Aula 04 - Rumo A Uma Ciência Da Arte PDF
Aula 04 - Rumo A Uma Ciência Da Arte PDF
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RONALDO BISPO
Resumo O objetivo deste artigo é apresentar e discutir hipóteses de trabalho para o proble-
ma das relações entre arte, cérebro, percepção e prazer estético avançadas no contexto
de dois volumes do periódico Journal of Consciousness Studies, bem como no contexto
do projeto de pesquisa de doutoramento realizado pelo autor. Pensar, principalmente
dos pontos de vista neurofisiológico, biológico e evolutivo, o que predispõe um ser hu-
mano positiva ou negativamente para alguns objetos estéticos. Parte-se da hipótese de
que a experiência sensível, internalizada na evolução filo e ontogenética da espécie,
dotou-nos de dispositivos (olhos, neurônios etc) e modos de funcionamento orgânicos
(processamento paralelo da percepção visual etc) determinantes do caráter límbico de
nossas elaborações diante de sistemas estéticos.
Palavras-chave arte, mente, cérebro, cognição, consciência, experiência estética, prazer es-
tético, evolução, neurofisiologia
Abstract Article’s goal is show and discuss some work hypothesis to the problem of the
relation between art, brain, perception and esthetic pleasure advanced in the context
of two volumes of the Journal of Conciousness Studies, as well in the context of the
author’s doctorate research project. Think, mainly from evolutive, biological and
neurophisiological points of view, what predispose a human being positively or
negatively to some esthetic objects. Depart from the hypothesis that sensitive expe-
rience, embodied during the filo and ontogenetic evolution of the specie, give us some
devices (eyes, neurons etc) and organic ways of functioning (visual parallel distributed
process etc) crucial to the limbic feature of our reactions in front of esthetic systems.
Key words art, mind, brain, cognition, consciousness, esthetic experience, esthetic pleasure,
evolution, neurophisiology
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O objetivo deste artigo é divulgar e comentar brevemente um certo conjunto
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de idéias discutidas no periódico Journal of Consciousness Studies: controversies
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in science & the humanities dedicado à recente investigação científica da relação
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entre arte e cérebro, superando a lacuna que separa as ciências e as humanidades.
BISPO
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Esse é um primeiro passo no sentido de erigir uma ciência da arte no contexto dos
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estudos sobre consciência através dos instrumentais da psicologia cognitivo-
RONALDO
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evolutiva, das teorias da percepção, da neurofisiologia, da biologia e mesmo da
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antropologia.
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Partindo da distinção clássica, a arte seria um problema das humanidades e o
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cérebro, um problema das ciências. A experiência estética seria um subconjunto da
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consciência. Na perspectiva aberta por essa novo programa de investigação, a per-
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cepção e a criação artísticas são agora compreendidas a partir das características e
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necessidades do corpo que as produzem. A idéia geral é que não só quanto a arte,
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mas também quanto à moral e à religiosidade, bem como quanto a outras proprie-
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dades humanas, o que essa nova linha de pesquisa tenta é aproximar e/ou traduzir
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o lógico-discursivo-verbal próprio das humanidades, em observação e experiência
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laboratoriais próprias das ciências. Em outras palavras, buscam-se os correlatos
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materiais para conceitos como prazer, emoção, experiência estética, vontade, liber-
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dade, consciência entre outros.
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Segundo Ramachandran e William Hirstein, existe uma base comum a toda ex-
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periência estética humana mais ou menos independente de influências culturais.
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Eles sugerem que certas configurações visuais são mais eficientes na ativação do
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sistema límbico do fruidor e assim o são função das características do aparelho
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Qualquer teoria da arte (ou, mesmo, qualquer aspecto da natureza humana) deve ter
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idealmente três componentes. (a) a lógica da arte: se existem regras ou princípios universais; (b) a
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razão evolutiva: por que essas regras evoluíram e por que elas têm a forma que elas têm; (c) qual
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recem recair em oito leis válidas para toda experiência artística. São elas: 1 - peak
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galáxia
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RUMO
ção de um problema perceptual assegura que o sistema visual ‘lutará’ por uma so-
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lução e não desistirá facilmente diante de uma imagem confusa; 6 - lógica Bayesian
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distintos permite que você ligue e reúna esses episódios para criar uma categoria
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super-ordenada simples.
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car, em algumas formas visuais, características que, ao serem percebidas por um ser
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tético de tal modo que o cruzamento dos dois sistemas (através da percepção) pos-
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Nesse sentido, dois níveis explicativos são utilizados quase sempre em conjun-
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foi gratificado, a fim de garantir nossa permanência. E, nesse ponto, seria preciso
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refletir um pouco mais sobre a passagem entre uma estratégia cerebral de sobrevi-
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vência básica — reconhecimento rápido de alimento, ameaça, acasalamento — e
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sua intensificação no processo de percepção estética. Os autores parecem pressu-
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por que àquilo que torna mais fácil ou resolve um problema básico da existência,
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agrega-se algum tipo de prazer que parece querer ser reforçado e ansiosamente
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buscado através dos mesmos artifícios intensificados nas elaborações artísticas. Es-
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tando correta essa consequência, seria preciso apenas realçar o papel do prazer (ou
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da recompensa, gratificação, vantagem) nessa emergência evolutiva.
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Uma explicação mais especificamente neurofisiológica estaria presente, por
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exemplo, no caso da lei de extração de contrastes. Existem contrastes no mundo
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que são percebidos graças a células especializadas no cérebro animal. O reconheci-
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mento de contrastes é reforçado pelo organismo, visto que é fundamental para sua
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sobrevivência. A ativação de tais células ativa igualmente o sistema límbico. Ou:
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A idéia principal, então, é a seguinte: dado os limitados recursos de atenção no cérebro e o
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limitado espaço neural para representações em competição, em todo estágio em processo é gera-
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do um sinal do tipo “olhe aqui, existe uma pista para alguma coisa potencialmente como um
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objeto” que produz ativação límbica e atrai sua atenção para a região (ou característica), desse
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modo facilitando o processamento dessas regiões ou características em estágios iniciais. Além dis-
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so, ‘soluções’ parciais ou conjecturas para problemas de percepção são realimentadas desde cada
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nível na hierarquia para cada módulo anterior no sentido de impor uma pequena tendência no
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processamento e a percepção final emerge de tal progressivo ‘bootstrapping’ (Goguen 1999: 23).
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Mesmo reconhecendo as inúmeras limitações das proposições de R&H, é inegá-
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vel sua importância no sentido de estabelecer algumas bases para o início de uma
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Pensar a arte na relação com o cérebro visual através do qual toda arte, seja na
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Zeki1. Zeki se espanta que tanto tenha se falado de arte e tanto tenha se falado do
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cérebro visual e tão pouco sobre o cruzamento dos dois. Avalia que isso ocorre em
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função de conclusões inibidoras para pergunta: “Por que nós vemos afinal?”. É a res-
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posta para essa questão que imediatamente revelaria um paralelo entre as funções
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função global da arte é uma extensão da função do cérebro. Nessa definição estariam
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os germes de uma teoria da arte com fundações biológicas sólidas e que unem as
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galáxia
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1. Esse autor desenvolve detalhadamente a hipótese apresentada nesse artigo em seu livro Inner Vision:
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RUMO
que alcançam apenas o que é necessário para que este identifique as propriedades
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A
seria um processo ativo que depende tanto das operações do cérebro quanto do
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CIÊNCIA
meio ambiente físico, externo; o cérebro deve dispensar muito da informação que
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tos perceptuais paralelos e uma hierarquia temporal na percepção visual. Essas des-
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cobertas levam Zeki a propor que existe também uma modularidade, uma especia-
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lização funcional na estética visual. Quando a área V4, o centro de cor, é danificada,
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a conseqüência é uma inabilidade para ver o mundo a cores. Mas outros atributos
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da cena visual são percebidos normalmente. Quando a área V5, o centro de movi-
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cérebro visual — uma busca por constantes com o objetivo de obter conhecimento
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sobre o mundo — é aplicável com igual vigor a função da arte. Desse modo, ele
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define a função geral da arte como uma pesquisa pelas características constantes,
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sim por diante, que permite-nos não apenas adquirir conhecimento sobre o objeto
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particular, ou rosto ou condição representada sobre uma tela, mas generalizar, ba-
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seado nisto, sobre muitos outros objetos e assim adquirir conhecimento sobre uma
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vasta categoria de objetos ou rostos. Nesse processo, o artista deveria também ser
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seletivo e investir seu trabalho com atributos que são essenciais, descartando mui-
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to do que é supérfluo. Segue-se que uma das funções da arte seria uma extensão
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galáxia
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É por essa razão que eu sustento o ponto de vista não usual que artistas são neurologistas,
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estudando o cérebro com técnicas que são únicas para eles e alcançando interessantes, mas não-
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específicas conclusões sobre a organização do cérebro. Ou, sem dúvida, que eles estão explorando
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n.
suas obras, às vezes, mesmo restringidos inteiramente a um sistema, como em arte cinética. Essas
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conclusões estão na tela e são comunicadas e entendidas através do meio visual, sem a necessida-
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Em resumo, para Zeki, por meio da percepção, desde os primeiros anos da in-
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fância e graças à organização específica do córtex visual, internalizamos imagens e
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formas essenciais do mundo que garantem uma percepção estável em uma realida-
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de em permanente transformação. As conclusões neurológicas dos artistas estão
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em suas telas sem necessidade de palavras. As obras são resultados de uma visão
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interior do que está se passando dentro de seus cérebros, explorando os sistemas
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paralelos de processamento perceptivo.
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De um ponto de vista da semiótica peirceana e um pouco criticamente, poderia
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arriscar dizer que a realidade que construímos é dependente do nosso aparato
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neurofisiológico e este evoluiu na medida da necessidade de expansão da percep-
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ção do mundo ao nosso redor, expansão do Umwelt. A seleção da realidade signifi-
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cativa nos dá um mundo e nos priva de outros. Objetos não têm caráter verdadeiro
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senão na relação com alguém ou alguma coisa. A criação e percepção estéticas
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multiplicam o semioticamente real. Transvalorizam o durável significativo.
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Segundo a perspectiva do físico e cientista cognitivo Erich Harth, nossos cére-
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bros são caracterizados por caminhos sensórios que são altamente reflexivos, per-
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mitindo que centros corticais mais altos controlem padrões de atividade neuronal
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em áreas sensórias periféricas. Essa propriedade é caracterizada como um loop cri-
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ativo no interior do cérebro, envolvendo um bloco de rascunho interno e interações
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recursivas entre símbolos centrais e imagens periféricas. O processo é considerado
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ser o mecanismo fundamental na base de muitas funções cognitivas. Os inícios da
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arte pictórica e da linguagem verbal podem ser entendidos como extensões natu-
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rais desses processos internos preexistentes, tornados possíveis pelo altamente alar-
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tâncias mais centrais. No afã de levar a cabo uma percepção, muitas vezes, com o
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bolos interagem no cérebro humano durante a cognição consciente. Ele sugere que
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galáxia
em arte pictórica e em linguagem verbal esses processos são estendidos além dos
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RUMO
Datam no máximo de 60.000 anos atrás, bem depois, portanto, do último aumento no tamanho
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ferramentas, os mais antigos esforços artísticos são quase certamente o trabalho exclusivo de nossa
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MENTE
própria espécie Homo Sapiens. A explosão artística que começou cerca de 40.000 anos atrás, gros-
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seiramente o tempo da extinção dos Neanderthals, culminou nas pinturas e esculturas magníficas
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que nós encontramos nas cavernas no sudeste da França e Espanha. Nós perguntamos a questão
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no princípio: o que fez seres humanos devotarem tanto tempo, paixão e trabalho nesse esforço?
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cognitiva e evolutiva estaríamos agora em uma boa posição para oferecer uma
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hipótese educada para a questão. Segundo ele, estamos diante do fim do que cha-
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cada vez mais sofisticadas envolve um uso cada vez mais intenso de imaginação
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sofisticada?
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cerebral, Harth explica que nós geralmente podemos diferenciar entre um objeto
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imaginado e uma coisa real, mas podemos também reconhecer uma imagem e
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galáxia
ser humano é capaz de exigir poucos traços, formas, materiais e dimensões em uma
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imagem para associá-la a sua semelhante real. A habilidade para conectar imagens
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gência humana.
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Uma nuvem, fortuitamente formatada como um coelho, projetada sobre a retina de algum
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hominida distante pode ter sido a primeira imagem externa reconhecida. Em outro momento, ele
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ou ela pode ter sido surpreendido(a) pelo que parecia como a imagem de uma cabeça de cavalo
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sobre uma parede de pedra. Essas imagens estavam realmente nas cabeças dos portadores. Ne-
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nhum animal poderia ter visto qualquer coisa nelas. Achar tais imagens externas deve ser a mais
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graduada entre as grandes descobertas humanas (Goguen 1999: 106).
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Segundo Harth, as imagens criadas pela mente e representadas pelo artista nos
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auxiliam no (re)conhecimento da realidade. Voltando ao nosso antigo ancestral que
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viu um coelho em uma nuvem e a cabeça de um cavalo em uma parede de pedra, o
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autor sugere, de um modo não inteiramente claro para mim, que a tênue seme-
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lhança entre a imagem e o símbolo sugere melhora, desenvolvimento. Não haven-
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do muito a fazer com uma nuvem, a pedra, por outro lado, pode ser feita para pa-
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recer mais hípica, cavalar: um simulacro aleatório é modificado em um fac-símile,
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uma coisa feita para parecer com. Colocamos mais imagens no mundo. Percebemos
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imagens do mundo e criamos símbolos para essas coisas no cérebro. É como se en-
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tão víssemos coisas onde elas não estão. Temos uma memória do percebido e en-
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contramos em outras coisas semelhanças com este. Harth propõe, em suma, que a
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linguagem e a expressão artística emergem de modo natural de processos cognitivos
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que são traçados na primitiva evolução primata. Uma característica comum destes
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é a formação de imagens quase-sensoriais, assim chamadas imagens mentais, sob
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controle por estruturas corticais pré-frontais referidas como memória de trabalho.
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Tais imagens são necessariamente fugidias e incompletas. Isto leva a altamente
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realçada habilidade para ‘ver padrões’ em configurações aleatórias que encontra-
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mos no mundo ao nosso redor. A manipulação de tais imagens externas vem com-
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plementar o canal estreito e o caráter efêmero do bloco-de-rascunho-na-cabeça e
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torna-se o início do empreendimento artístico. O desenvolvimento cognitivo parti-
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cular que autor sugere como base tanto para arte pictórica como para linguagem
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Harth parece não explicar muito bem é qual a importância de darmos forma mate-
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rial externa para uma imagem mental que criamos com o auxílio de símbolos inter-
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n.
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nos. Ainda assim, Harth demonstra em sua abordagem mais um modo de compre-
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galáxia
mento cerebral.
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Essas posturas teóricas não deixaram de ser alvo de críticas. Amy Ione, artista e
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teórica da arte, em artigo intitulado, “Connecting the Cerebral Cortex with the
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RUMO
Artist’s Eyes, Mind and Culture” (Goguen, 2000: 21-8), concentra suas críticas a “A
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Ciência da Arte” em três tópicos: (1) a exclusão de estudos neurológicos dos artis-
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A
tas, (2) a exclusão da experiência do artista e (3) as premissas da teoria que, segun-
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UMA
espiritualidade. Com essas avaliações, para as quais não existiriam provas científi-
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CIÊNCIA
ciples as the Basis for Genuine Judgments of Beauty” (Goguen, 2000: 29-36), afir-
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cação de propriedades estéticas no objeto que pode nos ajudar a entender o belo.
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que a percepção do objeto belo ativa no fruidor é que seria a chave para entender
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que constitui uma experiência de beleza. Eles teriam confundido respostas agradá-
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veis de natureza sexual e outros prazeres sensuais com a resposta agradável evocada
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pelo belo.
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Entre os teóricos que propõem outras formas de abordar a relação entre arte e
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manos (Goguen, 2000: 75-86). Segundo ele, as novas tecnologias agora disponíveis,
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que revelam funções cognitivas por meios de imageamento cerebral e outras técni-
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e as artes. Para o autor, esses novos métodos, associados ao nosso entendimento dos
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processos neurais que estão engajados na percepção visual, expandiram nosso co-
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percepção de rostos como ponto de partida de sua pesquisa visto que a percepção
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visual está entre as tarefas perceptuais cognitivas mais bem entendidas e porque,
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no âmbito desta, muitos estudos revelam que existem estruturas cerebrais específi-
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cas e bem localizadas responsáveis exclusivamente no processamento de faces.
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Dito de outro modo, Solso quer saber que regiões do cérebro estão normal-
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mente associadas com percepção facial e em que grau. Além disso, pergunta-se se
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existem outras regiões do cérebro ativadas em experts que podem refletir um
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processamento mais profundo desse tipo de informação facial. Para encontrar res-
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postas para essas questões, a idéia então foi acoplar uma scanner de MRI (Magnetic
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Resonance Imaging) a um artista e a um não-artista, apresentar-lhes figuras geo-
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métricas e depois rostos, e pedir que os mesmos desenhassem o que estavam vendo
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a cada momento, à medida que a máquina mapeava as regiões cerebrais ativas de
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ambos. Um fMRI ou imageamento funcional por ressonância magnética mede as
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mudanças de micro-vasculatura em um tecido cerebral ativo, tal como pode se apre-
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sentar em um sujeito executando uma tarefa cognitiva. Tais observações são medi-
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das secundárias de processamento sináptico ativo.
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O protocolo experimental propõe, portanto, a seguinte sistemática: um artista
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experiente e um outro sujeito não-artista ficam ligados separadamente e por com-
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pleto a um scanner de MRI. Observa-se o que se passa em seus cérebros quando
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vêem e representam rostos humanos e o que se passa em seus cérebros quando
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vêem e representam figuras geométricas. Os gráficos resultantes do imageamento
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cerebral da percepção e reprodução das figuras geométricas são subtraídos dos re-
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sultantes do mesmo processo sobre as faces. Sinais de controle de atividade motora,
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le. Todos os dados são coletados sobre a mesma máquina no mesmo laboratório e
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parietal posterior direita do artista experiente. A região ativada coincidiu com ou-
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maior do que no artista. Para Solso, esses resultados preliminares são de interesse
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galáxia
em dois aspectos: primeiro, eles confirmam que uma área do cérebro frequente-
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mente associada com identificação facial foi ativada especificamente. Isso em con-
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RUMO
mano; segundo, o nível mais baixo de ativação do artista indica que ele pode ser
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A
samento visual, o noviço pode requerer maior envolvimento, sugerindo que ele está
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processando rostos em um nível mais baixo que lida mais com características do
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DA
que com o “significado” por trás da face. Com efeito, o noviço parecia estar “copi-
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MENTE
direita do que o noviço. Essa parte do cérebro é usualmente utilizada para associa-
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ção mais complexa e manipulação de formas visuais. Assim, essas duas principais
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tação de ordem mais alta da face percebida, podendo estar contando com uma
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foi subtraído do outro (o artista). Variações na atividade cerebral, desse modo, po-
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facial. Além disso, as diferenças medidas podem também ser um reflexo do modo
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fMRI devem ser estimulados. No experimento realizado pelo autor, os sujeitos utili-
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zados tiveram de ficar quase que inteiramente estáticos durante a captação mag-
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n.
nética. Segundo Solso, mais estímulos e mais atividades por parte dos sujeitos po-
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modo, a abordagem de Solso é muito reveladora e dá pistas fundamentais para a
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metodologia e fundamentação teórica de uma pesquisa para o estabelecimento de
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uma ciência da arte.
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As tentativas recentes de explicação da inefabilidade estética foi alvo das in-
BISPO
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vestigações do lógico e filósofo belga, Rafael De Clercq (Goguen, 2000: 87-98). De
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Clercq examina como um relato mais satisfatório pode ser desenvolvido, uma vez
RONALDO
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feita uma distinção entre dois tipos de awareness, traduzido aqui como “estar ci-
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ente de”. O autor considera o inefável da percepção estética, aquilo que sentimos,
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mas não conseguimos colocar em palavras, diante de uma obra de arte.
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(...) muito do que achamos significativo em arte, e em objetos estéticos em geral, não pode
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ser convertido em palavras (sem resíduo) e assim pode nunca tornar-se inteiramente de nós pró-
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prios. (...) a língua, pelo menos em seu modo literal, não está apta para capturar totalmente o
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conteúdo de uma experiência estética; a experiência estética, desse modo, pode ser dito, coloca-
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nos em contato com o indizível ou “inefável” (Goguen, 2000: 87).
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O inefável da experiência estética não é descoberto teoricamente nem através
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da colocação em teste de nossas habilidades linguísticas. Ao contrário, para De
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Clercq, é a própria experiência estética que faria surgir em nós essa sensação de
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inefabilidade. Para superar os limites que vê em várias teorias da inefabilidade es-
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tética, recupera a teoria da percepção do teórico do conhecimento Michael Polanyi
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na qual funda sua própria concepção do inefável estético. De acordo com Polanyi,
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explica De Clercq, nós sempre ficamos atentos de certos (assim chamados “subsidi-
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ários”) elementos para uma integração focal desses mesmos elementos. Os elemen-
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tos de que ficamos atentos, no entanto, nem sempre têm o mesmo interesse. O
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atenção envolvida em, por exemplo, ler um texto ou andar de bicicleta, de um lado,
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gamos, a beleza) de um objeto. No entanto, por outro lado, retemos um estar cien-
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te (awareness) igualmente intenso de alguma coisa que recai fora do foco de nossa
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atenção. Para ser mais preciso: enquanto focalizamos nossa atenção para o caráter
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estético do objeto, nós ficamos atentos de uma maneira subsidiária ao que quer
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que empreste para esse objeto focal sua significação especial. Desse modo, torna-
○
galáxia
co, porque logo que nós mudamos nossa atenção para ele, e começamos a examiná-
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RUMO
cado especial. Nós só podemos relatar isto de maneira subsidiária (isto é, indireta),
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do motivo pelo qual é apenas em certos momentos, por exemplo, no curso de uma
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bém sentido como inefável. Grosseiramente, poder-se-ia sugerir que esse sentido é
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focal. Sem um estar ciente bem ativado sobre os elementos subsidiários, não há
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do focal. Sem o subsidiário não há focal. Por isso a forte sensação do inefável e a
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que lançamos sobre o problema devem agora levar em consideração que toda per-
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rições. A ponte que conecta as ciências e as humanidades nunca pareceu tão próxi-
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vem a ser uma experiência estética referida a um corpo, devem ainda enfrentar a
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○
necessidade de solução para um amplo conjunto de questões. Uma primeira apro-
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ximação pessoal do problema pode ser apresentada do modo como se segue.
○
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A primeira dificuldade está em fazer uma pergunta que possa ser respondida
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ou, antes, em fazer uma pergunta que de fato dê conta de alguma coisa real. Em
BISPO
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termos lógicos, se é que posso falar assim, trata-se de identificar que um fenômeno
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X é real, existe, ocorre, é um evento e, em seguida, perguntar como e por que ele,
RONALDO
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tal fenômeno, tem lugar. Um outro método interessante é, uma vez identificado
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um fenômeno, investigar qual sua função evolutiva. Ou seja, por que o fenômeno X
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veio a ter lugar. Em termos evolutivos, responder isso parece significar compreen-
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der sua função.
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Para além das evidências inferidas a partir do conjunto de relatos encontrados
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nos livros e nos depoimentos dos seres humanos em geral, o fenômeno que desejo
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compreender apresenta-se, de forma mais inequívoca em sua realidade, a partir da
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experiência pessoal de uma sensação, sentimento ou emoção. Ainda não sei muito
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bem qual dessas expressões usar. Em outras palavras, acredito que o fenômeno que
○
desejo explicar existe de fato, não é apenas minha imaginação, porque o sinto, como
○
○
e em, uma experiência particular.
○
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A emoção ou sensação a que me refiro é a emoção ou sensação estética e o
○
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processo que dá lugar a esta chamo de experiência estética. Uma outra dificuldade
○
surge de imediato: como ter certeza que a sensação e a experiência vividas são de
○
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fato estéticas e não de uma outra natureza qualquer? O que caracteriza sensação e
○
○
experiência estéticas e no que elas diferem de outras sensações e experiências?
○
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Tentemos uma experiência, suponho, fenomenológica. Lembrar ou tentar viver
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uma experiência estética nesse exato momento e tentar descrever a emoção que a
○
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problema sem recorrer a nada senão às memórias das idéias e sentimentos já latentes no meu orga-
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nismo. Evito buscar novas informações nos livros agora. É como se eu me obrigasse a perguntar e a
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responder uma questão, apenas com o que já trago dentro de mim. É até uma maneira de verificar
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se acaso não posso obter uma resposta que já me satisfaça e, portanto, não precise mais sequer
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realizar a pesquisa. O que esse exercício evidencia é que não só não sei exatamente como construir
3
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as respostas para as minhas perguntas, como também tenho dúvidas sobre o próprio ponto de par-
n.
○
tida que possibilita a formulação da minha pergunta. A idéia também é que todas as leituras, obser-
○
○
vações e insights posteriores venham ajudar na reformulação e ampliação desse texto matriz de tal
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galáxia
modo que em cada uma de suas versões, o texto seja uma fotografia do estado das coisas em minha
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mente estendida pela escrita. Como num exercício minimalista, o texto-matriz atual é a base sobre
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qual muitas variações mais ou menos amplas e detalhadas podem ser ensaiadas. Avalio que é um
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exercício importante. Depois as leituras e observações que farei acrescentarão, esclarecerão e até
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122
RUMO
de: não se deve fazer ciência de um indivíduo. A ciência, da qual pretendo me apro-
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○
A
ximar nesse trabalho, pretende dar respostas universais, válidas para todos os seres
○
UMA
humanos. Afora o fato de que essa objetividade universal seja incompatível com o
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tratamento dos sistemas hipercomplexos e talvez só possa ser alcançada nos níveis
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CIÊNCIA
preender o universo. Ainda que mais tarde eu vá buscar comprovar minhas hipóte-
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DA
Uma das hipóteses pode ser a de que a emoção estética experimentada em sua
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forma mais elaborada diante de obras de arte teve início e poderia ser uma conse-
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humano.
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distraidamente uma conversa distante? Mesmo em sua variedade, todos esses even-
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tos parecem provocar o mesmo tipo de sensação. Ou não? Seriam sensações dife-
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rentes? Como saber, em seguida, que a sensação sentida por mim é semelhante a
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modo que em todos os casos estejamos diante, possamos constatar, que aqueles
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corpos estão produzindo para suas consciências, uma sensação estética, diferente
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uma realidade física e também psicológica e que convencionamos chamar de: emo-
○
Não tenho dúvida da qualidade específica da sensação sentida por mim diante
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○
de certas coisas ou situações, mas não sei se posso descrevê-la. Paro e tento aqui
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descrever de memória a sensação que tive a última vez que acreditei ter vivido uma
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experiência estética. Não consigo descrever exatamente a sensação, mas posso di-
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n.
zer que, por exemplo, diante de uma certa disposição de nuvens e cores na parte do
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céu que avisto da janela do meu quarto de trabalho, tenho uma sensação particular
3
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2002
mesmo modificarão o que eu tiver escrito, mas já terei feito um esforço para sentir de verdade a
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109-127
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que me faz querer ficar contemplando detidamente aquela imagem, que me faz
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dizer “nossa que bonito”, que me faz ter vontade de fazer uma foto e registrar aquele
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○
momento único do universo.
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De modo um pouco redundante, outra saída seria afirmar que a emoção ou
BISPO
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sensação estética é aquela experimentada diante de um sistema estético. Ocorre
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que nem sempre um sistema estético é assim sentido por todas as pessoas e, muitas
RONALDO
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vezes, um sistema não-estético pode, com essa qualidade, ser percebido por uma
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○
pessoa em particular3.
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A sensação estética parece envolver portanto algo de inefável que dificulta ou
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mesmo impossibilita sua descrição detalhada. A emoção estética é algo que se sen-
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te de modo intenso, mas sobre a qual se fala com muita dificuldade e insatisfação.
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○
Primeira providência, portanto: pesquisar o que é uma emoção do ponto de vista
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psiconeurofisiológico e o que é uma experiência do ponto de vista filosófico.
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○
Mas tentemos avançar uma etapa. Agora sei, mesmo não tendo conseguido
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descrever detalhadamente, que existe um tipo de sensação particular, provocada
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por uma grande variedade de objetos e situações, que podemos chamar de emoção
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estética. Ela deve diferir de vários outros tipos de sensação e deve envolver de for-
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○
ma bastante aproximada a ativação das mesmas substâncias e estruturas orgânicas
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em cada um de seus processos de aparecimento.
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Pode-se imaginar que há vários tipos ou intensidades ou qualidades de sensa-
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ções estéticas. Pode-se até mesmo sugerir que alguns indivíduos são mais capazes
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de experimentar uma sensação estética do que outros, e isso deveria ter relação
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com sua constituição biológica.
○
Ora, supondo agora que existem coisas tais como emoção e experiência estéti-
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cas, posso finalmente começar a construir a pergunta, a dúvida que pretendo res-
○
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ponder com minha pesquisa. Em uma primeira elaboração, minhas perguntas po-
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dem ser:
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2002
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tica? O que é uma experiência estética? Existe alguma coisa que podemos chamar
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3
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3. Não se atribui, em geral, a qualidade de estético, por exemplo, a um posto de gasolina, mas se
n.
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exemplo, e depois vemos um posto de gasolina semelhante ao do filme, nada impede que o sinta-
○
galáxia
mos esteticamente também na realidade. Seria o caso de pensar por que e como isso ocorre. A
○
sensação estética experimentada a partir da percepção do filme como um todo, contaminou tam-
○
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bém um de seus elementos constituintes de tal modo que quando via, depois do filme, um posto de
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124
RUMO
logicamente? Que coisas nos predispõem a uma experiência estética e por quê? Por
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que e como certas coisas que percebemos produzem em nós emoções estéticas? Qual
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○
A
seria o motivo do prazer estético que homens em geral sentem observando mulhe-
○
UMA
experiência estética? O que já está no corpo tal que diante de um estímulo externo
○
CIÊNCIA
é produzido algo como um prazer estético? O que já existe em mim e o que consti-
○
○
tui aquela coisa de tal modo que nosso encontro provoca em mim uma emoção
○
DA
modo que o cruzamento dos dois sistemas (através da percepção) possa resultar em
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○
uma experiência gratificante, em uma sensação que pode ser de prazer, de recom-
○
pensa para um ser humano? Por que certas coisas induzem a produção de emoção
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estética em certos indivíduos e não induzem nada em outros? O que acontece com
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o corpo de um ser humano quando ele sente uma experiência estética? Qual a fun-
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mulo externo de tal modo a proporcionar, a dar lugar a uma experiência estética? O
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○
que existe em meu corpo orgânico e o que existe em uma coisa específica de tal
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Esboçadas muitas perguntas, resta agora imaginar como elas podem ser res-
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pondidas ou que respostas eu espero encontrar para elas. Minha hipóteses são as
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seguintes:
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uma vez ativados, de modo particular por aquelas certas coisas produzem substân-
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galáxia
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bemos certas coisas, uma grande movimentação orgânica se produz para garantir a
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○
n.
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109-127
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mente uma forma/objeto externo/mental dependeria de que algo semelhante já
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houvesse estado presente ou para lá tendesse no interior da mente. A percepção só
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poderia “fechar” a forma estética se para ela as “redes neurais” houvessem criado
○
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uma tendência ou hábito. Nesse contexto, o reconhecimento do estético pode ser
BISPO
○
tomado como um aspecto do reconhecimento de forma (sonora, visual, tátil, olfati-
○
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va, gustativa). Sendo assim, o reconhecimento de forma estaria associado a um
RONALDO
○
background genético-neurológico ou uma tendência ou hábito da matéria cere-
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bral. Por aí, talvez entendêssemos por que algumas pessoas se encantam com algu-
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mas coisas e outras, não. O mapa mental criado diante de um objeto estético pode
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ou não encontrar memória genética. Não encontrando tenderá a rejeitá-lo;
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○
4. certa imagem X produz emoção estética porque sua forma modifica a estru-
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tura cerebral de um modo tal que muitas outras coisas vêm juntas. Um exemplo
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disso é a tendência que temos de associar o som de certas palavras, mesmo desco-
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nhecidas, a certas imagens ou sensações: o conhecimento tácito;
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○
5. posso imaginar que a seleção do estético, no caso da percepção sexual, teria
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um objetivo de permanência ou sobrevivência individual. (Supondo que fêmeas atra-
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entes sejam boas reprodutoras.) O reconhecimento do estético estaria programado
○
○
geneticamente. Os padrões mais aceitos seriam adequados a certas circunstâncias e
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objetivos. Por outro lado, diferentes escolhas estéticas não estariam diretamente
○
associadas a estratégias de sobrevivência/permanência, mas, de algum modo, tal-
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vez inconsciente, essas seleções de forma favoreceriam o indivíduo em alguma ou-
○
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tra circunstância futura;
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6. certas formas encarnam certas sensações. Quando uma forma do mundo é
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disparada. Um leão mostrando suas presas de boca aberta é uma forma a qual está
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associada uma sensação de medo. Toda vez que vemos aquela imagem sentimos
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medo novamente mesmo que... Apesar de óbvio, é interessante pensar de que ma-
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2002
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3
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n.
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necessário à sobrevivência;
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galáxia
natural;
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RUMO
modo que já está dentro de nós. É a questão de como corporificamos o que perce-
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UMA
bemos;
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discutidas anteriormente.
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MENTE
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REFERÊNCIAS
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[email protected]
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