Consideracoes Sobre A Neurose Obsessiva PDF
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ano V, n. 1, nov/ 2 0 05
Consideraes sobre
a neurose obsessiva
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Neste trabalho busco configurar a neurose obsessiva traando,
em linhas gerais, as caractersticas que demarcam sua dinmica de
funcionamento, na perspectiva da primeira teoria das pulses de Freud.
Num enfoque filogentico e ontogentico destaco duas fantasias
originrias constitutivas da subjetividade, do pathos humano, que so:
a fantasia de retorno ao seio materno, ressonncia da pulso sexual,
bem como, a fantasia da castrao, oriunda do parricdio, na qual o
eu afetado no seu narcisismo. Para tanto, articulo a estes estudos
fragmentos de um caso de neurose obsessiva para pensar nas
manifestaes dessas fantasias, nessa clnica psicopatolgica.
Palavras-chave: Fantasias originrias, filognese, ontognese,
neurose obsessiva
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Concepo filogentica
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ressalto a importncia deste rascunho, particularmente naquilo que ele
versa sobre a origem psicopatolgica da espcie. No contexto de sua
elaborao em pleno perodo, 1914 a 1920 em que Freud e seu
discpulo colaborador, Ferenczi, esto empenhados em formular o projeto
de uma metapsicologia em psicanlise; j h uma produo suficientemente
consistente do grupo de psicanalista da primeira gerao, para que o mestre
construsse uma srie de artigos que congregassem, de forma sistemtica
e aprofundada, os achados psicanalticos. Conforme Ilse Grubrich-Simitis,
no artigo Suplemento Metapsicolgico Teoria dos Sonhos, Freud
observa: a inteno desta srie o esclarecimento e o aprofundamento
das suposies tericas que se poderiam colocar como a base do sistema
psicanaltico (1987, p. 7). Este texto, Neuroses de transferncia: uma
sntese, compe esta base, mesmo que no tenha sido publicado por
Freud.
A meu ver, a teoria filogentica psicanaltica de extrema relevncia
para a elucidao dos estudos psicopatolgicos e sua psicoterapia. Por
exemplo, Freud revela na anlise do Homem dos lobos, texto publicado
em 1918, a grande contribuio que a concepo de fantasias originrias
promove na compreenso dessa clnica, na qual investiga as relaes entre
a cena primria e o sonho do paciente, seus sintomas e histria de vida.
O artigo, Neuroses de transferncia: uma sntese, trata sobre a
evoluo da libido numa perspectiva da ontognese filognese,
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Entendo que a limitao procriao, como dever social, atinge a mulher,
mais propriamente, mas tambm ao homem, pois ambos tiveram que enfrentar a
renncia pulsional da satisfao genital. Essa renncia ao sexual promove novos
rearranjos nas vicissitudes pulsionais. A libido desligada do prazer genital
convertida, na histeria, s satisfaes perversas. Ferenczi afirma: todo sintoma
de converso histrica (...) reproduz sempre de um modo ou de outro a funo
genital (Ferenczi, 1924, p. 267). Outro rearranjo pulsional se constitui com
direcionamento da energia desligada da atividade genital s atividades do
pensamento, prprio da neurose obsessiva. Conforme Freud:
A linguagem era para ele magia; seus pensamentos pareciam-lhe
onipotentes; compreendia o mundo atravs do seu prprio eu. a poca da
concepo anmica do mundo e de sua tcnica mgica. Como recompensa pelo
seu poder de proporcionar proteo devida a tantos desamparados, arroga-se
domnio ilimitado sobre eles, defendendo, atravs de sua personalidade, as duas
primeiras normas: sua inviolabilidade e que no pudesse ser negado a ele dispor
das mulheres. No fim dessa poca, a humanidade era dividida em hordas isoladas,
as quais eram dominadas por um homem sbio, forte e brutal, como pai. (Freud,
1987, p. 77)
O aparecimento do tipo grandioso do pai primitivo fundamental para a
conservao da espcie, pois atende ao dever social de limitao da procriao,
j que o nico a dispor das mulheres, bem como, delimita tambm a onipotncia
do pensamento, ao instituir leis inviolveis. Todavia, essas leis fomentam o dio
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dos filhos e esse pai sucumbe nas relaes familiares criadas por ele prprio,
ressuscitando depois como divindade. A ressurreio do pai primitivo como
divindade torna irrefutvel sua presena nos tempos remotos da humanidade. Na
leitura de Srgio de Gouva Franco, Freud situa na origem da humanidade um
complexo de dipo real, um parricdio original, cuja cicatriz ser carregada por
toda histria posterior. As similaridades de Totem e tabu com Atos obsessivos
e prticas religiosas so evidentes (Franco, 2005, p. 160). Esse parricdio
constitui o fantasma que d fora ao complexo de castrao, o qual se torna to
ameaador na neurose obsessiva j que transforma a criativa obsessividade num
rgido sistema de defesa obsedante. De acordo com a fico freudiana, o
parricdio demarca uma nova fase da cultura humana.
Concepo ontogentica
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nosogrfico e etiolgico, vai distinguir e definir na classe de neuroses, uma
entidade clnica especial, que denomina de neurose obsessiva (Freud, 1907).
Nesta psicopatologia, destacam-se os sintomas compulsivos de formao
de idias obsessivas oriundas de um pensar ruminante em face da dvida e dos
escrpulos e, atos obsessivos transformados, muitas vezes, em verdadeiros ri-
tuais, que leva o mestre a estabelecer uma correlao entre estes e a prtica reli-
giosa.
Do ponto de vista da evoluo da libido demarca-se um ponto de fixao na
fase anal, ao qual h uma regresso constante, particularmente no momento de
conflito psquico, que se caracteriza pela ambivalncia na relao objetal. Como
mecanismo de defesa ocorre a dissociao entre o afeto e a representao o que
prprio das neuroses mas, neste caso, h um deslocamento do investimento
libidinal da representao conflitante para outra distante desta, ou pouco
significativa para o sujeito. Pode ocorrer tambm a formao reativa, que implica
num contra-investimento da representao penosa. Do ponto de vista tpico, o
conflito se instala entre o ego e o superego, este se torna extremamente severo
nas suas reivindicaes morais, como herdeiro do complexo edpico.
Embora os traos obsessivos possam ser manifestaes de outras
psicopatologias pois, como Freud adverte e a clnica sustenta, deve-se considerar
a extraordinria diversidade de constelaes psquicas envolvidas, a plasticidade
de todos os processos mentais e a riqueza dos fatores determinantes (Freud,
1913, p. 164); a regresso fase anal muito peculiar dessa neurose. Esse ponto
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Caso clnico
esposa. Tambm, sofre de uma intensa dispnia A voz custava-lhe muito; era
arrancada com nsia, nos intervalos da dispnia (Holanda, 1986, p. 131). Devido
a sua dispnia mantm sempre consigo um aparelho respiratrio que apelida de
bombinha para aliviar-se da falta de ar. Esse sintoma acentua-se cada vez
mais, a ponto torn-lo obsessivo pelas bombinhas. Os sintomas de masturbao
e dispnia levam-no a busca de um tratamento.
Este paciente o filho mais velho dos oito que compem a famlia. Aos 21
anos torna-se arrimo de famlia devido ao falecimento de seu pai. Diante deste fato,
empenha-se sobremaneira para dar conta de seu compromisso familiar: trabalha,
estuda e forma-se em Direito. Profisso que lhe garante dar melhores condies
a seus dependentes, especialmente sua me, a qual tem uma profunda admirao
pelo filho e grande sentimento de posse; o que acentua sua ambivalncia em
relao mesma. s vezes, a maltrata com palavras ferinas e isso o deixa com
um profundo remorso, mas sente que ela o sufoca com seu modo invasivo. Isso
uma das sobredeterminaes de sua dispnia. Antes de sair para o trabalho realiza
um cerimonial que culmina com a constatao de que a bombinha est em sua
pasta. Qualquer ato falho nesse cerimonial causa-lhe grande angstia.
Lembra, em certa sesso, de uma situao na qual pretendia fechar um
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importante negcio, mas quando procura sua caneta na pasta, percebe que
esqueceu a bombinha em casa, imediatamente vm-lhe a dispnia e o contrato no
pode ser assinado, tendo sido socorrido pelo seu cliente, o que o deixou muito
constrangido.
Na anlise freudiana, a morte do pai representa a maior perda na vida de um
homem e, isso pode ser compreendido tanto do ponto de vista da filognese quanto
da ontognese. Para Lus, esse momento de luto lhe muito doloroso e
angustiante, pois ele vivencia seu complexo edpico com muito remorso face ao
terror da fantasia de retorno ao seio materno articulada ao complexo de castrao,
o qual traz a marca da fantasia do parricdio. Sua posio de filho primognito,
que o coloca na condio de arrimo de famlia, acentua defensivamente sua
conscenciosidade. Assume seu encargo com esmero, impondo-se severas
renncias, tipo no poder casar at o momento em que seus irmos possam
assumir a responsabilidade de suas vidas, o que sustentado por sua genitora que
fiscaliza seus relacionamentos amorosos. Essas renncias lhe so sufocantes e,
de modo histrico, convertem-nas em dispnia. Aps intensos conflitos internos
e externos, consegue casar-se com uma mulher to invasiva quanto sua me.
Todavia, a partir desse momento, seus sintomas de dispnia e masturbao
afloram, paralelos acentuada disciplina e progresso profissional. Desenvolve,
ento, uma laboriosa construo de idias e atos obsessivos.
Na transferncia comparece uma criana muito frgil e temerosa, que se
mantm atenta a qualquer movimento do psicanalista em face do discurso
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Referncias
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Resumo
In this work I seek to configure in general terms the characteristics that delimit
the Obsessive Neurosis dynamics in the light of Freuds first instinct theory. In a
Phylogenetic and Ontogenetic view I emphasize two original fantasies responsible for
the subjectivity of the human pathos which are: the fantasy of Returning to Mothers
Breast, resonance of the sexual instinct, as well as, the Castration fantasy originated
from the Parricide, in which, the Self is affected in its Narcisism. Therefore, attached
to these studies are fragments of an Obsessive Neurosis case to think about the display
of these fantasies in this Psychopathological Clinic.
Key words: Original fantasies, phylogenesis, ontogenesis and obsessive neurosis
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