Fichamento - 31-05 - Kellner
Fichamento - 31-05 - Kellner
Fichamento - 31-05 - Kellner
Os espetáculos da mídia demonstram quem tem poder e quem não tem, quem
pode exercer força e vidência, e quem não. Dramatizam e legitimam o poder
das forças vigentes e mostram aos não-poderosos que, se não se
conformarem, estarão expostos ao risco de prisão ou morte. Para quem viveu
imerso, do nascimento â morte, numa sociedade de mídia e consumo é, pois,
importante aprender como entender, interpretar e criticar seus significados e
suas mensagens. (KELLNER, 2001, p. 10)
Mídias e Sociedade
Os estudos que se seguem ajudam a entender a cultura da mídia e indicam os
modos como ela pode ser entendida, usada e apreciada. Nossa intenção é dar
ao leitor meios de aprender a estudar, analisar, interpretar e criticar os textos
da cultura da mídia e a avaliar seus efeitos. (KELLNER, 2001, p. 11)
A cultura, em seu sentido mais amplo, é uma forma de atividade que implica
alto grau de participação, na qual as pessoas criam sociedades e identidades.
A cultura modela os indivíduos, evidenciando e cultivando suas potencialidades
e capacidades de fala, ação e criatividade. A cultura da mídia participa
igualmente desses processos, mas também é algo novo na aventura humana.
As pessoas passam um tempo enorme ouvindo rádio, assistindo à televisão,
frequentando cinemas, convivendo com música; fazendo compras, lendo
revistas e jornais, participando dessas e de outras formas de cultura veiculada
pelos meios de comunicação. Portanto, trata-se de uma cultura que-passou a
dominar a vida cotidiana, servindo de pano de fundo onipresente e muitas
vezes de sedutor primeiro piano para o qual convergem nossa atenção e
nossas atividades, algo que, segundo alguns, está minando a potencialidade e
a criatividade humana. (KELLNER, 2001, p. 11)
Por conseguinte, nos estudos que seguem, tentamos demonstrar de que modo
alguns dos textos culturais mais populares hoje estão implicados nos atuais
conflitos políticos e culturais. O estudo da cultura popular e de massa recebeu
o rótulo genérico de "estudos culturais", e neste livro apresentaremos alguns
modelos de estudo cultural da mídia feitos de forma crítica, multicultural e a
partir de diversas perspectivas. (KELLNER, 2001, p. 12)
A cultura da mídia pode constituir um entrave para a democracia quando
reproduz discursos reacionários, promovendo o racismo, o preconceito de
sexo, idade, classe e outros, mas também pode propiciar o avanço dós
interesses dos grupos oprimidos quando ataca coisas como as formas de
segregação racial ou sexual, ou quando, pelo menos, as enfraquece com
representações mais positivas de raça e sexo. (KELLNER, 2001, p. 13)
Isso significa não só ler essa cultura no seu contexto sociopolítico e econômico,
mas também ver de que modo os componentes internos de seus textos
codificam relações de poder e dominação, servindo para promover os
interesses dos grupos dominantes à custa de outros, para opor-se às
ideologias, instituições e práticas hegemônicas, ou para conter uma mistura
contraditória de formas que promovem dominação e resistência. (KELLNER,
2001, p. 76)
Nas últimas duas décadas, porém, esse modelo tem sido contestado por vários
críticos, segundo os quais tal conceito de ideologia é reducionista porque, nele,
ideologia equivale apenas às ideias que servem aos interesses econômicos ou
de classe, deixando-se de lado, portanto, fenômenos importantes como sexo,
raça e outras formas de dominação ideológica. Reduzir ideologia a interesses
de classe deixa claro que a única dominação importante na sociedade é a de
classe, ou a econômica, ao passo que, segundo muitos teóricos, à opressão de
sexo, sexualidade e raça também são de fundamental importância e, na
verdade, ainda de acordo com alguns, está inextricavelmente imbricada na
opressão econômica e de classe (...). (KELLNER, 2001, p. 78)
Um estudo cultural crítico e multicultural deve portanto, levar a cabo uma crítica
das abstrações, das reificações e da ideologia que siga os rastros dessas
categorias reificadas e dessas fronteiras até suas origens sociais, criticando
distorções, mistificações e falsificações aí presentes. Uma das funções da
cultura dá mídia dominante é conservar fronteiras e legitimar o domínio da
classe da raça e do sexo hegemônico. O marxismo, o feminismo e a teoria
multicultural, porém, perseguem uma crítica das fronteiras, atentando para o
sistema binário de oposições que estruturam os discursos ideológicos
classistas, sexistas, racistas e outros. Todas essas formas de teoria crítica são,
pois, andas na luta por uma sociedade mais humana, vendo na ideologia uma
forma de sustentação teórica dos sistemas de dominação. (KELLNER, 2001, p.
85)
Quero mostrar que é por ser tão fundamental para nossa vida cotidiana que
devemos estudar a mídia. Estudá-la como dimensão social e cultural, mas
também política e econômica, do mundo moderno. Estudar sua onipresença e
sua complexidade. Estudá-la como algo que contribui para nossa variável
capacidade de compreender o mundo, de produzir e partilhar seus significados.
(SILVERSTONE, 2002, p. 13)
Quero mostrar que deveríamos estudar a mídia, nos termos de Isaiah Berlin,
como parte da "textura geral da experiência", expressão que toca a natureza
estabelecida da vida no mundo, aqueles aspectos da experiência que tratamos
como corriqueiros e que devem subsistir para vivermos e nos comunicarmos
uns com os outros. (SILVERSTONE, 2002, p. 13)
E é aqui, no que passa por senso comum, que devemos fundamentar o estudo
da mídia. Para poder pensar que a vida que levamos é uma realização
contínua, que requer nossa participação ativa, embora muitas vezes em
circunstâncias que nos permitem pouca ou nenhuma escolha e nas quais o
melhor a fazer é simplesmente "arranjar-se". (SILVERSTONE, 2002, p. 20)
O senso comum, obviamente nem singular nem in- conteste, é por onde
devemos começar. O senso comum, tanto expressão como precondição da
experiência. O senso comum, compartilhado ou ao menos compartilhável e
medida, muitas vezes invisível, de quase todas as coisas. (SILVERSTONE,
2002, p. 21)
A mídia depende do senso comum. Ela o reproduz, recorre a ele, mas também
o explora e distorce. (SILVERSTONE, 2002, p. 21)
0 que estou dizendo difere um pouco do que Manuel Castells (1996, pp.
376ss.) identifica como o "espaço de fluxos". Para Castells, o espaço de fluxos
sinaliza as redes eletrônicas, mas também as físicas, que fornecem a dinâmica
grade de comunicação ao longo da qual a informação, os bens e as pessoas se
movem incessantemente em nossa era da informação emergente.
(SILVERSTONE, 2002, p. 25)
Capítulo 2: Mediação