História Do Teatro I e II Apostila de Apoio
História Do Teatro I e II Apostila de Apoio
História Do Teatro I e II Apostila de Apoio
Egito
possvel encontrarmos no Egito uma das formas mais primitivas conhecidas do
fazer teatral. Nessa civilizao em que o enviesamento do olhar acontecia com o culto
aos mortos e a ocupao com a vida aps a morte. A teatralidade fora reinante nos
cerimoniais religiosos de coroao, jubileu, funerais e cuidados com a sade dos reisdeuses ou faras. Em 1882, um historiador chamado Gaston Maspero, demonstrou
que as inscries nas pirmides eram, em grande parte, recitaes dramticas de
rituais religiosos. A exemplo do pronunciamento de uma frmula mgica que a deusa
sis evoca para salvar seu filhinho Hrus da picada de um escorpio.
Durante as cerimnias, constantemente eram apresentadas os deuses atravs de
mscaras, danas, recitaes e msica. Vale lembrar a figura do ano do fara, que
gozava a sorte de grande privilgio diante a ele, dando-lhe conselhos e animando-o,
podendo at mesmo critic-lo em algumas circunstncias. Cada sacerdote era um
representante direto de um deus que, por sua vez, era evocado para demonstrar seus
prodgios atravs da arte. No caso do teatro de sombras, por exemplo, uma das mais
antigas formas de representao conhecida, datando por volta de dezoito sculos
antes de Cristo, o fara realmente podia crer que conversava com os espritos dos
mortos durante a pea e eram punidos aqueles que ofendiam essa credibilidade de
alguma forma.
O canto, a dana e a msica, porm, nunca foram exclusividade corts, mas
tiveram sempre presentes nos meios populares e comemoraes festivas de todos os
povos, seus maiores representantes so os mimos de rua, farsistas, danantes e
acrobatas. Duas festas tiveram sua carreira na histria dos egpcios:
Mesopotmia
Os Festivais egpcios deram origem, entre os mesopotmicos e sumrios, a uma
imagem dos deuses mais humanizada, no em aparncia externa, mas em suas
emoes. O que, de fato, bifurca o caminho na estrada que leva ao teatro, j que: o
drama se desenvolve a partir do conflito simbolizado na ideia dos deuses transposta
para psicologia humana.
Os sumrios desenvolveram breves enredos celebrativos dos Casamentos
Sagrados. Peas do matrimnio entre o deus e um homem, representadas por
pantomimas de um grande banquete; um drama religioso no qual os deuses passam a
descer Terra atravs de msicos, cantores, vocalistas que pertenciam a
determinados deuses.
Entre os sumrios tambm, escribas do fara desenvolveram alguns dilogos
satricos inaugurando o teatro secular, a exemplo da Conversa de Hamurabi, um rei
reformador, 1720 a.C., que dialoga com mulher a respeito dos novos ideais de
realeza: um prncipe humilde, temente aos deuses, pastor do povo. E, mais
recentemente, Enmerkar e o Senhor de Arata, O Mestre e o Escravo e Carta de um
deus, comdias repletas de trocadilhos satricos, poema heroico e pardias grotescas.
Em O Mestre e o Escravo um servo expe a vacuidade e relatividade dos bons
conselhos e decises bem consideradas.
Alm dos dilogos sumrios, nas cidades prximas de Ur, Uruk, Nipur, Assur,
Dibatt, Harran, Mari, Umma, Lagash, Perspolis (cidade de Drio e Alexandre, fundada
to somente para os Festivais de Ano Novo), eram celebradas apresentaes e
brincadeiras tambm muito bem humoradas dos deuses, nos quais eles discutiam e
disputavam poderes, muitas vezes representados at mesmo de forma grotesca e
sempre pardica. Ao todo se tem conhecimento de sete destes dilogos das Disputas
Divinas.
Civilizaes islmicas
Prsia
Nesta regio predominou a religio
monotesta que foi organizada por Maom na
fundao do Estado islmico por volta de 610.
L at hoje h a proibio da personificao
de
Deus,
o
que
sufoca
qualquer
desenvolvimento dramtico a partir da
representao imagtica humana e muito
menos de Deus, j que Esse seria
irrepresentvel e invisvel, acusando o ato de
iconoclastia. No entanto, desde muito cedo, estimulados pelos romanos, eles
apreciam o combate e luta dos gladiadores, a dana e as artes plsticas.
Em 632 morre Maom e a batalha de seus sucessores pela posse do Imprio
tornou-se um dos maiores motivos dramticos que a humanidade pode testemunhar
at os dias de hoje nos festivais de cunho altamente religiosos entre os mulumanos,
o Muharram1. Um sacerdote, mollah, organiza, dirige e narra o drama que se chama
taziy, que quer dizer toldo, tem origem em lamentaes e recitaes picas e
lricas das assembleias de luto de Hussein que ocorriam num tapete coberto por um
toldo. A cerimnia hoje celebrada por volta de todo o mundo e envolve fiis que se
1 BERTHOLD, M. In: Civilizaoes islmicas.Histria Mundial do Teatro. SP: Perspectiva, 2001,
p. 20.
penitenciam muitas vezes com chicoteadas nas costas, s vezes com tinta, e jogando
terra na cabea.
Turquia
A Turquia, um pas mulumano de origem islmica, conseguiu boicotar Maom
com personificaes de tipos tnicos pelos artistas de rua, troupes e mmicos de todas
as nacionalidades. H influncia da sia Central, Grcia e Bizncio.
Por volta de 1070 a. C., a rivalidade com os bizantinos dava origem a stiras
turcas como a do Imperador Alxio Comnena, que por sofrer de gota no podia sair a
luta.
Por influncia asitica desenvolveu-se o ortaoyunu feito para os sultes e em
celebraes sob sua ordem. A origem estaria no xamanismo e em rituais primitivos de
exorcismo e evocao das foras da natureza, o oyun asitico. Com ele recuperava-se
a sade, impedia-se catstrofes naturais, como vulces, tempestades e furaces, e
celebrava-se a colheita (influenciadas tambm pelo culto a Dioniso na Grcia). No
to breve, teve origem as celebraes do Jogo do Meio, crculo ou anel, no qual
punha-se um toldo, dois biombos e msicos, danarinos e alguns cmicos
apresentavam suas cenas num espao ovalado.
As farsas populares de tipos tnicos se desenvolveram a partir dos personagens
Pischekar e Kavuklu (que mais adiante se assemelhou ao Karagz do teatro de
sombras). Compunha-se uma gama bem variada de tipos populares que arrancavam o
riso contundente da plateia: o jovem dndi, a linda messalina, o ano ingnuo, o
persa com pipa dgua, o albans, o viciado em pio, o bbado, e outros...
Os bonecos Karagz* e Hadjeivat, formando uma dupla cmica que, tendo
vencido todo tradicionalismo da religio (quem poderia acusa-los de serem imagens
humanas, grotescos que eram?), percorreram e percorrem at hoje o palco de todo o
Oriente e Europa (Balcs, sia, Grcia e Norte). Sua origem lendria remonta a
histria de dois trabalhadores de uma mesquita que paralisavam o trabalho de seus
colegas com seus trocadilhos e duelos verbais, muitas vezes obscenos e indecentes.
O sulto ordenou que os matasse,
contudo,
arrependeu-se
pelo
que
causara e resolveu torna-los em dois
bonecos do teatro.
O teatro turco se abriu para
apresentao de peas ocidentais de
grandes autores como Goldoni, Molire,
Goethe, Lessing, no sculo XIX. E em
1867 funda o primeiro teatro turco,
denominado orta oyunu com uma
cortina. Em 1873 um grande drama
chama a ateno de todo o mundo para
o teatro turco, Vatan de Namik Kemal,
com um maior sucesso em 1908 aps a
revoluo.
Destaca-se a tradio dos meddhas
(contadores de histrias turcos) e dos
dervixes (uivadores e danarinos), que
comearam com apresentaes para
sustentar o mosteiro e hoje so uma grande atrao turstica de Teer, Istambul e do
Cairo, tendo viajado pelo mundo inteiro com suas danas e recitaes.
*Karagz hoje tambm significa um seminrio poltico, pela influncia que esses
artistas tiveram em questes polticas em 1870.
Civilizaes indo-pacficas
O prprio deus Brahma, criador do universo, criou tambm o drama e sua ligao
expressa com a religio, cerimnias de bnos e purificaes sempre ocorrem antes
do evento teatral. Na trindade divina hindu, uma das faces a de Shiva, deus da
morte e do renascimento terreno, chamado Rei dos Danarinos. Teatro e dana so
duas artes inseparveis desde a sua origem, que remonta 3500 anos.
As trs religies indo-pacficas (bramismo, jainismo e budismo) propiciaram o
primeiro impulso ao drama pela sua conceitualizao antropomrfica dos deuses. As
grandes heranas literrias esto no Ramayana e Mahahbarata. Fontes histricas para
a inscrio dos quatros Vedas, ou livros sacros.
Pode ser considerado o quinto Veda justamente o manual que organiza com
mximo detalhes e esmerada erudio as artes da dana e do teatro. Pela tradio,
fora comunicado por Brahma ao sacerdote (bharata) entre 200 a. C. e 200 d. C. Alm
de discutir as questes tcnicas da representao de dana e teatro, o Natyasastra
faz o relato do mito histrico de como foi o primeiro drama montado: ...numa
celebrao celestial em homenagem ao deus Indra...2
H muito que as recitaes picas em forma de dilogo, principalmente as
associadas ao Rig Veda, no qual o rei Puruvas se apaixona pela ninfa Urvasi, eram o
assunto de manipuladores de bonecos e dos mimos de rua, a eles era imputado foras
mgicas e um poder revigorante. O personagem bufo que mais se destacou foi o
Vidusaka, servial que sempre tira amo dos apuros e que torna-se o fiel responsvel
pelas cenas introdutrias do puruvanga (cerimnia de purificao).
O Natyasastra faz uma meno curiosa que remete ao teatro de sombras ao se
referir cortina divisria (yavanika) j nas cavernas de Sitabenga. Fica a pergunta:
qual surgiu primeiro, o teatro de sombras hindu ou chins?
As peas esto dividias segundo duas categorias, sendo a primeira a que trata os temas
de maneira mais sria. Os dilogos englobam toda a extenso da vida, tanto na terra como no
cu. H uma perfeita padronizao estrutural para todas as peas: 5 formas de desenlace,
portanto 5 finalizaes; 48 formas de ser heri; 9 temas (rasas) ou prazeres estticos
extrados de 9 emoes geradoras deste prazer (bhavas): amor, prazer, ternura, furor,
herosmo, terror, nojo, surpresa, calma absoluta.
- Bhavabhuti (ano 700): ortodoxo, elimina o bufo. H duas peas tematicamente muito
prximas de Romeu e Julieta e Hamlet, ele chamado o garganta divina;
- Harshal (sculo VII): Priyadarsika e Ratnavali, pea dentro da pea;
- Tagore (sculo XX): inclue o narrador em cena, assemelhando-se a Bertold Brecht, com
cenrios simplrios e uma direo formal, tendendo para o simblico.
Em todo esse contexto histrico o Vidusaka (Obs.: vithis = cabar), junto aos atores de
rua, mimos e sua arte, no pararam de crescer satirizando com uma verso singular e uma
leitura atualizada da cultura popular.
Religio
e arte
so, portanto,
dois intuio
nomes distintos
que aludem
aidentidade
uma
mesma
experincia,
a uma
da realidade
e da
... a de
finalidade
dos
yogas
levar
a concentrao
mental
at de
ao
extremo
anular
toda
distino
entre
o
sujeito
e
o
objeto
contemplao,
um
meio, emoudefinitivo,
para
alcanar
a
harmonia
unidade
da conscincia
Bagavad
Gita: ...doutrina da
unio
pela ao
... a seno
beleza
tem outra
existncia
a suano
percepo
... a audincia
hindu
escuta
mais
aconcreta
cano
mesma
que
a
execuo
dessa cano
3
... no
contam deuma
histria,
mas
evocam
um estado
nimo
Indonsia
Quando o imprio indiano dominou as ilhas
da Indonsia atravs do comrcio e converso
religiosa, desenvolveu-se a mais bela das formas
teatrais do sudeste da sia, o teatro de sombras
ou wayang.
A origem remota provm de cultos ritualsticos ancestrais. O carter cerimonioso
de excluso e depois separao das mulheres da platia sugere uma ligao com os
cultos de iniciao tal como na Turquia. Da ndia se absorveu os mitos vdicos e
personagens picos do Mahabharata e Ramayana, tornando-os numa rica
representao descritiva.
O wayang eram estritamente reservadas para apresentaes na corte dos
palcios de nobres javaneses. As cerimnias ocorriam para um pblico seleto, pois
cada gesto possua um significado ritual, mgico, sagrado. Era executado pelo dalang,
ator, narrador e comentarista, que necessitava de muitos anos de treinamento para
manipular cerca de 144 figuras diferentes (de acordo com o nmero mstico
correspondente, cada uma, a uma paixo humana). Antes do incio da pea, o dalang
apresenta uma descrio detalhada do lugar e das personagens, introduzindo a ao
que durar das nove horas da noite at o amanhecer e, s vezes, muitos dias em
festivais. Ele consegue movimentar, apenas com duas mos, toda esta gama de
personagens , ainda, reger os msicos e produzir sons com os ps e a boca. Os
homens sentam-se ao lado bom da tela, isto , atrs do dalang, de modo que
possam ver os prprios bonecos, deixando o lado das sombras para as mulheres e
crianas.
A evoluo dos wayang:
China
Cinco mil anos de histria. Civilizao autctone de tempos pr-histricos, semihistricos e histrico. Com uma mitologia de estrutura rgida e muitos deuses. um
pas de grande influncia na cultura e arte ocidental moderna.
As origens do teatro remontam as danas da fertilidade, exorcismos xamnicos,
pantomimas na corte, trocadilhos de bufes, culto dos ancestrais, dos heris e
interveno do misticismo taosta (Lao-ts), filosofia moral de Confcio, budismo e
cristianismo nestoriano.
A formao do Estado se d em 3641 a.C., e at 1000 a.C., a msica era usada
para manter a ordem em cerimnias oficiais, desenvolvendo-se o primeiro sistema
musical baseado em instrumento de cordas, uma espcie de rgo. As danas
xamnicas eram apresentadas diante de catstrofes naturais, eclipses e fenmenos
da natureza como uma forma ritualstica, sagrada e mgica para poder det-los.
No perodo que se segue, comeam a aparecer os primeiros profanadores,
mimos e bufes que, aos poucos, ganham tanto prestgio em episdios triviais que,
por volta de 140 a.C., j fazem parte da nobreza oficial e davam o solavanco para o
surgimento do teatro de sombras.
Mgicos, malabaristas, engolidores de espada, pirotecnia, pantomimas, dana,
acrobacia e teatro de sombra eram populares do lado de fora dos muros da cidade.
Em 610, porm, com o aumento do comrcio exterior (Arbia e Prsia) e a chegada
dos embaixadores, o imperador construiu um teatro que tornou oficial o evento dos
Cem Jogos, um costume tradicional at o sculo XVII.
Em 714 (era do imperador Ming Fujam 712-755) construda a primeira escola
de arte dramtica da China, chamada Jardim das Peras, uma escola imperial que
existe at hoje, inicialmente formada pelos 300 melhores rapazes treinados em
dana, canto e msica instrumental, que puderam provar uma brilhante carreira na
corte ao lado do imperador Ming, tambm conhecido por Hsuan Tsung ou Ming Huang.
Este vinha pessoalmente todos os dias verificar o progresso e talento desses jovens
sempre prontos a atuar, alm de participar ele mesmo de algumas montagens
dedicadas a sua concubina (temas favoritos dos chineses at o sculo XVII); ao
contedo dessas montagens atribui-se a esttica da pera Ming. O imperador Ming
Huang pode ser considerado, portanto, pai honorfico do conjunto de tradies de
pera que atuavam em Pequim e que hoje existem em variedades regionais.
Em paralelo ao Jardim das Peras, havia o Jardim da Primavera Perptua, uma
escola para 300 danarinas tambm escolhidas dedo para apresentarem dentro do
palcio aonde e quando fosse ordenado. As histrias do imperador alimentavam o
contedo das peas.
O imprio assume a sua maior dimenso territorial em 907 e at 998, h um
perodo de muitas guerras civis e divergncias polticas, impedindo assim maior
desenvolvimento do teatro. Aps essa data, e at 1022, a China vivencia um perodo
de ouro para o crescimento da identidade cultural. So representadas cenas histricas
dos Trs Reinados do sculo III em meio a festividades e cerimoniais nos palcios
dedicados aos senhores feudais, com show de variedades (tsa ch), danas, msicas,
farsas e rcitas, no Ching Ming (Festival de Primavera) o festival mais popular de
Pequim.
Com a invaso do imprio turco-otomano de Gngis Khan (1101 a 1125), os
chineses so levados a exilarem-se ao Norte e ao Sul, promovendo a descentralizao
da arte e uma diferenciao do drama do norte e do sul. O drama origina-se por causa
da liberao das foras intelectuais dos grandes exames estatais e como uma forma
de resistncia subterrnea, favorecida pelo surgimento da escrita impressa.
O Norte presenciava uma acirrada afirmao dos valores e deveres na guerra e
nos assuntos amorosos, prestigiava-se a clareza de estilo com uma resistncia
Japo
O registro de presena humana neste conjunto de ilhas (6.852) data de 35.000
a.C. No entanto, o Japo unifica-se pela primeira vez no sculo IV.
O teatro e a dana so caractersticos do xintosmo (principal religio), com
influncias na tradio chinesa e ocidental. Danas sacrificiais e rituais xamnicos so
manifestaes comuns at hoje. A essncia das formas est nas crnicas dos livros
histricos mais antigos, o Kojiki e o Nihongi, que contam dos mitos dos deuses da
criao e nascimento das divindades histria dos primeiros imperadores. A honra de
se danar ou atuar num espetculo passada pela famlia de maneira tradicional at
hoje.
- KAGURA (divertimento dos deuses):
A forma de teatro e dana do primeiro
milnio tem origem nos ritos xintostas de
manifestao dos deuses. O mikagura ocorre
nos palcios imperiais e Santurios Xinto em
oposio ao satokagura, sua verso popular.
Variam radicalmente, consoante as regies,
locais e os momentos em que realizada e tm
vindo a perder o carcter de solenidade
religiosa e a adquirir um tom mais ligeiro e de
entretenimento em todas as festas mais
importantes do calendrio Xinto. Apesar disso,
a
kagura
apresenta
normalmente
uma
estrutura em trs partes: a recepo do kami4, a oferta de entretenimento e, por fim,
a despedida com o regresso ao honden do objecto sagrado (Shintai).
O contedo pode vir a ser danas com leques e sinos; mitos e lendas sagradas (a
deusa virgem com espelho, Amo no Uzume e Umihiko, o primeiro ator com terra
vermelha no rosto), utilizando mscaras, tal como no Teatro Noh; um ritual
de purificao atravs da gua a ferver (yudate); ou vrios bailarinos que utilizam
uma mscara de leo, que se considera como sendo o corpo sagrado
do kami (Shintai).
- GIGAKU (msica arteira):
So as primeiras danas e canes budistas oriundas da China. Fixadas pelo
imperador no Japo no sculo VI. Registrado somente em 1233 como procisso de
msicos e bailarinos, seguidos de pantomimas, mscaras grotescas de elmo com
grandes narizes de rapina. Provavelmente de origem nos rituais flicos da sia
Central via Coria (semelhantes aos mimos gregos e romanos).
- BUGAKU (dana e msica):
o gigaku com a msica instrumental de corte (gagaku). Os espetculos so
precedidos pela dana da purificao (embu). Um grupo de danarinos azuis entram
pela esquerda danando msicas inspiradas em fontes chinesas e hindus, e um grupo
de bailarinos verdes entram pela direita com msicas de origem coreana e da
Manchria, ambos com mscaras.
4 Designa-se o sagrado ou o deus. Lista de Kamis: Abbuto, invocado para a cura de doenas;
Maakyury, Deusa da sabedoria e da gua; Tsuki, Deusa do amor e da justia; Maasu, Deusa do
fogo; Amaterasu-oo-mikami, Deusa do Sol; Tsukuyomi-no-kami, Deusa da Lua; Susano-oo-nomikoto, Deus do mar e das tempestades; O-Kuni-nushi, Deus da terra; Raiden, Deus do raio;
[Yagami], Deus do Novo Mundo.
- TEATRO DE BONECOS:
A histria do teatro de bonecos do Japo pode ser sintetizada na histria de
formao do Bunraku. Os bonecos esto em todo Extremo Oriente, a primeira vez no
Japo no sculo VIII nas apresentaes do sangaku. Titereiros carregam suas caixas
retangulares, abertas na frente e movimentam bonecos de madeira e trapos atravs
de buracos abertos no fundo e nas laterais (ainda hoje em algumas regies remotas).
O desenvolvimento da arte se deu ao unir-se com os contadores de histrias que
contavam, ao som de seus instrumentos musicais, picos dos samurais nos portes
dos templos. Uma das mais conhecidas baladas conta a triste histria de Joruri, que
procura o seu eterno amado e quando o acha, perde-o outra vez.
No final do sculo XVI, um grande ttere se junta com um grande contador de
histrias e do origem ao Ningyo Joruri, com um boneco de mo uma arte recm
surgida. O imperador chamou-os para a corte e passaram a influenciar outros grupos.
O grande dramaturgo Chikamatsu Monzaemon (1653 1725) escrevia para tteres
esculpidos na madeira peas que podem ser comparadas as de Shakespeare,
veiculando paixes e emoes que desconhecem fronteiras.
Por volta de 1727, Chikamatsu inventa o palco giratrio para o teatro Kabuki,
baseado no palco do teatro de bonecos. A especializao era to grande que passou a
ter dificuldades para manter os requisitos tcnicos (como por exemplo 3 titereiros
altamente sincronizados por boneco) e, a partir de 1780, o teatro de bonecos entra
em declnio. Porm, em 1870, Uemura Bunrakuken fundou o Bunraku de Osaka e
revive o joruri. Em 1926 o teatro incentiou-se e houve a reinstalao no edifcio Asahiza levando ao vocabulrio internacional do teatro o nome Bunraku.
5 Segundo os gregos, a identificao lgica e emocional com os mitos representados pelas tragdias, comdias e
dramas satricos, em ocorrncia da catarse e agnorisis purgativas* (identificao e reconhecimento,
respectivamente, ou empatia emocional e racional) - os dois lados da balana que moderavam o impulso pelo
simulacro; poderia se dizer, a produo de xtase e entusiasmo advindos da experincia representacional legtima
entre os gregos, isto , a que no ofendia a ira dos deuses (hybris), portanto bases para fundao de um teatro
oficial e estatal.*Talvez haja uma dvida na avaliao quanto ao carter moral das comdias, por serem elas, to
rechaadas ao plano inferior das artes durante anos conseguintes da histria. Porm, acreditamos naquele
momento que se possa falar em ocorrncias qualitativas, tendo visto o peso crtico e racional das comdias
antigas, o reconhecimento emptico racional se dera por uma ferramenta reflexiva prospecta que estimulara o
pensamento crtico e a razo lgica do espectador ateniense, favorecendo a anagnoris ao invs da catarse, isto a
razo (do riso crtico e lgico) emoo pattica (como mais comum a tragdia e ao melodrama vindouro).
Grcia
Lugar em que o teatro teve sua maior
importncia poltica e social, visando conservar,
preservar e estabelecer (sem contrariar) o Bem-Geral
conduzido pelo racionalismo aristocrtico.
O auge histrico da Grcia Antiga, hoje
oficialmente conhecida como Repblica Helnica,
acontece com a organizao das cidades-Estados
(polis), administrada e regida pelos euptridas
(cidados mais ricos de cada regio, bem-nascidos),
ou os aristoi (senhores das melhores terras), por volta
de 800 a.C.
A civilizao floresceu entre o sculo XXX a. C. e
XV a.C., quando conta-se a histria do rei semilendrio Minos, filho de Zeus que houvera raptado a
fencia Europa, levada para ilha de Creta, aonde se
desenvolveu a chamada civilizao minoica (assim como o nome de outros reis semilendrios da Antiguidade: Mens do Egito, Mannus da Germnia, Manu da ndia). Os
minoicos viveram uma transio de uma economia agrcola para adentrar noutras
economias (pr-industriais), o resultado do comrcio martimo com outras regies do
Egeu e Mediterrneo Ocidental. Os sculos XVII e XVI a.C., neopalaciano, representa o
apogeu da civilizao minoica. Os centros administrativos controlavam extensos
territrios, fruto da melhoria e desenvolvimento das comunicaes terrestres e
martimas, mediante a construo de estradas e portos, e de navios mercantes que
navegavam com produes artsticas e agrcolas, que eram trocadas por matriasprimas e importaes de cermicas do Egito, Sria, Biblos e Ugarit, demonstrando
ligaes entre Creta e esses pases. Os hierglifos egpcios serviram de modelo para a
escrita pictogrfica minoica, a partir da qual os famosos sistemas de escrita Linear A e
B mais tarde desenvolveram-se.
A civilizao minoica teve tambm uma ampla relao com Micenas, Tirinto e
Argos, dominada pelos aqueus (ou danaos), povo nmade indo-europeu que venceu
os pelgios (nativos que viviam na Idade da Pedra) na regio do Peloponeso em busca
de terras frteis conhecidos como opositores aos troianos na guerra. Os micenas,
como eram chamados, tornaram-se os herdeiros da cultura minoica aps a destruio
desses por diversos abalos e catstrofes naturais vulces, terremotos e tsunamis.
Entre 1100 e 800 a.C. perdeu-se o conhecimento da escrita.
Com a queda dos palcios a Grcia ficou dividida em pequenas provncias com
autonomia, muito em razo das condies topogrficas da regio: cada plancie, vale
ou ilha isolada da outra por cadeias de montanhas ou pelo oceano. A origem das
cidades gregas remonta prpria organizao dos invasores, especialmente dos
aqueus, que se agrupavam nos chamados ghen (ghenos, no singular). Os ghen
eram essencialmente comunidades tribais que cultuavam seus deuses na acrpole
(local elevado). A vida econmica dessas grandes famlias era, a princpio, baseada
em laos de parentesco e cooperao social. A terra, a colheita e o rebanho
pertenciam comunidade. Havia uma liderana poltica na figura do pater, um
membro mais velho e respeitado. Diversos ghen agrupavam-se em fratarias, e
diversas fratarias em tribos.
Para fugir misria, muitos gregos migravam em busca de terras para plantar e
de melhores condies de vida, fundando novas cidades. A Hlade comeou a
dominar lingustica e culturalmente colnias que no eram controladas politicamente
pelas cidades que as fundavam, apesar de manterem vnculos religiosos e comerciais
com aquelas. Predominava a organizao de comunidades independentes, e a cidade
(cada uma desenvolveu seu prprio sistema de governo, leis, calendrio e moeda)
tornou-se a unidade bsica do governo grego.
Com a concentrao fundiria, tornaram-se comum as faces, revoltas e
tiranias. Atenas (democracia aristocrata) e Esparta (oligarquia militar) dominavam o
cenrio econmico e poltico entre 500 e 338 a.C. Apesar das diferenas, elas se
unem contra a invaso persa, de Drio I e Xerxes I, de 490 a 478 a.C., com vitria dos
gregos em Salamina. Porm em 431 a. C. as relaes entre Atenas e Esparta atingem
o grau de saturao e iniciam a guerra do Peloponeso (relatada pelo historiador
Herclito da seguinte forma: o conflito o pai da Histria). O tratado de paz entre a
Confederao de Delos (Atenas) e a Liga do Peloponeso (Esparta) assinado em
Ncias, em 421 a.C., mas somente em 404 a.C., com a derrota de Atenas e o
governo dos trinta tiranos, que cessam os conflitos.
A histria do teatro tem sua origem na vida religiosa, com rituais de sacrifcio
(inclusive humanos), dana e culto aos deuses e heris mticos, com extrema
importncia dos rituais e celebraes que acompanham o cultivo de quase todas as
espcies conhecidas de cereais e leguminosas e produtos agrcolas ainda hoje
conhecidos como o vinho, uvas, leo e azeitonas, que ocorriam desde o terceiro
milnio a.C. E tem seu declnio com a guerra do Peloponeso e o fim da democracia
ateniense.
A base literria atribuda a Homero, na criao dos poemas Ilada e Odisseia, de
1100 a 800 a.C., reelaborando os mitos gregos e organizando a histria das eras
anteriores. Os gregos aprendem a cantar os atos de homens famosos, isto , de
heris, invocando as Musas da arte.
Em 776 a.C. realiza-se os primeiros Jogos Olmpicos em Olmpia e, por volta desta
poca, as festas mendicas e bquicas (extremamente ligadas a fertilidade e ao deus
Dioniso) so estruturadas em festivais rurais para dezembro e os festivais das flores
para maro e fevereiro. Nestes rituais celebrativos, stiros (danarinos, mimos e
folies vestindo roupas de bode, geralmente com falos gigantes) e bacantes
(sacerdotisas de Dioniso, mulheres embriagadas pelo vinho) promoviam um clima
festivo ao som dos aules e instrumentos musicais dos ditirambos (menestris).
Em 600 a.C. o legislador rion, citado como compositor de ditirambos, organiza
os stiros num coro de acompanhamento mimtico, cantando em homenagem ao
heri Adrasto. Em seguida, Clstenes, tirano de Sicio (antecessor de Slon, o pai da
democracia), em 596 a.C., transferiu o culto para Dioniso como forma de atingir maior
popularidade.
O tirano Pisstrato, com uma atitude sagaz para manter e aumentar o poderio
destacado em Atenas, atraindo mercadores e comerciantes, organizou as Grandes
Dionisacas (Urbanas) e as Pequenas Dionisacas (Rurais). Compilou a obra de
Homero, conhecida apenas por fragmentos e as fez ler nas Panatenias (agora festival
pan-helnico).
Pisstrato deu uma brilhante sequncia ao projeto democrtico de Slon.
Convidou o mtico Tpsis, corodidascalo de Icria (zona rural), para conduzir com
originalidade o coro de stiros em Atenas. Tpsis cria, ento, o dilogo com o condutor
do coro, dando origem ao hypokrites
(aquele que responde) no por um
acaso, Hypkrites era tambm o nome
do pai de Pisstrato.
O clmax da abertura dos festivais
se d com a entrada do carro-barca
alegrica de Dionsio. Poderia ser puxada
nele a imagem do deus ou, neste
momento, um ator representando o
prprio deus.
facilitada pelas mscaras com megafones em seus bocais. Estas tornaram-se cada
vez mais suaves e individuadas, deixando de lado seus planos lineares e solenes,
atribuindo-lhes cada vez mais traos caractersticos como idade e tipo social. Alm
das mscaras haviam os onkos (adorno na cabea), quiton (cinta ou roupa apertada) e
cothurnus (bota alta) que destacavam o ator em cena. A indumentria passou a ser
cada vez mais especializada, mas j possua tradicionalmente o eciclema (carro
naval), mquinas voadoras (para chegada dos deuses) e o theologeion (local onde os
deuses conversavam acima da skene - camarim). Os grandes teatros s foram
construdos ou finalizados aps a decadncia das tragdias e dos festivais.
A Comdia
A tragdia encontram seu declnio com os trinta tiranos e a fragmentao do
modo de vida na Hlade e aps o crescimento e invaso do imprio Macednico por
volta de 338 a.C. Dando espao para uma maior fruio das comdias, j organizadas
em festival especialmente programado para elas, as Leneidas, no inverno.
Sua origem est nas cerimnias flicas e canes dos komasts (komos eram
orgias que ocorriam nas celebraes durante as noites). A isso une-se a arte dos
comediantes e trues dricos e siclicos, mestres da farsa improvisada e dos chistes
verbais, impulsionados principalmente pelo poeta Epicarmo, que ridicularizava os
deuses e estabelece a escala dos personagens cmicos e populares que sobreviveram
at a commedia dellarte e Molire (fanfarres, alcoviteiras, maridos trados,
parasitas, bbados e etc.). E os mimos, acrobatas, malabaristas, danarinos,
flautistas, contadores de histria de tempos imemoriais da Grcia e do Oriente,
imitadores fiis da natureza, assumindo tanto a caricatura dos homens do povo como
dos animais, conhecedores dos costumes locais sempre prontos a atuar, sem
barreiras geogrficas nem censuras, mais tarde amados pelos romanos.
A Comdia Antiga: quando se desenvolve principalmente os phlyakes,
percursores da caricatura poltica, do charivari e cabar. Organizam um frum
recheado de veneno e polmica, denncia e desvelamento de assuntos que
inicialmente mobilizam e esto no centro de srias questes, mas que vo se
tornando cada vez mais corriqueiros e banais.
Os festivais tornava acirrada a disputa entre os autores, que por diversas vezes
tornava-se pessoal. Em nome da democracia podia-se falar o que quiser, mas tambm
podia-se protestar. As respostas as peas eram dadas tambm atravs de peas, pelo
menos inicialmente antes das tiranias. Autores como Quinides, Magnes, Cratino,
Crates, Euplide e Aristfenes, assumiram uma importncia fundamental na poltica
interna das cidades-Estados. Deles o que mais se destaca Aristfanes, defensor dos
deuses e acusador das tendncias subversivas e das demagogias polticas e
filosficas de Atenas. De suas 40 comdias, preservaram-se 11.
Comdia Mdia: aproximadamente quarenta nomes de autores, mas nenhuma
pea, nenhuma histria, nenhuma inovao de que se tenha registro. O eixo poltico
se desloca para Macednia (360 a.C.) e a comdia sai dos riscos do campo poltico
para chamar ao palco tipos locais como pequenos funcionrios, gabolas, cidados
bem de vida, peixeiros, cortess famosas, etc. Epicarmo e Hilaros amortecem o
grotesco e comeam a dar vazo para o sentimentalismo em cena.
Comdia Nova (NEA): Menandro assina o novo estilo com caricaturizao,
mudanas internas, avaliao do bem e do mal, ausncia de coro e influncia romana.
De suas 105 comdias, restou apenas uma: A arbitragem, que d um exemplo do que
eram suas peas com adolescentes fervorosamente apaixonados, intrigas e nuanas
individuais de dilogo, personagens cuidadosamente delineadas, tenso gradual e
consistncia na ao.
Contedo Terico
A Linguagem Teatral
O que TEATRO?
Segundo a traduo grega (PAVIS, P., 2001 : 372) theatron significa LUGAR DE
ONDE SE V.
Da, poderamos facilmente dizer que teatro , to somente, um `ponto de vista`.
O que nos parece abstrato demais e insatisfatrio. Um pouco mais longe, ento, no
livro, O que filosofia?, interpretamos a resposta que Gilles Deleuze d a sua
pergunta-ttulo, compreendendo a filosofia como um Conceito que, por sua vez,
formado por pontos de vistas (DELEUZE, G., 1992 : 17). O conceito de `Conceito` se
expande para a forma polifnica, polissmica e complexa do termo que se faz pelo
carter discursivo, na medida em que nasce do caos e atinge uma estrutura sensvel.
Os elementos, os componentes definidores, ou criadores, do `Conceito`, antes de ser
signo (sem que seja signo, retirando seu aspecto de signo), seria um puro e simples
caos que surge da exata no-estrutura ulterior (idem : 27). O personagem conceitual
traa, inventa e cria como um sujeito-esquizo-filosfico agente da enunciao notvel,
importante e interessante ad infinitum. Ele fala em um plano de imanncia onde o
Todo estaria compreendido por todos ns (idem : 51) e na noo de vrios planos,
cada qual projetado sobrepostamente, todos os planos relativos a todas as mquinas
ou organismos geradores de planos. Viveramos, assim, as intensidades desses planos
e recriaramos a cada plano a cada variao do estado de intensidade da conscincia
Do grego, drama quer dizer ao. Dramaturgia, compor um drama (PAVIS, P., 2001 : 109 e 113).
II - Histria do teatro
Palavras-chaves:leitura, escritura, linguagem, teatral, cena, pea, espetculo, dramaturgia, crtica e
processo teatral.
+
( O que se nota?)
Cena (espetculo)
1
2
*Expresses e Figuras da linguagem teatral: Dilogo, rubrica (ato por escrito), conflito.
Roma
O
ltimo
imprio
surgido
na
Antiguidade. Em 753 a.C. datado
tradicionalmente a fundao da cidade das
sete colinas, Alba Longa, na regio do
Lcio, pelos legendrios Rmulo e Remo e
seus guerreiros nmades. Sociedade agrria
e premida pelo estado de guerra, pelo
interesse em aderir territrios e se
defender. A base de desenvolvimento desta
civilizao est no evocativo e contagium,
isto , os deuses das cidades invadidas eram invocados e convidados para viverem e
morar junto capital romana. Assim, anexavam, alm dos territrios, a propriedade
espiritual e cultural de cada povo dominado, promovendo os homens talentosos e
permitindo que adorassem seus deuses. Proliferavam-se as tradies e apreendiam,
principalmente, o conhecimento dos gregos e etruscos.
Os romanos tinham gosto pelas lutas e seus principais entretenimentos eram os
jogos de gladiadores, brigas de animais ou com animais, combates navais, acrobacia
e diversos jogos populares. Em seus doze sculos de existncia, a civilizao romana
passou de uma monarquia para uma repblica oligrquica (509 a.C.), at se
transformar em um imprio cada vez mais autocrtico. O Imprio Romano (27 a.C.)
chegou a dominar o Sudoeste da Europa Ocidental, Sudeste da Europa/Blcs e toda a
bacia do Mediterrneo atravs da conquista e assimilao.
A toga era o traje distintivo dos homens romanos, enquanto as mulheres usavam
estolas. A tnica era usada sob a toga,
embora os pobres, escravos e crianas
pequenas usassem apenas tnicas. Os
principais grupos sociais que se
construram em Roma eram os patrcios
(donos
de
terras),
os
clientes
(servidores dos patrcios), os plebeus
(comerciantes, artesos e agricultores,
s
vezes
ricos)
e os
escravos
(propriedades dos senhores, geralmente
estrangeiros). Aps as Guerras Pnicas
(146 a.C.), com as quais Roma dominou
todo o comrcio Mediterrneo e grande
parte da Europa, supersaturou o nmero
de escravos e os plebeus e patrcios caram em falncia, emergindo a classe dos
cavalheiros, homens novos e comerciantes.
Se na Grcia o Estado patrocina a educao (seja ela formal ou militar), em
Roma, o Estado patrocina a arte da guerra. Enquanto na Grcia o princpio da
participao em massa nos eventos espetaculares o rito, em Roma o princpio o
jocus: divertimento, entretenimento, jogo, gracejo, recreao, pilhria, mofa, escrnio,
zombaria [associada de certa forma deusa Juventus, da juventude].
O patrono do teatro na Grcia Antiga o deus Dioniso principalmente, ou Atena,
ou Apolo. Em Roma, Baco (o nome dado a Dioniso), est muito mais associado ao
vinho e aos banquetes, as orgias e festas, do que ao teatro propriamente dito. O deus
dos espetculos o rei Momo: popular, abastado, abundante, simptico, imagem da
temperana, poder, satisfao, hedonismo e smbolo da felicidade.
Bizncio
Em 313, Constantino assina o Edito de Milo declarando liberdade religiosa para
o imprio romano e favorecendo, principalmente, os cristos que o apoiaram na
resistncia contra o domnio de Roma em sua tentativa de reunificar o imprio.
Constantino construiu muitos teatros nos quais chegaram a ser encenadas as
obras dos grandes poetas da antiguidade. Bizncio, porm, no produziu um drama
prprio e, em geral, vive a era das pantomimas e dos solistas em atitude trgica com
uma linguagem popular que no se distinguia nem se definia, mas que se reconhecia
nos calados e mscaras que tentavam alcanar a antiga arte.
No entanto, as cerimnias e banquetes da corte imperial contavam com uma
extrema severidade hiertica, esplendor purpreo e estilizao solene do luxo e da
vaidade. A liberdade de culto leva a uma liturgia mais elaborada. Vai haver duas
vertentes que se desenvolveram culminando no teatro: o as representaes da corte
e as da igreja.
O teatro da corte era rigorosamente regulado num curso cerimonial rendendo
vassalagem ao imperador e desempenhando seu papel religioso para as autoridades.
Atores e mimos muitas vezes recebiam a proteo de imperadores menos devotos.
O teatro na igreja inicia-se como uma instrumentalizao litrgica de um
cerimonial bem elaborado com aclamaes dramticas, evocaes dos profetas,
oratrias e hinos, alm de dilogos que ofereciam um conflito repleto de
dramaticidade na tenso entre Deus e o homem. Cerimnias e procisses ostentavam
a riqueza nas vestes e ornamentao luxuosa.
O drama desenvolveu-se como uma forma pedaggica de cativar o pblico
analfabeto e dar acesso aos pobres leitura e educao formal dos valores doutrinais.
O teatro era uma espcie de Bblia Pauperum9 que associado aos sermes verbais,
levaria as representaes da igreja para praa e o cristianismo da Europa para o
mundo. Para tanto, os sacerdotes puseram-se a debruar sobre o conhecimento dos
antigos acerca da oratria e do teatro. Ao mesmo tempo em que Dioniso era a
imagem da abominao e do demnio encarnado para Igreja, a primeira Paixo de
Cristo (sculo XI) era uma conjugao da paixo crist ao drama grego, 2640 versos
que comeam com o caminho at o Glgota e terminam com a ressurreio so
parfrases de Eurpedes.
Aps o programa circense romano, com o fechamento dos teatros do sculo VI
ao sculo X, os mimos, que provocaram e ignoraram as proibies da igreja,
acabaram por ver seu resplendor nas igrejas. No havia vida social para o ator
medieval, comediantes e vagabundos se misturavam a menestris e bufes para
dividir o palco. A bagagem da antiguidade trazida como herana pelo trgico (agora
o ator de rua) a de um solista, calado com um alto coturno de madeira, que
tentava alcanar o esplendor da antiga arte dramtica com extravagantes
declamatrios.
Aps a transformao do cristianismo em religio oficial do Imprio Romano
(centro do Ocidente) fizeram-se mais cinco sculos at que as cerimnias de Natal e
Pscoa levassem aos mistrios da Paixo e dos Profetas que se estendiam por muitos
dias com seus numerosos elencos. Perodo no qual a Igreja projetou sua autoridade
para alm da Casa de Deus, s cidades e aldeias, diante do portal para o ptio e
praa do mercado, ganhando as cores e originalidade da vida cotidiana. Lieux e
mansions inspiraram os pageants (palcos simultneos) e pageants aux wagons
(carros-palcos), alm dos locos na Alemanha. A partir da comeou um processo de
laicizao, com um acabamento realista, desenvolvimento da tcnica e ascenso da
cultura burguesa para a fase gtica da mstica salvao (danao Vs. redeno). A
9 Ao p da letra o termo significa Bblia para os pobres, consiste em uma srie de
xilogravuras que retratam cenas do Antigo e do Novo Testamento.
partir deste momento tambm, a corrupo do clero transborda em letras claras nos
versos dos audaciosos eruditos errantes e de uma elite critica devota.
A morte agora reina sobre os prelados que no querem administrar os
sacramentos sem obter recompensas (...) So ladres, no apstolos, e destroem a lei
do Senhor (trecho 10 Carmina Burana).
O imprio fragmenta-se e aps muitas e muitas guerras comea o seu declnio
em 1204, terminando em 1453 com a Queda de Constantinopla e o destronamento e
morte do ltimo Constantino, XI, "quando estava rodeado pelos inimigos, um anjo o
teria transformado em esttua de mrmore e o escondido em uma caverna", donde
sair um dia para expulsar os Turcos de Constantinopla e restaurar o imprio. A lenda
tem carcter escatolgico, pois o despertar do imperador coincidiria com a
"Consumao dos Tempos". Constantinopla est em poder turco at hoje. Teve seu
nome alterado para Istambul. Para muitos historiadores marca-se com essa data o fim
da Idade Mdia e incio da Idade Moderna.
Idade Mdia
Teatro religioso
Fundao de Constantinopla (330),
nova capital do Imprio Romano. Edito de
Milo (313) assegura liberdade de culto aos
cristos. Logo o cristianismo institudo
religio oficial do Imprio.
Sc. V VIII
Teatro profano
Sc. V: Queda do ltimo
imperador romano do Ocidente,
Augusto Rmulo (476). Ataques
brbaros e incio da Idade
Mdia.
Sc. X
Sc. X
Sc. XI
Sc. XI
Sc. XIV - XV
Sc. XV - XVI
Sc. XV - XVI
Sc. XIV - XV
- Le Miracle de Thophile, de
Auto de Neihart com 103 atores na
Rutebouef (1 Fausto)
cidade. Teatro nos carros-palcos, cortejos
Frau
Jutten,
de
Dietrich
e estaes.
Shernberg Mhlhausen (Papisa)
Homenagem a reis e senhores (Lyon
Paixo rompeu de vez com a
Lydgate).
liturgia
e transforma-se
nos
Autos de Carnaval (carrum navalis):
Mistrios da Paixo - a f segundo
Swanck, Fastnachtsspiele.
as interpretaes de vida dos
Farsas de carnaval do barbeiro e
patrcios, burgueses e artesos).
cirurgio Hans Folz (Nuremberg). Ataca o
Tematizam:
aluses
tpicas
clero e a nobreza, mostrando o turco
Lavradores, servos e demnios competiam entre si na inveno de tesouros de
blasfmias e inventivas. Herodes torna-se o principal antagonista.
Moralidades
e
Confrarias de advogados, escritores, estudantes,
Alegorias:
A
associaes cnicas, eruditos errantes, mercadores,
personificao
do
artesos e juristas. Produzem:
mundo conceitual.
Prudncio (400).
Sottie: gente comum ou da corte com vestes de
1378 Pater Noster
bobo
(autos)
1425 - The Castle
Farsas: trues e bobos em trajes comuns e de
Mansions
Farsa Popular
Castelo da Perseverana
Fastnachtsspiel
Os cavaleiros do Apocalipse
Frau Jutten
Salom
Renascena
Em 1453, morre o ltimo imperador da Roma oriental. Constantino XI fora
atacado pelas tropas de Maom sobre Bizncio. O imprio turco-otomano s ir se
dissolver agora em 1922. A fuga dos eruditos traz para Ferrara e Roma uma
imigrao de livros salvos pelas bibliotecas das igrejas.
Trata-se de um perodo de maior liberdade da dependncia das autoridades civis
e religiosas, culminando na liberao do individualismo e despertar da personalidade.
Frau
Ao contrrio da Idade Mdia, surge a expresso do desejo de alcanar a sntese
harmoniosa entre a antiguidade e o cristianismo. O impulso ldico das classes
populares encontra sua resposta, inicialmente crtica e conservadora, no cultivo
humanista do drama pelas classes mdias, guildas, corporaes e escolas. O ofcio
do ator desenvolve-se em crescente profissionalizao.
Para Histria do Teatro, a linha divisria que inicia o renascimento est nas
descobertas das doze comdias de Plauto, em 1428 e nas montagens da primeira
tragdia de Sneca e primeira comdia de Plauto, em 1486, respectivamente em
Roma e Ferrara. Nesta data, publica-se tambm, em lngua romana, De Architectura,
de Vitrvio.
- Desenvolvimento das teorias da arte: o Renascimento marca a
emancipao do pensamento idealista cristo medieval e tende para teorias
conceitualista que iro moralizar a arte at meados do sculo XIX com o advento do
drama moderno. Num primeiro momento transitrio, anuncia a redescoberta e uma
nova interpretao das regras clssicas aristotlicas. , sem dvida, durante o
Renascimento que iro proliferar grande parte das discusses e contradies tericas
do teatro.
Durante a Idade Mdia, um terico como Averris teria convertido e relido o
pensamento aristotlico segundo uma concepo moral que adequava vcios e
virtudes. Os comentrios de Tertuliano e Agostinho aproximavam-se e evidenciam um
dilogo tico-cultural com Ccero em busca de formas prticas para a instruo til.
Esta viso medievalesca para estabelecer uma doutrina delineadora das formas
poticas, levou Averris a conceber a tragdia, em poucas palavras, como um enredo
que comeava bem e terminava mal, e a comdia como um acontecimento que
supunha a transfigurao do mal para o bem.
O Renascimento italiano redescobre Aristteles em novssimas e atualizadas
tradues. Riccoboni, por exemplo, reafirma o enredo (tecido fabular, o mythos em
Aristtesles) como a parte mais importante da tragdia. Robortello, o terico italiano
mais citado entre os espanhis, organiza o conceito de verossimilhana conformada
nas unidades de tempo e espao. A obra de arte, para ele era uma representao que
comovia e persuadia (portanto, que ensinava a conduta adequada) atravs da
verossimilhana com finalidade ltima em instruir moralmente a plateia. A arte teria a
funo utilitria (obra didtica) de incitar a virtude e repreender o vcio. Com mais
irreverncia Castelvetro e Ariosto apontavam o deleite e o prazer como finalidade
ltima da arte. Portanto, as qualidades estticas da tragdia deveria, sim, pressupor a
verossimilhana,
mas
independente
das
exigncias,
regras
ou
normas
preestabelecidas para se criar os artifcios de realidade. Minturno, Escalgero e
Trissino, cada um organizou de sua forma a interpretao da retrica ciceroniana para
a verossimilhana. Guarini, no entanto, se sobressai com a anlise do enredo misto,
segundo a qual a mimese ocorre como semelhana da natureza no enredo
tragicmico e, portanto, a verossimilhana pressupe to somente a probabilidade e a
necessidade da ao, e no a doutrina do carter ou dos tipos fsicos em tons
contrastantes, que segundo ele era apenas uma iluso dramtica. Para Guarini, em
sua anlise do tragicmico, a ao verossmil simplesmente porque provvel e
necessria e no porque instrui o pblico com carteres baixos e elevados.
Torre Naharro, em 1499, faz sucesso com Tinelaria, uma comdia de observao
dos dialetos com muito aspecto de impresso da realidade.
Em 1551, um iugoslavo de nome Martin Drz, escreve uma comdia de
caracteres, no estilo de Plauto que s encontra reflexos mais tarde com Molire, a
pea chama-se Dundo Majore.
Em 1567, Jean Antoine de Baf, um dos franceses renomados com inspirao
direta em Plauto, concebe a obra Le Brave, retirada de Miles Gloriosoue do poeta
clssico.
E em 1594, ainda temos Jonh Lily, dos dramaturgos elizabethanos, com Mother
Bombie, fazendo um quadro realista do cotidiano la comdias de Terncio e Sneca.
Muito embora a obra tenha sido eclipsada pelo sucesso de Sonho de uma Noite de
Vero e de Romeu e Julieta, de Shakespeare.
O ator da comdia erudita, tanto popular quanto polida, teria em seu destino
um fadado fracasso diante da concorrncia com as peras e com os dramas lricos
que refletiram de maneira mais satisfatria e exata a experincia absolutista e o
poder totalista principalmente ingls e francs, mas tambm em demais pases em
formao. Alm disso, tinham como irms oprimidas, mais bem mais atraentes em
ritmo e jogo, as comdias de rua.
Commedia dellArte, o gnero exclusivo dos grupos do povo
...o teatro do povo improvisado, leva quase dois sculos antes de se formar definitivamente,
no tem quase modelos e alcana resultados exclusivamente teatrais
(JACOBBI, Ruggero. A expresso dramtica. Rio de Janeiro: INL/MEC, 1956, p. 22).
Briguella
O trapaceiro O companheiro mais frequente de Arlecchino
era Briguela, um criado libidinoso e cinicamente astuto,
tambm proveniente de Bergamo. Um trapaceiro, de
pouca moral e desmerecedor de confiana. retratado
como agressivo, dissimulado e egosta. Ele o iniciador
das intrigas que giram na commedia dellarte. Geralmente
h certa rivalidade entre Brighella e Pantalone, da qual o
criado sempre se sai bem. Seu cinismo o ajuda na
construo de diversos papis que ele representa em suas tramas.
Tambm cantor e apreciador da boa msica.
Pulcinella
O bufo Outro Zanni que j existia do carnaval de Npoles e
passou a fazer parte da commedia dellarte foi Pulcinella. Sua
corcunda e ventre so proeminentes, sua mscara traz um nariz
em forma de bico e sua voz era estridente, lembrando uma ave.
Muitas vezes conhecido como Punch. O esquisito, inspirador de
pena, vulnervel e geralmente desfigurado. Na maioria das vezes,
com uma corcunda. Muitas vezes, no capaz de falar e, por isso,
comunica-se atravs de sinais e sons estranhos Sua personalidade
pode ser a de um tolo, ou de um enganador. Tem a voz estridente
e sua mscara tem um nariz grande e curvo, como o bico de um papagaio.
Columbina, a criada
A contrapartida feminina do Arlecchino. Usualmente
retratada como inteligente e habilidosa, uma das servas,
uma zanni. Algumas vezes, utiliza roupas com as mesmas
cores do Arlecchino. As criadas, no usavam mscaras. Elas
geralmente ficavam a servio da enamorada. Normalmente
eram jovens, de esprito rude e sempre prontas a criar
intrigas. Outras vezes eram mais velhas e podiam ser donas
de uma taberna, a mulher de um criado ou objeto de
interesse de um velho. apaixonada pelo Arlecchino, apesar de ver atravs de suas
armaes. Ela tenta fazer dele uma pessoa mais nobre, mas sabe que impossvel,
ento o ama do jeito que ele .
Capitano
O covarde Forte e imponente, mas no necessariamente
herico, geralmente usa uniforme militar, mas de forma
exagerada e desnecessariamente pomposa. Capa e espada so
adereos obrigatrios. Entre outros personagens importantes
encontramos o Capitano, que descende do Miles Gloriosus, de
Plauto. Era um covarde que contava vantagens de suas proezas
em batalhas e no amor, e depois era completamente
desmentido. Mostrava-se um valente, embora fosse um grande
covarde, e fazia uma stira aos soldados espanhis. A este
personagem davam vrios nomes: Spavento da Vall'Inferno,
Coccadrillo, Fracassa, Rinoceronte e Matamoros. As suas
derrotas constituam um dos momentos marcantes da comdia.
companhia possua a propriedade sobre os seus roteiros, gerando uma certa censura
e inclusive aes policiais e judiciais contra o roubo de ideias (BARNI, R., 2010).
Os canovacci so como possibilidades de histrias, enquanto os zibaldoni so
anotaes dos atores que se combinam com o enredo. Os lazzi so pequenos nmeros
ou reprises de aes cmicas corpreas ou verbais. Dentro desta estrutura, alguns
princpios dramatrgicos reincidentes so:
De todos Brighella o mais maldoso, mais esperto, mas pode trocar de papel
com Arlequim. Se Arlequim est chegando do Sul (pois ele sempre caipira), ento
ele ignorante e rstico, se ele chega do Norte, mais esperto. No baralho ele como
o coringa, pois h uma variao de carter numa mesma mscara.
O Capito o bravatta, representa uma stira aos espanhis principalmente. A
criada esperta e recebe cantadas do Pantaleo e dos trabalhadores deste.
Geralmente ela o casal do Arlequim, nesta faixa est a Colombina. Trata-se de uma
faixa ou frequncia realista do desejo declarado, geralmente ela adia o casamento por
dinheiro ou por favores. Faz comentrios sarcsticos da realidade.
As mscaras tm um papel psicolgico rudimentar de snteses arquetpicas. So
feitas em couro modelado e originrias do carnaval, principalmente o carnaval de
Veneza, onde viveu Goldoni por bastante tempo. A atores que conseguem dar um
efeito quase sobrenatural e fantstico para movimentao da expresso da mscara.
Expressar significa exatamente a: mover a mscara, que por sua vez seria imvel. A
mscara se mexe, ganha nuanas e expressa para ns o desenvolvimento da
expresso do rosto no teatro.
3 Pastorais e Intermezzos
O idealismo platnico, o reino da beleza, o livre erro, os heris e poetas, ninfas e
faunos, pastores e pastoras, o ar fresco da sapincia humanista, a busca do irreal e
idealizado mundo de pura humanidade, no corao da natureza, no acorde da beleza
e da juventude, com canes, poemas, idlios, clogas e estncias, tinham seu lugar
nas peas pastorais promovidas pela corte.
Em suma, o objetivo das pastorais era obter favores dos nobres em celebraes
fechadas nas salas teatrais dos palcios. Mesmo assim, algumas companhias
populares imitavam o gnero, como o casa de Lope de Rueda e o estudante George
Peele.
1495, primeiro drama profano italino, com a pea pastoral Favola dOrfeo, de
Angelo Poliziano, com os moldes da sacra rappresentazione.
1497, Egloga del Amor, de Juan del Encina;
1510, O Auto da Fama, de Gil Vicente;
1573, com os modelos das peas pastorais de louvao Idade de Ouro,
Aminta de Tasso;
1595, Pastor Fido, de Giambattista Guarini, sucessor de Tasso na corte de
Ferrara;
1628, Dubravaka, do croata Gjivo Franje Gunduhi;
1641, Pegnesisches Schfergedicht, de George Philipp Harsdrffer.
Consistiam em pantomimas alegricas, crists e mitolgicas, acompanhadas de
canto e msica instrumental, que chegava a apresentar drages, panteras, lees,
numa festa para os olhos para o qual grandes artistas da renascena, como
Leonardo da Vinci (1452-1519), encarregaram-se da criao e construo de cenrios,
maquinarias, edifcios, palcos, cartazes e alegorias, maneira dos trionfi italianos.
Os trionfi eram aquelas manifestaes soberbas que envolviam toda
comunidade nos mistrios medievais, com a finalidade operante de glorificar os
grande e poderosos senhores, como Lorenzo de Medici, o Magnfico (1449-1492), o
papa Pio II (1405 1464), Cesar e Borgia (1475 1507), o papa Leo X (1475 1521),
que eram alm de lords e autoridades, grandes patrocinadores da arte e cultura.
O novo empenho parecia ser o de apreciar a majestosidade das procisses
agora, no, como sequncia ou passagem em sesses separadas, tais quais as
observou o espectador medieval, mas em sua totalidade (de cima ou no eixo). O luxo
e a ostentao das sacra rappresentazionis numa apresentao profana e popular, a
ponto de desviar continuamente a ateno do espectador do pobre ou mal lapidado
contedo potico.
... nas estaes convenientes do ano, deve manter o povo ocupado com festivais e
mostras (O Prncipe, de Nicolai Maquiavel).
Barroco
A busca da clareza e harmonia renascentista d lugar abundncia de
ornamentos, hiprbole e autoconfiana. Nunca uma poca pintou a prpria imagem
em cores to exuberantes. O teatro vivia um momento de extraordinria ascenso,
assim como o absolutismo lutava por uma apoteose gloriosa, a soberania e a contrareforma invocava todos os meios ticos e intelectuais da arte do palco.
O recm desenvolvido sistema de bastidores laterais alternados, possibilitando
uma maior iluso de profundidade e frequente troca de cenas, marchava para triunfal
e luxuosa extravagncia do que se tornou a principal fora do teatro, a arte da
transformao cnica. Encenadores e cengrafos mostravam-se incansveis na
inveno de mecanismos sempre novos de puxar, voar, deslizar pra movimentar a
multido de figuras alegricas que sufocavam o teatro na exibio da magia da
decorao e maquinarias barroca. Enquanto os truques da tcnica cnica
permaneciam miraculosos e no eram compreendidas, muitas vezes, nem mesmo por
colegas do ofcio, paradoxalmente, era impossvel que a assistncia prendesse sua
ateno aos atores, cantores, msicos e bailarinos. Na arte, a mgica total da
aventura, da vida improvisada, produzia um espetculo despreocupado com questes
mais srias; a sedutora atrao do mal envolvia essas cortes governadas pelo
absolutismo, e por isso que elas eram sempre censuradas pelos telogos, mas
admiradas e amadas pelos artistas.
a A pera
O gnero especfico da pera tem sua origem nas longas conversas do cenculo
florentino do conde Giovanne de Bardi, um crculo acadmico do qual Vicenzo Galilei
(pai de Galileu Galilei) fazia parte e atuou como um dos membros principais. Eles
defendiam a subordinao da msica poesia e criticavam a msica corts de sua
poca.
A dramatizao da msica em Amico Fido (Amigo Fiel) de Bardi (1535) e a
musicizao de algumas passagens da Divina Comdia de Dante e as Lamentaes de
Jeremias, por Vicenzo deram origem ao novo estilo representativo. Porm, somente
em 1594, trs anos depois da morte de Vicenzo Galilei, a famosa primeira pera do
mundo, Dafne, com msica de Jacob Peri, para um texto de Ottavio Rinuccani e
intermdios cantados de Giulio Caccine, foi encenada diante de um crculo seleto em
Florena.
O produto erudito da arte tinha aflorado e era guiado por Orfeu com sua lira, at
que, em 1600, Peri e Rinuccini cooperam mais uma vez com sua segunda pera
Eurdice. E por dcadas, agarraram-se aos dois temas que no podiam ser
contestados porque ningum conhecia nenhum melhor, ou seja, Orfeu e Dafni.
Montiverdi liderava o palco italiano com suas composies de Orfeo, Arianna e A
coroao de Pompia, quando testemunhou a abertura da primeira casa de pera
pblica, o Teatro di S. Cassiano, em 1637.
A partir da deu-se a magnificncia cnica das casas de pera, que j haviam se
tornado um negcio lucrativo. O arquiteto Giovanni Burnacini impressionava as cortes,
mais tarde seu filho Ludovico Burnacini, desenhou cenrios, maquinaria de palco,
carros alegricos e figurinos para mais de 150 peras levando toda ateno da
assistncia em Il Pomo dOro diante da jovem imperatriz Margareta.
b Bale clssico
Plutarco o poeta invocado para a dana barroca; com sua frase de que a
dana a poesia sem palavras, ele alicera a ideia renascentista de fuso das
artes. Na Frana, a combinatria das quatro grandes formas de arte (msica, dana,
pintura e poesia) gerou uma forma de teatro especificamente adequada corte e a
alta sociedade: o ballet de cour.
Quando Rinuccini e Caccini chegaram em Paris, em 1604, eles tiveram que
comear a pensar em termos completamente diferentes para intercalar seus drama
per msica em estilo italiano no bal da corte.
Durante o reinado de Luis XIII, o cardeal Richelieu tomava as rdeas da Frana
como patrono da arte, a partir de 1624. Richelieu encena o suntuoso Ballet de la
Prosprit des Armes de la
France, e pela primeira vez a ao aconteceu
exclusivamente no palco, deixando a plateia para os espectadores. Doravante o ballet
du cour seria encenado exclusivamente no palco e, assim, separado do piso principal
da sala, o que significava uma diviso entre a dana no palco e a dana ulica. Foi a
primeira abordagem da dana profissional e do bal clssico.
No reinado de Luis XIV, Jean Batiste Lully e Molire desenvolveram uma nova
forma de arte numa tentativa bem-sucedida de fundir o esprito da comdia com a
graa cortes do ballet du cour, era a comdie ballet. Em maio de 1664, um grande
festival em Versailles, no qual sucederam duas semanas de banquetes, torneios,
cortejos, fogos de artifcios, bals pastorais, Molire contribuiu com as comedie-ballet:
Les fncheux in Vaux; Mariage Forc; La Princese dElide. E, em 1670, o Burgus
Fidalgo, uma sequncia cintilante de atualidades sobre a presuno de cultura e
moda, estupidez e vaidade, cano pastoral e minueto na casa burguesa e,
sobretudo, os efeitos do estabelecimento da embaixada otomana na Frana e a
diplomacia pr-turca, divertiu Luis XIV. Molire, que dividia a sede de seu teatro com a
companhia de commedia dellarte italiana, compartilhava os elementos do Arlecchino,
Scaramuccia e Trivelino.
c Teatro Jesuta
Em 1957, a consagrao da Igreja de So Miguel em Munique, culminou no
Triunfo de So Miguel, com trezentos demnios lanados ao inferno, anjos, drages,
idlatras, apstatas, hereges e dspotas, organizado pelo Colgio Jesuta, conferiu
expresso efetiva ao poder da Companhia de Jesus (fundado por Incio Loyola em
1540) e tornou-se um baluarte da Contra-Reforma.
Enquanto o drama escolar protestante afiava o fio de sua navalha verbal, o
teatro jesuta, por outro lado, procurava endossar as artes que falavam aos olhos e
ouvidos, a mente e aos sentidos com seus efeitos cnicos. Elementos da comdia
antiga misturavam-se alegoria crist num todo eficaz. Em 1637, Jeftias, de Jakob
Balde, conta o tema aparentado com o de Ifignia para apontar simbolicamente para
o sacrifcio de Cristo. Em 1644, os estudantes do Clementinum encenaram o drama
intitulado Maria Stuart, no seu argumentum a pea era chamada uma Tragdia Real,
ou Maria Stuart, Rainha dos Escoceses e herdeira do reino da Inglaterra, que
Colgio Imperial, graas a influncia de seu tio, o Inquisidor Don Miguel Carpio, l se
tornou um adepto da esgrima, dana, msica, literatura e tica. Aos quinze anos,
possudo pelo impulso que enviara seus ancestrais para os mares desconhecidos do
Pacfico, fugiu do colgio e atravessou o noroeste da Espanha. Alistou-se como
soldado na expedio contra Portugal e logo depois bacharelou-se na Universidade de
Alcal, sob a proteo da Igreja. Esteve prestes a seguir o sacerdcio, mas tornou-se
sujeito a incndios amorosos que o fez marido de muitas esposas e inmeros filhos
bastardos da por diante, mas, para aquelas, sempre havia um poema ou uma pea a
dedicar. Um dos filhos, Lopito (Lope Flix del Carpio y Lujn), foi um poeta de dotes
bastante considerveis, mas morreu afogado quando seu pai tinha 73 anos.
Inmeros autos sacramentales, emergidos do perodo dos milagres medievais,
continuaram a chamar a ateno de Lope e de seus colegas. Os entremesses e
interldios cmicos do sculo XV tambm comearam a envher o teatro de inmeras
pecinhas de transio que acabaram por alcanar a lascividade da famosa Celestina,
de autor desconhecido. Os esforos dos dramaturgos anteriores, dentre os quais Gil
Vicente, o pai do teatro portugus, foram amalgamados nas primeiras dcadas do
sculo XVI, por Naharro, que desenvolveu a caracterizao dos personagens e a
unidade da trama. Depois Lope de Rueda, que comeara a vida como ouvires e se
tornara ator, escreveu quatro vigorantes comdias que influenciaram todos os seus
sucessores. Um destes, Juan de la Cueva, deu incio ao costume de usar temas
histricos nas peas romnticas de capa e espada. Lope desenvolveu-se em todas
esses estilos e colocou-se acima de seus contemporneos pelo poder, emoo,
polmica e encanto de suas obras, o que ultrapassava qualquer prazer momentneo.
Lope produziu maravilhas da improvisao, apenas limitadas pela ausncia
daquela profundidade na criao das personagens e daquela maestria em pular de
uma situao cmica ligeira para uma cena de atordoante beleza que fazem com que
Shakespeare seja superior tecnicamente. A mais eficaz e de longe mais original peas
que leva Lope at mesmo mais longe do que Shakespeare jamais conseguiu, foi
Fuente Ovejuna (A Fonte da Ovelha). A pea assume as propores de um drama de
massa, retirado das crnicas de 1476, Fuente Ovejuna um clssico negligenciado a
muito tempo. A Unio Sovitica considerou como o primeiro texto dramtico
proletrio. Aqui no h um heri nico, tem um heri coletivo, a comunidade de
camponeses em Fuente Ovejuna.
Lope de Vega no foi uma figura isolada no seu tempo. Seus inmeros colegas,
contam sessenta e seis apenas em Castela contriburam para o peso da dramaturgia
nacional. Dentre eles Guilln de Castro y Bellvis (autor de Las Mocedades del Cid),
Tirso de Molina, trazendo a famosa figura de Don Juan aos palcos (Burlador de
Sevilha) e Juan Ruiz de Alarcn, que nasceu no Mxico em 1580 (La Verdad
Sospechosa, modelo para Le Menteur de Corneille).
Um pouco posterior, em 1600, quarenta anos depois de Lope da Vega, nascia
Caldern de la Barca. Embora tambm tenha tido inclinaes militares, sua disposio
era mais filosfica e seus ltimos trinta anos de vida passou sob as santas ordens,
que ele respeitou com maior firmeza que Lope. Das cento e vinte peas de sua
autoria, perto de oitenta so autos celebrando o Corpus Christi. Dentre elas o
meditativo Mgico Prodigioso, prxima de Dr. Faustus de Marlowe (escrita
anteriormente). Umcerto nmero de peas de capa e espada podem ser
consideradas mais brilhantes que as de Lope. Entre as peas srias, as menos
adequadas ao nosso gosto do sculo XX so as tragdias de cimes e honra marital.
Mas Caldern alcana importncia internacional com dois textos: El Alcalde de
Zalamea (O Alcaide de Zalamea), um drama social, e La Vida es Sueo (A Vida
Sonho), um drama filosfico profundo que faz jus a dialtica adquirida dos jesutas
que supervisionaram o incio da sua educao.
Christopher Marlowe
A dramaturgia elisabetana iniciava sua ascenso final quando Marlowe entrou
em cena. Por volta de 1587, o edifcio teatral elisabetano estava pronto para receber
seu gnio. Os ptios abertos das estalagens, providos de galeria interior, inspiraram a
construo de casas de espetculo especialmente construdas. Num bairro marginal
que acomodava tavernas, casas de jogo e bordis, fora da jurisdio do prefeito
(Lord Mayor), o pblico tinha sua disposio os teatros Rose (Rosa), Swan (Cisne),
Globe (Globo) e Hope (Esperana). Perto do fim do sculo havia oito casas de
espetculo nas margens norte e sul do Tmisa.
As estruturas dos teatros pblicos eram redondas ou hexagonais, capazes de
abrigar amplas plateias. Ptios desprovidos de telhado e cercados por duas ou trs
galerias reservadas aos cavalheiros e s damas, essas construes no dispunham de
iluminao artificial, de sorte que os espetculos deviam ser apresentados tarde.
No havia cadeiras na plateia ou poo, onde a plebe se acotovelava e dava claras
mostras de sua total falta de pacincia quando no era relegada com representaes
abundantes de espetaculosidade, de belos figurinos, de peripcias, de arruaas, de
palavras tonitruantes e aes fulminantes.
Filho de sapateiro, nascido sob a sombra da grande catedral inglesa, o
acalentado menino Marlowe teve uma educao sob domnio dos clrigos at se
bacharelar no Corpus Christi College de Cambridge. No entanto, a Inglaterra tornavase uma nao comercial e o mundanismo abria seu caminho com amor pela
magnificncia da corte e pelas cidades em que a classe mdia prosperava. O rapaz
cresceu num ambiente que respeitava o indivduo altamente bem sucedido acima de
todos os outros. Ele logo abandonaria sua f e seria acusado de heresia. Como tantos
outros colegas de sua poca, Marlowe perdeu-se na vida bomia e acabou morto
numa briga de bar, provavelmente forjada por estar fadado a priso com seu colega
Thomas Kyd, que foi obrigado a assinar, mediante tortura, um mandato contra ele.
Marlowe tinha conscincia do mal e do dio no mundo, da corrupo, da intriga
poltica e da injustia, em suas peas registrou muito vileza, muito frustrao e muita
amargura. A ele se concede a honra de entronar a alta poesia teatral no palco,
distinguindo-o da dramaturgia elisabetana que insistia no erro de estraalhar uma
paixo at v-la transformada em frangalhos. Se negligenciava todos os princpios da
dramaturgia vlida, no deixava de observar o mais importante, a tarefa de fornecer
emoo e magia. Apenas uma coisa era tacitamente entendida, numa era to ativa, o
Romantismo
Nesta fase, o nascimento do drama moderno, proveniente do movimento do
sculo XVII, marca a valorizao e individualizao das identidades do homem. Com o
surgimento das salas fechadas de teatro popular, o conflito dos enredos cnicos
passam a interiorizar-se tambm, as personagens ganham fora psicolgica e
complexidade dialgica, atraindo o olhar para a intersubjetividade e aquilo que h
entre um ser humano e outro.
Friedrich Schiller
Schiller alcana a popularizao exigida pelo Iluminismo europeu com o seu
pirotcnico liberalismo emocional.
Sacerdote e soldado com educao ultra rgida, lanou primeiramente poemas
mrbidos, sentimentais e pessimistas. Aps escrever sua primeira pea, Os
Salteadores, torna-se cidado da Frana e o Duque o probe de ter relaes com o
estrangeiro. Fiesco e Intriga e Amor, suas dramaturgias posteriores, so verdadeiras
bombas pes rebelio. Muito prximas, dramaticamente, de Emillia Galotti,
construindo uma personagem que torna-se herona do povo.
Tornou-se critico num jornal aps a liberao de sua pea e aceitao por um
diretor corajoso. Don Carlos obteve o favor do mecenas Duque Karl August. Trata-se
de um drama em versos baseado em seus poemas Hino Alegria, eptome do
romantismo.
Ao conhecer Goethe, torna-se professor na Universidade de Iena e compe a
trilogia Wallenstein: Lage, Os iccolimini, A Morte de Wallestein. No entanto, seus
trabalhos seguintes so considerados piegas, melodramticos, com uma viso
elementar de uma intelectualidade diluda e maniquestas: Maria Stuart, A Donzela de
Orleans, A Noiva de Messina, Guilherme Tell.
Schiller um poeta com imaginao idealizante, com o sonho do bem e do
belo e, sobretudo, um homem de espetculo.
Movimentos:
Neoclassicismo,
Academicismo, Naturalismo e Realismo
Romantismo,
Henrik Ibsen
Construiu uma srie de peas que davam a iluso de realidade no distorcida,
refletir sobre as ideias e observar as personagens era mais importante do que olhar
para os efeitos tcnicos e reviravoltas da histria dramtica. O ataque frontal s
convenes e a tcnica retrospectiva euripidiana pulsam no trabalho de Ibsen. A
ousadia e criatividade de um Shakespeare ou Goethe faz dele um poeta de essencial
largueza de mente e esprito.
Autor de origem humilde, teve que lutar pelos seus estudos na universidade.
As viagens pela Europa e os estudos traziam cada vez mais inovaes para sua obra.
Em 1851 nomeado dramaturgo oficial do teatro local de Bergen, na Noruega, e
escreve uma fantstica comdia A Noite de So Joo, em 1852, construda ao redor de
canes populares escandinavas para celebrar a histria primitiva e o esprito
nacional de seu povo. Ele enriquece sua obra com Dama Inger em Ostraat ao deslocar
o conflito nacional para o interior do ser humano. Ibsen conseguia, desta forma,
penetrar o corao de seus personagens, envolvendo suas antteses numa intriga
maior.
Passa desse perodo de sagas nrdicas e parte, finalmente, a caminho do
drama moderno. Com a stira Comdia do Amor, ele desenvolve a anttese de que o
amor e o casamento so incompatveis. Com Hedda Gabler e Brand, seus primeiros
triunfos pblicos de grande poder potico, ele descarrega sua irritao com o banal
mundo da classe mdia que conhecera. O problema de sua poca, espiritualmente vil
e desprezvel (Kierkegaard), cujo demnio, diz Brand, a acomodao.
A queixa de Brand, que as peas posteriores de Ibsen deveriam ecoar por vezes,
basicamente que a sociedade individualista de classe mdia na qual vive, em ltima
anlise, enfraquece a individualidade14
Com Peer Gynt, sua prxima pea de renome, Ibsen corporifica seu protesto
contra a vida estreita e sua viso de uma humanidade liberada e, em concretos
estudos sociais, atesta um novo estilo com um vigor mental e emocional sem os quais
sua obra permaneceria uma inspida espcie de fotografia. Em 1868, A Aliana da
Mocidade, desenvolve uma realstica denncia da poltica local. A corrupo, a
supresso da liberdade e outras formas de especulao sobre o conflito entre
indivduo e Estado no podiam escapar das observaes minuciosas e exacerbadas de
Ibsen.
Ele sentia-se cada vez mais convicto de que a civilizao no poderia ser livre
enquanto a metade do gnero humano permanecesse submetida a uma servido
legal: a sociedade provinciana. exatamente quando, em sua fase realista, ele
tocado pelo movimento de emancipao feminina. Lona Hessel foi sua primeira
personagem que figurar a mulher moderna. Em 1879, Casa de Boneca, foi dirigida s
mulheres do lar. A pea se tornou motivo de escndalo por convocar as mulheres a
sarem de suas casas e participarem do mundo.
Em Os Espectros, Ibsen atingiu um alto teor de naturalidade, cujo contato com
a realidade assumiria um grau mais elevado de intensificao, sem dvida
influenciado pelas teorias de Darwin e Emile Zola. A hereditariedade concebida
como uma froma que sugere a ideia grega do Destino. O mais cru dos realismos, no
qual o indivduo vai em busca de sua integridade e felicidade.
Sua prxima pea O Inimigo do Povo, sua opo foi temper-la com o sal da
comdia srdida, no qual ele demonstra um pouco de sua prpria personalidade,
relatando um mundo onde a maioria est sempre errada.
14 Gassner, John. Mestres do Teatro II. So Paulo: Perspectiva, 2011, p. 12.
August Strindberg
Nasceu num bero de pobreza e misria. O lar causava-lhe repugnncia,
martirizado pelos irmos, tendo perdido a me muito cedo. Chegou prximo da
paranoia avassalada pelo pessimismo. Quando adulto, desenvolveu o gosto pela
literatura, pelo jornalismo e pelo teatro estudou em escolas populares. Aps sucesso
no Teatro Real da Sucia com diversas peas curtas e o estopim de Fra-da-Lei, um
estipndio de Carlos XV, permitiu que retornasse aos estudos na Universidade. Mas o
sucesso no lhe valeria o humor. Formou-se mdico e tornou-se ator. Concluira que
todos os seus esforos foram infrutferos e se isolou em uma ilha, comento novos
fracassos literrios.
Voltou escrever para o teatro somente em 1887, depois de ter sido autor das
mais vendidas obras da de Histria do povo Sueco e confiscado de seus contos sobre
o matrimnio moderno, Casados. Escreveu O Pai para o teatro, um dos mais
fascinantes dramas psicolgicos.
Os traos fundamentais da dramaturgia strindberguiana : observao ultrarealista, descompostura psicolgica e um anti-feminismo dirigido contra (...) Casa de
Bonecas. (idem b: 2011, p44).
Seguiu com as figuras femininas. Tendo sido seu casamento com a Baronesa
Wrangel o principal responsvel para seu retorno escrita. Suas prximas peas
foram Camaradas, mais uma relao matrimonial complexa, Credores, com o duelo
entre esposa e ex-marido, A Dana da Morte, com os mais demonacos personagens,
torna o dio mais forte que o amor.
Anton Tchekhov
Anton Pavlovitch Tchekhov era simplesmente um homem bom!. Tchekhov,
cumpre notar, trabalhou dentro de uma tradio nacional que o capacitou a
concretizar na dramaturgia o que havia de melhor nele mesmo. No importa quo
pessoal possa ser sua arte, ela se alimentou da grande corrente do realismo russo do
sculo XIX. Era um escritor entre muitos que eram realistas porque no podiam ser
outra coisa e ao mesmo tempo permaneciam fiis ao esprito de uma nao que,
excetuada na corte, no se revestia de nenhum dos ouropis da cultura europeia.
Em parte alguma a vida era to elementar e ganha com tanta clareza. (GASSNER, J.
2011 : 169).
Mais do que tudo Tchekhov pretende revelar a vida ao invs de aucar-la ou
dour-la. Demonstra o terrvel poder que amide reside em tal simplicidade num
vasto pas de absolutismo tzarista, crueldade burocrtica e gangrenosa escravido.
Temperado no fogo de sculos de invases monglicas e opresso brbara. Metfora
do gigante mortificado com uma fora turrona, gentil e feroz. Em suma o povo russo
era ao mesmo tempo terrvel e dcil.
Dentro de Tchekhov estava a dolorosa conscincia dessa realidade e da falta de
progresso em seu pas. Contudo ele parece nunca ter perdido o otimismo aquela f
no homem. Para ele no havia fracassos, ainda que poucas dentre suas personagens
consigam vencer no mundo ou integrar-se nele. No acreditava que houvesse casos
totalmente perdidos. Em suas personagens detectava o anseio para embelezar e
enobrecer a vida. Cada uma delas uma buscadora e sonhadora dentro dos limites de
seu ambiente. Nenhum revolucionrio no mundo transpareceu tamanha tranquilidade
superficial. Preferia que o espectador tirasse suas prprias concluses. Suas
personagens esto sempre ss. Sua crena era que todos os homens so
essencialmente ss. Seu sentido de unidade brilha na compreenso que conferiu a
todas as personagens e na piedade oblqua que sentia pelas vtimas da decadncia
social. Repetiu muitas vezes o que praticou: cada homem deve trabalhar pela
humanidade (GASSNER, J. 2011, grifos meus : 184-6).
Tchekhov foi um servo. Sua infncia foi infelicitada pelo pai que chegou a
espanc-lo. Diz que no teve infncia e reflete isso na infelicidade das crianas em
seus contos. Aos vinte e poucos anos Tchekhov afiava sua veia cmica assinando
contos com pseudnimos facciosos como Cabea Dura, Homem sem Melancolia e o
Irmo de meu Irmo (GASSNER, J. 2011 : 186), produzindo vrias histrias farsescas
que logo foram reunidas num livro de grande sucesso, com o qual sustentou seus
estudos de mdico. Tornou-se o mestre da fico curta e, mais confiante em seu
amadurecimento literrio, se voltou para o teatro. Mostrou sua atrao pelos
vaudevilles e farsas francesas quando esboou, por volta de 1888, O Urso. Logo
vieram: O Pedido de Casamento, O Casamento e O Aniversrio. Sua primeira obra
longa foi Ivanov, um Hamlet russo, derrotado pelos conflitos internos que o roem.
No entanto, ele se afasta de qualquer conceito clssico e romntico de
tragdia. Tragdia, diz ele, com efeito, no o resultado do choque entre indivduos
mas do atrito. A vida vai se desgastando nestes atritos at que esteja totalmente
gasta ou empobrecida. A vontade atrofiada, os nervos so destemperados, o
crebro confundido e a vida simplesmente vai ficando mais e mais depauperada.
(GASSNER, J. 2011, grifos meus : 189).
Assim como Ibsen, comea a empregar o simbolismo em sua obra, f-lo
discretamente introduzindo alguns detalhes sugestivos que, de certa forma, sumariam
a configurao ou o sentido da pea. Sugestes csmicas, segundo Gassner, que
nos levam a crer que assim como outros poetas com genialidade universal no
possuem gnero nem poca, mas fundem de seu pensamento singular e abissal a
uma pessoalidade abrangente e perceptiva para todas as questes que rodeavam o
cotidiano dos seres humanos.
No teatro, Tchekhov desenvolve um estilo inteiramente novo e individual
(impossvel de ser imitado HELIODORA, B. 2008 : 102) capaz de escorar solidamente
sua teoria da tragdia. Ele precisou apenas encontrar um grupo de atores que
pudesse traduzi-lo para a linguagem cnica do palco. Um passo importante foi dado
quando escreveu A Gaivota: Desta vez dramatizou um grupo mais do que de um
indivduo, conferindo, certo, individualidade a cada uma de suas personagens, mas
tornando-as parte de um meio ambiente compacto, isto , a Rssia provinciana. (...) A
Gaivota no representa apenas os mal-entendidos que existem entre pessoas mas a
incapacidade destas em se realizarem num meio esttico que estimula tanto o
egosmo quanto o escapismo. Dentro do contexto, Nina e Treplev nos atraem por sua
vivacidade e a vida justificada e exaltada por eles. Nesta trilha Tchekhov se alinha
com os mestres da tragdia que souberam como transformar a derrota num triunfo
(GASSENR, J. 2011, grifos meus : 189-190).
Nem realista, nem simbolista, expressionista, melodramtico ou outra coisa.
Tchekhov exportou da sua experincia viva com a arte um estilo prprio que
transcendeu a escolas de sua poca. Da mesma forma, depois do fracasso de A
Gaivota em So Petersburgo, o Teatro de Arte de Moscou foi o nico capaz de elaborar
um sistema de atuao para os atores que transcendesse o mtodo e, tambm, todos
os mtodos, mesmo das pocas vindouras, justamente por no se propor como um
mtodo, mas como uma interpretao do trabalho do ator e da relao com o diretor;
reconhecendo o processo de criao de todo grupo, toda equipe e de todo pessoal
envolvido com a obra. Dantchenko e Stanislavski, conquistaram assim a excelncia na
montagem das peas de Tchekhov.
Eles exigiram cerca de cinco a seis ensaios gerais para a pea, coisa no
comum para poca, e nada mais adequado para sutileza de climas tchekhovianos e a
gradao delicada de suas peas. Incitaram a habilidade do ator em submergir sua
individualidade em seu papel. A interpretao seguia a lei da justificativa interna e o
ator devia criar seu papel como se fosse algo que estivesse unido sua prpria
personalidade (GASSENR, J. 2011, grifos meus : 191 - 192).