Ordenacao Feminina
Ordenacao Feminina
Ordenacao Feminina
Li, com bastante ateno, a entrevista preparada para o Rev. Dr. Waldyr
Carvalho Luz sobre a questo da ordenao feminina para os ofcios
sagrados, instituidos por Deus para a Igreja de Seu Filho Jesus Cristo,
produzida pela Revista Ultimato.
Na entrevista preparada pela Revista Ultimato, Dr. Waldyr, tal como fez na
introduo da traduo para o portugus do livro de Jane Dempsey Douglas,
entende que Jesus, Paulo, os escritores do Antigo e Novo Testamentos
estavam presos ao vezo cultural de seu tempo e que a questo da
exclusividade da ordenao de homens vocacionados no passa de simples
questo de exerccio de poder, matria de cunho puramente cultural. Num
ataque frontal declara que aos espritos mais atilados (como o dele, por
exemplo) a relutncia ordenao de mulheres no estaria bem
escondida, pelo contrrio, escancaradamente manifesta a indisfarvel
cultura machista. Vai alm e diz que o machismo entorpece a conscincia,
embota os sentimentos, degrada a razo. Ataca frontalmente a Bblia, visto
que, segundo ele na Bblia, reconhecidamente, conferem-se ao homem, em
detrimento da mulher, autoridade e mando inquestionveis.
Disse que Jesus aliciou apenas homens, como, alis, era a norma do
mundo contemporneo, para, logo a seguir, afirmar, que, na obra redentora
de Cristo, implanta-se um regime de paridade e equalizao, abolidas as
distines prvias, homem e mulher a fazer jus ao mesmo status em Cristo.
Se aboliu porque aliciou apenas homens? Ele que quebrou tradies
humanas, no quebraria esta?
Qual o qu? Uma coisa Dr. Waldyr um exegeta honesto. Sua resposta a
esta pergunta que estes textos no so passagens pertinentes questo
da ordenao feminina. Ultimato imaginou que Dr. Waldyr fosse cair no
engodo de tomar textos como crux interpetum, ou melhor, textos
norteadores e os outros que neles no se encaixam, descartados. Contudo,
Waldyr no pensa assim. Em qual texto bblico Waldyr se fundamenta para
defender a sua tese quanto a ordenao feminina? Dr. Waldyr entende que a
questo discutvel se Paulo era misgino, ferrenhamente adverso s
mulheres.
1
Waldyr Carvalho Luz na introduo do livro de Jane Dempsey Douglass, Mulheres Liberdade e
Calvino O Ministrio Feminino na Perspectiva Calvinista, traduo de Women, Freedom & Calvin
(Manhumirim MG: Ed. Didaqu, 1995), p. 7.
2
Pape, In Search of Gods Ideal Woman, p. 155.
3
Mollenkott, Women, Men & the Bible, p. 102.
4
Scanzoni e Hardesty, All Were Meant to Be, p. 72.
5
Ibid.
6
Ibid.
validade daquele estudo exegtico que buscava defender a ordenao
feminina com bases nas Escrituras. Contudo, ainda que reconhecesse que a
tese no era defensvel nos fundamentos dos textos no-testamentrios e
nas epstolas paulinas especialmente, Waldyr Luz afirma: eu era favorvel
posio dele esposada com tanto ardor.7 E o era porque assumiu a posio
de uma acomodao cultural.
Waldyr Luz, portanto, se levanta em contraposio tradio histrica
da Igreja da Reforma, conforme ensino de Calvino, tradio que preceitua
que ainda que as Escrituras manifestem sinais claros de sua divina
autoridade e exiba evidncia suficiente de sua origem divina, estas
evidncias no nos persuadiro completamente at, ou a menos, que sejam
elas seladas em nossos coraes pelo testemunho interno do Esprito Santo.
Calvino reconheceu a diferena entre a prova e a persuaso.8 R.C. Sproul
assim o expressa:
Em seu testemunho interno, o Esprito Santo no oferece informaes
secretas novas ou argumentos espertos de outra forma no disponveis
a ns. Pelo contrrio, ele opera em nosso esprito quebrando e
vencendo nossas resistncias para com a verdade de Deus. Ele nos
move a nos rendermos ao claro ensino da Palavra de Deus e receb-lo
com total segurana.9
7
Ibid.
8
Joo Calvino, Institutes of the Christian Religion, traduzido por Henry Beveridge, livro I, 1(Grand
Rapids MI: Wm.B.Eerdmans, 1975) pp.71,72.
9
R.C. Sproul, Essential Truths of the Christian Faith, (Wheaton, IL Tyndale Huse Publishers, Inc.,
1992) pp.113-114.
10
Ibid., Waldir Carvalho Luz, em Mulheres Liberdade e Calvino. p.7.
11
Ibid., p. 8.
12
Ibid.
que o Esprito de Deus 13 , que, ainda que no tenha trazido para o
Apstolo Paulo, que inspirado escreve, a seu tempo, trar reconhecimento
pleno a que a mulher faz jus...14. Assim, Waldyr Luz tem a prova, contudo
falta-lhe a persuaso. Em seu artigo publicado no rgo Oficial da Igreja
Presbiteriana do Brasil, volta a afirmar que o Esprito Santo a seu tempo,
trar o esclarecimento de que precisamos para que caminhemos para uma
reforma na Constituio da Igreja Presbiteriana do Brasil, que promova a
ordenao de mulheres para todos os ofcios da Igreja 15 . Na entrevista
preparada por Ultimato reafirma tal posicionamento.
O que Waldyr Luz faz jogar o Esprito Santo contra o Apstolo Paulo,
e imaginar que hoje possamos ter um conhecimento melhor, ou mais
profundo, que Paulo no obteve do mesmo Esprito. Isto no muito
diferente de um espiritualismo gnstico, sutil e destruidora heresia que
atacou a Igreja Crist no primeiro sculo. Uma das razes bsicas porque
foram chamados gnsticos porque criam que tinham eles acesso a formas
especiais de conhecimentos espirituais, insights divinos para dentro da
verdade espiritual/divina, ento recomendavam eles certos tipos de
comportamento que colidiam, que eram contrrios ao ensino apostlico.
verdade que no temos hoje o gnosticismo tal como se apresentava
no primeiro sculo, mas o gnosticismo est vivo e passa bem e epidmico
na Igreja hoje e particularmente na igreja evanglica contempornea, que
prega que o Esprito Santo hoje haver de dar outras informaes mais
espertas que no tenha dado para os apstolos no primeiro sculo ao
escreverem as Sagradas Escrituras. Estes novos insights e a experincia
pessoal tm sido elevados ao patamar do texto sagrado das Escrituras e
acima dele.
Creio ser urgente resgatarmos posicionamento como o de Spurgeon, o
batista calvinista
A antiga verdade que Calvino, Agostinho e o Apstolo Paulo pregaram
a verdade que eu tambm devo pregar hoje; do contrrio deixaria de ser
fiel minha conscincia e ao meu Deus. No posso remodelar a
verdade, desconheo tal coisa como lapidar uma doutrina bblica. O
evangelho de John Knox o meu evangelho. Aquilo que trovejou por
toda a Esccia precisa trovejar novamente por toda a Inglaterra.
Uma inrcia espiritual nossa inimiga; uma tempestade talvez seja
nossa amiga. A controvrsia talvez provoque o pensamento, e por meio
dele talvez venha a mudana espiritual necessria.16
13
Ibid.
14
Ibid.
15
Waldyr Carvalho Luz, Jornal Brasil Presbiteriano, maio/2000 ano 40 n 546, p.2.
16
C. H. Spurgeon, Sermes de Avivamento. (So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas,
1994), p.153.
Jane Dempsey Douglas autora do livro que Waldyr Carvalho Luz
apresentou na traduo para o portugus, trazido ao mercado editorial pela
Editora Didaqu. Seu livro foi escrito em 1985 e chegou at ns dez anos
depois, em 1995. Jane era ento a presidente da World Alliance of Reformed
Churches (WARC)17.18 Quando ela escreveu o seu livro poderamos afirmar
que seu posicionamento era a de uma feminista-bblica, dissentindo
somente quanto ao papel da mulher na igreja e no casamento. Em 1994,
portanto, cerca de 9 para 10 anos depois que Jane escreveu o seu livro, seu
posicionamento j era bem diferente. Defendia com toda energia e
competncia a ordenao de homossexuais e lsbicas em sua igreja, a
Presbyterian Church USA. Neste ano de 1994 recebeu ela o prmio Mulher
de F do Ano, juntamente com duas outras lsbicas, conhecidas
mundialmente por suas posies. No seu discurso, naquela homenagem,
afirmou: Sonho com o momento que a Igreja (se referia a PCUSA) haver de
dar pleno reconhecimento e pleno status aos pastores e pastoras lsbicas e
gays.
Onde se fundamentou a sua mudana? Na acomodao cultural! Se a
nossa cultura aceita a igualdade de papis de homens e mulheres, tanto na
famlia como na igreja, por que no orden-las? Se nossa cultura aceita a
homossexualidade como uma inclinao moralmente vlida, por que no lhes
reconhecer e conceder o pleno status na sociedade e na igreja? O
parmetro o mesmo!
Waldyr Carvalho Luz, quando do debate onde estivemos na mesma
mesa, defendendo posies antagnicas, afirmou que a ordenao feminina
nada tinha a ver com o movimento feminista. Sua ingenuidade no levou
em conta o que este mesmo movimento produziu na igreja presbiteriana da
outra Amrica. Deixando o parmetro das Escrituras ao afirmar que ela se
prende a uma cultura retrgrada e machista e que se faz necessrio
suplant-la com novas revelaes do E(e)sprito, tudo, a partir deste
pressuposto, to ardorosamente defendido pelo Dr. Waldyr, passa a ser
17
Esta Aliana Mundial de Igrejas Reformadas em alinhamento com o World Council of Churches
(WCC Concilio Mundial de Igrejas) promove uma reflexo sobre o papel da mulher na sociedade e
igreja e este tem sido o seu tema principal nesta ltima dcada.
18
Douglass, Mulheres Liberdade e Calvino.
possvel.
Creio que homens como o Rev. Dr. Waldyr Carvalho Luz tem que ser
honesta e vigorosamente confrontados, porque o assunto que estamos
tratando tem repercusses imensas, que nem mesmo Dr. Luz tem idia. Na
sua ingenuidade, nem ele nem outros, que antes mostravam-se ortodoxos,
fundamentalistas, reformados e bblicos, que agora defendem com tanto
ardor a ordenao feminina, mesmo sem os parmetros das Escrituras, pelo
contrrio, desdenhando delas, precisam acompanhar o que se passa em
outras partes do mundo e ver para onde este movimento tem levado a igreja.
21
Ibid., No livro de Naomi R. Goldenberg, por Publishers Weekly, contracapa.
22
Ibid.
inquestionveis., ento, conforme vaticina Naome: A sociedade que aceitar
um grande nmero de mulheres como lderes religiosas ser to diferente do
mundo bblico que acabar achando o livro irrelevante...23
O veredicto de Naome Goldenberg, que pessoas ingnuas jamais
poderiam aceitar, este:
Ns mulheres haveremos de dar um fim a Deus. Na medida que
tomamos nossas posies no governo, na medicina, nas leis, nos
negcios, nas artes e, finalmente, na religio, ser o fim dele. Ns
mudaremos o mundo de tal maneira que ele no mais se encaixar. ...
Eu me sinto parte de um movimento [feminismo] que haver de desafiar
as religies que tm sido uma fora durante milnios. O que
acontecer a Deus nos seus ltimos anos? eu me questionei. E o qu
ou quem tomar o seu lugar? 24
Mas para C. S. Lewis, foi o prprio Deus que nos ensinou como
devemos nos referir a ele. Dizer que isto no importa dizer da mesma
forma que toda a imagem masculina no inspirada, meramente humana
em origem, ou ainda mais, que embora inspirada, totalmente arbitrria ou
no essencial36
Mas exatamente isto o que as feministas radicais, que chegaram ao
momento lgico de suas argumentaes, afirmam, que o comportamento
masculino no faz parte de algo criado por Deus. Os homens so o que so
porque esto evolutivamente (ou involutivamente) e culturalmente
determinados. Elizabeth Gould Davis, em seu livro The First Sex assim
argumenta. 37
Argumentos deste tipo, so para C. S. Lewis, intolerveis.38 E estes
argumentos segundo ele, no se alinham em favor da ordenao feminina e
sim contra o Cristianismo. Baseado tambm numa viso superficial das
imagens mentais, uma criana que porventura venha a ser ensinada a orar
Me do Cu, ter uma vida religiosa radicalmente diferente de uma criana
Crist.... Os inovadores realmente concluem que o sexo algo superficial,
34
Ibid., Naomi, Changing of the Gods, pp. 10-25.
35
Ibid.
36
Ibid.
37
Elizabeth Gould Davis, The First Sex (Baltimore: Penguin books, 1972).
38
Lewis, God in the Dock. p. 235.
irrelevante para a vida espiritual.39
Uma das finalidades para a qual o sexo foi criado para simbolizar para
ns as coisas escondidas de Deus. Uma das funes do casamento
humano para expressar a natureza da unio entre Cristo e a Igreja.
Ns no temos autoridade de tomar estas figuras vivas que Deus pintou
nas telas de nossa natureza e alter-las como se fossem meras figuras
geomtricas.40
Continua Naome...
Continua Naome...
43
Ibid., p.8.
44
Ibid., p. 9.
religiosa.45