Popper Epistemologia Sem Um Sujeito Conhecedor
Popper Epistemologia Sem Um Sujeito Conhecedor
Popper Epistemologia Sem Um Sujeito Conhecedor
BELO HORIZONTE
2020
Capítulo 3 – Epistemologia sem um sujeito conhecedor
5 – Observações históricas
Popper critica Brouwer não como matemático e sim por sua epistemologia e
sua filosofia de matemática intuicionista.
Popper tenta compreender a epistemologia de Brouwer conjecturando que ela
brota de uma tentativa para resolver uma dificuldade na filosofia da matemática de
Kant.
Para entender Brouwer precisamos analisar sua formação kantiana. Para Kant,
a intuição é fonte de conhecimento, e a intuição pura é uma fonte infalível de
conhecimento, dela emerge a certeza absoluta.
Já Kant tirou essa doutrina de Plotino, Santo Tomás, Descartes e outros.
Originariamente, intuição significava percepção, o que vemos, percebemos quando
olhamos para outro objeto.
Mas de Plotino em diante desenvolve-se um pensamento discursivo em
contraste à intuição, que era o modo de Deus conhecer tudo de relance. Já o
pensamento discursivo é o modo humano, em que argumentamos passo a passo.
Kant sustentava que a intuição dos sentidos pressupõe a intuição pura: nossos
sentidos não podem fazer seu trabalho sem antes ordenar suas percepções de
tempo e espaço (intuição pura). A intuição pura se limita estritamente ao campo
de validade a priori, que é distinta do modo intelectual ou discursivo de pensar.
Para Kant, a geometria e a aritmética são decorrentes da intuição pura e, portanto,
válidas a priori, totalmente dissociadas do modo intelectual ou discursivo de
pensar.
Ocorre que, segundo Popper, essa teoria das fontes de conhecimento
matemático de Kant sofre de equívocos, pois ainda que se admita tudo o que ele
diz, fica claro que na geometria de Euclides, quer se use ou não a intuição pura se
faz também uso da argumentação intelectual, de dedução lógica.
Diante disso, resta claro que há uma lacuna ou mesmo uma contradição na
teoria de Kant ao excluir da geometria e da aritmética os argumentos discursivos.
Brouwer resolveu esse problema dizendo que devemos distinguir entre dois
níveis, um nível intuitivo e mental, essencial para o pensamento matemático, a
construção do objeto matemático e outro discursivo e linguístico e essencial para a
comunicação somente.
Com essa teoria Brouwer resolveu, na filosofia da matemática 3 grandes
conjuntos de problemas: