Codicologia
Codicologia
Codicologia
A Paleografia foi consagrada por Jean Mabillon (1642-1707), um beneditino francs que, alm
do estudo dessa cincia, dedicou-se Diplomtica e Cronologia. Inicialmente, a principal funo
destes estudos era, digamos, jurdica: servia para provar a autenticidade de documentos, provando,
assim, o direito de uma pessoa sobre determinado patrimnio. Grosso modo, ocupa-se da decifrao e
ordenao de escritos antigos.
Entre o estudo das fontes escritas temos:
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No cabe ao palegrafo somente ler textos; a ele compete igualmente dat-los, estabelecer sua origem e procedncia e
critic-los quanto sua autenticidade, levando em considerao o aspecto grfico dos mesmos. Das cincias auxiliares da
Histria, a Paleografia a mais importante porque ela se dedica ao estudo da escrita sobre material brando, principal
fonte de informao do historiador. In: ACIOLI, V. L. C. A escrita no Brasil Colnia: um guia para leitura de documen-
tos manuscritos. Recife: UFPE/Editora Massangana, 1994, p. 5.
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O documento manuscrito considerado a mola-mestra da Histria. indiscutvel que ele proporciona recursos inesti-
mveis ao historiador, representando o melhor testemunho do passado, fonte direta de informao bsica para o estudo da
Histria. A interpretao do fato histrico depende do conjunto de documentos de que se dispe, do mesmo modo que a
interpretao dos documentos histricos depende do conhecimento paleogrfico do historiador. Para que o documento
seja bem interpretado, necessrio que antes tenha sido bem analisado e criticado sob o ponto de vista paleogrfico. In:
ACIOLI, V. L. C. A escrita no Brasil Colnia: um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: UFPE/Editora
Massangana, 1994, p. 1.
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In: ACIOLI, V. L. C. A escrita no Brasil Colnia: um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: UFPE/
Editora Massangana, 1994, p. 6.
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a) Papirologia: o estudo dos papiros, que foi o suporte para escrita mais utilizado na Antigida-
de. Esta cincia trata da leitura, conservao e interpretao dos papiros;
b) Epigrafia: o estudo da escrita em materiais slidos, como madeira, pedra e metal;
c) Codicologia: o estudo dos documentos manuscritos ou impressos, em pergaminho ou papel,
encadernados em forma de livro (cdice).
A Codicologia tem como objeto de estudo o livro manuscrito ou impresso, mas apresenta
orientaes segundo os objetivos. Interessa ao pesquisador da rea conhecer o quadro terico da
cincia codicolgica e atender finalidade essencial do estudo do cdice, que situ-lo de modo a
entender a transmisso do texto e a sua funcionalidade de leitura, fixando a ateno particularmente em
constituir instrumentos de recuperao do livro e dos fundos de manuscritos.
Alguns tpicos so importantes para a Codicologia:
O pergaminho foi o principal material utilizado para a escrita entre os sculos IX e XII na
Europa. Era feito de pele de animais, tais como o carneiro, bode, bezerro, etc. Seu preparo
teoricamente simples, mas bastante trabalhoso: deixava-se a pele do animal de molho em gua
com cal por aproximadamente trs dias; depois disso, raspava-se a pele para extrair os pelos e
gorduras e, a seguir, para uma raspagem mais refinada, usava-se pedra-pomes; ento, sobre
uma bancada, a pele secava ao sol. A Histria afirma que a origem deste suporte deu-se em
Prgamo, pelo rei Eumnes II, no sculo II a.C. Portanto, a origem do nome pergaminho, deve-
se ao topnimo Prgamo. Diz-se que esta inveno deveu-se proibio do uso do papiro, por
Ptolomeu V, do Egito. No entanto, atualmente, consideramos que o que ocorreu foi um apri-
moramento da tcnica de confeco de suportes para a escrita.
Por volta do sculo X, as peles de animais possuam grande valor comercial e eram elementos
corriqueiros na vida do homem medieval. Havia, naquele perodo, o peliteiro, que possua a
funo de preparar, curtir e vender as peles. No entanto, as peles por eles preparadas no
tinham a finalidade da escrita, mas sim do fabrico de calado e vesturio. Nos sculos XII e XIII
os monges, em seus respectivos mosteiros, eram quem preparavam os pergaminhos para a
escrita. Em perodos de falta de pergaminhos, raspavam-se os livros mais antigos para a
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reutilizao eram os chamados palimpsestos ou opistografia. Com a indicao dos produtos
(tipos de papiro, pergaminho ou papel) produzidos ou utilizados em determinado local e data,
indicando-se como eles eram manipulados, podemos ter uma idia a respeito da economia desta
regio com o devido apoio da Histria.
J o papel, inveno chinesa datada de aproximadamente 100 d.C., chegou Europa por inter-
mdio dos rabes por volta do sculo IX. Apesar de j ser conhecido, passou a ser mais ampla-
mente utilizado a partir do sculo XIV. A utilizao do papel deu-se pela disperso, no sculo
XV, de fbricas pela Europa. O pergaminho, nesta poca, apresentava preo pouco acessvel.
b) Scriptorium: os scriptoria eram os locais de trabalho dos copistas (ou escribas), que tinham,
inicialmente, duas funes principais: a religiosa e a administrativa finalidades judiciais, reais,
fiscais, etc. Apresentava divises definidas de tarefas, cada trabalhador tinha sua funo espec-
fica na composio do cdice: um preparava o suporte da escrita, outro cortava este suporte,
outro definia os limites dos flios e sua justificao (margens), outro trabalhava as capitulares,
outro tratava da iluminura e assim por diante. A cpia era uma ao repetitiva e devia-se agir
com fidelidade mxima ao texto original.
c) Instrumentos da escrita: estilo, clamo, pena: nos primeiros tempos utilizou-se o estilo
stilus ou graphium , que era uma haste de ferro ou mrmore com ponta para traar os caracteres
nas tabuletas. Com o tempo, deu-se a utilizao do clamo calamus que era um pedao de
junco cortado em forma de pena e foi utilizado at o sculo XIII. A pena de pssaro, geralmente
de ganso ou de cisne, tambm foi bastante usada. Elas eram afiladas e talhadas, isto , passavam
por um processo de endurecimento para que atendesse de forma mais adequada finalidade de
servir de instrumento para a escrita. Pelo menos no ocidente peninsular, a pena foi o instrumen-
to de escrita mais usado.
Para a confeco do cdice, o pergaminho era cortado em formato padronizado, os flios eram
atados em conjunto por um lado e formavam os cadernos que, reunidos, formavam o livro, de
modo similar ao utilizado hoje. Geralmente, na primeira pgina de cada um dos cadernos havia
uma assinatura, que at hoje usada para indicar onde deve ser feita a dobra e as margens de
cada uma das folhas para uma posterior organizao dos cadernos para que, finalmente, se
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coloque a capa do livro. A assinatura ou um nmero ou uma letra, ou ainda, um nmero e uma
letra juntos. Vejamos as gravuras abaixo:
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Imagem 03. Exemplo de livro composto de trs
biflios. Neste caso, cada biflio um caderno.
Imagem 04. Exemplo de livro composto por dois cadernos de trs biflios.
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O primeiro livro manuscrito foi confeccionado em data no definida, aproximadamente at o
sculo XV d.C. A partir deste sculo, at aproximadamente 1470, confeccionaram-se os
incunbulos, que deixaram de ser usados, e nos dias atuais temos o livro moderno, impresso.
e) A folha como espao racionalizado: nos primeiros tempos, no havia a concepo de mar-
gens para a escrita como atualmente. Hoje trabalhamos com o contraste do preto no branco,
isto , estudamos as melhores medidas para a mancha, com a finalidade de proporcionarmos
uma melhor fluncia da leitura.
H muito, a margem superior tem sido menor do que a inferior; caso contrrio, parecer que o
texto est cado na folha, criando uma sensao visual no agradvel. No entanto, a margem
inferior deve deixar espao para que o leitor vire a pgina sem tocar no texto, pois se isso
acontecesse, o texto escrito seria deteriorado devido ao manuseio.
f) Incunbulos do latim incunabulu, bero : eram livros publicados antes de 1500. Estes
impressos do final da Idade Mdia tornaram os conhecimentos mais acessveis, evitando o
contato com o manuscrito, o que era raro. Assim como o cdice um antepassado do livro, o
incunbulo um antecessor do livro impresso.
Os Reclames
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HOUAISS, A. Elementos de Bibliologia. So Paulo: HUCITEC/INL/FNPM, 1983, p. 46.
5
BUENO, F. S. Estudos de Filologia Portuguesa. So Paulo: Edio Saraiva, 1954, p.156.
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Imagem 05 Exemplo de reclame no livro
Histria dos feitos recentemente praticados
durante oito anos no Brasil. BARLAEUS,
Gaspar. Amsterdam: 1647. Este exemplar
no est disponvel consulta pblica, pois
encontra-se em tratamento tcnico.
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O codex semelhava-se assim ao livro de hoje; entretanto o livro moderno pode ser de tamanho
reduzido, ao passo que o de pergaminho no era dobrado nem cortado em folhas pequenas, o que
significa que os cdices so livros grandes, in-flio, isto , em folhas, no tamanho da folha.6 Toma-
mos este trecho do Prof. Spina como uma esclarecedora explicao de o porque os livros eram real-
mente maiores que os atuais.
Entretanto, havia outras maneiras de indicar a seqncia dos flios:
a) o sistema de assinaturas: de tradio romana, aparece quase sempre ao incio dos cadernos,
apesar de que, em alguns casos, aparece na ltima pgina;
b) a prpria numerao, como conhecemos atualmente;
c) assinaturas e reclames simultaneamente.
Cabe informar que existem reclames horizontais, reclames verticais e reclames oblquos.7
Porm, o fato de no haver nenhum sistema de ordenao entre as pginas de um texto era
freqente no perodo medieval, pois se afirma que o uso deste elemento tcnico est relacionado com
os costumes dos copistas, que podiam utiliz-lo com certa independncia.
Julgamos que este tema apresenta relevncia, uma vez que acreditamos ser um estratagema mui-
to perspicaz usado nos sculos passados e que seria interessante que ainda hoje existisse, pois, muitas
vezes, durante uma leitura, um espao de silncio ocorre entre a mudana de pgina. Sem mencionar as
possveis implicaes e relaes que os reclames podem ter com diversas ocorrncias atuais, como os
comerciais de rdio e televiso, uma vez que os reclames de TV tambm so artifcios para ocuparmos
um perodo entre um bloco e outro do programa ao qual estamos assistindo ou ouvindo, assim como os
reclames aqui estudados, que tambm no passam de artifcios para ocuparmos o tempo da virada de
um flio para outro.
6
SPINA, S. Introduo Edtica: crtica textual. So Paulo: Ars Poetica/EDUSP, 1994, pp. 34-35.
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DAZ, E. E. R. El uso del reclamo en Espaa (Reinos Occidentales). In: Scriptorium, 53, 1, Bruxelas, 1999, pp. 3-30.
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Bibliografia