1) Platão acreditava que o conhecimento é inato e que aprender é recordar verdades que já existem em nós;
2) Ele usou o diálogo entre Sócrates e um escravo para mostrar como o conhecimento pode surgir espontaneamente através de perguntas;
3) Na República, Platão usa a alegoria de Er para explicar como as almas reencarnam e esquecem seu conhecimento prévio ao nascer.
1) Platão acreditava que o conhecimento é inato e que aprender é recordar verdades que já existem em nós;
2) Ele usou o diálogo entre Sócrates e um escravo para mostrar como o conhecimento pode surgir espontaneamente através de perguntas;
3) Na República, Platão usa a alegoria de Er para explicar como as almas reencarnam e esquecem seu conhecimento prévio ao nascer.
1) Platão acreditava que o conhecimento é inato e que aprender é recordar verdades que já existem em nós;
2) Ele usou o diálogo entre Sócrates e um escravo para mostrar como o conhecimento pode surgir espontaneamente através de perguntas;
3) Na República, Platão usa a alegoria de Er para explicar como as almas reencarnam e esquecem seu conhecimento prévio ao nascer.
1) Platão acreditava que o conhecimento é inato e que aprender é recordar verdades que já existem em nós;
2) Ele usou o diálogo entre Sócrates e um escravo para mostrar como o conhecimento pode surgir espontaneamente através de perguntas;
3) Na República, Platão usa a alegoria de Er para explicar como as almas reencarnam e esquecem seu conhecimento prévio ao nascer.
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Plato e o
Conhecimento Inato 22 DE AGOSTO DE 2015
Segundo Plato, conhecer recordar verdades que j
existem em ns teoria que pode ser atestada sempre que nos deixamos guiar pela voz do inconsciente.
Aprender descobrir aquilo que voc j sabe. Fazer
demonstrar que voc o sabe. Ensinar lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto voc. Essa mxima, extrada do livro Iluses, de Richard Bach, sintetiza o inatismo de Plato, doutrina filosfica segundo a qual aprendemos devido a um processo natural de descobertas, capaz de desentranhar conhecimentos racionais e idias verdadeiras que se encontram, a priori, latentes, guardados em nosso mundo interior.
Plato nasceu em 428-7 a.C., na cidade-estado de Atenas,
onde viveu a poca de seu apogeu poltico. Por volta dos 40 anos, o mais importante discpulo de Scrates fundou sua Academia, dirigindo-a at o fim de seus dias, em 348-7 a.C. Um de seus clebres pupilos foi Aristteles, que aos 18 anos ingressou na Academia, bebendo da fonte platnica durante as ltimas duas dcadas de vida de seu mestre. A Academia estenderia seu funcionamento por 900 anos, at hoje a mais longa existncia registrada na histria das instituies educacionais do Ocidente.
Nascido em bero abastado, numa famlia que detinha
importantes relacionamentos polticos, Plato, aps cumprir o servio militar, pde aventurar-se pela Magna Grcia. Alm de conhecer Euclides em Megara e estudar a matemtica de Teodoro em Cirene, estendeu viagem ao Egito, inspirado pelos passos esotricos de Pitgoras. Ao retornar a Atenas, j tendo escolhido o caminho da ascese espiritual, dedicou-se poesia, ao teatro e leitura dos textos clssicos. Aproximou-se dos filsofos e, aos 25 anos, conheceu Scrates. Acercou-se dele intensamente e com profunda admirao, permitindo que em seu esprito se processasse uma revoluo completa ao longo dos trs anos seguintes, os quais antecederam a condenao de Scrates morte por cicuta.
Plato recebeu notvel influncia dos grandes pensadores
de sua poca e soube sintetizar magistralmente suas doutrinas num sistema prprio de compreenso do homem e do universo. De Pitgoras herdou, por exemplo, a vocao para a pedagogia, o amor pela matemtica e pela msica, assim como o carter transcendente de sua teoria das idias e os alicerces rficos de sua filosofia, caso da crena na imortalidade da alma, na metempsicose (teoria que aceita a passagem da alma de um corpo para o outro) e na existncia do outro mundo.
De Herclito aceitou a idia de que tudo mudana nesta
vida, ao menos neste mundo sensvel em que vivemos, cercados de iluses e aparncias da verdade, onde nada permanente. De Parmnides assimilou a crena numa realidade perene e atemporal. Plato situou essa realidade em seu mundo inteligvel, distinto deste, compreendendo que, para alm das realidades ilusrias, a alma (o ser) una, imutvel e permanente. De Scrates absorveu o costume de refletir sobre o homem e seus problemas ticos, e apreendeu uma conduta impecvel. Dele ainda recebeu a maiutica (arte de dar luz a verdade por meio de seguidas perguntas), instrumento valioso para a tese do inatismo. Tal teoria, de que todo conhecimento reminiscncia, assumiu melhores passagens em dois de seus 29 livros: Fdon e Mnon. Neste ltimo dilogo, Scrates, personagem central do livro, interpela um jovem escravo sem estudos e se pe a fazer- lhe perguntas de crescente complexidade sobre geometria. Por meio de questes precisas, o filsofo extrai respostas claras do rapaz, que consegue espontaneamente resolver um clculo de rea, razoavelmente difcil para algum ignorante. Ou seja, conforme Scrates vai dialogando com o escravo no sentido de faz-lo raciocinar corretamente, as verdades matemticas vo surgindo na sua mente. Tanto no Fdon quanto no Mnon, chega-se concluso de que o conhecimento da alma provm de existncias anteriores.
Na Repblica (Livro X), Plato procura fundamentar a teoria
da reminiscncia por meio da alegoria de Er, um pastor da Panflia que, morto em batalha, aps dez dias encontrado com seu corpo intacto entre centenas de cadveres putrefatos. Levado para casa a fim de que se cumprissem os ritos funerrios, j estendido sobre a pira de cremao, no dcimo segundo dia aps sua morte, Er acorda, levanta- se e pe-se a narrar o que viu no alm. O pastor havia estado entre os juzes que separavam as almas boas das ruins, dando-lhes as sentenas conforme haviam vivido seus dias encarnados.
E estivera entre almas de sbios, heris, antepassados e
amigos. Os juzes o haviam escolhido para que, vendo e ouvindo tudo o que ali se passava, pudesse retornar Terra e contar aos homens o destino que nos reserva o alm. Er aprende que as almas renascem indefinidamente para purificar-se de seus erros passados at que no mais precisem reencarnar, quando ento passam a residir na eternidade. Compreende ainda que a morte, mero intervalo entre as existncias terrenas, o perodo em que as almas podem contemplar o conhecimento verdadeiro e ao menos vislumbrar o mundo perfeito das idias, proposto pela teoria de Plato. Antes de regressarem nova encarnao, porm, cabe s almas escolherem o que desejam experimentar entre uma infinidade de sortes ou modelos de vida, que lhes so apresentados por Lquesis, uma das trs deusas do destino. H vidas de rei, de guerreiro, de artista, de escravo etc., todas disposio para que sejam tomadas conforme as necessidades compensatrias do futuro aprendizado. As almas devem ainda escolher seu prximo sexo e local de nascimento, e se querem retornar feito mineral, vegetal, animal ou ser humano. Em seu caminho de volta, porm, elas atravessam vasta plancie desrtica, sob calor abrasador, que as fora beber das guas de Leth (esquecimento em grego), o rio da despreocupao. Quanto mais bebem, mais esquecem suas vidas anteriores, at que sejam encaminhadas ao local escolhido para o novo nascimento.
Plato se vale dessa metfora (que at hoje influencia o
kardecismo, o rosacrucionismo e vrias outras correntes religiosas) para explicar como o conhecimento pode preexistir de modo latente em nossas almas, fadados que estamos a viver esquecidos de nosso carter divino e das verdades puras contempladas.
Concordamos, porm, com Bertrand Russel (1872-1970),
que diz que o argumento platnico de nada vale se aplicado ao conhecimento emprico. O rapaz escravo no saberia recordar nem mesmo com ajuda da induo de Scrates quando se deu, por exemplo, a construo das pirmides, ou o cerco Tria. Contra a teoria da reminiscncia, considere-se ainda qualquer descoberta no campo cientfico, como a disseminao de doenas por meio de microorganismos atestada pelas experincias de Pasteur. Um completo ignorante dificilmente chegaria a essas concluses se levado a pensar no problema pelo mtodo de perguntas e respostas.
Somente o conhecimento que se denomina apriorstico,
inato como as intuies lgicas e matemticas -, que pode existir dentro de ns sem qualquer prvia experincia. De fato, o conhecimento a priori o nico que Plato admite como verdadeiro, alm das revelaes msticas s quais nossas almas esto sempre sujeitas.
Independentemente da crena na reencarnao professada
pelo filsofo, podemos indagar: de onde teria vindo o saber do escravo se este no tivesse nascido j dotado dos princpios da racionalidade? O inatismo de Plato aqui se atesta: conhecer recordar a verdade que j trazemos em ns, inerente ao aparato racional e intuitivo de que somos desde o nascimento dotados. Nesse sentido, aprender mesmo descobrir o que j sabemos.
Aos defensores do inatismo, como vimos, contrapem-se
os empiristas, que afirmam que a verdade e a razo s podem ser adquiridas por meio da experincia. O empirismo entende a razo como uma folha em branco, ou uma tbua rasa, sobre a qual vo sendo gravadas as experincias de vida que agregam contedo a nosso saber. Freud, por exemplo, enxergava dessa forma nosso mundo inconsciente. A essa viso reducionista da psicanlise contraps-se Jung, para quem o inconsciente no somente dinmico, mas dotado de autonomia prpria, estando ligado fonte original do saber inconsciente universal. Sendo assim, ele capaz de nos antecipar verdades que em tempo oportuno se tornaro conscientes, ou de nos levar a passar por experincias significativas, necessrias nossa evoluo pessoal, que Jung chamou de sincronicidades. Portanto, no que se refere sua maneira de compreender o psiquismo, poderamos dizer que a psicologia analtica de natureza iminentemente platnica, j que valoriza as percepes intuitivas em detrimento do saber estritamente racional.
Cumpre lembrar que a histria das descobertas (mesmo as
cientficas) est repleta de casos assim. O qumico Friedrich Kekul, por exemplo, adormeceu em frente de sua lareira, sonhou com uma serpente que mordia o prprio rabo e despertou com a exata noo de que o anel de benzeno tinha estrutura espacial hexagonal fechada em si mesma, o que lhe resolveu um problema que o atormentava havia anos. Famosa tambm a histria do fsico Isaac Newton, que teria derivado a equao da gravitao universal num insight que lhe ocorreu ao observar a queda de mas maduras no pomar de Woolsthorpe, onde ele costumava passar suas tardes orando e meditando. Mozart tambm contou com humor que os temas de suas peas eram-lhe antecipados em sonho, sempre mais sublimes do que ele conseguia compor depois!
Gnios iluminados parte, nossa vida cotidiana acha-se
igualmente tomada de exemplos de descobertas espontneas pessoais. Basta conferir nossa histria biogrfica, ou mesmo perguntar aos amigos sobre isso. No resta dvida: sempre que nos deixamos levar pelas vozes do inconsciente, descobrimos coisas novas, encontramos verdades escondidas, percebemos virtudes e potenciais a serem trabalhados. Admitindo primeiramente nossa virtual ignorncia, e buscando intuitivamente por nossos caminhos, estamos exercitando a nobre arte que une a filosofia ao misticismo em favor do autoconhecimento. Importa, sobretudo, abrir nossos canais s lies dos verdadeiros mestres que habitam esferas transcendentes de nossa realidade interior. Conhecermo-nos a ns mesmos , pois, nossa humilde obrigao, s assim descobriremos os segredos dos deuses e dos homens. Ao menos o que nos quer ensinar a grande mxima, que repercute a nos lembrar que ningum melhor por saber muito, seno que aprendemos descobrindo que sabemos tanto quanto os outros um quase nada diante dos mistrios realmente imponderveis.