Jogos Africanos e Indígenas

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AGRADECIMENTOS 3

Sou do tempo, daqueles que acreditam que ninguém é capaz de chegar


a lugar algum, sem precisar de ninguém, portanto, para chegar até
aqui, precisei do apoio de muita gente, espero não esquecer de
ninguém, caso aconteça, me perdoe. Quero agradecer a minha Mãe D.
Luzia e o meu pai João de Deus(in), por serem os meus alicerces e terem
contribuído significativamente para minha formação como pessoa. A
minha esposa Ana Paula e aos meus filhos João Victor e Ana Júlia, pela
paciência e incentivo. Aos meus irmãos, Expedito Neto, Kaliane
Barbara, por sempre estarem comigo em todos os momentos, em
especial Luziane Fonseca, pela parceria constante, inclusive todos os
favores que me fez em Cachoeira-BA, primos/as e tios/as, pelo apoio
moral. A grande amiga que fiz no curso Andréa Moreira, amiga você é
parte dessa vitória. Aos colegas de turma pelas trocas de conhecimento.
Não poderia deixar de agradecer imensamente a minha grande
referência, a professora Rita Dias, ―mãezona‖ de sempre, para mim, um
exemplo de ser humano, com uma pureza indescritível. Aos professores
do programa e da Banca de defesa pelas contribuições em
especial Josiane Climaco, Vanda Machado, Maicelma Maia e Anália De
Jesus Moreira. E aos amigos/as de infância e do futebol que sempre
torceram por mim, aos colegas de trabalho da Secretaria Municipal de
Educação de Cruz das Almas pelo incentivo, ao parceiro e companheiro
Mário do Jornal pela confiança.
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DEDICATÓRIA

Foi seguindo seus passos, que eu pensei ser igual a vocês...


Vocês sempre foram pra mim, muito mais que inspiração,
Foram os meus parceiros pra tudo, nunca me deixaram na mão,
São os maiores orgulhos, não me canso de dizer,
Pai e mãe sou seu fã, amo e sempre amarei vocês!

Dedico esta obra aos pilares da minha vida, pois, sem


eles nada seria possível, muito obrigado pai, João de
Deus Fonseca (in), por tudo que me ensinou, a educação
que me proporcionou, tenho orgulho em tê-lo como
ídolo, e a minha principal referência de vida. Dedico
também a você mãe, Luzia de Brito Fonseca. Rainha,
Mulher negra, mãe, guerreira, batalhadora, um exemplo
de mãe de família. Você é o meu orgulho, também
minha principal referência, o que seria de mim sem a
senhora? Obrigado por tudo, te amo!
5
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................ 06
JOGOS UMA AÇÃO EDUCATIVA.................................................... 10

OS JOGOS, A CULTURA E OS MARCOS LEGAIS............................................................. 12


INTERDISCIPLINARIDADE COMO POSSIBILIDADE DE ENSINO................................ 17
OS JOGOS DE ORIGEM AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA............................................ 19

HORA DE APRENDER BRINCANDO............................................... 22


JOGOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS...................................................................... 24
JOGO DAS COMUNIDADES................................................................................................... 26
CORRE ONÇA............................................................................................................................. 27
CONCENTRAÇÃO AO NÚMERO.......................................................................................... 28
LATEIRO....................................................................................................................................... 30
BOCA DE FORNO..................................................................................................................... 31
MÃE DA RUA.............................................................................................................................. 32
COELHINHO SAI DA TOCA................................................................................................... 33
MEU QUERIDO BEBÊ............................................................................................................... 34
CACHORRO PEGA O OSSO................................................................................................... 35
LABIRINTO.................................................................................................................................. 37
PEGA-PEGA AMERICANO..................................................................................................... 38
BOLICHE ...................................................................................................................................... 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 40

REFERÊNCIAS............................................................................ 44
6

APRESENTAÇÃO

A TRAJETÓRIA DE VIDA E FORMAÇÃO


Negro, oriundo de uma família da classe trabalhadora brasileira,
filho de uma dona de casa e pai técnico administrativo da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), vivi os meus primeiros nove
(09) e inesquecíveis anos de vida, habitando numa casa cedida pela
universidade, numa comunidade com características de campo, na
Vila dos Funcionários, localizada na UFBA (Campus da Escola de
Agronomia), atual UFRB, no município de Cruz das Almas-BA. Esta
fase da minha vida foi marcada por muita diversão, eram horas de
prática de jogos e brincadeiras, nessa época aprendíamos as
brincadeiras com os mais velhos, e criávamos os nossos próprios
brinquedos, eu vivia sempre rodeado de amigos. Aos 10 anos de idade,
mudei com a família para o perímetro urbano que chamávamos de
―rua‖, meu pai dizia que tínhamos que mudar, ―porque se ele viesse a
falecer, tinha medo que a universidade (UFBA), colocasse a família
dele pra fora da casa‖.
Na zona urbana, no Bairro da Inocoop, passei a minha
adolescência, praticando os jogos e brincadeiras da infância, porém,
com menos frequência, foi quando conheci o esporte competitivo, o
futebol, e aos 19 anos de idade, tornei-me atleta profissional. Contudo,
esse ciclo foi de curta duração, resolvi encerrar a carreira, três (03) anos
mais tarde, decidi trilhar o caminho dos estudos. Apaixonado por
esporte, não tive dificuldade em escolher a área acadêmica, logo
prestei vestibular para o Curso de Educação Física, assim, passei a
caminhar pela área, no curso, tive a oportunidade de conhecer a
disciplina de Jogos e brincadeiras, e logo me encantei pela temática,
percebendo a diferença entre os jogos e as brincadeiras praticados na
infância e o esporte de alto rendimento do final da adolescência. Notei
7

a riqueza pedagógica dos jogos e das brincadeiras e decidi-me a


aprofundar meus conhecimentos e práticas, como brincante, como
praticante e como educador, experiência que tive como formador no
Programa Esporte & Cidadania (Ministério dos Esportes/ Instituto
Esporte e Educação/ UFRB/ GUETTO), e na minha formação, no
Programa de Mestrado Profissional em História da África, da Diáspora
e dos Povos Indígenas, do Centro de Artes, Humanidades e Letras da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), apresentando
como objeto de estudo ―Os jogos de origem africana e afro-brasileira‖.
Este livro apresenta a diversidade sociocultural do Recôncavo da
Bahia, e suas conexões com outras regiões brasileiras, nas quais há
presença maciça das populações negras e afrodescendentes. Portanto,
por entendera relevância da ludicidade, do corpo como signo das
aprendizagens, almejamos nesta obra, apresentar um material
didático que contribua com a práxis-pedagógica dos/as professores/as
do Ensino Fundamental dos Anos Iniciais.
Para alcançar este objetivo, propomos uma metodologia que se
aproxime das experiências de vidas dos/as estudantes. Desta forma,
apresentamos uma proposta multirreferencial, por possibilitar a
compreensão do fenômeno educativo a partir de uma pluralidade de
olhares e de linguagens, reconhecidos como necessários à compreensão
da complexidade inerente a esse processo. Definimos por utilizar as
Rodas de Saberes e Formação (RSF), por entender que elas propiciam
condições para que os participantes possam assumir-se como seres
históricos, culturais e pensantes, em horizontalidade.
Para Jesus e Nascimento (2016), as Rodas de Saberes e Formação
(RSF).
[...] nos levam a compreender as rodas como uma
construção em curso, situada historicamente,
contextualizada, um patrimônio cultural dos povos, e
buscamos integrá-las à educação, tomando-as como
inspiração para elaboração de um dispositivo
pedagógico-curricular de formação em contextos
culturais. (JESUS & NASCIMENTO 2016, p. 113).
8

As (RSF) nos remetem à imagem circular, ―como nas rodas de


samba, de capoeira, de candomblé‖ e de conversas, ―em que todos
podem ensinar e contribuir com as experiências científicas, sociais,
culturais em um contexto específico de formação dos sujeitos‖. (JESUS
& NASCIMENTO, 2016, p. 113). Neste sentido, durante a realização dos
jogos, as (RSF) devem ocorrer antes, e após a execução dos jogos, com
intuito de revisar e reviver as vivências das ocorrências anteriores, e
apresentar a proposta a ser realizada no dia, além de realizar a
avaliação no final da ocorrência. Esta sistemática se adéqua bem à
sala de aula, e suas práticas de planejamento, e avaliação continuada.
Durante as (RSF) poderão ser utilizados instrumentos didáticos, como,
textos, exibições de vídeos, mostras de mapas, confecções de jogos e
brinquedos, diálogos circulares e outros.
A partir da experiência de atuação como formador de docentes
para a prática da ludicidade e do desporto, por meio do esporte
educacional, durante seis (06) anos, atuando em vinte e dois (22)
municípios baianos, em um projeto focado na promoção do
desenvolvimento integral de crianças e jovens das comunidades da
Bahia, observamos em escolas públicas, as aulas de professores/as de
Educação Física e de Pedagogos/as, e a utilização dos jogos e das
brincadeiras, como momentos de relaxamento, descanso e desgaste de
energia excedente das crianças. Entendemos por isso, a necessidade de
refletir sobre a relação entre o jogar e o aprender, nos ambientes
escolares, como proposta pedagógica, uma vez que o jogo e a
brincadeira são recursos importantes da formação de crianças, desde que
intencionalmente integrados no processo educativo. Este livro visa
contribuir para prática dos jogos no processo educacional, e demostrando
o seu valor educativo, sua relevância para o desenvolvimento integral, e
para o reconhecimento de aspectos culturais relativos à sua prática e
origens.
9

Foto dos/as estudantes da Escola Joaquim de Medeiros, praticando o jogo Corre onça, 2018.
10
11

OS JOGOS COMO AÇÃO


CULTURAL E EDUCATIVA
12

OS JOGOS, A CULTURA E OS SEUS MARCOS LEGAIS


Este livro oferece suporte teórico para professoras/as, para
viabilizar a utilização dos jogos de origem africana e afro-brasileira
como recurso pedagógico para o ensino nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental (1º ao 5º Ano).
Enfocamos assim, a cultura e a diversidade cultural, através dos
jogos vinculados às matrizes da cultura africana e afro-brasileira,
reconhecendo suas implicações para o ensino, e para a aprendizagem,
em contextos socioculturais e etnicorraciais plurais como o brasileiro. O
conceito de cultura no singular pode ser considerado impróprio tendo
em vista as culturas humanas em sua mais ampla variedade. Neste
sentido, o antropólogo Roque Laraia (2001, p.31), afirma que:
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento
socialmente transmitidos) que servem para adaptar as
comunidades humanas aos seus embasamentos
biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui
tecnologias e modos de organização econômica, padrões
de estabelecimento, de agrupamento social e
organização política, crenças, práticas religiosas, e assim
por diante.

Para o professor Kabengele Munanga (2015), a cultura deve ser


entendida, não no seu sentido estreito que faz dela um sinônimo de
apreciação das letras e belas artes, mas em seu sentido antropológico
como conjunto dos conhecimentos, ideias, objetos que constituem a
herança comum de uma sociedade. Herança porque cada membro do
grupo recebe através do processo educativo esse conjunto que foi
constituído pelas gerações anteriores, fazendo-o seu. Herança comum
porque todos os membros da sociedade participam dela. (MUNANGA,
2015, p. 10).
Abordando a cultura e a educação física, o professor Jocimar
Daolio (2004, p.9), afirma que o termo "cultura" parece
definitivamente fazer parte do campo da educação física. Depois do
predomínio das ciências biológicas nas explicações do corpo, da
13

atividade física e do esporte, hoje parece estar dividida com os


conhecimentos provindos de outras áreas, tais como a antropologia
social, a sociologia, a história, a ciência política e outras. Muitos
estudiosos da educação física, tentam compreender as manifestações
corporais humanas considerando a perspectiva cultural. Para Daolio
(2004, p.9),
A "cultura" é o principal conceito para a educação física,
porque todas as manifestações corporais humanas são
geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da
evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e
com significados próprios no contexto de grupos culturais
específicos.

Propondo os jogos como ação cultural e educativa, Kishimoto


(1993, p.15) afirma que os jogos têm diversas origens e culturas que são
transmitidas pelos diferentes jogos e formas de jogar, tendo a função
de construir e desenvolver uma convivência entre as crianças
estabelecendo regras, critérios e sentidos, possibilitando assim, um
convívio mais social e democrático, porque enquanto manifestação
espontânea da cultura popular, os jogos têm a função de perpetuar a
cultura infantil e desenvolver formas de convivência social.
A professora Kishimoto (1994, p. 118), diz que ao trabalhar com
jogos e brincadeiras são apontadas distintas possibilidades e
finalidades: ―1. recreativa; 2. ensino de conteúdos escolares; 3.
diagnóstica, a fim de se ajustar o ensino às necessidades infantis‖. No
entanto, para que o jogo alcance ao máximo o seu potencial no
desenvolvimento infantil, é necessário que o/a professor/a planeje
intencionalmente como forma de atender às necessidades
apresentadas pelas crianças.
Para entender o jogo como estratégia metodológica não
significa reduzi-lo a um mero instrumento didático, pois o jogo e a
brincadeira antes de tudo são atividades socioculturais seculares, e
praticadas por toda parte do mundo. Os jogos contribuem para
promover o desenvolvimento de estruturas cognitivas, psicomotoras,
14

afetivas e morais, criando possibilidades de construção de atitudes


necessárias ao exercício da autonomia e da cidadania. O filósofo
Platão (1951), defendia que ―o jogo como um meio de aprendizagem é
mais prazeroso e significativo, de maneira que, inclusive, os conteúdos
das disciplinas poderiam ser assimilados por meio de atividades
lúdicas1‖. No mesmo sentido Lima (2008, p.14), afirma que a utilização
do jogo e da brincadeira como meio de ensino-aprendizagem de
conteúdos das diversas áreas do conhecimento, é um importante
recurso para o desenvolvimento das potencialidades inatas da criança.
Lima (2008) nos mostra que ao longo do tempo, foram criados
obstáculos com relação ao jogo e a brincadeira no processo educativo.
Contudo, defendemos que os jogos podem ser utilizados de forma
complementar, colaborando na superação da falsa dicotomia entre o
jogar e o aprender que se instalou nos ambientes escolares.
A proposta de utilizar de forma complementar o jogo e
as tarefas escolares exige do professor, por meio do
processo de formação e de estudo, uma mudança de
concepção, que o leve a aceitar a criança como um ser
interativo, imaginativo, ativo e lúdico e descubra o
potencial de desenvolvimento que está por trás das
brincadeiras e dos jogos. (LIMA, 2008, p.28).

Assim, seguimos o pressuposto que a aprendizagem por meio do


jogo que acontece em um contexto sociocultural, desta forma, busca-
se referência na teoria vygotskyana do desenvolvimento humano para
apreender o sentido que ali é empreendido este conceito.
Para Vygotsky (2010, p. 119), muitos tipos de atividades no
período do desenvolvimento infantil, possuem seus motivos (aquilo que
estimula a atividade) em si mesmos, por assim dizer. Quando, por
exemplo, uma criança constrói com blocos, é claro que ela não age
assim porque essa atividade leva a um certo resultado que satisfaz a
alguma de suas necessidades; o que a motiva a agir nesse caso
aparentemente é o conteúdo do processo real da atividade dada. No

1
PLATÃO. Leslois - Cap. I e VII. Tome XI e XII, CollectiondesUniversités de France, Paris -
LesBellesLetres, 1951.
15

mesmo sentido, definir o jogo e a brincadeira, como atividade


prazerosa para criança, para Vygotsky (1991, p.61-62), é incorreto por
duas razões: muitas atividades dão à criança experiências de prazer
muito mais intensas do que o brinquedo, como por exemplo, chupar
chupeta, mesmo que a criança não se sacie. E, segundo, existem jogos e
brincadeiras nos quais a própria atividade não é agradável. Seguindo
o pensamento do referido autor, podemos observar uma partida de
futebol entre crianças, em que esta atividade se encerra com o placar
de 10x0. Essa atividade será prazerosa para quem perdeu? Ou
podemos pensar numa turma escolar em que o/a professor/a propõe
uma atividade de pular cordas, essa atividade será prazerosa para
uma criança que tenha dificuldade motora ou que esteja com grau
obesidade elevado e ou por algum motivo não goste praticar essa
atividade específica, mesmo assim, ser ―obrigada‖ a praticar? Neste
caso, a/o professor/a precisará criar estratégias, para evitar que
situações como estas venham ocorrer.
Para falar dos estudos etnicosrraciais e os Marcos Legais,
podemos pensar na igualdade de direitos, pois, sabemos que a
educação básica ainda é profundamente marcada pela desigualdade
no quesito da qualidade e é possível constatar que o direito de
aprender ainda não está garantido para todas as nossas crianças,
adolescentes, jovens e mesmo para os adultos que retornaram aos
bancos escolares. Uma das mais importantes marcas dessa
desigualdade está expressa no aspecto racial. Estudos realizados no
campo das relações raciais e educação explicitam em suas séries
históricas que a população afrodescendente está entre aquelas que
mais enfrentam cotidianamente as diferentes facetas do preconceito,
do racismo e da discriminação que marcam, nem sempre
silenciosamente, a sociedade brasileira (BRASIL, 2004, p.13).
No ordenamento jurídico brasileiro, a principal legislação que
regulamenta o sistema educacional é a Lei 9.394, de 20 de dezembro
16

de 1996, chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica –


LDB.2 Nela, estão previstos que os currículos da educação infantil, do
ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
e dos educandos. Ela apresenta no Artigo 26, mais precisamente no
inciso 4º que ―o ensino da História do Brasil levará em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
brasileiro, especialmente das matrizes africana, indígenas e europeias‖.
Portanto, um dos desafios da escola é propor e investir na superação
da discriminação e preconceito, pois o nosso país é representado por
diferentes grupos étnicos. Assim, se faz necessário conhecer, reconhecer,
respeitar, valorizar e, principalmente, vivenciar as diferentes
manifestações socioculturais, inclusive, as africanas, afro-brasileiras e
indígenas.
Fruto das lutas e de reivindicações do Movimento Social Negro,
em 09 de janeiro de 2003, foi promulgada a Lei nº 10.639, que
segundo Moreira (2008, p.26),
Surgiu do Projeto de Lei nº 259 de 1999, de autoria dos
deputados Esther Grossi (PT-RS) e Benhur Ferreira (PT-
MS), substitutivo do Projeto de lei do deputado
Humberto Costa. A lei alterou a LDBEN nº 9394/96, os
Parâmetros Curriculares Nacionais e tornou obrigatório
o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira
nas escolas de ensino fundamental e médio de todo o
país.

Esta Lei teve por propósito acrescentar nos currículos oficiais das
redes de ensino a temática História e Cultura Afro-Brasileira. Contudo,
ao considerar que o Brasil é um país marcado pela diversidade social e
que, portanto, vários povos fazem parte da nossa identidade nacional,

2
Brasil. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
– 13. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016. – (Série legislação; n. 263
PDF).
17

sobretudo, os índios que antes mesmo da chegada dos colonizadores, já


habitavam o território brasileiro, reconheceu-se a necessidade do
respeito e do reconhecimento à cultura indígena, por essa razão, foi
promulgada a Lei 11.645/08, que complementou a lei 10.639/03
alterando a redação do artigo 26 – A, acrescentando, ao lado do
grupo étnico dos negros, o estudo sobre os índios. Assim, a lei passou a
vigorar com a seguinte redação:
Art. 26 - A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira
e indígena.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a
partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da
história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de educação artística e de literatura e
história brasileira (BRASIL, 2008).

INTERDISCIPLINARIDADE COMO POSSIBILIDADE


DE ENSINO
Historicamente, a escola sempre foi apegada às tradições de
uma instituição fria, triste, sem cor, sem luz e distante da afetividade.
Na obra Dicionário em Construção: interdisciplinaridade 3 , Ramos
(2002) diz que quebrar esse modelo tradicional, significa, mudar,
romper as amarras, quebrar couraças e agir de forma mais livre, numa
racionalidade aberta, sem apegar-se a velhos mitos ou teorias

3
Dicionário em construção: interdisciplinaridade / Ivani C. A. Fazenda (org.) - 2. ed. - São
Paulo : Cortez, 2002
18

superadas. Assumir a mudança numa perspectiva interdisciplinar é


exercitar a metáfora do olhar que busca a pluralidade, sem
desconsiderar a singularidade. É valorizar os mínimos sinais, como
indicativos de grandes significados. Assumir a mudança implica
(re)tornar, (re)ver, (re)encontrar e (re)fazer o feito. Ao (re)descobrir,
(re)entender e (re)significar a sua realidade interior, o ser humano dá
o primeiro passo para encontrar o caminho da mudança: o
desenvolvimento da plenitude do ser inteiro, que busca o
aperfeiçoamento e a auto-realização. (RAMOS, 2002, p.72). Para
essas mudanças acontecerem, precisa-se que professores/as e
estudantes encarem o desafio das novas aprendizagens, neste tempo
de complexidade e inteligência interdisciplinar, é preciso integrar o que
foi dicotomizado, religar o que foi desconectado, problematizar o que
foi dogmatizado e questionar o que foi imposto como verdade
absoluta, descolonizando os conhecimentos e as mentes. Esses são
possivelmente os maiores desafios da escola nesse movimento.
Para Silva (2008, p.7), a escola, como lugar legítimo de
aprendizagem, produção e reconstrução de conhecimento, precisará
acompanhar o ritmo das mudanças que se operam em todos os
segmentos que compõem a sociedade. O mundo está cada vez mais
interconectado, interdisciplinarizado e complexo. Desta forma,
entendemos que além das instituições educacionais, os/as professores/as
também deverão passar por este processo de transformação. Fazenda
(1979), reforça que a introdução da interdisciplinaridade implica
simultaneamente uma transformação profunda da pedagogia, um
novo tipo de formação de professores e um novo jeito de ensinar:
Passa-se de uma relação pedagógica baseada na
transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que
se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a
uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de
um é a posição de todos. Nesses termos, o professor passa
a ser o atuante, o crítico, o animador por excelência.
(FAZENDA, 1979, p. 48-49).
19

Para Silva (2008, p.8), um processo educativo desenvolvido na


perspectiva interdisciplinar, possibilita o aprofundamento da
compreensão da relação entre teoria e prática, contribui para uma
formação mais crítica, criativa e responsável e coloca escola e
educadores/as diante de novos desafios tanto no plano ontológico
quanto no plano epistemológico.

JOGOS DE ORIGEM AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA


Os jogos africanos e afro-brasileiros, na sua relação como
práticas socioculturais e educativas representam o ponto de partida
deste livro. Assim, abordando a história e cultura dos povos africanos,
BRASIL (2014, p.12), há muito a se aprender sobre o continente
africano, e os processos de (re)criação de suas culturas, presentes em
todos os lugares do mundo para os quais as diferentes etnias africanas
foram dispersas, seja por processos comerciais, seja pela imigração
espontânea, seja pelo movimento violento do tráfico negreiro. No
Brasil, são incontáveis os estudos que afirmam essa presença de
elementos culturais africanos, recriados em nosso contexto histórico e
sociocultural. É também notório, como tal movimento permeia a vida,
o modo de ser, os conhecimentos, as tecnologias, os costumes, a
musicalidade e a corporeidade dos outros grupos etnicorraciais que
conformam a nossa população. Buscando fortalecer a cultura africana
e afro-brasileira dentro dos ambientes educacionais, um dos principais
espaços para refletir, ensinar e aprender sobre a diversidade
etnicorracial e as relações raciais que travamos cotidianamente. Por
meio da música, da dança, da culinária, dos costumes, sobretudo dos
jogos e das brincadeiras, e tantos outros aspectos, vivenciamos como
brasileiros/as, a nossa herança e ancestralidade africana.
Abordando os jogos como uma proposta sociocultural,
Maranhão (2009, p. 49), afirma que os jogos para os africanos sempre
estiveram ligados à vida social, da mesma forma que a religião, as
20

artes e outras manifestações culturais da humanidade, o indivíduo


vive dentro de comunidades onde ensina/aprende dentro de uma
unicidade.
Para Verônica Volski (2015, p. 39), os jogos africanos e afro-
brasileiros, da mesma forma que a religião e outros saberes, sempre
estiveram presentes na vida social dos povos desta cultura, transmitido
e praticado pelos indivíduos em suas comunidades. Seus folguedos e
seus jogos, muito mais do que ―meros objetos lúdicos‖, representavam
sua prática social, as complexas relações potencializadas pelo lúdico
em espaços de fronteiras étnicas e culturais. Desta forma, entendemos
que ao jogar ou brincar as crianças entrem em contato não apenas
com o jogo propriamente dito, mas com aspectos socioculturais que as
cercam.
Com relação ao ensino dos jogos como possibilidades
pedagógicas. Maranhão e Gonçalves Junior (2009), afirmam que ―os
jogos na cultura africana como também em outras culturas, possuem
algumas particularidades em relação a gênero, idade e número de
participantes e outros‖. (MARANHÃO & GONÇALVES JUNIOR, 2009,
p.8),
Alesandro Pereira, Luiz Gonçalves Jr e Petronilha Silva (2009,
p.1) ressaltam que, ao brincar e jogar na rua ou na escola, podemos
sentir em situações de acolhimento étnico-cultural: valorização,
receptividade, conforto e alegria. Como também, em situações de
tolhimento étnico-cultural: desvalorização, constrangimento,
desconforto e tristeza. De um modo ou de outro são momentos de
aprendizagem que, no entanto, oscilam entre prazer e dor, devendo as
primeiras serem encorajadas e as segundas banidas de nossa
sociedade. Desta maneira, pensar a contribuição da ludicidade para a
educação, é enfrentar o desafio de pesquisar e selecionar jogos
africanos e afro-brasileiros que permitam contribuir no processo
educativo, valorizando esta prática sociocultural e acima de tudo,
21

saber mediar às diferenças dos/as estudantes, minimizando as questões


de preconceito no ambiente escolar.
Nesta obra, os jogos quando necessário foram adaptados, pois, a
ideia é utilizar os jogos de forma interdisciplinar, na tentativa de
aproximar ao máximo, os conteúdos escolares das experiências de vida
dos/as estudantes.
Para o ensino dos jogos no contexto educacional, vale lembrar,
que existe uma extensa produção científica sobre essa temática no
ambiente escolar. Contudo, o que observamos, são práticas limitadas
às quadras, aos pátios, e demais áreas de recreação, e quase sempre
sem fins pedagógicos, sendo trabalhadas de forma isolada e
descontextualizada. Portanto, este livro propõe investigar a relevância
das práticas de jogos no processo educacional. A nossa intenção é
superar a ideia da ―prática pela prática‖, ou jogo pelo simples prazer
de jogar, a nossa pretensão é de contextualização do jogo, podendo
ensinar conteúdos escolares de forma interdisciplinar, bem como, a
valorização da cultura dos jogos e brincadeiras populares. Assim,
acreditamos que seja possível a conciliação entre o jogar e o aprender
no contexto educacional, desde que sejam respeitadas as
características do jogo como atividade espontânea.

SUMÁRIO

Foto: Estudantes da Escola Joaquim de Medeiros, 2018.


22

Capítulo 2
HORA DE APRENDER BRINCANDO
23

HORA DE APRENDER
BRINCANDO
24

JOGOS AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS


A maioria dos jogos africanos e afro-brasileiros são praticados em
grupos e exigem a capacidade de cooperação para que se tornem
divertidos. (CUNHA, 2016, p. 23). Os jogos apresentados neste livro,
mesmo quando envolve a competição permitem a participação de
muitas crianças jogando ao mesmo tempo, meninos e meninas
jogando juntos, competindo ou não em equipe ou individualmente.
Aliás, essa característica facilita a inclusão desses jogos no ambiente
escolar, pois estes permitem a participação de todos.
Os jogos apresentados neste livro foram identificados através de
entrevistas realizadas com indivíduos de comunidades negras do
município de Cruz das Almas-BA, cujo objetivo foi levantar os jogos e
brincadeiras praticados nas comunidades ao longo da história, e
aplicá-los na escola com finalidades pedagógicas. Pois, entendemos os
jogos e as brincadeiras como construções culturais, sendo mantidos e
difundidos culturalmente, assim, os jogos tradicionais fazem parte da
cultura popular e têm como características o fato de serem partes da
tradição de um povo; anônimas quanto à sua criação; coletivizadas
pelo grupo do qual é parte, e transmitidas de geração em geração.
Complementamos o levantamento dos jogos, através de pesquisas
bibliográficas por meio de dissertações, livros e teses, sobre os jogos de
origem africana e afro-brasileira. Para aplicação desses jogos,
realizamos intervenções pedagógicas em uma escola pública do
município de Cruz das Almas-BA4. Os jogos apresentados consistiram
na compreensão dos possíveis processos educativos presentes na prática
dos jogos africanos e afro-brasileiros no contexto educacional. Assim,
foram construídos a partir de uma abordagem multirreferencial,
estabelecida pelos/as participantes envolvidos/as nas vivências.

4
Foram realizadas intervenções, num período de três (03) meses, referentes há um
trimestre letivo, às atividades aconteceram numa turma de 4º ano do Ensino
Fundamental, com a frequência de uma (01) vez por semana.
25

Para aplicação dos jogos, sugere-se que o/a professor/a inicie as


atividades por meio da Roda de Saberes e Formação (RSF), momento
uitlizado para apresentar a proposta da aula, bem como, esclarecer
possíveis dúvidas. Ao final da aula, sugere-se que todos os jogos sejam
finalizados por meio da Roda de Saberes e Formação (RSF), momento
em que o/a professor/a discutirá o/s conteúdo/s apresentado/s, bem
como a realização da avaliação da aula.

Foto: Estudantes da Escola Joaquim de Medeiros, 2018.

Dica: Indicamos ao professor/a que utilize este livro como recurso


pedagógico para auxiliar a sua prática. Contudo, os jogos deverão ser
adaptados para: Realidade de cada turma; de acordo o objetivo do/a
professor/a; interesse dos/as participantes, adaptações que desejem
realizar, sempre em uma perspectiva multirreferencial.
Importante: Sugerimos que todos os jogos, sejam vivenciados
por meninos e meninas, em grupos mistos. Portanto, todos/as deverão
participar juntos das atividades e simultaneamente.
26

TERRA E MAR: (Origem- Moçambique)

Descrição (versão original) - Uma longa reta é riscada no chão, um


lado é a ―Terra‖ e o outro ―Mar‖, no início podem ficar no lado da
terra, ao comando do/a
professor/a ―mar‖, todos/as
devem pular para o lado do
mar. Contudo, pensando em
aproximar o jogo das
experiências de vida das
crianças, fizemos uma
adaptação no jogo, deixando-
o da seguinte forma:
Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros
JOGO DAS COMUNIDADES praticando o jogo das comunidades, 2018.

Descrição (versão adaptada)– Riscar ou marcar uma longa reta no


chão, um lado é a ―cidade‖ e o outro lado ―campo‖, no início todas as
crianças podem ficar no lado da cidade. Ao ouvirem do professor/a: a
palavra ―campo‖! Todos pulam para o lado do campo. Aquele/a
participante que errar três vezes, sairá do jogo e passará a auxiliar
com o/a professor/a para identificar o/a estudante que errar. Fazemos
a seguinte observação, para que não tenhamos muito tempo de
espera, podemos dividir a turma em dois (02) ou três (03) grupos.
Ampliação do jogo - Para ampliar a atividade, pode-se acrescentar
o terceiro elemento, ―Quilombo‖, ao ouvirem: ―Quilombo‖, todos
pulam sem sair do lugar.
Número de participantes: Quinze (15), caso a turma seja maior,
sugere-se fazer dois (02) ou três (03) campos de jogo.
PROPOSTAS PEDAGÓGICAS:
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos das disciplinas de geografia (formação das cidades) e
história (historicidade do município), o/a professor/a poderá discutir
27

com os/as estudantes, a historicidade de um município, apresentando a


sua formação, enfatizando a contribuição do campo, da cidade e dos
quilombos (se houver) na sua emancipação política; Ciências (meio
ambiente e agricultura) poderão discutir as questões do meio
ambiente, enfatizando principalmente o campo.
Outras possibilidades: Trabalhar as características das comunidades
quilombolas, identificando recursos naturais presentes na comunidade
e suas modificações ao longo dos anos; montar painel com imagens de
animais terrestres e aquáticas da região; identificar os aspectos
diferenciados entre o campo e a cidade, propor produção textual,
mapa geográfico do município; reconhecer e identificar, nas paisagens,
contribuições culturais de grupos de diferentes origens e outros.

CORRE ONÇA: (Origem – Brasil)


Descrição: Delimita-se um espaço para acontecer o jogo, neste serão
demarcadas duas linhas,
com aproximadamente 3
ou 4 metros entre elas no
centro do espaço
demarcado. Em uma das
linhas ficarão as/os
participantes ―fugitivos/as‖,
na outra linha ficará um/a
Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros praticando o
participante pegador/a jogo Corre onça, 2018.
(onça). Ao comando do/a professor/a (corre onça), a onça tentará
pegar as crianças antes que cheguem ao final do local demarcado. As
crianças que forem pegas, se tornarão onças. O jogo será encerrado
quando a onça conseguir pegar todos os/as participantes ―fugitivos‖.
Número de participantes: Quarenta (40)
28

Ampliação do jogo: Para ampliar o jogo, nomeiam-se dois (02)


animais pegadores, a turma deverá ser dividida com igualdade de
participantes. De um lado a equipe das ―onças‖ e do outro a equipe
dos ―jacarés‖, (Onça X Jacaré). Quando o/a professor/a falar, ―corre
jacaré‖, o mesmo tem que correr atrás das onças e vice-versa. Vence a
equipe que no final da atividade, tiver o maior número de
participantes.
PROPOSTAS PEDAGÓGICAS:
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de Ciências (animais silvestres, fauna de
diversos países, fauna marinha etc.); Permite-se falar sobre a cadeia
alimentar no reino animal.
Outras possibilidades: Realizar pesquisa sobre animais selvagens;
aula expositiva sobre antecessor e sucessor, classificação dos animais.

CONCENTRAÇÃO AO NÚMERO: (Origem – Egito)

Descrição: O/a professor/a deverá colocar as crianças sentadas


formando um círculo, todas receberão um número. Escolhe-se um
número aleatório para começar, por exemplo, o número quatro (04).
As crianças batem nas pernas de forma ritmada. A criança escolhida
para iniciar deverá estar sentada e no ritmo das batidas, dizer seu
número e outro número aleatório, até o limite de números dados a os
participantes. Ela disse, por exemplo: ―04 e 03‖. Em seguida, a criança
que recebeu o número três (03) continua: ―03, 07‖, sempre falando o
seu número primeiro, e depois outro aleatório de alguma criança que se
encontra na roda, e assim a brincadeira continua.
Ampliação da brincadeira: Para a brincadeira ficar mais
desafiadora, o/a professor/a poderá aumentar o grau de dificuldade.
Ficando no seguinte formato, o/a participante deverá dizer nessa
ordem: o seu número, o número do participante anterior que o
29

chamou e o número de um novo participante. Uma criança disse, por


exemplo: ―01, 03‖, em seguida, a criança que recebeu o número três
continua: ―03, 01, 07‖, sempre falando o seu número primeiro, o
número de quem o chamou e o número de um/a novo/a participante.
Os três últimos participantes restantes vencerão a brincadeira.

Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros praticando o


jogo Concentração ao número, 2018.

Número de participantes: Indeterminado


Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos das disciplinas de matemática (ordenação dos números,
sistema de numeração não posicional etc.), e história (história da
matemática no antigo Egito).
Outras Possibilidades: Discutir com os/as estudantes sobre a
composição e ordenação dos números, sistema de numeração não
posicional; a história da matemática no antigo Egito; pesquisar história
dos números naturais e romanos no contexto social; realizar Roda de
Saberes e Formação, referente ás quatro operações básicas
matemáticas; compor e decompor números utilizando operações de
adição e subtração; realizar cálculos que envolvam operações do
campo da adição, subtração e multiplicação.
30

LATEIRO: (Origem – Brasil)

Descrição: Consiste em um esconde-esconde, tendo como elemento


principal, uma ―lata‖ que no
ambiente escolar, deverá ser
substituída por uma garrafa PET.
O/a professor/a escolhe um/a
estudante para ser o/a pegador/a,
este tentará encontrar os demais
participantes que estarão
escondidos, e ao mesmo tempo
proteger a ―garrafa pet‖ para que
as/os participantes não se ―salvem‖
(chutar a lata/garrafa sem ser Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros
praticando o jogo Lateiro, 2018.
pego). Assim que o/a pegador/a encontrar algum participante, deverá
falar ―1, 2, 3 batendo com garrafa PET no chão, e falar o nome da/o
participante encontrado/a‖. Quando todos forem encontrados, o/a
primeiro/a participante que foi encontrado/a, será o/a novo/a
pegador/a.
Ampliação do jogo: A depender do tamanho da turma, o/a
professor/a poderá colocar mais de um/a pegador/a ou também mais
de uma lata/garrafa para dinamizar a atividade. O/a professor/a
também poderá determinar que o/a participante que for encontrado,
ajudará o/a pegador/a na missão de encontrar os demais.
Número de participantes Indeterminado.
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de Língua Portuguesa (narrativa).
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá discutir o conteúdo
(narrativa), fazendo uma narrativa dos jogos e brincadeiras populares.
Bem como, fazer uma explanação sobre o conceito de narrativa. Além
disso, após o jogo, o/a professor/a poderá trabalhar com Filme: realizar
31

cineminha na escola com filme que reportam a tipologia textual


narração, logo em seguida organize uma Roda Saberes e Formação e
explore oralmente o filme; proponha aos estudantes uma produção de
textual.

BOCA DE FORNO: (Origem – Brasil)


Descrição: Consiste num jogo de comando (perguntas e respostas) EX:
O professor, diz: - Boca de forno! (Estudante) - Forno! (Professor) - Faz
o que eu mando? (Estudante) - Faço! (Professor) - E se não fizer?
(Estudante) - Ganha um bolo!
Número de participantes: Indeterminado.
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos de todas as
disciplinas. EX: Disciplina de
História, conteúdo, Datas
Comemorativas.
Outras Possibilidades:
Por se tratar de um jogo de
perguntas e respostas,
caberá ao professor delimitar
aos estudantes qual será a Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros
praticando o jogo Boca de forno, 2018.
temática ou conteúdo a ser
discutido no jogo, ficando atribuído ao professor/a fazer a mediação
do jogo. EX: Ao discutir as Datas Comemorativas, o/a professora/a
poderá abordar os contextos históricos, os conceitos e a
representatividade de cada data comemorativa para um país, estado
ou município.
32

MÃE DA RUA: (Origem – Brasil)

Descrição: Consiste num pega-


pega, escolhe-se um/a
participante para ser a mãe/pai
da rua, o restante dos/as
participantes serão divididos em
duas equipes. Com um giz, o/a
professor/a desenhará duas linhas
paralelas com uma distância
Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros
aproximadamente de três metros praticando o jogo Mãe da rua, 2018.
entre elas. O lado de dentro das riscas será a rua, e os lados de fora, as
calçadas. O objetivo é atravessar para o outro lado, sem ser apanhado
pela mãe/pai da rua, aquele/a que for apanhado, se tornará
pegador/a. Vencerá o jogo o/a último/a participante a ser pego, o
ponto será efetuado para sua equipe.
Ampliação do jogo: O/a professor/a poderá nomear as calçadas em
(países, estados ou municípios) e a rua poderá ser a (fronteira). EX: As
calçadas seriam São Félix-BA e Cachoeira-BA e o Rio Paraguaçu seria
a fronteira.
Número de participantes: Trinta (30).
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos das disciplinas de geografia (fronteiras), História
(história local).
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá apresentar o mapa
da Bahia e mostrar aos estudantes/os onde estão situados os
respectivos municípios, e discutir com os/as estudantes, conteúdos como
―as fronteiras, bem como, a historicidade, contando a história do país,
estado ou município, estudado na aula, neste caso, a história dos
municípios de São Félix e Cachoeira‖. O/a professor/a poderá solicitar
que os/as estudantes realizarem pesquisas sobre o município ou bairro
33

em que reside, atentando-se para os seguintes aspectos: Entrevistar


moradores mais antigos, artistas populares, visitar a espaços históricos,
etc.

COELHINHO SAI DA TOCA: (Origem – Brasil)

Descrição: Consiste num


pega-pega, todas/os serão
coelhinhas/os, estes ficarão
em tocas, o/a professor/a
poderá fazer as tocas com:
garrafas PETs, cone etc. De
acordo com o número de
participantes, o/a professor/a
deverá colocar uma toca a
menos. Por exemplo; 20 Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros,
praticando o jogo Coelhinho sai da toca, 2018.
participantes, 19 tocas. Ao comando do/a professor/a ―coelhinho sai da
toca‖, todos/as deverão mudar de toca, e o/a participante que está
sem toca, deverá procurar uma toca. Desta forma, sempre teria um/a
coelhinho/a sem toca.
Ampliação do jogo: Acrescenta-se uma regra primordial,
nenhuma/um coelha/o poderá ficar sem toca. Ao comando do/a
professor/a (Coelhinho sai toca), todas/os as/os participantes mudar de
toca. Neste momento o/a professor/a retira as tocas de uma a uma,
obrigando as/os coelhinhas/os dividirem as tocas, o jogo se encerra
quando todas/os as/os coelhinhas/os, dividirem apenas uma toca.
Número de participantes: Indeterminado
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos de todas as disciplinas, para isso, o/a professor/a deverá
adaptar o jogo, colocando nome nas tocas. EX: Para ensinar o
conteúdo ―Os estados brasileiros‖ da disciplina de geografia, o/a
34

professor/a poderá nomear as tocas com nome dos estados brasileiros,


e ao invés de falar ―coelhinho sai da toca‖, o/ professor falará o nome
dos estados, ―Rio de Janeiro, Bahia e Paraíba‖, as/os participantes
deverão dividir-se apenas neste três estados e assim sucessivamente.
Poderão ser abordados também: aspectos culturais, geográficos,
personalidades dos estados etc. Neste formato, o jogo passará a exigir
memorização, portanto, o/a professor/a poderá trabalhar qualquer
conteúdo de acordo com o seu objetivo.
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá mostrar o mapa,
exibindo os Estados brasileiros e o Distrito Federal, poderá também
mostrar a divisão do país por regiões (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e
Centro-oeste) etc.

MEU QUERIDO BEBÊ: (Origem – Nigéria)

Descrição: Um/a estudante é escolhido/a e sai da sala, acompanhado


de um/a auxiliar (que
pode ser um/a estudante).
Os/as estudantes que
ficam na sala escolhem
um/a estudante da turma
para ser o 'bebê'. O 'Bebê'
deita no chão e os outros
estudantes com um giz,
Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros praticando
desenham o seu contorno. o jogo Meu querido bebê, 2018.
O 'Bebê' se junta aos outros participantes. O/a jogador/a que saiu
volta, e tenta determinar quem é o "bebê", baseado no contorno
desenhado, bem como nas características físicas. Se acertar pontua e
continua em uma nova rodada. Caso contrário outro/a assumirá o seu
lugar. Ganha quem conseguir mais pontos.
35

Ampliação do jogo: Para dinamizar a atividade, o/a professor/a


poderá dividir a turma em três (03) grupos, um grupo se
responsabilizará por fazer o desenho e os outros dois grupos, tentarão
adivinhar, os grupos discutirão coletivamente. Para iniciar a atividade,
deverá ser feito um sorteio para saber quem começa a adivinhação. A
equipe que não conseguir adivinhar quem é o bebê será a próxima a
desenhar.
Número de participantes: Indeterminado.
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de história (miscigenação brasileira,
colonização, racismo etc.), Ciências (Corpo Humano) e outros.
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá discutir com os/as
estudantes as características dos grupos humanos, referenciando
aqueles majoritariamente formam a população brasileira, os
indígenas, os africanos e os europeus. O/a professor/a poderá
problematizar as características desses três povos, relacionando com as
características físicas, étnicas e culturais. Pode-se também trazer
discussões com a temática do corpo humano; fazendo uma breve
reflexão sobre o corpo humano e suas diversidades.

CACHORRO PEGA O OSSO: (Origem – Botswana).


Descrição: O/a professor/a deverá dividir a turma em dois (02)
grupos com o mesmo número de crianças. Inicialmente, cada criança
dos grupos receberá um número. Os números se repetirão no grupo 01
e grupo 02. Os grupos ficarão um de frente para o outro a
aproximadamente oito (08) metros de distância. No centro, entre as
equipes, será colocado um objeto, que poderá ser uma bola. Ao
comando do/a professora/a, que deverá chamar um número aleatório,
distribuídos às crianças. Os/as estudantes que possuem o número
chamado deverão tentar pegar a bola. Quem conseguir pegar a bola
36

mais rapidamente marcará o ponto para o seu grupo, ganhará a


equipe que ao final do jogo somar mais pontos.

Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros, praticando o jogo


Cachorro pega o osso, 2018.

Ampliação do jogo: Para dinamizar o jogo o/a professor/a deverá


colocar mais elementos no jogo, (outra bola, um cone etc.), desta
forma o jogo passará a conter dois ou mais elementos.
Consequentemente o/a professor/a passará a chamar dois (02) ou mais
números de uma só vez, aumentando a complexidade do jogo. Outra
variação o/a professor/a poderá distribuir os números para os/as
estudantes em formas de unidades, dezenas, centenas e milhares.
Número de participantes: Trinta (30).
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de matemática (Ordem dos números,
unidade, dezena, centena e milhar).
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá apresentar fichas de
cartolina com números em unidades, dezenas, centenas e milhares, e
distribuir para os/as estudantes, podendo discutir os sistemas de
numeração (unidade, dezena, centena e milhar), para serem
discutidos durante a Roda de Saberes e Formação no final da aula.
37

JOGO LABIRINTO (Origem: Moçambique)

Descrição (versão original) - Com uma pedra em uma das mãos, sem
que o outro saiba, os jogadores colocam-se de frente um para o outro,
na aresta inicial do ―Labirinto‖, como na imagem. O jogador que tem
a pedra estende as mãos ao colega, tendo este que adivinhar em qual
das mãos se encontra a pedra. Se conseguir, ele se desloca para a
aresta seguinte do labirinto. Caso contrário, o outro que se
movimentará. Este procedimento repete-se até que um dos jogadores
chegue à última aresta e ganhe o jogo.
Descrição do jogo (versão adaptada) – A turma deverá ser dividida
em trios, um/a estudante será o mediador e os outros/as estudantes os
competidores. O jogo consiste em perguntas e respostas. Os jogadores
colocam-se de frente um para o outro, na aresta inicial do ―Labirinto‖,
o mediador lança a pergunta, sendo que eles responderão de forma
alternada, quem acertar a resposta segue em frente, quem errar
permanece no mesmo lugar. O/a participante que chegar primeiro ao
final do labirinto será declarado vencedor, o/a participante que
perder, se tornará o/a mediador/a do jogo.
Número de participantes: Indeterminado.
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos de todas as disciplinas. EX: Disciplina de Matemática,
conteúdo, ―Para que servem os números‖, as perguntas podem ser
direcionadas as operações matemáticas (adição, subtração,
multiplicação e divisão).
Outras Possibilidades: Por se tratar de um jogo de perguntas e
respostas, caberá ao professor delimitar aos estudantes qual será a
temática ou conteúdo a ser discutido no jogo, ficando atribuído ao
professor/a fazer a mediação do jogo.
38

PEGA-PEGA AMERICANO (Origem: Brasil)

Descrição – O/a
professor/a escolhe um/a
estudante da turma
para ser o/a pegador/a.
O jogo consiste num
pega-pega onde os/as
participantes que forem
pegos, ficarão em
posição de estátua com
as pernas entreabertas, e Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros
praticando o jogo Pega-pega americano, 2018.
para serem salvos, os/as colegas deverão passar agachados por baixo
das pernas.
Ampliação do jogo: Para tornar o jogo mais desafiador, pode-se
colocar mais de um/a pegador/a.
Número de participantes: Vinte e cinco (25).
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de Geografia, referente aos continentes,
tendo como foco o continente americano e os seus aspectos:
geográficos, culturais, seus países etc.
Outras Possibilidades: O/a professor/a poderá apresentar o globo
terrestre para os/as estudantes, podendo discutir sobre os cinco (05)
continentes, a partir daí, focar no continente americano, apontando as
Américas; do Norte, a América Central e a América do Sul,
posteriormente mostramos os países da América do Sul, destacando a
localização do Brasil.

Boliche (Origem, Brasil)


Descrição – Consiste num jogo de boliche e para a sua execução
deverão ser utilizadas bolas ou minibolas, além de garrafas PET, cones
39

ou pinos de boliche. Caso optem por garrafas PET, deverão ser


completadas parcialmente com água ou areia a fim de mantê-las de
pé. Os pinos deverão
ter uma pontuação
específica. Observação:
Todas/os as/os
participantes deverão
fazer arremessos.
O objetivo do jogo é
derrubar os pinos, a
equipe que marcar
mais pontos vencerá o
jogo.
Foto: Estudantes da Escola Joaquim Medeiros, praticando o
Boliche, 2018.
Ampliação do jogo – Possibilita alterar os valores dos pinos, que
poderão ser diferenciados pela cor dos pinos; garrafas PET ou cones
pode-se também, colar fitas adesivas com valores específicos etc.
Número de participantes: Dez (10).
Sugestões: Sugere-se que sejam divididas duas equipes de no máximo
cinco pessoas cada, desta forma, teremos uma atividade mais
dinâmica e com participação efetiva de todos/as. Para uma turma
escolar com trinta estudantes, indicamos que o/a professor/a faça três
campos de jogo, desta forma, todos/as estudantes poderão participar
simultaneamente.
Disciplinas e conteúdos envolvidos: Possibilita envolver os
conhecimentos da disciplina de Matemática como as quatro operações
(adição, subtração, multiplicação e divisão).
Outras Possibilidades: Permite o/a professor/a utilizar o jogo para
trabalhar as quatro operações, sendo estas realizadas de acordo com
os valores estipulados por cada pino.
40

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos africanos e afro-brasileiros, na sua relação como
práticas socioculturais é o ponto de partida desta obra. No Brasil, são
incontáveis os estudos que afirmam essa presença de elementos
culturais africanos recriados em nosso contexto histórico e sociocultural.
É também notório, como tal movimento permeia a vida, o modo de
ser, os conhecimentos, as tecnologias, os costumes, a musicalidade e a
corporeidade dos outros grupos etnicorraciais que conformam a nossa
população. (BRASIL 2014, p. 12). Buscando valorizar a cultura africana
e afro-brasileira dentro dos ambientes educacionais, entendemos que
a escola é um dos principais espaços para refletir, ensinar e aprender
sobre as diferentes raças que formam a variedade de culturas de norte
a sul do país. Por meio da música, da dança, da culinária, dos
costumes, sobretudo dos jogos e das brincadeiras, e tantos outros
aspectos que tornam esse povo tão diverso. Não querendo ser
pessimistas, mas entendemos que na escola básica o ensinamento
dessas culturas vem acontecendo bem timidamente, como adverte o
professor Kabengele Munanga (2005, p.15), partindo da tomada de
consciência dessa realidade, sabemos que nossos instrumentos de
trabalho na escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais
didáticos visuais e audiovisuais carregam os mesmo conteúdos viciados,
depreciativos e preconceituosos em relação aos povos e culturas não
oriundos do mundo ocidental. Os mesmos preconceitos permeiam
também o cotidiano das relações sociais de alunos entre si e de alunos
com professores no espaço escolar. No entanto, alguns professores, por
falta de preparo ou por preconceitos neles introjetados, não sabem
lançar mão das situações flagrantes de discriminação no espaço escolar
e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a
diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza
que ela traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional. O referido
autor, afirma que os conflitos étnicos recorrentes no chão da escola, são
41

excelentes oportunidades para o/a professor/a mediar às discussões


acerca da cultura africana e afro-brasileira, isso consistiria, por um
lado, em mostrar que a diversidade não constitui um fator hierárquico
entre os grupos humanos, mas sim, ao contrário, um fator de
complementaridade e de enriquecimento da humanidade em geral; e
por outro lado, em ajudar o/a estudante discriminado/a para que ele
possa assumir com orgulho e dignidade os atributos de sua diferença,
sobretudo quando esta foi negativamente introduzida em detrimento
de sua própria natureza humana.
Consideramos que os jogos são elementos fundantes e
indissociáveis da cultura. Desta forma, propomos apresentar o jogo
como uma proposta sociocultural para o ensino, tornando-o assim, um
momento de aprender e ensinar a respeitar, a conhecer, a reconhecer,
a valorizar as diferenças culturais do nosso povo tão diverso.
Entendemos que na escola, o jogo não pode ser dissociado do processo
educativo, como infelizmente tem ocorrido principalmente nas aulas
de Educação Física. No espaço educacional precisamos superar da
falsa dicotomia entre o jogar e o aprender, para isso, existe a
necessidade do/a professor/a compreender a utilização do jogo como
proposta pedagógica. Por isso, ressaltamos a importância do/a
professor/a no processo educacional, pois, ele/a, exerce o papel de
mediador/a entre a criança e o processo educativo através da cultura
dos jogos, e as suas intervenções é essencial para que os/as estudantes
ampliem e diversifiquem os seus conhecimentos sobre jogos. Quando
o/a professor/a propõe condições materiais, espaciais, temporais
apropriadas e desafiadoras, possibilita que os/as educandos/as, a partir
do seu repertório, brinquem, divirtam-se e aprendam com diferentes
elementos da cultura.
Portanto, consideramos que o jogo, é um tipo de atividade
significativa, atrativa, que atende às necessidades e às possibilidades
de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Mas, a sua
42

secundarização é um grave equívoco cometido por muitos/as


professores/as. Reforçamos que nós professores/as devemos possibilitar
formação de crianças mais críticas, solidárias, autônomas e criativas.
Desta forma, concluímos que os jogos e as brincadeiras apresentam
uma gama de possibilidades para prática educacional, estes, sendo
utilizados com finalidades pedagógicas, podem gerar conhecimento
das mais variadas áreas do conhecimento, tornando-se um importante
recurso pedagógico para o ensino.
43

Foto: Professor/pesquisador, professora da turma e os/as estudantes da Escola Joaquim Medeiros, 2018.
44

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação
nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. – 13. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições
Câmara, 2016. – (Série legislação; n. 263 PDF).

________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno.


Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais
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Afro-brasileira e Africana. Brasília, DF, 2004a. Disponível em:
>http://www.seppir.gov.br/portal-antigo/.arquivos/leiafrica.pd f/view>. Acesso em:
30/04/2018.

___________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,


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DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura/Jocimar Daolio. -


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