2496-Texto Do Artigo-7481-2-10-20240115
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Resumo: Este artigo objetiva problematizar a presença do Serviço Social Libertário, que é
um movimento conservador desde 2016, primando tensionar o Projeto Ético-Político. Para
tanto, faremos um resgate do conservadorismo nas bases da profissão, analisaremos teses
do texto 23 teses pela reforma do Serviço Social brasileiro, como também tomaremos como
referências as contribuições teóricas de Iamamoto (2007; 2011), Netto (2005; 2006), Silveira
(2019), entre outros. Utilizaremos como método de análise o materialismo histórico-dialético,
visando apreender o fenômeno em sua essência. O trabalho revelou acerca da atual
conjuntura neoconservadora, pois o Serviço Social enfrenta os rebatimentos viabilizadores
dos direitos sociais.
Abstract: This article aims to problematize the presence of the Libertarian Social Service,
which has been a conservative movement since 2016, stressing the Ethical-Political Project.
In order to do so, we will rescue conservatism in the foundations of the profession, we will
analyze theses from the text 23 theses for the reform of Brazilian Social Work, as well as
taking as references the theoretical contributions of Iamamoto (2007; 2011), Netto (2005;
2006), Silveira (2019), among others. We will use historical-dialectical materialism as a
method of analysis, aiming to apprehend the phenomenon in its essence. The work revealed
about the current neoconservative conjuncture, as the Social Service faces the
repercussions that enable social rights.
1. INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e-mail: [email protected].
2
Mestrando em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e-mail: [email protected].
Londrina PR, de 24 a 27 de maio de 2022.
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contemporâneo, que remonta da década de 1970. Vista como uma ideologia que se
apresenta na sociedade em momentos de crise do capitalismo, o conservadorismo aparece
sendo utilizado para avançar processos de precarização, desmobilização, flexibilização e
superexploração, visando, dessa forma, alavancar as taxas de lucro.
Essa crescente do pensamento conservador impacta diretamente o Serviço Social,
pois a profissão não se faz alheia à sociedade. Pelo contrário, é composta justamente por
sujeitos políticos e influenciada pelas contradições presentes na sociedade e pelos
tensionamentos que dela derivam. Dessa forma, é “lógico” que as transformações
societárias influenciem ou provoquem mudanças no interior da profissão.
É nesse contexto que surge o “Serviço Social Libertário”, movimento no interior da
categoria composto por estudantes, professores e profissionais, que visa tensionar a
hegemonia do Projeto Ético-Político Profissional, uma vez que, como sabemos, possui uma
perspectiva de justiça e emancipação social. O movimento, em sua grande maioria
composto por profissionais (ainda que possua também representação entre os estudantes e
docentes) nos faz crer que as transformações sociais da última década, bem como a
multiplicidade de demandas exigidas nos espaços sócio-ocupacionais criaram um ambiente
propício para o fomento de outras perspectivas de atuação de cunho conservador.
O referido trabalho trata-se de uma pesquisa de égide documental e bibliográfica.
Para tanto, utiliza como embasamento teórico as contribuições bibliográficas de Iamamoto
(2007; 2011), Netto (2005), Silveira (2019), levando-se também em consideração o Código
de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão (1993), dentre outros autores
que tratam acerca do processo histórico e teórico-metodológico do Serviço Social.
De início far-se-á uma abordagem acerca do surgimento do conservadorismo
profissional do Serviço Social. Em seguida, será feita uma contextualização histórica do
Serviço Social Libertário. Posteriormente serão apresentados os principais desafios
colocados para o Serviço Social frente às problemáticas vivenciadas hodiernamente.
Segundo Iamamoto (2011), o Serviço Social é uma profissão que atua justamente
junto à classe trabalhadora e, a partir das expressões concretas das relações sociais no
cotidiano, o Assistente Social efetiva sua intervenção:
Vale ressaltar que a presença do diálogo com outras vertentes teóricas existe no
Serviço Social, sendo assegurada justamente pela defesa do pluralismo presente no Código
de Ética Profissional de 1993. O sétimo princípio fundamental do código defende a “garantia
do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas
expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual” (CFESS,
1993, p. 3).
A acusação, portanto, de ausência de pluralismo não se sustenta, principalmente,
porque a própria existência de movimentos teóricos e políticos divergentes do hegemônico
na profissão e que buscam a reformulação de suas bases atestam a liberdade de livre
pensamento presente. O que não quer dizer, todavia, uma passividade dos demais
profissionais em relação a essas abordagens, que tentar fragilizar o Projeto Ético-Político e,
portanto, devem ser problematizadas.
Outra tese presente no manifesto do Serviço Social Libertário, que, por sua vez,
merece ser destacada pelo seu conteúdo e suas potenciais implicações, é aquela que diz
respeito às supostas “novas demandas sociais” que surgem advindas das crises políticas e
ideológicas e que, dessa maneira, exigiria uma nova configuração dos profissionais. Essa
tese formula especificamente quais devem ser as novas preocupações do Assistente Social
que deveriam “estar mais voltados à profissão do que à aderência a uma ideologia que
defende todas as causas e movimentos sociais políticos de certo grupo de forma político-
partidária” (OLIVEIRA, 2017, p. 7). Segundo a tese, o Serviço Social deveria se preocupar
com demandas cotidianas de seus espaços sócio-ocupacionais, privilegiando a dimensão
prática e se distanciando de questões de “viés político-partidário-ideológico, como o aborto,
o feminismo, o movimento LGBTQIA+, os Sem-Terra, etc.” (OLIVEIRA, 2017, p. 7).
O conteúdo político dessa defesa é a de um profissional tecnicista, apolítico e
distanciado das lutas que permeiam a sociedade, profissional esse cujo perfil é demandado
pela lógica neoliberal atual. Esse perfil profissional, inclusive, é amplamente produzido pelas
formações aligeiradas e deficitárias das instituições de ensino “superior” à distância, que não
coincidentemente, são defendidas abertamente na 19° tese do movimento.
Por fim, destacamos ainda a sexta tese que dispõe sobre a identidade profissional e
que reivindica a revisão da Lei de Regulamentação da Profissão, do Código de Ética
Profissional, das Diretrizes Curriculares e até das disciplinas dos cursos de graduação de
modo a adequar o Assistente Social à “lógica da profissão e não da militância”. Tal tese
busca, de fato, uma reforma das bases profissionais através de seus dispositivos legais e
teóricos, de maneira a transformar o Serviço Social numa profissão semelhante às suas
origens, com forte carga conservadora e desvinculada da defesa dos interesses da classe
trabalhadora.
Londrina PR, de 24 a 27 de maio de 2022.
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Como explicitado no Código de Ética, é uma direção que, colocando como valor
central a liberdade, fundada numa ontologia do ser social assentada no trabalho,
tomando como princípios fundamentais a democracia e o pluralismo e posicionando-
se em favor da equidade e da justiça social, elege um projeto profissional vinculado
ao processo de construção de uma nova ordem societária (VASCONCELOS, 2006,
p. 131).
usuários” (CFESS, 1993, p. 23). Sobre esta afirmação mencionada, Vasconcelos (2006)
destaca que
4. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS
Serviço Social Libertário, que visa reformular as bases da profissão resgatando seu passado
conservador.
Seu surgimento, datado de 2016, acompanha a ascensão conservadora na
sociedade brasileira, efeitos das jornadas de junho de 2013 que geraria um período de
intensas movimentações da direita culminando no Golpe de 2016, que retirou da presidência
a então presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff. Concluímos, pois, que a
presença do Serviço Social Libertário representa uma expressão do conservadorismo
sempre latente na profissão e que, assim como todas as outras, precisa ser compreendida e
combatida, de modo a defender e afirmar o compromisso ético-político da profissão, em
defesa da liberdade e aliado aos interesses da classe trabalhadora.
Cabe destacar que na contemporaneidade, estamos vivendo um processo de
retrocesso dos direitos sociais através de um governo brasileiro considerado conservador,
negacionista, genocida frente à sociedade democrática, na qual vivemos uma camuflagem
ditatorial, uma vez que o sistema de gestão autocrática prepondera no que diz respeito ao
regimento e execução das políticas públicas brasileiras, criminalizando as lutas dos
movimentos sociais, que, por sua vez, consiste num Estado autocrático como violador dos
direitos humanos, sociais e políticos.
Desse modo, é essencial que o profissional de Serviço Social tenha um ampliado
conhecimento da realidade, além de domínio teórico e metodológico da realidade
profissional, como também habilidades técnico-operativas, nas quais possibilitam o
atendimento das demandas impostas ao cotidiano da prática profissional, permitindo o
exercício das práticas democráticas no processo de tomada de decisões, na participação
das lutas em defesa dos interesses da população, bem como na promoção do bem-estar
dos usuários compreendendo-os a partir dos condicionantes sociais, econômicos e culturais,
viabilizando as políticas sociais como direito de todos e dever do Estado.
Para tanto, faz-se necessário afirmar que, apesar das dificuldades enfrentadas no
tocante à viabilização dos direitos sociais para a população, os Assistentes Sociais devem
sempre estar se atualizando frente às novas perspectivas das conjunturas políticas,
hodiernamente existentes no Brasil, além de buscarem sempre estarem presentes nos
processos de planejamento, controle, execução e avaliação das políticas públicas, com a
finalidade de participar da luta em prol dos direitos sociais da população, em conformidade
com o que estabelece a Constituição Federal de 1988.
Desse modo, faz-se necessário resistirmos a todas essas formas de opressão e
negação de direitos sociais e continuarmos nadando contra essa nefasta correnteza de
legitimação da discriminação, da criminalização dos movimentos sociais, do retrocesso das
Londrina PR, de 24 a 27 de maio de 2022.
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políticas sociais entre inúmeros fatores nas quais violam as políticas sociais conquistadas
através de lutas da população.
5. REFERÊNCIAS
COSTA, Maria Dalva Horácio. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos(as)
assistentes sociais. Cap. 7. 2ª Parte: Serviço Social e Saúde. In: MOTA, Ana Elizabete. et al.
(Orgs.). Serviço Social e Saúde. São Paulo: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006.
NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do Serviço Social. In: MOTA, Ana
Elizabete et al. (Orgs.). Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. São
Paulo: Cortez, 2006. Disponível em:
http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/inicio.htm. Acesso em: 04 out. 2019.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 4. Ed. São Paulo: Cortez,
2005.
SOUZA, Jamerson Murillo Anunciação de. O conservadorismo moderno: esboço para uma
aproximação. In: Serviço Social & Sociedade [online]. 2015, n.122, pp.199-223. ISSN
0101-6628. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.020. Acesso em: 16 out.
2021.