Ética e Serviço Social
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ISSN 2317-3769
TICA E SERVIO SOCIAL: REFLEXES SOBRE A VIVNCIA PROFISSIONAL. Patrcia Maria Bispo Farias1
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade analisar as mudanas ocorridas na profisso de Servio Social e qual a contribuio que as mesmas trouxeram para a categoria, mais precisamente, como o Cdigo de tica Profissional de 1993, vem sendo aplicado em sua prtica. Para realizao desta pesquisa foi feita entrevista semiestruturada de carter qualitativo, exploratrio, descritivo e a observao assistemtica e anlise de contedo a observao de desempenho com profissionais do Servio Social alunos do curso de ps Graduao em Gesto e Planejamento Estratgico em Servio Social da FANESE. Utilizouse como instrumento tcnico para a coleta de dados a entrevista. Tambm, optou-se pela aplicao tcnica de observao. A observao cuidadosamente analisada possibilitou compreender como atuam os profissionais e confrontar os valores que regem seus comportamentos e atitudes com os princpios do Cdigo de tica. Percebeu-se que os Assistentes Sociais apresentam um discurso dbio, ao mesmo tempo em que recorrem ao Cdigo de tica para fundamentar suas aes, entram em conflito com suas prprias percepes de mundo.
1. INTRODUO O referido artigo tem como finalidade refletir sobre a aplicabilidade do Cdigo de tica Profissional na prtica dos Assistentes Sociais. O interesse pelo tema surgiu em virtude do Projeto tico-poltico dos profissionais de Servio Social, materializado entre outros pelo Cdigo de tica de 1993, o qual enfatiza e prioriza a ampliao e consolidao da cidadania. Esta considerada tarefa primordial de toda a sociedade com vistas garantia dos direitos civis, sociais e polticos das classes trabalhadoras, e revela-se como um dos princpios fundamentais a serem
Graduada em Servio Social pela Universidade Tiradentes - UNIT em Aracaju no Estado de Sergipe.Ps Graduanda em Gesto e Planejamento Estratgico em Servio Social pela Faculdade de Administrao e Negcios de Sergipe- Fanese em Aracaju no Estado de Sergipe.E-mail: [email protected]
FACULDADE DE ADMINISTRAO E NEGCIOS DE SERGIPE - FANESE ARACAJU SERGIPE REVISTA ELETRNICA DA FANESE VOL 1 N 1 DEZEMBRO 2012
A palavra tica no tem o mesmo sentido para todos. Inmeras so as contradies em torno das definies e seu entendimento entre antigos e modernos. A tica profissional acolhe determinaes que antecedem a ocupao abraada pelos sujeitos. A escolha desta ou daquela profisso influenciada pelos processos vivenciados, reforados ou mesmo em oposio pelos princpios sociais, religiosos e culturais sob forte interferncia da gama de informaes apreendidas. A percepo de quem quer que argumente que a discusso sobre tica e profisso rene conhecimentos situados to somente no campo das cincias sociais certamente v-se obrigado a situar a si mesmo. Sendo que, alguns dos seus vieses resultam de conceitos de valor moral que perpassam por formulaes inerentes a classe, gnero, nao, gerao e ocupao profissional. Segundo Oliveira (1998, p. 11), A tica teoria, investigao ou explicao de um tipo de experincia humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado, porm na sua totalidade, diversidade e variedade. Nesse veio de anlise, a moral refere-se, em linhas gerais, aos padres, aos valores e s normas que regem a conduta dos seres humanos em sociedade. Entendendo-a assim, cabe salientar que, alm de diversidade e variedade no evolver histrico, essa concepo v, em uma mesma sociedade, a possibilidade de coexistncia de diferentes morais, tal como se verifica, por exemplo, nas sociedades divididas em classes antagnicas. Assim, o primeiro Cdigo de tica Profissional do Assistente Social elaborado pela Associao Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) data de 1947, aprovado em 1948. Dizia o Cdigo de tica do Assistente Social em 1947: moral ou tica pode ser considerada como a cincia dos princpios e das normas que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal.
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fundamentar-se no personalismo e na defesa, dentre outros postulados, do bem comum e da justia social. Aparentemente, o Cdigo de 1975 uma continuidade dos anteriores2, reproduz os mesmos postulados tradicionais abstratos, reafirma a posio acrtica em face da ao disciplinadora do Estado. Nesse sentido Bonetti (2005, p.114) registra o Cdigo de 1975 como herdeiro e mantenedor, em certa medida, numa linha de continuidade, da moral profissional preconizada desde 1947. E continua o dilema que tortura as mentes dos intelectuais: como fazer Servio Social? O projeto de transformao mais geral vai alm das prticas profissionais, chega aos sindicatos, aos movimentos sociais e aos partidos polticos. importante colocar a expresso de um projeto que conseguiu legitimar-se e se tornar hegemnico. Nesse contexto de renovao apontado nos avanos obtidos com o Cdigo de 1986 deve-se considerar a retomada do debate sobre a tica profissional.
Conflitos nas fbricas e a mo forte da ditadura militar marcaram a elaborao do 1 Cdigo de tica, de 1947, aprovado em 1948. O Cdigo de 1965 clamava por profissionais mais atuantes com entendimento sociopoltico pautado na teoria marxista.
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4 - RESULTADOS E DISCUSSO Com a entrevista buscou-se, conhecer a percepo dos profissionais de Servio Social acerca do Cdigo de tica, e com as reflexes postas que suscitam e constituem a tica props-se a responder as indagaes que se impuseram: na sua compreenso o que tica profissional? Qual a importncia do Cdigo de tica do Servio Social? Como voc percebe a relao da tica com a prtica? Nesse sentido, em cada uma das variveis sero utilizadas as falas mais representativas dos profissionais uma vez que ocorreu grande repetio nas respostas. No quesito que se refere ao conceito de tica profissional, percebeu-se que alguns sujeitos da pesquisa tm uma viso reducionista e equivocada dos valores da tica no servio social, o que se evidencia na seguinte fala:
o que nos indica a conduta a seguir no cotidiano do trabalho. A tica nos indica os valores que devemos adotar em todas as relaes que estabelecemos no ambiente de trabalho, seja com outros profissionais, usurios ou instituio. (E. D.).
Esta afirmao apresenta-se de forma limitada e retrograda, pois como indica Bonetti (org.) et al. (2007):
[...] em relao formao profissional dada das primeiras escolas de Servio Social, que enfatizavam a necessidade do estudo da filosofia e da tica como fornecedores da base moral do comportamento profissional. [...] na produo posterior ao Movimento de Reconceituao, esta preocupao com a filosofia e a tica se dissolve na constante negao dos valores universais abstratos, sem, no entanto, indicar de forma mais especifica qual seria a diferena entre o dever missionrio e o dever pautado nos novos valores (BONETTI (org.) et al. 2007, p. 79).
Quanto valorao da importncia do Cdigo, percebeu-se coerncia sinttica na reposta dada, visto que indica o sentido maior do mesmo e aponta, ainda, o desafio posto sua implementao.
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Mesmo indicando corretamente a essncia fenomnica do Cdigo de tica, a resposta no contempla mais profundamente a representao deste importante instrumento de regulao profissional.
Um cdigo de tica representa uma exigncia legal de regulamentao formal da profisso e, como tal, um instrumento especifico de explicao de deveres e direitos profissionais, ou seja, refere-se a uma necessidade formal de legislar sobre o comportamento dos profissionais (BONETTI (org.) et al. 2007: 79).
Percebe-se ao analisar a fala da profissional a inexistncia de uma reflexo e produo sobre a tica no Servio Social, a qual acontece de forma generalizada, produzindo, portanto, esta viso minimalista do que vem a ser a tica profissional. Isso se evidencia na percepo que a Assistente Social entrevistada tem sobre a relao da tica com a prtica.
No sei se existe prtica sem tica, ou se existe ela se desqualifica. Toda profisso deve ser eticamente norteada, do contrrio age-se na insegurana, o que evidencia uma prtica coberta de incertezas e inseguranas. Na nossa profisso no existem receitas, como j nos mostra Iamamoto, mas o cdigo de tica nos indica que valores seguir. Ento na prtica, tentamos materializar esses valores, o que torna o exerccio profissional bem mais fcil (L. R.).
Compreende-se, ao contrrio do que pontuou a entrevistada que toda prtica seja ela profissional, ou no, est impregnada de tica, de moralidade, mesmo sendo esta propagada na tica/moral estabelecida profissional ou coletivamente; o que diferencia, entretanto, em relao ao comportamento profissional, que o mesmo, afastando-se das normas que o direcionam, tornam-se passiveis de sanses dos rgos regulamentadores (CEFESS/CRESS) do fazer profissional do Assistente Social. Diante das reflexes postas, considera-se que a implementao e efetivao dos princpios ticos, como tambm daqueles promulgados no Cdigo de tica do Servio Social de 1993, tornam-se uma tarefa espinhosa, se no um dilema para toda a categoria.
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A tica profissional e a aplicabilidade da tica geral no campo dos exerccios profissionais; o sujeito tem que estar convicto de princpios e valores inerentes ao ser humano para vivenci-los no seu processo laboral, um modo particular de objetivao da vida tica, em que suas particularidades se inscrevem na relao complexa que legitimam a profisso e a diviso scio tcnica do trabalho. 5 - CONSIDERAES FINAIS
Pode-se concluir ao realizar o presente estudo que os desafios a serem enfrentados pela profisso de Servio Social esto todos ligados questo social. Nas reflexes aqui postas, convm frisar a importncia da atuao do profissional do Servio Social, baseado nas perspectivas que esto preconizadas no Cdigo de tica dos Assistentes Sociais de 1993. Vale ressaltar que em meio a todo esse processo dialtico, o profissional est inserido no contexto social e seu pilar central
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