Este resumo descreve o livro "Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura" de Hugo Achugar. O livro discute temas como diversidade cultural, identidade e produção fora do Primeiro Mundo sob uma perspectiva política, filosófica, econômica e cultural. Achugar argumenta que os "planetas sem boca" representam os subalternos que não têm voz e são marginalizados.
Este resumo descreve o livro "Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura" de Hugo Achugar. O livro discute temas como diversidade cultural, identidade e produção fora do Primeiro Mundo sob uma perspectiva política, filosófica, econômica e cultural. Achugar argumenta que os "planetas sem boca" representam os subalternos que não têm voz e são marginalizados.
Este resumo descreve o livro "Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura" de Hugo Achugar. O livro discute temas como diversidade cultural, identidade e produção fora do Primeiro Mundo sob uma perspectiva política, filosófica, econômica e cultural. Achugar argumenta que os "planetas sem boca" representam os subalternos que não têm voz e são marginalizados.
Este resumo descreve o livro "Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura" de Hugo Achugar. O livro discute temas como diversidade cultural, identidade e produção fora do Primeiro Mundo sob uma perspectiva política, filosófica, econômica e cultural. Achugar argumenta que os "planetas sem boca" representam os subalternos que não têm voz e são marginalizados.
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275 Resenha
Hugo Achugar Planetas sem boca: escritos
efmeros sobre arte, cultura e literatura. Trad. de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
Waleska Rodrigues de M. Oliveira Martins Professor titular de Literatura Latino-Americana da Universidade de Miami, Hugo Achugar uruguaio, crtico, ensasta e andarilho em seu pensamento. Em Planeta sem bocas Achugar focaliza os principais debates da contemporaneidade como a diversidade cultural, a relao entre local e universal, subalterno e mandatrio, identidade e tradio sob uma perspectiva poltica, filosfica, econmica e cultural. O tema visceral do livro repensar no valor da produo fora do Primeiro Mundo. No entanto, perambular nesses caminhos ainda incertos da compreenso quase que uma sina, um chamado inevitvel para o enfrentamento de si no outro. Acredita-se que vivemos em um momento intersemitico conturbado e privilegiado, em que a certeza momentnea e questionvel, emergindo inmeras possibilidades de interao e integrao entre as diversas culturas e suas formas de expresso. Devemos admitir, enfrentar e resolver conosco mesmo o momento an- gustiante do ter que saber mais e se entender menos. Um tempo em que se vislumbra o poder material ilimitado, o surgimento veloz e surpreendente das tecnologias, as novas maneiras ou mtodos de circulao de bens e ser- vios, a nulidade tendencial dos signos e contedos culturais peculiares. A tendncia, segundo Achugar, de que no se compreenda o momento que se vive e nem o que se est produzindo. Conceitos e concepes so invertidos, subvertidos ou questionados. Entretanto, propor ou discordar de um discur- so homogeneizado (que proclama a morte dos processos nacionais), por exemplo, desemboca, por vezes, em algum tipo de censura, direta ou velada. O sujeito perifrico e marginalizado, que pouco fala ou balbucia, , para o crtico, uma minoria subjugada e subvertida. No entanto, necessrio compreender o lugar a partir de onde se fala, de onde se constri as experi- ncias. Para Achugar, o balbucio uma forma de diferenciao diante dos centros culturais, e que devemos reivindicar o balbucio para que ele seja 276 Resenha escutado, percebido, notado na sua alteridade, naquilo que lhe peculiar, a forma orgulhosa de manifestar a diferena (nosso discurso queer). Os planetas sem boca de Lacan representam o subalterno que no fala, no ouve e no v, ou seja, diante de um discurso monozigtico esse subalterno simplesmente o no-valor, o que deve ser marginalizado. Ouvir o grito do silncio ou ouvir o balbucio dos subjugados, dos sujeitos marginalizados, dos subalternos torna-se um princpio bsico para repensar a questo do latino- americano, partindo do lugar de onde se pensa essa questo, apontando para a condio marginalizada na qual posta a cultura latino-americana. Essa condio perifrica parte integrante desse sujeito, o que o faz ser diferente e nico em seu processo de hibridizao. O lugar da produo de valor, partindo da periferia ou da margem, para a viso hegemnica e antropocntrica do Primeiro Mundo, o lugar da carncia, um lugar que no possui linguagem valorativa, discurso prprio, bocas. As concepes de marginalizado e subalterno exercem a mesma conotao de excludos, os que esto fora dos grandes centros culturais. Nestes casos, seus discursos so sempre proferidos de um centro que fala por eles, em todas as dimenses. Segundo Gayatri Spivak, o subalterno possui como condio primordial o fato de no falar, pois se fala j no o . O subalterno falado pelos outros. Neste sentido, os subalternos, os planetas sem boca, so vistos como anacronismos (do grego anacronisms, que representa um erro de cronologia ou que no est de acordo com a poca). Processos ou sujeitos errneos, fora do lugar, fadados a terem apenas a viso do futuro projetado pela cmera do capitalismo, reproduzindo os textos dados a eles na poca dos colonizadores. preciso retirar as amarras que nos prendem neste cinema ou circo dos hor- rores. Cpias aculturadas? Cpias talvez sim (negar ou afirmar no mais a questo), mas aculturadas, talvez cada dia menos. Falta a academia e a poltica nacional voltarem os olhos para sua produo local e encontrar o devido valor nas suas manifestaes. Estas produes foram ou ainda so atravessadas pela nulidade ou pela indiferena. A apropriao de outras culturas, estruturas e anlises, acriticamente, e pior, repassar o que no nos prprio, mas sim o alheio, torna-se a maneira mais eficaz de prolongar o pensamento e discurso dominante. Por muitas vezes queremos entender mais o outro do que a ns mesmos. Somos heterogneos, deslocados e em perptua mudana. 277 Resenha Uma relao dialtica aceitvel com o Outro proposta pelo modernista irreverente Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofgico (projeto de 1928). O conceito antropofgico assinala para uma rediscusso do local e do universal, uma inverso da hierarquia tradicional, o que possibilita s produes perifricas se expressarem para o outro com o sabor do local. Essa deglutio, essa metfora ritualstica da antropofagia sugere uma pro- duo literria sob a tica da diferena. A cpia torna-se o prprio modelo, assumindo um carter inovador e caracterstico, salvando-nos da chamada angstia da influncia. No entanto, essa proposta no nos salva da questo de como essa cpia trabalhada no local, no nacional. Talvez a proposta que mais nos aproxima de uma relao sem complexo de inferioridade seria a de hibridizao, de Nestor Canclini, depois reto- mada por Homi Bhabha, em O local da cultura. A hibridizao cultural tem sua origem no conceito de hibridizao textual de Bakhtin. A hibridizao e a ideia de culturas hbridas, que de certa maneira se avizinha mais da Amrica Latina do que o conceito de transculturao de Angel Rama, preveem um processo de intercmbio e mescla de culturas em uma troca pacfica. Entretanto, o que percebemos cada vez mais o chamado choque cultural entre as mesmas. Ser que o conceito de hibridizao no d mais conta do processo cultural latino-americano? Ser que a interculturalidade proposta por Canclini daria mais conta das questes assombrosas e por vezes conflituosas da Amrica Latina? Para Achugar, um discurso minoritrio e lngua menor no seriam noes suficientes para pensar no que ocorre na Amrica Latina. As questes que envolvem o sujeito e o discurso latino-americanos passariam pela situacio- nalidade dos receptores e pela produo da cultura de massa. Mas, como manter uma identidade e lealdade s razes na era da globa- lizao e da eliminao das fronteiras geogrficas e polticas? A ideologia dominante internacional endossa, apoia e apresenta o processo organizacio- nal da globalizao como sinnimo de progresso, uma construo benfica de um mundo s. Podemos entender esse enunciado ambguo como um mundo isolado ou homogneo. Porm, o que percebemos uma realidade bem diferente e uma dinmica perversa de um sistema econmico que induz polarizao. H uma angstia, uma necessidade imposta por esse processo ps-moderno e industrializante de encontrarmos um Eu maior. 278 Resenha Seria interessante, diante dessa perspectiva, que, ao invs de termos uma carteira de identidade, tivssemos uma carteira de diferenas. Algo que de- monstrasse nossas peculiaridades, aquilo que nos torna diferente e especial. O que no nos parece possvel, nem mesmo vivel, que se tenha atra- vs do processo da globalizao um discurso universal, como se falssemos a mesma lngua, como se pensssemos igualmente e como se a produo cultural pudesse ser homognea. Qualquer que seja o discurso, global ou universal, supe a questo do sujeito e como ele se relaciona com o lugar, com o que o circunda. Diante dessa perspectiva, a priori contraditria e excludente, colocamo- nos diante da seguinte questo: como reivindicar a fala? O que falar? Como no parecer uma simples imitao do que j foi dito? Na verdade, o que foi dito no foi dito do lugar da fala e o que foi pensado foi pensado pelo Outro, por um centro ou uma metrpole alheia aos processos de produo de co- nhecimento de quem vive margem. Este ltimo deve reivindicar o direito de um discurso valorativo pertencente ao sujeito que est s margens de uma sociedade capitalista. No entanto, preciso perceber uma estrutura infinita que se apresenta diante do centro/periferia, pois esse centro de onde se fala tem uma periferia que tambm possui um centro e assim sucessivamente. O que fica marcado no discurso crtico latino-americano para Achugar seu carter mltiplo. Nesse momento, so relacionados alguns crticos latino-americanos como Antonio Candido, Roberto Schwarz, Silviano Santiago, Alejandro Losada, entre outros, que tinham como projeto crtico o trabalho de se pensar a produo de onde se profere o enunciado, marcar a identidade hbrida do latino-americano. A questo da identidade permeada, segundo Achugar, pela discusso entre posio e localizao de quem pronuncia o discurso. A memria, a posicionalidade e a localizao estariam diretamente ligadas construo da identidade individual, pois a partir do lugar de onde se l e de onde se profere o discurso que constitumos uma identidade. No caso es- pecfico da Amrica Latina, h uma profuso considervel de projetos sociais, culturais de classe, gnero e etnia. Dito de outra maneira, a Amrica Latina representaria um campo de batalhas em que os diversos sujeitos disputam pelo poder de estender seu projeto em funo de suas memrias individuais. Dentro da Amrica Latina caberiam vrias e mltiplas ptrias pequenas. A ideia de identidade global nos coloca diante da busca de um Eu maior 279 Resenha que o prprio indivduo, gerando uma necessidade angustiante de ser igual e aceito pela situao dominante. No entanto, se por um lado esse processo inquietante que a globalizao parece provocar remete-nos imediatamente ao lado negativo, temos ao mesmo tempo um ponto positivo. A inquietude provocada pela globalizao motiva a reflexo e a reflexo (re)visita questes estagnadas e repensa seu lugar diante do centro, da metrpole. Essa profuso de inquietaes deve nos obrigar a repensar no sujeito da histria. Aquele que falar do lugar de onde se pensa e de onde se concebe a produo valorativa do conhecimento. Este mesmo sujeito deve repensar a literatura nacional, local, questionar os valores impostos dos e pelos cnones literrios, pensar no que quer ou no que deve transmitir s geraes futuras, alm de questionar o que chamamos de Literatura e cultura latino-americana. O que se deve propor e trazer luz da discusso so as bases enrijecidas da poltica, da economia, da cultura, do social a partir de onde a enunciao se projeta. Ouvir o balbucio requer repensar a condio de subalterno. Mas o que se apresenta hoje so transformaes e desafios de ordem poltica, social, econmica, tecnolgica que acabam reforando o discurso homogneo e reproduzindo as hierarquias arcaicas entre as classes, entre as regies, entre os diferentes segmentos da sociedade. A globalizao para Volpi, citado por Achugar, um processo monstruoso que aniquila a heterogeneidade. Por esse prisma, a globalizao fortalece o mecanicismo cartesiano, o fragmentrio, o consumo pelo consumo, o pro- gresso material como meta alcanvel; enfatiza uma sociedade humanista liberal e provoca uniformidade cultural, eliminando as particularidades. No entanto, essa discusso passaria pelo binarismo preconceituoso e unilateral que enfatiza o discurso imperialista. A globalizao no uma totalidade de pontos negativos, mas um processo que prev, como toda mudana de para- digma, elementos favorveis e desfavorveis. Cabe ao sujeito, na medida do possvel, orientar-se criticamente. Na verdade, o discurso dicotmico entre universal/local, centro/periferia, colonizado/colonizador deve ser avanado de maneira consciente e crtica, trazendo para o centro da discusso no apenas o porqu e tambm o como. O mundo parece ter se tornado uma aldeia global em que todos sentem, veem, percebem e vivenciam os acontecimentos alheios. O universal seria agora um gro de areia que prev uma leitura monadolgica dos fatos que nos circundam. O que contribui para essa rpida transmisso das informaes glo- 280 Resenha bais so, certamente, os meios de comunicao, principalmente a televisiva. A transformao que essa sociedade telemtica sofre de natureza poltica e submetida aos interesses econmicos de uma determinada classe social. Entretanto, possvel percebermos que o discurso global de uma sociedade telemtica no de todo homogneo. Fica a critrio de o sujeito aceitar ou refutar os ideais empreendidos de forma insistente e massificante da ao televisiva. Para tanto, importante ressaltar que o equilbrio e desequilbrio desse discurso dependero de quem fala e de onde se fala. Na verdade o que perdura e perpassa todo o texto de Achugar so ques- tes que nos levam a pensar e repensar a identidade. Qual a identidade da Amrica Latina? Como ela se apresenta no universal? O que realmente nos diferencia? Muitas das questes apresentadas no foram respondidas e talvez nem fossem para responder, apenas instigar o pensamento crtico. G.S. Morson e C. Emerson Mikhail Bakhtin: criao de uma prosastica. Trad. de Antonio de Paula Danesi. So Paulo: Edusp, 2008.
Joo Vianney Cavalcanti Nuto Iniciada nos anos vinte do sculo passado, a obra de Mikhail Bakhtin tem exercido cada vez mais influncia nos estudos da cultura. Transcendendo as circunstncias histricas especficas em que foi produzida, renova-se na eficcia em atender a questes contemporneas, ultrapassando a voga de escolas como o Estruturalismo, j criticado pelo filsofo trinta anos antes do seu auge no Ocidente, nos anos de 1960. Assim, a obra de Bakhtin adquire o estatuto de um clssico: uma referncia incontornvel, mesmo que para ser refutada em alguns aspectos. Como um clssico, convida no somente releitura, mas a um dilogo crtico e fecundo que, entre muitos outros mritos, ofereceu solues satisfatrias para certos impasses metodolgicos, como o conflito entre a abordagem sociolgica e a abordagem estilstica nos estudos literrios. A vitalidade do pensamento de Bakhtin atestada