No Divã de Deus
No Divã de Deus
No Divã de Deus
ca,t, O r:~~io
ro
~
Apostando no futuro
Superando a dor
Livrando-se de culpas
Renovando as foras
Superando a depresso
Abrindo-se para a vida
Caio Fbio
NO
DIVA
DE
DEUS
VOLUME III
Na linguagem bblica
os dramas humanos
recebem o refrigrio
do Deus que intervm
Reviso tipogrfica:
Joo Alves de S Filho
Capa:
Jonas Lemos
Projeto Grfico:
Textus Marketing Editorial
SCRN716BI. FLoja36
Braslia, DF - CEP 70770-556
FonelFax: (061) 349-6032
E-mail: mzcult@gns.com.br
Filiada ABEC
ISBN 85.86467-01-4
SUMRIO
Apresentao
Abrindo-se para a vida - Marcos, 7:31-37
Coragem para renascer - Longe - Portas trancadas
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DEDICATRIA
Aos queridos amigos Alpio e Marly pelo grande conforto
que sua amizade tem dado ao meu corao.
APRESENTAO
Alda D'AraJo
CAPTULC> I
Este texto, a meu ver, descreve uma das situaes mais hilariantes, mais engraadas e esquisitas do Novo Testamento.
Isto porque Jesus cura um homem que mudo e lhe pede que
no diga nada a ningum a respeito do que lhe fora feito.
Imagine a situao: o homem, at ento, fala com muita
dificuldade, mas Jesus o cura. Ele comea a falar fluentemente. Contudo Jesus lhe recomenda:
- No diga nada a ningum.
- Mas como, Senhor? .. Agora que consigo falar, s vou
poder chegar s pessoas e dizer-lhes um "Oi, gente!"?... Eles
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o texto em questo comea situando Jesus numa geografia muito conhecida pelos leitores da Bblia, sobretudo do Novo
Testamento, e especificamente dos Evangelhos (Me 7:31), onde
se diz que ele havia deixado o pas, passado a fronteira e ido
terra de Tiro e de Sidom. Saindo da - pela terra de Sidom -,
contornando o Mar da Galilia seguiu em direo de outra regio igualmente conhecida dos que lem a Bblia: Decpolis.
Esta era constituda por dez cidades gregas, entre elas Gadara
e Gereza, sobre as quais os Evangelhos narram, um pouco
antes, um episdio em que Jesus liberta um homem possesso
por uma legio de demnios - milhares de psiquismos, vozes,
desejos e vontades (Mt 8:28-34; Mc 5:1-14; Lc 8:26-34). Eles
penetravam-no, dilaceravam-no, tendo feito dele um superesquizofrnico, tomado por foras espirituais as mais variadas,
que muito o atormentavam. Jesus ento repreende a legio de
demnios, trazendo-lhe lucidez, e fazendo-o assentar-se a seus
ps, plenamente curado, calmo, quieto, em perfeito juzo, sem
tiques nervosos, sem se ferir, sem a agitao paranica incontrolvel; sem a tempestade e o trovo que cotidianamente lhe
habitavam a alma.
Abrindo um parntese: quando uma sociedade tem a sorte
de encontrar um doido, ela se sente um pouco melhor, tal como
acontece na casa da gente: a ovelha negra carrega os pecados da famlia inteira, de maneira que o pai se julga sadio, a
me, lcida e os irmos se sentem melhor. Isto porque tm um
filho, ou um irmo, que maluco. Sendo assim, a maluquice
dele, por inferncia, gera uma certa sensao de que os outros
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so normais. Do mesmo modo, quando um homem que carrega a culpa da sociedade inteira curado e um prejuzo terrvel
dado a ela, seus membros entram em crise (Mt 8:34). Ento,
dizem a quem foi o causador, o provocador do prejuzo: "Sai
daqui! Vai embora! No te queremos aqui!"
No entanto Jesus est de volta. Gostaria apenas de lembrar
que uma das ltimas palavras que ele diz ao homem de Gadara,
que havia liberto, e que insistia no pedido de deix-lo seguir com
ele, foi uma negativa. Jesus no lhe permite, mas lhe ordena:
"Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o
Senhor te fez, e como teve compaixo de ti" (Me 5: 18,19).
A Bblia conta que, comeando dali mesmo, ele vai pelas
dez cidades pregando a Palavra e dizendo o que o Senhor fizera por ele (Me 5:20). Sendo assim, elas so impregnadas do
esprito daquele episdio: a libertao daquele homem.
Os Beatles tinham uma msica intitulada O Homem das Mil
Vozes na Montanha, que poderia muito bem referir-se ao estado anterior libertao daquele surdo e gago. Contudo, agora
liberto, ele s ouve a prpria voz da conscincia e do Esprito
Santo. Volta para casa saudvel, reintegrado vida; tem uma
mensagem a pregar. uma assombrao andante: um milagre
de sanidade mental e espiritual acontecera nele, deixando os
habitantes daquelas cidades perplexos, estupefatos.
Jesus volta ao mesmo local do qual fora expulso. E certamente, chegando ali, as repercusses do milagre que operara
na vida do gadareno atingem a vida do surdo e gago, do texto
de Marcos, 7.
Isto porque, passando Jesus por Decpolis, lhe "...trouxeram um surdo e gago, e lhe suplicaram que impusesse a
mo sobre ele" (Mc 7:32).
Jesus ento olha para o homem, que surdo e fala dificilmente, e o leva para fora da cidade. E ali, distante da multido,
pe-lhe os dedos nos ouvidos e lhe toca a lngua com saliva,
num ritual que pode parecer totalmente extravagante (Me 7:33).
Se fosse eu que houvesse feito isso, iriam chamar-me de
bizarro. Graas a Deus foi Jesus: saliva na lngua do homem,
dedos nos ouvidos, ordenando que se abram; orao e cura.
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sua boca e de seus ouvidos, viajam luz, sons, amor, graa. Jesus faz o homem para estar livre, desbloqueado. Por isto diz:
"Efat!" "Abre-te!"
LONGE
Voc nunca se interessou em me ouvir. E minha palavra
ficou sem voz e sem eco - perdida dentro de mim para sempre. Talvez voc tenha me ouvido comentar que ameaava
chover, ou que a chuva me deixara presa no meio do trnsito;
ou que as coisas estavam difceis ... "Para todo o mundo! ..."foi seu trivial comentrio. E calei. Sabia que meus anseios,
minhas dvidas, minhas preocupaes, meus sonhos, as coisas
bonitas que invento voc jamais se interessaria em escutar.
Muita confisso importante, muita palavra imperdvel, meus
poemas emocionados ficaro para sempre guardados, pois voc
nunca interrompeu coisa nenhuma para me ouvir; jamais
deslacrou para mim as portas de su' alma endurecida, egosta,
fechada beleza, ternura e ao amor.
Nem ouso culp-lo por sua frieza, seu mutismo e surdez.
Nunca lhe segui os passos at o quintal de sua infncia, onde
descuidado voc brincou; nem o acompanhei depois pelos caminhos que trilhou, talvez se sentindo perdido, s e sem rumo,
ferido e amargurado com os golpes que a vida lhe aprontou.
Desconheo a razo de seus bloqueios, talvez injustos e cruis
para com voc - hoje transferidos a mim, que culpa de suas
desditas no tive...
No entanto, j tempo de voc se abrir para a vida, destrancar boca e ouvidos; arrancar os ferrolhos e esquecer as
machucaduras. Ningum nasce para o aprisionamento, o
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mutismo, a surdez, o isolamento! Estou sua espera: para ouvilo! Para lhe falar! Antes que seja tarde! Antes que desista de
voc!
Allinges
PORTAS TRANCADAS
Caminho entre as pessoas, mas devagar vou me afastando,
escapando multido e aos olhares curiosos. No quero ser
observada. Algo dentro de mim me ameaa, me inibe, me leva
a introverter-me. Fecho as portas de entrada e as de sada: me
esquivo, no falo - apenas olho. E o que pelos olhos entra em
mim - que vem dos outros ou de mim mesma - me vai subindo
pelas veias, galgando corao e mente, que querem explodir.
Se por um lado me faltam lbios, por outro me sobram olhos,
que me avolumam as lavas da agonia, me aumentam as
catadupas de anseios, que no entrego, nem posso entregar a
ningum.
No entanto, at o fato de poder enxergar me acontece de
certo modo a contragosto, pois o que mais gostaria - s vezes
- seria no ter nem sequer olhos para ver, e assim o mundo
volta no me dissesse nada, e os dilogos terminassem, ainda
que existindo sem som. Mas seria intil: se fecho os olhos para
o de fora eles continuam abertos para o de dentro - e revejo, e
percebo, e revivo, e restauro, e reconsidero, e analiso, e imagino, e sofro de novo. Posso fechar os olhos para o exterior,
nunca para o interior!
Na verdade no falo com ningum, mas falo comigo mesma, e ouo de mim mesma, enquanto caminho em meu universo trancado - que ningum invade, a no ser Deus.
E eles imaginam que no os ouo ... Posto que nada digo.
Enganam-se. Mesmo enclausurada num mundo sem portas nem
janelas, ou fechado como um tero, ou rocha macia, continuo
a ouvi-los, e a pensar, e imaginar, e sentir. Mas eles no acreditam. Crem-me insensvel, morta. Eles prprios se fecharam
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CAPTULC> II
APOSTANDO NO FUTURO
JEREMIAS, 18:1-6
Palavra do SENHOR que veio a Jeremias, dizendo:
Dispe-te, e desce casa do oleiro, e l ouvirs as
minhas palavras. Desci casa do oleiro, e eis que ele
estava entregue sua obra sobre as rodas. Como o vaso,
que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mo,
tornou afazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.
Ento, veio a mim a palavra do SENHOR: No poderei
eu fazer de vs como fez este oleiro, casa de Israel? diz o SENHOR; eis que, como o barro na mo do oleiro,
assim sois vs na minha mo, casa de Israel.
to e da proposta de Deus. Para Jeremias era como se, de alguma forma, algo se houvesse perdido ou deteriorado radicalmente pelo caminho. Ele entra conseqentemente em depresso,
sofre, angustia-se, pois comea a ter a percepo de que alguma coisa, para os tempos futuros, haveria de ter um fim trgico.
Dir-se-ia que est a ponto de desistir de alimentar a menor esperana, que o animasse a continuar desafiando o povo a ir a Deus
e a se tomar sujeito do seu destino, tomando na mo o desejo e
a possibilidade de reconstruir em Deus, e para eles mesmos,
uma sociedade melhor.
Ocorre, porm, que, quando Jeremias entra nessa depresso
profunda, comea a agonizar intimamente, a perder o vio interior; a deixar escapar a possibilidade de sonhar. At ouvir a voz de
Deus, que lhe diz:
"Jeremias, faa o seguinte: hoje no fique em casa. Abra a
porta logo de manh, v para a rua e ande pelas esquinas; d
uma chegadinha casa do oleiro, o homem que trabalha com
barro, fazendo artefatos, vasos e outras coisas."
Mesmo sem entender exatamente o que Deus queria, vai ele
casa do oleiro. Chegando l, fica observando aquele homem
que pedala, e se impressiona com a destreza e a habilidade na
execuo do seu ofcio: uma roda se move em cima, acionada
pelos pedais postos em movimento. Sobre ela v um grande volume de barro extremamente pegajoso, no qual o arteso joga
gua, e depois bate, soca, prepara. E vai pedalando, e a roda
girando. De repente, enfia as mos no barro, fazendo presses
harmnicas. Ento, este comea a tomar forma, a ganhar contornos; vai crescendo, adquirindo magicamente uma nova aparncia, diante dos olhos de Jeremias, estupefatos ante a agilidade manual do oleiro.
O oleiro bate aqui, bate ali, aperta, enquanto o barro vai subindo, ganhando a mgica da criao. E Jeremias continua observando, estarrecido, vendo a obra se consumar. Repentinamente, quase chegando ao fim, num dos ltimos toques do oleiro,
o barro se esparrama em suas mos. O estrago radical.
Jeremias ento, entristecido, exclama: - "Puxa! Eu no dou
sorte mesmo!"
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?. A s emooes.
- ? QueA?....
O S re Iacionamentos
Por meio desta palavra venho dizer-lhe, no nome de Jesus,
que Deus no desistiu de voc e que ele vai meter a mo na
massa; vai refazer o projeto da sua vida, se voc se dispuser a
entregar tudo nas suas mos.
ESSNCIA
Da vida vou criando
- com mos toscas e alma rica uma obra de arte,
nascida da imaginao de artfice.
Escavo fundo as preciosas runas
do meu subterrneo mundo,
dele retirando percepo aguada,
esprito leve e tendncia devoo,
com eles trabalhando alegre e absorta
o material precioso que tenho nas mos.
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CApTULC> III
LIVRANDO-SE DE CULPAS
HEBREUS, 7:20-28
E, visto que no sem prestar juramento (porque
aqueles, sem juramento, so feitos sacerdotes, mas este,
com juramento, por aquele que lhe disse: O Senhor jurou
e no se arrepender: Tu s sacerdote para sempre);
por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior
aliana. Ora, aqueles so feitos sacerdotes em maior
nmero, porque so impedidos pela morte de continuar;
este, no entanto, porque continua para sempre, tem o
seu sacerdcio imutvel. Por isso, tambm pode salvar
totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles. Com efeito, nos
convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpvel, sem mcula, separado dos pecadores efeito mais
alto do que os cus, que no tem necessidade, como os
sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifcios,
primeiro, por seus prprios pecados, depois pelos do
povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si
mesmo se ofereceu. Porque a lei constitui sumos
sacerdotes a homens sujeitos fraqueza, mas a palavra
do juramento, que foi posterior lei, constitui o Filho,
perfeito para sempre.
Desde o incio, quando depois de ter transgredido o mandamento de Deus Ado se descobre nu, percebendo-se despido
ele reconhece que, diante de Deus, tem coisas a esconder, a
encobrir (Gn 3:7). Ento, foge da presena do Senhor, quando
a pela virao do dia ele o chama sua presena:
" ... onde ests?" (Gn 3:9)
Conta-nos a Bblia que ele, Ado, e sua mulher, Eva, se
esconderam-se entre as rvores do jardim do den:
"Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no
jardim pela virao do dia, esconderam-se da presena do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as rvores do
jardim." (Gn 3:8)
Ado, portanto, tenta fugir da presena do Senhor. E em
resposta a seu chamamento, diz:
"Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tive medo e
me escondi." (Gn 3:10)
"Quem te fez saber que estavas nu?" - Deus lhe pergunta
(Gn 3:11).
E nesse dilogo que se estabelece entre Deus e Ado, pelo
qual Deus no estava pretendendo explicao alguma, mas tosomente que Ado percebesse o que fizera, conscientizassese das conseqncias negativas do seu ato, verifica-se que o
pecado, a transgresso, a culpa, enfim, trazem consigo uma
espcie de sentimento de nudez, de inadequao e desconforto ao nos apresentarmos diante de Deus.
O primeiro ato divino posterior ao dialogo mantido com Ado
foi o de cobri-lo, e a sua mulher, com peles de animais:
"Fez o Senhor Deus vestimentas de peles para Ado e sua
mulher, e os vestiu." (Gn 3:21)
Ora, para que Ado e Eva fossem cobertos com peles, animais tiveram de ser sacrificados; sangue foi derramado, a fim
de que os culpados fossem cobertos.
Quando se faz uma incurso nas culturas as mais distintas
e remotas, observando-lhes as relaes sociais, se nelas houve
algum senso humano de civilizao, verifica-se que tambm
houve a necessidade de algum tipo de expiao por culpa humana. Essa prtica comea com o pecado de Ado e Eva,
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quando animais so mortos, a fim de que ambos tenham o corpo coberto com suas peles. Isso se estende a todos os povos
da Terra. Todos os ritos religiosos contm esta idia: algum
tem que morrer pelo culpado. O sacrifcio pode at ser de um
boi, um cabrito, uma ovelha ou um pombinho. Em certas civilizaes primitivas chegava-se ao extremo de se sacrificarem
virgens a deuses pagos, na inteno de se expiar a culpa, o
pecado praticado por algum ou por toda a comunidade. Em
outras culturas, os jovens mais belos, ou os primognitos, eram
preservados para um ritual de sacrifcio comunitrio, no qual
os belos e os perfeitos expiavam a feira e a imperfeio dos
demais. At mesmo nos tempos modernos esta idia continua
viva, ainda que se apresente sob as sofisticaes de nossos
dias: no mais se derrama sangue, mas h a necessidade de a
pessoa se sentar num div, visando a procurar soluo para o
sentimento de desconforto e mal-estar que se instalou na alma.
s vezes, as imolaes e expiaes so do prprio sangue.
Vejo com muita freqncia pessoas invocando o nome do av,
do pai ou da me que as abandonaram na infncia.
Nessa busca de entender e solucionar tal sensao de desconforto interior, alguns projetam em outros (pai, me, antepassados de modo geral), ou em alguma coisa (s vezes, a estrutura
social), a razo de seu desencontro e desarmonia interior:
"Eu sou assim, porque fui criado assim ..."
Mas uma verdade inegvel: algum tem que pagar pelo
outro.
No h maneira diferente pela qual a cabea humana funcione, a no ser procurando tais mecanismos de expiao da
culpa, que vo desde os rituais mais elementares e rsticos aos
mais intrincados e sofisticados esquemas psicolgicos de
autojustificao e auto-afirmao.
A proviso para a culpa, no entanto, em qualquer desses
esquemas obedece sempre mesma lgica: primeiro, o inocente paga pelo culpado; segundo, o sangue, presumivelmente, aplaca a ira divina; terceiro, o sangue sela o pacto
de redeno entre a divindade e o ser humano culpado e
cado.
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Que preciso, ento, para que nos livremos dessa sensao de desconforto e desses rituais de expiao que
presumivelmente nos redimem de culpa?
necessrio afastar a mente da religio, dos sacerdotes e
dos intermedirios que aparentemente nos aliviam a alma, para
concentrar mente, corao e f no nico Sumo Sacerdote constitudo diante de Deus, que Jesus. Quais as razes para esse
comportamento?
A primeira razo diz respeito s qualidades do Sumo Sacerdote, pois ele totalmente diverso dos sumos sacerdotes
humanos:
"Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote, assim como
este, santo, inculpvel, sem mcula, separado dos pecadores, e
feito mais alto do que os cus, que no tem necessidade, como
os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifcios, primeiro por seus prprios pecados, depois pelos do povo; porque
fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu"
(Hb 7:26,27).
O Sumo Sacerdote descrito nos versculos acima inteiramente diferente de mim e de qualquer outro em cuja direo as
pessoas olhem, na perspectiva de projetar nele a idia de mediao. Por mais que se conceba tal noo como estapafrdia,
ela pode ser percebida diariamente no nosso meio.
s vezes, avalio a dificuldade que enfrento - nas inmeras
cruzadas evangelsticas que realizo por meio da Vinde - de
entrar, por exemplo, num estdio de futebol e depois sair. Em
alguns lugares corro o risco de ter a roupa rasgada por pessoas
que querem levar consigo um pedao do terno, do leno, da
Bblia. Que as motiva a se comportar desta maneira, seno
uma projeo fetichista? Algumas pessoas da Vinde, certa vez,
conversando, disseram:
"Se abrssemos uma loja e nela vendssemos as camisas
usadas do Rev. Caio, cobrando por elas dez vezes mais o preo das novas, a Misso no precisaria mais de oferta."
H pessoas que acreditam em tais fetiches porque projetaram sobre algum uma expectativa que de modo algum real.
A Palavra de Deus nos diz que os sumos sacerdotes humanos
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" ... vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25).
Uma pergunta para a qual podemos dar resposta, em conformidade com a Bblia, a seguinte: "Que Jesus est fazendo
agora?" Dentre as muitas coisas, uma certa: est intercedendo por ns.
No Universo, neste momento, novas galxias podem estar-se formando; meteoros se chocando no espao sideral;
milhes de peixinhos sendo paridos no fundo de mares, lagos
e rios. Mas uma coisa indiscutvel: apesar de tudo isso, Jesus se preocupa com cada um de ns.
Quem escreve estas linhas um homem falho, que antes
de abrir a Bblia no faz oferta de sangue, mas evoca o sangue
de Jesus derramado na cruz, para ungi-lo primeiramente, e assim ministrar aos demais.
Porm, existe Algum que o nico que fala, e cuja voz
chega diante do trono de Deus, e vive para interceder por ns:
Jesus. Isto deve transmitir-nos uma segurana enorme, uma
confiana imensa e um alvio profundo alma, trazendo ao
nosso interior sentimentos de aceitao incomparveis.
Quais as concluses a que podemos chegar a partir de tudo
que foi escrito at aqui?
A primeira que, quando camos, no permanecemos prostrados. Se temos um Sumo Sacerdote, que o nosso mais legtimo intercessor, e que fez para todo o sempre sacrifcio em
nosso favor, podemos ter a certeza de que Deus jamais se esquecer disto. Se tentamos esconder-nos dele, mesmo assim ele
nos descobre e nos v por entre o sangue derramado de Jesus.
A segunda: quando estamos de p no ficamos arrogantes. Se assim estamos unicamente pela graa de Jesus.
A terceira: quando fracos, no nos sentimos desamparados, porque sabemos que h Algum que vive exclusivamente para interceder por ns.
A quarta: quando experimentamos contradies pessoais, no desistimos de ns mesmos. Pois nossa relao com
Deus no baseada na coerncia humana, mas no fato de que
ele nos olha mediante Jesus Cristo. O que no significa que
queiramos ou devamos exacerbar nossas incoerncias, e, sim,
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que, quando detectamos essas contradies pessoais, no desistimos de ns, mas acreditamos naquele que vive para interceder em nosso favor. Este nosso Sumo Sacerdote para sempre, que fez um sacrifcio completo, no precisando de ser repetido. Ele no desiste jamais de ns. Por isto, no devemos
nunca desistir de ns mesmos.
O maior problema, s vezes, que desistimos de ns diante
de Deus. Realmente, nunca vi Deus desistir de ningum. No
entanto, ouo com freqncia pessoas afirmando:
"Eu no sirvo para ele! "
Contudo, Jesus nos diz o seguinte:
"Todo aquele que o Pai me d, esse vir a mim; e o que
vem a mim, de modo nenhum o lanarei fora" (Jo 6:37).
Se algum est experimentando contradies pessoais, no
deve desistir de si mesmo, porque h Algum - Jesus Cristoque o ama, e que se preocupa com todos.
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CApTULC> IV
RENOVANDO AS fORAS
ISAAS, 40:12-31
Quem na concha de sua mo mediu as guas e tomou a
medida dos cus a palmos? Quem recolheu na tera parte
de um efa o p da terra e pesou os montes em romana e os
outeiros em balana de preciso? Quem guiou o Esprito
do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com
quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreenso?
Quem o instruiu na vereda do juzo e lhe ensinou sabedoria,
e lhe mostrou o caminho de entendimento? Eis que as
naes so consideradas por ele como um pingo que cai
dum balde e como um gro de p na balana; as ilhas so
como p fino que se levanta. Nem todo o Lbano basta
para queimar, nem os seus animais, para um holocausto.
Todas as naes so perante ele como coisa que no
nada; ele as considera menos do que nada, como um vcuo.
Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa semelhante
confrontareis com ele? O artfice funde a imagem, e o
ourives a cobre de ouro e cadeias de prata forja para ela.
O sacerdote idlatra escolhe madeira que no se corrompe
e busca um artfice perito para assentar uma imagem
esculpida que no oscile. Acaso no sabeis? Porventura,
no ouvis? No vos tem sido anunciado desde o princpio?
Ou no atentastes para os fundamentos da terra? Ele o
que est assentado sobre a redondeza da terra, cujos
moradores so como gafanhotos; ele quem estende os
cus como cortina e os desenrola como tenda para neles
habitar; ele quem reduz a nada os prncipes e torna em
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Este um dos textos mais conhecidos da tradio judaicocrist. Tanto o judasmo como toda a Igreja o amam muito,
vendo nele uma fonte de conforto para o cansado e o abatido.
Neste sculo, o que mais promoveu e deu visibilidade a essa
poro da Palavra de Deus talvez tenha sido o filme Carruagens de Fogo, que concorreu a um Oscar h aproximadamente 16 anos. Os que se lembram dele o reconhecem como
uma produo maravilhosa, toda feita em funo de jovens
que tinham uma expectativa enorme de ganhar uma medalha
nas Olimpadas. O roteiro apresenta dois personagens distintos: um deles, um judeu ambicioso, obstinado, que aspira a se
tomar o mais veloz corredor do mundo; o outro, um cristo
com vocao missionria, consciente de ser o mais rpido do
mundo, mas cuja inteno no mostrar s pessoas que o
mais veloz apenas para se gloriar da sua velocidade, e, sim,
para, nessa ocasio, dar glrias a Deus.
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COM O TODO-PODEROSO
NAS PROFUNDEZAS DO MEU SER
Eu creio num Deus todo-poderoso, que de maneira absolutamente incompreensvel para o homem estendeu os cus como
cortina e neles espalhou milhares e milhares de estrelas, conhecendo uma a uma pelo nome. Eu creio no Deus que criou
pssaros que devoram insetos transmissores de pragas e do50
fcil seria pennanecer aqui em cima, na superfcie, distraindome com futilidades e o mundo ao redor. Mas meu anelo muito mais elevado: conhecer-me melhor para melhor conhecer
meu Criador. Minha parte mais preciosa est oculta no mago
de mim, no talvegue do meu ser. E este talvegue, esta clula
escondida ningum no mundo alcana, nem jamais alcanar:
s ele, o nico Todo-Poderoso. Por isto, tenho que estar atenta
s vozes de minh'alma. Ento calo, me aquieto, silencio, fujo,
me escondo, emudeo diante de mim mesma, buscando me
ouvir - ouvir as vozes do mais profundo do meu oceano, onde
Deus mora; onde meu Criador depositou seus planos com respeito a mim. Portanto vou me calar, no desperdiar-me, mas
no silncio entregar-me inteira escuta das vozes de minh'alma.
Ento irei descobrir o sentido da vida, aquilo que o Todo-Poderoso, que tem o Universo, e todas as coisas, e todo crebro do
mundo, e todo ser vivente na palma de sua mo, tem para mim
- a seus olhos um simples gafanhoto...
A/linges
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CApTULO V
ALIVIANDO-SE
DAS CARGAS DA VIDA
MATEUS, 11:28-30
Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o
meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de corao; e achareis descanso para as vossas
almas. Porque o meu jugo suave, e o meufardo leve.
- Mas ento, que idia de Deus essa, que pode existir sem
uma desembocadura religiosa?
- Pelo contrrio - contra-argumentei -; a nica idia de Deus
que pode existir a que no tem desembocadura religiosa, porque, se a idia de Deus desembocar em religio, ns o idolatramos, uma vez que ele no cabe em pacote de nenhum projeto
religioso.
A autodescrio de Jesus foge a todas as projees divinas
das mais variadas religies oficiais que se conhecem volta. s
vezes, fico pensando no grande malogro no qual nos posicionamos
do ponto de vista religioso. A religiosidade afirma a opo por
um indivduo de conduta absolutamente ilibada, que seja filantropo, tico, moralista, perfeitamente respeitvel, e acerca de quem
so escritas crnicas, e ao qual se dedicam monumentos, placas
e nomes de ruas e avenidas. Somos talvez induzidos a pensar
que este o perfil do homem que Deus quer.
Porm, ao olharmos para Jesus, vemos que ele faz uma opo completamente diversa. Ns o ouvimos dizer:
"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mt II: 28).
Vemos Jesus optando pelos cansados, abatidos, oprimidos,
frustrados, abandonados, amargurados, desconhecidos, confirmando, desta maneira, o ttulo que lhe do, ou seja, de "amigo de
publicanos e pecadores":
"Eis a um gluto e bebedor de vinho, amigo de publicanos e
pecadores!" (Mt II: 19)
Observamos tambm Jesus se aproximando daqueles com
os quais a religio no quer manter nenhum tipo de contato e
identificao; olhando no rosto dos moralistas da religio e lhes
dizendo:
"Os sos no precisam de mdico, e, sim, os doentes; no
vim chamar justos, e, sim, pecadores" (Me 2: 17).
Certo dia, na Fbrica de Esperana, almoando com um grupo de presidentes de Associaes de Moradores, encontrava-se
entre ns um senhor escuro, trajando palet. De vez em quando
ele levantava uma das mos pedindo a palavra, mas ningum lhe
dava oportunidade para falar. Eu era, digamos, o moderador daquela reunio. Entretanto, havia outros mais falantes do que ele,
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Comecei a tomar anfetaminas, a cheirar p e a fumar baseados quase ininterruptamente. Aos 18 anos, eu queria morrer,
estando com a alma envelhecida e com cabelos brancos por
dentro, no encontrando prazer em coisa alguma; no conseguindo amar ningum.
Desejos de morte comearam a povoar meu interior. At
que numa noite de quarta-feira, emjulho de 1973, sa procurando uma arma para dar um tiro na cabea. Sem me dar conta,
parei porta de um templo. Havia pessoas saindo. Olhei para
dentro. Um rapaz se aproximou de mim e disse:
- Eu o conheo. Ns estudamos juntos. O que est havendo?! Voc est com uma cara horrvel!
- Eu quero morrer! - disse-lhe, desesperado.
Naquela poca, eu tinha cabelos enormes e encaracolados, e
vestia cala jeans carne-seca, como se dizia ento, ou seja,
sem zper e sem cueca por baixo; alm disto, portava gargantilha
e bracelete. Sem contar os inmeros baseados e papelotes de
cocana, que consumira nesse dia, inclusive. L estava eu, porta da igreja, completamente desarvorado. O tal rapaz, olhando
para mim, convidou-me:
- Entra aqui, e ouve uma mensagem que vai mudar a tua
vida.
Levando-me para a galeria, fez-me sentar ao lado de um
homem forte, suado, que tinha uma criana no colo, e de vez em
quando gritava:
"Aleluuuuuia!"
E a criana:
"Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh !"
Ele ento sacudia a criana at ela parar de chorar (o que
acontecia no pelo fato de se acalmar, mas - acredito -, porque
quase desmaiava). Vendo aquilo tudo, eu me perguntava:
Que estou fazendo aqui?! ... Que viagem louca!. ..
Mulheres de coque, meninas com cabelos compridos at o
cho; enfim, um monte de gente esquisita. Eu continuava a me
perguntar:
Que estou fazendo aqui'ti.:
Olhando para o homem ao meu lado, que gritava "aleluia" e
sacudia a criana, pensei:
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DESCARREGANDO A ALMA
H muita gente caminhando alquebrada e trpega, levando
uma sobrecarga desumana - su' alma atribulada. A alma est l
dentro, mas seu peso comprime todos os msculos, e faz presso sobre carne e ossos. Ela teria que esvaziar-se, descarregar62
se. Mas como, se ela mesma no sente o menor amor por si? ..
Jesus ensinou que devemos amar o prximo como a ns
mesmos. Como amar algum, se nem a mim me tenho amor? Se
no procuro me aquietar, descansar sob a sombra, encostar meu
barco ao cais, passar a mo na minha cabea, olhar-me com
respeito e afeto? Para desenvolver esse amor pelo prximo eu
tenho que primeiro me conhecer, saber o que levo, desimpedirme do desnecessrio, indevido e suprfluo, e ento estar feliz
comigo, cercando-me de amor e compreenso. Ao me aliviar do
que nada tem a ver com minha sensibilidade e minhas inclinaes, do que excessivo, e me amar, desprezo os anestsicos,
os dopantes, os alheios eus complicados, as iluses fugazes, o
consumismo que corre atrs do vento, o puritanismo, a beatice,
a madomice da religio intransigente. Fujo, enfim, a estimulantes
artificiais que me fazem agentar provisoriamente a dor, evitando ao mesmo tempo projetar-me no outro, que no me satisfaz,
pois sempre incompleto, posto que no eu, apenas a projeo
de mim. E comeo a sentir alvio, o prazer e o orgulho de ser eu.
J no sou o caminho abarrotado de tralhas pesadas, arriscando a segurana com seus trambolhos inteis, estrada esburacada
afora. Vou me desfazendo pelo caminho de religiosidades exageradas, proibies teimosas, nos obsessivos, moralismos cruis, autocensuras doentias, remdios provisrios e paradigmas
indignos de confiana, que pelo poder miraculoso de Deus se
desintegram, viram nada, desaparecem. Tomo-me leve, pura,
solta, desimpedida, e ento me entrego corrida delirante, rumo
a um porto sossegado, onde um Amigo - o melhor, o nico
incorruptvel - me recebe de braos abertos.
A, feliz com o que fiz de mim - debaixo de seu olhar de
agrado -, comeo a amar melhor os outros, pois os amo agora
com o amor maior, o amor de Deus, porque antes de tudo sou
imagem sua. No os amo com perfeio maior por suprir com o
que meu o que comumente no encontram em volta de si; nem
por ofertar-lhes mimos e presentes, mas simplesmente porque
meu sentimento se livrou das dependncias, tomou-se ele s,
sem carecer de aplausos, palmas, coisa nenhuma, exigindo tosomente uma residncia - o corao puro e a presena do Amigomaior.
63
E passo a andar com ele! De repente, eu que era a cansada, a sobrecarregada, a oprimida, me transformo na excansada, ex-sobrecarregada, ex-oprimida. Posto que ningum que caminhe de mos dadas com ele cansado, sobrecarregado, oprimido. O milagre do alvio acontece sem
toque, sem massagem, sem acumpuntura, sem meditao
transcendental, sem sonoterapia, sem bzios ou cristais; sem
sof de terapeutas humanos e caros; sem retiro no Agreste
ou frias no Pantanal.: Acontece no Div de Deus!...
Ele me prometeu descanso e me d descanso, pois seu fardo
no so pesados artefatos e bagagens existenciais, mas algo leve
como paina, suave como brisa ... Assim, restaurada e desimpedida fao bem s pessoas, pois sou livre, e a liberdade que experimento me faz distribuir amor, no mais apatia e averso, um
silncio altaneiro, um mau humor perene e obsessivo, uma cobrana eterna. E o afeto que a outros agora do no seno
resultado de me amar a mim, uma felicidade e paz to grandes
que me impulsionam a dar-me, a ser companhia, agrado, afago,
estmulo, presena. O corao se tornou ele mesmo, sem ser
obrigado a acolher interferncias. No entanto, esta uma das
conquistas mais difceis do ser humano, pois estamos to fechados em ns, que no enxergamos o outro, que s existe como
projeo do nosso eu. Ao mergulharmos em ns mesmos e nos
encontrarmos, e nos conhecermos melhor, encontramos Aquele
que nos alivia, nos d descanso alma, abrindo-nos novas e
deslumbrantes perspectivas de vida. Ento, ela se faz leve, e at
as ocasionais cargas se tornam lucro.
Allinges
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CApTULO VI
SUPERANDO O
DETERMINISMO
II CRNICAS, 33:1-13
Tinha Manasses doze anos de idade quando comeou a
reinar e cinqenta e cinco anos reinou em Jerusalm.
Fez o que era mau perante o SENHOR, segundo as
abominaes dos gentios que o SENHOR expulsara de
suas possesses de diante dos filhos de Israel. Pois
tornou a edificar os altos que Ezequias, seu pai, havia
derribado, levantou altares aos baalins, e fez postesdolos, e se prostrou diante de todo o exrcito dos cus,
e o serviu. Edificou altares na casa do SENHOR, da
qual o SENHOR tinha dito: Em Jerusalm, porei o meu
nome para sempre. Tambm edificou altares a todo o
exrcito dos cus nos dois trios da Casa do SENHOR.
Queimou seus filhos como oferta no vale do filho de
Hinom, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro,
praticava feitiarias, tratava com necromantes e
feiticeiros e prosseguiu em fazer o que era mau perante
o SENHOR, para o provocar ira. Tambm ps a imagem
de escultura do dolo que tinha feito na Casa de Deus,
de que Deus dissera a Davi e a Salomo, seu filho: Nesta
casa e em Jerusalm, que escolhi de todas as tribos de
Israel, porei o meu nome para sempre. E no removerei
mais o p de Israel da terra que destinei a seus pais,
contanto que tenham cuidado de fazer tudo o que lhes
tenho mandado, toda a lei, os estatutos e osjuizos, dados
por intermdio de Moiss. Manasss fez errar a Jud e
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Diariamente, encontro pessoas que me dizem que no acreditam que a vida humana possa mudar, afirmando que para
alguns erros h conserto; para certos pecados h perdo; apenas determinados desencontros podem ser acertados; somente
alguns equvocos, corrigidos; mas h erros, pecados, desencontros e equvocos que esto fora da possibilidade de ser
remediados. Para eles j no h esperana; no tm jeito.
Freqentemente pessoas que se encontram comigo, especialmente as de nvel intelectual mais elevado, ou aquelas que
se respeitam a si mesmas mais do que deveriam se respeitar,
considerando-se acima do aceitvel, fazem-me esta pergunta:
"Ser que o senhor acredita que algum daqueles presos
que esto encarcerados no presdio de Bangu I, no Rio, tem
condies de se recuperar, mudar de vida?"
J ouvi uma pessoa eminente do Pas dizer:
"Reverendo Caio, no perca seu tempo acreditando em
pessoas que traaram um caminho de mo nica, para o qual
no h retorno".
Em resposta a tal argumento, digo:
"H pessoas, de fato, que esto num caminho de morte,
dor, sofrimento, desiluso e amargura, julgando que no h
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69
o que o diabo quer deixar-nos esmagados pelo sentimento de culpa, fazendo-nos acreditar que para nosso pecado no
h perdo. Entretanto, no devemos pensar assim, porque o
Senhor diz:
"... ainda que os vossos pecados so como a escarlate, eles
se tomaro brancos como a neve; ainda que vermelhos como
o carmesim, se tomaro como a l" (Is 1:18).
Jesus morreu na cruz e ressuscitou para nos salvar, perdoando nossos pecados. Basta que os confessemos diante de Deus:
"Se confessarmos os nossos pecados, ele fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustia" (I Jo 1:9).
Deus continua o mesmo: vai viver assim; vai ser sempre
assim: misericordioso, gracioso, generoso, bondoso. O que ele
quer mudar as expectativas ruins que temos de ns mesmos,
e que outros cultivam a nosso respeito. Ele quer livrar-nos de
todo sentimento de culpa que nos oprime, abrindo-nos, desta
maneira, para uma vida abundante diante do perdo e debaixo
de suas bnos. Deus quer dar-nos um novo caminho, uma
nova direo, levando-nos a crer que possvel recomear.
Certa vez, fazendo uma palestra numa universidade, no final da exposio algum me dirigiu a seguinte pergunta:
- O senhor acredita que determinadas pessoas ainda tm
jeito?
- Sim, e por vrias razes. Primeiro porque estou aqui. Pois
se elas no tivessem jeito, eu no estaria aqui, tendo em vista o
rumo que a minha vida estava tomando. Segundo porque tenho
visto a vida de muitos seguindo um novo rumo. Terceiro porque
a Palavra de Deus diz que isto possvel. E eu creio na Bblia,
porque sou cristo; e s sou cristo porque um dia a minha vida
teve jeito para Deus. E, por ltimo: se Deus no for favorvel
para com o homem, este se tomar um ser per verso, perigoso e
mau. pelo fato de as pessoas terem oportunidade de mudar
que me encontro neste local, podendo olhar para cima, acreditar
que d para recomear, no nome do Senhor Jesus.
Contudo, se essa mudana acontece, no porque simplesmente nos afirmamos a ns mesmos, e a outros, que iremos
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74
CApTULC> VII
SUPERANDO A DOR
MARCOS, 5:21-24;35-43
Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu
para ele grande multido; e ele estava junto do mar. Eis
que se chegou a ele um dos principais da sinagoga,
chamado Jairo, e, vendo-o, prostrou-se a seus ps, e
insistentemente lhe suplicou: Minha filhinha est
morte; vem, impe as mos sobre ela, para que seja salva,
e viver. Jesusfoi com ele (...) Falava ele ainda, quando
chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, a quem
disseram: Tuafilha j morreu; por que ainda incomodas
o Mestre? Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse
ao chefe da sinagoga: No temas, cr somente. Contudo,
no permitiu que algum o acompanhasse, seno Pedro
e os irmos Tiago e Joo. Chegando casa do chefe da
sinagoga, viu Jesus o alvoroo, os que choravam e os
que pranteavam muito. Ao entrar, lhes disse: Por que
estais em alvoroo e chorais? A criana no est morta,
mas dorme. E riam-se dele. Tendo ele, porm, mandado
sair a todos, tomou o pai e a me da criana e os que
vieram com ele, e entrou onde ela estava. Tomando-a
pela mo, disse: Talit cumi, que quer dizer: Menina, eu
te mando, levanta-te.' Imediatamente, a menina se
levantou e ps-se a andar, pois tinha doze anos. Ento,
ficaram todos sobremaneira admirados. Mas Jesus
ordenou-lhes expressamente que ningum o soubesse; e
mandou que dessem de comer menina.
75
por todos os lugares praticando o bem, curando, expulsando demnios; tendo sempre uma palavra de conforto para o corao
atribulado; indicando a realidade de um caminho novo, atravs
do qual se pode trilhar uma vida diferente. Entretanto, o mais
importante de tudo era a notcia de que Jesus ressuscitava mortos.
Jairo corre ento por toda parte, sua procura. Todos ficam
perplexos ao verem-no percorrendo as ruas, j que era um dos
chefes da sinagoga, uma pessoa conhecida e ilustre. Finalmente,
ao encontrar Jesus, ele se lana a seus ps, prostrando-se diante
dele e suplicando-lhe misericrdia:
"Vamos at a minha casa. A minha filhinha est doente ...
Ela est quase morrendo! ..."
A Palavra de Deus nos conta que Jesus vai com ele. A Bblia, porm, diz-nos que no enfrentamento do problema surgem
obstculos extras a serem vencidos. Isto porque Jairo quer superar o problema da dor, ao ter a filha curada. Contudo, h alguns impedimentos que precisam de ser ultrapassados. O primeiro a posio social. difcil, s vezes, encontrar solues
para nossos problemas diante de Deus, em face da nossa posio. Argumentamos:
"Eu queria muito resolver esse problema, mas sem que ningum soubesse de coisa alguma..."
Jairo era o chefe da sinagoga: no lhe ficava bem permitir
que sua fragilidade diante da doena da filha fosse do conhecimento pblico.
Talvez voc queira resolver um assunto financeiro, mas tem
vergonha de expor sua necessidade; ou atravessa uma crise no
casamento, e foge a que as pessoas saibam que algum como
voc possa estar enfrentando esse tipo de dificuldade. Quem
sabe a preocupao seja com um filho, ou uma filha, ou uma
dependncia, ou um pecado oculto que o atormenta e do qual
voc quer se ver livre, mas no tem coragem de partilh-la com
ningum; no se atreve a revelar seu problema ou sua debilidade?!
O segundo o obstculo da espera. Jairo tinha uma filha em
casa, beira da morte. Ele pede a Jesus que o acompanhe at
77
l, a fim de levar-lhe a cura. Mas no meio do caminho acontece o episdio da cura da mulher que tinha um fluxo de sangue
fazia doze anos (Me 5:25-34). Jairo, com pressa de chegar
logo a casa, deve haver pensado:
"Quanto mais eu oro, mais assombrao me aparece! Hoje,
definitivamente, no o meu dia! Saio de casa angustiado, com
minha filha quase morrendo, consigo encontrar Jesus e fazerlhe o convite para ir at l, e no meio do caminho acontece
essa confuso toda, esse tumulto, essa balbrdia. Se algum
tem que morrer, que morra essa mulher, no a minha filhinha!"
Tantas vezes, enquanto se aguarda o milagre, outras pessoas que so beneficiadas, curadas, tm seus problemas resolvidos, so agraciadas por Deus ... O tempo passa, e as dificuldades vo-se agravando! Isto produz angstia e ansiedade; gera
amargura e desnimo no decorrer da espera.
O terceiro obstculo o da prpria realidade, que lhe
lembrada dolorosamente por alguns amigos:
"Falava ele ainda, quando chegaram alguns da casa do chefe
da sinagoga, a quem disseram: Tua filha j morreu; por que
ainda incomodas o Mestre?" (Me 5 :35)
Quem tem amigos como esses de Jairo no precisa de inimigos. Depois de se ver livre da mulher que sofria do fluxo de
sangue, j se dirigindo para a sua casa, eles lhe vm ao encontro, e lhe dizem:
"Pode parar com isso! Deixe o Mestre sossegado! No
adianta mais nada! Sua filha est morta!"
Jairo estremece. Depois de ter vencido o obstculo de sua
posio social como chefe da sinagoga, ao implorar a presena
de Jesus, aps t-lo feito aceitar o convite para ir a sua casa,
teve que esperar, no meio do caminho, que ele curasse uma
mulher que sofria de uma hemorragia. Agora, vencidos os dois
obstculos, seus amigos lhe anunciam uma realidade terrvel,
dolorosa: a morte da filha.
A imagem da realidade um grande empecilho, que nos
ofusca a viso da soluo divina. Quais so os obstculos que
estamos enfrentando hoje, no que se refere soluo dos nossos problemas? Que se est interpondo entre o problema e sua
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soluo? s vezes, sofremos com o fato de que na nossa orao por um filho comeamos a ver os filhos dos outros se arrebentando. Ento, refletimos:
"Eu no sou melhor que ningum. Se o filho da minha vizinha est passando por problemas, por que h de acontecer
diferente com meu filho? .."
Pode suceder de estarmos orando pela salvao do nosso
casamento e, de repente, recebermos a notcia de que nosso
melhor amigo se divorciou. Ento, pensamos:
"Se ele no conseguiu administrar a vida conjugal, por que
hei de conseguir? .."
Inesperadamente, na nossa trajetria nesta vida, surgem todo
tipo de obstculos, os quais nos fazem acreditar que, ao enfrentlos, sucumbiremos.
Porm, no temos de nos contentar com a realidade de que
a dor um fato insofismvel na nossa vida. Precisamos de
procurar em Jesus e no Evangelho a esperana de que ainda
aprenderemos a maneira de enfrent-la.
Quais so, ento, os recursos de que podemos dispor na
luta para superar a dor, seja ela fsica, emocional ou referente
a trabalho, finanas, negcios ou relaes pessoais? H dois
recursos a ns disponveis.
O primeiro tipo de recurso o humano. Todo problema
humano apresenta uma dimenso que precisa de ser tratada
pelo prprio homem. No adianta simplesmente acreditar em
que a soluo integral dos nossos problemas est, necessria e
obrigatoriamente, em Deus. Isto porque h um lado do nosso
drama cuja interveno divina; mas h uma outra dimenso
que recai profunda e decisivamente sobre ns.
H quatro aspectos que sobressaem do lado humano no
enfrentamento da dor.
O primeiro a fora da solidariedade. Habitualmente,
minimizamos o poder da solidariedade na soluo de dores agudas em nossa vida. Na histria de Jairo, o que se constata
que ele foi no apenas um pai solidrio dor da filha, mas
algum que absolutamente se preocupou com sua posio social
na busca da cura; pelo contrrio, ele se humilhou - imploraria,
79
-o
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Na busca de soluo para nosso drama, no devemos sucumbir solido. Da o papel da igreja. fundamental termos
irmos e irms, pessoas que crem no mesmo Deus, que tm
capacidade de orar junto conosco, injetando-nos energia no
corao e infundindo-nos mais f em nosso Senhor.
a segundo tipo de recurso para superar a dor o recurso
divino. Se h o lado humano da soluo, h tambm o divino.
a primeiro aspecto da soluo divina a deciso de intervir. S encontramos soluo para nossas dores quando Deus
resolve agir. o que nos diz Marcos, 5:22,23:
"Eis que se chega a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostra-se a seus ps, e insistentemente lhe suplica: Minha filhinha est morte; vem, impe as mos
sobre ela, para que seja salva; e viver."
Em Marcos 5:24, -nos apresentada a soluo para o pedido de Jairo:
"Jesus foi com ele."
Mas como conseguir que Deus intervenha na nossa aflio? Isto s possvel quando nos desarmamos diante dele;
quando nos despojamos de todo tipo de preconceito e valores
pessoais e sociais - que para nada servem -, e nos rendemos
humildemente a seus ps, esquecendo-nos do que somos ou
temos, sendo apenas ns mesmos perante ele, cheios de coragem para suplicar, humilhar-nos, orar, insistir, enfim,
vulnerabilizar-nos como Jairo:
"Jairo, vendo-o, prostra-se a seus ps, e insistentemente lhe
suplica."
S assim Deus intervm:
"Jesus foi com ele."
Quem se aproximar de Jesus com uma atitude quebrantada
ter a sua presena: ele ir em seu socorro. Quem se achega a
Jesus prostrado e suplicante desfrutar sua companhia. Quem
tem uma atitude como esta ter sempre esta reao divina.
a que comea o lado divino do milagre.
a segundo aspecto da soluo divina que a presena de
Deus vai ao encontro da dor humana, sarando-a - mas
to-somente quando o levamos at o cerne da nossa dor, o
centro do problema.
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DIANTE DO IMPREVISVEL
Subitamente a vida pode mudar!
Talvez ela seja agora pura esperana, exaltao e alegria;
amanh ou daqui a pouco pode ser susto e dor...
E eu, que at aqui era auto-suficiente,
me acreditava invencvel, insubstituvel,
possivelmente caia em depresso, de repente
- com uma inesperada mudana, uma trgica notcia,
que explode em minha vida como vulco ...
Verei ento tudo escuro, instvel, inseguro ...
No tenho a menor possibilidade de saber
o que amanh ou dentro em breve me ir acontecer!
Caminhava distrada, incandescente de vida e alegria,
quando de chofre senti forte dor,
um mal-estar, uma agonia ...
At hoje tudo tinha conserto, nada me era impossvel.
Sem que eu soubesse, porm,
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87
CAPTULC> VIII
SUPERANDO
PRECONCEITOS E ESTIGMAS
ISAAS, 53:3-5
Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem
de dores e que sabe o que padecer; e, como um de quem
os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele no
fizemos caso. Certamente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e ns o
reputvamos por aflito,ferido de Deus e oprimido. Mas ele
foi traspassado pelas nossas transgresses e modo pelas
nossas iniqidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele, e pelas suas pisadurasfomos sarados.
- S que no meu caso se trata da manifestao da ira divina. Deus deve odiar-me muito. Olhe para meu estado: todo
inchado, tossindo, espirrando...
Graas a Deus, hoje ele uma pessoa forte, mas em sua
adolescncia houve momentos em que temi que fosse adoecer
gravemente, em face da debilidade fsica.
A discriminao vai desde aspectos fsicos, como em alguns exemplos citados, at a problemtica racial, quando pessoas so consideradas menos humanas em face da cor ou
raa, tornando-se vtimas do dio visibilizado em manifestaes desprezveis, que incluem maus-tratos, rejeio e chacinas, inclusive. Essas pessoas, por sofrerem opresses, podem
desenvolver a tendncia de ser opressoras em resposta agresso ou se tornarem complexadas, incapazes de reconhecer
qualquer tipo de virtude, atrao ou prazer em si mesmas.
Indivduos tambm so discriminados por serem portadores
de doenas e anomalias genticas. No passado foi a lepra;
hoje, a AIDS. triste ver pessoas sendo objeto de chacota
por serem mutiladas ou estarem impossibilitadas de responder
de maneira completa demanda fsica. Elas desenvolvem um
profundo sentimento de amargura e de autopiedade.
interessante constatar que a maneira pela qual nos vemos oferece subsdios para que os outros nos encarem do
mesmo modo. Dificilmente algum ver em ns algo melhor
do que aquilo que ns mesmos enxergamos em ns. Se, por
exemplo, vemos-nos de modo feio e distorcido, quase sempre
oferecemos estes mesmos elementos para os outros nos interpretarem.
Possivelmente, dentre os leitores deste livro, h pessoas que
carregam cargas de rejeio e outras que, por suportarem esses fardos, tornaram-se extremamente complexadas, perdendo os recursos interiores, como a capacidade de reagir, aceitando essais estigmas. H tambm aqueles que guardam uma
tremenda amargura contra pessoas que os discriminaram, e
outros que transferem essa amargura para Deus, que os fez
assim, ou os deixou .ficar assim... E se enquanto h tempo
no acontecer algo na vida dessas pessoas para mudar esse
estado de coisas, talvez venham a desperdiar a existncia
92
lia de duas muletas grandes e pesadas, passou a ser alfabetizado - isto depois dos 8 anos.
Ao olhar para a vida do meu pai, constato que nada poderia
ter sido mais positivo na sua existncia do que seu defeito fsico. Isto porque eu mesmo s fui perceb-lo quando j estava
com 12. Apesar das muletas, jogava bola comigo, andava a
cavalo, nadava, subia em rvore; e se formou com as melhores
notas que a Faculdade de Direito do Amazonas j alcanou de
seus alunos, no tendo sido at hoje superadas, sequer
alcanadas por ningum. Depois disto tomou-se advogado brilhante e empresrio muito bem-sucedido. Enfim, tudo que fez
ele fez bem. De modo que eu no conseguia ver defeito nele.
S me apercebi disto na adolescncia, em Copacabana, quando um amigo me disse:
- Ih! Seu pai anda de muletas!
- mesmo L.. - exclamei.
Depois que me tomei adulto, e fiquei amigo de meu pai,
comecei a fazer-lhe perguntas sobre o defeito:
- Papai, o senhor nunca se sentiu rejeitado na infncia, no
mesmo?
- Olha, filho, s vezes eu achava que as pessoas queriam
rejeitar-me mas eu no dava a mnima! Eu sabia quem eu era...
- Mas como eram as coisas? .. O senhor, na infncia, brigava com os outros? ...
- Eu tinha uma gravata muito boa: o brao forte, de quem
anda de muleta O sujeito vinha pra cima de mim ... eu pulava
logo em cima e gravata nele! A eu pegava minha muleta
e... POU! POU! POU! no engraadinho. Chegou um tempo
em que ningum queria mais brigar comigo.
- E quanto s meninas? O senhor no se sentia rejeitado
por elas?
- Eu ouvia cada barbaridade, filho! s vezes, quando vinha
voltando da escola, por volta das I3h, passava pelas ruas desertas de Manaus, e nas janelas das casas via uma poro de
rostos de meninas adolescentes me olhando, rindo. Quando
estava mais ou menos perto daquelas janelas, ouvia algumas
delas dizerem:
94
DESABAFOS
Toda vida se consente.
Toda responsabilidade inevitvel.
Sou a autora responsvel por tudo que fao.
Se no desfruto o dia que passa,
me detenho insensata no futuro imprevisvel,
ou passeio obsessivamente no passado, a culpa minha!
Tenho que ver a hora que desliza, olhar o que ,
no o que foi ou que ir ser...
A vida breve e frgil: como a flor que o vaso enfeitou,
cedo murchou, morreu ...
Por isto, no devo inquietar-me com o dia de amanh,
pois ele trar consigo seus benefcios e cuidados...
Preciso viver acima do tempo;
ser como o lrio, que no lembra lrio nenhum,
com sua provisria beleza e seu aroma,
invejvel e nico em seu brevssimo instante.
**
Como tudo que belo e transitrio,
cada momento meu tem de ser precioso e completo
em sua passagem.
Por isto, vou viv-lo sabendo que o vivo
por primeira e ltima vez,
reconhecendo que j no sou a mesma de ontem,
nem sou aquela que amanh ser.
Quando olho a chuva soprada pelo vento,
acredito chover mais nesse momento,
porm o vento que a faz parecer mais forte e intensa...
Quero nascer a cada instante,
assistir eterna transformao do mundo;
andar como quem pensa, sentir como quem olha, contempla;
aspirar o cheiro do gosto da vida:
cheiro de terra molhada, enxarcada...
Colocar-me entre dois fogos aquecentes: o mundo e eu,
99
**
No tenho, afinal, que me permitir a absoro da autocensura,
me tomando impotente para a ao e a criao,
acolhendo no peito tristeza e insatisfao.
No entanto me parece s vezes impossvel deter os acontecimentos
escorregando rpidos para a derrota, a bancarrota!
Como rios que deslizam fatalmente para o mar,
no ofereo resistncia descida desenfreada
dos valores que, afinal, no quero perder. ..
Contudo, em lugar de me abrir me fecho na casca, me amarguro, me isolo.
Entretanto no posso nem ouso negar: sou eu mesma o problema nisto tudo!
"No pode! No pode! No pode!" - me ouo repetindo...
De tanto brigar e lutar contra os "No pode!"e os "No deve!"
quando menos esperei me vi isolada, perdida, ilhada,
resistindo e resistindo o tempo todo, sem parada!
**
Dissera muito no correr da vida,
mas amide com meias-palavras, e nas entrelinhas,
sentindo cada dia mais pavor de expressar
o que verdadeiramente sentia...
Tinha mpetos de romper com tudo e com todos,
pois jamais podia dizer o que queria.
Sentia-me cercada, e era difcil, doloroso,
100
101
CApTULO IX
SUPERANDO
A DEPRESSO
I REIS, 19:9-12
Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis
que lhe veio a palavra do SENHOR, e lhe disse: Que
fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo
SENHOR, Deus dos Exrcitos, porque os filhos de Israel
deixaram a tua aliana, derribaram os teus altares e
mataram os teus profetas espada; e eu fiquei s, e
procuram tirar-me a vida. Disse-lhe Deus: Sai, e pe-te
neste monte perante o SENHOR. Eis que passava o
SENHOR; e um grande e forte vento fendia os montes e
despedaava as penhas diante DELE, porm o SENHOR
no estava no vento; depois do vento, um terremoto,
mas o SENHOR no estava no terremoto; depois do
terremoto um fogo, mas o SENHOR no estava no fogo;
e, depois do fogo, um cicio tranqilo e suave.
-o
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Quando nos deixamos intimidar pelas situaes da vida, geralmente nos deprimimos.
Em primeiro lugar, ao receber a palavra de Jezabel de que
logo seria morto, a primeira coisa que Elias fez foi levantar-se,
cheio de temor, e fugir, a fim de salvar a vida:
"Temendo, pois, Elias, levantou-se e, para salvar sua vida,
foi-se e chegou a Berseba, que pertence a Jud; e ali deixou seu
moo" (I Rs 19:3).
Sempre que nos vemos ameaados de alguma maneira, a
primeira reao uma imensa preocupao com a sobrevivncia material. Quando isto acontece, voltamos o olhar para
ns, numa espcie de autodescobrimento, como se temssemos
perder-nos a ns mesmos.
Em segundo lugar, Elias foi at Berseba, e ali deixou seu
moo, como est dito no v. 3:
"...foi e chegou a Berseba, que pertence a Jud; e ali deixou
seu moo" (I Rs 19:3).
Esta a segunda conseqncia imediata na vida de qualquer
homem ou mulher que se sente ameaado: o abandono da comunho, dos relacionamentos. como se nos sentssemos
intimidados, voltando-nos ento para dentro, preocupados com
ns mesmos, distanciando-nos, enfim, das demais pessoas, com
as quais j no conseguimos manter dilogo, a tal ponto nos tornamos encaramujados. Na verdade no h mais possibilidade de
relacionamentos interpessoais. Abandonamos nossos amigos e
os que faziam parte do nosso mundo, at mesmo os queridos,
porque a preocupao e a ameaa nos consomem o tempo e a
possibilidade de viver para outros, s nos dedicando a refletir
sobre as ameaas que pairam sobre a nossa cabea.
Em terceiro lugar, Elias encheu-se de uma terrvel motivao negativa:
"Ele mesmo porm se foi ao deserto" (I Rs 19:4).
Note-se que Elias no fora impelido, enviado para l. Pelo
contrrio: em razo de uma manifestao depressiva e uma tremenda motivao negativa que lhe cercava a alma, dirigiu-se
para o deserto.
Quando nos sentimos ameaados, preocupamo-nos com ns
mesmos, depois rompemos com os relacionamentos volta, e
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Porm, a palavra de Deus para Elias hoje a mesma dirigida a todos aqueles que se encontram na caverna, deprimidos,
amargurados, sentindo-se ameaados pelas circunstncias da
vida:
"Sai, e pe-te neste monte perante o Senhor" (I Rs 19: 11).
Esta a palavra de Deus. No h mistrio; tampouco estudo nenhum do mundo psicolgico humano. O que h tosomente uma palavra:
"Sai."
A salvao em Cristo nos garante a cidadania celeste. Mas
se numa cidade h reas ricas e reas pobres, nem por isso se
deve deixar de ter o cuidado de no ir morar num barraco
espiritual, numa caverna, ainda que salvo ...
Que podemos aprender com o drama de Elias?
Em primeiro lugar, Deus quer que saibamos que ele no
nos fez para a depresso e o desnimo. Foi por esta razo
que o Senhor lhe perguntou:
"Que fazes aqui, Elias?" (I Rs 19:9)
Deus na verdade enviara Elias ao Monte Horebe, mas no o
impelirapara dentrode nenhuma caverna.Ele argumentacom Elias:
"Eu no planejei a caverna para voc, Elias, e sim o monte;
idealizei para voc luz, no trevas."
Deus no nos criou para vivermos sob opresso e depresso.
Em segundo lugar, Deus quer que saibamos: enquanto estivermos dentro de uma caverna, o mximo que ouviremos
ser um murmrio:
"Depois do terremoto, um fogo, mas o SENHOR no estava
no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranqiloe suave" (I Rs 19:12).
No hebraico, cicio significa literalmente murmrio. Alguns
comentaristas so de opinio que o que Elias ouviu foi um som
semelhante a algum falando ao p do ouvido, bem baixinho,
suavemente, chamando-o:
"Elias! ... Elias L.."
Do mesmo modo, muitos de ns s ouvem a voz de Deus
de maneira muito distante e difusa, sem impacto. Isto porque,
se estivermos deprimidos, derrotados, abatidos, escondidos
dentro da caverna do nosso ser, Deus no poder falar-nos na
altura em que deseja.
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Em terceiro lugar, Deus quer que saibamos que nossa presena na vida para que sejamos fatores de bno e
uno para outras vidas:
"Disse-lhe o SENHOR: Vai, volta ao teu caminho para o
deserto de Damasco e, em chegando l, unge a Hazael rei
sobre a Sria. A Je, filho de Ninsi, ungirs rei sobre Israel, e
tambm Eliseu, filho de Safate de Abel-Meol, ungirs profeta
em teu lugar" (I Rs 19:15,16).
Deus nos chamou para que sejamos abenoadores de outras vidas. No adianta crer em Deus, se vivemos oprimidos e
deprimidos.
Em quarto lugar, Deus quer que saibamos: ele est sobre
nossos adversrios. Foi ele mesmo quem nomeou os reis que
deveriam destruir Jezabel, inimiga de Elias:
"Quem escapar espada de Hazael, Je o matar; quem
escapar espada de Je, Eliseu o matar" (I Rs 19:17).
Deus disse a Elias, em outras palavras:
"Confia em mim, Elias. Aquela que o ameaa j est com
os dias contados."
H pessoas que esto vivendo sob opresso e depresso.
Mas Deus nos convida a sair da caverna, a abrir-nos para uma
vida de confiana nele, sejam quais forem as circunstncias
adversas que nos sobrevenham.
Portanto, saiamos das sombras e caminhemos no caminho
da luz, rumo felicidade, no nome de Jesus.
SAINDO DA CA VERNA
Foram me roubando a mim, dia a dia, ano a ano.
Alheia e esquecida, eu mesma me deixei saquear.
Nada disse; me acovardei, no reagi; assustada, calei.
E logo me levaram a pouca luz que me restava;
ento sucumbi, me entreguei.
Enquanto a ansiedade e a depresso me trouxeram sombra e
escurido,
a Poesia me trouxe luz, alegria, uma nova euforia.
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Allinges
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CAPTULC> X
SUPERANDO A
ANSIEDADE
MATEUS, 6:25-34
Por isso, vos digo: No andeis ansiosos pela vossa
vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem
pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. No
a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que
as vestes? Observai as aves do cu: no semeiam, no
colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai
celeste as sustenta. Porventura, no valeis vs muito
mais do que as aves? Qual de vs, por ansioso que
esteja, pode acrescentar um cvado ao curso da sua
vida? E por que andais ansiosos quanto ao vesturio?
Considerai como crescem os lrios do campo: eles no
trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem
Salomo, em toda a sua glria, se vestiu como qualquer
deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que
hoje existe e amanh lanada no forno, quanto mais
a vs outros, homens de pequena f? Portanto, no
vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que
beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os
gentios que procuram todas estas cousas; pois vosso
Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai,
pois, em primeiro lugar; o seu reino e a sua justia, e
todas estas coisas vos sero acrescentadas. Portanto,
no vos inquieteis com o dia de amanh, pois o amanh
trar os seus cuidados; basta ao dia o seu prprio
mal.
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Recordo que quando era garoto preferia mil vezes enfrentar um adversrio de ltima hora a ter que encarar um que me
dissesse:
"Te prepara! Amanh eu te pego! Podes esperar!"
Eu sofria mais com esse amanh eu te pego do que com
os socos que pudesse receber na hora do confronto. Lembro
uma ocasio em que marquei uma briga com um rapaz. O local
combinado foi uma esquina; a hora, meia-noite, numa sextafeira. Foi terrvel. Eu ganhei a briga- ainda bem! -, mas as 24
horas que antecederam o combate deixaram-me com o corpo
tenso, os msculos enrijecidos e o estmago embrulhado. Tudo
isto por causa da ansiedade.
Ansiedade sempre como briga premeditada: sentimo-nos
longe da situao, impotentes, sem nada poder fazer, e ainda
assim sem conseguir afastar-nos de toda a ambincia crtica e
nervosa por ela criada, o que nos vai exaurindo as energias at
atingir a alma. Ela surge sempre que nos deparamos frente a
frente com uma situao que nos deixa inseguros ou incapacitados, no que se refere a no termos como intervir nela e alterla quanto antes.
Jesus, de forma muito sucinta, deseja dirigir-nos na maneira
de vencermos a ansiedade. Para isto nos ensina algumas coisas. A primeira que s conseguimos venc-la quando h o
entendimento do que verdadeiramente bsico na nossa
vida. Enquanto no se apodera da nossa mente a idia do que
eminentemente fundamental, o corao tende a estar
freqentemente ansioso. o que Jesus nos ensina:
"Por isso vos digo: No andeis ansiosos pela vossa vida,
quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. No a vida mais do que o
alimento, e o corpo mais do que as vestes?" (Mt 6:25)
A pergunta de Jesus acerca do valor maior da vida em relao ao alimento, ao corpo e s vestes encerra um importante
princpio: a vida muito mais que isso. A nossa vida significa
mais do que qualquer coisa que nos possa fazer falta. Coisas
so sempre coisas; vida, porm, mais do que qualquer coisa.
Enquanto no entendermos que a vida algo com que lidamos,
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- E muita!
Ele ps a mo no bolso, deu-me um carto e concluiu:
- Agora essas dvidas so minhas. Qualquer coisa, telefoneme.
Fiquei a me perguntar quem seria aquele homem. Eu no
sabia quem era. No dia em que cheguei de viagem, minha secretria me lembrou o pagamento da dvida. Eu ento lhe contei
a histria do carto. Ela me perguntou se eu no iria telefonar.
Argumentei que no sabia quem ele era. Oramos e resolvi ligar,
imaginando que o que ele tinha para dar deveria ser algo insignificante em relao ao que tnhamos de pagar. No entanto, ele
falou:
- Pode dizer. As dvidas so minhas!
- No, meu amigo. uma quantia muito alta ...
- Diga quanto , pastor! Por favor!
Finalmente, passei-lhe o valor.
- J estou mandando um cheque para a conta da Vinde aVISOU.
passear com eles por bosques e jardins, andar na areia das praias,
sentar-nos na grama ou em sossegados bancos de praa,
onde em certas horas buclicas ningum passa;
e ver o dia crescer entre ns e o cu;
e ento, dispersando-nos nas coisas simples e triviais,
sem rano de tumulto e guerra, aflio ou ansiedade,
prender-nos s permanentes e eternas ...
Quando se traz na alma candura e pureza, at os feios animais
so belos,
e os troncos despidos de ramas e folhas tm encanto e beleza.
Nas asas tnues das rosas e no clice dos lrios
cintilam os generosos orvalhos da noite, ali escondidos.
Gemidos lilases de vento, gorjeios tremulantes, folhas soltas ao
relento,
leve estalar de galhos sob ps andarilhos, transidos de amor e
enlevo,
transportam para muito longe infelizes pensamentos...
Caminho hoje serenamente entre terra e cu, sobre meus prprios passos,
pensando sabiamente que a verdadeira alegria est no inteirar-se
formosura da natureza e do dia que flui como regato,
sob as asas do Onipotente...
Allinges
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o QUE A VINDE
Fundada em 1978 pelo Rev. Caio Fbio, a VINDE Viso Nacional de Evangelizao, uma misso
interdenominacional que tem como objetivos: