Pedro Saraiva Caderno Mafamude

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Pedro Saraiva

caderno > mafamude


Curadoria de Maria de Fátima Lambert

13 abril >>> 18 maio de 2018


Depois do Espaço t, surge a Quase Galeria

Espaço t, espaço de integração pela arte, numa perspetiva de inclusão total, sem tabus,
estereótipos, preconceitos e tudo aquilo que segrega o valor humano. Valorizamos apenas
a aceitação incondicional do outro.
Numa perspetiva transversal da sociedade, dos ricos dos pobres, dos coxos aos
esteticamente intitulados de belos, todos cabem no conceito.
Num mundo cada vez mais desumanizado, solitário, onde todos são “colocados em
gavetas”, verificamos que o homem apenas representa o papel que lhe é dado, e quase
nunca mostra o seu verdadeiro interior.
Com o Espaço t, aqueles que por ele passam ou passaram, crescem e entendem que o
verdadeiro homem não é o do “gaveta” mas o do seu interior e entenderam também o que
há na sua verdadeira essência, quer ela seja arte bruta, naïf ou apenas arte de comunicar,
é por si só a linguagem das emoções, a linguagem da afirmação do maior valor humano.
O pensar e o libertar esse pensamento crítico sobre uma forma estética. Esse produto
produz uma interação entre o produtor do objeto artístico e o observador desse mesmo
objeto; promovendo assim sinergias de identidade e afirmação melhorando dessa forma a
auto estima e o auto conceito daqueles que interagem neste binómio e se multiplica de uma
forma exponencial.
Este é o Espaço t,
E apesar de sempre termos vivido sem a preocupação de um espaço físico, pois sempre
tivemos uma perspetiva dinâmica, e de elemento produtor de ruído social positivo, ruído
esse que queremos que possa emergir para além das paredes de um espaço físico.
Apesar de não priorizarmos esse mesmo espaço físico, pois ele é limitador e castrador foi
para esta associação importante conseguirmos um espaço adaptado às necessidades reais
e que fosse propriedade desta associação que um dia foi uma utopia.
Com a ajuda do Estado, mecenas, e muitos amigos do Espaço t, ele acabou por
naturalmente surgir. Com o surgir do espaço do Vilar, outros projetos surgiram tendo uma
perspetiva de complementaridade e crescimento desse espaço, que apesar de real o
queremos também liberto desse conjunto de paredes, fazendo do espaço apenas um ponto
de partida para algo que começa nesse espaço e acaba onde a alma humana o quiser
levar.

2
Surgiu assim a ideia de nesse lugar criarmos outro lugar, também ele figurativo embora
real, chamado Quase Galeria.
Uma galeria de arte contemporânea com um fim bem definido: apresentar arte
contemporânea Portuguesa nesse espaço, dentro de outro espaço, onde cada exposição
será uma fusão de espaços podendo mesmo emergir num só espaço.
Com este conceito pretendemos criar uma nova visão do Espaço t, como local onde outros
públicos, outros seres podem mostrar
a sua arte, desta vez não terapêutica mas sim uma arte no sentido mais real do termo que
forçosamente será também terapêutico, pois tudo o que produz bem estar ao individuo que
o cria é terapêutico.
Com o apoio das galerias: Graça Brandão, Carpe Diem – Arte e Pesquisa, Carlos Carvalho,
Presença, Reflexus /Nuno Centeno, Modulo, 3 +1, Jorge Shirley, Alecrim 50, Ateliê Fidalga
(São Paulo/BR), Progetti (Rio de Janeiro/BR), Ybakatu (Curitiba/BR), Mercedes Viegas (Rio
de Janeiro/BR), Waterside (Londres/UK), Módulo, Vera Cortês (Contemporary Art Agency),
Filomena Soares, Fernando Santos e com a Comissária e amiga Fátima Lambert, temos o
projeto construído para que ele possa nascer de um espaço e valorizar novos conceitos
estéticos contribuindo para a interação de novos públicos no espaço com os públicos já
existentes promovendo assim, e mais uma vez a verdadeira inclusão social, sem
lamechices, mas com sentimento, estética e cruzamentos sensoriais humanos entre todos.
Queremos que com esta Quase Galeria o Espaço t abra as portas ainda mais para a cidade
como ponto de partida para criar sinergias de conceitos, opiniões e interações entre
humanos com o objetivo com que todos sonhamos – A Felicidade.

Jorge Oliveira
O Presidente do Espaço t

3
Pedro Saraiva: caderno > Mafamude
[sendo António Soares dos Reis protagonista e Antero de Quental evocado brevemente]

| Exposição na Quase Galeria | Ciclo Ações estéticas quase instantâneas – parte 23 - MNSR |

Je dessine encore, chaque jour,


avec le même plaisir,
sur tout et sur n’importe quoi.
Mais aujourd’hui, je marche :
je marche dans mes dessins.1

« A arte consola de muito, mas não consola de tudo!”2

“A mão é ação, ela cria e, por vezes, seria o caso de dizer que pensa. (…) Pois o artista recomeça
todas as experiências primitivas: à maneira do Centauro, tateia as fontes e os ventos.”3

António Soares dos Reis e Antero de Quental – retratos e fotografias quase olvidadas mas
não omitidas
Parafraseando Sophia de Mello-Breyner em « A coisa mais antiga de que me lembro… »4, a minha
memória mais focada do “passado distante” está fixada na imagem intermediada de um diapositivo
com a imagem do Desterrado. O episódio ocorreu, aos 10 ou 11 anos de idade, quando de uma
visita de estudo efetuada ao Museu Nacional Soares dos Reis – comprei o tal diapositivo… Hoje,
devo confessar que – em termos de vivência estética – já não mais será a minha peça de eleição
do Escultor nascido em Mafamude a 14 de outubro de 1847 (41 anos). Daria primazia ao busto de
Firmino (retrato de António Firmino dos Santos Almeida), com quem me parece, às vezes, tenho
um caso pendente!
Quando do 1º centenário da morte de António Soares dos Reis, acontecida a 16 de fevereiro de
1891, fui incumbida de prestar um depoimento sobre o artista. Procurei abordá-lo também a partir
de seu pensamento artístico, cultural e educacional (constituem, a meu ver, um todo) revelador de

1 Jan Fabre, - Un lieu ombragé hors du monde pour réfléchir et travailler, Actes du Sud, Paris, 2001
2 António Soares dos Reis citado por Diogo de Macedo, Soares dos Reis – sua vida dolorosa, Lisboa,
Edição da Revista Ocidente, 1943, p. 75
3 Henri Focillon, Elogio da Mão, S.Paulo, Ed. Serrote, 2012, p.15
4 Cf. Sophia de Mello-Breyner Andresen, “Posfácio”, Livro Sexto, Lisboa, Moraes Ed., 1976
4
lucidez e rigor perante a sociedade, eivado da maior generosidade e utopia. Quis perceber, então,
como coincidiam as suas reflexões na conceção das suas estátuas e esculturas, a intenção
antropológica e societária com a artisticidade realística, a simbologia e as mitificações históricas.
Entre a poética e a ideologia cultural, intermediada pela motivação filosófica da arte e a
educacional, os projetos acarinhados situam-se perante a pessoa humana individual – apesar da
incompreensão a que foi votado, com frequência, à época. Eis como, a sua qualidade de ser
humano, se expande com uma densidade quase inultrapassável quanto às morfologias de
abordagem, plasmando em figurações escultóricas numa plataforma de sublimidade complexa.
Por coincidência, nos inícios de 1991, estava a investigar também um outro nome ímpar: Antero de
Quental. E o paralelismo entre ambos autores afigurou-se irrecusável. Celebra-se o 1º centenário
da morte do poeta e filósofo (47 anos).
As afinidades entre as expetativas artísticas e literárias de um e outro – as respetivas atuações,
devidamente balizadas em reflexões notórias configuravam-se – também – na sedução que os
seus retratos me provocaram.
Os retratos de Soares dos Reis: por Marques de Oliveira que lhe realizou um retrato de corpo
inteiro de 1882, precedido de um retrato de busto de 1881; uma pintura por Columbano Bordalo
Pinheiro; um desenho por António Carneiro; uma aguarela de Cruz Caldas para a revista Prometeu
(1927)5; a máscara mortuária, autoria de Teixeira Lopes (Pai) e a estátua de Soares dos Reis, por
António Teixeira Lopes (no Largo Soares dos Reis, V.N. Gaia). No relativo às fotografias, de
assinalar algumas: “Soares dos Reis quando jovem”6; António Soares dos Reis – Fotografia tirada
em Paris7; retrato por Bobone (1888, Lx)8; retrato “Soares dos Reis com a esposa” por Bobone
(Lx)9; “Soares dos Reis com a esposa e filho”… entre outras que se conhecem. À semelhança de
Antero de Quental, mostram-nos a capacidade de remissão da imagem da pessoa – enquanto
artista, autor mas sempre pessoa humana individual, singular.
Algo de aproximado, ao que desenvolvi quando do estudo sobre o pensamento filosófico de Antero
de Quental, primeiro aferindo a condição de retratado e retrato, articulando a reflexões ecfrásticas,
vulgo “retratos literários” - descrições da fisionomia de Antero de Quental, por Eça de Queirós,
Visconde de Faria e Maia, António de Azevedo Castelo-Branco, Jaime Batalha Reis e Columbano
Bordalo Pinheiro, entre outros.10

5 In http://gisaweb.cm-porto.pt/names/8365/documents/ (consulta março 2018)


6 Autor anónimo In http://portoarc.blogspot.pt/2015/05/outros-edificios-publicos-xiv.html (consulta março
2018)
7 Autor anónimo In https://antoniosoaresdosreis.wordpress.com/2013/05/ (consulta março 2018)
8 In https://antoniosoaresdosreis.wordpress.com/autobiografia/ (consulta março 2018)
9 In https://antoniosoaresdosreis.files.wordpress.com/2012/07/sares-dos-reis-e-a-esposa1.jpg (consulta

março 2018)
10 Cf. Maria de Fátima Lambert, “Antero: as imagens – contexto estético e antropológico”, Revista

Portuguesa de Filosofia, 1993


5
O confronto poético/estético ao caso dos retratos de Soares dos Reis, efetivou-se ao contemplar,
muito em particular, o pintado por Columbano Bordalo Pinheiro, datado de 1889, ano da morte do
Escultor. Relevante, ainda que pleno de compaixão, o Antero “Imortal”, de Abel Manta (Coleção do
Museu Bordalo Pinheiro) e o incisivo retrato de Antero de Quental desenhado por António Carneiro
(s/d) assim como, um quase desconhecido retrato desenhado por José de Almada Negreiros em
194511. Não invalida a atenção dada à observação das várias fotografias – mais do que no caso de
Soares dos Reis, que permitem acompanhar o desenvolvimento da sua fisionomia, desde os
tempos de estudante de Coimbra (1864), passando por imagens de 1865, 1875 (Cliché de C. da
Rocha), 1884, 1887, 1891.12 Evidencia-se uma notável fotografia de perfil, infelizmente sem autoria
atribuída e desconhecendo-se a data.13 Não se ignore a estátua que o celebra, realizada por
Salvador Barata-Feyo, a ver no Jardim da Estrela em Lisboa, datada de 1946.
Como referi a propósito de Antero, por afinidade considere-se aplicável a Soares dos Reis: “A
visibilidade dos diferentes rostos não leva à deturpação da sua unidade pessoal apreensível. Pelo
contrário, quer a nível dos retratos fotográficos, quer a nas pinturas e literatura, a narração dos
seus traços fisionómicos revela-se complementar, senão convergente, enriquecida pela diversidade
das focagens e complexidade das enfatizações. Sabendo direcionar tais relatos fisionómicos,
encontram-se os termos essenciais a uma reconstituição iconográfica, para restituição e poder da
imagem do retratado.”14

Sinaliza-se um rosto dúctil, onde a intensidade do olhar exprime de meditação e serenidade, de


introspeção recorrente, ainda que interpelando, por certo quem o contemple. Essas mesmas
qualidades de expressivas tomam corpo nas suas produções escultóricas, verificando-se uma
quase simbiose, com exceção de alguns bustos e estátuas, em que os propósitos são evidentes
quanto às figuras intencionalizadas.
Esclareça-se que Soares dos Reis nunca conheceu Antero de Quental, embora muitas afinidades
se lhes possam reconhecer em comum. Transcreve-se o retrato literário de Diogo de Macedo que,
traduz muitas proximidades, quanto ao que poderia ser, igualmente um relato da fisionomia de
Antero de Quental – salvaguardando embora o que era uma comum “aparência masculina da
época”. Atenda-se, nesta perspetiva ao retrato literário que Diogo Macedo elaborou de Soares dos
Reis:

11 Imagem disponível in https://escritores.online/homenagem-antero-quental-calouste-gulbenian/


(consulta março 2018)
12 Tais reproduções fotográficas podem ser vistas in

http://wiki.ued.ipleiria.pt/wikiEducacao/index.php/QUENTAL%2C_Antero_de%2C_Ponta_Delgada%2C
_1842_%E2%80%93_Ponta_Delgada%2C_1891 (consulta março 2018)
13 Consulte-se Ana Maria Almeida Martins, Antero de Quental, Fotobiografia, Lisboa, INCM, 1985
14 Cf. Maria de Fátima Lambert, “Antero: as imagens – contexto estético e antropológico”, Revista

Portuguesa de Filosofia, 1993


6
“Alto, tristonho de semblante, com farta penugem nos queixos, que se lhe esbatia nas maçãs; de
nariz correcto e levemente sensual; o olhar vivo como azougue, pupila fixa no centro, não sabendo
jamais olhar de esguelha ou baixar as pálpebras em fingida expressão; testa larga, franca de
planos, com o pelo hirsuto e negro, como anos depois Marques de Oliveira o retratou…”15

A expressividade, os ritos faciais do próprio escultor repercutem na sua criação, concordando-se


com a reflexão de Diogo de Macedo, ao considerar que O Desterrado seria “…um auto-retrato da
nostalgia e dos desassossegos de Soares dos Reis. A sua sensação saiu-lhe direitinha da alma
para os dedos e para o escopro; e como o seu sentir foi latente nas dúvidas e na saüdade dum
bem que nunca alcançou, a estátua brotou sem tormentos de desordem, inteiriça de expressão e
sinceramente comovida.”16 No relativo à fotografia, não seria de estranhar a adesão de Soares dos
Reis, atendendo a que privilegiava uma realista na sua criação escultórica, denotando a relevância
com que a vida impregnava a sua conceção e produção artística. Aspeto sublinhado por Diogo de
Macedo, num dos primeiros estudos que lhe foram dedicados: “

Pedro Saraiva e Soares dos Reis – caderno > Mafamude

A incidência na temática dos retratos justifica-se quando acedemos à proposta concebida por
Pedro Saraiva, abarcando as obras localizadas na Quase Galeria, assim como no Museu Nacional
Soares dos Reis, subsumida ao título “caderno > mafamude”. Sendo Mafamude, local de
nascimento e morte de António Soares dos Reis. A tipologia de “caderno”, corresponde a diretrizes
metodológicos do artista Pedro Saraiva que implicam uma meticulosa investigação sobre os
Autores sobre os quais se debruça. Veja-se a sequência dos famosos Gabinetes que foi divulgando
a partir de 2008, e brilhantemente analisados por Maria João Gamito em “Idem, per idem”, na
Revista Dobra nº 1, 2017. Mencionem-se: Gabinete Linares (2008); Gabinete Codina (2008/Módulo
e 2010/ Galeria Municipal de Sintra); Gabinete Cambedo (2008/Voyeurprojectview); Gabinete
Bercea (2009/ Casa da Cerca – Almada); Gabinete Musad (2012/Módulo); Gabinete Linfa (2014/
Pavilhão Branco – Museu da Cidade, Lisboa); Gabinete Panero (2014/ Fundação Carmona e
Costa, Lisboa); Gabinete Gregório (2015/ Galeria Trem, Faro) e Gabinete Carrera (2015/Projeto
Patrícia Pires de Lima) e o Gabinete Carrera (2017/ Galeria Águas Livres 8). De mencionar, a
apresentação do seu Gabinete Bartleby no contexto da exposição coletiva I would prefer not to em
2012. Em breve, na Sociedade Nacional de Belas Artes será revelado o Gabinete Pedro Saraiva,
no conjunto dos dez Gabinetes.

15 Diogo de Macedo, Soares dos Reis – sua vida dolorosa, Lisboa, Edição da Revista Ocidente, 1943,
p. 15
16 Diogo de Macedo, Soares dos Reis – sua vida dolorosa, Lisboa, Edição da Revista Ocidente, 1943,

p. 36
7
Os Gabinetes de Pedro Saraiva levam-me a pensar no conceito de Studiolo, esse outro conceito
concomitante. O termo remete ao pintor e escritor italiano Henri Fuseli (1741/1825) que o enfatizou
no séc. XVIII. Sabe-se de sua existência já na Itália dos sécs. XIV a XVI, relacionado à nova
consciencialização socio-arquitetural dos espaços privados dentro das grandes habitações,
ocupado por quem fosse o “dono da casa”. O Studiolo ou gabinete de estudo servia para
concentrar, isolar num espaço de casa, aquele que desejava estudar, pensar, refletir e contemplar.
Reunia-se de livros, gravuras, desenhos e livros de acordo com as suas afinidades eletivas…em
moldes de isolamento com referências a práticas de radicação latinista.
Pedro Saraiva constrói os seus Gabinetes à imagem e semelhança de si e de seus protagonistas.
No caso presente, embora não se trate de um dos seus Gabinetes, estamos perante um Studiolo
que estimula os visitantes e os instiga, portanto a contemplar, a pensar a obra de Soares dos Reis
a partir de uma presença atualizada. Como se quer, o Studiolo retém a veracidade de seu escopo
inicial, assim como, numa analogia conhecida, alberga a conceção de Avigator Arikha, quando da
exposição que concebeu para o Museu Thyssen-Bornemizza em Madrid, 2007. No caso presente
de Pedro Saraiva, as peças apresentadas, além dos desenhos e objetos, mostram-se também
estruturas emblemáticas, incorporando partes perdidas do corpo de estátuas conhecidas ou não…

Soares dos Reis [ainda] a formação, as viagens e o ensino artístico:

« On n’a jamais vu bien le monde si l’on n’a pas rêvé ce que l’on voyait.” 17

Na Autobiografia de Soares dos Reis, elaborada a partir das questões que lhe haviam sido
endereçadas por Joaquim de Vasconcelos lê-se:

“O meu mestre em esculptura foi, M. Jouffroy; em anatomia...2; em philosophia da arte, m. Taine; em


historia e archeologia, M. Heuzei3; em desenho m. Ivon. Em Roma não frequentei nenhuma academia nem
fiz mais nada alem da estatua o Desterrado e um medalhão em marmore do Sequeira. Conquanto me fosse
indicado o distincto estatuário Jiulio Monteverde para meu professor, nunca trabalhei sob a direcção
d’elle.”18

Soares dos Reis, em Paris, foi aluno de Henri Taine, nas disciplinas de Filosofia da Arte e da
Estética.

17Gaston Bachelard, La Poétique de la rêverie, Paris, PUF, 1978, p.148


18In Sónia Margarida Serra Queiroga, Anexo Documental e Gráfico - Casa Oficina do Escultor António
Soares dos Reis (1847- 1889) – Reabilitação de uma Memória e Reabilitação de um Espaço, Lisboa,
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011, p.54
8
Tenho estado a copiar do antigo e frequento os cursos como sabe são neste tempo. O Taine tem
sido muito aplaudido nas suas lições de Philosophia da arte.19

A ambição do produto estético a concretizar, não se limitava ao domínio virtuosístico ou à técnica


primorosa que, aliás, lhe foram reconhecidos desde muito cedo. O artista exigia-se, desenvolveu
um pensamento consentâneo, procurou o domínio de conhecimentos imbrincados que, de forma
concomitante, iria contribuir para a unidade e certeza da sua obra.
Antero de Quental, em França, tivera como mestres, Pierre-Joseph Proudhon e Jules Michelet, que
muito impregnaram o seu pensamento filosófico e poético, para além de outros autores de eleição.
Por outro lado, e à semelhança desse Antero de Quental, que aqui convoquei em diálogo, Soares
dos Reis tinha preocupações societárias profundas. Acreditava na força do conhecimento e da
cultura, como agentes de personalização e cidadania, também no relativo ao ensino formal na
Academia do Porto. Em “1881 [após ter sido] nomeado professor titular da Academia Portuense de
Belas Artes, esforçou-se sempre por renovar e impulsionar o ensino da Escultura.”20 Assim, foi
autor de uma proposta de reforma que apresentou ao Conselho escolar dessa Academia em 1882.
Embora esta fosse rejeitada, viria a ser publicada na Revista Arte Portugueza, como assunto de
interesse, em Setembro do mesmo ano, por mão de Manoel M. Rodrigues. 21 Não desistiu, e em
1885, avançou com novas propostas, desta vez perante o Conselho Nacional da Instrução Pública,
tendo-as, finalmente visto aprovadas. No ano seguinte, tendo concebido um novo “Programa e
Regulamento do Curso de Escultura”, apresentou-o, tendo tido uma péssima receção, com
consequências para a sua própria prática docente. Como reação, publicaria no jornal O Comércio
do Porto, sendo de sua autoria, o Projecto de Reforma e Regulamento do Curso de Escultura,
dedicando-o a José Simões de Almeida e José António Gaspar, seus Colegas na Academia. As
consecutivas desilusões, repúdios e frustrações propiciaram a eclosão de nefasto resultado.
Relembre-se, todavia o percurso que antecedera a sua situação oficial de Mestre de Escultura e
que o associou inexoravelmente ao Museu Nacional que ganhou seu nome.
Em 1871, Soares dos Reis deixara Portugal para dar continuidade à sua formação artística,
dirigindo-se para Paris. A estadia foi interrompida, quando do início da guerra franco-prussiana.
Voltando a Portugal, no ano seguinte viajou para Roma. Infelizmente, mais uma vez a sua estadia
em Itália acabou antes do previsto, antes de a Bolsa ser concluída, voltando definitivamente em

19 Doc.12 – Carta de Soares dos Reis para Teixeira Lopes (pai), 23 de Janeiro de 1868. Fonte: Moreira,
Alberto Luís (1989), Soares dos Reis: Trabalhos e Recordações (1989), p. 33 In Sónia Margarida Serra
Queiroga, Anexo Documental e Gráfico - Casa Oficina do Escultor António Soares dos Reis (1847-
1889) – Reabilitação de uma Memória e Reabilitação de um Espaço, Lisboa, Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, 2011, pp.17-18
20 “Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto – António Soares dos Reis”. In

https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-
%20ant%C3%B3nio%20soares%20dos%20reis (consulta março 2018)
21 Cf. https://antoniosoaresdosreis.wordpress.com/category/5-mas-tambem-fez-parte/5-3-professor-da-

academia/5-3-1-melhorar-o-ensino-nas-belas-artes/(consulta março 2018)


9
1872. Todavia, antes de se fixar em Gaia, pode ainda viajar para Londres, Madrid e Roma ainda.
Depois, nunca mais tornou a viajar, ficando por cumprir uma série de destinos em Itália que muito
ambicionava. A sua escultura “O Artista na Infância” foi laureada com uma menção honrosa na
Exposição Universal de Paris, em 1878. Passados três anos, também em Paris, e de novo na
Exposição Universal, o seu O Desterrado tinha sido mandado e, depois viria a ser premiado em
Madrid, onde a seguir se dirigiu. O Rei Afonso XII atribui-lhe a honra de Cavaleiro de Carlos III.
Desconhecem-se outras viagens ao estrangeiro.22
A produção, empreendida nestes anos, viria a frutificar em obras – algumas iniciadas durante a
estadia fora de Portugal – outras, certamente influenciadas por vivências estéticas superiores, por
contatos entre pares e pela liberdade que lhe sobreviveu nesse período.
Viu in loco, as obras das culturas que sempre prezara e tinha ambicionado conhecer de viva
presença: os sítios arqueológicos e suas ruínas – Pompeia, p.ex.; Capri e Amalfi e todas as
belezas naturais envolventes, enfim…a luz que na sua escultura irradia de dentro da obra, à
semelhança e por afinidade à cativação que Henrique Pousão conseguiu na sua pintura, foram
decisivas.

Pedro Saraiva e Soares dos Reis: as imagens


Imagens das esculturas de Soares dos Reis foram divulgadas em diferentes revistas23 e
publicações, ainda em finais do séc. XIX e nos inícios do séc. XX, sob tutela de amigos e
admiradores que assim pretenderam divulgar uma obra, desde início considerada magistral por
muitos. Mais diretamente, o escultor esteve envolvido na fundação da Revista Arte Portugueza,
órgão de divulgação do Centro Artístico Portuense, constituído em 1880 e desenvolveu atividade
até 1893, perdurando 4 anos após o desaparecimento do Escultor.
A Revista teve o seu primeiro número publicado em 1882 e extinguiu-se em 1884.
Em 1947 surgiu a público o livro Centro Artístico Portuense, autoria de Diogo de Villa-Lobos
Machado, quem lhe dedicou um estudo pioneiro. Sabe-se, mediante consulta dos “Estatutos do
Centro Artístico Portuense, cujo Alvará data de 3 de junho 1880, decorrendo do que pretendia ser
esta “Associação de Instrução e Bellas-Artes”.24

22 Cf. Bernardo Pinto de Almeida, “António Soares dos Reis”, Soares dos Reis – Memória e
Reconhecimento, Porto, Instituto Português do Património Cultural/Museu Nacional Soares dos Reis,
1987
23 A título de exemplo veja-se Revista Atlântida: mensário artístico, literário e social para Portugal e

Brasil, N.º 3, 15 Jan. 1926, ilustração A Infância, por Soares dos Reis; ilustração O Desterro, por
Soares dos Reis in http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Atlantida/N3/N3_item1/P19.html.
(consulta abril 2018)
24 Cf. “Estatutos e regulamento Interno do Centro Artístico Portuense”, Porto, Imprensa Internacional de

Ferreira de Brito & A. Monteiro, 1880, disponível in


https://ia600301.us.archive.org/8/items/estatutoseregula00port/estatutoseregula00port.pdf (consulta
abril 2018)
10
As características das suas peças, independendo do tema ou figura que celebravam, destinadas a
propósitos religiosos, históricos, académicos ou mais densamente estéticos, pautavam-se por uma
celebração de mestria e sensibilidade em que dominavam a convicção e a sensibilidade do autor: a
sua verdade, o seu credo.

As peças escultóricas de Soares dos Reis eram efetuadas de acordo a uma metodologia
recorrente, que o artista determinara melhor corresponder aos seus propósitos, em prol da
“escultura viva”, como relembra Diogo de Macedo: “…modelava as figuras nuas – sempre ao
natural – antes de as construir com as vestes.”25
Tratava as suas figuras como pessoas:

“Numa escultura tudo deve falar em harmónico sentido; e assim, não só a máscara duma figura
pode impressionar, como as linhas de um torso, o movimento dos rins ou dumas pernas, a posição
das mãos e as particularidades de qualquer perfil.”26

No projeto “caderno > mafamude” de Pedro Saraiva destacam-se a exatidão, a acuidade, a lucidez
de elementos que anuncia a presença do real (Sophia Mello-Breyner dixit), destacando-os do corpo
físico ou corpo esculpido que, talvez seja aliás, um e o mesmo. Às estátuas e esculturas gregas e
romanas, quanto às de outras civilizações, faltam extensões que as sustentem e liguem ao mundo,
permitindo abraçá-lo.

As mãos: encontram-se implícitas no fazer extremoso dos desenhos e das peças subtis escolha de
“belos espíritos” afins. Lembre-se o Elogio da Mão de Henri Focillon. Um dos símbolos
iconográficos que revela a ação é precisamente a “mão”: a mão representada pelos artistas e as
próprias mãos dos artistas. Ou seja, a capacidade de desenhar com perícia as mãos e o
virtuosismo das mãos que são capazes de assim proceder e obter os resultados da
perfectibilidade. As mãos dos artistas experienciam as dinâmicas do fazer, celebram-se:

“Empreendo este elogio da mão como quem cumpre um dever de amizade. No momento em que começo a
escrever, vejo minhas próprias mãos, que solicitam meu espírito, que o arrastam.”27

Por outro lado, sublinhe-se a pertinência (e a intemporalidade) da argumentação de Miguel Ângelo,


tal como aborda o processo de criação, fundando-o nos 3 pilares do humano: a tríade “o olho, o
cérebro e a mão”; matéria e forma; beleza idealizada e natureza. No relativo ao primeiro ponto, o
florentino assinalava que as imagens decorrentes da perceção visual deveriam ser processadas

25 Diogo de Macedo, Op. Cit., p.75


26 Diogo de Macedo, Op. Cit., pp. 36-37
27 Henri Focillon, Elogio da Mão, S.Paulo, Ed. Serrote, 2012, p.5
11
internamente pelo artista, gerando-se assim imagens mentais (internas) que configurassem o
“visto” numa excelência que excedesse. Essas imagens pensadas pelo autor deveriam obter
correspondência no fazer que a mão dirigia e concretizava em obra. Por outro lado, tinha a
profunda convicção de que ao grande escultor bastava retirar da pedra o excesso para conformar a
figura ambicionada e pressentida. Esta criação, por analogia ao processo de modelação, por
exemplo, significaria a capacidade de manipulando as pastas as saber na medida certa e na
austeridade e exigência de “fazer”, reduzir-se à configuração intrínseca ao próprio material em si
como substância matricial. Por outro lado, na modelação não existirá somente a exiguidade enxuta
da matéria exata mas também a compulsividade para acumular argila, barro ou grés, assim
configurando a peça que se esteja a realizar. A forma subsiste, dentro para fora e vice-versa,
encontrando apaziguamento na adequação constitutiva. Eis a supremacia e a sabedoria evocada e
criada por Pedro Saraiva na peça que foi colocada aos “pés” da estátua de Conde Ferreira. E que
se associa, quase de imediato aos estudos de mãos realizados por Soares dos Reis.

Os pés: descem para a terra ou levitam. Suspensos no pensamento que desagrega o todo do
corpo, que não domina o destino. Calcam a terra, procurando domesticar as forças míticas desde
os primórdios dos tempos, quando os humanos intermediava, dançando em redor de sim mesmos
para aplacar as deusas da Terra. Histórias de cosmogonias sem hora, nem século, pois os
humanos andam sempre na busca de domínio e tréguas. Não estranha que na arte contemporânea
sejam um elemento simbólico recorrente, pois que andamos sobre o solo, sem conseguir aterrar,
por vezes…
Outrora mediam-se as distâncias, as coisas e as pessoas tomando como referência o tamanho
(comprimento) canónico de um pé humano. Essa medida servia propósitos simbólicos e míticos
também, no âmbito das estéticas das proporções, em diferentes tempos e meios; beijavam-se os
pés das divindades, dos reis, das autoridades, de familiares em sinal de respeito e obediência; os
pés nus expunham-se às agruras do caminho, no caso dos peregrinos e remetem ainda para a
cerimónia cristã do “lava-pés”…Usando os pés, o humano sobe e desce, cumprindo trajetos
simbólicos e efetivos. Donde a sua representação, na história da Arte, ocupar preocupação
agravada e primorosa, por parte dos artistas que os celebravam e os carregavam de significâncias
múltiplas. Os pés, em derradeira instância, suportam o peso corporal, organizando-lhe a gravidade
e equilíbrio. Talvez, por isso, o desenho de uma planta/flor que brota da terra.

A casa [oficina/atelier] em degredo:


A casa é conceito de síntese que concilia (por vezes) os patamares do individual e do gregário;
orienta-se (quase sempre) pela integração entre o interior e o exterior; dirige (com forte razão de

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sucesso) a reconciliação entre pensamentos, recordações e sonhos; derrota ou deixa-se derrotar
pelo maniqueísmo judaico-cristão – corpo e alma.
A casa, enquanto localizada num tempo específico, não é óbvia, fechada ou conveniente.
Transcendo o tempo, permanecendo no local. A memória de quem a habituou perdura ou não, é
celebrada, acarinhada e preservada ou não.
A casa seduz para a mobilidade interna, cruzada e transversa; regimenta as dinâmicas pulsionais,
benéficas para a solidez da identidade. No caso dos artistas, os seus espaços de trabalho ou
habitação são igualmente considerados sua casa. Assim, a casa-oficina de Soares dos Reis usufrui
desse magnetismo e dessa ruína estética de um ser que até sem casa poderá ficar. Nas fotografias
da casa-atelier-oficina do Escultor, Pedro Saraiva soube inundá-las de traços, escrita e matérias
que as aproximam mais ainda do ofício de Soares dos Reis. A imagem fotográfica da casa que se
esvai no reconhecimento de quem passa (e não sabe) contribuirá – ou não – para manter viva a
fluência de criatividade que antes abrigou.
O legado artístico - quase i-reconhecido por muitos, numa inventariação enunciada pelo próprio
Escultor:
“Os estuques o que representa Apolo etc. Acha-se na casa do Snr. Joaquim Ferreira de Campos
em Mafamude, e o outro em casa do Snr. A. José da Silva em V. N. de Gaya.
Qualquer dos desenhos em madeira, da minha estatua o Desterrado nunca foi publicado. O Artista
na infância foi publicado na Gravura em Madeira em 1877. O da scena da inundação, na mesma
publicação em 1876. O do naufragio do vapor Olga no N.º 26 do Occidente 1879. O do incendio no
N.º 28, 1879 da mesma publicação. O da inauguração do monumento a D. Pedro V no N.º 40, 1879
da mesma publicação.
Os bustos do V. De Tamandaré e Marquez do Herval foram expostos em Lisboa em 1875 e acham-
se no Rio de Janeiro. O busto de F. Pinto Bessa pertencerá á Camara Municipal d’esta cidade e
ainda não foi exposto. O modelo do busto de D. gos d’Almeida Ribeiro foi exposto na 12ª exposição
trienal, e anteriormente na da Sociedade Promotora em 1875, pertencendo á Academia portuense;
e a reprodução em marmore de 1ª esteve em Lisboa, antes de ir para a exposição de Paris, e
depois no museu em S. Lazaro n’esta cidade, pertencendo ao retratado.
A cabeça de preto, em marmore, esteve na 11ª exposição trienal em 1874 e no anno seguinte na
da S.de Promotora, pertencendo ao Snr. F.co de Oliveira Chamiço de Lisboa. O modelo do artista na
infancia, na mesma exposição trienal e no anno seguinte na da S. de Prom.ra; e a reproducção em
marmore de 1ª esteve na Exposição de Paris e anteriormente em Lisboa, pertencendo á
S.ra Duqueza de Palmela.

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O modelo da estatua do C. (Conde) de Ferreira acha-se na Academia portuense, á qual pertence; e
a reprodução em marmore encima (sic) o monumento levantado á sua memoria a Agramonte.”28

As palavras, estes e outros testemunhos, as imagens e as obras do universo que envolveu Soares
dos Reis, adquirem um novo alento e ímpeto estético através do “caderno-mafamude” de Pedro
Saraiva. Por isso se concebeu este percurso de escrita que é tanto um exercício das mãos, como
dos pés que caminham.

o caderno-mafamude no Museu Nacional Soares dos Reis:

Após ter atravessado as Salas de Pintura do 1º andar do Museu, chega-se ao corredor que dá
acesso à Galeria de Escultura de Soares dos Reis. Depara-se com o retrato do Escultor pintado
por Marques de Oliveira, em 1888. A pose é imponente e generosa, simultaneamente. O perfil de
Soares dos Reis parece querer voltar-se a ¾ ou de frente e olhar-nos. Sempre tive esse devaneio
ao olhar o retrato, cuja tonalidade do rosto foi alterando com a passagem do tempo. A seu lado,
quase, vemos a máscara mortuária realizada por Teixeira Lopes (Pai). E seguem-se vitrinas onde
28 Excertos da Autobiografia de Soares dos Reis em resposta às perguntas de Joaquim Vasconcelos.
In https://antoniosoaresdosreis.wordpress.com/autobiografia/ (consulta abril 2018)
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se vêm esbocetos, gessos e utensílios de arte, ou seja, entramos com os nossos olhos e
imaginação mais sensível numa intimidade sedutora, num convívio mais humanizado com essa
figura incontornável e dolorosa (parafraseando Diogo de Macedo) da Arte Portuguesa.
O Museu situa-se no centro da cidade do Porto, a casa-oficina de Soares dos Reis, estará em
frente, olhando sensivelmente em linha transviada, do outro lado do Rio Douro, em Mafamude (Vila
Nova de Gaia), aguardando ser relembrada e suscetível de dar vida ao Artista que aí desenvolveu
a maioria de seus excelentes projetos e obras. Essa memória da oficina, da casa interessou o
pintor, escultor, desenhista e professor Pedro Saraiva. Desde Lisboa, a pesquisa de Pedro Saraiva
viajou até ao local de ilusões e desencantos da personalidade excelsa, lúcida e desassossegada
de Soares dos Reis.
As peças concebidas por Pedro Saraiva derivam da sua leitura da obra do Escultor oitocentista.
Gerou extensões dissociadas do todo/do corpo uno de cada um dos bustos, cresceu-lhes pés,
separou-os. Tornou as cabeças, os pescoços e os ombros impossíveis de se moverem, embora
atribuindo-lhes meios de uma locomoção que afinal seria “cega” e destinada por deuses zangados.

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Pedro Saraiva
1952
Vive e trabalha em Lisboa
Professor Catedrático de Desenho na FBAUL e Professor convidado de Desenho no departamento
de Arquitetura do ISCTE.
O seu trabalho tem-se desenvolvido sobre métodos de investigação e conceção implícitos no
desenho como projeto.
Tem participado em diversos projetos de investigação na área do Património do Desenho.
Participação em exposições das quais se destacam:

Individuais (selecção): Ibéria - SNBA (1986); Pintor Cego/Blind Painter – Módulo (2006); Gabinete >
Codina – Módulo (2008); Gabinete > Cambedo – Voyeurprojectview (2008); Gabinete > Bárcea –
Casa da Cerca (2009); Gabinete > Musad – Módulo (2012); Gabinete > Linfa – Pavilhão Branco –
Museu da Cidade de Lisboa (2014); Gabinete > Panero – Fundação Carmona e Costa (2014).

Colectivas (selecção): Moderne portugiesische grafik - Galerie Felizitas Mentel (1978);


zeitgenoisische grafik aus Portugal – Mannheimer Abendakademie Mannheime (1979);
zeitgenosische portuesische grafik - Collini-Center/Gal. Bernhard Weber (1980); II trienal
internacional de desenho - Nuremberg (1982); arco 87 (Módulo) Madrid (1987); art 18/87, (Módulo)
Basileia (1987); art la 88, (Módulo) Los Angeles (1988); 10ª exposição int. de desenho - Catania,
(1995); Come as you is – Galeria Monumental (1999); Feira Arte Contemporânea
(2001/02/03/04/06/07); XXX – Módulo (2005); Coleccionar I – Módulo (2009).

Representado (seleção): Em coleções particulares e públicas, nacionais e estrangeiras,


nomeadamente: Galeria Redies (Alemanha); Centro Cultural de Almansil (Portugal); Casa-Museu
Teixeira Lopes (Portugal); Museu de Catania (Itália); Museu Municipal de Sintra (Portugal);
Secretaria de Estado da Cultura (Portugal); Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
(Portugal); Casa da Cerca (Portugal); Coleção PLMJ – Soc. Advogados; Fundação Carmona e
Costa; Banco Comércio e Indústria; Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Pedro Saraiva é um dos artistas mais influentes da sua geração, expondo regularmente desde o
início da década de 80.

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PEDRO SARAIVA caderno > mafamude /
quase galeria – Espaço t 2018

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PEDRO SARAIVA / caderno > mafamude
Museu Nacional de Soares dos Reis

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Ficha técnica

Diretor Geral – Jorge Oliveira

Curadoria e Direção Artística – Maria de Fátima Lambert

Relações Públicas – Cláudia Oliveira

Produção – Leonel Morais

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Promotor:

Apoios:

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