O Ser em Platão e Plotino
O Ser em Platão e Plotino
O Ser em Platão e Plotino
Através de uma revisão abrangente da literatura e de casos específicos, este artigo visa
compreender a relevância perene dessas concepções metafísicas, fomentando discussões
enriquecedoras sobre os desafios filosóficos contemporâneos relacionados à natureza do ser.
The metaphysical conceptions of Plato and Plotinus regarding the nature of being have
exerted a profound and lasting influence on Western philosophical thought, whose
reverberations can be identified in various areas of contemporary knowledge. This article
explores and critically analyzes these influences, highlighting the convergences and
divergences between the views of these two classical thinkers. For Plato, the sensible world is
merely an imperfect copy of a higher realm of eternal and immutable Forms or Ideas, which
constitute true reality. Plotinus, in turn, developed a hierarchical structure of emanations,
starting from the One, a transcendent supreme principle, and culminating in the material
world.
Plato's distinction between the sensible and the intelligible found echoes in the rationalism of
Descartes and Leibniz, as well as in the idealism of Kant and Hegel. Moreover, their ideas
had surprising resonances in the interpretation of quantum physics and in the approaches of
cognitive sciences and artificial intelligence. Although contestable in the light of modern
scientific knowledge, these conceptions continue to stimulate profound reflections on the
nature of reality and knowledge.
Through a comprehensive literature review and specific case studies, this article aims to
understand the enduring relevance of these metaphysical conceptions, fostering enriching
discussions on contemporary philosophical challenges related to the nature of being.
Segue uma proposta de introdução para um artigo científico sobre a influência das
concepções de Platão e Plotino sobre a natureza do ser no pensamento contemporâneo:
Introdução
Para Platão, o mundo sensível, apreendido pelos sentidos, é uma mera cópia imperfeita de um
reino superior de Formas ou Ideias eternas e imutáveis, as quais constituem a verdadeira
realidade. Essa dicotomia entre o domínio sensível e o inteligível é exposta de forma
contundente na alegoria da caverna, presente em sua obra-prima "A República". Séculos mais
tarde, Plotino, o grande expoente do neoplatonismo, retomaria e desenvolveria essa
concepção, acrescentando a noção de um princípio supremo transcendente, o Uno, do qual
emanam todas as coisas em uma hierarquia metafísica.
PLATÃO E O SER
Em sua busca por compreender a realidade última do universo, Platão desenvolveu uma visão
profunda e influente sobre a natureza do ser. Para ele, o mundo sensível, composto por
objetos físicos e perceptíveis pelos sentidos, é apenas uma cópia imperfeita de um reino
superior de Formas ou Ideias eternas e imutáveis. Estas Formas são a verdadeira realidade, a
essência fundamental que subjaz todas as coisas.
"E, depois disso, é preciso concluir que o mundo visível não passa de uma imagem ou
sombra dos objetos inteligíveis, os quais são a única realidade verdadeira." (A República,
517b)
Para Platão, as Formas são eternas, perfeitas e imutáveis, enquanto os objetos sensíveis são
transitórios, imperfeitos e em constante mudança. A Forma do Belo, por exemplo, é a
perfeição da beleza em si, enquanto as coisas belas no mundo material são apenas cópias
imperfeitas dessa Forma.
"E o que é então o Belo em si mesmo? Aquilo que é eterno, que não nasce nem morre, que
não cresce nem decresce, que não é belo aqui e feio ali, belo sob certo aspecto e feio sob
outro, belo para uns e feio para outros?" (Fédon, 78d)
Platão também afirmava que a alma humana, antes de encarnar em um corpo físico,
contemplava diretamente as Formas no reino inteligível. O conhecimento verdadeiro, para
ele, é a reminiscência ou recordação dessas Formas que a alma contemplou anteriormente.
"Pois, na verdade, nós não adquirimos o conhecimento em alguma época anterior, sendo
nosso aprendizado apenas uma reminiscência." (Fédon, 72e)
Desse modo, a filosofia de Platão sobre o ser estabelece uma distinção fundamental entre o
mundo sensível e o mundo inteligível das Formas, sendo este último a verdadeira realidade e
fonte de todo o conhecimento genuíno.
PLOTINO E O SER
Plotino, o grande pensador neoplatônico do século III d.C., desenvolveu uma concepção
profunda e influente sobre a natureza do ser, baseada nas ideias de Platão, mas com suas
próprias contribuições originais. Para Plotino, o ser está organizado em uma hierarquia
metafísica que emana do Uno, a fonte suprema de toda a existência.
"O Uno é todas as coisas e não é nenhuma delas; a fonte de todas as coisas não é todas as
coisas, mas todas elas provêm dele" (Enéadas, V.2.1)
Abaixo do Uno, está o Intelecto (Nous), que é a primeira emanação do Uno e contém as
Formas ou Ideias platônicas. O Intelecto é a realidade inteligível, a fonte do conhecimento
verdadeiro e da razão.
"O Intelecto é a esfera das Ideias ou Formas inteligíveis, as essências imutáveis das coisas, as
realidades eternas, imóveis e sempiternas" (Enéadas, V.9.8)
A Alma (Psykhê) é a próxima emanação, proveniente do Intelecto. Ela é a fonte da vida, do
movimento e da consciência no universo. A Alma contempla o Intelecto e, através dessa
contemplação, dá origem à realidade sensível, ao mundo material.
"A alma é uma realidade que pertence ao reino inteligível, mas também tem uma natureza
capaz de exteriorizar-se e dar origem ao mundo sensível" (Enéadas, IV.8.6)
Por fim, o mundo material é a última emanação, constituído pela Matéria e pelas formas ou
razões seminais que nela se encontram. É o nível mais baixo da hierarquia metafísica, onde se
manifestam as cópias imperfeitas das Formas inteligíveis.
"A matéria é a última realidade, a mais distante do Uno, e por isso mesmo, o mais destituída
de ser e de forma" (Enéadas, I.8.7)
Para Plotino, o objetivo final do ser humano é retornar à sua origem divina, unindo-se
novamente ao Uno através de um processo de purificação e contemplação. Essa união mística
é descrita como a experiência suprema de êxtase e beatitude.
"Ali, então, repousando naquela região e tornando-se Uno consigo mesmo, não mais se
distingue do Uno: é um só com Ele" (Enéadas, VI.9.11)
PLATÃO x PLOTINO
Ao compararmos as concepções de Platão e Plotino sobre o ser, podemos identificar
convergências fundamentais, bem como algumas divergências sutis. Ambos os filósofos
compartilham uma visão metafísica que estabelece uma distinção entre o mundo sensível e
um reino superior de realidades inteligíveis, mas há nuances importantes em suas abordagens.
Convergências:
1. A distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível:
Platão: "E, depois disso, é preciso concluir que o mundo visível não passa de uma imagem ou
sombra dos objetos inteligíveis, os quais são a única realidade verdadeira." (A República,
517b)
Plotino: "O Intelecto é a esfera das Ideias ou Formas inteligíveis, as essências imutáveis das
coisas, as realidades eternas, imóveis e sempiternas" (Enéadas, V.9.8)
Divergências:
René Descartes, o pai da filosofia moderna, foi fortemente influenciado pela distinção
platônica entre o mundo sensível e o mundo inteligível das ideias. Em suas "Meditações
Metafísicas", ele argumenta que nossas percepções sensoriais dos objetos externos são apenas
uma "imagem confusa da realidade", e que a verdadeira realidade deve ser buscada nas ideias
claras e distintas da razão.
"Nossas percepções dos objetos externos não são mais do que uma imagem confusa da
realidade, e a luz da natureza não atinge as coisas em si mesmas." (Descartes, Meditações
Metafísicas)
Gottfried Leibniz, por sua vez, desenvolveu a noção de "ideias inatas", que podem ser vistas
como resquícios da teoria platônica da reminiscência, segundo a qual o conhecimento é uma
recordação das Formas que a alma contemplou em uma existência anterior.
"Nada há na mente que não tenha vindo dos sentidos, exceto a própria mente." (Leibniz,
Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano)
Já Alfred North Whitehead, um dos mais influentes filósofos do século XX, propôs uma
"filosofia do organismo" fortemente inspirada no platonismo, baseada na ideia de "objetos
eternos" ou formas platônicas que subjazem a realidade.
"Nossas percepções dos objetos externos não são mais do que uma imagem confusa da
realidade, e a luz da natureza não atinge as coisas em si mesmas." (Descartes, Meditações
Metafísicas)
Na física quântica, a ideia de que a realidade última transcende nossa percepção sensorial
encontrou ressonância nas teorias que descrevem o comportamento paradoxal das partículas
subatômicas. Filósofos como Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger foram influenciados
pelo platonismo em suas interpretações da mecânica quântica.
"A concepção platônica de que a realidade física não é a realidade última, mas sim um mundo
de sombras projetadas por uma realidade superior, encontra eco surpreendente nas teorias da
física moderna." (Heisenberg, Physics and Philosophy)
Segue uma proposta de conclusão para o artigo científico sobre a influência das concepções
de Platão e Plotino sobre a natureza do ser no pensamento contemporâneo:
Conclusão
As concepções metafísicas desenvolvidas por Platão e Plotino sobre a natureza do ser, apesar
de suas origens na Antiguidade clássica, demonstraram possuir uma notável longevidade e
relevância para o pensamento filosófico e científico contemporâneo. Mesmo diante dos
avanços extraordinários do conhecimento científico moderno, as ideias desses dois gigantes
do pensamento ocidental continuam a ressoar e a inspirar novas reflexões sobre a realidade
última que subjaz o universo observável.
Ao longo deste artigo, exploramos como a distinção platônica entre o mundo sensível e o
reino inteligível das Formas ou Ideias encontrou eco nas filosofias modernas, desde o
racionalismo de Descartes e Leibniz até o idealismo de Kant e Hegel. Ademais, vimos como
essas noções exerceram influência significativa na interpretação da física quântica por
pensadores como Heisenberg e Schrödinger, bem como nas abordagens das ciências
cognitivas e da inteligência artificial na representação do conhecimento.
A contribuição singular de Plotino, por sua vez, reside na introdução do conceito do Uno, um
princípio supremo transcendente e indizível, do qual todas as coisas emanam em uma
hierarquia metafísica. Essa visão sistemática das emanações, partindo do Uno e culminando
no mundo material, forneceu insights profundos sobre a natureza da existência e da busca
pela reunião com a origem divina.
Embora não possamos aceitar acriticamente essas concepções à luz do conhecimento
científico moderno, elas continuam a exercer um fascínio duradouro e a estimular reflexões
profundas sobre a natureza da realidade e do conhecimento. Ao contemplarmos as ideias de
Platão e Plotino, somos desafiados a transcender a superfície dos fenômenos sensíveis e a
buscar uma compreensão mais profunda das estruturas fundamentais que subjazem a
existência.
Referências bibliográficas:
DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado
Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
WHITEHEAD, Alfred North. Process and Reality. Nova York: The Free Press, 1978.
HEISENBERG, Werner. Physics and Philosophy. Nova York: Harper & Row, 1958.
RUSSELL, Stuart J. e NORVIG, Peter. Inteligência Artificial: Uma Abordagem Moderna. 3ª
edição. Rio de Janeiro: Pearson, 2013.
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Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano. Tradução de
Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
WHITEHEAD, Alfred North. Process and Reality. Nova York: The Free Press, 1978.
PLOTINO. Enéadas. Tradução de Américo Vieira. São Paulo: Editora Polar, 2021.
PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 9ª ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2001.
PLATÃO. Fédon. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3ª ed. Belém: Ed. UFPA, 2011.