes de rendas, por meio de
Economia e Trabalho, o que, infelizmente, não se tem verificado
até aqui.

"O nosso dever, portanto, o dever de cada um que temos


responsabilidades a defender e nomes a zelar, é um só, apontar
o mal e não nos furtarmos de combatê-lo. Isso, porém, só poderá
ser feito com a união de todas as forças, pois, isoladamente, na-
da se conseguirá.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
257
"Voltando ao primitivo assunto, constatamos '

mais
tudo feito, que a interpretação da quase
totalidade dos nossos
colegas era e é de que somente se encontravam
as consignações
sujeitas ao pagamento de SVo de uma
única vez, doutrina essa
alias de autoria do ex Diretor de Fazenda,
que reconhecendo as
condições precárias dos 7iossos produtos, conforme
nos asseverou
a Diretoria da Associação Comercial, desde o início
das nego-
ciações para a efetivação da reforma tributária, se
declarou con-
trário à duplicidade de incidência, quando se tratasse
de géneros
de produção do Estado vindos do interior. Convém frisar que,
ainda assim adotado esse critério, na maioria dos casos
os
géneros exportados pelos negociantes da Capital ficam em con-
dições de inferioridade aos exportados diretamente do interior.
E', portanto, indispensável uma medida tendente a evitar, quan-
to possível, essa divergência. E isso talvez se consiga com o que
alvitramos nas emendas ao projeto em discussão.

"Sabemos, por informações prestadas pela Diretoria de Fa-


zenda, que o imposto de Transações Mercantis não tem rendido
quanto era de esperar, mas isso só pode ser levado a conta de
falta de fiscalização, mormente no interior do Estado, onde. se-
gundo o próprio diretor de Fazenda teve ensejo de nos dizer, a
fraude tem sido elevada. Nada mais, pois, que o estabelecimen-
to de uma fiscalização eficiente, criteriosa, a fim de se evitar
que o contribuinte honesto pagando com lisura a parte que lhe
cabe no citado imposto, se veja, depois, obrigado a entrar, para
o reajustamento orçamentário, com a que houver sido desviada
pelos que se estão fugindo ao pagamento legal dessa tributação.

"Isso posto, com tôda a lealdade e no intuito de prestarmos


a nossa modesta colaboração a essa Diretoria e ao atual Gover-
no do Estado, que tão interessado se mostra em resolver o caso
maranhense, tomamos a liberdade de apresentar, anexas as mo-
dificações e corrigendas que julagmos viáveis ao projeto elabo-
rado.

* « »

"Essa comissão, a quem foi também confiado o estudo do


imposto de Indústria e Profissão, que o Governo pretende rea-
justar, pensa que é inoportuna tal medida, visto já haver decor-
rido o 1." trimestre do presente exercício, e, principalmente, de-
pois das informações colhidas em fontes autorizadas, diante do

fato de que a importância dos lançamentos já efetuados (cujas


notas se encontram em poder dos contribuintes) ser igual, Senão
258 JERÔNIMO DE VIVEIROS

superior à soma orçada pelo Governo. Além disso, não se jus-


tifica, que num momento em que o comércio definha assombro-
samente, sob o peso das tributações já existentes e em resulta-
do de uma crise verdadeiramente assustadora, proveniente da
desvalorização quase geral dos nossos produtos e da falta de
mercados para a sua colocação, assim como da desvalorização da
nossa moeda, venha ela a ser agravada com o aumento dessa tri-
butação, a merkos que se pretenda exaurir-lhe de todo o saldo de
vitalidade que ainda lhe resta.
"Não se diga que esta comissão não tenha em mira as van-
tagens apresentadas pelo dr. Diretor de Fazenda, na visita cor-
dialíssima feita à séde da Associação Comercial, quando, com o
seu louvável áto, propôs efetuar o reajustamento de acordo com
o movimento da importação e exportação de cada firma, o que
mereceu, sob todos os pontos de vista, a nossa aprovação. Isso,
no entanto, não impede que o achemos inoportunjp,, podendo,
possivelmente, ser adotada em futuro exercício quando a obra
de soerguimento do Maranhão já estiver em franco progresso.

" Enviando-lhe estas ponderações, cometeríamos uma falta


se não aproveitássemos o ensejo para apresentar os nossos sin-
ceros agradecimentos, em nosso nome e no de nossos colegas, pe-
la resolução de S. Sa. autorizando o desconto dos talões de pro-
dução e consumo de 1938, referentes aos géneros chegados a
esta Capital neste ano, como foi feito para os produtos saídos pe-
la zona do Parnaíba, desde que êsses géneros tenham pago, no
presente exercício, o imposto de Transações Mercantis. Resta, ago-
ra, que S. S." regularise a maneira porque ésse desconto deverá
ser feito.
"Outras medidas, que supomos de grande utilidade, deixam
de ser sugeridas aqui, para não desvirtuarmos a missão de que
fomos investidos, prontifícando-nos, porém, a auxiliar o Governo,
como seja preciso, na medida das nossas forças, em defesa dos in-
teresses das classes a que pertencemos, e, consequentemente, dos
interesses do Estado."

Como é bem de ver, caminhava para uma solução


pacífica os entendimentos entre o Govêrno e Associação
Comercial, embora morosamente, o que era atribuído às
dificuldades encontradas pela Fazenda na solução de va-
riados e múltiplos casos, que surgiam na aplicação do no-
vo tributo.
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

Essa morosidade deu lugar a que o corpo comercial


de São Luís, representado por cêrca de 80 firmas, diri-
gisse à Associação Comercial o memorial abaixo trans-
crito :

"Os abaixo assinados, comerciantes a grosso e a retalho, nes-


ta praça, sócios e não sócios dessa Agremiação, servem-se do pre-
sente meio para se dirigirem a Vs. S^s., diretores da representan-
te máxima das classes trabalhistas do Estado, a fim de indaga-
rem quais as deliberações tomadas pela Inlervetoria Federal, quan-
to àsreclamações e sugestões apresentadas por essa sociedade
nos casos da reforma do Regulamento do Imposto de Transações
Mercantis e dos lançamentos de Indústrias e Profissões, uma vez
que até agora nenhuma nota oficial foi publicada a respeito.
"Como não devem Vs. 5°5. ignorar, a demora na regula-
mentação do Imposto de Transações Mercantis está trazendo não
pequenas contrariedades, dada a divergência de interoretação por
parte dos agentes fiscais dos artigos do Regulamento, o que tem
ocasionado a aplicação de numerosas penalidades sobre contri-
buintes que, em muitos casos, julgam estar procedendo de con-
formidade com a lei.

"Está claro, portanto, que se faz mister uma solução rápida


e eficiente, tendente a evitar a repetição desses fatos, pois, do con-
trário, ficará o comércio maranhense impossibilitado de efetuar
transações, ignorante como se encontra, da maneira porque devp-
rá proceder para não irbcorrer em multa.

"Assim, esperam os signatários deste que a Associação Co-


mercial, uma vez por todas, obtenha do Governo Estadual uma
para
solução definitiva para o caso em apreço, solução essa que,
bem de todos, inclusive do próprio Fisco, não deva demorar.

"Quanto aos lançamentos de Indústrias e Profissões, já efe-


confor-
tuados pela Diretoria de Fazenda, e agora modificados
nao ser
me publicação no Diário Oficial, parece aos que assinam
modificações pro-
preciso frizar quanto há de inconveniente nas
a que ponto chegou,
jetadas pelo Governo, pois ninguém ignora
se debate o comercio
a situação de verdadeiro arrocho em que
suas fontes vitais,
maranhense, indiscutivelmente sacrificado nas
anualmente aumenta-
pelo peso enormissimo de uma tributação,
da, sem que haja para isso justificativa.

a Diretoria da As-
"Melhor, talvez, que os signatários deste
mara-
Comercial conhece o ponto a que chegou a praça
sociação
:

260 JERÓNIMO DE VIVEIROS

nhense, e sabe, portanto, que us classes por ela representadas não


comportam maioria de tributação, a menos que se pretenda, de
uma vez, liquidar com os remanescentes do nosso comércio, e,
consequentemente, trabalhar pela falência geral do Estado.

"Certos assim de que essa Associação não poupará esforços


em defesa dos interesses do comércio maranhense, para o que to-
dos os abaixo assinados lhe hipotecam apoio incondicional, quei-
ram Vs. Sas. aceitar, etc."

Remetendo êste memorial ao Interventor, a Associa-


ção Comercial ponderou que há 17 dias àquela data ha-
via ela enviado, ao Diretor de Fazenda, o projeto do Re-
gulamento do Imposto de Transações Mercantis, de au-
toria do dito Diretor e já revisto pela comissão, que do
seu estudo fôra encarregada pela mesma Associação Co-
mercial, e que até aquêle momento "nenhuma providên-
cia havia sido tomada para sanar as lacunas do Regula-
mento em causa, determinando que novas e repetidas re-
clamações se viessem registando, por falta das providên-
cias reclamadas, enquanto o comércio e o Fisco, num
verdadeiro conflito de interpretações à letra deficiente
do Regulamento, vêm atravessando uma situação que
não pode perdurar".
Não obstante os termos do final dêste ofício, datado
de 26-4-1934, a Interventoria não o respondeu.
Resolveu, então, a Associação Comercial convocar
uma Assembléia Geral Extraordinária, que se realizou a
1.° de maio de 1934, com o comparecimento de 129 só-

cios e membros do corpo comercial, num ambiente algo


exaltado, para o fim de decidir o rumo que devia ser da-
do à questão.
Entre os discursos aí proferidos, destacou-se o de
Eden Bessa, comerciante de largos recursos financeiros,
que não fazia parte do quadro social da Associação, mas
que, a partir daquêle momento, passou, pelo desassom-
bro de sua atitude, a ter lugar de destaque na pendência.
Incisiva e franca, sem rebuços, a dissertação de Eden
Bessa, foi longa e por isso só pode ser transcrita aqui no
seu tópico principal
ACRÓNIMO DF. VIVEIROS 261

"Da degradação económica em que se acha, o Maranhão só


poderia sair com uma política de Economia e Trabalho, mas
o
que está provado é que todos os que vêm nos governar querem
gastar muito e trabalhar menos. O termo reajustamento Ião usa-
do e apregoado pelo Governo não exprime a sua significação ver-
dadeira. O reajustamento do Governo é para subir os impostos
e nunca os reduzir. E' um reajustamento para cima ... O con-
fronto dos impostos de Indústria e Profissões do exercício pas-
sado com os atuais, mostra aumentos desmarginados, que impor-
tam em 50 e até 300" lo da verba anterior. E' um reajustamento
dessa espécie que nos querem aplicar, iludindo a nossa boa
fé.
Talvez que esta minha crítica me venha custar desgostos, até
mesmo a minha reclusão, mas nada me abate o ânimo quando sei
de consciência que estou com o direito, com a boa razão, defen-
dendo os interesses de minha classe, martirizada, espesinhada e
ludibriada. Acho que medidas de caráter urgente devem ser to-
madas. Precisamos demonstrar por A mais B, que a capacida-
de tributária do Maranhão está excedida e, quando êsse fenóme-
no económico se verifica, os resultados só podem ser desastradís-
simos para a coletividade. Teremos de trazer o nosso orçamen-
to para 11 mil contos e nunca para êsse número fatídico que
tanto nos degrada, 13 mil contos. E se quiserem os governan-
tes do Estado ter uma prova real das minhas afirmativas, que
tentem lançar êsse orçamento de 13 mil contos ! Impossível se-
rá cobrir tamanha soma. Que o digam as firmas exportadoras
aqui presentes. Concito os srs. Francisco Aguiar & Cia., Olivei-
ra & Sckeri e outros a declararem se as minhas afirmativas são
ou não verdadeiras. O Maranhão não tem o que exportar. Qual
será o produto de que dispõe a praça maranhense para o equi-
líbrio da sua balança comercial ? O único produto que possuí-
mos está em situação inane : é o algodão, c assim mesmo hipote-
ma-
cado a uma emprêsa estrangeira, de tal modo que as firmas
ranhenses não podem nem ao menos cumprir os seus contratos,
como acaba de acontecer com a minha firma, que deixou de
sa-

na praça de Fortaleza, porque a VLE^


tisfazer compromissos
meses. Por
não pode prensar o seu algodão senão daqui a dois
verdadei-
que as firmas do Maranhão chegaram a essa situação
? Por que não podem os comercmntes
ramente desesperadora
único produto da
do Estado cumprir seus contratos ? Porque o
que poderia estar equUibrando o comercio, esta
nossa lavoura,
estrangeira. Depois do algodão
monopolisado a uma companhia
que mais temos ? O babaçu ? Êsse está
em situação deplorável.
Sm cotação é hoje zero.

se implantou a Revolução
que o Maranhão as-
'Desde que
siste coisas extraordinárias. Haja vista o decreto que mandava
262 JERÔNIMO DE VIVEIROS
abater discricionariamente 20 'lo nos aluguéis de casas para de-
pois, verificado o desastre dessa medida, voltarem atrás, emen-
dando a mão; haja vista, o abatimento do preço da água e luz,
para depois tudo voltar ao que era; haja vista a caravana Seroa
da Mota, que, com os seus técnicos, inaugurou o regime dos or-
çamentos falsos. Nunca se viu tantos desmandos.

"Senhores, não nego, antes, declaro que bati palmas ao


Governo que hoje temos, apoiei o Governo de um amigo, que
prometia tudo fazer pelo nosso Estado. Mas os fatos vieram pro-
var-me que andava errado. Estou entre o amigo e o dever de
maranhense. Não reluto, deixo o amigo para ficar com a mi-
nha classe, com os meus colegas ásS {comércio."
:
I

Bessa terminou a sua oração, propondo que a As-


sembléia conferisse poderes a uma comissão para comu-
nicar ao Interventor o propósito do comércio em coope-
rar no sentido da felicidade do Maranhão, e que, no caso
de nada se conseguir em relação ao assunto pendente de
solução, ficasse de logo deliberado tomar -se um advoga-
do para a defesa da classe.
Aprovada a proposta e designados os negociantes
Francisco Aguiar, Salim Duailibe, Afonso Matos, Ed-
mundo Calheiros, dr. João Martins, Arnaldo Ferreira e
Aurino Chagas e Penha para comporem a comissão, a
Assembléia aprovou também a proposição de Arnaldo
Ferreira para que fôsse lavrado um têrmo de compro-
misso, assinado por todos quantos se julgassem prejudi-
cados, no qual declarassem explicitamente não poder o
comércio pagar os impostos pelos lançamentos recentes,
mas sim pelos efetuados em janeiro e fevereiro.
Tais deliberações indicavam^ bem a espectativa de
um insucesso nas tentativas da comissão Francisco
Aguiar e a resolução em que estava o comércio de não se
deixar vencer, sem luta.
E assim foi, como os fatos vão demonstrá-lo.
Perante a Assembléia Geral Extraordinária, de 2 de
maio, Aguiar desobrigou-se da sua tarefa, como chefe da
comissão citada, lendo a exposição de alto relêvo diplo-
mático e expressivo histórico dos acontecimentos, que a-
HISTORIA DO COMERCIO DO MARANHÃO

presentara ao Interventor, e a resposta dêste ,que,


em re-
sumo, consistia na organização de duas Comissões —
uma do Govêrno e outra do comércio —
para, em con-
junto, estudarem os lançamentos de indústrias' e
profis-
sões, e que, no tocante ao imposto de importação
e ex-
portação o Govêrno não podia abrir mão.

Nessa mesma sessão, Arnaldo Ferreira analisou, em


linguagem veemente, o ofício do Interventor, datado dês-
se mesmo dia, em resposta ao que a Associação lhe diri-
gira em 26 de abril e o qual começava dizendo :

"Acolhendo com a lhaneza de sempre as vossas sugestões,


ao mesmo tempo que despreso as descortezias dos termos do vos-
so ofício n." 62, de 26 de abril, passo a analisá-lo, da maneira
que se segue."

O ambiente da Assembl:ia inflamou-se com a oração


de Arnaldo e dois dos discursos proferidos tiveram ex-
pressões ofensivas ao Interventor Martins de Almeida,
que convidou o Presidente da Associação Comercial —
José João de Sousa —
e os associados Francisco Aguiar
e João Martins para uma reunião em Palácio, na qual se
mostrou sentido pelas expressões pesadas com referên-
cia a sua pessoa, e pediu-lhes verificassem se a Direto-
ria da A. C. endossava ou não os insultos que havia re-
cebido naquela Assembléia.
Levado o fato ao conhecimento da Assembléia, em
sessão de 5 de maio, e diante da explicação de Arnaldo
Ferreira — "Fazendo, como fiz, a crítica em torno de um
ofício da Interventoria, que o seu próprio signatário já
reconheceu não ter sido moldado nos têrmos em que de-
veria ser, por um entusiasmo muito natural, que a agi-
tação do momento francamente justificava, excedi-me
talvez na maneira porque me expressei", e da afirmativa
de Eden Bessa de não haver insultado o capitão Almeida
e sim "feito a crítica sensata sôbre o orçamento, o que
fez

com dados positivos, colhidos em fonte oficial, fornecidos

pelo Tesouro Público, demonstrando que o Govêrno


esta-
264 JERÓNIMO DE VIVEIROS

va desorientado na distribuição das rendas e no lança-


mento dos impostos", resolveu-se a ida de uma comissão
à Palácio, a fim de resolver não só o caso do incidente
havido, como também o dos impostos.

Do resultado dessa comissão deu conhecimento à As-


sembléia Geral o seu Presidente Francisco Aguiar, na
sessão de 9 de maio, o qual disse haver cientificado o Go-
vernador "que os ataques feitos ao seu Governo, por dois
oradores da sessão de 2, não foram considerados pela re-
ferida Assembléia, a qual, de logo, se manifestara em
contrário, resolvendo que êsses ataques não constassem
da ata dos trabalhos, de vez que não eram endossados pe-
la unanimidade dos comerciantes". "Ademais, logo após
o ocorrido, chegara-se a conclusão de que os próprios o-
r'adores, conforme as suas declarações, não tiveram como
objetivo ferir a pessoa honrada de S. Excia., nem tão
pouco, a de seus dignos auxiliares; e que o Interventor
recusara a proposta da Associação no sentido de ser co-
brado o imposto de indústria e profissão na base dos lan-
çamentos feitos em janeiro e fevereiro, propondo, por
sua parte, que as reclamações do comércio lhe fôssem di-
rigidas por intermédio da Associação Comercial, que da-
ria o seu parecer em cada caso". Com a palavra Eden
Bessa mantém a sua proposta de só serem pagos os refe-
ridos impostos de acordo com os lançamentos de janeiro
e fevereiro. Posta em votação as duas moções —
a da
Interventoria apresentada por Aguiar e a de Bessa, a As-
sembléia decidiu-se por esta. E em virtude desta delibe-
ração, aprovou as medidas seguintes, sugeridas por Bcv^-
sa :

1° — a eleição de uma comissão de comerciantes


para dirigir os trabalhos, dentro da lei e do
maior respeito às autoridades;

2.° — que sejam expedidos telegramas ao Chefe do


Govêrno Provisório, Ministro da Fazenda e
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 265

da Justiça, Associações Comerciais e Banca-


da Maranhense, sem distinção de credo poli-
tico;

3. ° — que sejam expedidas circulares pedindo o a-


pôio do comércio do interior;

4. ° — que sejam expedidas circulares da Associa-


ção Comercial do Maranhão às suas co-irmãs,
comimicando a atitude do comércio e pedin-
do a interferência das demais Associações
junto ao Poder Central;

5. ° — que seja feita uma contribuição para custear


as despesas necessáricis, entre os signatários
do têrmo de compromisso;

6. ° — Dirigir memorial ao Chefe do Govêmo Pro-


visório sôbre as irregularidades e defeitos do
decreto n.** 550, de dezembro de 1933;

7. ° — que seja constituído um advogado para de-


fesa dos interêsses da classe.

Para a comissão do item 1.°, a Assembléia aclamou


Eden Bessa, presidente; Arnaldo Ferreira, secretário; A-
fonso Matos, Arnaldo Correia e Aurino Penha.

atitude da Associação Comercial importava num


A
rompimento definitivo com a Interventoria, ao qual ela
respondeu com a prisão, incomunicável, no quartel da
Força Pública, a 11 de maio, da referida comissão,

tôda ela composta "de homens dos mais qualificados e es-'
timados na sociedade" —
o que foi, sem dúvida alguma,
nossa
"o ponto culminante desta página embaciada de
história contemporânea". (502)

(502) — Mário Meireles — "História do Maranhão", p.


266 JERÔNIMO DE VIVEIROS

Prendeu-as, por ordem do Interventor, o Capitão


Mochel, do Corpo Militar do Estado, no exercício de De-
legado de Policia, nos seguintes locais Afonso Matos, à
:

praça João Lisboa; Arnaldo Ferreira e Bessa, na séde da


Associação Comercial; Aurino Penha, no seu estabeleci-
mento comercial e Arnaldo Correia à rua do Egito.
Baseado numa portaria capciosa, pois mandava
"que fossem apuradas as responsabilidades, quanto a um
movimento da ordem pública por parte de elementos do
comércio local", o inquérito, dirigido no Quartel pelo Ca-
pitão Mochel e a que foi submetida a comissão presa, de-
senrolou-se evidenciando o aspecto da farça premedita-
da.
Fora, na praça comercial, a Associação Comercial,
agora desfalcada de quatro dos seus diretores, depois dos
primeiros momentos de desorientação, começou a deli-
berar, sob a direção de EdmundO' Calheiros e João Mar-
tins, prestando franca e integral solidariedade à comis-
são, com a suspensão das atividades de todo o corpo co-
mercial durante três dias e recorrendo com um pedido
de habeas-corpus aos Poderes da Nação, medidas essas
que foram secundadas pelos apoios da Associação dos
Empregados no Comércio, da Associação dos Retalhis-
tas e do Centro Caixeiral.
Enquanto isso se passava, o Rotary Clube envidava,
em vão, esforços para solucionar o caso, de maneira hon-
rosa para as partes.
Afinal, às 22 1/2 horas do dia 15, a comissão foi pos-
ta em liberdade.
17 de maio, a Associação Comercial reuniu-se em
A
sessão extraordinária, na sua séde, o que lhe vinha sendo
vedado pela Polícia, e, depois dos discursos de Edmundo
Calheiros e Arnaldo Ferreira descrevendo minuciosa-
mente os acontecimentos decorridos de 11 a 15, assen-
tou-se enviar ao Rio de Janeiro, como seu representan-
te,o comerciante Eden Bessa, em vista de haver a Inter-
ventoria feito embarcar para àquela mesma Capital o seu
Secretário Geral; que o lugar de Bessa na comissão fôs-
HiSTÓRiA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

se preenchido por Edmundo Calheiros,


que fôsse pubh-
cada nota na imprensa aconselhando o
comércio a diri-
gir-se à comissão quando necessitasse
de consultar sôbre
o caso dos impostos impugnados e que se
abstivessem de
paga-los até que o Govêrno Provisório
solucionasse o re-
curso interposto pela Associação Comercial.
Voltando a reunir-se em 25 de maio, a Associação
resolveu desmentir pela imprensa as notícias
publicadas
pelo Secretário Geral da Interventoria em jornais
de
Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro.
(503)

No Rio de Janeiro, Eden Bessa desenvolvia extra-


ordinária atividade, conseguindo, para a causa do comér-
cio maranhense, a solidariedade da Associação Comercial
do Rio, que não só dirigiu ao Chefe do Govêrno Provi-
sório umlongo memorial expondo o caso (504), como
também enviou à São Luís o dr. Fausto de Freitas Cas-
tro, Consultor Jurídico da Federação das Associações
Comerciais do Brasil, na qualidade de seu Delegado para
estudar a pendência entre o comércio do Maranhão e o
Interventor Federal no Estado.

Os estudos de Freitas Castro levaram-no a propôr


como solução do litígio o pagamento do imposto de in-
dústrias e profissões de conformidade com o lançamento
de 1933, com o acréscimo de 3%. Era uma solução fa-
vorável ao comércio, e tanto bastou para a Interventoria
recusá-la. Assim, fracassou a missão Freitas Castro.
Veio, então, como observador do Govêrno Provisório, en-
viado pelo Ministro da Justiça, o dr. Fernando Antunes.
Levado pelo relatório dêste emissário ou pela argumen-
tação do recurso interposto, o certo é que o Dr. Getúlio
Vargas decidiu a questão, em setembro de 34, dando ga-

(503) — Da necessidade da colaboração (la imprensa na questão, talvez tivesse


surgido o "Jornal do Comércio", mantido pela firma Bessa & Cia. nes-
ta Capital e, cuja coleção não cnn'ípgiiimn« ler.

(504) — Revista da Associação Comercial do Maranhão, 2 de agosto de 1934.


2ã8 JERÔNIMO DE VIVEIROS

nho de causa ao comércio, o que foi comunicado ao Pre-


sidente da Associação Comercial por êste telegrama do
Ministro da Justiça :

"Rio de Janeiro — 26 — setembro — 1934. — (Oficial).

"Sr. Presidente da Associação Comercial do Maranhão.

"N." 204 — Comunico-lhe que acabo de passar ao sr. In-


terventor Federal o seguntie telegrama :

''Comunico a V. Excia. que o Sr. Presidente da República,


dando provimento ao recurso dos interessados na questão dos
impostos, resolveu que seja defirtitivamente adotada a proposta
da Associação Comercial e da Comissão do Comércio, Unicamen-
te alterada com referência ao art. 45 do decreto n." 640, cuja pe-
nalidade deverá ser mantida, ressalvando-se, entretanto, o caso
do prévio aviso de embarque ou desembarque de mercadorias na
estação fiscal arrecadadora mais próxima. Cumpre suspender
imediatamente cobranças ou execuções iniciadas, lavrando novo
decreto de que constem medidas aprovadas.

"Aproveito o feliz ensejo para apresentar-lhe congratula-


ções pelo desfecho da questão do comércio. Saudações.

Vicente Ráo."

Consignando o acontecimento no seu relatório de


1934, dizia o Presidente da Associação Comercial o res-
peitável comerciante José João de Sousa :

"Cumpridas que foram as ordens do Sr. Presidente da Re-


pública, demos por finda a campanha, regressando o comércio
à vida normal".

• « *

Fim do terceiro volume


BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
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VICENT MONTEIE -- "Os Árabes". São Paulo. 19.-9.

JORNAIS E REVISTAS DO MARANHÃO

Pacotilha —
A Cruzada A Campanha — O Federalista — —
Diário do Maranhão —
O Nacionalista C Globo— Revista da As- —
sociação Comercial do Maranhão —
Revi. ta do Centro Caixeiral —
Revista da Sociedade de Estudos Maranhenrc:-
Índices

DA MATÉRIA
DAS VINHETAS
DOS CAPÍTULOS
DAS FIRMAS COMERCIAIS
ONOMÂSTCIO
ÍNDICE DA MATÉRIA
ARROZ
Arroz —1 2 4 28 100 109 197 230 232
Arroz da índia —
29
Fábrica» de pilar arroz — 60 223 225

BABAÇU
Babaçu — 197 209 217 218 219 220 221 230
232 233
Quebrador mecânico de babaçu — 219 220

CANA DE AÇÚCAR

Açúcar — 1 2 3 6 28 81 100 108 109


197 230
Aguardente — 28 42 198 229
Alcóol — 229
Cana de açúcar — 2 197
Engenhos — 69
centrais 84 87 92
Engenho Central São Pedro 2 — 54 56 164

COMÉRCIO
Anúncios —
17 21 22 23
Anúncios em versos — 19 20 22 23 24
Armazéns — 80
gerais
Associação Comercial — 32 33 35 56 58 95 96
97 100 101 103 105 106
110 117 119 123 166
108
174 178 184 205 217
170
221 222 223 224 225
276 JERÔNIMO DE VIVEIROS
228 S>20 9^7 9^R
243 244 245 246 247 249
251 252 253 254 255
257 258. 259 260 263 264
265 266 267 268
y\íi«ociação dos Empregados no Comércio —
130
Caixeiros — 115 116 117 118 120
Centro Caixeiral — 113 117 118 119 120 121 122
123 124 125 126 127 128 129
130
Comércio de cabotagem —
42 43 44 45 100 107
110 111
Comércio internacional do Maranhão —
24 25
Companhia de Seguros Esperança 50 —
Companhia de Seguros Maranhense —
50
Companhia Popular Seguradora 50—
Contrabando — 17 19 20 133 134 135 137
138 139 140 141 142 143 144
145 146 250
Cooperativa de consumo —
8
Crise Exjonômica 4 5 9 17 19 21 24
25 27 32 33 35 36 51
53 67 109 ]10 170
Empresa Predial do Norte —
27 129
Farmácias — 17 114
Feriado dominical —-114 115 120 125
Ferragens — 201
Lojas — 17 19 21 22
Loterias — 46
Mercadorias estrangeiras — 29 30 42 44
Padarias — 17
Pólvora — 30
Quitandas —^17
Seguros — 50
Warrants — 80

ESCRAVIDÃO
Abolição do cativeiro — 4
1 33 672
Escravos africanos — 2 5 58

ESPECIARIAS
Baunilha— 230
Cacau — 28 230
Cominho — 29
Cravo — 24
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 277

ílrvadoce —
29
Pimenta da índia — 29

ESTABELECIMENTOS DE CRÉDITO

Banco Comercial do Maranhão 17 26— 50


Banco do Brasil 17— 221 230
Banco do Maranhão —17 26 50
Bancos emissores —
67 69 70 71 72 73 74 75
76 77

^

Banco Emissor do Norte 67 68 70 78 79 80 83


95
Bancn Hipotecário e Comercial do Maranhão 17 — 26 '50
Bancn Industrial e Mercantil do Maranhão 67 — 80
Caixa Económica 27 — 129
English Bank of Rio de Janeiro Limited 17 —
The New London & Brazilian Bank Limited 17 — 221

F I N A N Ç, A S

Companhia da Bolsa — 8
Crack —
81 88 228
Déficitorçamentário — 32 37 38 39 40 220
Dívida do Estado — 243
flutuante 250
Empréstimos — 31 89 203
estrangeiros
^Empréstimos —5
hipotecários
Empréstimo — 32
interno
Encilhamento — 9 53
Jôgo da Bolsa — 88 89
Juros de — 243
apólices
Orçamento — 241 242 243 244
estadual 245
Orçamento municipal — 222 223
Protecionismo — 109 110 111

MIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO

Colonização 68 — 69
Emigrantes (emigração) — 152 151 153 154 lo5
156 158 160
Imigrantes - 15 16 84 88 HO
Libaneses -
151 152 153 156 157 158 lo9

160 161
Sírios —151 152 156 157 160
278 JERÔNIMO DE VIVEIROS

INDÚSTRIA
Açúcar — 17
Atanados — 223 224
Calçados — 50
Cerâmica — 50 52
Cortumes — 224
Chumbo e pregos —8 50 54
Companhia Aliança — 50
Companhia Cerâmica São Luís 8— 50
Companhia de Destilação, Bebidas e Gêlo —8
Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo —8 49 50 51
52 235
Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil —8 50 53 234
Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense (Gamboa) — 49 50
57 58 62 63 64 65 66 234
Companhia Geral de Melhoramentos do Maranhão —83 86 87
88 89 90 92 94 95 100 165 166
191 194 203
Companhia de Panificação 8—
Companhia de Peçca de Tubarões 8 —
Companhia de Tecelagem 49— 50 52
Companhia de Tecidos Progresso 49 — 50 52 53 60
Companhia Fabril Maranhense 8 — 50 55 234
Companhia Industrial Caxiense 50 —
Companhia Industrial Maranhense —
129
Companhia Lanifícios Maranhense —
50
Companhia Manufatora Caxien=e 50—
Companhia Manufatora do Codó —
50
Companhia Maranhense Industrial Ltda. —
50 54 234
Companhia Predial Edificadora 8 —
Companhia União Caxiense —
50 129
Empresa Industrial Artur Koblitz 234—
Empresa Maranhense de Cortume Ltda. —
234
Enxofre —41
Fábrica de óleo — 160 161 219
Fábrica de pilar arroz— 160 16L 251
Fábrica de sabão — 160 161 233
Fábrica de roupas — 50
Fio para rêdes —231
Fósforos — 8 51 54 240 242
Louças — 201
Produtos farmacêuticos —
233
Uuerosene — 29 104 197 201
Tecidos de lã —8 50
Tecidos de malha —
8
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO

LAVOURA
Adubos químicos — 233
Agricultura — 1 2 4
Companhia Cultora de Cururupu —8
Companhia Exploração Agrícola — 50
Companhia Progresso Agrícola — 50
Êxodo rural 15— 16
Guano —41
Irrigação — 69
Sociedade Auxiliadora da Lavoura e Indústria — 58
Usina Castelo 50—
MEIO CIRCULANTE

Câmbio —6 7 21 34 35 51 53 í

70 71 72 77
Casimiros (Vide Debêntures)
Debêntures —7 36 49 55 56 57 58
Papel fiduciário — 34 72
Papel moeda — 34 53 70 71 72
Eeports — 89
Apólices —6 70 71 74 75 76 77
Empréstimos hipotecários — 68
Letras hipotecárias 68 — 69 74

PECUÁRIA
— 172
Feiras de gado
Gado caprino— 42
Gado — 42
cavalar
Gado — 42
lanígero
Gado muar — 42
Gado — 42
suíno
Gado vacum — 42
Pecuária — 200

PRODUTOS ECONÓMICOS

Alfazema —29
Araruta —230
Azeite de andiroba — 230
Azeite de carrapato — - 28 230
Azeite de côco 28 — 218 230
280 JERÔNIMO DE VIVEIROS
Azeite de gergelim — 230
Banha de porco 29 —230
Borracha —15 41
Bucho de peixe 42 —
230
Café — 28 41 100 108 109 198 230
Camarão — 28 230
Cânhamo — 49 50 51 100 235
Carne de porco — 230 -

— 28 230

Carne sêca
Carvão — 198
vegetal
Caucho — 201
Cêra de carnaúba — 28 100 230
Chá — 29 41
Chifres de — 24 42 230
boi
Couros — 24 28 42 198 201 218 223 224
225 230
Crina animal — 230
Cumaru — 230
Farinha d'agua — 28 230
Farinha — 24 28 219 230
sêca
Favas — 28 230
Feijão — 28 100 109
Fumo — 28 42 100 231
Gergelim — 29 231 233
Madeiras — 197
Mamona — 231 233
Mandioca — 241
rJangabeira — 201 230
Maniçoba — 24 100
Milho — 29
1 100 109 198 231
Ópio — 41
Óleo de copaiba — 42 201 231
Ossos — 24 42 231
Ouro — 250
Peixe — 231
sêco
— 231
Peles silvestres
Penas de ema — 201
Resinas — 231
Resina de — 24
jatobá
Sabão de andiroba — 29 197 231
Sagu — 218
Sal — 100 197 200 231
Saladeiros — 84 87 92
Sêbo — 29 231
Sola — 42 231 234
Tapiocas — 24 29 218 221 231 234
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 2R1

Tiquira— 231
Tucum — 231 — 235
Xarque — 84 87

TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

Bondes (Vide Carris urbanos)


Canal do Arapapaí —31 55 100 187 205
Canal dos Mosquitos (Estreito) 171 —
195 196 211
Carris urbanos — 50 164
Colis Postaux — 229
Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão — 50 56 67
?8 79 80
Companhia de Reboques e Alvarengas — 50
Companhia de Tráfego Marítimo 50—
Companhia Ferro Carril de São Luís —50
Companhia Fluvial Maranhense 50 —
Companhia Telefónica —
50
Companhia Viação Maranhense 8 —
Estradas de Ferro — 68 69 83 85 87 88
90 91 92 108 111 163
164 169 178 182 183 184
E F Caxias ao Araguaia 83— 87 88 178 180

. .

E. F. Caxias a S. José das Cajaseiras 83 87 88 92


'

111 165 166 181


182 191 194

E. F. S. Luís — Teresina — 193 194 196 197 204


205
E. F. S. Luís
a Caxiis — 101 163 166 167 168 170
173 174 179 180 181 182
183 184 185 187 189 190
191 194 203 204 210 211

E. F. Tocantina —90 92 165 180 189 190


206
196 199 202 203 204
207 208 209 210 211 212
213 214 215
Loide Brasileiro —
107 108
Naveagação costeira —250
Navegação fluvial
^ ^
—80 84 167 168 173
inA
174
2d0
175 179 184 201 202
Ponte Benedito Leite — 195 196 211
94
PôrtodeSãoLuís- 84 87 88 90 92 93
197 206 208 213
167
Pôrto do Itaqui - 93 100 169 170 171 181 18-
282 JERÔNIMO DE VIVEIROS

184 187 206 207 208 210 211


212 213 214
Telefones — 50 69
Telégrafos — 69
TRIBUTOS
Alfândega do Maranhão — 103
Direitosde importação em ouro — 33 34 35
Direitos alfandegários— 19 33 43 44 109106
Impostos de cabotagem — 41 43 45 46 08 242
243 244 250 251 258 •

Imposto de consumo — (Vide Imposto de cabotagem)

Imposto de — (Vide Imposto de cabotagem)


estatística

Imposto de exportação — 41 42 45 263

Imposto de importação — 41 42 43 44 45 46 47
68 263
Imposto de — 255 257 259 261
indústrias e profissões
263 264
Imposto vendas
s/ consignações
e — 255
(transações mercantis)
256 257 258 259 260
Impostos — 46
intermunicipais
Imposto — 68
predial
Imposto de produção consumo — (Vide imposto
e cabotagem) de
Imposto sôbré usados — 241
sacos 242
Imposto de — 45 105 106
sêlo
Sêlo proporcional — 105 106
Taxas sôbre — 240 242
fósforos
é
VIDA CULTURAL E SOCIAL

Academia do Comércio do Maranhão — 126 130


Aula de datilografia 124 —
Casino Maranhense 102 —
Curso superior de comércio 124 — 130
Congresso Pedagógico 102 —
Faculdade de Direito 102 —

-

Instituto de Assistência à Infância 102


Liceu Maranhense — 113 242
Livrarias — 17
Oficina dos Novos -
— 101
Rotary Clube — 266
Tipografias — 17
Tiro de guerra — 130
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHAO
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Abastecimento d'agua — 50

Açudes — 86

Cais da Sagração — 94
Conselho Consultivo do Estado — 241 242 245

Depósito de couros — 223 224

Drenagem — 69
Inflamáveis — 104

Iluminação a azeite — 218

Iluminação a gaz — 50
Interventoria Federal —238 239 240 241 242 243
245 246 247 249 251 252
253 255 259 260 262 263
264 265 266 267 268
Junta Governativa —
114
Limpesa dos rios —
242
Secas — 168 169 00 182 184

ALGODÃO
Algodão — 1 2 24 28 42 84 100
182 197 217 218 225 226 227
228 229 232 261
Algodão hidrófilo -- 219 229 232
Caroço de algodão — 28 197 230
Prensa de algodão — 225 226 227 250 261
Serviço do algodão — 225 226 228 250
ÍNDICE DAS VINHETAS

CAPÍTULO I

Prédio em que funcionam a Imprensa Oficial e o Depai la-


mento Estadual de Indústria e Comércio. Foi, oulro'oia.
a Fábrica de Tecidos da Companhia Progresso

CAPÍTULO II

Palácio CrÍ9to-Rei, séde da Faculdade de Filosofia, da Univer-


sidade Católica, outr'ora palácio residencial do abastado
negociante J . B . Prado

CAPÍTULO III

Quartel da Polícia Militar do Estado. O piédio é o do extinto


Convento das Mercês, radicalmente reformado no Governo
Luís Domingues. Aí funcionou, também, o Liceu Mara-
nhense

CAPITULO IV

Frades de pedra á rua da Manga, atual rua José Cânibdo


Moraes

CAPÍTULO V

Vapor fluvial, de rodas laterais, da hoje extinta Companhia de


Navegação à Vapor do Maranhão

CAPÍTULO VI

conhecido como
Recanto da praia do Genipapeiro, outr'ora
pôrto de desembarque de contrabando
286 JERÔNIMO DE VIVEIROS
CAPÍTULO VII

Prédio onde funcionou a Aesociação Comercial do Maranhão


anteriormente à construção do Palácio do Comércio .... 95

CAPITULO VIII

Centro Caixeiral, em 1911 ampliado com


, a aquisição do pré-
dio contíguo, na década de vinte 113

CAPÍTULO IX

Barcaças no rio Mearim, de navegação à reboque de lanchas,


para transporte de géneros de produção do Estado 133

CAPÍTULO X
Carros de bois empregados no transporte de cana de açúcar
para os bangu^s 117

CAPÍTULO XI

Estação João Pessoa da Estrada de Ferro São Luís-Tere?ina . . 163

CAPÍTULO XII

Viaduto sôbre o leito da Eí-lrada de Ferro São Luís-Teresina,


no perímetro urbano de São Luís 187

CAPÍTULO XIII

Boi-cavalo, animal de carga na Baixada Maranhense 199

CAPÍTULO XIV

Casa rural, com paredes e cobertura de pindoba (palha de


palmeira babaçu) 217

CAPÍTULO XV
Submersão de raizes de mandioca, em águas de lagoa, para o
preparo de farinha d'água 231

CAPÍTULO XVI

Fábrica de Tecidos Santa Amélia, à rua Cândido Ribeiro .... 249


índice DOS CAPÍTULOS

CAPÍTULO I

A
economia maranhense no primeiro quartel da Repú-
blica. A repercussão na literatura da terra. O ro-
crise e sua
mance de Manoel de Béthencourt

CAPÍTULO II

O
corpo comercial do Maranhão no tempo da crise. Os
lideres da classe. Os grandes retalhistas. Os anúncios pelo
Natal. O contrabando no fantasma do Genipapeiro. A exporta-
ção e a importação. Preços correntes da época

CAPÍTULO III

Repercussão da hecatombe económica na administração


do Estado. Os impostos interestaduais e sua inconstitucionali-
dade arguida pela oposição. A defesa do novo tributo feita pelo
Governador Belfort Vieira. O patriotismo do Comércio

CAPÍTULO IV

Os descalabros administrativos das fábricas 'Cânha-


mo", "Tecelagem" e "Progresso". Os debentures. Os suces-
sos da "Camboa" e seu declínio

CAPÍTULO V

O Banco Emissor do Norte e sua agência em São Luís.


Ataques às bases do novo estabelecimento bancário. Projeto
do Emissor a respeito da Companhia de Navegação a Vapor
do Maranhão e o fracasso do negócio. A tentativa da mcorpo-
ração Banco Industrial è Mercantil
288 JERÔNIMO DE VIVEIROS

CAPÍTULO VI

A Companhia Geral de Melhoramentos do Maranhão e


seus fins. Traços biográficos do seu criador. Triunfo^ e derro-
tas. Atividades malogradas 83

CAPÍTULO VII
- t
.

A
Associação Comercial do Maranhão, seu grande se-
cretárioManoel Fran Paxeco e suas representações perante os
Poderes da República 95

CAPÍTULO VIII

A nova mentalidade da mocidade maranhense. O fe-


riado dominical. Formação do "Centro Caixciral" e seus
triunfos. A "Academia do Comércio". A "Associação dos
Empregados no Comércio" 113

CAPÍTULO IX

O contrabando, seu conceito e suas cauf^as. O caso es-

candaloso do jurará. A atitude do íntegro Juiz Seccional. A


contaminação do micróbio 133

CAPÍTULO X
O estabelecimento da colónia sírio-libanês no Mara-
nhão 147

CAPÍTULO XI

A Estrada de Ferro São Luís-Teresina 163

CAPÍTULO XII

A Estrada de Ferro São Luís-Teresina. (Continuação) . 187

CAPÍTULO XIII

A desejada Tocantina 199

CAPÍTULO XIV

A História da Associação Comercial do Maranhão


através da sua Revista. O seu prestígio ao findar a 1.* Repú-
blica 217
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 289

CAPÍTULO XV

A Associação Comercial do Maranhão e a Ditadura . . 237

CAPÍTULO XVI

A Associação Comercial do Maranhão e a Ditadura . . 249


índice das firmas comerciais
A. F. DE ALMEIDA & CIA. LTDA. — 233 234
A. FONTES & CIA. — 144
AIRLIE & CIA. — 56
A. LIMA & IRMÃO — 232
ALMEIDA JÚNIOR & CIA. SUCESSORES — 17
ALMEIDA SANTOS & TEIXEIRA — 17
ALMIR PASSARINHO & CIA. — 232
ALVES JÚNIOR & CIA. —232
ALVES NOGUEIRA & CIA. — 232 251
ANTÔNIO JOAQUIM DE LIMA & CIA. — 117
ANTÔNIO PRADO & CIA. —17
AZEVEDO ALMEIDA & CIA. — 17
AURINO CHAGAS & PENHA — 251
BASTOS GUIMARÃES & CIA. — 17
BASTOS LISBOA & CIA. — 4 6
BATISTA NUNES & CIA. — 235
BENTO DIAS, IRMÃO & CIA. — 18
BERNARDINO SILVA, FILHO & CIA. — 18
BERNARDO CALDAS & CRUZ — 233
BERRINGER & CIA. — 232 234 235
BESSA & CIA. — 66 267
B.MACHADO & CIA. — 17
BRITO PEREIRA. FILHO & CIA. — 18 117
BROMBERG & CIA. — 195
CÂNDIDO RIBEIRO & CIA. — 234
CARDOSO. ENES & CIA. — 66
CARVALHO, COUTINHO & CIA. — 234
CHAMES ABOUD & FILHOS — 232
CHAVES & SANTOS — 233
C. F.HARGREAVOR & CIA. — 188
DE OLIVEIRA NEVES & CIA. — 232
C. S. 234
CUNHA & CIA. — 66 233 234
CORREA RODRIGUES & CIA. — 96
CUNHA SANTOS & CIA. — 18 96 196
292 JERÔNIMO DE VIVEIROS
DUAILIBE & FILHOS — 161
DUAILIBE & IRMÃOS — 161 232 233
EDUARDO BURNETT & CIA. — 232 234
EMÍLIO LISBOA & CIA. — 232
FRANCISCO AGUIAR & CIA. — 66 232 234 261
FRANCISCO ANTÔNIO DE LIMA & CIA. — 18 iW
FREITAS, NOVAS & CIA. — 18
G. EXPOSITO & CIA. — 251
GRAÇA & CIA. — 18
GONÇALVES IRMÃOS E PRIMOS — 3
HARGREAVOR & CIA (CF.) — 188
HENRY AIRLIE & CIA. — 117
HENRY ROGES SONS & CO. — 62
IBIROCAI & CIA. — 189
JAIME MARTINS DA MOTA — 251
JÂNSEN RAMOS & GUIMARÃES — 18
J. PRADO & CTA. — 18
B. 79
J.GONÇALVES DOS SANTOS — 251
JOÃO VITAL DE MATOS & IRMÃO — 233 251
JOAQUIM JÚLIO CORREA & CIA. — 18 232
JOAQUIM MARQUES CORREA & CIA. — 18
JORGE & SANTOS — 232 233 234 235
JORGE, SANTOS & CIA. — 18 56
JOSE DE CARVALHO CAMÕES & CIA. — 18
JOSE DOMINGUES MOREIRA, FILHO & CIA. — i8
JOSÉ INÁCIO FERNANDES & CIA. — 18
JOSÉ PEDRO RIBEIRO & CIA. — 18 56 67 U7
JOSÉ PEDRO DOS SANTOS & IRMÃO — 78
LÁZARO MOREIRA DE SOUSA & FILHO — 117
LEÃO & CIA. — 220 232 234
LEITE & IRMÃO — 78
LEÔNCIO CASTRO & CIA. — 235
MAIA. SOBRINHO & CIA. — 18 56 CO
MANUEL JOSÉ MAIA & CIA. — 18
MANUEL LOPES DE CASTRO. IRMÃO & CIA. — 18
MARCELINO GOMES DE ALMEIDA & CIA. — 117 219 220
MARTINS & IRMÃO — 59 218 219 232 233 251
MIRANDA. GONCALVES & CIA. — 18
MOREIRA DA SILVA & CIA. — 18
MOREIRA & SARAIVA — 117
MOURA, FILHOS & CIA. — 18 96
M. SANTOS & CIA. — 234
OLIVEIRA, BORRALHO & CIA. — 18
OLIVEIRA & IRMÃO — 232
OLIVEIRA & SCKERI — 261
PEIXOTO, DIAS & CIA. — 18
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO
PIRES NEVES & CIA. — 235
PROENÇA, ECHEVERRIA & CIA. — 187 188 lo9
RAMALHO CRUZ & CIA. —
233
RIBEIRO, ENES & CIA. —
66
RIBEIRO, GANDRA & CIA. — 18
S. DAS BATIGNOLLES — 188
C.
SABÓIA DE ALBUQUERQUE & CIA. — 66
SÁ, LEBRE & CIA. — 24
SALIM DUAILIBE & CIA. — 232
SANTOS & IRMÃO — 18
SOTO MAIOR & CIA. — 99
SOUSA & BURNETT — 18
S. SILVA & CIA. — 234
TRAI ANO VALENTE & CIA. — 90 117
VASCONCELOS & CIA. — 56
VALENTIN MAIA 251
VINHAS & CIA. — 18
INDÍCE ONOMÁSTICO

ABDO — 154 156 157 158


ABOUD, Dr. Eduardo —161 256
A.BOUD, Maria Conceição Neves — 153 159 161
ABREU, João de —60
ADAMA —154
AGRÍCOLA (pseudónimo) — 58
AGUIAR, Francisco Coelho de — 222 224 228
263 264
AIRLIE, Henry —
7 56 57 59 117 203
ALBERTO, Antonio —23
ALFREDO Ministro João — 85
ALMEIDA, A. F. de — 233
ALMEIDA, Antônio José de— 117 125

ALMEIDA, Antônio Martins de (cap) 249 263
ALMEIDA. João de Aguiar — 96 100
ALMEIDA, Joaquim — 222
ALMEIDA. José Carvalho de — 187
ALMEIDA, Manuel Januário — 57
ALMEIDA, Marcelino Gomes de — 219 220
ALMEIDA. Dr. Osório de — 174 175 177 178
ALMEIDA, Ruben Ribeiro de — 1?9
ALVARENGA. Dom Antônio Cândido — 63
ALVES. Mariano Pompílio— 117 121 125
AMARAL. José Ribeiro do— 126
ANDRADE, João Martins do Rêgo — 121
ANTUNES. Dr. Fernando — 267
ARAÚJO. José Bento de — 58 62
ASSIS, Dr. Alfredo de— 102
ÁVILA. Dr. Antônio — 193 198 205
AUBRY, Paulo —
146
AZEVEDO. Agripino — 55
AZEVEDO. Bias — 129
AZEVEDO, Taumaturgo de — 101
296 JERÔNIMO DE VIVEIROS

B
BARÃO DE PENALVA — 86
BARÃO DO MEARIM — 86
BARÃO FOUCHTORELEBEN - 102
BARBOSA. Ruy 43 — 67 74 78 81
BARRADAS, Joaquim 137 —
138
BARRETO, Cândido Floriano da Costa — 114
BARRETO, José 101 —
BASTANI. Tanus Jorge — 160
BASTIAT — 72
BASTOS. Henrique 100 —
BELFORT. Lourenco de Castro 224 —
BELISÁRIO (pseudónimo) 74 77 —
BELTRÃO. Pedro da Cunha 80 —
BENA. Alfredo 229— 233
BENEVIDES. E-lário C. de Sá e 192 —
BERNARDES, Artur — 206
BESSA, Eden Saldanha — 159 256 260 262 263
264
265 266 267
BESSA. Pacífico —127
BETTENCOURT. Manuel de — 1 2 5 9 15
BOGÉA. Protásio —227
BORGES. da
Jo=é — 251
Silva
BOTÃO, — 128
Inácio
BRACK. Emily — 19
BRAGA. — 101
Teófilo
BRAGANÇA, Simão de — 99
Carlos
BRAZ — 58
BRITO, Correa de — 204
BRITO, Pinheiro —
Garibaldi 121
BULL. John (pseudónimo) — 1 5
BURNETT. Eduardo — 224
(Júnior) 228
BYNG. Edward — 148 151
J.

CALDAS, Bernardo 222 —


CALHEIROS, Edmundo 262 —
266 267
CAMÕES. José de Carvalho 121 —
CANTANHEDE, Palmério de Carvalho — 53 62 166
167 170 174 175 176 177 178
181
CANTANHEDE. Virgílio de Jesus — 59 63
CARDOSO, Clodomir 101 —
CARDOSO, Pedro Alexandrino (filho) — 127
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 297

CARNEIRO, — 165
Francisco Dias
CARNEIRO, — 96
Jaime Pinto
CARNEIRO, Raimundo H. — 121
CARVALHO, Caio de — 130
José
CARVALHO, Francisco Xavier de — 114 7
CASTRO, A. O. Gomes de — 31 32 70 137 138
165 181 184 202
CASTRO, A. O. — 133 134 135 137 146
Viveiros de
CASTRO, Augusto de — 126
Viveiros
CASTRO, Fausto de — 267
Freitas (Dr.)
CASTRO, Gervásio — 127
CASTRO, Mariano Gomes de — 121
CAVALCANTI, André — 43
CHAGAS, Licurgo — 129
CHALK. William — 64
CHAMES — 161
CHERMONT. — 118
Justo
CINCINATUS, Quintinus (pseudónimo) — 58
COBDEN (pseudónimo) — 4
COELHO, Carlos —
Ferreira 18 527
COELHO, Duarte Egas Pinto — 99
CONDE D'EU — 113
CORÇAO, Gustavo — 207
CORREIA, Arnaldo — 265 266
CORREA. Horácio — 121
José
CORREA, Joaquim — 18
Júlio
CORREA, José Augusto — 18 127 137 143
COSTA, Cássio Reis — 200
COSTA, Franklin da — 59
COSTA, H. — 234
F.
COSTA, Frazão — 59
Inácio
COSTA, Franklin da — 233
J.
COSTA, José Simeão — 61 62
COSTA, Nicolau José da — 11
CRUZ, — 174
Cristino
CRUZ, Osvaldo — 21 159
CUNHA, Seixas da -
Aristides 121
CUNHA, Euclides da — 207
CUNHA, Lassance — 187

D
DIAS, Gonçalves 94
DIAS, M. Nunes 218
DIEGUEZ. Pedro 251
DINIZ, Fabrício 121 128
298 JERÔNIMO DE VIVEIROS

DECAUVILLE —182
DOMINGUES, Luís — 20 79 203
DOM PEDRO II —
157 163
DUARTE, Francisco de Paula Belfort — 15 70 114
DUAILIBE, Salim — 262

ERICEIRA, Luís — 121


EVANS, Hugh — 62
F

FACURE, — 159
Rosa
FARIA, — 251 256
Avelino Ribeiro de
FARIA, —
Euclides 93
FERNANDES, Edmundo — 130
FERNANDES, Eugênia de Almeida — 101
Isabel
FERNANDES, — 233
J. C.
FERNANDES, Joaquim Alfredo — 129
FERNANDES, — 97
José Inácio
FERREIRA, Benjamin Constâncio — 142
FERREIRA, Arnaldo — 252 253 255 256
Jesus 262
263 265 266
FERREIRA, Hermenegildo Jânsen — 7 32 117
FERREIRA, Jurandir — 197
Pires
FERREIRA, Jânsen — 126
Justo
FERREIRA, Manuel Jânsen — 126
FERREIRA, Raimundo Damasceno — 129
FERREIRA, Salomcão Damasceno — 129
FIGUEIREDO, Antônio Pereira de — 129
FIGUEIREDO, Conde de — 70
FIQUENE, Roque — 251
FONSECA, Deodoro da — 136
FORTUNA, Djalma — 221
FREIRE, Pedro — 100
FREIRE, Vicente Sucupira da Cunha — 78 79
FREITAS. Carneiro de — 3
J.
FRONTIN, Paulo de — 188 189
FURTADO, Francisco — 85 José

GAIOSO — 173
GALVÃO, Brissos (nseudônimo) — - 99
GLICÉRIO, Francisco — 86 91
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 299

GODOIS, Antônio Batista Barbosa de — m


GOIS, Artur — 233
GOMES, Edaardo —
213
GOMES, Jesus N. —
233
GROENNING, Richard 62—
GUILHON, Henrique de Brito 39
GUIMARÃES, Artur 96 —
GUIMARÃES, Henrique Delfim da Silva 7 59 63 9
GUIMARÃES, Idalina 126—
GUIMARÃES, José da Cunha Santos — 129
GUIMARÃES, Joaquim —
251
GUIMARÃES, Viegas (pseudónimo) — 98

H
HAICK, AdeHa — 159
HOYER, Martinus — 4 97 165
HYDE, Thomas — 63
J

JACOBSON, Júlio — 128 129


JÂNSEN, Donaua — 61
JESUS, José Palhano de — 187 188 194 195 200
201 203 204 211
JORGE, José Francisco — 122 222 228
JORGE, Manuel José Francisco — 7 18 52
JOSUÉ — 150
JÚNIOR, Alfredo Elis — 152 160
JÚNIOR.. Almeida — 127
JÚNIOR, Amarílio — 152
JÚNIOR, Casimiro Dias Vifáia 15— 35 36 55
JÚNIOR, Joaquim Alves —121
JÚNIOR, Joaquim José Gonçalves — 127
JÚNIOR, José da Cunha Santos — 123
JÚNIOR, José F. Guimarães —
234
JÚNIOR, Pedro Augusto Tavares — 31 63 115 116

KRIGER, Reinaldo von — 202

LAPEMBERG — 79
LEAL, Pedro Nunes — 52 85 88
300 JERÔNIMO DE VIVEIROS

LEBLOND, Albert — 139


LEBRE, Artur Napoleão 121 —
LECOCQ, Nicolau Vergueiro 166 —
203
LEITE, Ana Elvira Pires Ferreira 191 —
LEITE, Angélica Pires Ferreira — 192
LEITE, Benedito —
36 40 41 129 135 140
166 172 173 181 184 185
187 191 192 193 195
196 210 211 213 214
LEMOS, Ulisses — 127
LEMOS, Viriato — 51
LETOURNEAU — 135
LIMA, Antônio Otávio Rodrigues — 121
LECOCQ — 166
LIMA, — 117
Francisco Antônio de
LINCOLN —
(pseudónimo) 77 5
LINS, Dr. — 255
Elpidio
LIRA, Antônia Martins — 59
LISBOA, Aquiles — 192
LISBOA, Emílio — 121 217
José 224 2Í^9
LISBOA, João — 159
LOBÃO, Artur Couto — 121
LOBATO, — 65 66
Vitor
LOBO, Antônio — 63 100
LOBO Washington — 128 129
LOPES, Cunha — 193 195
LUÍS, Washington — 192
LUZ, Joaquim da — 99
Vieira 102

M
MACEDO, Manuel Buarque — 86
MACHADO, Eduardo Olímpio — 218
MACHADO, Francisco de Carvalho — 119
MACHADO, Frederico Gonçalves — 191
MACHADO, Lino —192
MACHADO, Marcelino Rodrigues — 188 191 192 193
194 195 196 203
205 215
MACHADO. Torquata Rordigues — 191
MACIEL, Antunes 245—
MAGALHÃES, Almeida 191 —
MAGALHÃES. Couto de 184 — 202
MAGALHÃES, Domingos de — 133
MAIA, Manuel José — 59 63
MAIA, Raimundo de Castro — 86
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 301

MALTA, José Fernandes da Silva — 122 127 128 129


MARIANI, José —61
MARQUES, César — 223
MARQUES, Raul Astolfo 221 —
MARTINS, João Henrique 96 —
MARTINS, Antonio Pinheiro 251 —
MARTINS, João V. —
219 262 2Ó3 266
MATOS, Afonso 222— 256 262 265 266
MATOS, Jânsen 79 —
MEDEIROS, Leôncio Jânsen 117— 121 126
MEIRELES, Antônio José 60 — 61
MEIRELES, Mário 265~
MELO, Eduardo 121—
MELO, E. J. Albuquerque de 127 —
MENDES, Cândido —
18
MENDEí, Pedro —
244 252 253
MENDES, Raimundo Teixeira 78 — 79
METRE, Quesra —
161
MILANÊS, João Lourenço da Silva 114 —
MIRANDA, Francisco da Silva 59 —
MOCHEL, Cap. José Augusto da Silva 266 —
MONSENHOR REIS —
85
MONTEIL, Vicent —
148
MUQUECA, José 13— 15
MORAIS, Eurico —
233
MORAIS, Prudente de —
179
MOREIRA, Albino —
224
MOREIRA, Francisco Franco de Sá Colares 251 —255
MOTA, Seroa da 239— 246 247 262
MOURÃO, João Tolentino 63 —
MULLED, Manuel Jânsen 137 — 143

NABIRA — 153 154 155 156 157 158 159


160 161
NASSIM — 153 154 155
NAVA, Sílvio — 88 90
NETO, Coelho — 100 127
NEVES, Carlos Soares de Oliveira 222 228
NEVES, Manuel Matias das 7 — 52
NINA, Almir —
203
NINA, Francisco Joaquim Ferreira 63
NINA RODRIGUES — 19 126
302 JERÔNIMO DE VIVEIROS

O
OLÍMPIA (pseudónimo) — 115
OLIVEIRA, Pedro —224
OLIVEIRA, Alberto de —102
OLIVEIRA, José Alexandre — 251 256
OLIVEIRA, Marcírio —
96
OTONI, Júlio Benedito —86

PAÇO, Antônio Jânsen do —


61
PAÇO, William Jânsen do —
61
PARGA, Herculano Nina 3— 40 79 127 221
PARGA, Inácio do Lago 7— 32 59 63 65
PARGA, Raimundo Honório do Lago 65 —
PAXECO, Carolina Amélia —98
PAXECO, Elsa — 101
PAXECO, José Anastácio —
98
PAXECO, Manuel Fran 4 — 7 25 27 95 97
98 99 100 101 102
105 108 110 166 181
184 190 201 224
PENA, Afonso — 185 210
PENHA, Aurino Chagas e — 262 265 266
PEREIRA, A. Brito -- 234
PEREIRA, Álvares — 126
PEREIRA, Anastácio Jânsen — 60
PEREIRA, António Cardoso — 7 74
PEREIRA, Artur E. — 126
PEREIRA, Damáso — 80
PEREIRA, Euclides José — 142
PEREIRA, João Alves Júnior — 245
PEREIRA, José Celso — 59
PEREIRA, Manuel Jânsen — 62
PEREIRA. Neon Oscar — 64
PEREIRA. Samuel Gomes — 187
PESSOA, Epitácio — 204 206 211 ' 212 213
PETIAS. (pseudónimo) — 4
PIANCHAO, Onésimo — 233
PINHEIRO, Francisco — 65
PINHEIRO, José SerrSo — 122
PINTO, Raimundo Pereira — 62
PLUTARCO — 188
PORCIÚNCULA, José — 117
PORCIÚNCULA, José Tomás de - 32
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO 303

PRADO, João Batista — 18 79


PROENÇA, Antônio de Gouveia 188

Q
QUEIRÓS, Antônio Abrnches de 99
QUEIRÓS, Tenente —15

R
RABELO, — 121
Joaquim Ferreira
RAIOL, A.— 126
RAMOS, Leontino Francisco — 59 90
RAMOS, Manuel de Azevedo — 60
RÁO, Vicente Dr. — 268
RÊGO, Cândido Bordeaux — 129
RÊGO, Fábio de Moraes —
Hostílio 88 90 93 164
RÊGO, Genésio — 192
REIS, A. — 127
REIS, Agostinho — 101
REIS, Aarão — 85 86 87 88 90 91 178 203
REIS, Epifânio José dos —63
REIS, Fábio Alexandrino de Carvalho — 85 164 165
REIS, Francisco Gonçalves dos 32 —
REIS, — 64
José Cândido dos
REIS, — 129
Luís Gonzaga dos
REIS, Manuel José dos — 60
RIBEIRO, Bento. Wenescop — 62
RIBEIRO, Cândido José — 18 63 7 100 221 228
RIBEIRO. Demétrio — 78
RIBEIRO. Francisco José — 86
RIBEIRO, José Pedro — 7 52 56 59 67 80
90 97
RIOS, Cândido César da — 59 80
Silva
RIO. José Pires do — 190 191
RODRIGUES. Ezequiel Antônio — 21 22 23
RODRIGUES. Francisco da Costa — 64 65
7 51
RODRIGUES, Manuel Bernardino da Costa — 80 81
ROSA. Nestor — 126
ROURE, Agenor — 245

SALAZAR. Ricardo Décio —


59
— 247
SALDANHA, Álvaro Jansen Serra Lima (Coronel) 246
249
304 JERÔNIMO DE VIVEIROS
SALGADO, Plínio — 149
SÁ, Felipe Franco de 165
SÁ, Lourenço de — 6 90
SALES, Campos — 179
SALOMAO, Manuel - - 161
SAMIR - 154 156 158
SANTOS, Crispim Alves dos — 7 55 56 59
SANTOS, João Alves dos 52 — 100 121 122
SANTOS, Joaquim de Oliveira — 129
SANTOS, Urbano 195—
SARAIVA, *Antônio —
256
SARAIVA, Firmino —
127
SARDINHA, Manuel da Silva 59 63
SCOTT, John — 64
SEABRA, Heráclito Pires — 122
SEIXAS, João Arnaldo — 9
SÉRGIO — 160
SERRA, Joaquim —
61
SILVA, Albino Mendes da — 121
SILVA, Alfredo —
23
SILVA, Antônio Francisco da 121 —
SILVA, Augusto Frutuoso Monteiro da 114 —
SILVA, José Domingues da -- 195 205
SILVA, José Gonçalves da 60 —
SILVA, José Maurício da 103 —137 143
SILVA, Luís Domingues da 203 —
SILVA. Niepce da — 193 194 195
SILVA, Paulo Cláudio da 225 —
SILVA, Raimundo Archer da 96 —
SILVA, Roberto das Neves e 125 —
SILVA. Rosa — 185
SILVA. Vieira da — 165
SILVA. Zeferino Archer da 121 —
SILVEIRA. Eduardo Vasconcelos da •
— 11
SMITH. A. —
71
SOEIRO. Pacífico Duarte 80 —
SOUSANDRADE —
20
SOUSA. Euclides Pereira de 121 —
SOUSA. Irineu Evangelista 163 —
SOUSA, José João de 205 —206 222 228 263
268
SOUSA, José Leandro da Silva e — 113
SOUSA, José Maria Correa de — 224
SOUSA, Lázaro Moreira de — 117
SOUSA, Severo Ar/gelo de — 129
HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO M/VRANHAO 305

STEFENSON, Jorge — 163


STREET, Ernesto Diniz — 202

TAUNAY, Alfredo de — 9
TAVARES, Filomeno 121—
TAVARES, Jerônimo José —7
TAVARES, João Luís —
114
TAVARES, Pedro Augusto (Júnior) - 63 116
TÁVORA, Juarez —
213 23-^ 238 239 243 245
246
TEIXEIRA, Alfredo Pinto 121 —
TEIXEIRA, Serafim 121—
TORRES, Luso —
101 102
TRIBUZI. Raimundo Alves 117 — 121 126 128

V
VALE, Libânio — 126
VALE, Raimundo Ferreira — 54
VALE, Ricardo — 54
55 56 57
VALENTE, Manuel Rodrigues 96 —
VARELA, Eleutério Muniz 31 116—
VARGAS, Getúlio —
212 213 267
VASCONCELOS, Amarílio 86 —
VASCONCELOS, José Maria de Freitas 59 —
VASCONCELOS, Pedro 130 —
VAZ, Jo?é Caetano — 136
VAZ, José Viana — 91 136 137 138 144
VELOSO, Pedro Leão (Filho) — 80
VIANA, Cipriano José Veloso — 7 59 63 86
VIANA, Raimundo Gabriel 129 —
VIEIRA, Antônio (Pe.) 199 —
VIEIRA, Belfort —31 43 55 184
VIEIRA, João Pedro Belfort — 43 137 138 181
VIEIRA, José Zoroastro —251
VIEIRA, Manuel Inácio Dias — 100
VIEIRA, Manuel Lima —62
VISCONDE DE ITACOLOMI — 18
VIEIROS. Jerônimo de —
2 41 69 210 219 223
VIVEIROS, José Francisco de — 7 88 90 114
VIVEIROS. Manuel João Coqueiro de — 121
VINHAES, José Manoel — 97
306 JERÔNIMO DE VIVEIROS

WALE, John — 63
WALKER — 212

ZULMIRA — 126
YUSSEF — 154
siderávcl de fatos e documentos colo-
cam-no ao lado dos maiores sabedo-
res da história do Maranhão, per-
tencendo à estirpe famosa dos Cân-
dido Mendes, João Lisboa e César
Marques.
Possuidor de um estilo inconfun-
dível de simplicidade, quando escre-
ve o faz sem retoques, sem paradas
bruscas para medir. As idéias já estão
ordenadas, é homem que só trans-
põe para o papel o que já está p>er-
feitamente delineado e amadurecido
no pensamento, o que toma sua prosa
límpida, impressiva, liberta de man-
chas informes, dos borrões anódinos
qu fazem a tortura dos ruins ofi-
ciais do ofício. E cm história não
se quer improvisação, a pressa que
nada constrói.
Raro prazer intelectual portanto
é ler êsse historiador sempre bem
informado, sempre vivo e preciso no
comentar os fatos, fixar os eventos.
Esta "História do Comércio"
abrange os anos de 1612, com a
França Equinoxial, até 1895, nos
albores da República, época que o
A. chama da "loucura industrial" e
que se seguiu à extinção da escra-
vatura e consequente desorganização
da economia maranhense.
Agora, dez anos depois, aparece
o terceiro volume da obra, compreen-
dendo o período que vem de 1896
a 1934.
Aparece em comemoração à pas-
sagem do 110' ano de fundação da
antiga Casa da Praça, órgão de classe
que, em 1878, se transformou na
atual Associação Comercial do Ma-
ranhão, i

Como os anteriores, este terceiro


volume é um panorama fremente de
vida, intensamente colorido e miu-
damente documentado, de largo tre-
cho da história económica do Ma-
ranhão.

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