Zacarias 2016

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 107

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Mestrado em Jornalismo

O Jornalismo Cultural no
Correio da Manhã

Relatório de estágio submetido como requisito parcial para obtenção do grau de


Mestre em Jornalismo

Autora: Denise Zacarias


Orientado pela Profª Doutora Maria José Mata

0
Declaração Anti plágio

Declaro que sou a autora do presente relatório de estágio, necessário para a obtenção do
Mestrado em Jornalismo. O conteúdo deste trabalho é original e todas as fontes citadas
ou ideias de outros autores estão devidamente identificadas na bibliografia, notas de
rodapé ou à frente das respetivas citações. Além disso, estou ciente de que o plágio pode
levar à anulação do relatório apresentado

A candidata

_________________________________

1
Resumo
O presente relatório resulta de um estágio curricular realizado durante 3 meses na seção
Cultura, Televisão e Media do Correio da Manhã e tem como objetivo analisar as
tendências, constrangimentos e práticas do jornalismo cultural, naquele que é o jornal
mais vendido do país. A experiência adquirida na redação do CM permitiu recolher
dados que possibilitaram analisar as principais tendências deste jornal diário,
nomeadamente o tipo de notícia, os géneros jornalísticos, as fontes utilizadas, o grau de
personalização, entre outros aspetos relevantes que enfatizam algumas das
particularidades do jornalismo cultural que é praticado no Correio da Manhã.

Palavra-chave: Cultura; Jornalismo Cultural; infoentretenimento; Correio da Manhã

Abstract
This report results from a three months internship in the Culture, Television and Media's
Correio da Manha and aims to analyze trends, constraints and practices of cultural
journalism in what is the biggest selling newspaper in the country. My experience in the
Correio da Manha newsroom allowed to collect data that made it possible to analyze the
main trends of this daily newspaper, including the type of news, journalistic genres, the
sources used, the degree of customization, among other relevant aspects that emphasize
some of journalism particularities cultural that is practiced in Correio da Manhã.

Keywords: Culture; Cultural journalism; infotaitment; Correio da Manhã

2
Agradecimentos
Os agradecimentos. Aquela fase em que nos perdemos na imensidão de pessoas que –
sob variadas formas – nos conduziram até aqui. O momento em que dizemos adeus a
um ciclo de estudos e iniciamos uma nova etapa nas nossas vidas.
Por isso, começo por agradecer ao ISCSP e à ESCS não só por me terem acolhido nas
suas instalações, mas sobretudo por me darem a possibilidade de vivenciar uma série de
experiências e por me desafiarem a pensar e a fazer mais e melhor todos os dias. Foi
nestas instituições que conheci pessoas verdadeiramente inspiradoras. Destaco apenas
duas. A minha orientadora – a prof.ª Doutora Maria José Mata – a quem ficarei
eternamente grata pela disponibilidade, pela paciência e pela calma que sempre
demonstrou. E pelas críticas, conselhos e sugestões que foram fundamentais e me
ajudaram a manter sempre os pés bem assentes no chão. E, como não poderia deixar de
ser, à prof.ª Doutora Anabela de Sousa Lopes por ter acreditado em mim e nos meus
colegas, ajudando todos a encontrar um local de estágio que se enquadrasse naquilo que
cada um de nós realmente queria para o futuro. Ouvindo, ajudando, informando. Foi
graças a ela que entrei para o Correio da Manhã, que foi durante 3 meses mais do que
uma casa para mim. Mesmo com todas as lágrimas, frustrações e tristezas que fazem
parte do processo de aprendizagem agradeço do fundo do coração ao Correio da Manhã
por esta oportunidade única e, em especial à seção Cultura, Televisão & Media (aqueles
grandes malucos!). Aos jornalistas, editores, fotógrafos e demais funcionários que
merecem todo o nosso respeito porque são um verdadeiro exemplo de empenho e
dedicação.
Agradeço também ao meu pai (pela pessoa incrível que é), à minha mãe (por mesmo
longe conseguir estar perto) e às minhas irmãs – Mariana (a minha macaquinha linda) e
Rita (que como alguém que nós conhecemos diria é “a minha pessoa”, a minha fonte de
inspiração, a minha gémea…Partilhou comigo toda uma vida, e luta ao meu lado por
uma luta que não é a dela). Sem eles nada disto faria sentido!
Por isso, aqui estou eu a agradecer-lhes da única forma que sei, sabendo que um simples
OBRIGADO não chega. Estas páginas são claramente insuficientes para todas as
pessoas a quem eu queria dizer OBRIGADO (e se é assim agora, nem quero pensar
como seria se ganhásse um globo de ouro ou um prémio nobel!). Mas tenho ainda de
agradecer à banda filarmónica da União Mucifalense não só por alimentar a minha

3
paixão pela música e pela cultura mas por me ter tornado clarinestista à mais de uma
década e, claro agradeço a todas as pessoas que fazem dela a melhor banda do mundo!
Por fim, (e porque não me quero esquecer de ninguém), muito obrigada a todas a
pessoas que de forma consciente ou inconsciente, direta ou indireta abdicaram de um
bocadinho do seu tempo para me ajudar de alguma forma.
MUITO OBRIGADO!

I hope you don’t mind

I hope you don’t mind that I put down in words

How wonderful life is while you’re in the world

Eltan John

4
Índice
DECLARAÇÃO ANTI PLÁGIO ……………………………………………………... I

RESUMO/ ABSTRACT………………………………………………………………...II

AGRADECIMENTOS………………………………………………………………... III

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….. V

CAPÍTULO I: Jornalismo Cultural

1.1. O conceito de cultura……………………………………………………... 10


1.2. Jornalismo e cultura.……………………………………………………… 13
1.2.1. O jornalismo especializado…………...…………………………… 13
1.2.2. O jornalismo especializado em cultura……………………………. 15
1.3. Um pouco da história do jornalismo cultural ……..………………..……..18
1.4. Jornalismo cultural na era digital ……………….………………………... 21
1.4.1. Jornalismo Cultural em crise? ……………………………………. 22
1.5. A Cultura e o entretenimento…………………………………………….. 24
1.5.1. Celebridades, famosos e figuras públicas…………………………. 27

CAPÍTULO II: O estágio na seção de cultura do Correio da Manhã

2.1. O grupo Cofina ………………………………………………………….. 30


2.1.1. O Correio da Manhã ………………………………………………31
2.1.2. O Correio da Manhã online …………………………………...…. 32
2.1.3. Os Suplementos…………………………………………………... 33
a) Sexta
b) Vidas
c) Domingo
d) Sport

2.2. O projeto CMTV ……………………………………………………… 34

2.3 A secção cultura …………………………..……………………………........... 35

5
2.3.1. TV & Media …………………………….……………….................. 36

2.4. Organização e rotinas da redação ………………………………………………... 37

2.5. Tarefas realizadas durante o estágio no Correio da Manhã …………...……….... 38


2.5.1. Dificuldades e constrangimentos…………………………………... 39

CAPÍTULO III: Os conteúdos noticiosos de cultura no CM

3.1. Análise de conteúdo ………………………………………………………… 42

a) Temáticas recorrentes

b) Hard vs soft

c) Géneros jornalísticos

d) As fontes

e) Grau de personalização

f) Celebridades, famosos e figuras públicas

CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………………… 55

BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………….….. 57

LISTA DE FIGURAS………………………………………………………………… 65

LISTA DE GRÁFICOS……………………………………………………………….. 65

ANEXOS ……………………………………………………………………………... 66

6
Introdução

Aquela música que não nos sai da cabeça, o filme que queremos ver há séculos, o livro
de cabeceira que lemos todas as noites, a série que esperamos a semana inteira para ver.
Viagens, jogos, gastronomia, moda, desporto, dança, fotografia. Pensamentos. Atitudes.
Modos de ser, agir e pensar. Tudo o que nos rodeia é moldado pela cultura e nela
caberia o mundo inteiro. Se pararmos para pensar nisso, chega a ser assustador pensar
que, de forma mais ou menos consciente, a cultura é aquilo que nós somos, a nossa
identidade enquanto povo ou nação. Por isso, esta “é uma preocupação contemporânea,
bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que
conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e às suas perspetivas de
futuro” (Santos: 2006, 7). É nesse sentido que o jornalismo cultural assume (ou deveria
assumir) toda a sua importância. Porque se torna fundamental ter uma atitude reflexiva e
crítica perante os assuntos de uma sociedade como a nossa, com todos os seus
problemas e constrangimentos. E, acima de tudo, é preciso levar a população a refletir.
Mas de que forma fazer isso se os estudos em torno do jornalismo cultural ainda são, de
certa forma, escassos. Por isso, este relatório pretende ser um contributo neste campo,
através da análise do jornalismo cultural experienciado durante 3 meses de estágio
(janeiro a abril) naquele que é o jornal diário mais lido pelos portugueses – o Correio da
Manhã.
Recorremos, primeiro, à análise documental, como forma de recolher o máximo de
informação sobre o tema, contrapondo obras, autores e teorias que nos permitam um
domínio teórico do objeto de estudo e que vão contribuir para dar resposta à pergunta de
partida: Como é que o jornalismo cultural é produzido no Correio da Manhã? Ou seja,
que princípios editoriais são seguidos, que fontes são usadas, que temáticas se
privilegiam, que espaço é concedido ao entretenimento, entre outros aspetos relevantes.
Para Piana (2009) este tipo de metodologia possibilita ao investigador recolher tudo o
que já se produziu sobre o tema tratado. É claro que é impossível ler-se tudo o que
existe sobre um determinado assunto, no entanto devemos selecionar diferentes pontes
de vista, autores, teorias, etc. de modo a assegurar uma informação mais detalhada e
completa.
Tendo em conta que o presente relatório resulta de um estágio curricular realizado
durante 3 meses (janeiro a abril) na editoria de Cultura, Televisão e Media do CM, foi

7
também utilizada a observação participante, que visa captar os “comportamentos no
momento em que eles se produzem e em si mesmos, sem a mediação de um documento
ou testemunho” (Quivy: 1998, 197). A presença diária na redação deste jornal permite,
indiscutivelmente uma maior perceção sobre a forma como tudo é processado, desde o
momento em que as notícias chegam à redação até ao momento em que são transmitidas
ao público. Esta metodologia foi complementada com entrevistas realizadas ao editor da
seção e a alguns jornalistas que trabalham para o órgão de comunicação em questão.
Optou-se por um modelo de entrevistas semi diretivas (ou semi dirigidas) que implica
“uma série de perguntas-guia, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo
receber uma informação da parte do entrevistado” (Quivy: 1998, 194). Estas entrevistas
foram realizadas, por exemplo, ao editor da seção cultura e a alguns jornalistas da área,
com o objetivo de deixar o entrevistador falar abertamente, orientando-o de acordo com
os nossos objetivos, ou seja ao recolher testemunhos reais de jornalistas e profissionais
experientes do Correio da Manhã da seção cultural conseguimos contrapor diferentes
visões que nos ajudam a caracterizar como é que a cultura é abordada neste jornal
diário. Esta é a grande vantagem – “recolher os testemunhos e as interpretações dos
interlocutores, respeitando os seus próprios quadros de referência – a sua linguagem e as
suas categorias mentais” (Quivy: 1998, 194).
Utilizamos ainda a análise de conteúdo, que implica a aplicação de processos técnicos
precisos e sistemáticos. A sua grande mais-valia é que “oferece a possibilidade de tratar
de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de
profundidade e de complexidade” (Quivy: 1998, 224-225). Neste caso, analisam-se as
notícias publicadas durante os três meses de estágio (janeiro a abril), quer no meio
impresso quer no online, durante os três meses de estágio.
O presente relatório encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro é dedicado à
revisão bibliográfica das diferentes abordagens do conceito de cultura e da sua evolução
ao longo do tempo. Daremos atenção particular à mediatização da cultura, mapeando as
várias definições de jornalismo cultural e estabelecendo a sua relação com o campo do
entretenimento.
No capítulo seguinte, apresenta-se o local do estágio: o grupo, o órgão de comunicação,
a organização interna da redação e, em particular, a secção de Cultura, Media e
Sociedade. Faz-se, em seguida, o relato das atividades desenvolvidas durante o período
do estágio, refletindo sobre as dificuldades, constrangimentos, rotinas e características
desta desafiante etapa vivida no Correio da Manhã.

8
No último capítulo apresentamos uma análise de conteúdo dos conteúdos produzidos na
secção Cultura ao longo dos 3 meses de estágio, de forma a identificar focos de
interesse e padrões de seleção dominantes.

9
Capítulo I: Jornalismo Cultural

1.1. O conceito de cultura

“É, à partida, impossível fixar o termo “cultura”, numa definição que seja válida em
todas as situações. ”
(Silva: 2012, 22)

Tendemos a olhar para a “cultura” como algo que nos define e identifica enquanto povo,
nação ou etnia. No entanto, o conceito de cultura é muito mais abrangente do que isso e
tem vindo a evoluir ao longo do tempo, o que implica uma reflexão cuidadosa tendo em
conta diversas correntes de pensamento. Por isso, vários autores (Ribeiro:2008;
Santaella: 2003; Basso: 2006) alertam para a sua complexidade, que resulta da evolução
que a palavra tem vindo a sofrer ao longo dos anos.
Se recuarmos até à Antiguidade Clássica “o conceito de cultura designa a ação que o
homem realiza – quer sobre o seu meio, quer sobre si mesmo – no sentido de
aperfeiçoar as suas qualidades e promover a cultura do espírito” (Ferin: 2009, 35). Mais
tarde, no século XII, a palavra surge associada “a processos agrícolas ou hortícolas de
cultivar o solo e de aumentar a fauna e a flora” (Pires: 2006, 39), pelo que era
frequentemente utilizado para designar uma parcela de terra cultivada.
Só a partir do século XVIII, quando surgiu o movimento iluminista acompanhado de
várias mudanças sociais e económicas que ocorreram em toda a Europa, é que o
conceito de cultura ganhou um novo fôlego e passou a estar ligado ao conhecimento
erudito. Nesse sentido, “passa-se de uma ‘cultura’ como ação (ação de instruir) a uma
‘cultura’ como estado (estado do espírito cultivado pela instrução, estado do indivíduo
‘que tem cultura’)” (Cuche, 1999: 10).
Desta forma, até metade do século XIX, prevaleceu uma conceção clássica de cultura
que estava associada ao erudito e às artes superiores, mas com o desenvolvimento
exponencial dos mass media começam a surgir as “primeiras formas de mediatização da
cultura” (Silva, 2012: 26) e emergiram duas visões diferentes – uma mais ligada ao
pensamento marxista e outra mais liberal – o que dá origem a perspetivas distintas sobre
a cultura de massas. Neste contexto, Dora Santos Silva (2010) destaca o livro “A
Dialética do Esclarecimento”, de Adorno e Horkheimer, que criaram o conceito de

10
indústria cultural como um “símbolo apocalíptico do fim da separação das esferas de
arte superior e inferior (...)” (Adorno cit in. Silva, 2009: 92), onde os bens culturais
passam a ser padronizados de acordo com os critérios do mercado de forma a
“estandardizar os gostos dos indivíduos, de modo a levá-los a aceitarem os critérios
ditados pelos produtos, com o objetivo de satisfazer as supostas necessidades criadas
pelo mercado” (Santos: 2014, 27).
Hoje “é inevitável uma visão do jornalismo cultural ligada às indústrias culturais e
criativas, conciliando uma abordagem clássica e popular e uma visão antropológica e
consumista” (Silva: 2014, 39).
Carla Baptista em “A Cultura na primeira página1” afirma que o conceito de indústria
cultural, desenvolvido a partir dos anos 80 do século XX, “pretende dar conta da
existência de uma diversidade de áreas que integram a produção, a distribuição e a
oferta de bens e serviços culturais”. Por isso, “hoje é cada vez mais unânime que as
indústrias culturais são um subsector das indústrias criativas, embora ainda existam
muitas dúvidas quanto à diferenciação dos dois termos.” A autora destaca a distinção
feita pela Unesco que estabelece que enquanto o sector editorial, multimédia,
audiovisual, fonográfico, as produções cinematográficas, o artesanato e o design fazem
parte da indústria cultural, as indústrias criativas incluem um conjunto mais alargado de
atividades das quais fazem parte não só as indústrias culturais como também sectores
que valorizam os elementos criativos ou artísticos como é o caso dos espetáculos, da
arquitetura ou da publicidade.
E.B. Taylor (1871) desenvolveu há muito uma visão antropológica que estende o
conceito de cultura a uma dimensão coletiva que abarca toda a sociedade, sem qualquer
tipo de restrição, o que implica o romper da distinção entre cultura de elite (que era
reconhecida pela crítica, debatendo as formas artísticas tradicionais) e cultura popular
(que inclui as criações massivas, os hábitos e tradições de um povo). Bosi apresenta
uma concepção diferente ao considerar que a cultura é um “conjunto de modos de ser,
viver, pensar e falar de uma dada formação social" (Bosi: 2003, 319). No entanto, esta
divisão não está completamente ultrapassada, no sentido em que nos dias de hoje
também existe uma separação cultural, segundo a qual, por exemplo, as novelas, os
reality shows ou a música designada “pimba” são considerados inferiores ou produtos
culturais de pouca qualidade (Melo: 2007).

1
Projeto do CIMJ disponível em: http://culturaprimeirapagina.fcsh.unl.pt/as-industrias-culturais-e-criativas-na-
optica-do-jornalismo-cultural/

11
De acordo com a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da Unesco, o
conceito de cultura tem hoje um duplo significado “representando não só as
manifestações artísticas comuns, mas também o espectro cultural alargado de uma
sociedade – os seus modos de ser e fazer.” (Silva: 2012, 92). E é neste sentido que a
cultura assume toda a sua importância, uma vez que:

“A cultura é o elemento primordial que dá unidade a uma


sociedade e cria-se com base em relações que fazem sentido
nesse contexto. (…). A cultura define a sociedade pela
capacidade que ela desenvolve de criar elementos que
permitem à própria sociedade reconhecer-se”
(Cesnik e Beltrame cit in Tilio: 2009, 40)

A complexidade deste conceito intensifica-se no sentido em que a cultura apresenta


diferentes eras ou períodos. Santaella (2003) considera que existem seis eras ou
períodos culturais distintos que resultam num processo cumulativo, no sentido em que o
início de um novo período não significa necessariamente o fim do anterior, podendo
coexistir diferentes períodos culturais em simultâneo, sendo que a cultura é dominada
pela tecnologia mais recente. Desta forma, temos:

“A cultura oral, a partir do surgimento da fala; a da escrita,


com o surgimento dos símbolos e, consequentemente,
alfabetização; a impressa, no ocidente iniciada no século XV;
a cultura de massas, característica do século XX, fruto das
recentes revoluções tecnológicas; a cultura dos media,
possibilitada pela criação de equipamentos que permitiram o
consumo individualizado de conteúdos, em oposição à era
anterior; e, por último, a cultura digital/cibercultura, com
pouco mais de uma década, da qual a internet é criadora. Com
ela nasceu a possibilidade de convergência de toda a
informação - texto, som, imagem fixa ou em movimento.
Vivemos na era digital, o que não representa o
desaparecimento das anteriores, mas a interação entre elas”
(Santaella: 2003, 24)

A cultura vai sendo adaptada e alterada de acordo com a evolução do tempo e a


inovação tecnológica, abarcando uma grande variedade de temáticas, sendo que “a
cultura difundida através dos meios de comunicação de massas é uma cultura de
integração: integra informação e raciocínio, formas publicitárias com formas literárias”
(Centeno: 2010, 62). Por isso, Dora Santos Silva (2009) considera que “a cultura é
aquilo que nós somos em constante mudança” (Silva: 2009, 104-105) e contrariamente a

12
alguns teóricos que adotam uma perspetiva antropológica da cultura (como E. B. Tylor),
Dora Santos Silva (2011) não corrobora esta ideia, acreditando, contudo, que pode ser
adotada uma perspetiva cultural em tudo. Da mesma forma, Teixeira Coelho (2016)
considera que hoje a “cultura não é o todo. Nem tudo é cultura. Cultura é uma parte do todo, e
nem mesmo a maior parte do todo” (Coelho: 2016, 17)

1.2. Jornalismo e cultura


1.2.1. Jornalismo especializado
Com a consolidação da rádio e o aparecimento da televisão, assistiu-se a uma crise que
une fatores económicos à crise do papel e da distribuição da imprensa, numa altura em
que a “disputa por anunciantes entre os meios, a crise de credibilidade informativa
(culminada, anos depois, com o escândalo de Watergate nos Estados Unidos), a
adequação a novos públicos e a necessidade por uma virada textual, fizeram-se
presentes” (Tavares: 2009, 118). Desta forma,

“O desenvolvimento do jornalismo especializado está


relacionado com esta lógica económica que busca a
segmentação do mercado como uma estratégia de atingir
os grupos que se encontram tão dissociados entre si. Muito
além de ser uma ferramenta mais eficaz de lucro para os
conglomerados mediáticos, o jornalismo especializado é
uma resposta a essa demanda por informações direcionadas
que caracteriza a formação das audiências específicas.”
(Abiahy, 2000: 5)

O jornalismo especializado, surgiu como uma forma de dar resposta “às exigências de
um público cada vez mais diversificado, que exige qualidade informativa e conteúdos
específicos abordados com profundidade e rigor” (Berganza conde: 2005, 392). Por isso,
segundo Tuñon (1993) o jornalismo especializado tem essencialmente nove objetivos:

2
T.N. – Tradução nossa

13
“1) Ampliar o conceito de atualidade jornalística (tornando fatos,
ideias e serviços anteriormente “esquecidos” como objetos de
comunicação jornalística); 2) servir como instrumento de mediação
e intercâmbio entre os especialistas e as audiências; 3) aprofundar a
explicação de fenómenos atuais e novos, que exigem as aceleradas
mudanças sociais, políticas etc.; 4) aumentar a credibilidade dos
meios e dos profissionais; 5) melhorar a qualidade da informação
jornalística (cuja finalidade é a comunicação sobre o mais
significativo da “realidade social”, tanto coletiva como individual);
6) promover
34 o interesse jornalístico como forma de acrescentar a
curiosidade pelo conhecimento; 7) possibilitar o aumento de
conhecimentos sobre a complexidade crescente do mundo; 8)
ampliar e democratizar a cultura; 9) e substituir, na medida do
possível, a figura do colaborador especialista à do jornalista
especializado” 3
(Tunõn: 1993, 96)

Seja qual for a área de especialização – economia, política, desporto, cultura, etc. – os
jornalistas especializados tentam atingir estes objetivos, utilizando, muitas das vezes,
uma linguagem específica que seja característica de uma determinada área. Contudo, é
importante realçar que o jornalismo especializado deve “ser simultaneamente atraente
para quem não entende nada do tema, sem chocar os verdadeiros especialistas”
(Martins: 2005, 227). Só dessa forma consegue cumprir a função de “agregar indivíduos
de acordo com suas afinidades ao invés de tentar nivelar a sociedade em torno de um
padrão médio de interesses que jamais atenderia à especificidade de cada grupo”
(Abiahy: 2000, 6). E é aqui que reside a importância do jornalismo especializado que
tem a oportunidade de trabalhar diferentes linguagens, sem que exista um padrão médio
e homogéneo, até porque a própria segmentação implica o reconhecimento de que
existem públicos diferentes (com necessidades e interesses diferentes) e não apenas um
público de massas. Por isso, nas produções segmentadas “cada veículo constrói uma
linguagem e busca uma intimidade com o seu público, investindo numa temática
específica” (Abiahy: 2000, 25). Consequentemente, o recetor beneficia de um conteúdo
informativo mais completo e este aprofundamento das matérias cria uma maior ligação
com o público, podendo existir uma valorização de novos temas ou de temáticas que
eram consideradas de menor importância.

3
T.N. – Tradução nossa

14
1.2.2. O jornalismo especializado em cultura
Embora não exista um consenso sobre até que ponto o jornalista cultural necessita de
fazer uma especialização em cultura, na verdade para aprofundar certas temáticas é
necessário ter uma série de conhecimentos técnicos, dominando a linguagem e os
aspetos culturais de forma superior à população em geral. Por isso, um jornalista
cultural por um lado deve dominar as regras que estão inerentes ao jornalismo em geral
e por outro lado, não deve esquecer que é uma área de especialização e como tal,
necessita de um conjunto de conhecimentos específicos (Silva: 2012, 71). Além disso,

“O jornalismo especializado colabora para expressar os


diferentes pontos de vista existentes na sociedade. Não é
apenas o tema, antes sem enfoque que ganha o seu lugar. A
própria visão de mundo dos públicos diferenciados
encontra no jornalismo especializado a oportunidade de ser
evidenciada”
(Abiahy: 2000, 26).

O jornalismo cultural, tal como o conceito de cultura, tem sido objeto de definições por
diferentes autores. A ausência de uma definição consensual resulta, desde logo, da
complexidade dos termos “jornalismo” e “cultura” que originam uma grande
diversidade de publicações culturais (que podem ser inseridas no suplemento de um
diário, numa revista académica, ou em revistas e jornais temáticos). Apesar das
dificuldades, destacamos Rivera (2003) que considera que

“Todo o jornalismo, em definitivo, é um fenómeno


‘cultural’, pelas suas origens, objetivos e procedimentos,
mas foi consagrado historicamente com o nome de
jornalismo cultural uma zona muito complexa e
heterogénea de meios, géneros e produtos que abordam
com propósitos criativos, críticos, reprodutivos ou
divulgatórios os terrenos das belas artes, belas letras,
correntes de pensamento, ciências sociais e humanas, a
chamada cultura popular e muitos outros aspetos que têm
que ver com a produção, circulação e consumo de bens
simbólicos, sem importar a sua origem ou destino”
(Rivera, cit in Silva: 2009, 93-94).

O jornalismo cultural é uma área de especialização que, tal como já vimos, “nasce das
necessidades da imprensa em atender a um público segmentado e de tratar de temas com
maior profundidade, assim como acontecem nas demais seções do jornalismo como a

15
política, economia, desportos e outras” (Basso: 2006, 2). No entanto, Daniel Piza (2004)
destaca que “Um jornalista cultural é (…) um elemento de extrema
importância em qualquer media, por dois motivos: ‘cria um
vínculo afetivo com o leitor’, que nem a seção desportiva é
capaz de criar, e desempenha um papel imprescindível na
circulação de ‘sangue cultural’ porque reflete sobre o que
se faz e o que se consome.”

(Piza cit in Silva: 2012, 82).

Esta ideia é corroborada por Dora Santos Silva (2011) que realça

“A dimensão performativa do jornalismo cultural, isto


é, a sua capacidade de levar à ação. Uma boa crítica a
um livro pode conduzir o leitor à ação de comprar o
livro; uma notícia sobre uma peça de teatro pode gerar
espectadores. Da mesma forma, a abordagem cultural
de qualquer assunto político poderá levar os leitores à
ação ou a participar no respetivo debate”.

(Silva: 2011, 113)

Esta especialização jornalística tem as suas próprias particularidades, apresentando-se


como um ramo do jornalismo que tem por “missão informar e opinar sobre a produção e
a circulação de bens culturais na sociedade” (Gomes: 2005, 6). Por isso, Gadini (2010)
considera que a informação cultural deve projetar modos de pensar e ser, assim,
promotora do conhecimento humano. Este é um dos pontos centrais do jornalismo
cultural, que não deve apenas informar, mas, também, formar o leitor, constituindo
“uma (última?) fronteira que separa os jornais de referência dos jornais populares, onde
a visibilidade, o tratamento, a abrangência e o espaço concedido aos temas culturais é
muito menor e mais restrita” (Baptista: 2014, 11). Outro dos aspetos que diferencia o
jornalismo cultural de outras áreas de especialização é que consegue dar voz a
diferentes culturas, no sentido em que
“Oferece uma visão sobre a forma como as pessoas vivem
e ajuda a tornar as notícias de outros países mais
compreensível. Por isso, os jornalistas culturais
reconhecem
5 como os eventos são influenciados pela
história, religião, ocupação, ambiente natural e outros
fatores na cultura de uma nação ou grupo étnico e muitas
vezes, eles encontram no passado, ideias e informações
relevantes para o presente e futuro”
5
T.N. – Tradução Nossa (Olmstead: 1991, 154)
16
O jornalismo cultural também apresenta diferenças em relação aos géneros jornalísticos
utilizados, que têm modos de apresentação distintos. A crítica, género que assume a sua
primazia no jornalismo cultural tem, no entanto, “vindo a ser substituída por dois
subgéneros muito comuns do jornalismo cultural: a review (ou resenha) e o roteiro”
(Baptista: 2014, 38), sendo que o primeiro tem em vista o resumo de uma determinada
obra e, o segundo faz a listagem dos concertos, filmes e outros eventos que vão
acontecer em breve. Rivera (2000) destaca ainda a importância da crónica que não serve
apenas de registo histórico dos “modos de ver” como evoca “fenómenos e episódios da
vida intelectual e artística, convertendo-se num repositório insubstituível para o
historiador dos processos culturais”. (Rivera cit in Lopez: 2014, 7). A entrevista e a
reportagem apresentam, no jornalismo cultural, contornos diferentes em relação a outras
editorias, no sentido em que carregam consigo uma estrutura mais interpretativa que
está geralmente ligada à crítica. (Lopez: 2014, 8).
Para Gadini (2006) os cadernos culturais resultam num espaço de convergência entre
repórteres, intelectuais e até mesmo criadores, o que diferencia este tipo de jornalismo
dos outros, uma vez que “são, na grande maioria das vezes, da autoria e produção da
equipa de reportagem dos respetivos jornais” (Gadini: 2006, 35). Anchieta de Melo
(2007) considera que aquilo que distingue o jornalismo cultural das outras áreas do
jornalismo baseia-se justamente nesta ideia de aceitação e até mesmo valorização da
componente crítica e reflexiva. Esta ideia é compartilhada por Silva (2012) que destaca
a importância do jornalista explorar e escrutinar as obras artísticas e não se limitar
apenas à sua divulgação. O jornalista cultural deve ir mais além e explorar de forma
intensiva os temas culturais, pelo que autores como Celiana Azevedo sugerem que “os
jornalistas culturais são mais qualificados que os jornalistas das outras seções; que o
jornalismo dedicado à cultura é qualitativamente diferente da notícia em geral; e que o
jornalismo cultural tem a responsabilidade de comunicar a natureza transformativa das
artes” (Azevedo: 2014, 75).

17
1.3. Um pouco da história do jornalismo cultural
“Jornalismo, como se sabe, tem de estar no sangue; jornalismo cultural tem de estar no
ADN”
(Daniel Piza: 2003, 2)

O Jornalismo cultural emerge historicamente no final do século XVII como um ramo de


especialidade do jornalismo que, aos poucos, começa a ganhar contornos mais definidos
em toda a Europa. The Transactions of the Royal Society of London (1665) e News of
Republic of Letters (1684) foram, segundo Anchieta de Melo (2007), os primeiros
jornais impressos com cobertura de obras culturais. No entanto, o ano de 1711
representa um marco na história do jornalismo cultural, uma vez que foi nessa data que
surgiu a revista The Spectator, criada por Richard Steele e Joseph Adisson e que se
tornou num dos exemplos mais reconhecidos de jornalismo cultural. Surgiu em
Inglaterra e “cobria desde questões morais e estéticas até à última moda das luvas”
(Burke cit in. Melo: 2007, 2), tendo como objetivo “trazer a filosofia para fora das
instituições académicas” (Burke cit in. Melo: 2007, 2). Em Portugal, a primeira revista
cultural foi editada no Porto em 1761 e intitulava-se Gazeta Literária ou Notícias Exatas
dos Principais Escritos Modernos, sendo que só na viragem do século XIX para o século
XX é que se assiste ao nascimento dos suplementos semanais e das seções culturais dos
jornais, tal como as conhecemos hoje (Silva, 2012).
A segunda metade da década de 50 vem marcar a história do jornalismo português, pelo
que é possível detetar “sinais de mudança que vão contribuir decisivamente para a
conquista de uma identidade e a evolução da cultura, da prática e do estatuto
profissionais e mesmo para o alargamento do campo de influência social do
jornalismo” (Correia e Baptista: 2005, 1191). Até então, o acesso à profissão era difícil
e dependia, muitas vezes, de contactos diretos ou indiretos. A renovação dos quadros
fazia-se de forma lenta e os horários de trabalho eram curtos permitindo aos jornalistas
trabalharem em simultâneo num matutino e num vespertino, por exemplo (Correia e
Baptista: 2005). Além disso,

18
O reduzido número de profissionais e a concentração
geográfica da maioria dos principais diários (em Lisboa,
com exceção do Diário de Notícias, todos estavam situados
no Bairro Alto), com a consequente partilha de espaços
de lazer e convívio (restaurantes, cafés, livrarias),
transportam para as relações profissionais um
clima “familiar” que estrutura e molda as relações
de trabalho em torno de afetos e cumplicidades.
(Correia e Baptista: 2005, 1192)

A censura teve grandes implicações na atividade dos media, tornando as temáticas


publicadas mais homogéneas. Prevalecia um código de conduta extremamente
masculinizado e baseado em noções de honra, coragem e integridade moral (Correia e
Baptista: 2005).
“A partir de meados dos anos 50 desencadeia-se em Portugal uma série de
acontecimentos e assiste-se a uma evolução, em todas as dimensões referidas, cujos
reflexos não poderiam deixar de se fazer sentir no campo dos media” (Correia e
Baptista: 2005, 1195), assistindo-se progressivamente a uma mudança na composição
social das redações e a um aumento do número de mulheres. Nesta altura destacou-se o
surgimento do vespertino Diário ilustrado, em 1956, o início das emissões da RTP
(1957) e o aparecimento de empresários com um espírito aberto à modernização
(Ruella Ramos no Diário de Lisboa, Francisco Pinto Balsemão). Mais tarde, no início
da década de 60 assistimos ao reaparecimento de A Capital, em 1968, e a criação do
Expresso, em 1973.
Só com o 25 de abril de 74 é que as manifestações culturais ganharam dimensão,
aparecendo pela primeira vez as indústrias culturais que geraram novas audiências e os
media rapidamente se apropriaram deste novo público (Carmo, 2006). Antes disso
existiram várias publicações como O Tempo e o Modo que funcionavam à margem da
ditadura, existindo também a revista Flama e o Século Ilustrado (suplemento semanal
do diário O Século) que se dedicavam à cultura e aos espetáculos. Desta forma, só a
partir dos anos 80 do século XX é que os temas culturais se expandiram para os jornais
generalistas, criando-se editorias dedicadas à cultura. Nesta altura, os media tornaram-se
mais segmentados e especializados aparecendo semanários como o Se7e e a Blitz que
não só acompanhavam a arte como também criavam tendências e vanguardas.

19
Hoje, assiste-se a duas tendências de jornalismo cultural
em Portugal: ao mesmo tempo que a cultura aparece
normalizada subordinada à agenda de eventos e ao
mercado das indústrias culturais, surgem novas instâncias
de legitimação da cultura em revistas alternativas, que
conseguem fidelizar públicos com propostas estimulantes e
originais.
(Silva: 2009, 95)

Por isso, “atualmente é inevitável uma visão do jornalismo cultural ligada às indústrias
culturais e criativas, conciliando uma abordagem clássica e popular e uma visão
antropológica e consumista” (Silva: 2014, 39). Contudo Dora Santos Silva (2012)
considera que ainda não se pode dizer que o jornalismo cultural ocupe um papel de
destaque em Portugal, sobretudo quando comparado com outros países como Brasil,
Espanha e Reino Unido. Até porque a parcela da população que consome
verdadeiramente cultura no nosso país é cada vez menor (Alves: 2012). Além disso, ao
longo dos últimos anos o jornalismo cultural tornou-se quase um sinónimo de agenda
cultural.
“Os cadernos e seções de cultura de jornais e revistas
dedicam-se a criticar burocraticamente filmes, espetáculos
e CD’s, divulgar grandes eventos supostamente culturais e
criar pautas baseadas em releases de assessorias de
imprensa. O espaço para análise e reflexão é cada vez
menor, e o comprometimento dos grandes veículos com
anunciantes e parceiros poda a independência e a
imparcialidade do que se pública”
(Fonseca: 2006, 1).

Esta tarefa de divulgação de eventos e espetáculos ou até mesmo de culto à celebridade


é, muitas das vezes, feita por sites, redes sociais e blogs que vêm colocar novos desafios
ao jornalismo cultural.

20
1.4. Jornalismo Cultural na era digital
O crescente impacto sociocultural da internet, obriga o jornalista a conviver com os
criadores de conteúdos online, que no fundo são cidadãos não jornalistas que divulgam
a informação com um simples clique, sem que esta seja filtrada ou confirmada, o que
não acontece nas várias áreas do jornalismo, que são devidamente credibilizadas.
Contudo, tal como nos relembra Dora Santos Silva (2009) “milhares cumprem as
funções desempenhadas pelos jornalistas culturais ao longo do século XX – [ou seja],
disponibilizam a agenda de eventos, reúnem críticas de filmes, congregam bancos de
dados sobre assuntos culturais do país e etc.” (Silva: 2009, 96), o que vem desafiar o
papel do jornalista cultural. É inegável que a internet veio facilitar em muito o trabalho
dos jornalistas e, por isso, hoje os blogues e redes sociais são vistos como uma grande
ferramenta de pesquisa e contato profissional e, é através dela que é possível encontrar
não só um amigo há muito tempo ‘esquecido’, mas também o entrevistado perfeito para
confirmar ou credibilizar as suas convicções jornalísticas (Silva: 2009). Além disso, a
internet oferece a possibilidade de conteúdos mais informativos e dinâmicos ao permitir
a utilização de hiperlinks para outros textos, áudio, vídeo e interatividade por meio de
chats ou fóruns, o que implica que o jornalista adote uma linguagem própria e esteja
apto a dominar e explorar de forma “adequada e comedida os recursos de hipertexto,
hipermídia, navegação, design etc.” (Teixeira: 2002, 8).
Este fenómeno resultou numa diminuição da leitura de jornais não só em Portugal mas
em todos os países, como resultado do “ambiente multicanal emergente e da internet
com as suas opções infinitas e fontes diretas, combinados com as estratégias de redução
de custos adotadas pelos jornais para enfrentar o binómio “menos leitores/menos
publicidade” (Freedman: 2010). Tudo isto vem atingir o jornalismo cultural com
particular severidade.

21
1.4. 1. Jornalismo cultural em crise?
Fatores económicos, tecnológicos, institucionais e culturais podem estar na origem do
“fim do jornalismo” (Deuze: 2007; Balle: 1990; Albertos: 1974). Esta premissa não é
uma novidade, uma vez que já nos anos 80, autores como Francis Balle colocavam a
hipótese de estarmos a caminhar para uma sociedade sem jornalistas, no sentido em que
ainda não existia uma visão clara das especificidades do jornalismo, dos seus
procedimentos e princípios éticos. Defendida por vários autores, esta profecia tem por
base os seguintes pressupostos:
“ (1) A invasão do estatuto do jornalista pelo do
comunicador (2) A tendência para uma hibridação dos
próprios géneros informativos (infotainement, o
advertorial, a publi-reportagem), em resultado da própria
convergência tecnológica e das lógicas de mercado, com
implicações na autonomia da própria profissão tornando o
jornalismo num conteúdo ainda mais minoritário, no
contexto das indústrias da informação e da cultura. (3) O
reforço da vertente comercial e de distribuição promoverá
a fragmentação e individualização dos conteúdos
produzidos e diminuirá o papel “mediador” do jornalista,
reduzindo-o a uma dimensão de provedor do consumidor
(4) O papel de mediador torna-se tanto mais dispensável
quanto mais se impuser o mito da desintermediação da
informação e da autoedição promovida pelas novas
tecnologias”.
(Camponez: 2004, 15)

Em Portugal, no contexto da crise económica e financeira que se fez sentir ao longo dos
(Fonseca: 2006, 1).
últimos anos (que implicou um pedido de ajuda externa em 2011) assistimos a uma
aceleração nas transformações do jornalismo enquanto profissão. Uma questão que se
veio a agravar quando se começou a falar na hipótese de privatização do serviço público
de rádio e televisão portuguesas, a RTP (Vargas: 2015), no sentido em que os media
atravessavam um período de grande instabilidade – com os jornais a fechar, as redações
a ficarem cada vez mais reduzidas e as condições de trabalho mais precárias juntou-se
“o pânico de os cidadãos portugueses verem a possibilidade de ficar sem um dos
direitos plasmados na Constituição Portuguesa referente à obrigatoriedade de o Estado
assegurar um Serviço Público de Rádio e Televisão” (Vargas: 2015, 2). Além disso, as
sucessivas mudanças que têm ocorrido no âmbito dos meios de comunicação
(nomeadamente o desenvolvimento do ciberjornalismo e a consequente diminuição do

22
número de leitores e fragmentação da audiência) têm contribuído para um clima de
grande competição entre os media que estão cada vez mais orientados para o lucro
(Bromley, Deuze, Fenton, Schudson, cit in Azevedo: 2014, 64). Mas e o jornalismo
cultural? Será que também está em crise?
O jornalismo cultural “foi certamente um dos subcampos mais afetados pela crise
económica que atravessa o jornalismo” (Baptista: 2014, 19), até porque o financiamento
concedido à cultura tem vindo a diminuir ao longo dos anos e as notícias de carácter
cultural “são consideradas mais dispensáveis do que as restantes” (Baptista: 2014, 19).
Contudo ainda existe “um lugar para a cultura no espaço mais nobre da maioria dos
jornais portugueses, mas é um lugar ameaçado e, sobretudo, é uma paisagem em
transformação” (Baptista: 2014, 6). Este fenómeno é visível não só em Portugal mas um
pouco por todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria dos jornais tem
produzido menos artigos sobre cultura, as peças estão cada vez mais pequenas e recorre-
se cada vez mais aos freelancers. Na Alemanha, assiste-se, desde 1980, a grandes
mudanças nos géneros jornalísticos com o aumento de reportagens e comentários nas
páginas sobre Cultura, e em países como França, Holanda, Noruega e Dinamarca a
música popular tem vindo a ganhar cada vez mais espaço nas seções do jornalismo
cultural (Hellman; Jaakkola, cit in Azevedo: 2014, 64).
Em Portugal, embora os estudos sobre este tema sejam escassos é importante salientar o
projeto “Cultura na Primeira Página – Um estudo dos Jornais Portugueses na Primeira
Década do século XXI”, desenvolvido no CIMJ6 por um conjunto de especialistas da
área e que se constitui como um dos estudos mais recentes e importantes sobre esta
temática (realizados em Portugal). Dora Santos Silva (2009) aponta as tendências do
jornalismo cultural que

“Tem de lidar com vários paradigmas que ameaçam a sua


identidade histórica: por um lado, o culto às celebridades
começou lentamente a substituir o debate de ideias, as
críticas nas páginas culturais e a exploração de novas
tendências artísticas, dominando as capas e os destaques;
por outro lado, devido ao impacto sociocultural da Internet,
o jornalista tem, por sua vez, de conviver com os criadores
de conteúdos online”
(Silva: 2009, 96)

6
Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ)

23
Tudo isto resulta não só numa crise identitária, mas acima de tudo tem levantado fortes
críticas sob a produção e o tratamento que são dados à cultura, arrastando-a para uma
onda de forte desvalorização no âmbito jornalístico. Exemplo disso é “a cobertura de
teatro, museus ou música clássica estar cada vez mais empacotada com artigos sobre
estilo de vida, jardinagem, viagens e culinária. A cultura está cada vez mais embutida
dentro de seções engraçadas e estilosas, nas quais se supõe que os leitores tenham mais
interesse” (Szantó, 2007: 43).
Autores como Melo (2007) consideram que esta crise tem início, desde logo, no ensino
do jornalismo. Por isso, torna-se necessário atualizar a informação que é transmitida
pelas universidades como forma de dar as ferramentas necessárias aos futuros
jornalistas culturais para enfrentarem os desafios que estão inerentes a esta profissão, o
que implica por exemplo “uma abordagem de temáticas clássicas (política, economia
etc.), por meio de um olhar cultural/reflexivo; a inclusão de novas temáticas, que
ganham status cultural: objetos/design; moda/comportamento e culinária, além do
desafio de tratar sem preconceito e com profundidade os objetos da indústria cultural”
(Melo: 2007, 3), como é o caso de novelas, reality shows, programas de auditório e de
música popular que têm uma linguagem e características próprias.
Por outro lado, é importante destacar os aspetos positivos que algumas transformações
trouxeram consigo. O online, por exemplo possibilitou uma maior democratização da
informação, criando novos espaços/canais que permitem o acesso a novas vozes e a
divulgação de ideias entre pessoas de todo o mundo. Além disso, esta é uma ferramenta
de baixo custo e que permite uma maior valorização dos conteúdos culturais, através de
hiperlinks, vídeos, imagens, etc. que não só se tornam mais apelativos como também
vêm complementar a informação.

1.5. A cultura e o entretenimento


Tal como já vimos, a complexidade da cultura mediática no mundo contemporâneo
manifesta-se através de fenómenos tecnológicos, sociais, políticos, económicos e
culturais, que se relacionam através de uma nova espécie de linguagem, mais “leve”,
efêmera, sensacional, dinâmica e divertida: o entretenimento. Este conceito vem marcar
a sociedade contemporânea, no sentido em que, segundo Maria Luísa Homanes (2006),
o público tem vindo a mostrar cada vez mais interesse por este tipo de conteúdo.
Esta ideia está relacionada com o fato de que:

24
“O consumo de bens de entretenimento alivia, em
determinados aspetos, os indivíduos do processo de
trabalho e possibilita um tipo de satisfação substitutiva. O
central nisso é a necessidade dos que trabalham de fugir do
trabalho alienado, e não a necessidade por entretenimento”
(Buselmeier, cit in Coan: 2012, 6)

A cada vez mais frequente relação entre a informação e o entretenimento deu origem a
um novo tipo de jornalismo moderno: o infotaintment ou infotenimento que representa,
segundo Dejavite (2007), uma junção entre o dever de informar e o compromisso de
entreter. A autora considera que o público hoje em dia não quer apenas ser informado
sobre as notícias que estão a marcar a atualidade, mas quer também usufruir de algum
tipo de distração até porque depois de um dia de trabalho, as pessoas tendem a procurar
algo que lhes transmita uma sensação de prazer e bem-estar. Dejavite (2007) enfatiza a
ideia de que neste tipo de jornalismo, uma peça pode informar entretendo ou entreter
informando e nesse sentido a barreira ética que separa (ou separava) o jornalismo e o
entretenimento já não existe. A questão não é consensual. “A crescente presença das
notícias de infotenimento e o crescente apagamento das fronteiras da informação e do
entretenimento com a ascensão dos comunicadores, são tendências que apontam para a
importância da identidade profissional dos jornalistas”, sublinha Nelson Traquina
(2002, 208).
O infotainment debate questões de interesse humano que tendem a atrair o público como
crimes violentos, trágicos, sexuais, criminais, incluindo também assuntos ligados a
curiosidade e ao estilo de vida, passando ainda pela vida privada de celebridades. A este
tipo de notícia, mais ligeira, convencionou-se, de modo lato, chamar-se soft news e,
tendo em conta que estas notícias têm vindo a dominar o universo do jornalismo nos
dias de hoje, consideramos pertinente retomar a categorização que distingue as notícias
entre soft e hard news. Estes termos foram usados pela primeira vez pelos próprios
jornalistas americanos como forma de categorizar diferentes tipos de notícias. Gaye
Tuchman (1973) na sua categorização das notícias, definiu as hard news como aquelas
que têm um elevado grau de noticiabilidade e dizem respeito “a eventos potencialmente
disponíveis para análise ou interpretação consistindo em apresentações factuais de
eventos considerados de interesse jornalístico”7 (Tuchman: 1973, 113). São na grande
maioria acontecimentos pré-agendados (um debate político, por exemplo) ou eventos

7
T.N. – Tradução nossa

25
não programados (como é o caso de um incêndio), que são escritos de forma objetiva e
informativa. Já as soft news “têm a necessidade de, na maioria das vezes, controlar o
tempo e o fluxo de trabalho necessário e por isso, geralmente dizem respeito a
acontecimentos programados”8 (Tuchman: 1973, 119) podendo apresentar uma maior
liberdade narrativa. No entanto, existe uma linha muito ténue entre estes dois tipos de
notícia, uma vez que na realidade o mesmo evento pode ser tratado como hard ou como
soft new. Tudo depende da abordagem utilizada.9
Na verdade, tanto as hard news como as soft news oferecem grandes benefícios à
sociedade e a comprová-lo está Baum (2002) que considera que foi “graças às softs
news – que estão mais orientadas para o entretenimento – que muitos indivíduos
considerados politicamente desatentos são expostos a informações sobre questões
políticas, por exemplo"10 (Baum: 2002, 91). Por isso, esta pesquisa leva à ideia de que
no fundo as soft e as hard news podem transmitir tipos semelhantes de conteúdo, até
porque "o processo de criação de 'histórias' é estruturalmente muito parecido em ambos
os tipos de publicações " (Bird: 1992, 97).
Vários autores apresentam uma perspetiva crítica acerca da distinção entre hard news e
soft news, considerando que esta diferenciação nos tem impedido de olhar para as
notícias como um sistema unificado, pelo que alguns estudiosos têm sugerido que
estamos perante uma tendência para a homogeneização dos sistemas de media
(Boczkowski: 2008).
Autores como Maria Luísa Homanes (2006) indicam que os leitores têm vindo a
mostrar cada vez mais interesse pelas soft news verificando-se uma maior
predominância deste tipo de notícia nos media. Mas porque será que isto acontece?
Algumas das razões encontradas foram:

8
T.N. – Tradução nossa
9
Outros autores, como Reinemann e Boczkowski aprofundaram a distinção entre hard new e soft new. Numa
abordagem mais recente, Reinemann (2011) salienta cinco dimensões utilizadas exclusivamente para distinguir hard
news de soft news que estão relacionadas com diferentes fases no processo de receção e produção de informação.
As dimensões são:“(1) tópico / eventos, (2) a produção de notícias,(3) o foco das notícias, (4) o estilo das notícias e
9
(5) a receção das notícias” (Reinemann: 2011, 225).
Boczkowski (2008) corrobora esta ideia salientando que “tratar um evento como soft new ou hard new depende em
parte do ritmo temporal e da prática de trabalho de quem está a fazer a sua cobertura” (Boczkowski: 2008, 5). Além
disso, o autor cita um estudo desenvolvido por Turow (1983) sobre uma estação de televisão local que nos permite
concluir que a cobertura de um evento pode passar de hard a soft new ou vice-versa, e, em grande parte isso ocorre
devido a mudanças de temporalidade. Ou seja, durante o estudo percebeu-se que "alguns funcionários notaram
que a soft new às vezes passa a hard new pela "manipulação", isto é, dando a ideia de que se trata de algo urgente
9
" (Turow: 1983, 117).
10
T.N. – Tradução nossa

26
“ (1) Existir uma maior pressão sobre os meios de
comunicação social e, especialmente, por parte das
organizações de notícias para manter ou aumentar a
rentabilidade, o que se consegue com maior facilidade e
através de maiores quantidades de entretenimento. (2) os
avanços tecnológicos no início de 1980 reduziram os
custos das 'soft news' (3) e o uso crescente de consultores
de media especialista em saber como aumentar a
audiência”
(Lehman-Wilzig and Seletzky: 2010, 41)

1.5.1. Celebridades, famosos e figuras públicas

“De um ponto de vista industrial bem como cultural, as celebridades são uma parte
fundamental para compreender os tempos contemporâneos. Como fenómenos, as
celebridades intersectam-se com um conjunto considerável de atividades políticas,
culturais e económicas […] inseridas nas culturas nacionais e transnacionais”
(Marshall: 2006, 6)

Fruto dessa cada vez maior intrusão dos conteúdos de entretenimento na informação,
celebridades, famosos e figuras públicas têm vindo a marcar o jornalismo
contemporâneo, invadindo domínios do jornalismo considerado de referência (Allan:
2004). Estes conceitos – “celebridades”, “famosos” e “figuras públicas” - podem ser
facilmente confundidos entre si ou com outras expressões como “estrelas”, “vedetas”,
“VIP’s”, etc. Gabler (1999, 157 cit em Ana Jorge: 2012, 13) define as celebridades
como uma espécie de “entretenimento humano”, no sentido em que seriam indivíduos
que são notáveis pela sua identidade nos media e, que podem vir de qualquer área –
música, desporto, pintura, cinema, televisão, etc., pelo que não estavam necessariamente
associados ao mérito e ao trabalho, por oposição ao conceito de fama. A palavra
celebridade é de tal forma complexa que se subdivide em diferentes tipos que variam de
acordo com a sua elevação ao estatuto de celebridade11.

11
Para mostrar isso, Ana Jorge cita Rojek (1999) que nos diz que, por um lado, temos o estatuto herdado que
resulta da passagem por linhagem, que acontece frequentemente no caso da nobreza, mas pode também
acontecer noutro tipo de situações; o estatuto conquistado resulta dos feitos artísticos ou desportivos alcançados
ou de capacidades raras e, por fim, o estatuto atribuído resulta de grandes feitos decorrentes da representação
concentrada de um indivíduo como notável ou extraordinário por intermediários culturais. Rojek utiliza ainda o
termo ‘celetoid’ para se referir a “uma forma de celebridade comprimida, concentrada, atribuída” (Rojek, cit in
Jorge: 2014, 25). Neste último caso, a visibilidade é passageira e resulta de construções dos media, como acontece

27
Já o conceito de figura pública provém da expressão Person der Zeigeschichte (pessoa
da história do tempo) e implica a distinção entre as pessoas da história do tempo em
sentido absoluto e em sentido relativo (Cardoso: 2014, 27).
“As primeiras seriam aquelas que “na sua época lideram a
vida política, económica, social, cultural, científica,
tecnológica, desportiva, do mundo do espetáculo, etc. e em
relação às quais subsiste um interesse público alargado”;
ao passo que as segundas se definiam pelo seu grau de
participação num dado acontecimento como uma
“catástrofe natural (terramoto, avalanche, inundação) ou
associada aos riscos da sociedade técnica (afundamento de
um transatlântico, queda de um avião, acidente rodoviário,
os agentes e as vitimas de uma carga policial, de uma
perseguição de minorias, de um crime)”.
(Cardoso: 2014, 27)

As pessoas da história do tempo em sentido relativo só seriam fotografadas em


momentos ligados ao acontecimento que lhes deu notoriedade, enquanto as em sentido
absoluto apenas têm como limite a sua vida íntima. Isto significa que as figuras públicas
em sentido relativo voltam a ser “pessoas comuns” quando a causa que lhes deu
interesse público deixa de ter interesse enquanto as em sentido absoluto prevalecem.
Iolanda de Brito identifica ainda outros tipos de figura pública, distinguindo a figura
pública permanente que é aquela que, ao longo da sua vida, consegue manter sobre si os
holofotes mantendo uma determinada exposição pública; e, a temporária que esteve
exposta durante um determinado período de tempo e depois voltou ao anonimato. Existe
ainda a figura pública voluntária que lança a sua vulnerabilidade à arena pública de
forma a alimentar a história que lhe deu um determinado estatuto e a involuntária que é
lançada sem o seu consentimento. Por fim, temos a figura pública polémica que atua
com agressividade e deselegância e a figura pública urbana que atua com respeito e
cordialidade (Cardoso: 2014).
Em suma, podemos dizer que o famoso está associado ao mérito e ao trabalho, o que
não acontece com a celebridade que é altamente reconhecida pelas suas características
inatas e singulares (o que não implica necessariamente trabalho) e, por fim, a figura

nos reality shows, por exemplo. O autor considera ainda que o conceito de celebridade comporta essencialmente
três abordagens: (1) subjetivista, que vem enfatizar o caracter singular e o talento inato da personalidade – por
exemplo ninguém atua como o Michael Jackson ou a Madonna; (2) estruturalista, que rejeita teorias que atribuem
uma importância excessiva à celebridade; (3) e pós-estruturalista, que considera que a celebridade não é apenas
uma pessoa com notoriedade, mas é também um produto e/ou mercadoria, que dever ser modificado com o
objetivo de ser consumido pelo público

28
pública é aquela que se dedica à vida pública e, em função do cargo que ocupa acaba
por ser reconhecida por um determinado número de pessoas na sociedade – é o caso, por
exemplo, de políticos.
Ambos são “personagens” convocadas, em virtude da notoriedade que lhes está
associada, para ocuparem espaços noticiosos em seções de cultura, media ou lifestyle.

29
Capítulo II: O estágio na secção de cultura do
Correio da Manhã
2.1. O grupo Cofina
Fundada em 1995 com a ambição de liderar o mercado, a
Cofina é o terceiro maior grupo do sector dos media em
Portugal. Durante cerca de dez anos dedicou-se a vários
negócios como a pasta de papel e o aço, mas em 2005
ficou exclusivamente com os ativos da imprensa focando-
se na área da comunicação social.
O Conselho de Administração é constituído por 5 membros, presididos pelo engenheiro
Paulo Fernandes, que foi também um dos fundadores do grupo.
A estratégia de desenvolvimento da empresa baseia-se no crescimento orgânico e no
lançamento de novos produtos em todos os segmentos dos media. Exemplo disso foi a
criação do primeiro canal de televisão, a CMTV. Criada em 2013, a nova aposta do
grupo assumiu a liderança no segmento dos canais de informação e veio juntar-se a
diversas publicações nacionais detentoras de uma posição sólida no mercado12.
Assim, no setor da imprensa generalista diária, o grupo compreende o Correio da
Manhã (líder de vendas em Portugal); o jornal desportivo Record, (adquirido em 2009 e
que lidera o mercado no seu segmento); o económico Jornal de Negócios e os gratuitos
Metro (com edições em vários países) e Destak (criado por um grupo de jovens
empreendedores, marcou a diferença por ser o primeiro jornal a ser editado e distribuído
de forma gratuita em Portugal). Relativamente a publicações semanais, a Cofina detém
a newsmagazine Sábado (que se dedica a várias temáticas da atualidade nacional e
internacional); a Semana Informática (líder no mercado nacional no segmento de
tecnologias e informação); a revista de televisão TV Guia (dedicada a um público mais
generalista) e ainda a Flash! que retrata tudo o que se passa no mundo dos famosos,
utilizando uma linguagem simples e acessível. Nas publicações mensais, o grupo tem
em portefólio a revista de moda Vogue Portugal e a Máxima (dedicada ao público
feminino entre os 25 e os 45 anos, aborda temas como a moda e a beleza). A empresa
possui ainda vários títulos e meios de distribuição e explora, igualmente, o mercado

12
Informação consultada em:http://www.cofina.pt/~/media/Files/C/Cofina/press/releases/2016press/cofina-rel-
contas-dez-15.pdf [abril de 2016]

30
publicitário. O grupo Cofina não é o único grupo editorial do país, tendo quatro
principais concorrentes: a Controlinveste; o Grupo Impresa; o Grupo Media Capital e
Impala. Atualmente, e de acordo com os dados do Bareme Imprensa da Marktest13, o
grupo Cofina detêm os dois jornais mais lidos e com maior tiragem em Portugal: o
Record e o Correio da Manhã (que falaremos em seguida).

2.1.1. O Correio da Manhã

Criado em 1979 e adquirido pela Cofina em 2000, o


Correio da Manhã (CM) é o jornal diário generalista
que lidera o mercado de vendas em Portugal. O jornal
encerrou o primeiro semestre de 2016 com uma média
de 97 190 exemplares vendidos diariamente em banca, (cf. dados do gráfico 1) o que
representa uma quota de mercado entre os diários generalistas de 59,8% (o que significa
que em cada 100 leitores, cerca de 60 optam pelo Correio da Manhã). O CM tem vindo
a manter a sua liderança, ano após ano, expressando o objetivo de “noticiar o dia-a-dia,
com grande abertura de espírito e sem preconceitos sociais nem políticos”14. “Livre e
exigente” é assim que o jornal se autodefine.

Fonte:
http://www.cmjornal.pt/multime
dia/graficos/detalhe/conheca_as_
vendas_em_banca_dos_jornais_
e_revistas_de_informacao?ref=
DET_infografia

Da Atualidade ao Desporto e à Política, dando uma volta pelo Mundo, passando


também pela Sociedade, pelas Cidades e por Portugal, sem esquecer a Cultura e
espetáculos ou as Vidas das celebridades, as secções são variadas e utilizam uma
linguagem acessível a todos.
Com o objetivo de liderar o mercado, um grupo de empresários juntou-se a Vítor
Direito, Carlos Barbosa e Nuno Rocha e fundaram o Correio da Manhã que surgiu há 37
anos para preencher uma lacuna na imprensa portuguesa, onde não existia nenhum
13
Informação retirada de: http://www.marktest.com/wap/loja.aspx# [abril de 2016]
14
Informação retirada de: http://www.cofinamedia.xl.pt/publicidade/cm/papel/index.shtml [abril de 2016]

31
tabloide. O nome Correio da Manhã foi o escolhido porque fugia ao padrão dominante
na época, onde já existia o Diário de Notícias, o Diário de Lisboa e o Diário Popular.
Hoje, sob a direção de Octávio Ribeiro, a empresa acompanha a evolução dos tempos
com uma forte componente online, uma vez que o CM é o jornal generalista mais
visitado no meio online e tem vindo a solidificar a sua posição no mercado (cf. dados da
Marketest, 2016 Gráfico 2). A presença do jornal também se faz sentir nas redes sociais
contando com mais de um milhão de seguidores na sua página oficial do Facebook.

Este jornal distribui ainda, de forma gratuita, vários suplementos, como as revistas
Sexta, Vidas e Domingo, e o suplemento Sport.

2.1.2. O Correio da Manhã online

Em 2002, o Correio da Manhã criou uma


plataforma online, que se encontra disponível
através do endereço http://www.cmjornal.pt/. Esta
adesão ocorreu de forma tardia, sobretudo quando
comparada com empresas como o Público ou o
Jornal de notícias que aderiram ao online em
1995. Inicialmente o CM oferecia um leque bastante reduzido de temáticas, incluindo
apenas a seção nacional, internacional, espetáculos e desporto. Hoje, o site está muito
mais diversificado e é enriquecido não só com texto mas também com vídeos,
fotogalerias, hiperlinks etc., o que veio possibilitar uma maior interação entre o jornal e
os leitores, permitindo aos utilizadores comentar as notícias publicadas ou partilhá-las
através das redes sociais. Algumas notícias estão sujeitas ao pagamento da assinatura
para poderem ser lidas online, mas muitas podem ser consultadas de forma gratuita.
Normalmente quando o CM consegue obter a exclusividade sobre uma determinada

32
noticia e/ou entrevista, está sujeita a um pagamento para que seja visualizada. As
publicações do site são feitas pela mesma equipa do CM impresso, o que significa que
na seção cultura, onde estagiei, por exemplo, todos os jornalistas da equipa podem
publicar livremente as suas peças no online, existindo apenas um cuidado para que não
existam peças repetidas.

2.1.3. Os suplementos
a) Sexta
O suplemento Sexta é uma revista semanal que sai todas as
sextas-feiras de forma gratuita e foca-se em temas como o lazer e
o mundo da televisão, abordando programas televisivos de
destaque como os reality shows, novelas e os filmes mais
badalados do momento. Este é o suplemento do CM mais lido e
de acordo com os dados da Marktest conta com cerca de 730 mil
leitores15. Esta revista fazia parte da mesma editoria que me
acolheu durante o estágio – seção Cultura, Televisão e Media - o
que significa que este suplemento é produzido e editado pela mesma equipa e por isso, o
meu trabalho passou por escrever peças para a Sexta.

b) Vidas
Ao sábado é publicada de forma gratuita a revista Vidas que pode
ser adquirida juntamente com o jornal. A publicação, tal como o
nome indica, é uma extensão da seção diária homónima - que dá a
conhecer a vida, os segredos, as confissões e as festas que marcam
o mundo das celebridades presentes no mundo do social. O
suplemento é acompanhado por uma média de 700 mil leitores,
segundo os dados do Bareme Imprensa da Marketest16.

15
Dados de Setembro a novembro de 2014. Disponível em: http://www.cmjornal.pt/tv-
media/detalhe/correio_da_manha_mantem_lideranca
16
Dados de 2014. Disponível em: http://www.cmjornal.pt/tvmedia/detalhe/correio_da_manha_mantem_lideranca

33
c) Domingo
Ao domingo, é a vez da revista “Domingo”, uma newsmagazine
que se dedica a temas da sociedade que podem ir desde a
economia à política. A fotorreportagem e a entrevista são
particularmente valorizadas neste suplemento e, a revista regista
aproximadamente 678 mil leitores17.

d) Sport
Este suplemento é dedicado aos assuntos que dominam o mundo
desportivo a nível nacional e internacional. É publicado aos sábados
e soma uma audiência de 468 mil leitores18

2.2. O projeto CMTV


Além da componente online e impressa, o Correio da Manhã, lançou em 2013 o canal
televisivo CMTV que já é líder de audiências dos canais informativos, contando com
mais de um milhão e 700 mil espetadores (cf. dados da GFK, gráfico 3). O canal
inicialmente estava apenas disponível na posição 8 do MEO mas a 14 de janeiro deste
ano, alargou a distribuição aos utilizadores da NOS, estando hoje acessível a grande
parte da população. O diretor, Octávio Ribeiro, afirmou, aquando do arranque das
emissões, que nesta estação a notícia teria primazia, apesar do entretenimento também
estar presente19.

17
Dados de 2014. Disponível em: http://www.cmjornal.pt/tv-
media/detalhe/correio_da_manha_mantem_lideranca
18
Dados de 2014. Disponível em: http://www.cmjornal.pt/tv-
media/detalhe/correio_da_manha_mantem_lideranca
19
Entrevista realizada pelo Jornal de Negócios a 6 de fev. de 2013. Disponível em:
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/media/detalhe/octavio_ribeiro_somos_a_primeira_televisao_mamifera
_num_mundo_onde_ainda_ha_dinossauros.html

34
O projeto recrutou várias personalidades televisivas vindas das mais variadas estações.
Para a direção vieram o jornalista José Carlos Castro, que trabalhou durante 18 anos na
TVI e o jornalista Carlos Rodrigues, que desempenhara as funções de subdiretor de
informação da SIC. Destacam-se ainda as contratações de Francisco Penim (fundador
dos canais temáticos da SIC), Pedro Mourato (então colaborador da área da produção da
TVI), Andreia Vale (ex-jornalista da SIC), Nuno Graciano e Maya (ex-apresentadores
da SIC), João Ferreira (ex-jornalista da SIC e da Económico TV) ou Tiago Rebelo (ex-
editor da TVI).
Apesar de a CMTV ser uma plataforma diferente, está em constante interligação com a
componente impressa e online do Correio da Manhã. Por isso, apesar de existirem
jornalistas, editores e/ou diretores com maior especialização numa ou noutra área, as
funções nunca estão exclusivas a uma só plataforma.

2.3. A secção Cultura


A seção especializada em assuntos de cultura do Correio da Manhã “engloba diversas
áreas, desde a música, passando pelo cinema, teatro e literatura [acompanhando ainda]
atividades como a Tauromaquia”20. A seção cultural, tal como as restantes seções do
jornal rege-se “pelos princípios de valor-notícia”21 e é constituída por 7 jornalistas,
incluindo o editor (Hugo Real) e a subeditora (Sónia Dias) - que lideram a equipa tanto
no meio online como no impresso.
Todos os dias são realizadas reuniões com as diferentes editorias para decidir quais os
temas que vão ser tratados (e onde vão sair) no dia seguinte, mediante o espaço de que
dispõem no jornal. Geralmente, a cultura não ocupa mais do que duas páginas, o que é
apontado por alguns jornalistas como uma das principais dificuldades da seção, sendo

20
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 ao editor da seção cultura, Hugo Real (transcrição disponível em
anexo 15)
21
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 ao editor da seção cultura, Hugo Real (transcrição disponível em
anexo 15)

35
que “para compensar, os textos são publicado no online”, afirma Ana Maria Ribeiro
(jornalista do CM – ver anexo 15). A ideia é corroborada por Duarte Faria, outro
jornalista do Correio da Manhã, que considera ainda que por vezes é difícil “encontrar
temas que sirvam aos leitores e que tenham proximidade [pelo que nesses momentos] é
preciso fazer um trabalho de maior pesquisa”22. Mas, apesar das dificuldades, os dois
jornalistas da secção que entrevistei – Ana Maria Ribeiro e Duarte Faria - consideram
que os temas culturais “são tratados com a devida importância”, pelo CM23 e “embora
não sendo uma área primordial, o jornal dificilmente abdicaria dela.”24

2.3.1. TV & Media


Inserido na mesma editoria da seção cultura, a “televisão e media” aborda temáticas
ligadas ao mundo do pequeno ecrã, enfatizando alguns estudos de mercado. A equipa
que trabalha nesta seção é a mesma da seção cultural e o editor, Hugo Real, considera
que “as áreas são distintas o suficiente para no dia-a-dia não existirem dificuldades na
gestão dos temas que entram em cada seção. Ainda assim, quando existe conflitualidade
a solução é vista caso a caso”25
Além das duas seções do diário (cultura e TV & media), em papel e online, a equipa
produz ainda os conteúdos de um suplemento semanal – a revista Sexta – que aborda
temas como o lazer, o lifestyle e o mundo da televisão. A divisão do trabalho é feita pelo
editor, que tem em consideração “as necessidades de cada área”, sendo que todos os
jornalistas “têm áreas às quais dedicam grande parte do seu tempo”26. Ou seja, há
alguma especialização de tarefas, no sentido em que a distribuição do trabalho tem em
conta as preferências e os conhecimentos de determinado jornalista e, por isso se o
jornalista X gosta de música e tem mais conhecimentos sobre esta temática então cabe-
lhe a ele tratar as notícias sobre música. Esta lógica de distribuição do trabalho é
aplicada a qualquer tema cultural da seção.

22
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Duarte Faria, jornalista da seção cultura do CM (transcrição
disponível em anexo 15)
23
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Duarte Faria, jornalista da seção cultura do CM (transcrição
disponível em anexo 15)
24
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Ana Maria Ribeiro, jornalista da seção cultura do CM
(transcrição disponível em anexo 15)
25
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 ao editor da seção cultura, Hugo Real (transcrição
disponível em anexo 15)
26
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 ao editor da seção cultura, Hugo Real (transcrição disponível em
anexo 15)

36
2.4. Organização e rotinas da redação
Ao longo do estágio fui-me apercebendo que a produção noticiosa de um jornal diário
como o Correio da Manhã segue uma lógica semelhante a uma linha de montagem, com
o trabalho a passar por vários intermediários – jornalista, editor, paginador, fotógrafo,
etc. – até se chegar ao produto final, aquele que chega às bancas e consequentemente às
mãos dos leitores. Assim, a redação agitada do Correio da Manhã passa por uma série
de rotinas que se repetem dia após dia com o objetivo de não só fazer, mas fazer bem.
“Aqui existem horas para entrar mas não existem horas para sair”. A frase foi proferida
por Miguel Martins (subchefe da redação multiplataforma do CM) mal pisei as
instalações da Cofina e ao longo dos 3 meses de estágio eu senti na pele o que aquilo
queria dizer. No Correio da Manhã, o dia começa às 11h00 e a primeira coisa que os
jornalistas fazem é ler as notícias que estão em destaque nos jornais diários. Mais tarde,
por volta das 12h00 é feita uma reunião de editores, onde é decidido o que vai entrar em
cada seção. Além disso, todas as semanas cada editor faz uma reunião de equipa, com
todos os jornalistas da seção para se decidir quem faz o quê e onde podem ser dadas
sugestões acerca das peças que vão sair na próxima semana. É também aí que são
definidos os serviços exteriores, que são marcados pelo editor ou pelo jornalista (sempre
com o conhecimento do editor) e que, posteriormente, vêm assinalados na agenda que
está acessível a todos.
No caso da edição em papel, uma vez escritas, as peças passam pelo editor que as
modifica se achar necessário; o texto é depois ainda retificado pela revisão, seguindo
depois para a gráfica. Os textos são feitos através do programa Millenium Editor, que
facilita a comunicação entre os jornalistas, os revisores e os paginadores. No caso do
online, o procedimento é bastante mais simples no sentido em que as notícias são
diretamente publicadas pelo jornalista e raramente passam pelo editor. A grande
preocupação do CM é manter o site sempre atualizado e com novas noticias, por isso,
regra geral qualquer jornalista da seção publica livremente no site qualquer notícia que
ache pertinente (existindo apenas o cuidado de ver se a notícia ainda não foi publicada –
para não existirem repetições). No meu caso, como era estagiária, a grande maioria das
minhas peças passava pelas mãos do editor antes de ser publicada, mas numa fase
posterior do estágio também cheguei a publicar diretamente no site (sem passar pelo
editor).

37
As rotinas do Correio da Manhã, incluem ainda os piquetes que são rotativos (e
inerentes a todas as seções, incluindo a cultura) sendo constituída por dois jornalistas
que fazem rondas que consistem em telefonar para a Proteção Civil, GNR, PSP,
Bombeiros e Hospitais de Lisboa e Porto para verificar se existiu alguma ocorrência
relevante durante as últimas horas. As rondas são feitas entre as 21h00 e as 00h30, hora
de fecho do jornal.

2.5. Tarefas realizadas durante o estágio


O barulho do teclado dos computadores é cortado pelo toque do telefone e pela
gravação dos primeiros voz offs televisivos que misturam vozes masculinas e femininas.
Ao longe a máquina do café é o pano de fundo do primeiro noticiário e a informação
vai-se espalhando pelas dezenas de secretárias agrupadas por ilhas que comportam as
diferentes seções do jornal. Foi este o cenário com que me deparei a 4 de janeiro – o
meu primeiro dia de estágio.
O editor de Cultura, Televisão e Media foi a primeira pessoa que conheci e o primeiro
dia foi marcado por um misto de nervosismo e excitação. Tive de ser submetida a um
pequeno teste para avaliar a minha forma de escrever. “José Cid este sábado na
Amadora” e “Odivelas recebe o Auto da Barca do Inferno” foram as notícias que redigi
nesta primeira etapa e que acabaram por ser publicadas no online (ver anexo 1), o meio
para o qual trabalhei mais.
Tal como acontece no online, o CM impresso tem uma seção de cultura e uma de
Televisão e Media que apesar de surgirem em separado fazem parte da mesma editoria.
Por isso, tive a oportunidade de escrever tanto para a cultura como para a televisão e
media, onde fiz essencialmente breves (ver exemplos em anexo 2 e 3), passei pelas
secundárias (ver anexo 4 e 5) e fiz ainda algumas aberturas (ver anexo 6). Além disso,
todos os dias, mal chegava à redação, fazia a programação que seria publicada no dia
seguinte no CM impresso. Contribui ainda para a Revista Sexta, onde pude fazer peças
sobre cinema/ ficção (ver anexo 9), mercado (ver anexo 10) e reality shows (ver anexo
11) sobretudo A Quinta: O Desafio e Love On Top, o que no primeiro caso implicava ir
às galas e entrevistar os concorrentes e a apresentadora (Teresa Guilherme), exercício
que me ajudou a ganhar uma maior autonomia em relação aos serviços exteriores. No
impresso contribui ainda para uma secção completamente diferente – com outros
jornalistas e editores - a seção Vidas, que apesar de não ser a seção onde estava inserida

38
(Cultura, Televisão e Media) me deu várias oportunidades de serviços ligados ao mundo
das celebridades, como foi o caso da festa da TVI (ver anexo 7). Mais tarde acabei por
perceber que isto faz parte da organização do CM e que as três seções – Vidas,
Televisão & Media e Cultura – estão extremamente ligadas entre si, pelo que os
jornalistas da seção cultura podem trabalhar em qualquer uma delas, existindo contudo
um editor diferente na Vidas (Rute Lourenço) e um editor que é comum à seção
Televisão & Media e à Cultura (Hugo Real). No fundo esta estrutura permitiu-me
trabalhar com várias pessoas diferentes e em seções diferentes – o que foi uma grande
mais-valia para mim. Excecionalmente fiz ainda uma pequena peça para a seção
Portugal (ver anexo 8). Além disso, montei algumas peças televisivas que foram
inseridas no programa Flash!Vidas – que faz parte da mesma editoria da Vidas (ver
anexo 12) - Gostaria de ter trabalhado e aprendido mais sobre a edição de peças
televisivas, o que fiz acabou por ficar um pouco aquém do desejado e, penso que teria
sido importante no meu processo de aprendizagem. Contudo, a minha experiência no
Correio da Manhã proporcionou-me trabalhar num ambiente multiplataforma que alia o
online ao impresso e à televisão, o que possibilitou a familiarização com dois
programas: o Millenium Editor (imprensa) e o DaletPlus (televisão). Nesse sentido, toda
esta variedade de experiências contribuiu para a minha aprendizagem.

2.5.1. Dificuldades e Constrangimentos


Neste ponto é possível refletir sobre uma questão dicotómica que é várias vezes alvo de
discussão: ser jornalista e procurar especialização numa área específica de saber, ou ser
especialista numa área e obter formação em jornalismo? No meu caso, parti para o
Correio da Manhã com formação na área da música e do teatro e com um interesse
pessoal por todos os assuntos que tivessem a ver com a cultura e as artes, julgando que
estava a par de (quase) tudo o que se passava neste campo. Estava enganada. Percebi
que não basta apenas conhecer o mundo da cultura.
A missão de um jornalista (sobretudo de um domínio de especialização tão amplo como
o da cultura) deve passar pelo domínio da área e das técnicas que permitam transmitir a
informação da melhor maneira possível. Mas a minha falta de experiência, aliada ao
ruído habitual de uma redação tornava a minha missão difícil, deixando-me num misto
de nervosismo e desconcentração, sentindo o peso da solidão de ser a única estagiária
daquela seção. E a redação não estava preparada para me receber, não a mim com toda a

39
minha personalidade frenética e sequiosa de aprender. Muitas das vezes tive de pedir
trabalho e acabei por ser reencaminhada de um lado para o outro. Acabei, muitas vezes,
por desempenhar funções que estavam mais ligadas às celebridades do que à cultura
propriamente dita. E, na verdade, os números não enganam. Feitas as contas, fiz mais
aberturas jornalísticas em seções como a Vidas do que na Cultura. Apesar dos
estagiários não fazerem muitas aberturas, tive oportunidade de fazer 8 aberturas para a
seção Vidas, e apenas 3 para a Cultura. Isto aconteceu simplesmente porque um dos
jornalistas da Vidas se encontrava doente, pelo que existia muito mais trabalho nessa
seção do que na Cultura, e muitas vezes acabava por ser eu a desempenhar esse papel.
Apesar de ter aprendido muito com a Vidas e de abordar temas do meu interesse, não
posso deixar de dizer que fiquei um pouco desiludida por não ser a editoria que me
acolheu inicialmente. No entanto, acabei por ter mais oportunidades de trabalho e penso
que consegui ter uma maior autonomia (porque comecei a fazer serviços exteriores
sozinha de forma muito rápida) e consegui experimentar coisas diferentes, áreas
diferentes e trabalhar com pessoas diferentes. A festa da TVI e os reality shows foram
os trabalhos em que ganhei uma maior autonomia porque tinha de tomar decisões –
quem entrevistar, que perguntas fazer, como abordar determinadas questões, etc. – e as
dificuldades iam aparecendo. Para melhorar o meu trabalho e conseguir interiorizar o
estilo editorial do Correio da Manhã, comecei por ler o jornal com toda a atenção de
forma a ir reparando como é que alguns assuntos eram tratados e escritos. O editor da
seção cultura aconselhou-me ainda a ler as notícias em voz alta, porque se tornava mais
fácil detetar erros. O nível de exigência foi aumentando ao longo do estágio, não só em
termos do volume de trabalho mas também em termos de variedade do meio em que
trabalhei. Ao fim de quase um mês de estágio, o editor considerou que era altura de
começar a fazer peças de televisão e, por isso apresentou-me o DaletPlus – o programa
utilizado na edição das peças televisivas do CM. Mas como a CMTV não tem nenhum
espaço destinado exclusivamente à cultura (esta surge geralmente integrada nos
noticiários)27, as minhas experiências em televisão limitaram-se a peças para o
programa FlashVidas! Não sendo “cultura”, esta acabou por ser uma das tarefas que
mais gostei de desempenhar e como já conhecia outros programas de edição de imagem
não tive grandes dificuldades.

27
Aqui, as peças de cultura são trabalhadas por dois jornalistas “séniores”

40
No Correio da Manhã existe alguma divisão do trabalho por temas culturais, no sentido
em que a atribuição destes, pelo editor, é feita de acordo com a formação/gosto pessoal
de cada jornalista. Por isso, as notícias ligadas à música geralmente cabem ao jornalista
X e as de cinema ao jornalista Y. Contudo, no que respeita a temas mais ligados ao
lifestyle ou a reality shows estes são transversais a qualquer jornalista da seção (sendo,
muitas das vezes rotativas entre os jornalistas da editoria de Cultura, Televisão & Media
e da editoria da Vidas).
Ao contrário do que eu pensava inicialmente, o trabalho tornou-se extremamente
repetitivo e rotineiro, e as tarefas que eram atribuídas eram praticamente sempre as
mesmas. No meu caso, todos os dias fazia a programação, todos os domingos era
destacada para cobrir o reality show da TVI (que me permitia escrever para a Revista
Sexta e para a Vidas). Todas as segundas-feiras era dia de fecho da revista, pelo que
tinha de escrever o que se tinha passado na gala de domingo, entrevistando algumas das
personalidades mais polémicas e carismáticas do programa. Todas as quartas/quintas-
feiras fazia a parte da ficção ou a parte infantil da revista Sexta e todos os dias fazia
notícias para o online e algumas breves. As aberturas eram uma exceção à rotina e ao
trabalho de secretária que está cada vez mais presente. Mesmo quando ocorria algo
inesperado, como foi o caso da morte do ator Nicolau Breyner, que deixou a redação
num verdadeiro caos - em que todos trabalharam no mesmo tema - os estagiários não
experienciam isso na sua totalidade. Neste caso em particular, lembro-me que me foi
dada apenas a tarefa de ficar atenta às redes sociais e a todas as mensagens que outras
personalidades de interesse público fizessem ou manifestassem em relação à morte do
ator.
Apesar das dificuldades, em termos gerais, o meu estágio foi bastante positivo. Para
todos os efeitos, foi a minha primeira experiência profissional – ainda que com os
moldes curriculares do estágio -, que me permitiu perceber como funciona uma redação
e como é o ambiente de produção de notícias.

41
Capítulo III: Os conteúdos noticiosos de cultura
no CM
Tendo sido possível, durante o período de estágio, recolher algumas impressões sobre as
constrangimentos e práticas do jornalismo realizado na editoria de Cultura, Media e
Televisão, importa complementar essa observação com uma análise dos artigos
publicados na secção de Cultura, por forma a caracterizar os seus conteúdos e inferir
tendências de cobertura.
Foi, para esse efeito, criada uma base de dados no Excel com as notícias publicadas.
Estas foram analisadas de acordo com as seguintes variáveis: o tipo de notícia (hard
news ou soft news) utilizadas; as temáticas abordadas; as fontes usadas; os géneros
jornalísticos empregues; o tipo de protagonista (celebridades, famosos ou figuras
públicas) representado e o grau de personalização.

3.1. Análise de conteúdo


A análise que a seguir se apresenta incide sobre as 298 peças publicadas no impresso e
as 499 publicadas no online da secção cultural do Correio da Manhã durante os 3 meses
de estágio (Janeiro a Abril). Através das peças foram analisadas as categorias que a
seguir apresentamos.

a) Temáticas recorrentes
Uma análise da seção de Cultura de um jornal como o Correio da Manhã permite
verificar que existe, desde logo, uma certa dificuldade em estabelecer aquilo que deve
ou não ser inserido na ‘cultura’. Até porque isso depende da perceção que cada editor
tem acerca deste conceito que, como já vimos pode ser bastante alargado. Música,
teatro, dança e cinema parecem ser temáticas que se inserem facilmente na seção. Mas,
então e a gastronomia, o turismo, o lazer, o lifestyle?
Tal como explorámos no capítulo 1, existe uma visão mais clássica de cultura e uma
abordagem mais alargada, que inclui as indústrias culturais e criativas. É esse o caso do
Correio da Manhã que aposta num jornalismo cultural “popular”, cujas notícias abarcam
uma grande variedade de temáticas (tal como podemos verificar nos gráficos 4 e 5).
Esta ideia é confirmada pelo editor da seção cultural do CM que considera que a seção

42
“engloba diversas áreas, desde a música, passando pelo cinema, teatro e literatura
[acompanhando ainda] atividades como a Tauromaquia”28

No gráfico 4, conseguimos comprovar que a música, seguida do cinema são os grandes


protagonistas da seção cultural do CM, até porque o espaço concedido à cultura é muito
pouco, ficando reduzido apenas a uma ou duas páginas (na melhor das hipóteses) o que
tira a oportunidade de explorar com maior detalhe outro tipo de temas, pelo que como
refere a jornalista Ana Maria Ribeiro, “para compensar, os textos [são mais explorados]
no online”29. O jornalista do CM Duarte Faria, elege “a música e o cinema” como os
seus temas preferidos. “Pelo contrário, os temas ligados à política neste sector” são das
temáticas que mais o desagradam30.
O recente estudo “Cultura na primeira página – o lugar da cultura no jornalismo
contemporâneo” (Baptista: 2010) corrobora esta tendência: as temáticas de primeira
página do Correio da Manhã impresso recaem quase exclusivamente sobre o tema da
música, sendo que todas as outras temáticas se encontram muito distanciadas, incluindo
o cinema.

28
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Hugo Real, editor da seção Cultura, Televisão e
Media do Correio da Manhã (ver anexo 15)
29
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Ana Maria Ribeiro, jornalista da seção Cultura, Televisão e
Media do Correio da Manhã (ver anexo 15)
30
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Duarte Faria, Jornalista da seção Cultura, Televisão e Media do
Correio da Manhã (ver anexo 15)

43
No online as temáticas dominantes são praticamente as mesmas e a música assume-se –
ainda mais do que no papel - como a mais tratada (ver gráfico 5). Perante este resultado
seria de esperar que fossem exploradas outras possibilidades multimídia como a
utilização de playlists com o álbum ou com músicas de uma determinada banda, que
tornariam o artigo mais apelativo. No entanto, de uma forma geral ainda existe uma
exploração inadequada dos recursos possíveis com o online e, praticamente todas as
peças se baseiam numa simples combinação entre texto e fotografia, sendo esta muito
utilizada em qualquer notícia (quer seja publicada no impresso ou no online). Deveria
ter um maior e melhor aproveitamento de gráficos, animações digitais e efeitos sonoros,
bem como a utilização de hipertextualidade, o que resulta numa fraca interatividade (ver
exemplos em anexo 16).
Por fim, resta ainda dizer que o destaque dado à música e ao cinema tanto no online
como no impresso não só resulta de um período (janeiro a abril) em que se realizaram os
Óscares como um momento em que se começaram a divulgar os cartazes dos festivais
de música de verão como o Alive, o Marés Vivas, o Summer Fest, o Cool Jazz, entre
outros, o que pode justificar a existência de uma maior incidência nestes temas que não
só dominam a atualidade cultural, - como também “dominam as tabelas do consumo
cultural” (Piza: 2004, 54).

44
b) hard vs soft
Para cumprir o nosso objetivo de caracterizar o jornalismo cultural que é produzido
neste jornal, importa analisar que tipo de notícia – hard news ou soft news – domina a
seção para determinar o enquadramento editorial dado ao conteúdo cultural produzido
neste jornal. As temáticas culturais permitem, “uma escrita mais criativa”31, e
consequentemente isso vai permitir que as notícias tenham abordagens diferentes.
Tal como podemos verificar através do gráfico 6, de um total de 499 peças publicadas
no online, 466 foram soft news, sendo que a forma como a peça era apresentada/escrita
foi um fator determinante para definir em qual das categorias – soft news ou hard news
– deveria ser inserida. Além disso, o fator temporal foi um dos aspetos de maior peso na
categorização porque, como já vimos, a urgência das notícias (isto é, se a peça tem de
ser publicada na hora ou pode esperar alguns dias) determina se ela é hard ou soft. No
entanto, em alguns casos a linha entre hard e soft news era bastante ténue e por isso foi
criada a categoria “outros” que conta apenas com 15 peças como é o caso da publicação
sobre a morte de Nicolau Breyner ou de José Boavida 32 em coma, que são temas que
causam alguma dúvida porque por um lado apelam ao interesse humano, mas por outro,
é algo de grande significância nacional e que deverá ser comunicado o mais rápido
possível. Além disso, são demasiado sérias e atuais para serem consideradas soft news,
no entanto a linguagem utilizada revela uma abordagem que impede que estas sejam
inseridas nas hard news. Através desta categorização concluímos que as soft news

Gráfico 6: Categorização das notícias online Gráfico 7: Categorização das notícias do CM impresso

dominam as peças produzidas pelo Correio da Manhã no online.


31
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Duarte Faria, Jornalista da seção Cultura, Televisão e Media do
Correio da Manhã (ver anexo 15)
32
Nestes casos a notícia não versava exatamente a morte de Nicolau Breyner (porque isso foi publicado
na seção Portugal), mas era uma notícia complementar que fazia um resumo da vida e da carreira do
autor, daí ter causado dúvida quanto à sua categorização

45
O gráfico 7 mostra os resultados obtidos na categorização das notícias publicadas no
Correio da Manhã impresso e os resultados são bastante semelhantes. Das 298 peças
publicadas no jornal a grande maioria (278) fazia parte das soft news e apenas 17 foram
consideradas hard news. Isto significa que grande parte das notícias culturais deste
jornal diário são consideradas soft dominando tanto no online como na versão impressa
do Correio da Manhã. Mas porque será que isso acontece? Leonel Aguiar (2009)
considera que para informar as pessoas é necessário captar o seu interesse, justificando
assim o peso das notícias soft nas peças jornalísticas, colocando a hipótese de este poder
vir a ser considerado um valor-notícia atual. E a verdade é que, tal como eu tive a
oportunidade de verificar ao longo do estágio no Correio da Manhã, existe uma grande
preocupação em garantir as audiências e manter um público fiel, através da
“proximidade e de temas que interessem a um conjunto mais vasto de leitores”33

c) Géneros jornalísticos
“Os géneros jornalísticos são determinados pelo modo de produção dos meios de
comunicação de massa e por manifestações culturais de cada sociedade onde as
empresas jornalísticas estão inseridas”
(Medina: 2001, 45)

No que respeita aos géneros, seguimos a categorização definida por Lopes (2010) que
divide os géneros jornalísticos em informativos (onde se incluem a notícia, a breve, a
reportagem, a entrevista, o inquérito) e opinativos, onde se incluem o editorial, o artigo
de opinião, o artigo de análise, o comentário, a crónica (Lopes: 2010, 8). Na gráfico 3
estão apenas representados os géneros que marcaram a sua presença ao longo dos 3
meses de estágio. Foi também considerada a infografia que é um género muito
recorrente no Correio da Manhã, como forma de condensar e organizar várias
informações em pouco espaço.

33
Excerto da entrevista realizada em julho de 2016 a Hugo Real, editor da seção Cultura, Televisão e Media do
Correio da Manhã (ver anexo 15)

46
Gráfico 8: Distribuição das notícias culturais por género no impresso e no online

Tal como podemos verificar através do gráfico 8 as notícias e as breves são os géneros
mais recorrentes no CM impresso, o que revela um esforço no sentido de informar o
público. A entrevista é um género muito pouco explorado e, ao longo do estágio eu tive
a oportunidade de comprovar, durante as reuniões de equipa, que tendo em conta os
limites de espaço impostos ao CM impresso, a entrevista só é escrita nesse formato se
valer por si só e se conseguir transmitir todas as informações desejadas. Caso contrário
é parcialmente aproveitada no formato notícia ou reportagem, onde a peça pode ser
enriquecida com outros elementos. Também o peso da infografia se justifica no sentido
em que é uma forma de colmatar a falta de espaço, agrupando a informação e seguindo,
muitas das vezes, a lógica de que uma imagem vale mais do que mil palavras.
É ainda de destacar o peso dado aos textos de opinião, no sentido em que a seção
cultural do Correio da Manhã tem uma coluna dedicada exclusivamente a artigos de
opinião. O escritor Francisco José Viegas, o jornalista Leonardo Ralha e o aficionado e
crítico tauromáquico Maurício do Vale são o grupo de colunistas que de forma rotativa
escrevem sobre as temáticas que marcam a atualidade. Os temas podem ir desde o
cinema, à literatura passando por algumas polémicas e, claro pela tauromaquia.
No caso do online apenas foram identificadas as notícias e as entrevistas (que ganham
um maior destaque no online uma vez que existe mais espaço para explorar este
género). No online não existem breves; a grande maioria das peças são notícias e têm
mais ou menos a mesma dimensão (porque segundo o editor de cultura no online as
peças não devem ser demasiado longas porque se tornam exaustivas para quem está em
frente ao computador, nem demasiado curtas, porque não dão informação suficiente).
As infografias não são utilizadas e os textos de opinião (sobre qualquer tema) são
colocados num separador à parte. Concluímos, assim que predominam as notícias –
tanto no correio da manhã online como impresso.

47
d) As fontes
As fontes são parte fundamental da produção jornalística e permitem aferir, quer o grau
de profundidade, rigor e credibilidade da investigação quer algumas das rotinas de
tratamento noticioso. Citando Schmitz , as fontes:

“São pessoas, organizações, grupos sociais ou referências;


envolvidas, direta ou indiretamente, a factos e eventos; que
agem de forma proactiva, ativa, passiva ou reativa; sendo
confiáveis, credíveis ou duvidosas; de quem os jornalistas
obtêm informações de modo explícito ou confidencial para
transmitir ao público, por meio de um media”
(Schmitz: 2010, 20)

Quer sejam oficiais ou não oficiais, coletivas ou singulares, a verdade é que os


jornalistas dependem delas. Existem várias tipologias de fontes associadas a diferentes
autores. Distinguimos a classificação de Rogério Santos (2003) que divide as fontes em:
oficiais (provenientes do governo, de instituições estatais ou empresas); as regulares
(ex. associações, líderes de opinião, etc.); e ocasionais ou acidentais (ex. testemunhas de
um crime). Por outro lado, Manuel Pinto (2002) apresenta uma conceptualização mais
completa classificando-as segundo:

“A natureza: fontes pessoais ou documentais; a origem:


fontes públicas (oficiais) ou privadas; a duração: fontes
episódicas ou permanentes; o âmbito geográfico: fontes
locais, nacionais ou internacionais; o grau de envolvimento
nos factos; oculares/primárias ou indiretas/secundárias; a
atitude face ao jornalista: fontes ativas (espontâneas,
ávidas) ou passivas (abertas, resistentes); a identificação:
fontes assumidas/explicitadas ou anónimas/confidenciais; e
a metodologia ou estratégias de atuação: fontes pró-ativas
ou reativas; preventivas ou defensivas”
(Manuel Pinto: 2002, 279)
É através de toda esta diversidade de fontes que os jornalistas tentam essencialmente
obter informação inédita, que confirme ou desminta informações já obtidas de forma a
dissipar dúvidas, atribuindo credibilidade às informações recolhidas diretamente pelo
repórter (Pinto: 2000, 280). Por seu turno, as fontes procuram visibilidade nos media, o
apoio e a adesão a produtos, serviços e ideias, a diminuição dos prejuízos ou aspetos
negativos como forma de criar uma imagem pública positiva (Pinto: 2000, 280).
No entanto, as fontes não têm todas o mesmo grau de importância, no sentido em que
existe subjacente uma espécie de jogo de interesses e nesse sentido, da mesma maneira

48
que “as fontes disponibilizam a informação no formato que pretendem que seja
divulgada, os jornalistas também só acedem às fontes para retirar determinadas
informações que lhes sejam convenientes” (Correia: 2011, 16).
Na secção de cultura do CM verificámos que as fontes podem ser provenientes de
comunicados das assessorias de imprensa, conferências de imprensa, agências
noticiosas como a Reuters e a Lusa, ou até mesmo de redes sociais como o Twitter, o
Facebook ou o Instagram. O contacto com as fontes pode ser presencial ou não
presencial, utilizando-se meios de comunicação como o telefone ou o e-mail. No
Correio da Manhã conseguimos verificar a presença das redes sociais em notícias de
extrema importância como, por exemplo, a morte de David Bowie que foi dada para
todo o mundo através de um simples clique na conta oficial do Twitter, e é por isso que
os jornalistas devem estar sempre atentos às redes sociais e a todos os meios de
comunicação disponíveis.
A distinção presente no gráfico 9 e 9.1. foi bastante simples de fazer, no sentido em que
as notícias que vêm das agências noticiosas aparecem devidamente identificadas, bem
como todas as outras fontes utilizadas. Uma análise das notícias publicadas tanto no
online como no CM impresso permitiu verificar que as fontes pessoais são as mais
utilizadas na redação deste jornal diário, estando presentes sempre que possível (ver
gráfico 9 e 9.1.).

Muitas vezes a informação chega-nos através de outro meio, que acaba por não ser
citado porque se contacta diretamente a fonte como forma de confirmar a informação,
ou obter informações mais detalhadas e em primeira-mão. Além disso, várias fontes
podem ajudar a enriquecer um determinado artigo, complementando a informação e
dando a conhecer vários lados sobre a mesma história.

49
Maria Clara Barradas (2010) considera que “as fontes do jornalismo cultural são poucas
e reduzem-se, regra geral, aos criadores/artistas responsáveis pelo produto cultural em
análise” (Barradas: 2010, 17), no entanto não foi isso que eu verifiquei ao longo do
estágio. Aconteceu várias vezes falar não apenas com os criadores/ artistas mas com
organizadores, agentes ou pessoas que dominem uma determinada área e que podem
enriquecer a peça com a sua opinião ou explicação especializada (tanto de pessoas
exteriores como do meio – dependendo do tipo de notícia tratada) sobre determinados
aspetos. Até porque “o jornalista, mesmo quando é especializado, deve cultivar fontes
especializadas que o possam auxiliar na elaboração de enunciados problemáticos”
(Sousa: 2001, 70), e “os especialistas numa determinada temática são fontes importantes
para se abordar essa temática. O especialista será tanto melhor fonte quanto mais
consiga descodificar em termos simples a informação técnica e quanto mais capacidade
de previsão tiver” (Sousa: 2001, 72). Podemos usar como exemplo as fontes usadas para
escrever notícias como “Navio Luso achado em Omã” (publicada a 15/03/2016, ver
anexo 13) que inclui o testemunho de um historiador especialista que apesar de nada ter
a ver com o navio vem enriquecer e simplificar o valor histórico deste objeto,
explicando a informação de forma simples e acessível. Por outro lado, a peça “Muralha
da cidade com acesso ao público” (publicada a 18/ 03/2016, ver anexo 13) conta com o
testemunho de um morador que teve o privilégio de vivenciar tudo em primeira mão e
por isso, apesar de não ser um especialista, a sua opinião é fundamental para compor
esta peça jornalística. Até porque é “desejável fazer a contrastação das fontes, isto é,
contactar várias fontes a propósito de um único assunto, especialmente quando
existirem várias partes com pontos de vista diferenciados acerca do tema em causa”
(Sousa: 2001, 70). Por exemplo, quando fiz a cobertura do Muro - festival de arte
urbana34, tive a oportunidade de falar com vários graffiters (que não faziam parte do
festival e que foram apenas ver) e representantes de galerias (que são elementos
especializados em arte urbana) e complementei a informação com a vereadora da
Câmara que nos dá uma visão da importância do festival para a comunidade local e com
outros elementos da organização que nos dão uma outra perspetiva sobre o que se vai
passar no festival – quais os artistas que vão lá estar, quando se vai realizar, etc.
Posto isto, Ribeiro (2008) considera que no caso do jornalismo cultural “a relação com
as fontes assume contornos diferentes de outras áreas jornalísticas. As fontes são, na sua

34
Noticia publicada a 30 de março de 2016 em:
http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/bairro_padre_cruz_apresenta_festival_de_arte_urbana

50
maioria, não oficiais, ou seja, são instituições não estatais – empresas que se servem dos
media para divulgar os seus acontecimentos” (Ribeiro: 2008, 24). O estágio no CM
permitiu verificar que as fontes oficiais mais recorrentes são as Câmaras Municipais,
que dão a conhecer as principais atividades da região através de press realeases
enviados por e-mail para a redação.
Nas fontes provenientes de assessorias de imprensa, toda a informação é pensada e
trabalhada de acordo com os interesses da empresa. E no caso do CM, são muitos os
press releases que chegam e várias vezes me chamaram à atenção em relação aos
interesses que os presses trazem subjacentes e que o jornal não pode nem deve
publicitar. Além disso, no caso de a notícia incidir sobre outros países, consultar órgãos
de comunicação social do país em causa pode ser uma boa solução e, ao longo do
estágio várias vezes me disseram para ficar atenta aos sites de diários espanhóis, norte-
americanos ou até mesmo franceses. Por exemplo, a notícia “Bear Grylls coloca Obama
em risco”35 resultou da consulta ao site norte-americano CNN ou a notícia “Alejandro
Sanz interrompe concerto para defender mulher36 foi visto no site do periódico espanhol
El País e proposto por mim ao editor.
No fundo o contraste das fontes é algo fundamental. Não nos limitarmos apenas às
dezenas de press releases que chegam diariamente à redação do CM é essencial para o
trabalho do jornalista que deve fazer de tudo para dar ao leitor o melhor e mais
completo artigo. Que permita ver o acontecimento sobre uma multiplicidade de
perspetivas que enriquecem a peça e, essencialmente que levem o leitor a refletir sobre
ela.

35
Noticia publicada a 29 de janeiro de 2016 em:
http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/bear_grylls_poe_obama_em_risco
36
Noticia publicada a 23 de fevereiro de 2016 em:
http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/alejandro_sanz_interrompe_concerto_para_defender_mulher?

51
e) Grau de personalização
Estudos recentes (Silva: 2012) indicam que cada vez mais o foco mediático não é dado
à arte em si mas sim à pessoa que está ligada ao meio artístico, ou seja, em vez de nos
concentrarmos no filme, na exposição, no concerto, etc., focamos a atenção no ator,
cantor, expositor, etc., existindo uma certa dificuldade em separar os dois. Por isso,
consideramos necessário verificar se esta tendência do jornalismo cultural se verifica ou
não no Correio da Manhã.

Gráfico 11: grau de personalização das peças publicadas no


Gráfico 10: grau de personalização das peças publicadas
no impresso online

Consideramos que existia personalização sempre que existia um foco na pessoa (na sua
vida, nos seus hábitos etc.) e não no seu trabalho. Se tomarmos como exemplo a peça
“Deolinda lançam novo álbum”37 percebemos que se centra unicamente no trabalho
discográfico da banda, sem focar especificamente a vocalista – Ana Bacalhau - por
exemplo. Se assim fosse esta notícia seria considerada com personalização, mas a forma
como está escrita faz com que seja considerada uma notícia sem personalização. Os
gráficos 10/11 mostram um resultado de certa forma surpreendente, no sentido em que
apesar de ser visível a presença de uma forte personalização, não se pode dizer que
exista um predomínio desse tipo de notícias. Os protagonistas mais destacados são
geralmente da área do cinema; na música (a temática de maior destaque) o foco é dado
às bandas propriamente ditas e ao seu trabalho discográfico, concertos, etc. No entanto,
a linha entre uma notícia considerada “com personalização” e “sem personalização” é
muito ténue, até porque a grande maioria das notícias resulta num misto dos dois.
Contudo, verifica-se uma maior personalização no Correio da Manhã impresso (37%)

37
Publicada a 19 de janeiro de 2016 em:
http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/deolinda_lancam_novo_album_no_proximo_mes

52
do que no online (22%), o que, tal como já vimos, pode estar ligado ao consumo, uma
vez que no impresso existem restrições de espaço e o foco numa determinada figura
pública pode ajudar a atrair ou captar a atenção do leitor.

f) Celebridades, famosos e figuras públicas


Apesar de não se verificar um predomínio de notícias com personalização no jornalismo
cultural que é praticado no Correio da Manhã, fez parte dos nossos objetivos perceber
como essa personalização é centrada: se os atores são enquadrados como celebridades,
famosos ou figuras públicas. Tal como vimos anteriormente, o famoso é aquele que está
associado ao mérito e ao trabalho, enquanto a celebridade é altamente reconhecida pelas
suas características inatas e singulares (o que não implica necessariamente trabalho); a
figura pública dedica-se a um determinado setor da vida pública – é o caso, por
exemplo, de políticos. Com base nesta distinção, concluímos que no impresso os
famosos (62%) – cujo conceito surge associado ao mérito e ao trabalho - são os mais
referenciados no jornalismo cultural do CM (cf. gráfico nº 12). Seguem-se as figuras
públicas, com 29%, onde se destaca as figuras em sentido relativo, ou seja que voltam a
ser “pessoas comuns” quando a causa que lhes deu interesse público deixa de ter
interesse.

Embora existam poucas celebridades em Portugal, em fevereiro ocorreram os óscares e,


por isso, escreveram-se vários textos sobre celebridades, destacando-se Leonardo
DiCaprio – vencedor do prémio de melhor ator pela sua interpretação em “O
Regressado” - como a celebridade mais noticiada pelo CM. No online existe um maior
equilíbrio entre famosos e celebridades, embora os famosos continuem a ser dominantes

53
(51%). Tendo em conta que no online não existem limites de espaço, verificou-se uma
maior abertura para serem noticiadas figuras célebres internacionalmente e, o gráfico 13
mostra isso mesmo, existindo mais notícias sobre celebridades do que no impresso,
onde são privilegiados os famosos (especialmente nacionais). Esta ideia está relacionada
com a proximidade que o editor da seção cultura destacou como sendo um dos valores-
noticia utilizados pelo CM (ver anexo 15)
Em suma, a análise de conteúdo às peças publicadas na secção de Cultura durante os 3
meses de estágio permitiu retirar conclusões que nos possibilitam traçar as principais
características do jornalismo cultural do Correio da Manhã. Antes de mais, verificamos
que os conteúdos de cultura deste jornal diário são tendencialmente notícias soft,
utilizando uma linguagem simples e acessível. A música é o tema mais trabalhado pelos
jornalistas e as peças centram-se mais no acontecimento do que na pessoa, pelo que
apesar de se verificar a presença de uma forte personalização, não se pode dizer que
exista um predomínio desse tipo de notícias. Contudo, sempre que tal acontece, a
personalidade destacada é geralmente um “famoso”. Há um peso significativo de fontes
humanas, no sentido em que em praticamente todas as notícias os jornalistas têm a
preocupação de falar com alguém que esteja ligado ao acontecimento (nem que seja
apenas para confirmar dados).

54
Considerações finais
Que jornalismo cultural se produz no Correio da Manhã? Que rotinas estão instaladas e
como esse trabalho se manifesta nas representações de cultura que produz? Estas foram
questões que acompanharam a reflexão aqui feita sobre os 3 meses de estágio na
editoria de Cultura, TV e Media do jornal Correio da Manhã (versão impressa e online).
Uma das primeiras conclusões que retiramos é que o Correio da Manhã aposta num
jornalismo popular e, nesse sentido aborda uma variedade de temáticas, onde a música -
seguida do cinema - assume a sua primazia (tanto no meio online como no impresso).
A divisão do trabalho no seio da editoria de Cultura, Televisão & Media é feita de
acordo com a formação/gosto pessoal de cada jornalista, o que não acontece em outras
temáticas como o lifestyle ou os reality shows que podem ser trabalhadas por qualquer
jornalista da seção.
Verificámos – através da observação participante - que o jornalismo cultural está cada
vez mais subordinado à agenda e ao “jornalismo de secretaria” e, se retomarmos o
trabalho de Dora Santos Silva (2009) esta tendência não se verifica apenas no CM mas
em todos os media portugueses. Esta é uma questão preocupante porque em vez do
jornalismo cultural ser marcado pela componente reflexiva, crítica e até mesmo
opinativa que a diferencia de outras áreas jornalísticas, é dominada pela agenda e apenas
pela divulgação de eventos, e o online consegue muitas das vezes cumprir essa tarefa
com a rapidez de um clique através das redes sociais ou blogues. Isto leva-me a refletir
acerca da ideia discutida no estado da arte em que autores como Souza (2007)
consideravam que a função do jornalismo cultural não era apenas informar mas
sobretudo formar o leitor, o que não se tem verificado no CM, no sentido em que a
reflexão em torno das temáticas culturais está cada vez mais diluída. Tudo isto tem
levantado críticas à produção deste tipo de jornalismo que, no fundo passou de crítico a
criticado. “Que jornalismo é este que coloca os produtos, os números da audiência e/ou
venda e as fofocas (e não as pessoas e as ideias) em primeiro plano, e desconhece o que
se passa além do alcance das vistas (…)” (Vale, 2007, 134-135). Esta é uma questão
legítima.
Porque apesar de na teoria o jornalismo cultural se basear na ideia de que acima de tudo,
é preciso informar, divulgar e levar o leitor a refletir, na prática o que se verifica é que
muitas das vezes as seções sentem a pressão para dar a notícia em primeira mão e para
obter sucesso (como acontece no Correio da Manhã), e como? Através dos leitores, das
55
audiências, do público. Mas será que o jornalismo cultural deve dar ao público aquilo
que ele merece, aquilo que ele quer ou aquilo de que ele precisa? Jornais como o
Correio da Manhã lutam todos os dias para dominar o mercado e manter um público
fiel, e segundo o editor da seção cultura – Hugo Real - baseiam-se “em valores-noticia
como a proximidade e os interesses dos leitores”38 (ver entrevista completa no anexo
15).
Para isso não basta ir a um determinado evento ou espetáculo e relatar o que lá se
passou e é nesse sentido que as fontes humanas assumem toda a sua importância.
Porque para seduzir o público é preciso fazer mais do que um simples relato dos
acontecimentos. É preciso falar com pessoas, contrastar ideias e escrutinar tudo o que se
passou. É isso que enriquece as peças jornalísticas e, nesse aspeto o Correio da Manhã
sabe utilizar as fontes humanas como fonte primordial do jornalismo cultural, tal como
tivemos oportunidade de verificar.
Ao longo do estágio pude constatar que, de certa forma, existem temáticas na secção
cultura que são considerados mais “nobres”, mais disputados, pelo que são atribuídas a
quem tem mais experiência e especialização. Por isso, os estagiários ficam geralmente
com as temáticas consideradas “inferiores”, como é o caso dos reality shows e a vida
dos famosos. Quanto à minha experiência enquanto estagiária, limito-me a descrevê-la
como uma experiência única. É claro que os conhecimentos adquiridos ao longo do
mestrado foram essenciais mas só fazendo e errando é que se aprende. Do trabalho
realizado no estágio retiro uma lição que desde o primeiro dia me tentaram incutir: o
não ter medo de perguntar. Nenhum jornalista, de nenhuma área pode ter vergonha ou
medo de perguntar (por mais difícil que seja), mesmo estando numa conferência de
imprensa rodeado de jornalistas experientes. Seja qual for a circunstância não devemos
ter medo de perguntar.
Por fim, resta apenas acrescentar que tenho plena consciência de que fica muito por
dizer acerca deste tema que tem tanto de complexo quanto de fascinante. No entanto,
esperamos ter contribuído para a discussão de um campo tão pouco explorado em
Portugal.

38
Entrevista realizada a Hugo Real, editor da secção cultura (ver anexo 15)

56
Bibliografia
Abiahy, Ana Carolina (2000). O jornalismo especializado na sociedade da
informação. Monografia de graduação, Curso de jornalismo, Universidade federal da
Paraíba/PB. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismo-
especializado.pdf (consultado em junho de 2016)

Aguiar, Leonel (2009). Entretenimento: valor-notícia fundamental. Estudos em


jornalismo e mídia, 5(1), 13-23.Dis0p0onível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/viewArticle/10674 (consultado
em fevereiro de 2016)

Albertos, José Luís (1974). Redacción periodística:(los estilos y los géneros en la


Prensa escrita).Disponível em:
http://www.insumisos.com/LecturasGratis/martinez%20albertos%20jose%20-
%20redaccion%20periodistica.pdf (consultado em setembro de 2016)

Allan, Stuart (2004). Good Journalism is popular culture. In News Culture (pp. 193-
218). Londres: Open University Press.

Alves, Clara (2012). É a falta de Cultura, estúpido! Jornal Expresso.

Azevedo, Celiana (2014). O jornalismo cultural e as influências de fatores econômicos


em Portugal. Vozes e Diálogo, 13(01).

Balle, Francis (1990). Desafio de las nuevas tecnologias a la enseñanza. Disponível em:
http://www.fund-encuentro.org/fundacion_php/cuadernos/serviciodocs/090%201990-
MAY%20Desafio%20de%20las%20Nuevas%20Tecnologias%20a%20la%20Ensenanz
a.pdf (consultado em setembro de 2016)

Baptista, Carla (2010). A Cultura na primeira página – um estudo dos jornais


portugueses na primeira década do século XXI. Disponível em:
http://www.aps.pt/viii_congresso/VIII_ACTAS/VIII_COM0750.pdf (Consultado em
maio de 2016)

57
Baptista, Carla (2014). O Lugar da Cultura no Jornalismo Contemporâneo. In : A
Cultura na Primeira Página - O lugar da cultura no jornalismo contemporâneo (caderno
de reflexões)

Barradas, Maria Clara (2010). O teatro na comunicação social portuguesa. O caso do


jornal Público (Doctoral dissertation, Faculdade de ciências Sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa). Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/6009
(consultado em junho de 2016)

Basso, Eliane (2006). Jornalismo Cultural - Uma análise sobre o campo. Obtido de
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/9994575385198073513788457148113410114
2.pdf

Baum, Matthew (2002). Sex, lies, and war: How soft news brings foreign policy to the
inattentivepublic. The American Political Science Review.

Berganza Conde, Maria (2005): Periodismo Especializado. Estudios sobre el Mensaje


Periodistico, 444-447.

Bird, Elizabeth (1992). For enquiring minds. Knoxville, TN: University of Tennessee
Press

Boczkowski, Pablo (2009). Rethinking hard and soft news production: From common
ground to divergent paths. Journal of Communication, 59(1), 98-116. Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1460-2466.2008.01406.x/pdf (consultado
em junho de 2016)

Bosi, Alfredo (2003). Dialética da Colonização (4ª ed.). São Paulo: Cia. das Letras.

Camponez, Carlos (2004). A crise do jornalismo face aos novos desafios da


comunicação pública. In Atas do V congresso português de sociologia (pp. 1-18).
Disponível em: http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR46151be427116_1.pdf
(Consultado em setembro de 2016)

Cardoso, Ana Sofia (2014). O tratamento da imagem das figuras públicas como objeto
jornalístico.

Carmo, Teresa (2006). Evolução portuguesa do Jornalismo Cultural. Lisboa:


Universidade Nova de Lisboa.

58
Centeno, Maria João (2010). As organizações culturais e o espaço público. A
experiência da rede nacional de teatros e cineteatros (Doctoral dissertation, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa).Disponível em:
https://run.unl.pt/bitstream/10362/5078/1/mariajoaocenteno.pdf (consultado em junho
de 2016)

Correia, Ana Patrícia (2011). Fontes de informação 2.0: estudo de caso nos media da
Beira Interior (Doctoral dissertation, Universidade da Beira Interior). Disponível em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/m-jornalismo-2011-ana-correia.pdf (consultado em junho
de 2016)

Correia, Fernando & Baptista, Carla (2005). Anos 60: um período de viragem no
jornalismo português. In SOPCOM 2005: 4º Congresso da Associação Portuguesa de
Ciências da Comunicação (pp. 1191-1202).Disponível em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/correia-baptista-anos-60-periodo-viragem.pdf (Consultado
em junho de 2016)

Coan, Emerson. (2012). O domínio do entretenimento na contemporaneidade. Ação


Midiática–Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura., (4).Disponível em:
http://revistas.ufpr.br/acaomidiatica/article/download/32457/20593 (consultado em
junho de 2016)

Coelho, Teixeira (2016). A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001.
Iluminuras e Itaú Cultural.

Cuche, Denys (1999). A Noção de Cultura nas Ciências Sociais (3ª ed.). Lisboa:
EDUSC.

Dejavite, Fabia (2007). A notícia light e o jornalismo de infotenimento. InTrabalho


apresentado no VI Encontro de Núcleo de Pesquisa–NP–Jornalismo. XXX Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido pela Intercom: Santos/SP (Vol. 29).

Deuze, Mark (2007). Convergence Culture in the Creative industries. Internacional


Journal of Cultural Studies, 243-263.

Erbolato, Mário (1981). Jornalismo especializado. São Paulo: Atlas.

59
Ferin, Isabel (2009). Comunicação e Culturas do quotidiano. Lisboa: Quimeras
Editores.

Fonseca, André (2006). O verdadeiro Jornalismo Cultural. Obtido de


www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=27 (Consultado em junho
de 2016)

Gadini, Sérgio Luis (2006). Grandes estruturas editoriais dos cadernos culturais.
Principais características do jornalismo cultural nos diários brasileiros. Revista
Fronteiras - estudos mediáticos, 233-240.

Gomes, Itania Maria Mota (2006) Infotainment e a cultura jornalística

Gomes, Fábio (2005), Jornalismo Cultural. Brasil: Brasileirinho Produções.

Jorge, Ana (2012). A Cultura das Celebridades e os Joves: do Consumo à Participação.


Obtido de
http://run.unl.pt/bitstream/10362/8397/1/AJ_Celebridades%20e%20Jovens_Tes
e_Final.pdf (Consultado em junho de 2016)

Jorge, Ana (2014). O que é que os Famosos têm de especial. A Cultura das
Celebridades e os jovens. Lisboa: Texto.

Lehman-Wilzig, Sam & Seletzky, Michael (2010). Hard news, soft news,‘general’news:
The necessity and utility of an intermediate classification.Journalism, 11(1), 37-56.
Disponível em: http://jou.sagepub.com/content/11/1/37.short (Consultado em agosto de
2016)

Lopez, Debora & Freire, Marcelo (2014). O jornalismo cultural além da crítica: um
estudo das reportagens na revista Raiz. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação,
Covilhã. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/lopez-debora-freire-marcelo-
jornalismo-cultural.pdf (Consultado em junho de 2016)

Lopes, Paula Cristina (2010). Géneros literários e géneros jornalísticos Uma revisão
teórica de conceitos. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação. Disponível em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-generos-lopes.pdf (Consultado em setembro de 2016)

Martins, Christiana (2005). Uma fronteira ou o jornalismo económico como forma de


conhecimento especializado. Caleidoscópio: Revista de Comunicação e Cultura, (5/6).

60
Disponível em:
revistas.ulusofona.pt/index.php/caleidoscopio/article/download/2255/1769 (consultado
em junho de 2016)

Marshall, David (2006). The Celebrity Culture Reader. Nova Iorque; Londres:
Routledge

Medina, Jorge Luis (2001). Gêneros jornalísticos: repensando a questão. In Revista


SymposiuM, Ano. Obtido em: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3196/3196.PDF
(Consultado em agosto de 2016)

Melo, Isabel Anchieta (2007). Jornalismo Cultural: Pelo encontro da clareza do


jornalismo com a densidade e complexidade da cultura. Obtido de Biblioteca online de
Ciências da Comunicação: www.bocc.ubi.pt/pag/melo-isabelle-jornalismo-cultural.pdf

Olmstead, Kathryn (1991). Breaking the cocoon: Cultural journalism in a global


community. Journal of Popular Culture, 25(2), 153-165. Disponível em:
http://search.proquest.com/openview/63874da169893a9ee405e238242e9bda/1.pdf?pq-
origsite=gscholar&cbl=34704 (consultado em junho de 2016)

PIANA, Maria Cristina (2009) A construção do perfil do assistente social no cenário


educacional [online], São Paulo: UNESP. Disponível em
http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-05.pdf (consultado em
agosto de 2016)

Pinto, Manuel (2000). Fontes jornalísticas: contributos para o mapeamento do campo.


Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5512/1/CS_vol2_mpinto_p277-
294.pdf (consultado em junho de 2016)

Pires, Maria (2006). Teorias da Cultura. Lisboa: Editora Universidade Católica.

Piza, Daniel (2003). Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto.

Quivy, Raymond, & Campenhoudt, Luc Van(1998). Manual de investigação em


ciências sociais.

Reinemann, Carsten, Stanyer, James, Scherr, Sebastian, & Legnante, Guido (2011).
Hard and soft news: A review of concepts, operationalizations and key
findings. Journalism, Obtido em:

61
http://www.lboro.ac.uk/media/wwwlboroacuk/content/socialsciences/downloads/Hard%
20and%20soft%20news%20A%20review%20of%20concepts,%20operationalizations%
20and%20key%20findings.pdf (Consultado em junho de 2018)

Ribeiro, Maria de Fátima (2008). Reflexões sobre o jornalismo cultural: mudanças no


modo de informar (Doctoral dissertation).Disponível em:
http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/9497(consultado em fevereiro de
2016)

Santaella, Lúcia (2003). Mídias Locativas: A internet móvel de lugares e coisas. Revista
Famecos.

Santos, Tamires Dias (2014). Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural. Revista
Trágica: estudos de filosofia da imanência–2º quadrimestre de, 7(2), 25.

Schmitz, António (2011). Fontes de notícias: ações e estratégias das fontes no


jornalismo. Combook. Disponível em: http://iscom.com.br/wp-
content/uploads/eBook_fontes_noticias_Aldo_Antonio-Schmitz.pdf (Consultado em
agosto de 2016)

Silva, Dora Santos (2000-2010). A cobertura da cultura nas capas das newsmagazines
portuguesas - O Caso da Revista Visão. Obtido de
culturaprimeirapagina.fcsh.unl.pt/.../Paper_Ibercom_2013_Dora_Santos...

Silva, Dora Santos (2009). Tendências do Jornalismo Cultural em Portugal. Obtido de


conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom.../432

Silva, Dora Santos (2012). Cultura & Jornalismo Cultural (1ª ed.). Lisboa: Media XXI.

Silva, Dora Santos (2014). A nova dimensão performativa do jornalismo cultural.


Contributos do roteiro e da review. In Cultura na Primeira Página. O lugar da cultura no
jornalismo contemporâneo, 39 - 51. Lisboa: Mariposa Azul.

Sousa, Jorge Pedro (2001) Elementos do Jornalismo Impresso. Biblioteca on-line de


ciências da comunicação. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-
elementos-de-jornalismo-impresso.pdf (consultado em junho de 2016)

Szantó, András (2007). Um Quadro Ambíguo. Rumos (do) Jornalismo Cultural. São
Paulo: Summus Itaú Cultural.

62
Teixeira, Nísio (2008). Impacto da internet sobre a natureza do jornalismo cultural.Belo
Horizonte,[sn].Disponível em: http://mbaexecutivo.unisinos.br/pag/teixeira-nisio-
impacto-da-internet.pdf (consultado em junho de 2016)

Taylor, Edward Burnett (1871, March). Royal Society of London. In Proc. Roy.
Soc (Vol. 29, pp. 393-410).Disponível em:
http://anchecata.colmich.edu.mx/janium/Tablas/tabla2612.pdf (consultado em junho de
2016)

Traquina, Nelson (2002). O que é jornalismo. Lisboa: Quimera.

Tilio, Rogério (2009). Reflexões acerca do conceito de cultura. Revista eletrônica do


Instituto de Humanidades, 7(28), 35-46.Disponível em:
http://publicacoes.unigranrio.com.br/index.php/reihm/article/view/213/502 (Consultado
em junho de 2016)

Tavares, Frederico (2012). A especialização jornalística como teoria e objeto: contornos


e limites. Comunicação Midiática, 7(1), 96-116. Disponível em:
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3934932.pdf (consultado em junho de 2016)

Tuchman, Gaye (1973). Making news by doing work: Routinizing the


unexpected.American journal of Sociology, 110-131. Disponível em:
http://www.jstor.org/stable/2776714 (consultado em junho de 2016)

Tuñon, Amparo (1993). L'especialització en periodisme: un canvi de paradigma.


Cadernos de comunicação e cultura. Disponível em:
http://www.raco.cat/index.php/analisi/article/viewFile/41188/89143 (consultado em
agosto de 2016)

Turow, Joseph (1983). Local Television: Producing soft news. Journal of


Communication (Spring), 111-123. Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1460-2466.1983.tb02393.x/pdf (consultado
em julho de 2016)

Vale, Gláucia (2007). Territórios vitoriosos: o papel das redes organizacionais. Editora
Garamond.

63
Vargas, Joana (2015). Jornalismo em Crise...Disponível em:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/28356/1/Jornalismo%20em%20Crise....pdf
(consultado em agosto de 2016)

64
Lista de figuras
 Figura 1: Logótipo do grupo Cofina Media …………………………………. 30
 Figura 2: Logótipo do jornal Correio da Manhã …………………….………. 31
 Figura 3: Site do CM…………………………………………….…………... 32
 Figura 4: Capa da Revista Sexta………………..……………………………. 33
 Figura 5: Capa da Revista Vidas ……………………………………….……. 33
 Figura 6: Capa da Revista Domingo ……………………………………….... 34
 Figura 7: Capa da Sport……………………………………………………… 34

Lista de gráficos
 Gráfico 1: Exemplares vendidos no 1º semestre de 2016 ………………….... 31
 Gráfico 2: Visitas ao site do CM…….……………………………………….. 32
 Gráfico 3: Audiências dos canais de informação em março de 2016 ……...... 35
 Gráfico 4: Temáticas das notícias publicadas no CM impresso de janeiro a abril
de 2016………………………………………………………………………... 44
 Gráfico 5: Temáticas das notícias publicadas pelo Correio da Manhã online de
janeiro a abril de 2016 ……………………………………………………….. 45
 Gráfico 6: Peças produzidas no online ………………………………………. 46
 Gráfico 7: Peças publicadas no CM impresso……………………………….. 46
 Gráfico 8: Distribuição das notícias culturais por género …………………… 48
 Gráfico 9: Fontes citadas nos artigos publicados na secção cultura do CM … 50
 Gráfico 9.1.: Fontes citadas nos artigos publicados no online………………...50
 Gráfico 10: Grau de personalização das peças online ……………………….. 53
 Gráfico 11: Grau de personalização das peças publicadas no CM impresso….53
 Gráfico 12: Distribuição das celebridades, famosos e figuras públicas noticiadas
no impresso……………………..……………………………………………... 54
 Gráfico 13: Distribuição das celebridades, famosos e figuras públicas no
online………………………………………………………………………….. 54

65
Anexos

66
Anexo 1: Primeiras notícias elaboradas para o meio online

Publicado a 4 de janeiro de 2016 em:


http://www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/jose_cid_este_sabado_na_amadora.html

Publicado a 4 de janeiro de 2016 em:

http://www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/odivelas_recebe_auto_da_barca_do_inferno.html

67
Anexo 2: Exemplos de breves feitas para a secção Cultura do CM
impresso

Publicado a 8 de fevereiro de 2016 Publicado a 7 de março de 2016

Publicado a 9 de janeiro de 2016

68
Anexo 3: Exemplos de breves feitas para a secção Televisão & Media do
CM impresso

Publicado a 21 de março de 2016

Publicado a 7 de março de 2016

Anexo 4: Exemplos de secundárias feitas para a secção Cultura do CM


impresso

Publicado a 8 de fevereiro de 2016

69
Publicado a 9 de janeiro de 2016

Publicado a 11 de fevereiro de 2016

Publicado a 22 de março de 2016

70
Anexo 5: Exemplos de secundárias feitas para a secção Televisão &
Media do CM impresso

Publicado a 8 de fevereiro de 2016

Publicado a 5 de fevereiro de 2016

71
Anexo 6: Exemplos de Aberturas feitas para a secção Cultura do CM
impresso

72
Publicado a 26 de março de 2016

73
Anexo 7: Exemplos de Aberturas feitas para a secção ‘Vidas’ do CM
impresso

Publicado a 22 de fevereiro de 2016

74
Publicado a 21 de fevereiro de 2016

75
Publicado a 15 de fevereiro de 2016

Anexo 8: Peça feita para a secção Portugal do CM impresso

Publicado a 23 de março de 2016

76
Anexo 9: Exemplos de publicações para a Revista ‘Sexta’ para a secção
de ficção/cinema

77
Publicado a 4 de março de 2016

78
Anexo 10: Exemplos de publicações para a Revista ‘Sexta’ para a secção
Mercado

Publicado a 4 de março de 2016

79
Anexo 11: Exemplos de publicações para a Revista ‘Sexta’ sobre Reality
Shows

Publicado a 1 de abril de 2016

80
Publicado a 11 de março de 2016

81
Publicado a 4 de março de 2016

82
Anexo 12: Exemplos de Peças para televisão

Físico de CR7 elogiado em produção ousada

Publicado a 21 de janeiro de 2016 em:


http://www.flashvidas.pt/a_ferver/detalhe/cr7_sem_photoshop_nos_abdominais.html

Atores sentem-se insatisfeitos com a TVI

Publicado a 10 de fevereiro de 2016 em:


http://www.flashvidas.pt/videos/detalhe/atores_sentem_se_insatisfeitos_com_a_tvi.html

83
Anexo 13: Exemplos de Fontes especializadas

Publicado a 15 de março de 2016

84
Publicado a 18 de março de 2016

85
Anexo 14: Registo de todas as atividades desempenhadas

86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
Anexo 15: Entrevistas
Hugo Real, editor da seção cultura do Correio da Manhã

O que é cultura para o ‘CM’?

A secção de cultura do CM engloba diversas áreas, desde a música, passando pelo


cinema, teatro e literatura. No CM, atividades como a Tauromaquia também são
acompanhadas pela secção de cultura.

Quais os critérios dominantes na seleção dos temas de cultura?

Os critérios dominantes são os mesmos na cultura que em qualquer outra secção. Ou


seja, regem-se pelos princípios de valor-notícia, como, por exemplo, a proximidade e os
temas que interessem a um conjunto mais vasto dos nossos leitores.

Apesar da diferenciação temática nas páginas, a secção de cultura e a de televisão e


Media pertencem à mesma editoria. Como gere os temas? As zonas de fronteira
entre elas são sempre claras?

As áreas são distintas o suficiente para no dia-a-dia não existirem dificuldades na gestão
dos temas que entram em cada secção. Ainda assim, quando existe conflitualidade a
solução é vista caso a casa. Por exemplo, a decisão de onde publicar um obituário de um
ator que fez carreira no cinema (o que por regra sairia na cultura) e na televisão (o que
entraria nos media) pode ser diferente de dia para dia, porque é necessário analisar os
temas e o espaço que cada secção tem nessa edição em particular.

Como é feita a distribuição do trabalho entre os jornalistas da secção?

Todos os jornalista da secção trabalham para a secção de cultura, de media e para a


revista Sexta. Contudo, todos eles têm áreas às quais dedicam a maior parte do seu
tempo. Essa divisão é feita pelo editor e tem por base as necessidades de cada área. Ou
seja, pode variar ao longo das semanas, consoante o número de pessoas que estão a
trabalhar (por exemplo, muda quando há elementos da equipa de férias, o que obriga a
uma redistribuição do trabalho).

98
Como avalia o impacto dos temas de cultura junto do público?

As secções de cultura e de media têm um posicionamento A/B dentro do CM e o


feedback que temos é de que são secções bem recebidas pelos nossos leitores. Além
disso, e devido ao número de leitores do CM, somos uma ferramenta importante para
divulgar as atividades culturais que existem por todo o País. Também por isso, as nossas
páginas são bastante apreciadas pelos leitores.

99
Ana Maria Ribeiro, jornalista da secção cultura do Correio da Manhã

Dentro da cultura, que temas o motivam mais? E menos?

Teatro, literatura, artes plásticas são as áreas que me motivam mais. Depois o cinema. A
música é o que me motiva menos. A televisão não me motiva nada.

Que particularidades e/ou oportunidades oferece a um jornalista trabalhar nesta


área especifica?
Estar sempre atualizado em questões culturais - é a grande mais-valia desta área. Ver
espetáculos, ler os últimos lançamentos editoriais, os últimos filmes. Falar com pessoas.
As entrevistas são particularmente gratificantes.

Ao trabalhar nesta área de especialização, quais as principais dificuldades com que


se depara? O que faz para ultrapassar essas dificuldades?
A grande dificuldade, no jornal, é o espaço. A falta de espaço. Uma página - ou duas -
para a cultura é manifestamente pouco. Para compensar, colocamos os nossos artigos
online.

Como auto-avalia a importância (ou a falta dela) dada às temáticas que trabalha
pelas hierarquias do jornal.
Acredito que, embora não sendo primordial, é uma área de que o jornal dificilmente
abdicaria.

100
Duarte Faria, jornalista da secção cultura do Correio da Manhã

Dentro da cultura, que temas o motivam mais? E menos?


Gostos particularmente de temas que tenham que ver com cinema e música. Pelo
contrário, os temas relacionados com política neste sector são menos do meu agrado,
embora os considere de extrema importância.

Que particularidades e/ou oportunidades oferece a um jornalista trabalhar nesta


área específica?
Trabalhar nesta área permite ter um acesso à cultura e aos agentes culturais acima da
média da população. Além disso, possibilita ter acesso a sessões de cinema, concertos
ou obras publicadas com maior frequência. Muitas vezes, os temas abordados em
cultura também permitem uma escrita mais criativa e crítica quando em comparação
com outras seções do jornal.

Ao trabalhar nesta área de especialização, quais as principais dificuldades com que


se depara? O que faz para ultrapassar essas dificuldades?
Apesar de não tão difícil como a seção de TV & Media, por vezes é difícil encontrar
temas de cultura que serviam uma grande parte dos nossos leitores e que tenham
proximidade. Isso acontece em momentos em que o ‘mercado’ se encontra com menos
atividade. Nesses momentos, é preciso fazer um trabalho de maior pesquisa de temas,
que fogem da agenda, ou recorrer a temas de abrangência internacional. Por último, nem
sempre temos o espaço que desejava-mos para dar as notícias relacionadas com esta
temática, o que obriga a gerir criteriosamente as opções editoriais.

Como auto-avalia a importância (ou a falta dela) dada às temáticas que trabalha
pelas hierarquias do jornal.
Penso que os temas de cultura são tratados com a devida importância no Correio da
Manhã. Sempre que um tema tem maior relevância e atraia mais público é, por
exemplo, alvo de chamada de capa.

101
Anexo 16: exemplos da fraca interatividade tecnológica

Lusa, 2016. Marta Ren edita “Stop – look – listen”.


http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/marta_ren_edita_stop__look__liste
n_um_bilhete_de_identidade_soul_funk (publicado em abril de 2016)

Lusa, 2016. Minta & The Brook Trout editam “Slow”.


http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/minta__the_brook_trout_editam_es
ta_semana_slow_a_apresentar_no_ccb (publicado em março de 2016)

Denise Zacarias, 2016. Blasted Mechanism fazem tributo a David Bowie.


http://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/blasted_mechanism_fazem_tributo_
a_david_bowie (publicado em abril de 2016)

102
103
104
105
106

Você também pode gostar