Antero de Quental - Sonetos
Antero de Quental - Sonetos
Antero de Quental - Sonetos
ANTERO DE QUENTAL
SONETOS
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CRCULO DE LEITORES
Capa de: Alltulles
Impresso e encardellado por Prillter Portuguesa
110 ms de Setembro de mil lIovecelltos e oitenta e sete
Nlmero de edio: 2173
Depsito legal Illmero 14 722/87
PRLCIO
Escrevendo estas breves pginas frente dos Sonetos de
Antero de Quental tenho a satisfao ntima de cumprir o
dever de torar conhecida do pblico a figura talvez mais
caracterstica do mundo literrio portugus e decerto aquela
sobre que a lenda mais tem trabalhado. Estou certo, absolu
tamente certo, de que este livro, embora sem eco no esprito
vulgar que faz reputaes e d popularidade, h-de encon
trar um acolhimento amoroso em todas as almas de eleio,
e durar enquanto houver coraes aflitos, e enquanto se
falar a linguagem portuguesa.
Procurarei no que vou dizer, guardar para mim aquilo
que ao pblico no interessa: a viva amizade, a estreita
comunho de sentimentos, o afecto quase fratero que h
perto de vinte anos nos une, ao poeta e ao seu crtico de hoje,
fazendo da vida de ambos como que uma nica alma, mis
turando invariavelmente as nossas breves alegrias, muitas
vezes as nossas lgrimas, sempre as nossas dores e os nossos
entusiasmos ou nosso desalento.
Discutindo em permanncia, discordando frequente
mente, ralhando a mido, zangando-nos s vezes e abra
ando-nos sempre: assim tem decorrido para ns perto de
vinte anos. Mas o leitor que nada tem que ver com esses
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casos particulares) nem com o abrao que trocmos no dia
em que pl'imeiro nos conhecemos e que s terminar naquele
em que um de ns) ou ambos ns) formos descansar para
sempre sob meia dzia de Ps de terra fria.
I
Eu no conheo fsionomia mais dificil de desenhar) por
que nunca vi natureza mais comPlexamente bem dotada. Se
fosse possvel desdobrar um homem) como quem desdobra os
fios de um cabo) Antero de Quental dava alma para uma
famlia inteira. L sqbidamente um poeta na mais elevada
expresso da palavra; mas ao mesmo tempo a inteligncia
mais crtica) o instinto mais prtico) a sagacidade mais
lcida) que eu conheo. L um poeta que sente) mas um
raciocnio que pensa. Pensa o que sente; sente o que pensa.
Inventa e critica. Depois) por um movimento relexo da
inteligcia) d corpo ao que criticou) e raciocina o que
imaginou. O seu temperamento apresenta um contraste cor
relativo: meigo como uma criana) sensitivo como uma
mulher nervosa) mas intermitentemente duro e violento.
L fraco) portanto? No. A vontade) em obedincia
qual) e com esforo) se faz colrico) f-lo tambm forte
dessa fora persistente) raciocinada e na aparncia plcida)
como a supercie do mar em dias de bonana. O oceano)
porm) interiormente agitado pelo gulf stream quente e
invisvel: tambm s vezes a Placidez extrema da sua face
encobre ondas de aflio que sobem at aos olhos e rebentam
em lgrimas ardentes. Sabe chorar) como todo o homem
digno da humanidade.
Ldestas crises que nasceram os seus versos) porque An
tero de Quental no faz versos maneira dos literatos:
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nascem-lhe, brotam-lhe da alma como soluos e agonias.
Mas, apesar disso, requintado e exigente como um ar
tista: as suas lgrimas ho-de ter o contoro de Prolas, os
seus gemidos ho-de ser musicais. As faculdades artsticas
geradoras da estaturia e da sinfonia so as que vibram na
sua alma esttica. A noo das formas, das linhas e dos
sons possui-a num grau eminente: no j assim a da cor
nem a da composio. Aos quadros chama painis com
desdm, e por isso mesmo tem horror descrio e ao pi
toresco. Lartista, no que a arte contm de mais subjectivo.
sua poesia escultural e hiertica, e por isso fantstica.
E exclusivamente psicolgica e dantesca: no pode pintar,
nem descrever: acha isso inferior e quase indigno.
Os seus versos so sentidos, so vividos como nenhuns;
mas o sentir e o viver deste homem de uma natureza
especial que tem por fronteiras fsicas as paredes do seu
crnio, mas que no tem fronteiras no mundo real, porque a
sua imaginao paira librada nas asas de uma razo espe
culativa para a qual no h limites.
O poeta por isso um mstico, e o crtico um filsofo.
O misticismo e a metafsica, o sentimento e a razo, a
sensibilidade e a vontade, o temperamento e a inteligncia,
combatem-se s vezes dilacerando-se. Eis a a explicao
desta poesia que o retrato vivo do homem. O gnio, esse
q uid divinatrio, que no honra para nenhuma criatura
possuir, porque s nos d merecimento aquilo que ganhmos
fora de inteligncia e de vontade; o gnio, que uma
faculdade to acidental como a cor dos cabelos, ou o desenho
das feies; o gnio, que pode andar ligado a uma intelign
cia medocre, mas que o no anda no caso de Antero de
Quental - o predicado particular e a chave do enigma
deste homem. O gnio pressupe a intuio de uma verdade
visceral ou fundamental da natureza. Essa intuio, essa
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asPirao absorvente, para o nosso poeta a sntese da ver
dade racional ou positiva e do sentimento mstico: uma poe
sia que exprima o raciocnio, ou antes uma flosofa onde
caibam todas as suas vises. O prprio do gnio querer
realizar o irrealizvel; ser quimrico, no sentido crtico da
palavra, quando por quimera entendemos uma verdade es
sencial que no pode todavia reduzir-se a frmulas compre
ensveis, ou uma coisa cuja realidade se sente, sem se poder
ver.
Dos aspectos quase inesgotavelmente variveis desta sin
gular fsionomia de homem, desta mistura excepcional de
pensamentos e de temperamento num mesmo indivduo, re
sulta porm um tiPo de sinceridade e de rectido mais sin
gular ainda, por
q
ue mais facilmente podia resultar dela um
grande cnico. E sobretudo um estico, sem deixar de ter
bastante de cptico; um mstico, mas com uma forte dose
de ironia e humorismo; um misantropo, quando no o
homem do trato mais afvel, da convivncia mais alegre;
um pessimista, que todavia acha em geral tudo ptimo. In
telectualmente a fisionomia mais dbia, comPlexa e con
traditria por vezes; moralmente o carcter mais inteiro e
melhor que existe. A sua inteligncia encontra-se permanen
temente no estado de algum que, querendo ir para um stio,
resiste por no querer ao mesmo tempo, sem todavia ter
razes bastantes para querer nem tambm para no querer.
O ncleo da sua personalidade, se a encararmos pelo lado
praticamente humano, est na energia do seu querer moral,
e no na lucidez do seu pensamento, embora tenha a preten
so de julgar que a sua vontade obedece sempre sua razo.
Lverdade que dentro de si tem permanentemente um espelho
facetado que representa e critica as modalidades do seu pen
samento: mas, por isso mesmo, v ou inventa faces de mais
s coisas, e tambm por vezes o cristal embacia. O que
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nunca esmorece a bondade luminosa da sua alma. L um
homem fundamentalmente bom.
A complexidade do seu esprito d-lhe uma verdade de
aptides, singular. Conversador como poucos, fcil, espon
tneo, original e sugestivo, irnico, humorista, espirituoso,
descendo at prpria charge, no h ningum como ele
para soltar o carro da sua fantasia crtica na ladeira de
uma tese e, explorando-a em todos os sentidos, arquitectar
uma teoria. Os seus opsculos em prosa (da melhor prosa
portuguesa deste tempo) , tm em geral este carcter. So
lgicos, so bem deduzidos - sem serem sufcientemente
pensados. So frutos da imaginao; so conversas escritas,
dessas conversas que durante horas seduzem os que o ou
vem - porque um charmeur.
Ele prprio se embriaga, no com as suas palavras, mas
sim com aquela teoria passageira que inventou had hoc, e,
quando algum lhe objecta um pequeno seno, todavia es
sencial ao seu edificio lgico, resiste, defende-se, irrita-se s
vezes, mas por fm ele o prprio que, com um dito, desfaz
toda a construo. Seria um orador, um jornalista de pri
meira ordem, se no tomasse apenas a srio a sua misso de
poeta, ou antes de flsofo.
Depois de tudo isto diro pessoas pouco dadas ao estudo
do animal homem que Antero de Quental um assombro.
Longe disso. A sua fora a prodigalidade com que a na
tureza dotou o seu esprito; mas essa fora uma fraqueza.
Tem demasiada imaginao para ver bem, e por outro lado
o raciocnio crtico peia-lhe os voos luminosos da fantasia.
V de mais para poder ser activo, ou no tem a energia
correspondente sua viso. Se a tivesse, seria verdadeira
mente um assombro. A imaginao e a razo, irredutveis
nos crebros humanos com as circunvolues limitadas que
contm, so igualmente poderosas no seu crebro para que
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qualquer delas domine. Lutam em permanncia, procurando
entender-se, combinar-se, penetrar-se, e, no deso quimri
co da sntese, desequilibram o homem, atrofiando-lhe a
energia activa. Ainda assim, felizes daqueles cuja inrcia
desse um livro comparvel a este!
Mas que as suas pginas foram escritas com sangue e
lgrimas! E di ver a vida do mais belo esprito consumir
-se em agonias de uma alma em luta consigo mesmo!
O comum da gente, ao ler as pginas deste volume, dir
ento: Quantas catstrofes, que desgraas, este homem so
freu! Que singular hostilidade do Mundo para uma cria
tura humana! -E todavia o Mundo nunca lhe foi propri
amente hostil, nenhuma desgraa o acabrunhou; a sua vida
tem corrido serena, plcida, e at, para o geral da gente, em
condies de felicidade.
L que o geral da gente no sabe que as tempestades da
imaginao so as mais duras de passar! No h dores to
agudas como as dores imaginrias. No h problemas mais
difceis do que os problemas do pensamento, nem crises mais
dolorosas do que as crises do sentimento. As agonias dila
cerantes da morte com as nsias do estertor, os horrores
mais inverosmeis dos crimes monstruosos, as aflies mais
pungentes da saudade, as tristezas mais dolorosas da soli
do, as lutas do dever com a paixo, os gritos do homem
arruinado, os ais da orandade faminta . . . tudo, tudo
quanto no Mundo pode haver de doloroso, desde a misria
at prostituio, desde o andrajo at ao veludo arrastado
pela imundcie, desde o cardo que dilacera os ps at ao
punhal que rasga o corao: tudo isto menos do que a
agonia de um poeta vendo passar diante de si, em turbilho
medonho, as lgubres misrias do Mundo. Todas as afi
es tm o seu qu de imaginativas, e por isso h apenas
uma esPcie de homens que no sentem: so os cnicos, esses
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que perderam os nervos da moralidade, anestesiados do sen
timento.
Quando se poeta como Antero de Quental, a imagina
o exacerbada vibra como as harpas que os gregos expu
nham s viraes da brisa nos ramos das rvores. Nenhum
dedo lhes feria as cordas, e todavia tocavam! Nenhuma des
sas desgraas do Mundo friu a harpa da vida do poeta; e
todavia essa harpa geme e chora; solua e grita, porque
pelas suas cordas passa o vento agreste das ideias, passa o
eco ululante do egosmo dos homens, afitivo como os uivos
de uma alcateia de lobos famintos.
I I
Esta coleco de Sonetos , portanto, ao mesmo tempo
biogrfca e cclica. Conta-nos as tempestades de um espri
to; mas essas tempestades no so os quaisquer episdios
particulares de uma vida de homem: so a reraco das
agonias morais do nosso tempo, vividas, porm, na imagi
nao de um poeta.
O primeiro perodo, de 1860-62, contm em embrio to
dos os sucessivos, da mesma forma que as fores incluem em
si a substncia dos frutos. Denuncia uma alma sensvel,
mas patenteia j a preocupao metafsica na sua fase rudi
mentar de dvida teolgica, e apresenta uns assomos de tris
teza que. so como os farrapos de nuvens quando velam in
termitentemente o Sol, deixando antever a tempestade para o
dia seguinte. Estes primeiros sonetos so o balbuciar de
uma criana. Romntica? De modo nenhum. Este poeta no
se flia em escolas, no obedece a correntes literrias: a sua
poesia exclusivamente pessoal. Sucedia, porm, que nesse
tempo j os nossos bardos classicamente romnticos tinham
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passado de moda; e a Coimbra chegavam, por via de Paris,
os ecos do esprito novo, expresso nas obras de Michelet, de
Quinet, de Vera-Hegel, etc.
Tudo isso fermentava no crebro de Antero de Quental,
mas a sua personalidade no se deixava absorver pelo opti-
mismo que, depois dos romnticos, se espalhou na Europa,
liricamente ingnuo no Ocidente afrancesado, sistematica
mente filosfico na Alemanha hegeliana. Schopenhauer,
ningum o lia. No era moda. Pois foi essa corrente, domi
nante hoje, aquela em que o nosso poeta, espontaneamente,
por um movimento do seu temperamento se achou levado.
Aos dezoito ou vinte anos, ignorante ainda, mas inquieto
e perscrutador, o poeta, que desdenha sinceramente da fama
e da glria, v no etero feminino de que nos fala Gathe
a sntese da existncia. Os seus amores j so fantsticos:
s tm realidade no Cu.
Ali, lrio dos celestes vales,
Tendo seu fim, tero o seu comeo,
Para no mais findar, nossos amores.
E se ainda o dia, a luz, o Sol, esposo amado, tm o
condo de o encher de entusiasmo, mister desconfiar de um
homem mais caprichoso do que todas as mulheres, porque
Pedindo forma, em vo, a ideia pura.
Tropeo, em sombras, na matria dura
E encontro a imperfeio de quanto existe.
Esta nota mais constitucionalmente verdadeira. Sea
a Terra degredo, o Cu destino, diz num ponto; e noutro:
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Minha alma, Deus, a outros cus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza
! pela eterna ptria que suspira ...
No acreditemos tambm demasiadamente nisto) porque
Deus no passa ainda de uma interrogao:
Pura essncia das lgrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! Se s verdade,
Descobre-te, viso, no Cu ao menos!
As lutas irfantis deste primeiro perodo para saber se
Deus ou no verdade bastam) em si mesmo e no prprio
modo por que esto expressas) para nos mostrar que o poeta
no saiu ainda das esferas de representao elementar dos
seres para a esera compreensiva das abstraces racionais.
Os sonetos desta primeira srie desenrolam-se no terreno da
fantasmagoria transcendente. O trao mais seguro de todos
e o mais signicativo est neste verso:
Que sempre o mal pior ter nascido.
A segunda srie tem a data de 1862-66. Psicologica
mente a menos original) artisticamente a mais brilhante.
O Sonho Oriental, o Idlio, o Palcio da Ventura,
so obras-primas) at de colorido. Talvez por isso mesmo
que o estado de esprito do poeta o no obrigava a tirar
tanto de si) e porque nesta poca viveu mais lei da nature
za; talvez por isso mesmo a sentiu e pintou melhor nas suas
cores) nas suas imagens.
A nebulose do primeiro perodo comeava a resolver-se
numa tragdia mental) que umas vezes tem os sonhos dos
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que mastigam haxixe, outras vezes frias de desespero, iro
nias como punhais e gritos lancinantes:
Se nada h que me aquea esta frieza,
Se estou cheio de fel e de tristeza,
! de crer que s eu seja o culpado ..
Meu pobre amigo, como foi amarga esta poca! Outros
sofreram tambm, outros penaram iguais dores, sem conse
guirem porm estrangular os monstros que deendem os di
tos do templo da Sabedoria. Reine e Espronceda, Nerval e
Baudelaire viveram vidas inteiras nesse estado de ironia e
de sarcasmo, de desespero e de raiva, de orgia e de abati
mento, de fria e de atonia, que para ti representam quatro
anos apenas!
Mas que no havia em nenhum desses homens a semente
de abstraco que se descobre no Palcio da Ventura:
Abrem-se as portas de ouro, com fragor ...
Mas dentro encontro s, cheio de dor,
Silncio e escurido -e nada mais!
Os romnticos, mais ou menos satanistas ou sataniza
dos,jcavam-se por aqui. Achando apenas silncio e escuri
do onde tinham sonhado venturas, ou davam em bbedos,
como Espronceda, ou suicidavam-se, como Nerval, ou fa
; iam-se cnicos, maneira de Baudelaire, cultivando com
amor a Flores do Mal.
De 1864 a 74, nesses dez anos em que a tempestade
caminha, v-se o silncio e a escurido, que antes sur
giam como surpresas medonhas, ganharem um lugar apro
priado, embora eminente, no regime das coisas; v-se o es-
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prito do flsofo reagir sobre o temperamento do poeta, e
torar-se sistema o que at a era fria. Bom prenncio.
Nesta poca Antero de Quental niilista como flsofo,
anarquista como poltico; tudo o que for negativo, tudo o
que for excessivo; e -o de um modo to terminante, to
dogmtico e to afrmativo, que por isso msmo hesitamos
em crer na conscincia com que o . Da sinceridade no
lcito duvidar, mas contra a segurana depe a prpria vio
lncia. A nevrose contempornea, que produzira nele a ter
ceira poca, d de si ainda a quarta; mas se pde galgar a
saltos por entre a floresta incendiada que devorou e consu
miu os satnicos, no poder tambm sair da estpe lgubre
onde apodrecem os pessimistas, embriagados na negao
universal, sem se lembrarem de que so contraditrios no
prprio facto de pregarem o que quer que seja?
Ora a isto responde esta prpria srie, porque, ao lado
dos sonetos crepuscularmente desolados, levantam-se como
auroras os sonetos esticos. Para curar o poeta da vertigem
satnica serviu-lhe a metafisica pessimista; para o curar
mais tarde dessa metafisica, servir-lhe- a reaco do senti
mento moral sobre a razo especulativa. Quando pede
Mais Luz, quando chama ao Sol o claro sol amigo dos
heris, quando dene a Ideia acabando por estes versos
diamantinos:
A Ideia, o Sumo bem, o Verbo, a Essncia,
S se revela aos homens e s naes
No cu incorruptvel da Conscincia!
sentimo-nos bem distantes das fantasmagorias do princpio
e das loucuras da viagem, que todavia o poeta no terminou
ainda.
Lutando furioso contra a desiluso, caindo esmagado
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pelo aniquilamento, Antero de Quental ensimismou-se
(para usar de uma feliz expresso espanhola), meteu-se
dentro de si, a ss consigo, apelou para as energias do seu
instinto de homem, e foi isso que lhe insPirou o belo Hino
Razo.
Porm, na luta entre o temperamento de estico e a ima
ginao metafsica, o seu esprito atribulado no conseguiu
manter o equilbrio, porque as suas exigncias de crtico e
filsofo (alimentadas agora por leituras variadssimas e
profundas) contrariavam ou contradiziam as suas vises de
poeta. maneira que a inteligncia se lhe cultivava, que o
saber lhe crescia, que a experincia o educava com mais de
um caso doloroso ou apenas triste -apurava-se-lhe a ima
ginao at ao ponto de ver claramente o que para o comum
dos espritos so apenas concepes do entendimento abs
tracto. A sua poesia despe-se ento de acessrios: no h
quase uma imagem; h apenas linhas, mas essas linhas de
esttuas incorpreas tm uma nitidez dantesca.
O seu pessimismo torna-se sistemtico: uma flosofia
inteira, a que corresponde, como expresso sentimental, a
ironia transcendente. Na Disputa em Famlia, Deus res
ponde aos ateus:
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Muito antes de nascerem vossos pais
Dum barro vil, ridculas crianas,
Sabia eu tudo isso ... e muito mais!
No Inconsciente, este heri metafisico diz assim:
Chamam-me Deus h mais de dez mil anos ...
Mas eu por mim no sei como me chamo.
N'A Divina Comdia, os homens queixam-se aos deu
ses do que sofrem, invectivando-os por os terem criado:
Mas os deuses, com voz ainda mais triste,
Dizem: -Homens! porque que nos criastes?
Como se v, houve um progresso. No perodo anterior a
negao era violenta e terminante; agora tem como expres
so a ironia, que uma das formas conhecidas do saber e
uma das linguagens da verdade. Eis a o que a reaco
moral conseguiu, acompanhada pelo esclarecimento da ra
zo,
da inteligncia e do conhecimento. O antigo poeta sa
tnico, transformado em um niilista, vemo-lo agora na pele
de um pessimista sistemtico, sorrindo j bondosamente,
com a ironia nesses prprios lbios, que, primeiro cobertos
de espuma, depois nos apareciam brancos de agonias.
No tinha eu razo para chamar cclica a esta coleco
de sonetos? No tem sido este o movimento das ideias, a
evoluo do pensamento criador na segunda metade do nosso
sculo?
Quando escreveu o primeiro soneto da quarta srie (1880-
-84)
J sossega, depois de tanta luta,
J me descansa em paz o corao ...
Antero de Quental resolveu destruir todas as suas poesias l
gubres. Sentia remorsos por alguma vez ter estado numa
disposio de nimo que agora coniderava com horror. Enten
dia que esses versos ttricos no podiam consolar ningum e
fariam mal a muita gente. Destruiu-os, pois, com aquela vio
lncia prpria de um carcter intermitentemente meigo e fen
tico como o de uma mulher. Desse naufrgio, onde se per-
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deram verdadeiras obras-primas, salvei eu as poesias que vo
no fm deste ensaio; e salvei-as porque as possua entre os
originais remetidos em cartas, e mais de uma vez como texto de
notcias do estado do seu esprito, ou cartas rimadas.
Que espcie de paz era porm essa em que o seu corao
descansava? Era o Nirvana:
E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar coisas naturais,
^ bela luz da vida, ampla, infnita,
S v com tdio em tudo que quanto fita
A iluso e o vazio universais.
o Nirvana o cu do budismo, a religio mais
j
losfca
e menos fantasmagrica inventada pelos homens. E por este
motivo que o budismo atrai hoje em dia todos os espritos a
um tempo racionalistas e msticos, desta poca em tudo se
melhante alexandrina, menos no volume do saber positivo,
que j se no compadece com muitas das teorias sobre que os
neoplatnicos especulavam. A teoria da Substncia levou-os
a eles a uma concepo do Ser que produziu o mito do Verbo
cristo, encarado popularmente em Jesus Cristo. Ora hoje
tudo isso vale apenas como documento histrico, e, por para
doxal que isso parea, o No-Ser , segundo a metafisica
contempornea, a essncia de tudo o que existe. O Absoluto
o Nada. O Universo, a realidade inteira, so modalida
des, aspectos fugitivos, que s se tornam verdades racionais
quando nos aparecem desPidas de todos os acidentes.
E como pelos acidentes apenas que ns, distinguindo-as,
as conhecemos, a realidade verdadeiramente e em si nada.
Religiosamente, Nada igual a Nirvana; e o budismo
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a nica religio que atingiu esta concluso sumria do i-
samento cientico modero. O Nirvana esse estado em que
os seres, despindo-se de todas as suas modalidades e acidell
tes, de todas as condies de realidade, condies que os
limitam distinguindo-os entre si, adquirem a no-realidade
(o no contingente) e com ela a existncia absoluta e a
absoluta liberdade. Essa liberdade o tiPo e a essncia da
vida espiritual; e o Nirvana, puro No-Ser para a inteli
gcia, , para o sentimento moral, o smbolo e o veculo de
toda a perfeio e virtude: radicalmente negativo na esfra
da razo, , na esfera do sentimento absolutamente afirma
tivo. O pessimismo tora-se desta forma um optimismo gi
gantesco; toda a inrcia condenada, e o sistema das coisas,
agitando-se, movendo-se na direco do aniquilamento f
nal, move-se e agita-se no sentido de uma liberdade evoluti
vamente progressiva, at atingir a plenitude. O Universo
uma grande vida que tem, no termo, o termo de todas as
vidas -a morte, idealizada agora e torada luminosa e
apetecvel por essa idealizao.
Leiam-se os dois sonetos Redeno, talvez os mais
belos de todo o livro, e compreender-se- melhor o que fica
dito. Leia-se o Elogio da Morte,
Dormirei no teu seio inaltervel,
Na comunho da paz universal,
Morte libertadora e inviolvel!
e ver-se- quanto estamos longe do desespero trgico de ou
tros anos. A tempestade acalmou,
Na esfera do invisvel, do intangvel,
Sobre desertos, vcuo, soledade,
Voa e paira o esprito impassvel,
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presidindo evoluo dos seres (v. o soneto Evoluo),
desde a rocha at ao homem, evoluo que seria absoluta
mente inexpressiva se no tivesse um destino, um fim, um
ideal. A teoria do progresso indefnido , com efeito, racio
nalmente absurda. Esse destino, para os neobudistas, o
Nada transcendente; esse ideal a Liberdade. A existncia
est, pois, consagrada racionalmente: falta consagr-la
sentimentalmente. Falta ainda ao sistema um medianeiro:
o Amor.
Porm o corao, feito valente
N a escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: Desta altura vejo o amor!
Viver no foi em vo, se isto a vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.
o Universo est pois construdo e santifcado na mente
do poeta e na razo do filsofo. Dir-se- portanto que a
quimera, de que a princPio falmos, ficou desvendada, o
problema resolvido, conciliada a viso com a razo, e que
nos no resta mais do que fazermo-nos todos budistas? Su
prema iluso.' Creia-o embora o poeta; eu, como crtico,
observando que o pensamento humano, desde que existe e
trabalha, progride sempre, com efeito, mas progride em trs
estradas paralelas que, por serem paralelas, nunca podem
encontrar-se, atrevo-me a afirmar a irredutabilidade do
misticismo, racional ou imaginativamente concebido, e do
naturalismo, ponderada ou orgiacamente realizado. Atrevo
-me a dizer que estes dois feitios ou temperamentos so
constitucionais do esprito humano, e que da coexistncia
necessria deles resulta um terceiro -o cptico, o crtico, o
22
que provm da comparao de ambos, e por isso no tem cor,
nem afirmativo; dando-se melhor com a natureza do que
com a fantasmagoria, preferindo a harmonia mais ou me
nos equilibrada, ou mais ou menos claudicante do hele
nismo, orgia desenfreada dos orientais; considerando a
existncia como um compromisso, o dever como uma condi
o da vida, mas tambm a fraqueza como uma condio
dos homens. Estes trs temperamentos so correspondentes a
tipos eteros e irredutveis da conscincia humana; e, se o
budismo a melhor religio para um mstico do sculo XIX,
saturado de cincia e derreado de cogitaes, o cristianismo,
como directo herdeiro do helenismo, h-de eteramente sa
tisfazer melhor os cpticos e os naturalistas, cujo nmero e
foi sempre infinitamente maior, entre os europeus.
Um helenismo coroado por um budismo, eis a frmula
com que mais de uma vez Antero de Quental me tem expri
mido o seu pensamento -a sua quimera! Quimera, digo,
porque a coroa no nos pode assentar na cabea, sob pena de
a crivar de esPinhos e de a deixar escorrendo sangue. Fun
dar o princPio da aco na inrcia sistemtica, a realidade
no No-Ser, a vida no aniquilamento, s praticamente
aceitvel para o comum dos homens quando acreditem na
metempsicose, dogma to infantilmente mtico do budismo
como, v. g. , o infero do cristianismo. Ao cristianismo,
porm, tirando-se-lhe tudo quanto a imaginao semita deu
para a sua formao, fica ainda o helenismo, isto , um
idealismo mais ou menos pantesta e uma teoria moral -
coisas que eu no afrmo que resistam a uma anlise rigorosa
mente lgica, por isso mesmo que todo o nosso conhecimen
to rcional das coisas assenta apenas sobre axiomas do senso
comum -ao passo que, em se tirando a metem psicose ao bu
dismo, o budismo reduz-se a uma nvoa de abstraces.
Pobre humanidade, se se visse condenada coroao bu-
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dista! Ns, europeus, incapazes de nos sujeitarmos ao re
gime de contemplao inerte, sofreramos as agonias, ex
perimentaramos as afies do poeta, que, tendo no peito
um corao activo, tem na cabea uma imaginao mstica,
e, para obedecer ao pensamento, tortura o corao, sem po
der tambm esmag-lo sob o mando da inteligncia.
Deste cruel estado vm os documentos que atestam a
transformao sofrida pela ironia dos perodos anteriores.
Que nome se h-de dar ao sentimento que insPira os sonetos
^Virgem Santssima e o Na Mo de Deus, que fecha
o volume? Eu, por mim, chamarei humorismo transcendente
a essa liga ntima da Piedade e da ironia, e declaro que
nunca vi coisa parecida posta em verso. Em prosa, h mais
de um perodo de Renan insPirado por um esprito seme
lhante, embora menos agudo.
viso, viso triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa,
E deixa-me sonhar a vida inteira!
A viso a Virgem Santssima, e a poesia to sincera,
to verdadeira, to cheia de Piedade e uno, que eu sei de
mais de um livro de rezas onde andam cPias escritas.
Dorme o teu sono, corao liberto,
Dorme na mo de Deus eternamente!
Um monge cristo escreveria isto. E Antero de Quental
nem cristo, nem cr em Deus, nem ria Virgem, segundo o
sentido ordinrio da palavra crer.
Blasfemar era bom noutros tempos; para a ironia tam
bm a idade passou; finalmente para o exerccio literrio
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nunca se inclinou a pena que o poeta molhou sempre no seu
sangue. Como explicar) pois) o fnmeno?
Por acaso subiu j o leitor ao cume de um monte suficien
temente alto para que toda a paisagem lhe aparecesse
vista)fundida ao ponto de no distinguir uma rvore de um
casal) nem um rio de um vale sem curso de gua? Pois
sucede assim nas camPinas da histria do pensamento hu
mano) quando as olhamos das cumeadas luminosas da cr
tica. Vem-se as coisas na sua essncia) no importam os
acidentes. O fetiche que o selvagem adora) a imagem
perante a qual se prostra o comum dos crentes) o arquitecto
universal dos pensadores livres) e finalmente esse q uid ino
minado a que a filosofa modema chamou Insconsciente -
tudo isso igualmente Deus: somente Deus percebido
pela inteligncia vulgar) Deus percebido pelo saber inci
piente) e Deus finalmente incompreendido) mas sentido)
pela sabedoria. E todas essas modalidades de uma mesma
impresso) recebida e representada de forma diversa) con
soante a natureza e o estado de educao dos homens) so
igualmente verdadeiras) igualmente santas e igualmente hu
morsticas) para aquele que tem corao para sentir as coi
sas por dentro e olhos para as ver de fora - objectiva
mente) como os alemes dizem) e ns diremos criticamente.
Eis a a suprema liberdade do esprito) o Nirvana apenas
intelectual) a que eu prefiro chamar impassibilidade subjec
tiva: um estado que permite compreender todas as coisas)
analisando-as e classifcando-as) sem todavia nos transmi
tir essa espcie de frialdade de corao) prpria dos natura
listas quando estudam uma rocha) uma planta ou um ani
mal. O filsofo) impassvel ao analisar e classificar os fe
nmenos do esprito humano) h-de misturar ao sorriso que
provocam todas as vaidades e iluses o amor que merecem
todos os sentimentos ingnuos e fundamentalmente bons)'
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h-de aliar compreenso da nulidade extrnseca das coisas
a compreenso da sua excelncia intrnseca; exigindo que o
homem sea activo, porque a actividade boa por ser indis
pensvel sade do esprito, embora os objectos da activi
dade sejam as ,mais das vezes -ritos e nulos, quando consi
derados em si prprios e isoladamente.
E eis a as razes por que no sou budista . . . nem Antero
de Quental o , embora julgue s-lo. A evoluo dolorosa
que terminou com o seu ltimo soneto, esta longa e tempes
tuosa viagem atravs do mar tenebroso da fantasia metafi
sica, parece ter concludo. A idade, talvez, acima de tudo,
trouxe ao esPrito de poeta uma paz iluminada de bondade e
sabedoria: e como a sua alma s e a sua inteligncia firme
e sempre activa, mais que provvel que o declinar da vida
de Antero de Quental enriquea o peclio, por sinal bem
pobre, da filosofia portuguesa com algum trabalho to
digno de se conservar na memria dos tempos como estes
Sonetos, que so as amargas fores de uma mocidade. Es
se trabalho, porm, no ser um catecismo budista, no
pode ser nenhuma revelao milagrosa do verdadeiro sis
tema, porque a sabedoria nos diz que toda a pretenso da
Verdade ilusria, pois sendo ns, a nossa inteligncia, os
nossos pensamentos, simples e fugitivas contingncias,
loucura pensar que jamais possamos definir o Absoluto.
Cada qual sente-o a seu modo, segundo o seu tempera
mento; e sbio aquele que se limita a registar as relaes
das coisas.
III
Quem diante destes versos no sentir elevar-se-lhe o es
prito, como numa orao, quela espcie de Deus que
26
compatvel com o seu temperamento ou com o estado de edu
cao do seu pensamento, porque tem dentro do peito, no
lugar do corao, um seixo polido e frio. Quem, no meio do
lidar da vida, roando os braos pelas arestas cortantes que
a eriam de ngulos, pousar o olhar da. alma sobre um
destes sonetos e no sentir o que os sequiosos sentem ao
encontrarem um arroio de gua lmPida, porque tem a
alma feita apenas de egosmo. Quem, emergindo dos mon
tes de papelada que as imprensas vomitam diariamente,
deitar os olhos sobre estas pginas e no sentir o deslumbra
mento que os diamantes produzem, porque a sua vista se
embaciou com o exame dos livros grosseiros em todo o sen
tido, e a sua lngua perdeu o hbito de falar portugus.
Um dos nossos queridos amigos, um dos que conhecem de
perto Antero de Quental -e somente o conhece quem com
ele viveu largo tempo na intimidade -, interroga-me
geralmente deste modo: E santo Antero, como vai?
Di
r quebranta
Este meu vo sofrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o Cu a minha alma sobe e canta.
Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,
Que ao Mundo traz piedosa mais um dia . . .
Canta o enlevo das coisas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta . . .
Mas, de repente, um vento hmido e frio
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. -A noite negra e muda: a dor
C vela, como dantes, ao meu lado . . .
Os meus cantos de luz, anjo adorado,
So sonho s, e sonho o meu amor!
41
IDEAL
Aquela que eu adoro no feita
De lrios nem de rosas purpurinas,
No tem as formas lnguidas, divinas,
Da antiga Vnus de cintura estreita . . .
No a Circe, cuj a mo suspeita
Compe fltros mortais entre runas,
Nem a Amazona, que se agarra s crinas
Dum corcel e combate satisfeita . . .
A mi m mesmo pergunto, e no atino
Com o nome que d a essa viso,
Que ora amostra ora esconde o meu destino . . .
como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solido,
Nuvem, sonho impalpvel do Desejo . . .
42
ABNEGAO
Chovam lrios e rosas no teu colo!
Chovam hinos de glria na tua alma!
Hinos de glria e adorao e calma,
Meu amor, minha pomba e meu consolo!
D-te estrelas o Cu, flores o solo,
Cantos e aroma o ar e sombra a palma,
E quando surge a Lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fm seu preguioso rolo!
E nem sequer te lembres de que eu choro . . .
Esquece at, esquece, que t e adoro . . .
E ao passares por mim, sem que me olhes,
Possam das minhas lgrimas cruis
Nascer sob os teus ps flores fiis,
Que pises distrada ou rindo esfolhes!
43
VISITA
Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumei-o .de almscar rescendente;
Vesti-me com a prpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo:
Ungi as mos e i face com o nardo
Crescido nos j ardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Misteriosa visita a quem aguardo.
Mas que flha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre hmida pousada? . . .
Nem princesas, nem fadas . Era, for,
Era a tua lembrana que batia
lia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . : . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 09
DIvina comedIa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 08
Elogio da Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Em viagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Enquanto outros combatem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84'
Espectros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Espiritualismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 23
Estoicismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Evoluo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 22
1 43
Flrido Teles (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 3 1
Germano Meireles (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Hino razo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Homo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 20
Ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Ideia (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 3
Idlio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Ignoto Deo . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Ignotus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 06
Inconsciente (O) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 07
J. Flix dos Santos (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Joo de Deus ( A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 04
}.it
'
i
'
:r
'
Lacrimr rerum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Lamento . . . . . . . . . . .
.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Logos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 8
Luta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 2
M. C. (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 a 36
Me . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Mais luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Mea culpa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Metempsicose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2 1
Mors-amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 03
Mors liberatrix . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Na capela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Na mo de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Nirvana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
No circo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Nocturno . . . . . . . . . . . . . . . . " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1
No turbilho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . : . . . . . . . . . 72
Nox . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Oceano nox . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 25
O que diz a Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Palcio da ventura (O) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Palavras dum certo morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I I I
Pequenina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Qui a rternus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 05
Quinze anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1
Redeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 27
Salmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Santos Valente (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Sepultura romntica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Solemnia verba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 34
Sonho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Sonho oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . '. . 38
Sulamita (A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Tese e anttese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 e 55
Tormento do ideal . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
1 44
Transcendentalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Velut umbra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V
!
r
em Santssima () . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Vlsao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Visita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Voz do Outono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Voz interior
89
77
87
73
44
80
1 29
A GERAO DE 70
Primeiro volume
A Gerao de 70
por lvaro Manuel Machado
Antero de Quental: Textos Doutrinrios e Correspondncia
Segundo volume
Antero de Quental: Sonetos
Terceiro volume
Tefilo Braga: Histria do Romantismo
em Portugal I
Quarto volume
Tefilo Braga: Histria do Romantismo
em Portugal I
Quinto volume
Oliveira Martins: Portugal Contemporneo I
Sexto volume
Oliveira Martins: Portugal Contemporneo I
Stimo volume
Oliveira Martins: Histria da Civilizao Ibrica
Oitavo volume
Oliveira Martins : Portugal nos Mares (antologia)
Nono volume
Ramalho Ortigo: Holanda
Dcimo volume
Ramalho Ortigo: As Farpas I (antologia)
Dcimo primeiro volume
Ramalho Ortigo: As Farpas I (antologia)
Dcimo segundo volume
Gomes Leal: Poemas Escolhidos (antologia)
Dcimo terceiro volume
Fialho de Almeida: Contos
Dcimo quarto volume
Fialho de Almeida: Os Gatos ( antologia)
Dcimo quinto volume
Conde de Ficalho: Uma Eleio Perdida
Dcimo sexto volume
Ea de Queirs: Os Maias
Dcimo stimo volume
Ea de Queirs : Correspondncia de Fradique Mendes
Dcimo oitavo volume
Ea de Queirs: Notas Contemporneas
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