Apresentação - O Sentido Dos Sintomas

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Apresentação sobre texto: o sentido dos sintomas-Conferências Introdutórias à Psicanálise

(1916-1917).

CONTEXTO

 Consiste na reprodução de dois ciclos de palestras proferidas nos invernos de 1915/16


e 1916/17, na Faculdade de Medicina de Viena. Considera o seu público um tanto
hostil e mal informado, de modo que utiliza muita irreverência em sua oratória. O
ciclo faz mais sucesso do que ele previa.
 Manual didático e etapa de desenvolvimento de suas formulações teóricas.
 De acordo com Freud, trata-se de uma obra de introdução à psicanálise, que buscou
sintetizar os temas psicanalíticos principais à época, os quais consistem em
manifestações inconscientes:

1. Os atos falhos
2. Os sonhos
3. Teoria geral das neuroses (seria a segunda parte do livro, segundo roudinesco)

 Freud afirma, em prefácio à edição hebraica de 1930, que faltaram alguns temas
fundamentais, em razão da seu desenvolvimento posterior. Estes temas serão
abordados e aprofundados em outras obras.

1. Decomposição da personalidade em id, eu e supereu (2ª tópica)


2. Modificação na teoria das pulsões
3. Melhor compreensão da origem da consciência moral e do sentimento de culpa.

Psiquiatria da época (olha para o biolólogico, fisiológico, aquilo que é possível aferir pelo olhar)
x psicanálise (dá valor à palavra do paciente). A psiquiatria da época olhava para o sintoma
como um problema unicamente fisiológico ou hereditário, considerando seus portadores
“degenerados” e relegando à escuta papel coadjuvante. Freud faz duras críticas a essa visão,
afirmando que o embasamento para tal consistia em meros julgamentos morais ou juízos de
valor, sem fundamento técnico. Cita Emile Zolá como exemplo.

Assim, irá propor um outro olhar para o sintoma: através do discurso e da escuta do sujeito
que se acessa a história de vida do analisando.

A palavra do paciente passa a ter PROTAGONISMO no tratamento psicanalítico.

 Freud destaca, na introdução ao livro, que no tratamento psicanalítico, a palavra do


paciente adquire fundamental importância, pois é por meio dela que é possível
escutar a realidade psíquica e a história daquele sujeito, a qual fornece pistas do que
fala seu inconsciente e do conflito que o habita, bem como traça uma trama, um fio,
no reconhecimento de afetos deslocados.

“Palavras evocam afetos e constituem o meio universal de que se valem as pessoas


para influenciar umas às outras. Não vamos, pois, subestimar o emprego das palavras
na psicoterapia, e sim nos dar por satisfeitos se pudermos ser ouvintes daquelas
palavras que são trocadas entre o analista e seu paciente” Introdução das
Conferências, Cia das letras, página 22.

Poema Ana Martins Marques: “As vezes sim me ocorre encontrar uma palavra/enganchada
numa lembrança/como uma lâmpada num bocal”.

Ou seja, como já mencionando muitas vezes em aula, A PSICANÁLISE OLHA PARA O SINTOMA
A PARTIR DA HISTÓRIA DE VIDA DO SUJEITO, suas vivências e experiências. Cabe ao analista
traduzi-las e investigá-las.

Freud afirma, em tom provocativo, que a ideia de um sentido para o sintomas não provém
dele, uma vez que outros médicos já haviam pensado na tradução do inconsciente.

BREUER no caso de Anna Ó

Janet com o conceito de Idèes inconscientes

Leuret com o a ideia de que o delírio dos doentes mentais possuiriam uma tradução.

CONCEITOS ABORDADOS:

Recalque: operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente


representações (pensamentos, imagens e recordações) ligadas a uma pulsão. O recalque
produz-se nos casos em que a satisfação contra uma pulsão – suscetível de proporcionar
prazer por si mesma – ameaçaria provocar desprazer relativamente a outras exigências.

O sintoma consiste em uma SOLUÇÃO DE COMPROMISSO: é a solução que o psiquismo


encontra para expressar o conflito psíquico entre os desejos inconscientes e as exigências
defensivas. Há uma deformação (condensação, deslocamento) da representação recalcada
para que ela consiga chegar à consciência. O sintoma é o resultado dessa operação.

Freud afirma no texto que a neurose obsessiva e a histeria são bastante próximas, por
consistirem formas de adoecimento neurótico e possuirem um mecanismo psíquico
semelhante, uma vez que em ambas as situações, há uma operação de separação da
representação do afeto, o qual é deslocado. São formas fundamentais de doença nervosa
neurótica.

HISTERIA:

RECALQUE-CONVERSÃO-DESTINO:CORPO

NEUROSE OBSESSIVA:

RECALQUE- DESLOCAMENTO (cadeias associativas) OU TRANSPOSIÇÃO -DESTINO: IDEIA


SUBSTITUTIVA persistente e sistemática- uma espécie de “doença do pensamento”.

NEUROSE OBSESSIVA: conceito LA planche: “Na forma mais típica, o conflito psíquico exprime-
se por sintomas chamados compulsivos (ideias obsedantes, compulsão à realizar atos
indesejáveis, luta contra esses pensamentos e essas tendências, ritos conjuratórios etc), e por
um modo de pensar caracterizado, particularmente, por ruminação mental, dúvida,
escrúpulos, e que leva a inibições do pensamento e da ação”. Fixação da libido no estágio anal.

-Pensamento obsessivo-atos compulsivo (repetidos à exaustão, por nunca serem


desempenhados de uma forma “correta”)-extrema angústia, sensação de que algo
indeterminado e terrível pode acontecer se ato não se realiza de uma forma ideal.

-Pensamento mágico.

-Ideias, impulsos e ações que se repetem com constância e rigidez. Tais formas, geralmente, se
referem a um conteúdo aparentemente insignificante, em regra associados à rotina do
paciente.

-As ações obsessivas interferem no cotidiano do sujeito, tornando-o extremamente penoso.

-A pessoa tem clareza da situação, porém NÃO CONSEGUE deixar sua obsessão. Não se trata
de um querer.

-pág 346 e 347 grifos.

-Pessoas com senso ético elevado-ou seja-alto grau de censura – caráter anal, pessoas
escrupulosas e controladoras.

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DOIS EXEMPLOS DE NEUROSE OBSESSIVA

CASO 1

-Mulher de 30 anos apresentava seguinte ação obsessiva: muitas vezes ao dia, se deslocava de
seu quarto ao quarto ao lado, se colocava em uma posição específica em relação à mesa que
ficava no centro do cômodo, tocava a sineta para chamar a criada, lhe conferia uma tarefa
qualquer ou nenhuma e voltava ao seu quarto.

-Ao ser perguntada por Freud do porquê de tal ação, ela respondia que nada sabia.

-Conseguiu se recordar da situação de súbito, segundo Freud informa, quando em análise,


pode resolver uma questão de princípios importante (Freud não menciona qual).

-Situação: casou-se com um homem muito mais velho, o qual, na noite de núpcias, se revelara
impotente. E nessa noite, ele caminhou inúmeras vezes de seu quarto ao quarto dela, a fim de
repetir a tentativa, mas sem sucesso. Ele diz irritado: “vou sentir vergonha da criada, quando
ela vier arrumar a cama”. Encontra tinta vermelha no quarto e mancha o lençol para parecer
que o ato sexual houvesse acontecido, porém em lugar errado.

-Interpretação: há um simbolismo no ato obsessivo. A toalha da mesa sobre a qual ela se


postava possuía uma mancha vermelha, a qual era evidenciada para a criada. Freud equipara
cama e lençol à mesa e toalha, as quais simbolizam o casamento (operações de condensação e
deslocamento).Trata-se de uma repetição da cena da noite de núpcias, a qual certamente foi
traumática para a analisanda.
Intenção da cena obsessiva: ponto chave-criada (limiar entre intimidade e mundo social)-a
cena da noite de núpcias é corrigida pelo ato obsessivo. Seria uma maneira de acobertar a
culpa e a vergonha ocasionada pelo acontecimento. Sentimento forjado de perdão e
engrandecimento do marido, talvez encobrir sua frustração com o casamento, sua raiva do
marido por uma vida desprovida de prazer, a fim de manter as aparências sociais. Parece se
tratar de um casamento por conveniência.

O caso acontece na vida adulta da analisanda e não em sua infância.

CASO 2:

-Moça de 19 anos, inteligente e culta, a qual possui sintomas obsessivos, embora na infância
tenha sido uma criança vivaz.

- ATOS OBSESSIVOS: cerimonial patológico noturno longo e complexo, sem o qual ela não
consegue dormir.

-Justificativa racional da paciente: eliminar todos os ruídos que a impediriam de dormir,


explicação que não justifica os atos. Para tal ela:

1) interrompe o funcionamento ou tira de vista todos os relógios que há em seu quarto (do
maior até o relógio de pulso).

2) reúne todos os vasos de uma determinada forma que nenhum deles possa cair e quebrar
durante à noite.

Outras exigências:

-porta do quarto dos pais semiaberta

-rito de organização com os travesseiros. “o travesseiro maior não pode tocar a madeira do
espaldar da cama; o menor, sobre o qual ela pousa a cabeça, precisa ser disposto sobre o
maior de modo a formar um losango; então ela deita a cabeça, exatamente sobre a diagonal
maior do losango”. O edredom de penas precisa ser sacudido de forma a ficar bem alto nos
pés, uma elevação que, depois, ela jamais deixa de afofar para melhor distribuí-la”. Pág 355.

-Tais atos nunca são bem sucedidos, de modo que o cerimonial precisa ser feito repetidas
vezes, e nem ela nem os pais conseguem dormir por longo tempo.

-as interpretações e alusões sugeridas por Freud, a priori, não foram aceitas pela paciente. No
entanto, a reação negativa (possivelmente resistência), aos poucos foi sendo substituídas por
associações e lembranças da própria analisanda, até que ela entendesse as interpretações
como um processo seu. Assim ela consegue chegar ao ponto de abrir mão do custoso
cerimonial, segundo Freud.

-OPERAÇÃO DE CONDENSAÇÃO E DESLOCAMENTO PELA SEGUINTE SIMBOLOGIA:

1)O relógio representaria a genitália feminina-processos menstruais e hormonais regulares e


periódicos. Mas, no caso do tique-taque, este simboliza o prazer sexual (aqui há uma pulsão
que gera muito conflito) que provém do clitóris, o que é confirmado pela paciente ao
mencionar seu embaraço ao acordar repetidas vezes em razão do prazer sexual despertado.
2) Vasos de planta guardam simbologia com os processos da mulher. O medo de serem
quebrados se referem ao medo da noite de núpcias, aos temores relacionados à virgindade.

Prazer sexual/medo e angústia em relação à virgindade e ao contato com o sexo x vergonha,


pudor – deslocamento e condensação a objetos que estão fora de si e podem ser controlados
(o que não é o caso das sensações e emoções relacionadas ao sexo).

Estímulos internos não são controláveis (são administráveis)-estímulos externos símbolos do


desejo são passíveis de uma ilusão de controle.

3)Rirtual com a cama:

TRAVESSEIRO=MÃE

CABECEIRA DA CAMA=PAI

Objetivo-dispô-los de modo que não se toquem.

Aqui o seu intuito é evitar que a relação conjugal entre os pais se consumasse. Também há
uma simbolização de modo a deslocar sua angústia para objetos para os quais tem controle de
separá-los.

Também tenta se colocar no lugar do pai ao deitar no losango. Identifica-se com o pai, como
uma tentativa de manter o controle?

Cerimoniais se relacionam aos desejos sexuais, os quais por ora servem de representação a
ele; por outra, de defesa contra eles.

CONCLUSÕES

-Análise do sintoma com base na singularidade da história do paciente. Página 361.

-Há também o sintomas típicos, comuns a diversos casos, no entanto, é fundamental escutar
no um a um.

-Interpretação histórica relacionada aos sintomas comuns: lavar-se diversas vezes (neurose
obsessiva); medo de locais fechados ou muito abertos (neurose de angústia). Freud afirma que
o pano de fundo pode ser o mesmo, mas as condições individuais são essenciais. Como se cada
trem diferente passasse pelos mesmos trilhos.

Seria possível supor que esse pano de fundo comum estaria relacionado à cultura, às nossas
heranças culturais, históricas e ancestrais enquanto civilização?

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