Aula1 - História Do RN

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Curso Técnico Nível Médio Subsequente

Guia de Turismo
História do Rio Grande do Norte

Helder Alexandre Medeiros de Macedo


Olívia Morais de Medeiros Neta

Aula 01
Rio Grande do Norte: História e Historiografia

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia


do Rio Grande do Norte.

Natal-RN
2010
Presidência da República Federativa do Brasil

Ministério da Educação

Secretaria de Educação a Distância

Este Caderno foi elaborado em parceria entre o Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia e o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e-Tec Brasil.

Equipe de Elaboração Projeto Gráfico


IF-RN Eduardo Meneses e Fábio Brumana

Coordenação Institucional Diagramação


COTED Victor Almeida Schinaider

Professor-autor
Ana Jaimile da Cunha

Ficha catalográfica
Apresentação e-Tec Brasil

Amigo(a) estudante!

O Ministério da Educação vem desenvolvendo Políticas e Programas


para expansãoda Educação Básica e do Ensino Superior no País. Um dos
caminhos encontradospara que essa expansão se efetive com maior rapidez
e eficiência é a modalidade adistância. No mundo inteiro são milhões os
estudantes que frequentam cursos a distância. Aqui no Brasil, são mais de
300 mil os matriculados em cursos regulares de Ensino Médio e Superior a
distância, oferecidos por instituições públicas e privadas de ensino.

Em 2005, o MEC implantou o Sistema Universidade Aberta do Brasil


(UAB), hoje, consolidado como o maior programa nacional de formação de
professores, em nível superior.

Para expansão e melhoria da educação profissional e fortalecimento


do Ensino Médio, o MEC está implementando o Programa Escola Técnica
Aberta do Brasil (e-TecBrasil). Espera, assim, oferecer aos jovens das perife-
rias dos grandes centros urbanose dos municípios do interior do País oportu-
nidades para maior escolaridade, melhorescondições de inserção no mundo
do trabalho e, dessa forma, com elevado potencialpara o desenvolvimento
produtivo regional.

O e-Tec é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Educação


Profissionale Tecnológica (SETEC), a Secretaria de Educação a Distância (SED)
do Ministério daEducação, as universidades e escolas técnicas estaduais e
federais.

O Programa apóia a oferta de cursos técnicos de nível médio por


parte das escolaspúblicas de educação profissional federais, estaduais, mu-
nicipais e, por outro lado,a adequação da infra-estrutura de escolas públicas
estaduais e municipais.

Do primeiro Edital do e-Tec Brasil participaram 430 proponentes de


adequaçãode escolas e 74 instituições de ensino técnico, as quais propuse-
ram 147 cursos técnicosde nível médio, abrangendo 14 áreas profissionais.
O resultado desse Edital contemplou193 escolas em 20 unidades
federativas. A perspectiva do Programa é que sejam ofertadas10.000 va-
gas, em 250 polos, até 2010.

Assim, a modalidade de Educação a Distância oferece nova interface


para amais expressiva expansão da rede federal de educação tecnológica dos
últimos anos: aconstrução dos novos centros federais (CEFETs), a organiza-
ção dos Institutos Federaisde Educação Tecnológica (IFETs) e de seus campi.

O Programa e-Tec Brasil vai sendo desenhado na construção coletiva


e participaçãoativa nas ações de democratização e expansão da educação
profissional no País,valendo-se dos pilares da educação a distância, susten-
tados pela formação continuadade professores e pela utilização dos recursos
tecnológicos disponíveis.

A equipe que coordena o Programa e-Tec Brasil lhe deseja sucesso na


sua formaçãoprofissional e na sua caminhada no curso a distância em que
está matriculado(a).

Brasília, Ministério da Educação – setembro de 2008.


Você verá por aqui...
Nessa aula você irá observar que, para se compreender a História do
Rio Grande do Norte, é necessário, previamente, conhecer a historiografia
norte-rio-grandense. Ou seja, conhecer os autores e obras que, em diversos
momentos históricos, contribuíram para a produção de “versões” da história
estadual que servem de base, até hoje, para que possamos refletir sobre o
passado. A historiografia norte-rio-grandense divide-se em três momentos:
a historiografia clássica, a revisionista e a acadêmica.

Objetivos
• Conhecer a historiografia norte-rio-grandense em seus momentos his-
tóricos;

• Reconhecer historiadores que construíram “versões” da história poti-


guar.

Conteúdos Didáticos
• Historiografia clássica;

• Historiografia revisionista;

• Historiografia acadêmica.

e-Tec Brasil 6 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


Para Começo de Conversa...
O Rio Grande do Norte é um estado da federação que está situado
na região Nordeste do Brasil, composto de 167 municípios e tendo uma
extensão territorial de 52.796,7 km2, o que representa 0,62% do território
nacional, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Sua extensão territorial chega a ser maior que a de países como Ho-
landa (41.864 km2), Taiwan (36.000 km2), Bélgica (30.528 km2) e mesmo
Israel (21.042 km2). Vivem no Rio Grande do Norte, segundo estimativas
do IBGE (2009), 3.137.541 pessoas, das quais 806.203 somente na capital,
Natal. Observe a configuração do Rio Grande do Norte na Figura 1.

Figura 01 - Mapa Político-Administrativo do Rio Grande do Norte

Você deve estar se perguntando: por que começar a disciplina de


História do Rio Grande do Norte revisando informações que nos são dadas
pela Geografia? Em primeiro lugar, o Rio Grande do Norte nem sempre foi
um “Estado” dentro da federação (no século XVI, nem tinha o “do Norte”,
para que você tenha idéia...). Em um longo e complexo processo histórico,
o que hoje é o território norte-rio-grandense já foi considerado “capitania”
(no período colonial), “província” (no período imperial), até chegar a “es-
tado”, a partir da proclamação da República. Nem sempre teve a mesma
configuração territorial, bem como, houve época em que não tinha mais que
150 municípios. Em outras palavras, queremos dizer a você, estudante, que
essas duas ciências, a Geografia e a História, precisam uma da outra para
explicar a realidade, seja o passado, seja o presente.

Em segundo lugar, nós não poderíamos estar falando desses assun-


tos senão tivéssemos recorrido a historiadores que vieram antes de nós e que

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 7 e-Tec Brasil


Historiografia fizeram pesquisas pioneiras sobre a história norte-rio-grandense, publican-
Estamos usando o termo historiogra-
do-as em forma de livros ou artigos em revistas. Dizendo de outra maneira, o
fia no sentido de nomear o conjunto conhecimento que dispomos sobre a História do Rio Grande do Norte é fruto
de autores (eruditos ou acadêmicos)
e suas obras sobre determinado do acesso que temos, nos dias de hoje, aos textos que compõem a historio-
tema. grafia potiguar. Fazendo um balanço dos livros publicados a partir do início
Assim, ao falarmos de historiografia
potiguar, estamos nos referindo aos do século XX, podemos observar três momentos históricos dessa produção:
autores que produziram “versões”
sobre a História do Rio Grande do
autores que podemos considerar como “clássicos”; autores que se propõem
Norte. a revisar essa historiografia clássica; e autores situados no mundo acadêmi-
co.

Historiografia Clássica
A historiografia clássica, segundo a historiadora Denise Mattos Mon-
teiro corresponde à produção dos primeiros 70 anos do século XX, sendo
composta por historiadores sem formação acadêmica na área de História e
que estavam ligados ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte (IHGRN).

Figura 02 - Atual sede do IHGRN

O IHGRN, entidade cultural mais antiga do Rio Grande do Norte, foi


fundado em 1902, no governo de Alberto Maranhão, tendo como inspira-
ção o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Este foi criado em
1838, num momento em que se discutiam questões como o nacionalismo
e a necessidade de criação de arquivos para preservação dos documentos
oficiais e manuscritos, que viessem a possibilitar a produção de uma “histó-
ria” do Brasil. Os historiadores reunidos em torno do IHGB, dessa maneira,
colaboraram para a construção de uma identidade nacional, ou seja, de um

e-Tec Brasil 8 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


passado comum para o “povo” da nação que pouco a pouco estava se or-
ganizando, após a “independência” de 1822.

Questão de Grossos
Intelectuais, políticos e historiadores como Vicente de Lemos, An-
Foi uma disputa territorial envol-
tonio de Melo e Souza, Augusto Tavares de Lira, Manuel Dantas, Henrique vendo os estados do Rio Grande do
Norte (RN) e Ceará (CE) pela incorpo-
Castriciano de Souza, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, Joaquim Fer- ração de territórios que hoje corres-
reira Chaves e Eloy de Souza estiveram dentre aqueles que tomaram a inicia- pondem aos municípios de Grossos
e Tibau. O sal produzido nesses ter-
tiva de fundação do instituto. Estavam preocupados com a preservação da ritórios era necessário para a feitura
história e da memória social do Rio Grande do Norte, mas, também, reinava da carne de sol no CE, o que fez
com que este último elevasse Gros-
entre eles o entusiasmo por ter sido reunida grande quantidade de docu- sos à condição de “vila”, abarcando
porções do RN, que se manifestou
mentação histórica (em sua grande maioria, manuscrita) sobre a “Questão contrário. A questão foi resolvida na
de Grossos”. Justiça.

A historiografia clássica, portanto, é


composta de historiadores ligados ao
IHGRN que produziram suas obras no
Rio Grande do Norte ou, ainda, da-
queles que, mesmo estando fora do
estado, escreveram livros sobre a his-
tória norte-rio-grandense. Dentre es-
ses historiadores, os mais conhecidos
foram Vicente de Lemos (1850-1919),
Tavares de Lira (1872-1958), José Fran-
cisco da Rocha Pombo (1857-1933) e
Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).
A historiadora Marlene da Silva Mariz
considera esses historiadores como
Figura 03 - Tavares de Lira pertencentes à historiografia “tradi-
cional” do Rio Grande do Norte.

Os três últimos produziram livros de grande importância e que já se


tornaram “clássicos” na produção historiográfica estadual: “Historia do Rio
Grande do Norte”, de Tavares de Lira, em 1921 (com 2ª edição em 1982, 3ª
em 1998 e 4ª em 2009); “Historia do Estado do Rio Grande do Norte”, de
Rocha Pombo, publicada em 1922 e “História do Rio Grande do Norte”, de
Câmara Cascudo, 1955 (com 2ª edição em 1984).

Essas três “histórias” foram tentativas de sintetizar o processo de


ocupação e povoamento do que hoje corresponde ao território do Rio Gran-
de do Norte, desde o período colonial até a época de suas respectivas pu-

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 9 e-Tec Brasil


blicações. A ordenação dos acontecimentos,
portanto, está encaixada no esquema tradi-
cional de divisão da história do Brasil em Co-
lônia, Império e República. Essas obras têm
algumas características comuns: apresentam
uma visão da sociedade como se esta não
tivesse conflitos sociais, bem como uma vi-
são de política como se fosse uma ativida-
de exclusiva das elites; os temas de estudo,
geralmente, estão ligados a fatos históricos
enobrecedores, onde se celebravam perso-
nagens históricos importantes; os textos são Figura 04 - Câmara Cascudo
mais descritivos que interpretativos.

O conteúdo dessas “histórias” do Rio Grande do Norte, cujo pen-


samento é bastante conservador, ainda hoje, pode ser facilmente encontra-
do em livros didáticos sobre a história potiguar. Os livros produzidos nessa
primeira fase da historiografia norte-rio-grandense têm importância vital
para os historiadores de hoje, pois, além de apresentarem, em alguns casos,
transcrições e indicações de localização de importantes fontes históricas,
apresentam as primeiras “versões” de uma história do Rio Grande do Norte,
que serviram de base para as demais produzidas posteriormente.

Historiografia Revisionista
Da década de 1970 em diante, his-
toriadores ligados ao IHGRN produziram
obras que tinham como preocupação fazer
uma revisão da historiografia que os prece-
deu. Apesar de estudarem o Rio Grande do
Norte a partir da ordenação dos fatos feita
pelos intelectuais anteriores, os historiado-
res dos anos 1970 em diante procuraram
fazer uma revisão do conhecimento histó-
rico já produzido, preenchendo ressalvas e
apontando novos caminhos.

Diferentemente de Tavares de Lira,


Rocha Pombo e Câmara Cascudo, que fa-
Figura 05 - Tarcísio Medeiros
ziam uma ordenação cronológica dos fatos

e-Tec Brasil 10 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


visando à construção de uma história político-administrativa, os historia-
dores revisionistas produziram o que a historiadora Fátima Martins Lopes
chamou de “história temática”. Ou seja, estudaram temas específicos da
história norte-rio-grandense, buscando auxílio nas fontes históricas em que
seus antecessores já haviam pesquisado e em novas fontes, redescobertas
em arquivos no decorrer do século XX. Os mais conhecidos historiadores
revisionistas são Hélio Galvão, Tarcísio Medeiros e Olavo de Medeiros Filho.

Tarcísio Medeiros (1918-2003), neto do historiador Vicente de Le-


mos, era advogado, tendo exercido essa profissão por mais de trinta anos.
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e do IHGRN, foi Pro-
fessor adjunto do Departamento de História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), tendo formado várias gerações de historiadores no
estado.

Suas principais obras são: “Aspectos geopolíticos e antropológicos


da História do Rio Grande do Norte” (1973); “Bernardo Vieira de Melo e a
Guerra dos Bárbaros” (1974); “Capitães-mores e Governadores do Rio Gran-
de do Norte – Volume II (1701-1822)” (1980); “Proto-história do Rio Grande
do Norte” (1985) e “Estudos de História do Rio Grande do Norte” (2001).

“Aspectos geopolíticos e antropológicos da História do Rio


Grande do Norte” é uma das mais importantes obras de Tarcísio Medeiros,
senão a mais importante. Um dos aspectos a ser realçado, em relação a esse
livro, é que traz uma abordagem acadêmica,
na forma e no conteúdo, em relação à histó-
ria do Rio Grande do Norte, que é discutida
a partir de dois olhares: o da geopolítica e
o da antropologia. Espaço, grupos étnicos,
práticas culturais e folclore, portanto, são
temas que atravessam os capítulos da obra,
que cronologicamente estende-se do perío-
do colonial até a Segunda Guerra Mundial.

Olavo de Medeiros Filho (1934-


2005), caicoense, foi técnico-administrativo
Figura 06 - Olavo de Medeiros Filho do Banco do Brasil e historiador ligado ao
IHGRN, IHGB e institutos históricos de diver-
sos pontos do território brasileiro, além de membro da Academia Norte-rio-
grandense de Letras. Além do cargo de diretor do arquivo e biblioteca do

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 11 e-Tec Brasil


IHGRN, que exerceu até a morte, foi membro dos Conselhos Diretores da
Fundação Hélio Galvão (1988-2005) e Fundação José Augusto (1988-1995),
ambos em Natal. A obra de Olavo de Medeiros Filho é vasta e monumental
ao tratar de diversos aspectos do passado do Rio Grande do Norte, com
ênfase na formação histórica da região do Seridó, donde era originário. Ino-
vou ao utilizar fontes seriais (como registros de batizados, casamentos e
enterros) na composição de seus livros, que, em grande parte, revisitaram
questões levantadas nos livros de história já publicados.

Sobre a história do Rio Grande do


Norte, Olavo de Medeiros Filho publicou:
“Naufrágios no litoral potiguar” (1988);
“No rastro dos flamengos” (1989); “Terra
Natalense” (1991); “O Engenho Cunhaú à
luz de um inventário” (1994); “Aconteceu
na Capitania do Rio Grande” (1997); “Os
holandeses na Capitania do Rio Grande
do Norte” (1998); “Notas para a História
do Rio Grande do Norte” (2001); “Gêne-
se Natalense” (2002); “Ribeiras do Assu
e Mossoró: subsídios para sua história”
(2003); “Os fenícios do Professor Chove-
nágua” (2004); “Os Barões do Ceará-Mi-
Figura 07 - “Terra Natalense” (Capa)
rim e Mipibu” (2005).

Em se tratando do Seridó, região para a qual é citação obrigatória


em todos os trabalhos da área de história, publicou: “Velhas Famílias do Seri-
dó” (1981); “Velhos Inventários do Seridó” (1983); “Índios do Açu e Seridó”
(1984); “Caicó, cem anos atrás” (1988); “Joaquim Estanislau de Medeiros
(Major Quinca Berto do Fechado) (1998); “Cronologia Seridoense” (2002).

e-Tec Brasil 12 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


Historiografia Acadêmica
Dos anos 70 para os anos 80 do século XX, acompanhando a ex-
pansão da UFRN, vários professores universitários – sobretudo do Departa-
mento de História – contribuíram para o avanço da historiografia norte-rio-
grandense ao desenvolver pesquisas acadêmicas sobre a história do estado,
como podemos observar na Tabela 1:

Tabela 1
Dissertações de Mestrado com temáticas ligadas à história potiguar

Tema Autor IES Ano


A Revolução de 1930
Marlene da Silva Mariz UFPE 1982
no RN

O algodão na economia
Denise Mattos Monteiro PUC/SP 1983
do RN

A política econômica Márcia Maria Lemos de


PUC/SP 1988
salineira e o RN Souza

Implantação do Protestan-
Wicliffe de Andrade Costa UFPE 1988
tismo no RN

Percebemos, ao examinar essas pesquisas, que os temas de estudo,


em sua maioria, estão situados cronologicamente no período republicano (à
exceção da pesquisa sobre o Protestantismo,
que se inicia no fim do período monárquico).
Essas pesquisas também apresentam novos
temas e problemáticas, bem como preocu-
pação com o rigor científico, tendo sido uti-
lizadas em pesquisas posteriores sobre o Rio
Grande do Norte. Todavia, apenas duas des-
sas dissertações foram publicadas em forma
de livro: “A Revolução de 1930 no Rio Grande
do Norte – 1930-1934” (1984), de Marlene
Mariz e “Um outro Nordeste: o algodão na
economia do Rio Grande do Norte (1880-
Figura 08 - “Um Outro Nordeste” 1915)”, de Denise Monteiro.
(Capa)

Estudos desenvolvidos por professores de outras áreas do conheci-


mento, na virada dos anos de 1980 para 1990, também contribuíram para
um maior conhecimento da história do Rio Grande do Norte. As oligarquias
potiguares e sua reação à implantação da Era Vargas, o sindicalismo, a co-
tonicultura, a indústria, o espaço urbano, o coronelismo e a República Velha

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 13 e-Tec Brasil


foram alguns dos temas discutidos em dissertações de mestrado nas áreas
de Economia, Sociologia, Geografia e Ciência Política.

Devemos destacar que alguns desses trabalhos foram publicados em


forma de livro: “Organização do espaço urbano de Mossoró” (1982), de
José Lacerda Alves Felipe; “Ensaios de história
econômica do Rio Grande do Norte”, de Istvan
Inre Lászlo A’rbocz; “O maquinista de algodão
e o capital comercial” (1987), de Maria do Li-
vramento Miranda Clementino; “A República
Velha no Rio Grande do Norte (1889-1930)”,
de Itamar de Souza; “Da oligarquia Maranhão
à política do Seridó: o Rio Grande do Norte
na Velha República” (1992), de José Antonio
Spinelli Lindoso; “A Insurreição Comunista
de 1935: Natal, o primeiro ato da tragédia”
(1995), de Homero de Oliveira Costa; “Getúlio
Vargas e a oligarquia potiguar (1930/1935), de
Figura 09 - “A Insurreição Comunis- José Antonio Spinelli Lindoso; “O Sindicato do
ta de 1935” (capa)
Garrancho” (2000), de Brasília Carlos Ferreira;
“A (re)invenção do lugar: os Rosado e o País de Mossoró” (2001), de José
Lacerda Alves Felipe.

A partir dos anos de 1990, a pro-


dução historiográfica sobre temas da His-
tória do Rio Grande do Norte cresce com
a renovação do quadro docente do De-
partamento de História do Campus Cen-
tral e do Campus de Caicó da UFRN, por
meio da realização de concursos públicos
que evidenciaram a importância da titu-
lação dos concorrentes e sua produção
científica. Vejamos, na Tabela 2, um es-
quema dessas novas pesquisas feitas por
professores universitários da UFRN:
Figura 10 - “O Sindicato do Garrancho”
(capa)

e-Tec Brasil 14 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


Tabela 2
Dissertações e teses com temáticas ligadas à história potiguar

Tema Autor IES Ano


Populismo no RN com
Henrique Alonso Pereira* UFPE 1996
Aluízio Alves

Região e regionalismo Muirakytan K. de


UFRN 1998
seridoense Macêdo*

Missões religiosas no Rio


Fátima Martins Lopes* UFPE 1999
Grande

Almir de Carvalho
Republicanismo no RN UFPE 1999
Bueno**

Jesuítas na Capitania do Maria Emília Monteiro


USAL 1999
Rio Grande Porto**

Maria da Conceição G.
A morte no Seridó colonial UFRN 2000
Coelho*

Carnaval e 2ª Guerra em
Flávia de Sá Pedreira** UNICAMP 2004
Natal

Diretório Pombalino no
Fátima Martins Lopes** UFPE 2005
Rio Grande

Família e cabedal no Muirakytan K. de Ma-


UFRN 2007
Seridó colonial cêdo**

Como já observado para as pesquisas anteriores, nem sempre a de-


fesa das dissertações de mestrado e teses de doutorado em seus respectivos
programas de pós-graduação corresponde à
disseminação dos conhecimentos produzidos.
Assim, da tabela anterior, apenas quatro tra-
balhos se transformaram em livros: “Visões
de República: idéias e práticas políticas no
Rio Grande do Norte (1880-1895)” (2002),
de Almir de Carvalho Bueno; “Índios, colonos
e missionários na colonização da Capitania
do Rio Grande do Norte” (2003), de Fátima
Martins Lopes; “A penúltima versão do Seri-
dó: uma história do regionalismo seridoense”
(2005), de Muirakytan Kennedy de Macêdo;
Figura 11 - “Chiclete eu misturo e “Chiclete eu misturo com banana: carnaval
com banana” (capa)
e cotidiano de guerra em Natal (1920-1945)”
(2005), de Flávia de Sá Pedreira.

Uma importante contribuição dos historiadores acadêmicos, tam-

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 15 e-Tec Brasil


bém, foi a produção de recentes sínteses da história do Rio Grande do Norte,
publicadas entre o final dos anos de 1990 e meados da década seguinte. Os
historiadores Luiz Eduardo Brandão Suassuna e Marlene da Silva Mariz publi-
caram, nessa linha: “História do Rio Grande do Norte colonial – 1597/1822
(1997); “História do Rio Grande do Norte Império e República – 1822/1934”
(1999); “História do Rio Grande do Norte
contemporâneo – 1934/1990” (2001); e
“História do Rio Grande do Norte” (2002;
2ª ed. 2005), que reúne o conteúdo dos
três livros anteriores.

Denise Mattos Monteiro, com a


mesma preocupação, publicou “Introdução
à História do Rio Grande do Norte” (2000),
que já segue em 3ª edição, revista e amplia-
da, incorporando o processo político pelo
qual passou o Rio Grande do Norte até o
final da década de 1940. Livro homônimo
foi publicado em 2007, pelo cientista social Figura 12 - “História do Rio Grande do
Norte Império e República” (capa)
Sérgio Luiz Bezerra Trindade, que o acres-
ceu de questões discursivas e objetivas (extraídas de provas de vestibular)
sobre a história potiguar. O que podemos observar, nos livros acima men-
cionados, é a tentativa de, além de sintetizar a história norte-rio-grandense,
transformar o seu conteúdo e adaptá-lo para
o conhecimento do grande público, sobretudo
dos estudantes.

Uma coletânea recente, publicada em 2009,


conjugou os esforços de pesquisa em história
do Rio Grande do Norte de professores e ex-
alunos de pós-graduação da UFRN. Estamos
falando do livro “Revisitando a História do Rio
Grande do Norte”, organizado pelo historiador
Almir de Carvalho Bueno e que se propõe a ser
um canal de divulgação das pesquisas mais re-
Figura 13 - “Introdução à História centes desenvolvidas sobre temas da história
do Rio Grande do Norte” (capa)
norte-rio-grandense. Historiadores, sociólogos,
geógrafos e educadores escrevem os doze capítulos desta importante obra,
que tratam do Rio Grande do Norte como um todo, mas, também, de rea-
lidades espaciais específicas, como o Seridó e Mossoró. Do ponto de vista

e-Tec Brasil 16 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


cronológico, dois textos abordam o período colonial, três sobre o século XIX
e o restante avança pelo século XX.

É importante lembrar que uma fonte de renovação de estudos sobre


a história do Rio Grande do Norte tem sido o Programa de Pós-Graduação Conhecendo Mais
em História (PPGH) da UFRN. Criado em 2004, foi reconhecido e credencia- Para fazer download das disserta-
do no mesmo ano como Mestrado Acadê- ções de mestrado defendidas no
PPGH-UFRN, vá ao site da Bibliote-
mico, tendo sido implantada a sua primeira ca Central Zila Mamede, clicando
no endereço www.bczm.ufrn.br.
turma no ano de 2005. Depois, clique em “Biblioteca Digi-
tal de Teses e Dissertações”. No link
“Busca” você poderá buscar as dis-
Dos dez alunos que defenderam sertações pelo nome do autor, títu-
suas dissertações de mestrado em 2007, lo ou mesmo acessando a pasta de
trabalho do PPGH-UFRN. Os arquivos
seis abordaram temáticas ligadas à história estão em formato PDF.
potiguar: “Ocidentalização, territórios e po-
pulações indígenas no sertão da Capitania
do Rio Grande”, de Helder Alexandre Me-
deiros de Macedo; “Caicó-RN: uma cidade
entre a recusa e a sedução (1926-1936)”,
de Juciene Batista Félix Andrade; “Abrin-
Figura 14 - “Revisitando a História do
do espaços: os paulistas na formação da
Rio Grande do Norte” (capa)
Capitania do Rio Grande”, de Mirian Silva
de Jesus; “A participação feminina no Movimento Estudantil Secundarista
como espaço de luta política no Rio Grande do Norte (década de 1980)”, de
Adriana Cristina da Silva Patrício; “Coleção Mossoroense e a construção dos
mitos: Dix-Sept Rosado”, de Alessandro Teixeira Nóbrega; e “Ser(tão) Seridó
em suas cartografias espaciais”, de Olívia Morais de Medeiros Neta.

Exercícios
Nos quadros abaixo, cite características e dois autores e obras da
historiografia clássica, historiografia revisionista e historiografia acadêmica
do Rio Grande do Norte.

Historiografia Clássica

Características Autores e Obras

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 17 e-Tec Brasil


Historiografia Revisionista

Características Autores e Obras

Historiografia Acadêmica

Características Autores e Obras

Atividades
A sua cidade ou região teve (ou tem) algum historiador que publicou
livros sobre a história local ou regional? Faça uma pesquisa sobre ele, procu-
rando saber dados de sua vida e sua(s) obra(s) publicada(s).

Resumindo
Nesta aula, você estudou que, para podermos compreender melhor
a história norte-rio-grandense, é necessário, antes de tudo, conhecer quem
foram as pessoas que escreveram a sua história e a quais momentos históri-
cos estavam ligadas.

Viu, ainda, que esses momentos podem ser representados pela his-
toriografia clássica, pela historiografia revisionista e pela historiografia aca-
dêmica. Os historiadores de cada um desses momentos históricos produzi-
ram diferentes “versões” da história norte-rio-grandense, contribuindo para
que nós, do presente, conheçamos melhor o passado do nosso estado.

Auto-avaliação
Em seu caderno, faça um comentário sobre a importância de se co-
nhecer a historiografia norte-rio-grandense em seus diferentes momentos
históricos.

e-Tec Brasil 18 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


Espaço do aluno
O que você gostaria de ter visto nessa primeira aula que não foi abor-
dado?

Para Consulta:
Historiografia Particularidades Principais Autores
- Historiadores sem formação
específica, ligados ao IHGRN
- Tentativa de sistematizar o proces-
so de ocupação e povoamento do
Tavares de Lira, Rocha Pombo,
Clássica RN, por meio de “histórias-síntese”
Câmara Cascudo
- História político-administrativa,
composta de fatos enobrecedores e
heróis ligados às elites

- Historiadores sem formação


específica, ligados ao IHGRN
- Procuravam revisar o conteúdo
produzido pelos historiadores que Tarcísio Medeiros, Olavo de Medei-
Revisionista
os precederam, apontando novos ros Filho
caminhos
- História temática

- Historiadores com formação


específica na área de História e/ou
Ciências Humanas
- Produção de trabalhos acadêmicos Denise Mattos Monteiro, Marlene da
Acadêmica com rigor científico sobre novos Silva Mariz, Muirakytan Kennedy de
temas, problematizados e discutidos Macêdo e Almir de Carvalho Bueno
a partir de novas abordagens
- História temática

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 19 e-Tec Brasil


Referências
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e-Tec Brasil 20 Curso Técnico Nível Médio Subsequente


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Créditos das ilustrações
Figura 1. Mapa Político-Administrativo do Rio Grande do Norte. Fonte: Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN – IDEMA. Disponível em: <http://
www.idema.rn.gov.br> . Acesso: 25 mar 2010.
Figura 02. Sede atual do IHGRN, no bairro de Cidade Alta, em Natal-RN. Crédito: Alex
Gurgel (2007). Fonte: Blog Grande Ponto. Disponível em: <http://grandeponto.blogspot.
com>. Acesso: 25 mar 2010.
Figura 3. Augusto Tavares de Lira. Fonte: Blog de Manoel Maurício Freire de Macedo.
Disponível em <http://manoelmauriciofreire.blogspot.com/2009>. Acesso: 25 mar 2010
Figura 4. Câmara Cascudo. Crédito: Carlos Lyra. Fonte: Memória Viva de Câmara Cascudo.
Disponível em:
<http://www.memoriaviva.com.br/cascudo/index2.htm>. Acesso: 25 mar 2010
Figura 5. Tarcisio Medeiros. Disponível em:
<http://nataldeontem.blogspot.com/2009/06/prof-tarcisio-medeiros.html>. Acesso: 25
mar 2010
Figura 6. Olavo de Medeiros Filho. Disponível em:
<http://www.cbg.org.br/extitulares_28_1.html>. Acesso: 25 mar 2010

Rio Grande do Norte: História e Historiografia 21 e-Tec Brasil

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