A Representação Do Gaúcho No Teledomingo
A Representação Do Gaúcho No Teledomingo
A Representação Do Gaúcho No Teledomingo
Santa Maria
2006
Natasha Mruz
Franciscano - Unifra, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista - Bacharel
em Jornalismo.
Santa Maria
2006
Natasha Mruz
Aos meus pais, que me colocaram neste mundão de ninguém e fazem-me acreditar que
o dia de amanhã será melhor que o de hoje.
Ao meu pai, em especial, pelos “paitrocínios” em viagens, congressos, livros etc,
nunca me deixando faltar nada, exagerando muitas vezes nos gastos excessivos com a
faculdade, mas que, no fundo, valeram a pena. Pelo carinho e confiança que depositaste em
minha pessoa.
À minha mãe. Companheira inseparável nesta jornada, agüentando meus reinos,
dúvidas, angústia e acima de tudo, me apoiando, valorizando e acreditando que um dia eu
seria capaz... Eu fui, mãe!
Às minhas irmãs que também me suportaram nos momentos mais difíceis, nas caronas
para a faculdade, nas louças que não pude lavar e atividades que não consegui cumprir.
Ao Rogério – meu Géio – uma pessoa especial, que me mostrou que a tradição vai
muito além das fronteiras, e que acabou rompendo as do meu coração. Companheiro
inseparável (mesmo de longe) nesta etapa final de minha jornada acadêmica. Uma pessoa que
me ensinou e ensina o verdadeiro sentido da vida, e que “nada acontece por acaso”.
À professora Daniela Hinerasky. Mais que uma professora e orientadora, uma amiga.
Agradeço por ter me mostrado o mundo das pesquisas e dos livros e o quanto isso é
apaixonante. Ao mesmo tempo peço desculpas de, diversas vezes, não cumprir com minhas
tarefas. Ah, e um dia voltaremos a Brasília, com certeza!
Aos colegas, amigos e professores da faculdade alguma forma, ficarão no meu coração
para sempre: Serginho PC, Bebeto Badke, Gilson Piber, Michele Negrini, Liliane Brignol,
Rosana Zucolo, Fabiana Siqueira, Kitta Tonetto, Ana Paula Nogueira, Rogério Kerber, João
Stock, Matheus Beltrame, Dariane Campos, Marina Chiapinotto, Carina Bonhert, Mileni
Portella, Luciane Amaral, Dinho, Zizi Machado, Adriana Garcia, Carlos Sanchotene e a
Emília Maria, colega e companheira desde o primeiro da de aula, que o destino acabou por
nos distanciar.
Enfim, agradeço também aquelas pessoas que esqueci de agradecer. Todos, de alguma
forma, serviram para acrescentar, de alguma forma, nesta minha trajetória. Hoje, eu realizo
meu sonho: Sou uma jornalista!
RESUMO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1 – REPRESENTAÇÃO E CULTURA ............................................. 13
1.1 – O Universo da Representação e da Cultura..................................................... 13
1.2 – Cultura Regional, Tradição e Tradicionalismo: conceitos que se cruzam....... 18
1.3 - A Formação da Cultura Gaúcha ..................................................................... 20
1.3.1 – O Tradicionalismo Gaúcho e o MTG ....................................................... 22
1.3.2 – O Nativismo .............................................................................................. 27
1.4 – Símbolos Tradicionais da Cultura Gaúcha...................................................... 28
CAPÍTULO 2 – A RBS TV : REDE BRASIL SUL DE COMUNICAÇÕES ......... 31
2.1 – O grupo RBS: um breve histórico .................................................................. 31
2.2 – A grade de programação da RBS TV – Sua Vida na TV.................................. 35
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................. 41
3.1 – Definição do Corpus ....................................................................................... 41
3.2 – Delimitação da Análise ................................................................................... 42
3.3 – Técnicas de Pesquisa ...................................................................................... 42
3.4 – Análise dos dados............................................................................................ 44
CAPÍTULO 4 – O TELEDOMINGO - OBJETO EMPÍRICO ................................ 47
4.1 – O Teledomingo e os telejornais da emissora .................................................. 47
4.2 - O Teledomingo – apresentação e análise do programa .................................. 48
4.3 – Análise descritiva dos programas ................................................................ 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS 68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 71
ANEXOS 74
INTRODUÇÃO
1
Entende-se por tradição, não só as manifestações culturais do passado, mas o que é conservado em sua forma e
reinterpretado em suas características. Só se torna tradição o que o povo escolhe e difunde, isto é, o que cria,
recria e transforma. É a transmissão, a entrega de algo do passado às gerações presentes, seja por escrito ou não,
sejam valores espirituais ou materiais. Para saber mais, ler Nilda Jacks (2003): “Mídia Nativa: indústria cultural
e cultura regional.”
2
Diversos estudos no Rio Grande do Sul foram feitos da relação entre a cultura e identidade gaúchas e as
indústrias culturais. Em “Mídia Nativa: indústria cultural e cultura regional” (JACKS, 1998), a autora trata da
relação entre indústria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul através do Movimento Nativista, que
viveu seu auge na década de 80. Já em “Querência: cultura regional como mediação simbólica” (JACKS, 1999),
a autora estuda a relação entre a identidade e o processo de recepção televisiva numa família do interior do RS.
Pode-se destacar ainda, alguns estudos realizados em programas de Pós-Graduação: a relação entre a identidade
cultural gaúcha e os usos sociais da Internet, através do estudo de caso do site a Página do Gaúcho (BRIGNOL,
Unisinos, 2004), entre o cinema produzido no RS e a identidade regional (MASCARELLO, USP, 2002) e a
teledramaturgia regional e a identidade gaúcha (HINERASKY, UFRGS, 2004), dentre outros.
profissionais do Teledomingo; d) Verificar como os locais indicam/representam/ algo da
cultura regional.
A pesquisa parte, portanto, do conceito de representação, usando o embasamento
teórico de Stuart Hall (1997), através da observação da linguagem, que é, segundo o autor, um
meio no qual pensamentos, sentimentos e marcas, são representados em uma cultura através
de sinais e símbolos. Desta forma, os símbolos aqui representados seriam os elementos que
remetem à cultura regional gaúcha. No caso dessa pesquisa, a representação está ligada à idéia
de pertencimento ao Rio Grande do Sul, à sua cultura e identidade regional, tomando como
ponto de partida a idéia de que as imagens, situações, entrevistados e locais apresentados no
programa de uma emissora refletem hábitos, atitudes, comportamentos, tendências e modos
de falar dos moradores do Rio Grande do Sul.
Sabe-se, no entanto, que este trabalho não é o único a estudar a relação entre a cultura
regional e indústria cultural no Estado. Destaca-se, e toma-se como referência em diversos
momentos, os trabalhos de Nilda Jacks. Nos livros “Mídia Nativa: Indústria Cultural e
Cultura Regional” (2003) em que a autora mostra como o renascimento do gauchismo, nos
anos 80, se relaciona com os meios de comunicação; e em “Querência – Cultura Regional
como Mediação Simbólica” (1999), no qual ele estuda a relação entre identidade e recepção
televisiva. Além disso, Ruben Oliven também tem um destaque especial neste trabalho,
através do livro “A Parte e o Todo”, que serviu como base no entendimento da relação entre a
cultura gaúcha (e as suas peculiaridades) e o resto do Brasil. Na perspectiva dos Estudos
Culturais, Stuart Hall, principalmente, serviu como fonte para o entendimento de como se dá
o processo e o conceito de representação. Um destaque também aos autores ligados ao
Movimento Tradicionalista Gaúcho: Antonio Augusto Fagundes, Salvador Lamberty, Barbosa
Lessa, entre outros tantos, que serviram como base teórica para os conceitos acerca da cultura
tradicional gaúcha.
Para o entendimento do estudo, o capítulo um traz os conceitos de representação e
cultura, e como estes estão interligados. A seguir, um panorama e as diferenciações de cultura
regional, tradição e tradicionalismo. Neste direcionamento, procura-se apontar como foi a
formação da cultura tradicional do Rio Grande do Sul, os aspectos e mudanças também no
Movimento Tradicionalista Gaúcho. Além disso, insere-se neste capítulo os elementos
tradicionais da cultura regional que nortearam o estudo.
O capítulo dois, por sua vez, mostra o cenário em que se insere este estudo, a RBS TV.
Faz um breve panorama histórico sobre a empresa, usando como referência estudos da
emissora e dados do próprio site da empresa. A idéia aqui não foi fazer um estudo detalhado
sobre a emissora, mas sim apontar características que complementem a problemática de
pesquisa.
Já os procedimentos metodológicos é mostrado no capítulo três. Trata-se de um
capítulo analítico sobre as categorias apontadas na metodologia, afim de suprir os objetivos
deste estudo.
O objeto de estudo, o programa Teledomingo, é especificado no Capítulo quatro,
diferenciando dos outros telejornais da emissora, juntamente com a análise descritiva dos
programas.
Enfim, a discussão deste estudo é centrada na cultura regional e na representação,
além de apontamentos sobre a televisão. O Movimento Tradicionalista, por sua vez, recebe
um destaque especial, já que é também uma das bases do estudo e me acompanha há alguns
anos. Esta pesquisa é um trabalho, acima de tudo, gratificante, que aliás, envolve minhas duas
paixões: jornalismo (apontado aqui através do programa de TV) e tradicionalismo gaúcho.
REFERENCIAL TEÓRICO
3
Conforme Hall (1997), as representações mentais são mapas conceituais formados no pensamento, pelos quais
nos referimos os objetos, damos significação ao mundo. Apesar de variarem entre algumas pessoas, mantém
partilhados alguns sentidos amplos, o que possibilita a definição de uma cultura. Autores ligados aos Estudos
Culturais, como Stuart Hall, descartam pressupostos realistas associados a concepções filosóficas clássicas. Isto
rejeita qualquer conotação mentalista ou associação com uma interioridade psicológica.
Logo, a representação é uma forma de atribuição de sentido. “Como tal, a
representação é um sistema lingüístico e cultural: arbitrário, indeterminado e ligado a relações
de poder” (SILVA, 2000, p. 91). Neste sentido, identidade e diferença são conceitos
estreitamente ligados, pois é através do ato de representar que adquirem sentido.
A identidade mostra a maneira como um sujeito é semelhante aos outros que estão
numa mesma posição social e diferente daqueles que não estão nesta mesma situação. Por
isto, ela pode ser definida pela diferença, isto é, pelo que ela não é, podendo chegar a
extremos, como em conflitos étnicos. A identidade e a diferença são criações sociais e
culturais (SILVA, 2000). Desta forma, dizer que a identidade e a diferença são o resultado de
atos lingüísticos, é o mesmo que dizer que são criados por meio de atos de linguagem, que por
sua vez, estão ligados à representação.
A identidade4 está relacionada a diversas fontes – memória coletiva, raça, gênero,
território, língua, classe, religião, etnia, história, ligadas a referenciais identificatórios do
passado, do presente e do futuro. As identidades dependem das relações e interações dos
grupos sociais, de traços culturais compartilhados para afirmar e manter uma distinção
cultural (HALL, 2000). Conforme afirma Escosteguy:
Stuart Hall (apud Hinerasky, 2004), ao estudar a representação e seus sistemas, afirma
que é necessário analisar a relação entre significado e cultura5. Pois é o significado que nos dá
noção e senso acerca de nossas próprias identidades, sobre onde estamos, a quem pertencemos
e como a cultura é usada para manter diferenças e identificações entre os grupos. As
representações produzem significados através dos quais fazemos sentido a nossa experiência e
ao nosso ser, podendo também criar alternativas para construir o que poderemos ser.
4
O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representações, das relações entre indivíduos e os
grupos, e entre estes e seu espaço, seu meio. Este sistema permite que os indivíduos e grupos entrem e saiam de
um determinado grupo que se identifiquem. “O processo de identificação apontaria para o fato de que todo
indivíduo compõe-se de uma série de camadas de significação, aproximadamente equivalentes a suas
personalidades, que podem ser vividas seqüencialmente ou no limite.” (COELHO, 1997, p. 202)
5
No campo da comunicação, foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noção
tradicional de cultura. De acordo com eles, as diversas manifestações culturais, sejam elas cultas, populares,
massivas, tradicionais ou modernas, encontram-se no mesmo nível hierárquico. A cultura, nessa media,
compreende qualquer prática ou forma cultural. Deixa de ser um sistema simbólico e passa a ser compreendida
como sistemas de significação. (HINERASKY, 2004, p. 65)
A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio
dos quais os significados são produzidos, posicionando-os como sujeitos. É por
meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa
experiência e àquilo que somos. (SILVA, 2000, p. 17)
Silveira (2001) ainda afirma que o gaúcho midiático é algo que está sendo descoberto,
algo novo, no qual sobrevivem traços de seus diversos “mundos genéticos” (p. 39). Com este
estudo, pode-se observar, portanto, que se forma uma nova imagem da figura do gaúcho, de
certa forma, moderno, porém, não fugindo dos aspectos identitários de suas raízes.
Nesse raciocínio, Hall (1997, p. 5) afirma que a representação da cultura de um grupo,
“é uma prática simbólica que dá significado ou expressão à idéia de pertencimento de uma
cultura nacional, ou identificação com uma comunidade local. [...] Representação é
certamente ligada tanto a identidade, quanto ao conhecimento”. Trazendo a esta pesquisa, a
representação está ligada a idéia de pertencimento ao Rio Grande do Sul, a sua identidade
regional.
Neste caso, seguindo Jakzam Kaiser (2000) “A construção social da identidade
gaúcha é baseada na idéia de que o Estado ocupa uma posição singular do resto do Brasil por
ter características geográficas e origem históricas sui generis e ser um território que delimita
diferentes fronteiras” (KAISER, 2000, p. 38). Segundo o autor, as representações que
produzem sentido sobre quais podemos nos identificar, constroem as identidades dos gaúchos.
Desta forma, para que os gaúchos se identifiquem, é necessário que eles partilhem
uma mesma cultura. Portanto, após o entendimento deste processo de cultura e identidade no
universo da representação, volta-se particularmente à cultura do Rio Grande do Sul.
1.2 - Cultura Regional, Tradição, Tradicionalismo: conceitos que se cruzam
A Cultura Gaúcha neste início de século está em pleno curso. Um grande número de
pessoas do Rio Grande do Sul e de outros estados do brasileiros estão por aí, curtindo uma
“roda de chimarrão”, um fandango6, um bom churrasco, um cavalo, uma musica, uma poesia
etc...
Na verdade, a cultura como um todo, acha-se em um processo de reformulação pelo
mundo inteiro. Fronteiras são derrubadas e costumes se mesclam. A cultura de massa entra
com muita força na sociedade através da televisão, rádio, internet e todos recursos
audiovisuais disponíveis.
Conforme Nilda Jacks, a cultura regional precisa ser estudada na relação com o
material, o social, e o histórico, estando ligada à vivência cotidiana. “É fruto da ação, a qual
dá orientação e significação para as representações simbólicas” (2003, p. 18). A autora ainda
elucida que “A cultura regional é um dos fatores de determinação de práticas culturais que
diferenciam determinado grupo, fornecendo-lhe uma identidade própria” (JACKS, 1999,
p.66). A cultura regional gera, portanto, a constituição de identidade cultural porque
estabelece uma relação entre essa cultura, constituídos de normas, mitos, crenças, símbolos,
por indivíduos que já estão estruturados por esses elementos. Conforme a pesquisadora:
6
Denominação genérica de antigos bailes campestres, constituídos de danças, sapateadas, executadas
alternadamente com canções populares, acompanhadas por viola. (NUNES e NUNES, 1996, p. 184)
O ato de transmitir os fatos culturais de um povo, através de suas gerações. É a
transmissão das lendas, narrativas, valores espirituais, acontecimentos históricos,
hábitos inveterados, através dos tempos, de pais para filhos. É a memória cultural
de um povo. É um conjunto de idéias, usos e costumes, recordações e símbolos
conservados pelos tempos, pelas gerações. (LAMBERTY, 1989, p. 20)
Nesta perspectiva, a tradição está ligada à cultura, no caso deste estudo, à cultura
regional. As culturas regionais, conforme já apontado, possuem elementos tradicionais e de
inovação, que podem mudar ou se contrapor, conforme a época em que se está inserida. No
contexto nacional, a cultura regional gaúcha faz parte de um grupo de representantes que
compõem a identidade nacional. Embora a população seja predominantemente urbana, a
identidade gaúcha é caracterizada por uma cultura baseada em um modo de vida rural que
remete a vida no campo. De acordo com o pesquisador Jackzam Kaiser:
Nem tudo é transmitido através das gerações. A tradição protege a cultura de tal
forma, que ela não fique a mercê da contemporaneidade. Neste sentido, a tradição e a
contemporaneidade são elementos complementares da cultura de uma sociedade. Todas as
obras antigas foram feitas no tempo real de alguém que viveu no passado, que tinha por trás
de si toda uma tradição e buscava responder às questões por meios daquela expressão.
No contexto da reafirmação da identidade regional, que ocorreu por volta da década da
80, após o período militarista no Brasil, renasce o gauchismo. Porém, é preciso compreender
também as diversas manifestações culturais que têm a figura do gaúcho como referência,
voltando-se a um sentimento de pertencimento. Neste sentido, o tradicionalismo, como
manifestação do gauchismo, pode ser entendido como um conjunto de atividades organizadas
e regulamentadas que visa resgatar o passado do gaúcho. É a tradição em movimento. O
tradicionalismo é comum nas regiões do Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul, porém,
apesar do gaúcho ser comum nessas três regiões, o movimento tradicionalista apresenta
particularidades. O tradicionalismo gaúcho busca o bem coletivo, tentando mostrar a sua
importância no processo de preservação da cultura local.
A cultura regional gaúcha não pode ser tida como tradicionalista, mas pode ser
considerada tradicional. Pois o tradicionalismo é um movimento – o MTG, que, apesar de ter
seus primórdios de tentativa organizacional em 1857, com a fundação das primeiras entidades
tradicionalistas, só se organizou efetivamente em 1948, com a fundação do primeiro Centro
de Tradições Gaúchas (CTG). Esta pesquisa, em termos de análise, detém-se no nível dos
traços do que é tradicional da cultura regional, representadas em um programa de televisão de
canal aberto – o Teledomingo.
O Rio Grande do Sul (RS) é considerado um Estado fortemente marcado por raízes
tradicionais. Conforme o antropólogo Ruben Oliven, o movimento tradicionalista é
considerado o mais popular do mundo, com cerca de sete milhões de participantes ativos em
todo Brasil (OLIVEN, 2006, p. 123).
A história do RS, assim como a de outros estados brasileiros, é marcada por rebeliões
contra o centralismo do poder na Província. Exemplos são a Confederação do Equador e a
Praieira, em Pernambuco, a Cabanagem, no Pará, a Balaiada, no Maranhão, etc., mas
nenhuma durou tanto quanto a Guerra dos Farrapos. Durante 10 anos, Caramurus e
Farroupilhas7 guerrilhavam nos pampas8 Rio-grandenses. Os primeiros, que eram do lado do
Império, lutavam para que o Estado não se separasse do restante do Brasil e se juntasse com
Uruguai e Argentina. Já os Farroupilhas, almejavam esta separação, pois o Império
massacrava os estancieiros9 com altos impostos sobre o charque10 produzido aqui no Rio
Grande do Sul, ao mesmo tempo que facilitava a entrada do charque vindo do Uruguai e
7
A expressão “farrapos” foi usada pela primeira vez em 1700, no Rio de Janeiro, que correspondia aos
revoltosos contra determinações da Câmara. Foram derrotados com facilidade, eram gente do povo que usavam
roupas humildes. Foram chamados de farroupilhas. Empregada pelos inimigos dos rebeldes, a palavra nunca foi
usada oficialmente pelos revolucionários. (URBIM, 2001, p. 17)
No Dicionário de Regionalismo do Rio Grande do Sul, Farrapo significa o apelido deprimente que os imperiais
davam aos revolucionários de 1835. “O apelido aviltante, alusivo à miséria em que se encontrava os farrapos,
transformou-se em vista do civismo e bravura que sempre demonstraram em legenda de glória e de heroísmo”.
(NUNES, 1996, p. 185)
8
Denominação dada às vastas planícies do Rio Grande do Sul e dos países do Prata, cobertas de pastagens, que
serve para a criação de gado. (NUNES, 1996, p. 344)
9
Proprietário de Estância, fazendeiro. Estância é o estabelecimento rural destinado à criação de gado, tipo uma
fazenda de criação.
10
Carne bovina salgada e seca em mantas. O charque fora do Estado tem as seguintes denominações: “No Pará,
carne seca, na Bahia e Sergipe , jabá, no Maranhão, carne de sol”. (NUNES, 1996, p. 107). É produzido nas
charqueadas.
Argentina. Neste contexto, o estancieiro Bento Gonçalves formou alianças com
revolucionários do Estado, dando início à Revolução Farroupilha.
A Guerra dos Farrapos, que teve tantos heróis11 consagrados e derrotados, não teve
vencedor. “De um lado, havia em exército rebelde exaurido, depois de quase 10 anos de luta.
De outro, tropas imperiais comandadas por Caxias, que receberiam reforços (...). Do ponto de
vista farroupilha, não foi uma derrota. Houve a assinatura de uma ‘paz honrosa’”. (URBIM,
2001, p. 171)
Este sentimento separatista desde o início da história do Rio Grande do Sul é reflexo
do que ocorre hoje, pois segundo Oliven, os rio-grandenses consideram-se parte do resto do
Brasil, frisando a sua individualidade. “Na construção social de sua identidade eles usam
elementos, fazendo referência a um passado glorioso dominado pela figura do gaúcho”.
(OLIVEN, 2006, p. 10). Essa figura que antes era o ladrão vagabundo, acabou se tornando um
guerreiro, que atualmente é um dos maiores símbolos do Rio Grande do Sul.
Desde a centralização política e econômica ocorrida a partir de década de 30, verifica-
se no Brasil um enfraquecimento do poder regional. Oliven destaca que isso contribuiu para
que, com o passar dos anos, essa centralização acabaria com uma afirmação das identidades
regionais, o que salientaria suas diferenças em relação ao resto do Brasil. “Entre essas
identidades regionais está a do Rio Grande do Sul, estado no qual está ocorrendo um forte
ressurgimento da cultura gaúcha que nos anos setenta, muitos achavam que estava
desaparecendo” (OLIVEN, 2006, p. 10).
Após o duro período imposto pelo militarismo no Brasil, por volta da década de 1970,
a tradição gaúcha encontrava-se reduzida. Com o processo de abertura política que marcara o
fim da ditadura, em 1985, algumas questões ressurgiram. Apesar, ou talvez por causa da
crescente centralização, observam-se tendências contrárias a ela, do clamor por uma reforma
tributária que entregue mais recursos para os Estados e municípios e da afirmação de
11
Bento Gonçalves, Giuseppe e Anita Garibaldi, Teixeira Nunes, General Neto (que lutava a favor da abolição
da escravatura e proclamou a República Rio-gradense), Tito Lívio, Luigui Rosseti, Corte Real, Onofre Pires são
alguns dos que lutavam do lado Farrapo. Bento Manoel Ribeiro também teve destaque na Revolução
Farroupilha, porém, ora lutava do lado Farrapo, ora do lado do Império. (URBIM, 2001).
identidades regionais que salientam suas diferenças em relação ao resto do Brasil. “A
afirmação de identidades regionais no Brasil pode ser encarada como uma forma de salientar
diferenças culturais e como reação a uma tentativa de homogeneização cultural”. (OLIVEN,
2006). O autor explica que este cenário mudou por volta do início da década de oitenta,
período em que a sociedade brasileira se organizou: “Novas identidades sociais foram criadas,
através de grupos sociais, políticos e que lutavam por questões específicas: grupos
homossexuais, feministas, movimentos religiosos, etc. (OLIVEN, 2006, p. 11). Neste sentido,
o tradicionalismo atua como uma manifestação do gauchismo, já que é um movimento
cultural que visa resgatar o passado do gaúcho.
A seguir, diferencia-se os dois movimentos culturais no Rio Grande do Sul: o
tradicionalista e o nativista que, embora se insiram na cultura gaúcha, abrangem elementos
distintos. Também destaca alguma questões que surgem acerca dos dois movimentos.
12
Um dos precursores do tradicionalismo foi homenageado na Feira do Livro de Santa Maria em 2006. Parte da
história de vida de Cezimbra foi publicado na reportagem “Um olhar sobre Cezimbra”, no Diário de Santa Maria
de 29 e 30 de abril de 2006.
13
A estrutura hierárquica dos CTG’s é semelhante às bases da Estância, ou seja, com patrão, capataz, sota-
capataz, agregados, posteiros, que correspondem respectivamente aos títulos de presidente, vice-presidente,
secretário, tesoureiro e diretor. Os conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de
Vaqueanos e os departamentos de Invernadas. (JACKS, 1998, p. 33)
14
O MTG é um Movimento que auxilia o Estado na solução de seus problemas. Preserva a formação sociológica
gaúcha. Retoma valores positivos do passado, buscando a igualdade social. É um Movimento de reafirmação a
cultura, ao civismo a racionalidade e ao amor a pátria. (PAIXÃO, 2004, p. 15). De acordo com o autor Darcy
Paixão, “Uma de suas principais preocupações é a de preservar o Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul,
ameaçado por fatores e idéias antagônicas aos costumes e pensadores do nosso povo”. (2004, p. 15). Para saber
mais, ler “O que é MTG – Questionamentos e Perspectivas”, de Darcy Paixão.
cultura gaúcha, por entender que o tradicionalismo é um organismo social de natureza
nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica.
Em relação ao papel cultural do MTG hoje no Estado, o diretor da Fundação Cultural
Gaúcha, Rogério Bastos, defende que: “Dentro do segmento da cultura tradicional, busca
contribuir na preservação da identidade regional, que dá sustentação às estima do povo”.
Segundo o presidente Savaris:
Cada um dos mais de 950 galpões instalados nos Estado, oferecem mais acesso
cultural e de lazer do que faz qualquer teatro renomado na capital.”
15
A Carta de Princípios é um trabalho de Glaucus Saraiva da Fonseca, aprovado no 8º Congresso
Tradicionalista, realizado na cidade de Taquara. Contém as orientações que devem nortear as atividades dos
tradicionalistas, dos CTG’s e entidades afins. Para saber mais, ler “O que é MTG – Questionamentos e
Perspectivas”, de Darcy Paixão.
“O tradicionalismo contribui com o Estado, afastando o jovem das drogas, criando
condições avessas ao consumo, ou seja, trazendo-o ao convívio da família, seja ela
real ou imaginária. Isso não coíbe, mas inibe a aproximação da marginalização”
“Claro que se alguma tradição for alterada deixa de ser tradição. Porém, é
inevitável que as tradições sofram pequenas e constantes variações. O que deve ser
bem entendido é que as variações não se dão de forma violenta por interesses
financeiros ou de vaidade, mas pela decisão inconsciente da sociedade que muda
hábitos e costumes ao natural, ao longo de pelo menos uma geração (mais ou
menos 30 anos)”.
Ainda sobre esta questão de rigor nas regras do Movimento Tradicionalista, que
defende a imagem da figura do gaúcho, o presidente do MTG, em entrevista à Revista
Aplauso, afirma que: “tudo o que há relação com a nossa história não se questiona”. Para
Savaris, o que não se constitui como traço cultural documentado, o que não se caracteriza
como peça fundamental de uso generalizado de um povo, não pode fazer parte do cotidiano de
quem pretender definir como gaúcho. (ILHA, 2006, p. 26)
Na mesmo matéria da revista gaúcha, o historiador Tau Golin defende seu ponto de
vista, repudiando regras impostas pelo movimento. “O MTG diluiu a história e matou tudo o
que era popular da nossa cultura”. (ILHA, 2006, p. 27). O professor afirma:
1.3.2 - O Nativismo
O Movimento Nativista pode ser visto como manifestação cultural que reinterpreta os
elementos ideológicos da cultura rio-grandense (...) (JACKS, 2003 p. 20). “(...) É um
movimento predominantemente musical, desencadeado por festivais de cunho nativista na
década de 1970 (...) (JACKS, 2003, p. 44). Logo, o nativismo não é um culto à tradição, mas é
sim um dos valores desse culto. Pode ser definido como o sentimento de amor pelo chão onde
se nasce, de onde se é nato.
Na década de 70, através de uma renovação dos movimentos estéticos e
questionamentos de alguns valores da tradição regional, surge o nativismo, um movimento
predominantemente musical. “O movimento nativista, paralelamente, serviu para um
revigoramento do culto às tradições; incorporação pelas camadas jovens de hábitos e
costumes – tomar chimarrão, vestir bombachas, ouvir música gaúcha” (JACKS, 1999, p. 77).
No vocabulário regionalista, encontramos dois termos inteiramente ligados ao
nativismo, que são: pago e querência. O primeiro define o lugar que nascemos e o segundo, o
lugar onde vivemos, que se confundem várias vezes, pois é um tanto comum nascermos e
vivermos num mesmo lugar. O sentimento de amor ao Rio Grande é tão intenso entre
gaúchos, que vem a ser o exagero de sentimento de amor a terra.
O Nativismo tem se mantido durante o Movimento Tradicionalista através da
continuidade dos festivais, que “apesar da redução da quantidade de edições, permanece em
atividade um número significativo nas principais cidades do Estado” (JACKS, 1999, p.79).
Um exemplo é a Tertúlia Musical Nativista, que reunia cantores nativistas na Estância do
Minuano, em Santa Maria (extinta em 1999) e o Minuano da Canção Nativa, evento que
esteve em sua 5ª edição16 neste ano de 2006. Na capa do jornal Diário de Santa Maria, do
grupo RBS, de 13 e 14 de maio de 2006, mostra um parâmetro sobre o Movimento Nativista
no Estado. A capa tem a seguinte chamada: “NATIVISTA ONTEM – Como nasceu, cresceu
e terminou a Tertúlia Musical Nativista, que reuniu gente diferente em volta da música
gaúcha” e “NATIVISTA HOJE – Para muitos, o surgimento do Minuano da Canção Nativa
mostra que Tertúlia não morreu. Neste fim de semana, CDM é palco da 5º edição do
Minuano. Na sexta-feira, Marenco (foto) emocionou público”. Abaixo disso, tem ainda uma
16
Nesta 5º edição do Minuano da Canção Nativa, teve uma proposta diferente. Por ser em época próxima a Copa
do Mundo, a divulgação, bem como a estrutura do evento foi relacionada às cores do Brasil - verde e amarelo. A
capa do Diário 2, suplemento integrante do jornal Diário de Santa Maria, traz como título “Nativismo em Jogo”.
Para quem não lesse a linha de apoio “Minuano da Canção Nativa começa hoje no clima de Copa do Mundo” dá
uma idéia ambígua. O ganhador foi Cristiano Quevedo, que interpretou a música Bem na Porteira letra de Gujo
Teixeira e música de Sabani Felipe). Fonte: Diário de Santa Maria, 16 de maio de 2006.
nota de rodapé: “Por 19 anos, a Tertúlia enalteceu a cultura gaúcha na cidade. Hoje, esse
papel é do Minuano”.
Conforme Nilda Jacks, tanto através do Tradicionalismo como do Nativismo houve
uma reestruturação da identidade regional, e que ambos os movimentos respondem às
influências externas (1999, p. 80).
17
Calça larga apertada nos tornozelos por um punho, com um botão.
18
Capa.
19
Avental de couro usado lateralmente para proteger a bombacha nas lidas de campo.
20
Cinto largo, com bolsos grandes, para o dinheiro ou avisos.
normalmente antes do desjejum, do almoço e/ou do jantar, momentos em que se forma a ‘roda
do chimarrão’” (JACKS, 1999, p. 88). Conforme a pesquisadora, o chimarrão atua
simbolicamente como uma prática associativa e fraternal. Barbosa Lessa (apud Jacks, 1999)
afirma que o chimarrão é uma espécie de “cachimbo da paz”.Segundo o autor: “só o
chimarrão permanece com tradição fundamental do gaúcho, elevando-se ao patamar de um
símbolo imorredouro e inconfundível. (LESSA apud Jacks, 1999, p. 89)
O churrasco, por sua vez, é um costume do Estado que já alcançou dimensões até
mesmo fora do país. A Coletânea Tradicionalista (2005) estabelece que o churrasco é “a carne
temperada com sal grosso, levada a assar ao calor produzido por brasas de madeira
carbonizada ou in natura, em espetos ou disposto em grelha e sob controle manual” (p. 371)
Jacks (1999) aponta que o churrasco é um costume alimentar ligado a pecuária, primeira
atividade econômica gaúcha, até a chegada dos imigrantes que vieram desenvolver a
agricultura. (p. 89)
A Lei Estadual nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989, estabelece que a Pilcha Gaúcha
como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexo.
Conforme as diretrizes traçadas pelo MTG, a pilcha pode substituir o traje convencional em
todos os atos oficiais públicos ou privados realizados no Estado. Jacks complementa:
A Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS), emissora afiliada à Rede Globo, faz parte
do maior conglomerado de comunicação do sul do Brasil, destacando-se entre os maiores do
país. O grupo inicia em 1957, quando seu fundador, Maurício Sirotsky Sobrinho, associou-se
a Rádio Sociedade Gaúcha, de Porto Alegre. A partir disso, em 1962, adquiriu a TV Gaúcha,
concessão o Canal 12, que posteriormente viria a se tornar RBS TV. Mesmo passando por
dificuldades financeiras no início de sua implantação, em 1970 Sirotsky adquire o jornal Zero
Hora, tornando-se desta forma, a base para o crescimento do grupo.
Até o final da década de 80, a RBS concentrava seus investimentos em jornais diários,
emissoras de televisão e rádio. Depois de consolidada a regionalização das suas emissoras, no
início dos anos 90, o grupo diversificou as linhas de trabalho e mudou seus direcionamentos,
de acordo com as expectativas de expansão do mercado – TV por assinatura, internet e
telecomunicações.
Desta forma, em 1992, a RBS lança a NET SUL – televisão a cabo por assinatura, que
procurava evitar uma possível concorrência em canais de sinal aberto. Posteriormente, lançou
dois canais de TV – TV COM21 e Canal Rural22. A proposta do primeiro é de um canal com
conteúdo regional/local, com programação voltada a região metropolitana de Porto Alegre. Já
o segundo, é voltado exclusivamente para o setor de agronegócio.
Em 1996, a RBS adquiriu a Nutecnet (provedor de conteúdos de Internet),
transformando-se em ZAZ, que acabou sendo vendida mais tarde para o Terra. Em 2000,
21
A TV COM é a única emissora a cabo do Brasil com programação 100% local. Grande parte dos programas
são exibidos ao vivo, incluindo o horário nobre. Esse aspecto dinâmico e ágil permite uma forte com o
telespectador.
22
O Canal Rural transmite cerca de 18 horas diárias de uma programação inteiramente voltada ao campo, mais
precisamente ao setor de agrnogócio. A emissora está sediada em Porto Alegre e conta com estúdios em São
Paulo e Brasília, além de sucursais em Campo Grande, Goiânia e Londrina, pólos referenciais de produção
agropecuária.
passou a operar o portal da RBS na internet – o Clic RBS. Com isto, o grupo torna-se
multimídia, englobando os meios de comunicação internet, televisão, rádio e jornal impresso.
Através do portal Clic RBS, pode-se acessar todos os veículos do grupo, inclusive as rádios.
Também são disponibilizados no portal, algumas reportagens e matérias especiais que foram
veiculadas na programação da RBS TV. É uma forma de manter uma interatividade com o
público consumidor. Nesta mesma linha, recentemente, o grupo lançou o Hagah. Um portal
contendo serviços, classificados, oportunidades e roteiros para o sul do país, se tornando uma
alternativa de informações on line sobre o Estado.
A RBS também tem iniciativas na área social, através da criação de projetos e
campanhas de apoio a entidades. Realiza seu investimento social privado de forma sistemática
através da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMS). È uma agência de desenvolvimento
social que apóia técnica e financeiramente iniciativas de outras instituições e movimentos
sociais, visando prioritariamente crianças e adolescentes. A FMS possui quatro áreas de
atuação: cooperação técnica e financeira; mobilização social, implementação do estatuto da
Criança e do Adolescente e cidadania empresarial.
Além disso, sempre atuou em iniciativas de caráter social, como as campanhas
veiculadas no intervalo da programação da emissora:
(...) algumas têm o objetivo de apoiar causas sociais, como “Use a cabeça, dirija
pela Vida” (contra a violência no trânsito), “O Amor é e melhor Herança, Cuide
das Criança.” (2003/2004), que busca conscientizar a população dos direitos
básicos da crianças e da importância do auxílio à construção de hospitais, reforma
de prédios históricos, como os da UFRGS, na duplicação da BR-101, com a
campanha “Duplicação da BR-101. Esta idéia não pode morrer” (2003-2004), etc.
(HINERASKY, 2004, p. 28)
23
O jornal Zero Hora circula em todo o Estado do Rio Grande do Sul e ainda outros estados. No mercado
gaúcho, segundo o Ibope, é o jornal mais lido do Estado.
24
O Diário Gaúcho é um direcionado ao público popular da Grande Porto Alegre (classe B2, C e D).
Seu perfil de público concentra cerca de 55% do consumo urbano da Grande Porto Alegre.
O resultado dos shows e promoções também são significativos.
25
O jornal Pioneiro circula na região de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. Cobre todas as cidades mais
importantes da região. O jornal Pioneiro tem uma penetração de 92% em seu mercado, contando com 178 mil
leitores de acordo com o Ibope.
Santa Maria; Diário Catarinense27, de Florianópolis; Jornal de Santa Catarina28, de
Blumenau; A Hora de Santa Catarina29, de Florianópolis, A Notícia, de Joinville; vinte e seis
emissoras de rádio, dentre elas – Rádio Atlântida30, Itapema FM31, Central Brasileira de
Notícias (CBN)32, Rádio Farroupilha AM33, Rádio Metrô34, Rádio Rural FM35, Rádio
Gaúcha36 e Rádio Cidade37, dois portais de internet – Clic RBS38 e Hagah39, editora – RBS
26
Localizado na região central do Estado, o jornal Diário de Santa Maria tem uma abrangência de 33
municípios, com uma população de mais ou menos 700 mil pessoas.
27
O Estado de Santa Catarina tem o desafio de tornar-se o veículo porta-voz dos catarinenses, adotando como
princípio básico um forte envolvimento comunitário que tem crescido ao longo do tempo. Como resultado deste
envolvimento, o DC liderou grandes campanhas como a da duplicação da BR-101, mobilizando a maior parte da
população do Estado num abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas. No ano de sua implantação,
1986, o DC atingia 166 municípios, com uma circulação média de 41 mil exemplares. No momento alcança 246
municípios dos 293 existentes no Estado, contando com aproximadamente 400 mil leitores em todo o Estado.
28
O Jornal de Santa Catarina circula em toda a Região dos Vales e no litoral norte catarinense, cobrindo as
principais cidades do Estado e mais de 40% de sua população. Circula de segunda a sábado, com uma edição
conjunta no fim de semana.
29
A Hora de Santa Catarina é um jornal que oferece uma grande oportunidade ao mercado anunciante de se
comunicar com um novo público leitor, das classes B2, C e D.
30
A Atlântida é uma rede formada por 13 emissoras de rádio, oito no Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Santa
Cruz, Pelotas, Rio Grande, Caxias do Sul, Tramandaí, Santa Maria e Passo Fundo) e cinco emissoras em Santa
Catarina (Blumenau, Florianópolis, Joinville, Criciúma e Chapecó).
A Atlântida toca hits nacionais e internacionais do pop/rock, com uma programação voltada ao público jovem. A
Atlântida também é a responsável pela promoção dos maiores eventos voltados ao seu público. Todos os anos na
praia de Atlântida, no litoral do RS, e em Florianópolis, litoral catarinense, acontece o Planeta Atlântida, o maior
evento de verão da região Sul do Brasil. Na oportunidade, as melhores bandas de rock, pop, e reggae do país se
apresentam em dois dias de shows, esportes radicais e diversão.
31
Voltada para o segmento Adulto Contemporâneo e ouvida por formadores de opinião que priorizam e exigem
qualidade. Este é o perfil do ouvinte da Rede Itapema. Composto, em sua maioria, por adultos na faixa dos 25
aos 49 anos, com elevado nível cultural e com alto poder aquisitivo. Com programação gerada de Florianópolis a
Itapema leva o astral da Ilha da Magia para suas demais emissoras no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
32
A CBN - Central Brasileira de Notícias é uma rede jornalística de rádio com emissoras espalhadas em várias
cidades brasileiras, entre elas as principais capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife,
Curitiba, Goiânia, Fortaleza, Campo Grande, São Luís, Terezina, Maceió, Belém, João Pessoa, Natal, Aracajú,
Florianópolis (CBN Diário) e Porto Alegre (CBN 1340), as duas últimas instaladas através do Sistema RBS
Rádio. Em Porto Alegre, a CBN 1340 conta com uma equipe de repórteres cobrindo com agilidade todos os fatos
que são notícia na cidade e no Estado. São informativos, boletins especiais a todo momento e cobertura
jornalística de eventos relevantes para a Região Sul.
33
A Farroupilha é uma rádio que presta serviços à população local e tem uma função social muito importante,
auxiliando nas necessidades e oferecendo informação e facilidades aos ouvintes, principalmente a comunidade
carente. O programa de maior audiência da Farroupilha, Comando Maior, conta com um pico de cerca de 190
mil ouvintes por minuto e é um dos programas de rádio mais ouvidos do meio rádio. A atração é comandada pelo
carismático comunicador Gugu Streit.
34
A programação foca o segmento que é líder nos principais mercados do Brasil – o samba e o pagode. Junto a
eles, o axé e os demais ritmos de origem negra movimentam multidões de tribos. Antes associados apenas às
camadas mais populares, esses ritmos hoje entusiasmam também as classes AB. O sucesso do pagode
universitário nos mercados paulista e carioca já confirma isso.
35
Tem uma programação que combina jornalismo especializado no agronegócio e entretenimento voltado à
música de raiz do sul do Brasil. A rádio leva ao ar uma cobertura completa dos acontecimentos do setor, com
notícias, análises e debates, além dos serviços da Central de Meteorologia RBS. A rádio também apresenta aos
ouvintes de todo o país a cultura, a história e os valores do homem do campo, contando ainda com a transmissão
dos principais festivais da música nativista gaúcha.
36
A Rádio Gaúcha realiza coberturas regionais, nacionais e internacionais. Sua área de esportes está em
constante movimentação transmitindo todas as notícias sobre campeonatos no Brasil e no mundo. Em 94 deu
Publicações, gravadora – Orbeat Music, além de uma fundação de responsabilidade
social.
Com isto, além de atingir diariamente um público de milhões de pessoas, a RBS está
presente em seis estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo,
Rio de Janeiro e Distrito Federal. A empreso, portanto, tem por missão “facilitar a
comunicação das pessoas com o seu mundo”. Desta forma, as estratégias da RBS contemplam
aspectos sociais40 e mercadológicos, visando a valorização das questões regionais, conforme a
filosofia e a missão da empresa.
início a rede Gaúcha Sat que conta hoje com 130 emissoras afiliadas em nove estados brasileiros, sendo: 86 no
RS e 44 distribuídas nos estados: SC, PR, MT, MS, RO, AC, AL e MA. Transmite com tecnologia analógica e
digital, alinhada às maiores redes de comunicação em nível mundial.
37
Dirigida ao público jovem, a Rádio Cidade reúne em sua programação muita música, descontração e
promoções que aproximam o ouvinte dos comunicadores. A programação musical é variada. Durante a
programação, o ouvinte da Rádio Cidade fica por dentro das notícias do mundo artístico, dos bastidores do
esporte e da agenda cultural de Porto Alegre e Região Metropolitana. O ouvinte participa da programação da
rádio através de e-mail, carta, fax e telefone, confirmando a grande audiência da Cidade e o retorno esperado
pelos anunciantes.
38 No clicRBS o usuário recebe informação atualizada minuto a minuto, tem acesso aos conteúdos dos jornais da
RBS e à programação ao vivo e conteúdo multimídia de rádios e TVs. O portal concentra também a maior parte
das ações de interatividade dos veículos e oferece canais para as manifestações de opinião dos usuários de todas
as mídias do grupo.
39 O Hagah é um portal de oportunidades e serviços que intermedia a relação entre compradores e vendedores e
facilita a buscas por serviços, atividades culturais, imóveis e veículos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No
Hagah os internautas têm acesso a roteiros culturais, anúncios online de veículos e imóveis com fotos, além dos
mais de 130 mil locais e serviços com informações completas e localização em mapas.
40
Responsabilidade empresarial
A responsabilidade maior da RBS é para com os leitores, telespectadores, ouvintes e demais usuários de seus
produtos e serviços. É para eles que buscamos o constante aprimoramento de tudo que fazemos. A RBS entende
que o lucro é uma forma de reconhecimento pelo trabalho bem feito.
Satisfação do cliente
A RBS considera fundamental proporcionar aos seus clientes, agências de propaganda, anunciantes e demais
usuários de seus produtos e serviços, a certeza de que o benefício oferecido é superior às outras opções de
mercado.
A RBS está comprometida com a percepção e expressão dos sentimentos e necessidades da comunidade onde
atua. Divulga e promove a produção de conteúdos culturais, artísticos, educativos e informativos.
Liberdade e igualdade
Esta pesquisa, não objetiva fazer um estudo do grupo RBS, mas sim de um programa
de televisão específico. Desta forma, opta-se por deter-se na emissora RBS TV, na sua
programação, dando ênfase aos telejornais da emissora, indo encontro a um dos objetivos do
estudo.
Cada emissora determina a sua grade de programação, bem como o horário que deseja
atingir ao seu público. Essas grades, geralmente, concordam com as outras, pois visam, de
certo modo, uma concorrência. Atualmente, as emissoras comerciais baseiam-se nos dados de
audiência para decidir a programação de um gênero em um determinado horário. O IBOPE
(Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) trabalha com as pesquisas de mercado.
O órgão é responsável por estimar a quantidade de aparelhos que estão ligados em um
determinado horário, o índice de audiência. Os objetivos de cada emissora variam de acordo
com a cultura de seu telespectador, seus costumes e expectativas (SOUZA, 2004, p. 58).
Elizabeth Duarte (2004, p.46) concorda com a afirmação de Souza “... na elaboração de uma
A RBS respeita a liberdade em todas as suas formas e se opõe a qualquer tipo de preconceito social, racial,
religioso ou político. Considera a liberdade de informação uma conquista das sociedades civilizadas.
Ética e integridade
A RBS crê que uma empresa de comunicação deve se alicerçar na busca da informação verdadeira e, para tanto,
exige de seus colaboradores elevados padrões de ética e integridade na condução de suas atividades.
grade de programação, os fatores externos de ordem cultural, social e econômica são
determinantes, definindo dias para exibição de cinema ou futebol, variedades ou humorismo,
jogos ou concursos”.
Nesta direção, portanto, insere-se a RBS TV, uma emissora que visa obtenção de lucro,
possuindo programas segmentados, destinados a um determinado público, com exceção dos
telejornais, dirigido a todas idades e camadas sociais. A programação da RBS TV ocupa cerca
de dez por cento da grade da programação nacional (HINERASKY, 2004), com a cobertura
telejornalística do Rio Grande do Sul e programas voltados à cultura e a história gaúcha, sem
falar da atuação em Santa Catarina. Há outros programas nos finais de semana, além dos
telejornais, pois são os que ocupam considerável espaço na grade da emissora.
41
www.clicrbs.com.br/rbsesporte
e hoje, possui cerca de 30 minutos. O programa, que ia ao ar aos sábados às
13h45min, logo após o Jornal Hoje, hoje é apresentado às 11h30, antes do
Jornal do Almoço. O Patrola é um programa de entretenimento no gênero de
revista eletrônica42. Dividido em três blocos, os temas abordados pelo
programa são variados, englobando cultura, ecologia, esporte, moda, cinema,
artistas e celebridades, cultura, shows e festas, moda, esportes radicais,
entrevistas, curiosidades, comportamento, movimentos musicais, gastronomia,
tecnologia, comportamento, tendências, cotidiano etc. O programa possui
também, quadros diversificados não fixos, cujo perfil é diferenciado: “Quase
Famosos”43, “Firula”44, “Na lata”45, “Nós no Patrola”46 etc. Os apresentadores
são característica marcante do programa. Na sua estréia, o Patrola era
apresentado por Gabriel Moojen e Mauren Motta. Gabriel saiu do programa
em 2003 foi substituído pelo apresentador Ico Thomaz. Em outubro de 2005, a
jornalista Rodaika Daut iniciou sua participação, inicialmente para cobrir as
férias da apresentadora Mauren. O programa é apresentado hoje por Ico e
Rodaika.
e) Campo e Lavoura – Transmitido aos domingos, às 6h, é direcionado a vida
no campo. O programa procura divulgar novas tecnologias, projetos
experimentais que auxiliem o produtor e trabalhador rural a melhorar a
produção. Além disso, mostra as principais feiras agropecuárias da Região Sul,
trazendo novidades do meio rural. É dividido em 3 blocos e tem duração de 45
minutos.
42
De acordo com SOUZA, nos programas do gênero revista pode haver vários formatos: telejornalismo, quadros
humorísticos, reportagens, musicais, enfim, assuntos diversos voltados a revista impressa. Esse gênero é muito
parecido com os programas de variedades. O que diferencia é a postura que a revista tem, mais comprometida
com um caráter informativo do que com entretenimento simplesmente. Segundo o autor: “(...) o infortenimento –
a informação unida ao entretenimento – passa a ser a linguagem utilizada para atrair a audiência. A notícia torna-
se espetáculo e faz parte de uma espécie de show de informações.” (SOUZA, 2004, p.130)
43
Procura evidenciar e divulgar trabalhos de bandas a artistas pouco conhecidos no Estado e até em Santa
Catarina. São feitas entrevistas, mostra-se um pouco da trajetória do grupo/pessoa, insert de alguns shows,
trechos de músicas e o meio de contato.
44
È um quadro que trata de assuntos variados, geralmente alguma novidade, modismo ou tendências, entre
outros.
45
Tem uma temática variada, geralmente com uma entrevista feita em um local relacionado com o personagem.
É dinâmico, não dando a oportunidade de o entrevistado pensar em boas respostas, o que sugere o nome do
quadro.
46
As pessoas se inscrevem e sugerem pautas.
f) Galpão Crioulo – Um dos programas que mais remetem a cultura tradicional
gaúcha, o Galpão Crioulo está no ar há mais de 20 anos, divulgando a cultura
regional e tratando essencialmente da música nativista. Apresentado desde a
primeira edição pelo tradicionalista Antonio Augusto Fagundes, mais
conhecido como Nico Fagundes, divide o palco com Neto Fagundes. O
programa não é gravado em estúdio. Pode ser gravado em grandes espetáculos,
em palcos, fazer parte de eventos (feiras, exposições), ou até mesmo em
fazendas, mostrando as peculiaridades do lugar. Além disso, o Galpão Crioulo
mostra símbolos ligados a cultura regional, como o chimarrão, a Bandeira do
Estado, trajes típicos da indumentária gaúcha, cavalo, Fogo de chão, etc.
Conforme Hinerasky (2002), o programa mudou várias vezes de horário. No
início, era veiculado entre 9h e 11h de domingo, mudando para sábados à tarde
e voltando novamente aos domingos, porém, pelas manhãs. Tem sido
transmitido às 6h45, aos domingos, após o Campo e Lavoura. Segundo o
diretor de telejornalismo, Raul Costa Júnior (apud entrevista a Hinerasky,
2002, p. 49)
“Foi uma opção estratégica, a partir dos espaços que a gente tinha na
programação da Globo. Quando o Galpão Crioula estava no sábado a tarde, ele
não tinha nada a ver com o público de sábado a tarde, estava perdendo audiência
[...] o perfil do público que assiste televisão naquele horário é outro, não é o
público nativista, interessado no nativismo, mas é um público interessado em
questões gerais, não tão específicas. O público interessado no nativismo vai a
qualquer horário”
Segundo Bardin (1988) e Barros e Targino (2000), há duas regas para constituição do
corpus: Regra da Exaustividade, que consiste na escolha de todos os documentos relativos ao
assunto pesquisado e Regra da Representatividade, que constitui em uma amostragem sobre o
objeto de estudo, pois as pesquisas sociais, de forma geral, abrangem um universo de
elementos tão grande que se torna impossível considera-los, em sua totalidade, sendo
necessário trabalhar com uma amostra (GIL apud BARROS E DUARTE, 2005, p. 292).
A proposta inicial do estudo era analisar como a identidade cultural gaúcha é
representada na programação local da RBS TV. Por ser muito abrangente, e já existirem
estudos48 acerca da identidade cultural na programação regional, optou-se por delimitar um só
programa e a análise da representação da cultura regional gaúcha no telejornalismo,
realizando um estudo pioneiro sobre o programa Teledomingo, da RBS TV.
O corpus contempla, pois o Teledomingo, programa dominical no formato de revista
eletrônica, veiculado na RBS TV às 23h30min, após o Sob Nova Direção. Na perspectiva de
dar conta da representatividade das características essenciais do objeto empírico, foram
escolhidos para análise seis programas nos meses49 de julho (dias 16 e 23), agosto (dias 20 e
27) e setembro (dias 17 e 24). A escolha considerou: a) os últimos dois programas dominicais
47
De acordo com Goldenberg, triangulação é uma metáfora emprestada da estratégia militar e da navegação,
que se utilizam de múltiplos pontos de referência para localizar a posição exata de um objeto. (GOLDENBERG,
2005, p. 63)
48
Conforme já mencionados na introdução deste trabalho.
mensais50, desde o mês de início da pesquisa, até o mês da conclusão, na tentativa de formar
uma amostra representativa pelas características regulares que representa a cultura regional
gaúcha, através das categorias delimitadas a seguir; b) o mês de setembro, em que se
comemora o “Dia do Gaúcho” (dia 20), uma das bases desta pesquisa, cujo foco é a cultura
regional gaúcha.
Para dar conta da proposta do estudo, não se optou pela análise das estratégias
discursivas, e apesar da vertente adotada, pode remeter a análises desconectadas das
experiências sociais. Ao mesmo tempo, o estudo também não delimitou a análise de conteúdo
como instrumentos estratégico de ação, tendo em vista que este método procura analisar a
informação apenas do ponto de vista semântico para dar conta dos elementos em que foi
produzido. Desta forma, optou-se por realizar uma análise descritiva do programa
Teledomingo, a partir de categorias analíticas, que buscam dar conta da problemática, levando
em consideração as seguintes noções relativas à traços da cultura gaúcha, ambientes rural e
urbano, linguagem etc.
a) Pesquisa Bibliográfica
Num primeiro momento, utilizou-se a técnica de Pesquisa Bibliográfica, na qual
procurou-se reunir em livros, artigos, periódicos e materiais on line sobre representação,
cultura regional e tradicionalismo, além de material sobre o programa Teledomingo. Para
50
Com exceção do mês de julho que, conforme a programação da TV Globo, que apresentou o Festival Tim de
Musica ao VIVO, o Teledomingo foi apresentado às 1h15. Pelo horário de exibição, consideramos que
descaracterizaria, de certa forma, dos outros programas analisados, já que iniciaram no mesmo horário conforme
a grade local da emissora gaúcha.
51
Os programas foram gravados em VHS (Vídeo Home System)
LAKATOS (2002, p. 71), a finalidade desta técnica é “colocar o pesquisados em contato
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.
b)Entrevistas
O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas52 complementadas por
contato através de e-mail para esclarecimentos. De acordo com Lakatos, neste tipo de
entrevista, o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção
que considere adequada (2002, p. 94). Para o autor: “É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão”.
O autor Augusto Triviños (apud HINERASKY, 2004) elucida que a entrevista semi-
estruturada em geral, “parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam á pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as
respostas do informante”. Desta forma, o entrevistado ajuda, de certo modo, na condução e
elaboração da entrevista, segundo suas experiências e linhas de pensamento (HINERASKY,
2004, p. 105)
Barros e Duarte (2005, p. 66) complementam, dizendo que uma entrevista semi-
estruturada tem geralmente entre cinco e sete perguntas abertas, onde “cada questão é
aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vão
dando origem a específicas”. Para os autores, a escolha das fontes para entrevista na pesquisa
qualitativa é fundamental, de preferência por poucas fontes, pois “deste modo, uma única
entrevista pode ser mais adequada para esclarecer determinada questão do que um censo
nacional”.
Embora se tenha tentado agendar entrevistas com os produtores do Teledomingo
através de e-mail, obteve-se êxito somente do editor chefe, Raul Ferreira e um dos âncoras –
Regina Lima (Anexo). A entrevista com os jornalistas foi realizada com o intuito de conhecer
a linha editorial do programa, rotina de produção (embora não sendo o objetivo do estudo),
pautas e a preocupação com a cultura53.
52
Foram feitas entrevistas semi estruturadas com um dos produtores do Teledomingo – Regina Lima, e pessoas
ligadas ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) – Olmiro Pereira Bastos e Rogério Pereira Bastos. A
exceção é a entrevista feita com Manoelito Savaris, que foi feita por e-mail, portanto, estruturada.
53
De forma indireta.
É importante ressaltar que embora haja diversos estudos acerca da cultura regional
gaúcha, fundamental para este estudo e meu aprendizado, era realizar uma ampla pesquisa a
esse respeito. Isso fazia parte das minhas inquietações como futura jornalista e pesquisadora.
Assim, procurando obter mais informações sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande
do Sul e as suas peculiaridades, foi entrevistado também o Vice-Presidente da Confederação
Brasileira de Tradições Gaúchas (CBTG), Olmiro Pereira Bastos, o Presidente do Movimento
Tradicionalista Gaúcho, Manoelito Savaris e o Diretor Administrativo da Fundação Cultural
Gaúcha – MTG (FCG-MTG), Rogério Pereira Bastos (Anexo 4). As entrevistas com Regina
Lima e Rogério Bastos foram gravadas com tecnologia digital, no formato de Mp3. A
entrevista com Olmiro Bastos foi gravada com fita cassete e com Manoelito Savaris e Raul
Ferreira foi feita por e-mail.
a) Editoria
54
Esta grade contempla para facilitar a análise.
c) Linguagem
d) Local
e) Trilha Sonora
Com esta categoria, analisamos a trilha sonora das reportagens, procurando observar o
gênero das músicas e a presença, ou não, de música regionalista. Nas Notícias do Final de
Semana a vinheta é a mesma, portanto, esta categoria não é analisada.
LOCAL
LINGUAGEM
TRILHA SONORA
ELEMENTOS
GAÚCHOS /
FIGURA DO
GAÚCHO
EDITORIA
PECULIARIDADES
REPÓRTER
Para finalizar a proposta metodológica deste estudo o último passo foi o Tratamento
de Resultados e Interpretação, que permite ao analista propor suas conclusões. Após a análise
das categorias específicas, foi feito um cruzamento dos dados obtidos, para observar a
recorrência de características apontadas na grade. È o que se destaca a seguir.
Neste momento, são apresentados os telejornais da RBS TV, com o intuito de fazer os
produtos informativos produzidos e veiculados pela emissora gaúcha. Outros estudos sobre a
programação da RBS TV foram realizados, a exemplo da pesquisadora Daniela Hinerasky55.
Esta pesquisa então, adota como base o estudo de Hinerasky (2004), além de complementar
com dados atuais.
Na grade de programação da RBS TV , os programas de cunho jornalístico é que tem
mais destaque, totalizando em torno de duas horas diárias de informação aos gaúchos. O
telejornalismo na emissora começa às 6h30 com o Bom Dia Rio Grande. Apresentado em
porto Alegre, o telejornal traz os principais fatos ocorridos na noite anterior e as primeiras
notícias da manhã, além da Previsão do Tempo56. De acordo com Hinerasky (2000, p. 33),
desde outubro de 2002 não se produz mais blocos locais no Bom Dia Rio Grande, os quais
traziam uma entrevista ao vivo sobre diferentes assuntos, evento, fato ou comemoração local
importante do dia.
O Jornal do Almoço é o telejornal que mais tem audiência, segundo dados do share
disponibilizados no site da emissora. O JA é um dos programas mais tradicionais da RBS TV,
com informação, entretenimento e cultura. Realizam-se entrevistas (geralmente em estúdio) e
quadros57, que também vão ao ar esporadicamente.
55
Na monografia de conclusão de curso, intitulada “A Comunidade Imaginada dos produtores Culturais da RBS
TV” (2000), Hinerasky faz um estudo sobre as estratégias que os produtores culturais buscam para atingir
audiência. Em 2004, em sua tese de dissertação de mestrado, “O Pampa virou cidade: Um estudo sobre a
identidade cultural nas produções de teledramaturgia da RBS TV” a pesquisadora faz um estudo sobre a
identidade cultural nos programas de teledramaturgia da RBS TV, Histórias Curtas.
56
Até então, a Previsão do Tempo é uma das características do telejornal matinal. O jornalista Paulo Borges foge
dos padrões convencionais e traz uma certa irreverência a notícia sobre o tempo. Além disso, em algumas vezes,
utiliza roupas escrachadas, entrevistas, curiosidades, sem contudo, deixar a informação de lado. A popularidade
do jornalista foi conferida nas eleições de 2006, onde Paulo Borges elegeu-se o deputado estadual mais votado.
57
Conforme Hinerasky (2000, p. 43), havia quadros fixos em cada dia da semana. Alguns são veiculados para
todo o estado, mas as emissoras do interior também produzem os seus próprios. Na segunda-feira - “Melhor
Idade”, na terça – “JA Comunidade”, na quarta - “Defenda-se”, na quinta – “To chegando”, e na sexta –
“Agenda Cultural”. Nota-se, porém, que estes quadros não constam mais no Jornal do Almoço, com exceção do
“JA Comunidade”, que é produzido, às vezes, pela emissora local.
O JA vai ao ar de segunda a sábado ao meio-dia. É dividido em seis blocos: três
estaduais e três locais. Cada bloco dura em média seis minutos, totalizando 45 minutos de
telejornal. O primeiro bloco do Jornal do Almoço local traz uma (ou duas) reportagens e
entrevista (que não ocorre diariamente). O terceiro bloco é destinado ao JA Notícias, ou seja
as notícias factuais da cidade e região. “Até 99, o JA Notícias era o noticiário do Estado do
horário do meio-dia transmitido logo depois do Jornal do Almoço. Neste mesmo ano, houve
mudanças no formato dos programas. O JA Notícias foi inserido no Jornal do Almoço”.
(HINERASKY, 2000, p. 45)
O Globo Esporte é um telejornal produzido pela cabeça de rede – Globo, que destina
dois blocos à produções local com informações esportivas do Estado, transmitido na capital
Porto Alegre. O primeiro e o segundo bloco são estaduais, apresentado por Paulo Britto e três
últimos são nacionais. O cenário do programa é padrão em todo Brasil.
Finalizando os programas informativos diários da emissora gaúcha está o RBS
Notícias que, segundo Raul Ferreira, é o programa de maior audiência. Transmitido por volta
das sete da noite, contém três blocos – o primeiro e o terceiro estaduais e o segundo local. O
telejornal traz um resumo dos principais fatos ocorridos no dia e a previsão do tempo. É um
jornal mais “sério”, se comparado ao Jornal do Almoço, pois este último, por ser transmitido
ao meio-dia, tem um caráter mais popular.
Nesta direção, aponta-se o Teledomingo como um diferencial na programação
telejornalística da emissora, já que, por disponibilizar mais tempo para sua produção, utiliza
matérias mais elaboradas, atraindo assim, atenção do público.
O jornalismo da RBS TV também teve destaque especial desde o final da década de 90,
com o lançamento do Teledomingo (novembro de 1997). O Teledomingo é uma revista
eletrônica, nos mesmos moldes do Fantástico, veiculado também aos domingos pela Rede
Globo (às 20h30min). O programa de reportagens especiais traz também os principais fatos
ocorridos no final de semana, apresentado em um formato ágil/dinâmico. Aborda diversos
assuntos, unindo informação e entretenimento: curiosidades, cultura, comportamento,
violência, saúde e lazer.
O programa apresenta alguns quadros fixos, dentre eles Leopoldis Som, que traz
imagens antigas sobre algum acontecimentos importante ocorrido no estado, ou até aspectos
interessantes que possam trazer informações e/ou curiosidade dos antepassados. As imagens
são do Museu do Trabalho. Além do Leopoldis Som, há também os quadros Vida em Um
Minuto58 e Galeria do Telespectador59.
Conforme o editor-chefe Raul Ferreira, há seis anos o Teledomingo é o segundo
programa de maior audiência do RS60, só perdendo para o RBS Notícias que vai ao ar às sete
horas da noite de segunda a sábado. Nesta perspectiva, um dos aspectos de maior relevância,
segundo o editor é o fato de que mesmo com um programa anterior sem muita força de
audiência, como é o Sob Nova Direção, a emissora, através do Teledomingo, consegue manter
o público acordado e muitas vezes até com o crescimento do Ibope no horário, conforme vai
passando os minutos.
Desde a estréia do Teledomingo, equipe de trabalho é a mesma. Segundo Raul
Ferreira, que há oito anos trabalha com a equipe, o maior diferencial do programa em relação
aos demais produtos telejornalísticos da RBS TV é a preocupação com a
finalização/acabamento das reportagens. Ele explica que cerca de cinco ou seis grandes
matérias são produzidas durante a semana, depois editadas e sonorizadas. Ainda assim, há a
cobertura do final de semana, ou seja, os principais acontecimentos a partir de sábado depois
do RBS Notícias até o domingo à noite: são as notícias factuais, cobertura de eventos, etc, que
chegam do interior ou de Porto Alegre e região metropolitana (em forma de flashes, ou nota
coberta61).
O programa é dividido em três blocos62, separados por intervalos comerciais. Os
âncoras/apresentadores conduzem o programa em pé, na tentativa de uma maior proximidade
com o público, e agilidade. O Teledomingo inicia com uma escalada63, somente com imagens,
trilha sonora ao fundo e as manchetes principais que entram no ar. Em seguida, um plano
58
Quadro que mostra uma pessoa que se inscreve no site que faça algo curioso ou inovador; algo que seja
interessante para o telespectador.
59
O telespectador manda fotos que são mostradas no decorrer do programa, e após o término, fica no site do
Teledomingo (www.rbstv.com.br/teledomingo) .
60
Conforme dados de audiência de julho de 2005, o programa Teledomingo IA: 23,4 pp Share : 54,3
61
Notícia com imagens, sem a presença do repórter.
62
Grupo de notícias de uma mesma seção, transmitida num programa informativo sem intervalos. (RABAÇA,
2001, p. 73)
63
Manchetes sobre os principais assuntos do sai que abrem o jornal. São frases curtas, cobertas ou não com
imagens. (BISTANE e BACELLAR, 2005, p. 133)
aberto com os dois âncoras chamam a atenção para o início do programa, finalizando o
primeiro bloco com a frase slogan64: “A partir de agora, o Rio Grande passa por aqui”.
A estrutura do Teledomingo não ocorre de forma fechada (é variável), ou seja, sempre
do mesmo modo, mas segue um padrão. No primeiro bloco, por exemplo, após a abertura do
programa, há a apresentação de uma reportagem (que geralmente dura de 5 a 7 minutos),
entram algumas notas cobertas (geralmente duas ou três) de notícias do Estado. Após, mais
alguma reportagem ou quadro. Na seqüência entram os âncoras chamando a atenção para as
próximas reportagens, e ou notícias que foram relevantes no final de semana, e volta mais
uma nota coberta, ou reportagem, e intervalo.
A volta para o segundo bloco, começa com as notícias do final de semana em forma de
notas cobertas e mais alguma reportagem. Na edição, é colocado a cidade de onde vem a
notícia.
O último bloco do programa apresenta a mesma estrutura dos demais, com reportagens
e notas cobertas intercaladas. A previsão do tempo não possui um bloco fixo. Primeiro entra a
repórter ao vivo de uma rua da capital dando um resumo do tempo nos próximos dias, após,
imagens gráficas do mapa do Rio Grande do Sul onde são mostradas a previsão do tempo e as
temperaturas mínimas e máximas. Para finalizar, entra a repórter ao vivo, de novo, dando
informações complementares. O programa é encerrado com uma imagem aberta dos
apresentadores, desejando “uma boa semana aos gaúchos”.
A própria montagem do programa não segue um padrão, nem mesmo a abertura. Ora
inicia com imagens, ora com os apresentadores. As reportagens e notícias do final de semana
são intercaladas, dinamizadas, mas também não tem uma especificidade do momento que irá
entrar cada um. Nem mesmo a previsão do tempo não tem um bloco específico para entrar.
Neste caso, a única coisa que é recorrente, é o fato da repórter entrar ao vivo, sempre, de um
ponto da capital. Nota-se que a única preocupação é intercalar reportagens/notas cobertas para
não tornar repetitivo.
O Teledomingo contempla, essencialmente, assuntos voltados ao povo gaúcho, ou
seja, matérias produzidas no Estado direcionadas ao povo Rio-Grandense. Diferente do que o
Fantástico65, transmitido pela Rede Globo também aos domingos, que traz notícias e quadros
64
Frase marcante, atraente, de fácil percepção e memorização, que apregoa as qualidades e superioridade de um
produto, serviço ou idéias. (RABAÇA, 2001, p. 686)
65
As semelhanças entre os dois programas é basicamente na estética e formato do programa, já que nos dois não
há bancada, e os apresentadores (sempre um casal) dirigem o programa em pé. O estúdio das duas emissoras
especiais direcionados ao Brasil todo, certamente por haver uma maior cobertura. Este último,
além de notícias sobre o final de semana, cobertura de eventos, campeonatos esportivos, traz
quadros humorísticos, curiosos e inovadores. O Teledomingo, no entanto, contempla assuntos
locais, conforme a âncora Regina Lima:
“ (...) A nossa linha editorial segue para assuntos inusitados, curiosos, da rotina dos
gaúchos... Essa história da nossa tradição é muito importante para nós, porque a
gente valoriza os assuntos locais, até por quê se a gente fosse falar do Brasil, seria
repetitivo, porque o Fantástico já passou, né? Então a gente tenta ir muito por esse
lado. (...)
O Teledomingo trabalha muito pouco com releases, folder. A gente observa muito. A
gente ta na rua, observando. Às vezes claro, com o interior, que a gente trabalha
muito, direto.”
Desta forma, o programa busca uma valorização do Estado, na medida em que procura
mostrar as peculiaridades do Rio Grande através das emissoras afiliadas do interior. Ainda
segundo Regina Lima:
“(...) Aqui a gente tem uma equipe super talentosa no interior do estado, uma
equipe que se esforça pra caramba, eles tem material, eles tem notícia legal pra
gente, muitas vezes que foram produzidas que outros programas não usam, então a
gente usa. Isso precisou ser lapidado, por que no início o interior tinha um pouco
de dificuldade em nos atender domingo... mas depois a gente criou uma relação tão
legal que lês com o tempo começaram a oferecer os produtos que tinham e isso que
a gente conta muito. A gente conta muito com Santa Catarina também, que lá o
Teledomingo deles é Estúdio Santa Catarina e eles mandam reportagens para nós,
e nós mandamos reportagens para eles. Mas essa regionalização assim, a gente faz
questão de ter no programa, isso é marca, isso é importante no programa, né?
Essa questão das cidades do interior, e até porquê os assuntos interessam. Qual é a
comunidade que não gosta de se ver, né?”
De acordo com a âncora ainda, o programa não possui uma linha editorial específica,
mas busca trazer aos gaúchos algo inédito, assuntos polêmicos, algo que não é veiculados nos
outros telejornais da emissora, já que no Teledomingo disponibilizam de um tempo maior na
elaboração das reportagens. Neste sentido, Regina explica como é a rotina de produção do
programa:
onde são apresentados os programas tem um fundo croma, porém, o Fantástico utiliza imagens diferentes toda a
semana, geralmente obras de arte. No entanto, o Teledomingo possui a mesma estética em todos os programas.
Além disso, os dois programas possuem quadros específicos, que visam valorizar e dinamizar, de certa forma, os
programas. Tanto um quanto o outro diferem basicamente na forma editorial, já que o Fantástico é transmitido
para o Brasil (e via cabo para vários lugares do mundo) e o Teledomingo tem um foco mais regional.
“A gente tem reunião sempre às segundas-feiras. O Raul Ferreira, que é o editor-
chefe, e o Horácio Duarte, que é o editor-executivo, ficam muito voltados a
produção das reportagens, que são feitas na maioria durante a semana, mas tem
algumas que são feitas no próprio domingo, ou no sábado, né? Eu, geralmente,
tenho uma ou duas externas do Teledomingo durante a semana, tem algumas
coisas de arquivo... Por exemplo, o Leopoldis Som, o editor vai lá, ou eu vou lá,
escolho e faço o texto. Então, eu uso dois dias para o Teledomingo. É um quadro
que a gente valoriza o Museu do Trabalho, que a RBS está mantendo, e esttá
conservando aqui. A gente acha super importante, pra falar do passado da gente,
enfim... Então a gente fica muito dirigido pra texto, pra produção de coisas pro
final de semana.”
66
20 de agosto – Leopoldis Som (sobre o Rio de Janeiro quando era a Capital Federal) , 27 de agosto –
Leopoldis Som (sobre a Miss Rio Grande do Sul de 1929) e 24 de setembro – Meu mundo em 60 segundos
(sobre um rapaz adepto ao esporte do Ioiô)
Analisando separadamente, cada programa possui em média quatro reportagens
especiais e 12 notas cobertas, além de um quadro. Nota-se também, a inserção de reportagens
extras, que não se encaixaram na grade analítica descritiva. São os especiais: Documentário
sobre o Internacional – “Um Dia de Glória” (20 de agosto), produzido durante o jogo final do
Campeonato Libertadores da América e a “A Voz do Povo” (27 de agosto), que trouxe a
opinião dos gaúchos acerca aos candidatos das eleições 2006.
Então, para dar conta dos objetivos da pesquisa, verificamos em cada uma das
categorias previstas, elementos e temáticas recorrentes, ou que se destacava no que diz
respeito a cultura regional gaúcha.
EDITORIA
A editoria preponderante, tanto nas reportagens, quanto nas notas cobertas é a Geral,
ou seja, aquelas que contemplam assuntos de interesse público que não se encaixa em outras
como política, polícia, esportes etc, característico nos telejornais. Nesse, observou-se 13
reportagens67 e 35 notas cobertas68.
Matérias de cunho policial também são bastante evidentes, principalmente nas
reportagens, totalizando cinco analisadas, sendo duas de cunho denuncista69. Notícias sobre
religião são apontadas somente nas notas cobertas, referindo-se principalmente a romarias e
procissões feitas pelo Estado. Embora o período analisado tivesse decorrido em época de
campanhas eleitorais, houve somente uma recorrência através de nota coberta: a visita de uma
67
16 de julho – “A Vida Interna”, “Quintana, o Anjo Poeta”; 23 de julho – “A Terapia do Riso”, “Quintana, o
Anjo Poeta” e “O Balseiro”; 20 de agosto - “Central da Periferia”, “O Japão é aqui” e “Os vencedores”; 27 de
agosto – “Transamérica”; 17 de setembro – “Os chorões”; 24 de setembro, “No tempo das Carreteiras”,
“Construindo a Cidadania” e “Coma, o outro lado da vida”
68
16 de julho – “Queda de objeto não identificado”, “Caminhada de mulheres que sobreviveram ao câncer”,
“Aniversário dos 100 anos da Dona Cotinha”, “Abertura do São Leopold Fest”, “Casamento Coletivo”; 24 de
julho – “16º Festilália”, “Quinta Parada do Orgulho Gay”, “Desmoronamento de Perimetral”; 20 de agosto –
“Comemoração do Título da Libertadores”, “Domingo Show”, “Caminhada com cães”, “Rally com carros
antigos”, “Homenagem ao cantor e compositor Fernando Ribeiro”, “Apresentação do grupo Fat Family”, 27 de
agosto “Manifestação pela paz”, “Manifestação pela violência”, “Saída integrantes da RBS TV para trabalharem
pelo Estado no quadro ‘Fala Rio Grande’”, “Olipíadas rurais”, “Peça a Revolução dos Bixos”, “Exopointer”, 17
de setembro – “Enterro do padre João Peters”, “Morte de juíza”, “87º Mostra de El País”, “Desfile Temático –
Assim se fez o gaúcho”, “Exposição de carros antigos”, “Corrida de carros”, “Fulhote de Bugio”, “Mais Belo
Negro e Negra”, “10º Parada Livre”; 24 de setembro – “Exposição de carros antigos”, “Show”, “1ª Festa das
Flores”, “Concerto Musical”, “Concerto de Ópera”.
69
A reportagem “Passe Livre” que denunciava a máfia das carteiras falsas para obterem gratuidade no transporte
coletivo de Alvorada (20 de agosto) e “Infância Violada”, que mostra denúncias de pedofilia infantil,
principalmente na Internet e dento de casa (24 de setembro).
candidata em Porto Alegre. Pode-se notar, no entanto, que foram veiculadas duas pesquisas
com intenções de voto, que não cabe aqui especificar, pois não é o foco deste estudo.
O esporte é bastante evidente, principalmente nas notícias de final de semana, onde
ocorrem diversos campeonatos pelo Estado, além dos gols dos times gaúchos nos
campeonatos brasileiros. Neste caso, o Teledomingo apenas detém-se a dar os resultados dos
jogos, já que as particularidades, como melhores jogadas, gols, faltas etc, são mostradas no
Lance Final, programa esportivo que vem logo após o telejornal analisado (com exceção de
quando há especiais produzidos pela RBS TV). Desta forma, há oito notas cobertas com
notícias esportivas e somente uma reportagem esportiva (“O vovô, Rio Grande” – 16 de
julho).
Sobre o tradicionalismo, foco deste estudo, encontra-se duas reportagens (“O peão DJ”
– 27 de agosto e “O Campo na Cidade” – 17 de setembro), além de seis notas cobertas70
relativas às comemorações da Semana Farroupilha no Estado. Aponta-se ainda quatro notícias
sobre cultura, e duas reportagens sobre comportamento.
Quanto aos assuntos, observamos que as pautas englobam temas da atualidade e
contemporâneos. O programa é bastante diversificado, englobando reportagens que
interessam e tragam, de alguma forma, ao cotidiano do gaúcho, além daquelas que possuem
caráter de interesse público, como reportagens de denúncia.
As notícias do final de semana contemplam um resumo do que ocorreu no Estado no
final de semana, já que é o único produto jornalístico veiculado pela RBS TV a partir de
sábado à noite, após o RBS Notícias. Conforme a análise, não se pode apontar assuntos
recorrentes, pois são bastante diversificados.
70
20 de agosto – “Jogo de Futebol de Bombachas”; 17 de setembro – “Semana Farroupilha em Porto Alegre”,
“Semana Farroupilha em Arroio Grande”, “Homem trabalhando pilchado em Carazinho”, “Cavalgada feminina”,
24 de satembro – “Desfile da Semana Farroupilha em Vera Cruz”.
como cavalo e bois. Das reportagens analisadas, cinco71 contém elementos característicos da
cultura gaúcha, e 14 notas cobertas72 contemplam estes aspectos regionalistas.
Figura 1 - Figura 2 -
Nota Coberta – Comemorações da Semana Nota Coberta – Desfile da Semana Farroupilha
Farroupilha em Porto Alegre – 17 de setembro em Vera Cruz – 24 de setembro
71
16 de julho – “O vovô, Rio Grande”; 24 de julho – “O Balseiro”; 20 de agosto – “Central da Periferia”; 27 de
agosto – “O Peão DJ”; 24 de setembro – “O Campo na Cidade”.
72
16 de julho – “Celebração do Dia do Amigo”; 23 de julho – “Desfile de agricultores”, “Procissão de São
Cristóvão”; 20 de agosto – “Domingo Show”, “Jogo de Futebol de Bombachas”, 27 de agosto – “Olimpíadas
rurais”, “Expointer”; 17 de setembro – “Semana Farroupilha em Porto Alegre”, “Semana Farroupilha em Arroio
Grande”, “Homem trabalhando pilchado em Carazinho”, “Cavalgada feminina”, 24 de setembro – “Desfile da
Semana Farroupilha em Vera Cruz”, “Show”, “Concerto Musical”