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Narrativa da relação estudante-paciente
Nome: Daniela Silveira Barbosa
As experiências de um estudante de medicina, em seus primeiros
contatos com o hospital, sempre resulta em memórias marcantes para o acadêmico. Isso acontece pois, nesses primeiros contatos, ainda há a inexperiência, o medo do desconhecido e da aplicação prática de conhecimentos que até então só estavam na teoria. Comigo não aconteceu de forma diferente, e lembro-me até hoje de alguns fatos que me marcaram na matéria de semiologia 1, que foi a primeira matéria na qual eu e minha turma tivemos contato com a prática hospitalar. No dia que antecedeu o primeiro dia de prática inclusive, me lembro o quão tensa a turma estava. Vários foram os relatos de colegas que não conseguiram dormir na noite anterior, simplesmente pela expectativa e pelo medo do desconhecido. Dessa maneira, acredito que todos foram bastante marcados ao realizar sua primeira anamnese. O primeiro paciente que eu e minha dupla atendemos foi bem receptivo. Estava colaborativo e seu humor nos ajudou a aliviar a tensão. Só que já no primeiro dia pudemos perceber o quão difícil é conseguir captar, interpretar e escrever toda a história de um paciente no papel, de acordo com a cronologia correta e com o foco nos devidos fatos que eram necessários ao relato. Muitas das vezes a não compreensão da fala do paciente e o fato de pedi-lo para repetir a informação já o deixava com uma certa impaciência e eu me sentia bastante aflita em alguns momentos por não saber mais como perguntar. Desse modo, nessa primeira entrevista clínica já pudemos perceber que há uma dificuldade de interpretação da fala de muitos dos pacientes, que necessitava de ser cada vez mais de ser trabalhada, uma vez que a entrevista clínica se constitui como um importantíssimo instrumento para a prática médica. Outra experiência que me marcou bastante foi a anamnese realizada com uma paciente que nos relatou que tinha sido recentemente diagnosticada com um câncer no colo do útero. Ao entrar na sala, que diferentemente de uma enfermaria (onde ocorrem a maioria das práticas) tinha a característica de ser mais exclusiva, já pude perceber a tensão da paciente. Ela nos relatava a sua história com certo receio, por se tratar de uma história de conteúdos íntimos (como a ocorrência da dor sentida na realização do ato sexual) e ao mesmo tempo com muita preocupação no olhar. Determinado momento da anamnese a paciente começou a chorar, então eu percebi o quão difícil é agir em determinadas situações delicadas, como na ocorrência de doenças graves, crônicas e temidas na população em geral, que era o caso da paciente. De repente, o choro da paciente se tornou em risada, no momento em que eu e minha dupla perguntamos a ela se ela tinha nascido de parto natural ou de cesariana. Ela cessou seu choro e falou “cês são engraçadas”, pois para ela a pergunta não era muito comum. Assim, esse também foi um clássico exemplo de diversas situações ocorridas com estudantes de medicina, que precisam aprender a fazer perguntas não habituais, que podem causar estranhamento ou desconforto ao paciente e certa intimidação a estudantes. Essa também é uma das habilidades que deve ser desenvolvidas na relação entre estudantes e pacientes, pois na profissão médica há muitas situações em que se é necessário realizar perguntas e testes que necessitam de habilidades para a não demonstração de constrangimento por parte do profissional médico. Essas foram algumas das experiências que me marcaram bastante e que me fizeram vivenciar alguns sentimentos sobre os quais pude refletir acerca das dificuldades e emoções encontradas na relação entre estudantes e pacientes. Mas, a construção do conhecimento envolve situações em que se faz necessário adaptar nossas ações e moldar nossas concepções. Só assim conseguimos aprimorar as relações humanas, tendo em mente que esse aperfeiçoamento deve ser constante, desde as primeiras práticas no hospital até a prática médica em si. Dessa maneira é preciso se ter sempre em mente que estudo do ser humano não se trata de uma ciência exata, e sim de uma ciência com a aprendizagem sobre um ser biopsicossocial, que é por sua essência complexo, variável e inconstante.