Texto de Apoio - Leitura e Professores Uma Relação em Crise
Texto de Apoio - Leitura e Professores Uma Relação em Crise
Texto de Apoio - Leitura e Professores Uma Relação em Crise
Resumo: As práticas de leitura em ambiente escolar tem se revelado cada vez mais ineficazes. A
formação de leitores competentes capazes de ir além da mera decodificação tem sido um grande desafio.
O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade plena de participação social e política na
sociedade, pois é por meio dela que os homens se comunicam, têm acesso à informação, expressam e de-
fendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, refletem sobre sua própria experiência
no mundo e produzem conhecimentos. Este artigo reflete sobre o papel do professor como leitor e agente
formador de leitores a partir principalmente dos trabalhos de Ezequiel Theodoro da Silva e Michèle Petit.
Palavras Chave: Leitura. Formação de leitores. Cidadania. Autonomia.
Abstract: Reading practices in the school environment has proved increasingly ineffective. It has been a
great challenge the formation of competent readers able to go beyond simple decoding has been a great
challenge. The mastery of language is closely related to the possibility of full social and political
participation in society, because it is through it that people communicate, access information, express and
defend points of view, share or build world views reflect about their own experience in the world and
produce knowledge. This article discusses on the teacher's role as reader and forming agent from readers
using especially the works of Ezequiel Theodoro da Silva and Michèle Petit.
Keywords: Reading. Formation of readers. Citizenship. Autonomy.
Introdução
1
Doutor em Filosofia da Educação pela USP, Professor do Programa de Mestrado-Doutorado da
Universidade Nove de Julho.
2
Doutorando em Educação pela Universidade Nove de Julho e mestre em Literatura e Crítica Literária
pela PUC-SP.
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entre os quais assumem importância ímpar os literários.
Conseguem viver e sobreviver nos diferentes grupos a que
pertencem sem terem consciência da necessidade de interpretar o
que subjaz às linhas, nas entrelinhas, para se apropriar de ideias
que possam contribuir significativamente no processo de
constituição do sujeito enquanto leitor e, consequentemente, do
cidadão leitor.
Constatações como esta tem sido muito comum por aqueles que têm se
dedicado à questão da leitura e da formação do leitor. Não basta ter contato com
acervos por melhores que sejam, é imprescindível ter contato com pessoas que façam
da leitura um ato prazeroso e enriquecedor.
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A formação do leitor e a leitura de literatura
Michéle Petit tem publicado trabalhos nos quais faz reflexões sobre a
formação do leitor e os desafios daqueles que trabalham com a literatura. A seguir,
retomaremos algumas questões, apresentadas por esta estudiosa, que podem
enriquecer nossa compreensão sobre a identidade do professor e os desafios que este
enfrenta para desenvolver programas de leituras junto aos estudantes.
Segunda a autora, em A arte de ler, a formação do leitor não se realiza com
uma supervisão de pais, professores e profissionais da área que os convence da
importância da leitura. Quando o professor impõe a leitura, destituindo o aluno do
prazer da leitura, não há uma experiência saudável com o texto. Não há diálogo. Lê-se
para mergulhar em dimensões profundas da alma. Lê-se para encontrar respostas que
consigam dar sentido àquilo que não tem sentido nenhum.
Esta experiência de leitura jamais pode ser imposta. O prazer do texto advem
da função catalisadora da leitura que coloca o leitor num processo de síntese e de
reflexão de sua própria experiência na direção de novas possibilidades de compreender
a realidade que o circunda.
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evoquei existem, as crianças, os adolescentes, os adultos fazem uso
de fragmentos de obras literárias para fundar um trabalho de
construção ou reconstrução de si mesmos, ainda quando cresceram
bem longe dos livros. (PETIT, 2009, p. 284)
O domínio da cultura escrita é condição essencial para o professor. Sem ela, é
impossível se pensar no papel mediatizador do docente. Se o professor não se constitui
leitor, como pensar em criar condições de desbloquear os alunos em relação à leitura.
Não há como exercer plenamente a cidadania quando se inábil para se compreender os
discursos e para se perceber como sujeito com voz ativa nos espaços públicos.
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É necessário que a escola e os professores construam uma nova percepção da
leitura e dos mecanismos que contribuem para formação do leitor.
O leitor jovem precisa ver no ato de ler uma atividade libertária. A leitura
desestrutura o mundo e as certezas do leitor, oferecendo-lhe outras possibilidades de
enxergar sua própria experiência.
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tornar inteligível a nossa experiência caótica. Tal experiência não pode ser
transformada em um dado numérico ou termos estatísticas.
Considerações finais
A percepção do que deve significar a leitura para o jovem precisa ocupar
maior espaço nas reflexões escolares. Professores precisam se constituir leitores
competentes a fim de que possam influenciar positivamente os discentes na sua
inserção no mundo da escrita. Precisam ver nesta atividade uma chave imprescindível
para o exercício da cidadania. No entanto, só um leitor experiente pode perceber a
diferença entre uma leitura de pura distração, e entretenimento, de uma leitura
transformadora, inquietante, que abala as certezas do sujeito, colocando em xeque seus
valores individuais e os valores.da sociedade.
O que está em jogo na leitura é a possibilidade de conduzir cada leitor, indepen-
dentemente de sua faixa etária, ao exercício pleno de uma cidadania ativa que, segun-
do Michèle Petit, “não é algo que cai do céu, é algo que se constrói” (2008, p. 101).
Referências bibliográficas
LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, Regina (Org.). Leitura em crise
na escola. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
SANTOS, Fabiano dos; NETO, José C. Marques; RÖSING, Tania M. K. Mediação de
Leitura: discussão e alternativas para formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Formação de leitores literários: o professor leitor. In:
SANTOS, Fabiano dos; NETO, José C. Marques; RÖSING, Tania M. K. Mediação de
Leitura: discussão e alternativas para formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.
PETIT, Michèle. A arte de ler. São Paulo: Ed. 34, 2009.
________. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34, 2008
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