A Mente, A Metáfora e A Saúde

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A mente, a metáfora e a saúde

Escrito por:
James Lawley
Penny Tompkins
Publicado em:
sex, 09/04/2010

Este artigo explica porque a metáfora é um caminho natural para descrever a doença e a
saúde, a importância do reconhecimento das metáforas do paciente/cliente e como
trabalhar por dentro dessas metáforas pode ativar o processo de cura pessoal de um
indivíduo.

O uso de metáforas e de símbolos no processo de cura data de milhares de anos. Nos dias
de hoje, médicos praticantes treinados tradicionalmente fazem uso da metáfora e de
imagens em pacientes com câncer e outras doenças. Um novo processo, a Modelagem
Simbólica, explicado em detalhes em nosso livro, "Metaphors in Mind: Transformation
through Symbolic Modelling", segue essa tradição.

As metáforas definem a realidade

Por longo tempo, as metáforas foram vistas como "meramente figurativas" e consideradas
uma maneira inadequada de descrever experiências. Hoje, muitos cientistas cognitivos,
linguistas e filósofos reconhecem que "Em todos os aspectos da vida... nós definimos a
nossa realidade em termos de metáforas. Nós fazemos inferências, estabelecemos metas,
nos comprometemos e executamos planos, tudo na base de como nós estruturamos em
parte a nossa experiência, consciente ou inconscientemente, por meio da metáfora." E
como muitos profissionais da área da saúde descobriram, as metáforas podem
desempenhar um papel vital no processo de cura.

Uma montanha árida com neve no topo

Uma dermatologista que faz uso da Modelagem Simbólica, Dra. Justina Cladatus, relata:
"Um dos meus pacientes tinha problema de alopecia areata (calvície irregular). A
sua metáfora inicial para o sintoma era de uma montanha árida com neve no topo.
Conforme o processo se desenvolvia, ele se descobriu atado a uma parede com uma corda
marrom escuro num quarto escuro e cinzento com apenas uma pequena janela trancada.
Sua metáfora foi evoluindo até ele estar de pé ao lado de um poço branco num bonito vale
cheio de flores amarelas e uma vegetação verde. O poço era uma fonte de água fresca.
Durante esse tempo, a neve derreteu, e a montanha se tornou uma pequena colina com
árvores crescendo nela. E o seu cabelo começou a crescer de novo."

Coelhinhos e cenouras de câncer

Peter Hettel foi diagnosticado com câncer de sínus. Após a cirurgia, seu câncer retornou, e
aí ele começou a trabalhar com imagens e símbolos. Peter descobriu que suas células
imunológicas eram como "coelhinhos se banqueteando nos campos de cenouras/câncer
cor de laranja, as quais aumentavam sua energia e apetite sexual, e por isso eles faziam
sexo e surgiam mais coelhinhos que também ficavam esfomeados e comiam mais". Uma
manhã, ele percebeu, com surpresa, que ele não conseguia encontrar cenouras suficientes
para todos os seus coelhos! Umas semanas depois ele literalmente cuspiu fora o seu tumor.
Seu médico disse "Era como se seu corpo tivesse rejeitado um objeto estranho, como uma
rejeição de transplante, como que expelida pelo seu corpo. Eu não tenho explicações para
isso".
Metáfora em consultas de saúde

Os pacientes, muitas vezes, usam a metáfora espontaneamente na conversa para


descrever seus sintomas. Um médico declara: "Meus pacientes, classicamente, descrevem
as dores com metáforas com algo nodoso, apertando ou queimando. Eu descobri que os
pacientes com câncer usam particularmente metáforas vívidas: ‘isso está me corroendo’ ou
‘eu estou com medo que isso se espalhe rapidamente’."

Um recente estudo das expressões metafóricas usadas por médicos e pacientes, concluiu
que: "Se na verdade as metáforas são a personificação da experiência, em vez de, ou bem
como, analogias superficiais em prol da lucidez, a compreensão da metáfora é tão
importante para os médicos como é a compreensão das crenças de saúde do paciente".
Depois de registrar 373 consultas de 39 clínicos gerais, o estudo descobriu que isso pode
ser verdade embora "não existam diferenças significativas entre os médicos e o uso que
eles fazem de metáforas particulares... existem algumas claras distinções entre as
metáforas dos médicos e dos pacientes". Os médicos tendem a usar metáforas que
assumem que o corpo é uma máquina (o trato urinário é o "sistema hidráulico", os corpos
podem ser ’reparados’, as juntas sofrem ‘desgaste’); as doenças são quebra cabeças
(sintomas são ‘pistas’ para os ‘problemas’ que têm que ser ‘solucionados’) e o médico é um
controlador (eles ‘administram’ a medicação para ‘controlar’ os sintomas e ‘comandar’ a
doença).

As metáforas dos pacientes, por outro lado, eram mais vívidas, expressivas e
idiossincrasicas (é "como se o Satanás tivesse entrado nela", "eu sou o homem feito de
algodão", "é como uma lanterna chinesa", "é como se isso ficasse cada vez mais apertado",
"é como se eu tivesse levado uma surra no corpo"). Mesmo quando os médicos e os
pacientes usam as mesmas palavras (como ‘tensão’, ‘relaxamento’, ‘nervos’), os médicos
tendem a usá-las literalmente enquanto os pacientes as usam metaforicamente. Os
pacientes usam metáforas como ‘pesado’, ‘penetrante’ e ‘afiado’ para descrever dores e
sofrimentos, mas essas palavras nunca foram usadas pelos médicos que tomaram parte
nesse estudo.

Além de serem poucas as metáforas usadas igualmente pelos médicos e pacientes –


doença é um ataque (coração, asma e ‘ataques’ de pânico, ‘luta’ contra a infecção) e
doença é ardência, fogo (a dor que ‘queima’, estado ‘inflamatório’, sintomas ‘explodindo’) –
podemos concluir que médicos e seus pacientes falam línguas diferentes. Não é de admirar
que tantos pacientes ressintam-se de não serem ouvidos, e que ocorram erros de
comunicação. Um relatório do Institute of Medicine sobre erros médicos estima que nos
Estados Unidos "morrem entre 44 e 98 mil pacientes hospitalares a cada dia por erros
médicos evitáveis... que morrem mais pessoas por dia por causa dos erros do que de
câncer de mama ou de acidentes de trânsito; mais da metade dessas mortes são evitáveis...
Erros resultam de percalços na prescrição, lacunas na comunicação e de um quadro de
funcionários distraídos."

Se os profissionais da saúde fossem treinados para reconhecer as metáforas dos


pacientes, para aceitá-las como uma descrição acurada da doença e estivessem atentos
ao seu próprio uso das metáforas, então aquelas "lacunas na comunicação" poderiam ser
consideravelmente reduzidas. Como diz Margaret Lock em "Uncommon Wisdom" : "No
processo de cura, a parte mais importante da comunicação ocorre a nível metafórico. Por
essa razão você tem que ter metáforas em comum".

Descrição do sintoma
O estudo do The British Journal of General Practice mostra com que frequência os
pacientes usaram espontaneamente metáforas para descrever seus sintomas (foram
identificadas 965 metáforas diferentes). Algumas vezes, entretanto, eles precisam ser
incitados a usarem tal linguagem. Durante um curso de Linguagem Saudável para um
grupo de enfermeiras especialistas em Esclerose Múltipla, nos disseram que os pacientes
delas tinham, muitas vezes, dificuldades para descrever a natureza bizarra dos seus
sintomas. Nós sugerimos que elas perguntassem a eles: "Quando é difícil descrever os
seus sintomas, com o que estes sintomas se parecem?" Essa pergunta reconhece a
dificuldade do paciente, e depois os incita para usarem as metáforas para descrever as
qualidades e características da experiência subjetiva da doença deles.

Quando as enfermeiras fizeram essa pergunta, elas obtiveram respostas como "É como
formigas correndo pelo corpo todo" e "É como queijo enrolado como arame em volta das
minhas pernas". Perguntas adicionais, como "E tem mais alguma coisa sobre isto
(a metáfora do paciente)?" ou "E qual é o tipo disso (a metáfora do paciente)?", encorajam
os pacientes a descreverem suas estranhas sensações em mais detalhes. As enfermeiras
ficaram surpresas da forma com que os pacientes se sentiram aliviados quando puderam
explicar seus sintomas dessa maneira. Alguns pacientes disseram que era a primeira vez
que sentiam que alguém tinha realmente entendido como era experimentar a doença deles.

Modelagem Simbólica

Os clientes, além de usarem metáforas para descrever os sintomas, podem se beneficiar


se tiverem suas metáforas de doenças eliciadas, desenvolvidas e expandidas para se
tornarem metáforas de saúde. Hejmadi e Lyall sustentam que o uso da metáfora autógena
(autogerada) pode ser particularmente útil nas "doenças funcionais ou relacionadas com o
estresse, aquelas nas quais nenhum micro-organismo específico foi identificado como a
origem do problema fisiológico. Essa categoria de disfunção inclui os problemas de saúde
mais catastróficos como doenças cardiovasculares, algumas formas de câncer e as
chamadas doenças autoimunes, bem como aquelas menos catastróficas, como úlceras
gástricas, muitas condições alérgicas, síndrome da dor mionevrálgica, enxaqueca e TPM.
É estimado que entre 50 a 80 por cento de todas as doenças físicas que exigem atenção
médica estejam relacionadas com o estresse ou funcionais por natureza".

Quando desenvolvemos metáforas para cura geradas pelos clientes, nós descobrimos que
é particularmente importante usar a ‘linguagem limpa’. Isso significa que nós não
‘contaminamos’ a experiência do cliente com nossas preferências pessoais para certos
tipos de metáforas ou figuras de retórica. A Modelagem Simbólica foi expressamente
desenhada para funcionar dessa maneira.

Existem três características que distinguem a Modelagem Simbólica dos outros processos
que usam metáforas e visualização. A primeira é a sua dependência no cliente, e apenas
no cliente, para identificar e expandir suas próprias metáforas para a doença e a saúde.
Segundo, é a maneira particular de fazer perguntas sobre suas metáforas. Isso é chamado
de Linguagem Limpa e começou com David Grove. E terceiro, enquanto as metáforas são
comumente expressas como imagens, a Modelagem Simbólica também faz uso das
sensações, gestos, sons, desenhos, objetos físicos, etc.

Através da Modelagem Simbólica, o conflito, o desequilíbrio ou a doença inerente


à metáfora do cliente encontra a sua solução de maneira inesperada e orgânica. Quando
isso acontece, o indivíduo normalmente experimenta uma mudança correspondente nos
seus sintomas; algumas vezes, imediatamente, e algumas vezes, nos dias seguintes ou
semanas. Aqui está um exemplo.
Um estudo de caso: de uma cruz a um salgueiro

Este conto foi escrito por uma participante de um workshop que usou uma combinação
da Modelagem Simbólicae de Pilates para trabalhar os sintomas físicos dos participantes.

"Eu tinha uma dor no alto das minhas costas que havia começado um ano antes de eu
terminar de escrever o meu livro. Eu só queria terminar o livro e por isso eu usei toda minha
vontade para continuar trabalhando, apesar da dor nas costas estar piorando."

A primeira pergunta da Linguagem Limpa que me fizeram foi: "E o que você gostaria que
acontecesse?" Eu respondi que queria me livrar dessa maldita dor porque assim podia
voltar a usar a minha bolsa a tiracolo. Eles fizeram perguntas que me ajudaram a esclarecer
meus sintomas, e depois me perguntaram: "E com o que se parece esta dor nas costas que
aperta, que molesta e é abrasiva?" Eu respondi: "É como se eu tivesse uma cruz dentro do
meu corpo. A minha espinha dorsal é a parte longa da cruz, e a barra da cruz passa pelos
meus ombros". Ao descrever essa metáfora, as palavras, as figuras e os movimentos
vieram naturalmente, espontaneamente para mim. Ao me tornar envolvida com a
minha metáfora, eu percebi: "O problema não é a cruz, mas a barra da cruz que está
aparafusada com quatro grandes parafusos de metal. Não há flexibilidade sob qualquer
condição. Cada vez que eu me movimento, todos os parafusos são pressionados e me
machucam". Nesse ponto os símbolos pararam de ser simbólicos – eles assumiram a minha
realidade! (Figura 1)

P: Que tipo de cruz é esta cruz dentro do seu corpo?

Eu: É uma cruz de madeira.

E existe alguma coisa a mais sobre esses quatro parafusos grandes de


P:
metal?

Eu: Eles se recusam a se mover.

E quando existe uma cruz de madeira e quatro parafusos grandes de


P: metal que se recusam a se mover, o que esta cruz gostaria que
acontecesse?

Eu: Ela precisa concordar em ser flexível além de conectada à terra.

P: E ela é capaz de concordar em ser flexível além de conectada á terra?


Eu: Não, os parafusos não permitem.

E o que os parafusos gostariam que acontecesse quando eles não


P:
permitem?

Eu: Eles precisam de cor e de suporte antes de poderem se soltar.

Depois de mais perguntas, e mais insights, me pediram para desenhar a figura da


minha metáfora, e usar um dicionário para consultar algumas das palavras que eu tinha
usado (por exemplo, cruz, recusa, parafuso). Quando eu considerei a palavra "recusa" (em
inglês é re-fuse, onde fuse significa fusível. NT), percebi que ela tinha uma conotação
elétrica, e um grande número de arames elétricos multicoloridos apareceram de repente
entre os quatro grandes parafusos. Eu acrescentei essa nova imagem ao meu desenho.
(Figura 2) Depois fiz alguns exercícios de Pilates, focando minha atenção na
minha metáfora durante todo o tempo.

No dia seguinte, mais perguntas da Linguagem Limpa foram feitas, o que resultou num
maior desenvolvimento da metáfora, até que, em algum momento, eu me curvei para frente,
sentado na minha cadeira. Quando eu voltei a me sentar direito, aconteceu algo muito
surpreendente. Eu podia sentir os parafusos da cruz se soltando. Isso fazia um som como
‘ping-ping-ping’ e eu só sentado, consciente de que, naquele momento, a mudança estava
acontecendo. Quando o ‘ping-ping’ parou, a dor nas minhas costas tinha sumido. Eu pensei
que nós tínhamos terminado. Mas ainda bem que as perguntas continuaram, porque elas
me ajudaram a tomar consciência dos efeitos da mudança. A barra da cruz estava agora
atada por atilhos de borracha, envolvendo-a por todos os ângulos. Isso significava que
quando eu me mexia, a barra da cruz estava flexível e podia se mover comigo. (Figura 3)
E quando os atilhos de borracha estão enrolados em todos os ângulos, o
P:
que acontece com a cruz?

Eu: Ela está ficando pesada na base.

P: E quando ela fica pesada na base, o que acontece?

Eu: Ela está criando raízes.

P: E quando ela está criando raízes, o que acontece?

Eu: Galhos para todos os lados estão começando a brotar no topo.

Isso continuou até que eu tive a total compreensão da transformação da minha cruz num
salgueiro-chorão, com arames elétricos trançados pelo tronco – flexível, estável, com
elegância e forte. Cada pergunta aumentava a minha consciência material dessa mudança.
(Figura 4).
Desde esse workshop, eu tive algumas pontadas nas costas, mas elas desapareceram
quando eu foquei a minha atenção na minha árvore tipo salgueiro e fiz os meus exercícios
de Pilates. Sim, eu carrego uma bolsa a tiracolo, e maravilha das maravilhas, posso até
usar mochila!

Para concluir

Metáforas e símbolos são uma maneira natural de descrever sintomas e saúde. Há um


grande benefício para os profissionais que cuidam da saúde aprenderem como reconhecer
as metáforas que as pessoas usam, como trabalhar dentro dessas metáforas e como fazer
isso pode influenciar a cura e o bem-estar.

Metáforas usadas pelos pacientes e clientes podem ser idiossincrásicas, mas não são
aleatórias. Elas contêm uma organização que representa o sistema mente/corpo que as
produziu. Por meio da identificação, do desenvolvimento e da evolução das metáforas
geradas pelo cliente com perguntas da Modelagem Simbólica e da Linguagem Limpa, a
informação é gerada e a cura orgânica pode acontecer.

Não importa que tipo de trabalhador da saúde você é – clínico geral, consultor, aquele que
trabalha no corpo físico, espiritual ou energético, psicoterapeuta ou practitioner de medicina
complementar – seus clientes e pacientes irão usar metáforas e símbolos para descrever a
experiência subjetiva deles. Nós encorajamos que você os ouça e faça perguntas claras
sobre essas metáforas e símbolos. Depois, simplesmente note os resultados.

James Lawley e Penny Tompkins são psicoterapeutas registrados na Grã Bretanha pela
United Kingdom Council for Psychotherapy (UKCP). Eles moram em Londres e ensinam no
mundo inteiro. São os autores de Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic
Modelling. Podem ser contatados na The Developing Company no
site www.cleanlanguage.co.uk

Esse artigo está publicado sob o título "The Mind, Metaphor and Health" no
site www.cleanlanguage.co.uk

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.


Categoria:

 Artigos de PNL para Saúde e Cura


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