Aulas Vocação 2021

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Vocação e

Espiritualidade
SPB|Primeiro Semestre|2018

UNIDADE 1 – Terminologia
• Vocação e dom natural
• Vocação e dom carismático

Rev. Fábio Bezerra Lima

!
Resenha crítica
Trabalhos acadêmicos
3

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Exigências acadêmicas da disciplina:


1) LEITURA E RESENHA DA OBRA: HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos, SP: Editora Fiel,
2013 (224 pp).
2) REAÇÃO: SPURGEON, C. H. Chamado para o Ministério. PES, (32 pp).
3) PROVA ESCRITA

ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE OS TRABALHOS ACADÊMICOS

1) Quanto à resenha - a confecção da resenha seguirá as seguintes orientações: deve ser feito em computador,
com fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12. As margens seguirão as seguintes medidas: esquerda: 3 cm;
direita: 2 cm; superior: 3 cm; inferior: 2 cm. Espaçamento entre linhas: duplo. Papel A4. Metodologia: 1)
Bibliografia; 2) Tese do autor; 3) Pequeno resumo; 4) Pontos positivos (os pontos que me chamaram a atenção)
5) pontos negativos (pontos de divergência ou de não aceitação); 6) Implicações desta obra para minha vida e
ministério. No máximo 4 páginas.
2) Reação – leitura devocional e anotação do que causou impacto.
3) Quanto à prova escrita – será objetiva, contendo 10 questões sobre todo o material exposto em sala de aula.

BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008.
Vocação 2021
Vocação e
Espiritualidade
SPB|Primeiro Semestre|2021

UNIDADE 1 – Terminologia
• Vocação e dom natural
• Vocação e dom carismático
Como eu sei se Deus está me
chamando para o ministério pastoral?
Considerações iniciais

Vocação é um termo teologicamente mal


entendido. Como diz Valdir R. Steuernagel,
alguns sentem nele apenas cheiro de
espiritualidade (Jesus Cristo, senhorio, propósito e missão, p. 86).

Vocação tem um sentido muito mais abrangente.


Podemos dizer que ela é universal; de alguma
maneira, todo ser humano é vocacionado, em
especial o redimido por Cristo.
Considerações iniciais

Calvino aceitava a vocação como universal:


‘A Escritura usa esta palavra vocação para mostrar
que uma forma de viver não pode ser boa nem
aprovada, a não ser que Deus seja o seu autor. E esta
palavra vocação também quer dizer chamado; e este
chamado implica em que Deus faça sinal com o dedo
e diga a cada um: quero que vivas assim ou assim (O
pensamento econômico e social de Calvino, p. 528).
Os estamentos
Cosmonomia e vocação pastoral
A Filosofia da Ideia Cosmonômica pode ajudar pastores

O pastor deve se afastar da realidade mais ampla que


o cerca e se concentrar exclusivamente nas coisas
relacionadas à religião ou ele pode se enfronhar
diretamente nas diversas áreas da vida humana?

Respostas a estas questões podem ser sugeridas


a partir da Filosofia da Ideia Cosmonômica,
proposta por Herman Dooyeweerd.
Os aspectos modais da
cosmonomia de Dooyeweerd
O princípio do seu pensamento é que tudo está
debaixo da lei de Deus, por isso o nome
original é “Filosofia da Ideia da Lei”. Esta lei de
Deus governa toda a criação, por isso o conceito
cosmonômico (kosmos + nomos) (SCHALKWIJK, op. cit., p. 6.)

Dooyeweerd afirma que cada aspecto do cosmos


possui seu próprio nomos (lei e modus operandi
estabelecidos por Deus criador).
Os aspectos modais da
cosmonomia de Dooyeweerd

Uma das contribuições da cosmonomia de


Dooyeweerd é que ela “evita todo reducionismo”

Exemplos:

O reducionismo de Freud conduz à tirania do


Psíquico.
Os aspectos modais da
cosmonomia de Dooyeweerd
Trabalhando a partir dessa consciência, um pastor
pode ajudar os cristãos a funcionar como
agentes pactuais na sociedade, exercendo
cidadania biblicamente engajada.

Uma vez que tudo o que existe possui um nomos


estabelecido pelo criador, o pastor pode se
envolver com atividades que não sejam
necessariamente intraeclesiásticas.
Os aspectos modais da
cosmonomia de Dooyeweerd
Por outro lado, o governo da igreja exige que o
pastor se dedique à Palavra, aos sacramentos e à
oração (Ef 4.11-16; At 6.4; 1Co 11.23-25).

O pastor relembra cotidianamente as pessoas


sobre “Deus, o reino e o evangelho”.

É desejável que ele não descuide de seu posto


na igreja, enquanto ensina sobre a integração
de tudo o que existe em Cristo.
Os aspectos modais da
cosmonomia de Dooyeweerd

A Filosofia Reformacional diz “não” tanto ao


fanatismo quanto à secularização.

Ela diz “sim” ao cristianismo abrangente e ao


ministério que não abre mão das prioridades
bíblicas.
Aspectos etimológicos

Na literatura neotestamentária, a palavra


vocação tem origens gregas no verbo καλεω e
suas variações (ex.: 1Co 7.18) (o substantivo klêsis e o adjetivo kletós)
(Greek New Testament).

Esses termos quase sempre são empregados


com o sentido de vocação procedente da parte
de Deus. É o Senhor dirigindo-se ao homem,
convocando-o para a salvação e para o
serviço do seu reino.
Aspectos etimológicos

A Teologia Pastoral ou Pragmática nomeia


a Doutrina da Vocação (que estuda os
fundamentos bíblicos do chamado, suas
variadas implicações e a resposta humana) com
o termo técnico Hiperetologia:
(hipereto + logia), procedente do verbo grego
hypereteo, que significa servir, ministrar, ser
útil; ou do substantivo hyperêtes, servo,
auxiliar, assistente, soldado.
Aspectos etimológicos

Klaus Hess diz que hyperêtes tem um significado


original de remador do rei, de onde procede
mais diretamente o sentido de servo, ajudante,
auxiliar (Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, vol. IV, p. 450).

υπερετης é traduzido por palavras e expressões


diversas, tais como servo, oficial de justiça,
guarda, ministro: (Mt 5.25); (Jo 18.18 e 22);(1
Co 4.1).
Hiperetologia, Clesiologia e Eclesiologia

O termo Clesiologia (klêsis + logia) é mais


apropriado do que Hiperetologia para nomear
tecnicamente a teologia da vocação, visto que
Clesiologia provém de klêsis (= vocação, chamado).
Eclesiologia (de ekklesía = igreja, assembléia, povo
chamado por Deus, vocacionado para cumprir os
desígnios divinos no mundo).
O termo Eclesiologia também procede da palavra
klêsis. Clesiologia estudaria a vocação, e Eclesiologia,
a natureza, responsabilidade e missão de um povo
eleito e chamado: a ekklesia.
Conceito de vocação
Definição lingüística. A definição lingüística generaliza a
palavra vocação. Entende-a apenas como um termo da língua
portuguesa que significa chamado, talento, tendência. Para a
Hiperetologia, entretanto, essa definição é secular e restrita.

Definição histórica. A definição histórica acrescenta


elementos relacionados ao emprego da palavra na cultura e nos
costumes mais remotos:

Originalmente o termo se referia, de modo exclusivo, a


uma disposição para a vida sacerdotal e religiosa.
Nesse sentido, vocação significa um chamamento
divino a um gênero de vida que permita dedicação
total às coisas de Deus (Pequena enciclopédia de moral e civismo, 1967).
Conceito de vocação

Definição popular. Em geral, os cristãos


entendem vocação como um chamado especial
para o exercício de uma missão pastoral numa
determinada igreja, ou para uma tarefa
missionária em algum país distante. Alguns julgam
que só pastores e missionários são vocacionados.
Essa opinião talvez seja um reflexo
inconsciente de refugos do monasticismo
do século XV.
Conceito de vocação

Definição teológico-confessional. “Vocação para


o ofício na igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito
Santo, mediante o testemunho interno de uma boa
consciência e a aprovação do povo de Deus por
intermédio de um concílio” (CI/IPB, art. 108).

“Vocação é o chamado de Deus ao homem para


que ele, primeiramente, se torne parte do corpo
de Cristo, que é a igreja, e, em segundo lugar,
para que o sirva em todas as suas relações com
o próximo” (A doutrina da vocação, p. 11).
Vocação - Peculiaridades
Há uma perspectiva mística sobre o “homem de Deus”, o
“ungido”.
Nas palavras de Lutero, “somos, pois, igualmente sacerdotes
espirituais diante de Deus” (LUTERO, Martinho. Sermão a respeito da missa. Obras
Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, v. 2, p. 268) o que, de forma clara,

estabelece o serviço igualitário de todos os santos diante da


grandeza da missão da igreja.
É mister o desenvolvimento de uma eclesiologia bíblica que
resgate a essência do ministério da Palavra e dos
sacramentos, observando o ensino bíblico sobre ofícios, dons
espirituais e o ministério dos crentes no corpo de Cristo.
Vocação - Peculiaridades
Contudo, para Veith, o sacerdócio universal dos crentes
não exclui o oficio pastoral na igreja:
O conceito de “sacerdócio universal” da Reforma não denigre de
forma alguma o oficio pastoral, como geralmente se pensa, nem
ensina que pastores e cooperadores são desnecessários na igreja,
tampouco ensina que cada pessoa pode apresentar sua própria
teologia. Pelo contrário, ela ensina que o oficio pastoral é uma
vocação, um chamado de Deus com sua autoridade, suas
responsabilidades específicas e suas bênçãos (VEITH JR., Gene Edward. Deus em
ação. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 15).

Esse é o primeiro princípio a ser observado dentro da


eclesiologia quanto à vocação: todos os crentes são
sacerdotes diante de Deus; o Senhor concede oficiais à
igreja para pastoreá-la (1Tm 5.17).
Vocação - Peculiaridades
O ministério pastoral é definido a partir da sua origem, Deus é o
iniciador do pastorado, ele é o chamador. Toda capacitação para o
exercício do ministério pastoral tem por fim último a glória de
Deus através do cuidado com os eleitos.

MacArthur definiu a vocação para o ministério pastoral a partir do


chamado de Deus:
Um chamado divino e inigualável, concedido a homens eleitos
por Deus para este trabalho que sentem-se indignos (1Tm
1.12-17) e desqualificados (2Co 3.4-6) para tarefa tão preciosa.
Mas aos separados para o ministério aplica-se o clamor do
apostolo Paulo: “temos, porém, esse tesouro em vasos de barro,
para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós
(MACARTHUR JR., John. Redescobrindo o ministério pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.
85).
Vocação - Peculiaridades
Para Berkhof o poder conferido por Cristo à igreja deveria ser
exercido por oficiais sob delegação do povo, os quais, ao reconhecer
o chamado do Senhor através dos dons, confirmam tais oficiais em
seus postos (BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990, p. 1.289):
Enquanto que Cristo delegou poder à igreja como um todo,
também providenciou para que este poder fosse exercido
ordinária e especificamente por órgãos representativos,
separados para a manutenção da doutrina, do culto e por
voto popular. Isto não significa, porém, que eles recebem a
sua autoridade do povo, pois o chamamento do povo é
apenas a confirmação do chamamento interior feito pelo
Senhor; e é do Senhor que eles recebem a sua autoridade e
a ele são responsáveis.
Vocação - Peculiaridades

H. Richard Niebuhr fornece uma definição clássica da chamada para


o ministério (H. Richard Niebuhr, The Purpose of the Church and Its Ministry (New York: Harper & Bros.,
1956), 64). Ele o descreve como tendo quatro partes:

1) O chamado para ser cristão, que é descrito como o chamado ao


discipulado de Jesus Cristo, para ouvir e cumprir a Palavra de Deus,
para o arrependimento e a fé, etc.
2) O chamado secreto, a saber, aquela persuasão ou experiência
interior pela qual uma pessoa se sente diretamente chamada ou
convidada por Deus para assumir o trabalho do ministério;
Vocação - Peculiaridades

3) O chamado providencial, que é aquele convite e comando para


assumir a obra do ministério que vem por meio da capacitação de
uma pessoa com os talentos necessários para o exercício do ofício e
pela orientação divina de sua vida em todas as suas circunstâncias;
4) A chamada eclesiástica, isto é, a convocação e o convite feito a
um homem por alguma comunidade ou instituição da igreja para se
engajar na obra do ministério.
David Fisher escreveu: “O chamado de Deus para qualquer
forma de ministério vocacional é uma combinação de
convicção sobre a verdade de Deus e preocupação
com as pessoas” (David Fisher, The 21st Century Pastor: A Vision Based on the Ministry of Paul (Grand
Rapids: Zondervan, 1996), 93).
A natureza irresistível do chamado
Um bom conselho: ‘Se puder, evite entrar para o ministério! Se
puder, faça outra coisa!.
‘Eu me senti compelido a fazê-lo e não vi nenhum
outro rumo de vida possível para mim (John Ryle op cit Ser
Pastor, p. 16).

Esse conselho, na verdade é válido para qualquer emprego.


Sempre que possível, devemos gostar do que fazemos.
O ministério demanda muito do homem e de sua família. Assim,
antes de abraçar o ministério, precisa considerar o custo.
Deus não dá chamados incertos!
‘Foi a mão de Deus que me tocou, e me conduziu, e me
separou para esta obra (Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose, p.92).
A natureza irresistível do chamado
De acordo com Howard F. Sugden e Warren Wiersbe (Howard F.
Sugden and Warren W. Wiersbe, When Pastors Wonder How (Chicago: Moody, 1973), 9).

“O trabalho do ministério é muito exigente e difícil para um


homem entrar sem um senso de chamado divino … nada
menos do que um chamado definitivo de Deus poderia dar a
um homem sucesso no ministério.
O chamado é a convicção inconfundível que um indivíduo
possui de que Deus deseja que ele faça uma tarefa específica
(50 Derek Prime & Alistair Begg, On Being a Pastor: Understanding Our Calling and Work (Chicago: Moody

Publishers, 2004), 18).

Pessoas que não são chamadas não deveriam estar no


ministério; mas, as pessoas que são chamadas para o
ministério terão dificuldade em encontrar realização
em qualquer outra coisa.
Provas do chamado
Há sinais óbvios do chamado de um homem ao
ministério:

Ter dons: e usá-los fielmente para administrar a


multiforme graça de Deus (1Pe 4.10-11);

Proferir a Palavra de Deus: não imprimir suas opiniões


sobre as pessoas, mas incutir a Escritura em suas vidas;

Agradar a Deus e não a homens: não buscar ser


‘querido’ pelo povo, mas ser fiel a Deus (1Ts 2.4);

Ser exemplo de vida: ser ‘padrão' (1Tm 4.12).


Um homem chamado

O ministério pastoral não é somente difícil, é algo


impossível.

É um chamado, não uma carreira!

Lutero listou oito qualidades de um homem chamado


(The table talk, p. 234):

1 - Ser capaz de ensinar de forma sistemática;


2 - Eloqüência;
3 - Boa voz;
4 - Boa memória;
Um homem chamado

Lutero listou oito qualidades de um homem chamado:


5 - Saber quando parar de falar;
6 - Estar seguro de sua doutrina;
7 - Estar disposto a arriscar corpo e sangue,
riqueza e honra na obra;
8 - Estar disposto a ser zombado e ridicularizado
por todos.
Um homem chamado

Calvino, distingue dois aspectos do chamado (CALVINO, João,


Institutas, Livro IV, Cap 3, seções 11 e 12):

‘A vocação interior é o bom testemunho de nosso


coração, de que recebemos o ofício outorgado não por
ambição, nem por avareza, nem por qualquer outra
cobiça, mas por sincero temor de Deus. A vocação
exterior tem a igreja por testemunha. Só devem ser
eleitos os que professam a sã doutrina e vivem a vida
santa, que hajam sido dotados dessas capacidades que
serão necessárias para o cumprimento desse ofício.
Um homem chamado
John Newton, observa três indicações do chamado (Letters of
Newton, pp. 545-6):

‘Em primeiro lugar, o chamado ao ministério é


acompanhado de um fervoroso e sincero desejo de ser
empregado nesse serviço. Em segundo lugar, o chamado ao
ministério é acompanhado de certa suficiência competente
quanto aos dons, ao conhecimento e à expressão. Em
terceiro lugar, o chamado ao ministério é acompanhado de
uma abertura correspondente na Providencia, por meio de
uma sequencia gradual de circunstancias apontando os
meios, o tempo e o lugar em que de fato se deve iniciar a
obra.

A chamada externa para o ministério define a chamada


interna e serve como confirmação dela.
Um homem chamado
Warren Wiersbe escreve:

Todo cristão deve tomar decisões vocacionais, é


verdade; mas as decisões do pastor nisso são, creio
eu, as mais críticas. O que ele faz não apenas afeta
sua família, mas também afeta seu próprio
ministério e o bem-estar das igrejas. Erros podem
ser fatais ( Warren Wiersbe in the Forward to Gerald W. Gillaspie. The Restless Pastor (Chicago:
Moody Press, 1974), 7.)
Confirmações do chamado
Raramente Deus chama duas pessoas exatamente da
mesma maneira.

Não podemos padronizar a experiência do chamado.

Porém, é imprescindível saber que você precisa ter um


claro senso do chamado antes de entrar no ministério.

Deus sempre dá um chamado claro para aqueles


que Ele escolheu para o ministério.

O aspirante deve buscar confirmação do chamado em


três aérea: coração, mente e habilidades.
Confirmação do chamado no coração

O homem que é verdadeiramente chamado deseja o


ministério (1Tm 3.1), não entra de má vontade, triste ou
relutante.

Há um forte sentimento no coração de que ou é o


ministério ou é nada.

Por trás do chamado está o coração do homem.

Spurgeon se refere a um ‘desejo intenso e total pela


obra’ (Leitura aos meus alunos, p. 26).

Não é um mero entusiasmo!


Confirmação do chamado na mente

Um chamado genuíno vai além das emoções do


coração, inclui também reflexão e planejamento.

É a avaliação feita pela pessoa que sente chamada


quanto ao custo do ministério.

Muitos ingressam no ministério sem a menor noção do


que estão sendo chamados a fazer.

O chamado no coração e na mente se encaixam na


vocação interna (chamado interior). Eles não são
suficientes!
Confirmação do chamado nas habilidades
Você precisa responder as perguntas:

Será que sou chamado?

Para que sou chamado?

Jim Collins, ‘analogia do ônibus’: o trabalho do líder é


fazer com que as pessoas certas embarquem no
ônibus, as erradas desembarquem e as pessoas
certas estejam nos assentos devidos (COLLINS, Jim, Good to great., p.
13)

Conhecimento prático de toda a Escritura; conhecimentos de


doutrinas; consegue ensinar; sabe servir etc.
Confirmação por meio de outros cristãos
A primeira confirmação do chamado vem quando outros
cristãos reconhecem e examinam o chamado de Deus na
vida de uma pessoa.

Geralmente é no contexto de viver a vida cristã no dia a dia


que vem o chamado de Deus.

Amós, o futuro profeta, era pastor e fazendeiro leigo


quando Deus o chamou (Am 7.14-15).

O reconhecimento informal por outras pessoas que foram


impactadas pelo serviço de um homem ao Senhor, serve
como um alerta inicial de que Deus pode estar chamando-o.
Confirmação por meio de conselheiros
confiáveis
Após o reconhecimento informal por outros, um homem que
está experimentado na liderança, deve explorar mais as
possibilidades do chamado com aqueles de quem está
próximo.

Thomas C. Oden declarou: “Tendo primeiro me envolvido em


tal auto-exame interior, devo então consultar outros a
respeito de sua percepção de meus dons potenciais para o
ministério. De maneira informal, mas sincera, submeterei
minha convicção interna preliminar de um chamado ao
ministério ao julgamento perscrutador de outros em quem
confio” (Thomas C. Oden, Pastoral Theology: Essentials of Ministry (San Francisco: Harper Collins Publishers,
1983), 19.)
Confirmação por meio de uma
congregação local

Uma confirmação adicional da chamada vem quando uma


congregação local reconhece formalmente as habilidades
aparentes do pastor em potencial.

Serve como aprovação de outros cristãos de que


aparentemente há um chamado de Deus para a vida de uma
pessoa.

O reconhecimento público valida e dá credibilidade ao


ministério do pastor.
Confirmação por meio de uma
congregação local

John R. Bisagno concluiu: “Quando Deus nos leva a servir e


nos dá para servir, ele oferece a oportunidade de servir.
Portas abertas e fechadas são importantes para ler a mão de
Deus em nossas vidas. ” (John R. Bisagno, Letters to Timothy: A Handbook for Pastors
(Nashville: Broadman and Holman Publishers, 2001), 35).

As habilidades do ministro correspondem às necessidades da


futura congregação.

O chamado se origina em Deus e a autenticidade da


chamada é confirmada e validada por uma congregação
local.
Confirmação por meio do caráter

Os traços de caráter bíblico são imutáveis e


consistentes para pastores que servem em igrejas de
qualquer tamanho.

O caráter do pastor afeta como ele vive com Deus, se


relaciona com sua família e lidera o rebanho que Deus
lhe confiou.
Confirmação por meio do caráter
A. Caráter no relacionamento com Deus:

O pastor, acima de tudo, deve ser uma pessoa de caráter.

Caráter é definido como “o agregado de características


e traços que formam a natureza individual de uma
pessoa” .

É a natureza abrangente da pessoa.

É o lugar “onde suas crenças se encontram com os


comportamentos” .

A falta de caráter e integridade não pode ser escondida


por muito tempo (Nm 32.23).
Confirmação por meio do caráter
A. Caráter no relacionamento com Deus:

Os padrões bíblicos para o caráter do pastor são delineados em


1Tm 3: 1-7 e Tito 1: 5-9. Esses padrões formam a estrutura
em torno da qual o pastor deve formular sua vida e ministério.

Oswald J. Smith declarou:

“Os homens que ganharam almas e influenciaram outras


vidas para Deus foram os homens que caminharam com
Deus muito acima das massas e, portanto, de uma altitude
de espiritualidade atraíram outros ao seu nível. A única
maneira de ganhar os outros é sermos diferentes nós
mesmos e, assim, atrair por algo que lhes falta e,
prevalecendo com Deus, prevalecer sobre os homens (Oswald
J. Smith, The Man God Uses (London: Marshall, Morgan, and Scott, 1968), 24.)
Confirmação por meio do caráter
Jack Hayford escreveu:

[…] refiro-me a um homem. . . empenhado em se tornar uma


pessoa em crescimento que faz crescer as pessoas, uma pessoa
cuja vida interior se origina de uma fonte eterna, de modo que
sua vida exterior gere o durável (mais frequentemente do que o
colorido) e o confiável (mais frequentemente do que o
inteligente). Assim, a liderança não é definida por dons,
embora os líderes geralmente sejam abençoados com muitos;
não pelo intelecto, embora mesmo os líderes insensatos não
sejam estúpidos; não por oportunidade, visto que verdadeiros
líderes não são produzidos obtendo todas as oportunidades; e
não por seu carisma ou classe. E a liderança nessa categoria não
é determinada por quem vence, mas quem termina - quem
correu de acordo com as regras, ainda estava na linha de
chegada e está pronto para correr novamente em outro dia (Jack
Hayford, The Leading Edge (Lake Mary,Florida: Charisma House, 2001), VIII-IX).
Confirmação por meio do caráter

B. Caráter no relacionamento com sua família

O lar e a vida familiar do pastor não precisam ser perfeitos.

Este não é o padrão

No entanto, sua família deve ser guiada por princípios


biblicamente corretos e servir de modelo para as pessoas
dentro e fora da igreja.

A família do pastor pode ser um incentivo para outras famílias


que buscam seguir o plano de Deus para suas vidas.
Confirmação por meio do caráter
C. Caráter na liderança de seu rebanho

Existem vários traços de caráter nas Escrituras para o pastor


que se encaixam melhor dentro contexto de se relacionar e
liderar o rebanho, o corpo de Cristo.

Esses traços de caráter influenciam a forma como o pastor


interage e lidera o rebanho.

É crucial que o pastor se proteja contra o fracasso moral e a


destruição do caráter.

Seu caráter impacta diretamente o rebanho e sua estabilidade


e crescimento espiritual.
O contexto do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013)

O Pastor deve ser um homem da igreja.


Identificar homens chamados é responsabilidade da igreja local. Se alguém é
chamado para ser pastor, é chamado para amar a igreja!
“[…] pegamos homens que estão na igreja e os mandamos para fora da
igreja, para enviá-los de volta à igreja, a fim de realizarem o ministério
em benefício da igreja” (p. 57).
Os seminários devem trabalhar em parceria com as igrejas locais (p. 60).
Sobre isso comenta Croft:
É muito triste e bastante frequente um jovem passar anos em um seminário e
ficar isolado de qualquer envolvimento com uma igreja local. Depois, ele se forma
e, de algum modo, pensa que um amor pela igreja local virá, de maneira mágica,
junto com o salário que ele aceita de seu primeiro pastorado. Entretanto, um
amor pela igreja local é demonstrado por um compromisso com ela,
reconhecendo que ela é o meio pelo qual Deus está edificando seu reino e
cumprindo seus propósitos no mundo (CROFT, 2010, p. 47-48).
O contexto do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013)

Em 1Pe. 5.2, os pastores são chamados a pastorear o


“rebanho de Deus que há entre vós”.
2Co. 12.15 - gastar-se pela igreja!; At 20.28 - pastorear a
igreja de Deus.
A igreja local é o contexto essencial para o chamado para o
ministério.
No entanto, temos problemas:
Estudos indicam que um pastor não alcança eficácia significativa até
que chegue entre cinco e sete anos de pastorado. Alguns
observadores sugerem dez anos. Quando consideramos que o
pastorado médio dura de três a sete anos, vemos que temos um
problema. A pergunta é: qual é o problema? (p. 59).
O contexto do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013)

Onde está a igreja em seu chamado? (pp. 68-69)


Qual é o seu envolvimento em uma igreja local? Se você
fosse um pastor, seria mais comprometido com a igreja do que
realmente é?;
Sob que circunstancias você se veria deixando uma igreja que
pastoreava?
Qual é o seu grau atual de envolvimento com sua igreja
local?
O ponto essencial: o Chamador ama a igreja. Pastores
devem amar a igreja!
O PASTOR BI-VOCACIONAL

Pastor Bi-vocacional: Alguém que não depende


da igreja como sua única fonte de renda.
Líderes com tempo limitado encontram equilíbrio
entre vida profissional e pessoal, administram
melhor seu tempo e catalisam os membros para o
ministério?
O autor Rick Warren diz que 90% dos membros
não desejam se envolver com o ministério.
Enquanto isso, 10% são ativos. (Rick Warren, The Purpose Driven
Church: Growth Without)Compromising Your Message & Mission, (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1995),
366.).
BI-VOCACIONALIDADE NO AT

McCarty encontra evidências do líder bi-vocacional no


Antigo Testamento. Ele escreve:
Durante o período patriarcal do Antigo Testamento,
não havia sacerdócio organizado entre os
ancestrais do Judaísmo. Os patriarcas serviram
como líderes religiosos para suas famílias e / ou
clã. A história de Abraão levando Isaque montanha
acima para sacrificá-lo em vez de um sacerdote,
portanto, implicava que Abrão era o líder da
adoração (Gênesis 22). (Doran C. McCarty, “Biblical/Historical Background of
Bivocationalism” in Meeting the Challenge of Bivocational Ministry: A Bivocational Reader (Nashville, TN: Seminary
Extension of the Southern Baptist Seminaries, 1996), 17-18.).
BI-VOCACIONALIDADE NO AT
Na verdade, McCarty argumenta que Melquisedeque,
por ser o Rei de Salém, era um líder bi-vocacional
(Doran C. McCarty, “Biblical/Historical Background of Bivocationalism” in Meeting the Challenge of Bivocational Ministry: A
Bivocational Reader (Nashville, TN: Seminary Extension of the Southern Baptist Seminaries, 1996), 17-18.)

Os pregadores batistas viveram e trabalharam exatamente


como seus rebanhos; suas moradias eram pequenas
cabanas com piso de terra e, em vez de estrados de cama,
beliches de mastro revestidos de pele. Eles limparam o
terreno, dividiram os trilhos, plantaram milho e criaram
porcos em igualdade de condições com seus paroquianos.
Embora ele fosse um deles, na medida em que as
condições de vida eram as mesmas e ambos enfrentavam
e suportavam as mesmas dificuldades, a comunidade
esperava que seu pastor bi-vocacional fosse outra coisa (Zane
Allen Mason, Frontiersmen of the Faith (San Antonio, The Navior Company, 1970), 27.
BI-VOCACIONALIDADE NO NT

O apóstolo Paulo não era apenas um pastor bi-


vocacional; ele discutiu este tópico repetidamente em
suas cartas. Lucas confirma o status bi-vocacional de
Paulo, ele escreve:
E, posto que eram do mesmo ofício, passou a morar com
eles e ali trabalhava, pois a profissão deles era fazer
tendas (Atos 18.3).
Terry Dorsett também argumenta que o ministério bi-
vocacional é evidente na Bíblia.
BI-VOCACIONALIDADE NO NT
O apóstolo Paulo não era apenas um pastor bi-
vocacional; ele discutiu este tópico repetidamente em
suas cartas. Lucas confirma o status bi-vocacional de
Paulo, ele escreve:
O Novo Testamento demonstra que o ministério bi-
vocacional era normal para a igreja durante a era do
Novo Testamento. Embora muitos frequentadores de
igrejas do século 21 na América do Norte não entendam
que os pastores bi-vocacionais muitas vezes lideraram as
igrejas do Novo Testamento, isto não muda a realidade da
história (Terry Dorsett, Does the New Testament Teach Bivocational Ministry?, in the Next Generation
Evangelistic Network, accessed June 23, 2020, http://thoughtsfromdrt.blogspot.com/2014/01/does-new-
testament- teach-bivocational.html).
BI-VOCACIONALIDADE E TEMPO

Ministros bivocacionais representam uma grande


porcentagem dos atuais ministros em muitas
denominações.
Se um pastor bi-vocacional com recursos limitados de
tempo não tiver uma maneira eficaz de administra-lo,
isso afetará a qualidade do seu ministério.
Existem pelo menos cinco áreas que demandam o
tempo do ministro bivocacional:
BI-VOCACIONALIDADE E TEMPO

1Seu relacionamento com Deus; 2sua família;


3necessidades ministeriais da igreja; 4demandas de

seu segundo emprego e 5autocuidado.


Também apresenta dificuldades para conectar-se com
a cultura da comunidade.
BI-VOCACIONALIDADE E SEUS
DESAFIOS

Os ministros bivocacionais enfrentam os mesmos


desafios que todos os ministros.
Espera-se que eles estejam preparados para pregar
de dois a três sermões por semana, visitar membros
da igreja, estar disponíveis para aconselhar pessoas
que precisam de ajuda, servir como administradores
da igreja e atender a várias outras expectativas que
variam de igreja para igreja.
BI-VOCACIONALIDADE E SEUS
DESAFIOS
Como líderes, eles serão responsáveis por tomar decisões
que terão impacto de longo prazo na igreja.
Muito do que eles fizerem será feito isoladamente de
outras pessoas.
Poucos pastores colaboram com outros na seleção
dos tópicos do sermão e menos ainda envolvem
outras pessoas na preparação do sermão.
Por causa da expectativa de confidencialidade no
aconselhamento, os pastores acham difícil
compartilhar esse fardo também com outras pessoas.
Qualificações para o pastorado

1Timoteo 4.12-16:
um caráter piedoso (o que um homem deve ser)
conhecimento bíblico (o que um homem deve saber)
habilidades para o ministério (o que um homem deve
ser capaz)
Graça antecedente
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013, pp. 80-81)

A chamada de Deus para um homem produz a graça


indispensável para a piedade exigida:
Deus trabalhada no vocacionado antes do senso de chamada
Veja as exigências de 1Tm 3.2: 2É necessário, portanto, que
o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher,
temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar
Sociedade Bíblica do Brasil. (2003). Almeida Revista e Atualizada, com números de Strong (1Tm 3.2). Sociedade Bíblica do Brasil.

- são pré-condições para ser presbítero e não


resultados. Não são qualidade que devem ser
atingidas mas já presentes.
Alguém pode viver à altura destas qualificações? Sim! A
chamada de Deus produz graça.
ανεπιληπτος

que não pode ser repreendido,


não censurável
‘não deve ser estigmatizado por nenhuma
infâmia que leve a sua autoridade ao
descrédito’ (Calvino, As pastorais, p. 81)
não se trata de ‘faltas comuns’, mas de
‘nódoas escandalosas’ (Calvino, As pastorais, p. 81)
ανεπιληπτος

‘irrepreensível’ não significa perfeito. O foco


está no caráter de um homem que se erra,
admite o erro; se peca, confessa o pecado;
se deve algo, acerta as contas.
é uma qualidade sintética, ou seja, um resumo
das qualidades mencionadas posteriormente.
Portanto, o termo serve de cabeçalho ou título,
englobando todas as demais qualidades de
caráter.
dades de caráter. Estamos diante de uma característica que
aponta para homens de boa reputação escolhidos para ser-
ανεπιληπτος
vir a igreja primitiva no livro de Atos (At 6.3). São homens
cujo caráter é capaz de atrair pessoas à igreja e a Jesus.
Veja o diagrama:

IRREPREENSÍVEL

Homem de uma só mulher


Temperante, sóbrio, modesto
Hospitaleiro
Apto para ensinar
Não dado ao vinho
Etc.
"É natureza de Deus criar algo do
nada; então, aquele que ainda não for
nada não pode ser transformado em
algo nas mãos de Deus.

- Lutero
(MARTIN, Luther, Selected Psalms III, p. 101)
Sinais do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013, pp. 83-93)

Um homem chamado é convertido e sabe disso:


Não seja neófito (1Tm 3.6).
Um homem chamado tem que ser convertido.
Homens imaturos no ministério se tornam um caminho
perigoso.
Sem ser convertido um homem no ministério arruinará
tudo quando passar pelas tentações e provações.
Pode se tornar um profissional religioso não convertido
Sinais do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013, pp. 83-93)

Um homem chamado tem caráter integro


A aspiração sozinha não é suficiente, ele tem de estar unido a um
bom caráter.
O ministério é “uma profissão de caráter” (SWINDOLL, 1994, p. 171):
Falando com franqueza, você até pode ser promíscuo e, apesar disso, ser
um bom neurocirurgião. Você pode trair o seu cônjuge e ter pouco
problema em continuar praticando a advocacia. Aparentemente, não há
nenhum problema em permanecer na política e plagiar. Mas você não pode
fazer essas coisas como ministro do evangelho e continuar desfrutando
das bênçãos do Senhor. Você tem de fazer o que é certo para que tenha
verdadeira integridade. Se você não pode romper com o mal ou acabar
com hábitos que trazem vergonha ao nome de Cristo, por favor, faça um
benefício ao Senhor ( e a nós que estamos no ministério) - desista.

A Bíblia fala mais sobre o que um pastor deve ser do que sobre o
que ele deve fazer.
A VOCAÇÃO NA PERSPECTIVA
BÍBLICA TEOLÓGICO-REFORMADA
1. Uma análise exegética da palavra
vocação no contexto neotestamentário

A palavra vocação a partir de uma análise do grego


bíblico tem a sua origem no verbo καλέω que traz o
sentido de chamar alguém, a fim de que ele possa vir
ou ir a algum lugar.

καλέω - apresenta algumas derivações, tais como no


substantivo kλῆσις (literalmente chamado, vocação e
convite e no adjetivo κλητὸς, convocado ou chamado
(ZODHIATES. The Complete Word Study Dictionary: New Testament)
1. Uma análise exegética da palavra
vocação no contexto neotestamentário

Falando de um modo geral, a palavra e seus cognatos


envolvem: (1) Convite (Mateus 9.13 e 22.3, I Coríntios
10.27; Apocalipse. 19.9), todos usando καλέω, e, em Atos
2.39, προσκαλέω. (2) Designação, com καλέω (Mateus
1.21; 5.9, Atos 14.12, Hebreus 2.11; 11.18) e ἐπικαλέω,
para invocar, recurso (Mateus 10.25; Lucas 22.3, Atos 1.23;
Hebreus 11.16). (3) Invocação, com ἐπικαλέοµαι (Atos
2.21; 7.59, I Coríntios 1.2; II Coríntios 1.23; I Pedro 1.17).
(4) Convocação, com µετακαλέω (Atos 7.14; 10.32)
(ZODHIATES. The Complete Word Study Dictionary: New Testament ).
1. Uma análise exegética da palavra
vocação no contexto neotestamentário
Para César, estes termos são apresentados, em sua
maioria, nas Escrituras Sagradas como sendo uma vocação
que procede da parte de Deus:

É o Senhor dirigindo-se ao homem, convocando-o para


a salvação e para o serviço do seu reino. É o Pai
dizendo em tom soberano (e não apelativo): Venha,
filho! Assim, o sentido original da vocação divina não
soa nas Escrituras como um gentil convite da parte de
Deus misericordioso e amável, ao qual o homem pode
ou não atender, mas como um chamado, uma
convocação, uma intimação irrecusável (CÉSAR. Vocação:
perspectivas bíblicas e teológicas, p. 19).
2. A vocação em seu sentido amplo

Nesta perspectiva a vocação em seu sentido amplo


deve ser entendida como possuindo duas vertentes, a
da justificação para a salvação (interna e eficaz) e a
da exposição da Palavra de Deus que leva a
condenação dos não justificados (vocação externa).
2.1 Vocação externa e eficaz
A vocação externa refere-se à pregação da Palavra de Deus
como sendo estendida a todos os homens. O meio pelo qual
Deus torna o Evangelho conhecido aos incrédulos e aos
eleitos
Essa vocação poderá não ser tida por eficaz, podendo muitas
vezes haver uma rejeição por parte dos homens que ouvem a
pregação do Evangelho
Calvino: “Ora, há a vocação universal, pela qual, mediante a
pregação externa da Palavra Deus convida a si todos
igualmente, ainda aqueles aos quais a propõe como aroma
de morte [2 Co 2.16] e matéria da mais grave condenação
(CALVINO. As Institutas, livro 3, p. 433-434).
2.2 Vocação interna e eficaz
A vocação interna pode ser descrita antes de tudo
como uma vocação salvífica, uma obra realizada pelo
Espírito Santo de Deus que atua diretamente na vida
dos eleitos, tornando-se eficaz para estes.
Vir a Cristo só seria possível com uma intervenção
regeneradora do Pai, de acordo com o Evangelho de
João: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me
enviou, não o trouxer; [...] E serão todos ensinados
por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai
tem ouvido e aprendido, esse vem a mim.” (João
6.44-46).
3. A vocação em seu sentido estrito

A vocação, em seu sentido estrito, pode ser descrita


como tendo duas vertentes:
a vocação para o serviço do Reino de Deus e
a vocação secular que traz o significado de
que todo serviço é um chamado de Deus para o
homem.
3.1 Vocação na família

A família faz parte dos decretos de Deus e constitui


um chamado do Criador para a formação de uma
sociedade, de um convívio íntimo e relacional:

Todos os cristãos – na verdade, todos os seres humanos – foram


chamados por Deus numa família. Nossa própria existência é
proveniente de nossos pais, que nos conceberam e nos trouxeram
ao mundo. Novamente, Deus poderia ter povoado a terra criando
do pó cada pessoa separadamente, mas, em vez disso, ele decidiu
que cada nova vida fosse gerada e cuidada pela família (VEITH JR. Deus
em ação: a vocação em todos os setores da vida, p. 60).
3.2 Vocação no trabalho/profissão

O serviço vocacional não se limita apenas à área


religiosa.
A perda da vocação no mundo moderno e pós-
moderno é indicada pelo fato de que praticamente as
únicas pessoas que falam de ser ‘chamadas por Deus’
são os missionários e pastores de tempo integral.
3.2 Vocação no trabalho/profissão

Um dos maiores legados do Calvinismo à cultura ocidental é uma


nova atitude em relação ao trabalho. Para Calvino o trabalho do
homem é uma vocação de Deus.
E está longe de ser meramente um meio inevitável e um tanto
tedioso de se obter as necessidades básicas da existência, é das
mais louváveis atividades humanas, pois, o trabalho é uma
“bênção de Deus”, e verdadeiramente respeitado e importante
ante seus olhos (BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 520).

Ser “chamado” por Deus não implica em se afastar do mundo,


mas exige engajamento crítico em cada esfera da vida secular. O
trabalho é entendido, assim, como uma atividade profundamente
espiritual, um labor socialmente benéfico.
3.3 Vocação na igreja para o serviço
pastoral

Logo após a vocação para a salvação é possível


perceber que Deus chamou homens para
determinadas tarefas em prol da igreja
Aqueles que presidem ao governo da Igreja, segundo a instituição
de Cristo, são chamados por Paulo [Ef 4.11], primeiro apóstolos; em
seguida, profetas; terceiro evangelistas; quarto pastores;
finalmente, mestres; dos quais apenas os dois último têm função
ordinária na Igreja, os outros três o Senhor suscitou no início de seu
reino, e às vezes ainda suscita, conforme convém à necessidade dos
tempos (CALVINO, As Institutas, edição Clássica, Vol. IV, p. 48).
3.3 Vocação na igreja para o serviço
pastoral
Spurgeon faz menção da importância e responsabilidade
desse ministério concedido por Deus para a atuação na igreja
e diz que tal homem deve ter a consciência e convicção desse
chamado, caso contrário, correrá o risco dessa vocação vir
dele mesmo e não de Deus.
[...] Homem nenhum deve intrometer-se no rebanho como pastor; deve
ter os olhos postos no Sumo Pastor, e esperar Seu sinal e Sua ordem.
Antes que um homem assuma a posição de embaixador de Deus, deve
esperar pelo chamamento do alto. Se não o fizer, mas se lançar às
pressas ao cargo sagrado, o Senhor dirá dele e de outros semelhantes:
“Eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito
nenhum a este povo, diz o Senhor.” (Jer. 23:32) (SPURGEON. Lições aos meus alunos:
Homilética e teologia pastoral, p. 32, v. 2).
3.3 Vocação na igreja para o serviço
pastoral

Calvino afirma:
Para que não se introduzissem temerariamente homens
inquietos e turbulentos a ensinar ou a governar, o que de
outra sorte haveria de acontecer, tomou-se precaução
expressamente a que alguém não assuma para si oficio
público na igreja sem a devida vocação. Portanto, para
que alguém seja considerado verdadeiro ministro da
Igreja, primeiro importa que tenha sido devidamente
chamado (Hb 5.4); então, que responda ao chamado, isto
é, empreenda e desempenhe as funções a si conferidas
(CALVINO. As institutas, livro 4, p. 72).
3.3 Vocação na igreja para o serviço
pastoral

A vocação para MacArthur passa pelo chamamento divino


no qual o homem é chamado especificamente para anunciar
a Palavra de Deus no serviço da igreja, e de maneira
nenhuma estes homens podem deixar que nos seus
corações brotem qualquer tipo de orgulho, pois devem ter a
consciência de que a capacitação para a liderança vem do
Senhor (MACARTHUR JR. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 85).
Assim, a vocação na igreja é um ato exclusivo da parte de
Deus para aqueles que foram eleitos, visando à edificação
do seu povo e a glória do Seu nome.
3.3 Vocação na igreja para o serviço
pastoral
C.H. Spurgeon assevera:
Antes que um homem assuma a posição de embaixador de Deus,
deve esperar pelo chamamento do alto. Ser pastor sem vocação é
como membro professo e batizado sem conversão […] Estando
seguro de sua salvação pessoal, deve investigar quanto à questão
subsequente da sua vocação para o ofício; a primeira é-lhe vital
como cristão, e a segunda lhe é igualmente vital como pastor
(SPURGEON, Lições aos meus alunos, v. 3, p. 23, 24).

Spurgeon enumera em seus ensinos os sinais da vocação celeste,


associado com a aptidão para ensinar e certa medida de outras
qualidades necessárias ao oficio de instrutor público e uma pregação
aceitável pelo povo (SPURGEON, Lições aos meus alunos, v. 3, p. 23, 24)
Normalmente Deus abre as portas da elocução para aqueles que ele
chama para falarem em seu nome.
3.3 Vocação na igreja para o
serviço pastoral
Hodge afirma que a tarefa pastoral envolve, além da
comunicação do Evangelho aos perdidos, a direção dos
cultos solenes, juntamente com a administração dos
sacramentos e aperfeiçoamento de novos oficiais para que
o trabalho da igreja seja desenvolvido corretamente (HODGE.
Teologia Sistemática, p. 1288).

Blaikie, considera seis critérios para avaliar o chamado


pastoral: salvação, desejo de servir, desejo de viver uma
vida dedicada ao serviço, habilidade intelectual, qualidades
físicas e elementos sociais (BLAIKIE, William Gordon, For the work of the ministry.
London: 1896, 18-25).
5. Vocação e desejo

Em I Tm 3:1, Paulo escreve : “se alguém deseja o pastorado,


excelente obra almeja” O termo “deseja”na língua grega é
epithumeo, que tem o significado de “colocar o coração,
ambicionar, desejar”.
Precisa ser observado que o objeto do desejo é a obra, o
serviço, e não a posição ou status.
Um homem verdadeiramente chamado por Deus terá aspiração
pelo sagrado ministério!
6. Metáforas do Pastorado

Em 2Tm 2:1 – 13, o apóstolo Paulo faz uso de três


figuras para ilustrar a natureza da relação entre o
pastor e o ministério do evangelho.
Ele compara o serviço em prol do evangelho às
figuras de um soldado, de um atleta e de um
agricultor.
Vale destacar que esta tríplice figura é utilizada por
Paulo também em I Co 9:6,7,24-27.
6.1) Soldado, entrega total
Ele aqui está dirigindo-se aos pastores da igreja na pessoa de
Timóteo. Sua afirmação tem uma aplicação universal, mas se
adequa especialmente aos ministros da Palavra. Primeiro, que
percebam as coisas que prejudicam seu trabalho,
desvencilhem-se delas e então sigam a Cristo. Em seguida,
que outros também tenham seus olhos abertos, cada um de
per si, para aquilo que os mantêm afastados de Cristo, a fim
de que o nosso Comandante celestial não tenha menos
autoridade sobre nós do a que os homens mortais mantêm
sobre seus soldados que se alistaram ao seu serviço.
(Calvino, As Pastorais. p. 224)
6.2) Atleta, ética nas normas

• O contexto mostra que competir “de acordo com as


regras” tem uma aplicação mais vasta do que a que se
refere à nossa conduta moral.
• Paulo está descrevendo o serviço cristão, não somente a
vida cristã. Parece estar dizendo que os prêmios pelo
serviço dependem da fidelidade.
6.3) Lavrador, sacrifício
• A analogia aqui evoca trabalho árduo. Precisamos nos
lembrar de que Israel era uma sociedade voltada à
agricultura e este trabalho com a terra era um trabalho
pesado, visto que os instrumentos utilizados eram rudes e
modestos.
• Calvino comenta:
• O significado, portanto, é que os trabalhadores não colhem os
frutos enquanto não tiverem labutado arduamente no cultivo da
terra, na semeadura etc. Ora, se os lavradores não se esquivam
do labor que visa a obtenção dos frutos depois de certo tempo, e
se esperam pacientemente pela colheita, quão absurdo seria se
recusássemos o trabalho que Cristo nos impõe, quando temos a
promessa de um galardão infinitamente glorioso!
7. A vocação e o problema das
motivações
Cinco possíveis motivações erradas e egocêntricas que podem
levar alguém ao Ministério:

1) Adquirir estabilidade financeira


2) Status social
3) Necessidade de firmar-se como pessoa
4) Senso de obrigação
5) Falta de opção

Os pastores estão abandonando seus
postos, desviando-se para a direita e para a
esquerda, com freqüência alarmante. Isto
não quer dizer que estejam deixando a
igreja e sendo contratados por alguma
empresa. As congregações ainda pagam
seus salários, o nome deles ainda consta no
boletim dominical e continuam a subir não
púlpito domingo após domingo. O que estão
abandonando é o posto, o chamado.
Prostituíram após outros deuses.Aquilo que
fazem e alegam ser ministério pastoral não
tem a menor relação com as atitudes dos
pastores que fizeram a história nos últimos
vinte séculos.

Eugene Peterson
„„
C.H. Spurgeon

Se um homem perceber, depois
do mais severo exame de si
mesmo, qualquer outro motivo
que a glória de Deus e o bem
das almas em sua busca do
pastorado, melhor que se
afaste dele de uma vez, pois o
Senhor aborrece a entrada de
compradores e vendedores em
seu templo.
Sinais do chamado
(HARVEY, Dave. Eu sou chamado? São José dos Campos. São Paulo: Fiel, 2013, pp. 83-93)

Um homem chamado é um servo


Trabalha onde há necessidade e não somente onde pode
expressar seus dons
Promove o bem da igreja não o seu próprio sucesso
Trabalha com excelência e fidelidade tendo em vista a atenção de
Cristo e não a dos outros
Anda resolutamente pelo caminho do sacrifício e trilha com
cuidado o caminho da promoção.
Deus nos chamou ao serviço. E você não será a excessão!
Referências bibliográficas

1.BOETTNER, Loraine. Catolicismo Romano. São Paulo, SP: Editora Imprensa


Batista Regular. 1985. p. 239
2.Hendriksen, Op Cit., p.305
3.Calvino, As Pastorais. p. 224
4.STOTT, Op. Cit., p. 47
5.CF. Henry Daniel-Rops. A Vida Diária nos Tempos de Jesus. São Paulo, SP:
Ed. Vida Nova, 1986. p.p. 151-154
Referências bibliográficas

1.Jesus Cristo, senhorio, propósito e missão, p. 86.


2.Efésios - introdução e comentário, p. 95.
3.O pensamento econômico e social de Calvino, p. 528.
4. Greek New Testament.
5.Este aspecto é amplamente discutido no capítulo 4.
6.Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, vol. IV, p. 450. 7
Novo dicionário Aurélio de língua portuguesa (1986).
7.Dicionário contemporâneo da língua portuguesa (1968).
8.Pequena enciclopédia de moral e civismo (1967).
9. A doutrina da vocação, p. 24.
10.Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil (CI/IPB, art. 108). 13 Op.
cit., p. 11. Vocabulário de teologia bíblica, p. 1.099-1.102, verbete vocação.

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