Psicologia Da Gravidez, Maternidade e Paternidade
Psicologia Da Gravidez, Maternidade e Paternidade
Psicologia Da Gravidez, Maternidade e Paternidade
MATERNIDADE/PATERNIDADE
© Celeste Duque1 – Psicóloga Clínica ([email protected])
INTRODUÇÃO
Vive-se numa época em que se assiste a uma nova
contextualização sócio-cultural da reprodução, do nascimento,
da relação precoce e dos conceitos de parentalidade
(maternidade e paternidade) o que, obviamente, obriga a uma
nova forma de olhar e abordar estas realidades.
PERÍODO GRAVÍDICO
O período gravídico é um período de profundas mudanças tanto em termos físicos e orgânicos,
como termos psicológicos. Vivido como uma crise, é normalmente, vivido como uma sequência
contínuas readaptações, por parte de quem o vive (mais particularmente a mulher, mas também o
pai do seu filho, podendo ser extensivo aos restantes membros da família: filhos, pais, sogros,
etc.).
A par desta necessidade entrecruzam-se, inúmeras vezes, outras situações bem mais graves como
sejam o risco de aborto espontâneo, a presença de comportamentos de risco tais como:
dependência alcoólica (feminina/masculina), dependência de psicofármacos, toxicodepen-
dência, tabagismo; doenças sexualmente transmissíveis (HIV/SIDA), Hepatite B, doenças
crónicas (mais ou menos incapacitantes) que obrigam a uma profunda reformulação dos
princípios e estilos de vida, assim como à necessidade de procura de uma maior qualidade de
vida.
1
Texto escrito expressamente no âmbito da disciplina de Psicologia V, do 4º Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE), da
Escola Superior de Saúde de Faro (ESSaF), da Universidade do Algarve, em Fevereiro de 2004.
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OBJECTO DA PSICOLOGIA DA GRAVIDEZ E DA M ATERNIDADE
O objecto da Psicologia da Gravidez e da Maternidade é obviamente a Mulher – a grávida
saudável mas, porque esta se encontra numa situação de crise existencial, vive num permanente
equilíbrio/desequilíbrio, logo em “distress”.
Para além da gravidez que se pode considerar “normal” é igualmente objecto de estudo, desta
vertente da Psicologia, a investigação e intervenção, às mulheres, e às grávidas que apresentam
patologias correlacionadas ou simultâneas ao processo gravídico.
Embora de forma menos explícita, são igualmente objecto de estudo, dimensões que dizem
respeito à saúde da mulher e que podem colocar em risco ou mesmo impedir, seu projecto de vir
a ser mãe.
Questões como infertilidade, gravidez em idades muito jovens, ou muito tardias, diversas
fisiopatologias e psicopatologias, que podem ser consideradas como determinantes na
viabilidade da futura gravidez.
O que leva ao surgimento de um outro fenómeno deveras interessante, o qual se relaciona com as
representações que, actualmente, se fazem sobre Gravidez e Maternidade, precisamente por isso:
- é atribuída à mais banal das gravidezes, toda uma nova significação
• em primeiro lugar, para a mulher que engravida,
• mas também, no que diz respeito à concepção de Programas e Sistemas de Saúde, em geral,
particularmente interessados na Prevenção e Promoção da saúde (Ribeiro, 1994).
Não é pois, muito difícil perceber a explicação de como se formam impressões erradas (ou falsas
representações) e ideias erróneas do objecto e campo de estudo da Psicologia e da sua
intervenção. No confronto com a prática, o psicólogo que actua na área de Saúde, vê-se obrigado
a uma permanente actualização e aprofundamentos dos seus fundamentos teóricos bem como ao
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nível da própria prática. De facto, uma realidade considerada normal há dez anos atrás pode
actualmente mostrar-se desadequada ou mesmo obsoleta face às novas premissas.
No entanto, este fenómeno não confere menos precisão ou cientificidade a uma área de charneira
entre as vertentes da Saúde, strictus sensus, e a Psicologia, nomeadamente a Psicologia Clínica,
Psicologia da Saúde, Psicologia da Gravidez e Maternidade ou mesmo Psicologia do
Desenvolvimento, bem pelo contrário, uma ciência que é capaz de reconhecer que os seus
constructos teóricos deixaram de ser eficazes na explicação dos fenómenos estudados é mesmo
considerada por Kuhn (1970) como uma ciência revolucionária. Fundamentando-se esta
constatação no facto de ser possível que se coloquem de parte teorias obsoletas e em seu lugar
sejam inseridos novos paradigmas consensuais, mais fiéis e actuais, na explicação dos
processos/fenómenos estudados. Este é o percurso percorrido pela ciência na sua evolução desde
os seus primórdios.
A ciência, à semelhança do ser humano (tantas vezes o objecto de estudo), é feita de ensaios, e
re-ensaios, formulações e reformulações; adaptações e readaptações... tal qual sucede ao nível do
desenvolvimento do Homem que ao longo dos tempos (desde que nasce até que morre) vai
ensaiando novos esquemas de realidade, numa permanente e incessante busca de níveis cada vez
mais evoluídos de funcionamento (de adaptação ao meio).
Não é pois de estranhar o facto de o psicólogo, aliás, à semelhança do que sucede com os
técnicos de saúde em geral, e os enfermeiros, em particular, serem “obrigados a uma vida de
estudo e de permanente actualização”, para não se tornarem eles próprios obsoletos!
PROJECTO DE M ATERNIDADE
É de extrema importância distinguir os conceitos de “gravidez” e de “maternidade”, os quais se
encontram profundamente interligados, mas que, no entanto, dizem respeito a realidades,
subjectividades e processos bem diferentes.
Assim, a gravidez refere-se ao período de alguns meses que medeia entre a concepção e o parto e
que, como já foi exaustivamente demonstrado na literatura, implica, do ponto de vista
psicológico, ajustamentos e recurso a mecanismos adaptativos à própria situação (Justo, 1990).
Pode-se desde já concluir que se isto é verdade para a gravidez é-o igualmente para muitas outras
situações de vida que, vivenciadas como crise ou como fase, obrigam à actualização de
sentimentos passados e desencadeiam respostas adaptativas, mais ou menos adequadas, mas
sempre coerentes com as capacidades individuais do sujeito (Leal, 1997).
Assim e se, como Maria Teresa Maldonado (1981) se considerar que no ciclo de vida da mulher
existem três grandes períodos passíveis de serem críticos, por serem períodos de transição, que
se constituem como verdadeiras fases de desenvolvimento a saber: a adolescência, a gravidez e a
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menopausa (ou climatério), então, também deveremos ter em atenção que a gravidez é,
indiscutivelmente, uma fase da vida mulher que se reveste de uma valoração muito particular.
Senão veja-se, a adolescência e o climatério são vividos no singular (logo, apenas importantes
para quem os vive), o mesmo não se pode afirmar relativamente à gravidez. Esta, deve ser
encarada como uma fase de reprodução do indivíduo singular (a mulher), mas também da
própria espécie. A sociedade é, aliás, quem detem a última palavra, isto é, é ela quem vai tecer
toda uma variedade de representações, de níveis de discursivos e normativos.
De facto é a sociedade quem cria as regras e normas pelas quais os indivíduos que a integram se
devem reger. As quais visam a contenção/inibição dos impulsos individuais, a manutenção das
boas maneiras e dos bons-costumes.
Relativamemte a estes conceitos podemos ainda afirmar que somos educados a aceitar
incondicionalmente tudo o que as hierarquias superiores ditam e a não questionar as regras. Se o
indivíduo se rebela contra aquilo que considera injusto ele não vai ser percepcionado como um
revolucionário ou como um inovador, vai ser percepcionado como um rebelde, delinquente ou
considerado como um indivíduo bizarro, “anormal”, etc. À sua volta irão tecer-se toda uma série
de considerandos que o irão ostracizar.
Facilmente se percebe porque é que o indivíduo deve, desde muito pequeno, elaborar o seu
processo de socialização para ser aceite pelo grupo do qual faz parte, sob pena de ser
estigmatizado, banido, votado à solidão e, assim, à morte social (cuja consequência última é, não
raras vezes, a morte psicológica).
Aqui, a tónica é colocada, não na situação gravídica (a importância que esta tem no equilíbrio e
devir da identidade feminina) mas na dimensão existencial da própria continuidade do indivíduo,
das sociedades ou da espécie. Logo o destaque vai para aquele ser que antes de ser já era, até
porque este é a esperança que perpectua a espécie. A gravidez é, deste modo, o pano de fundo
presente na construção do conceito diádico: mãe-filho.
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A Maternidade assume-se como um Projecto de vida a longo prazo, ou mesmo vitalício (que
transcende a mera gravidez) e que envolve a prestação de cuidados e a dádiva e troca de afectos
que assegurem um desenvolvimento sadio e harmonioso à criança (Leal, 1991).
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sexual – ser mulher –, e a identidade do género, segundo Stoller (1993), encerra um
comportamento psicologicamente motivado. O que equivale a dizer que, embora na maior parte
dos casos o sexo e o género sejam coincidentes, existem muitos outros casos em que assim não
é.
Dito de outro modo tudo se complica quando uma teoria que se afirma explicativa do processo
de desenvolvimento psicossexual, de ambos os sexos, toma como referente um dos sexos – o
masculino.
Não nos podemos esquecer que muitas das teorias começam por ser muito revolucionárias para a
época. Lembremo-nos da reacção bombástica que as ideias de Sigmund Freud tiveram na
comunidade psicanalítica da época e que o obrigaram a um profundo isolamento dos outros
grandes teóricos, por um largo período de tempo, e tudo isso porque o que ele afirmava se
situava para além da capacidade de compreensão das mentalidades próprias da época Victoriana.
Para uma melhor compreensão destes conceitos, mas também da teoria, esta deve ser
contextualizada à época em que surgiu – época Victoriana, com tudo o que isso acarreta de
desconhecimento de e sobre as mulheres, a rigidez na educação que recebiam e que
perpectuavam ao repetir os mesmos valores sobre a geração seguinte, os limites profissionais e
educativos, etc.
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Apesar de toda a evolução, posterior a Freud, os conceitos de feminino e materno parecem
indivisíveis, como se o feminino se cumprisse no materno e o desejo de gravidez e maternidade
fossem coincidentes e inerentes à natureza feminina. Como interpretar, então, o seguinte
fenómeno: mulheres que apesar de fisiologicamente poderem gerar um filho, não só não o
fazem, como assumem não ter qualquer desejo ou vocação para tal?
A função materna começou a ganhar o seu estatuto de culto a partir do séc. XVIII, e cresce no
séc. XIX, propagando-se até aos nossos dias. Questões como a educação, ligação precoce à
criança, amor materno foram questões não relevantes ou mesmo ausentes em muitas culturas,
durante longos séculos da história (Ariés, 1975).
Com um crescente interesse na obstetrícia, como especialidade médica, em 1806, a mulher passa
a ser um objecto de estudo em que o seu papel social é regulado a partir da sua própria anatomia,
e o seu corpo destina-se a ser o seu objecto de realização – ser mãe (Maldonado, 1976).
As teorias que se construíram no séc. XIX reflectem noções impregnadas de exaltação do amor
materno e dos discursos filosóficos, médicos e políticos em que a família se constitui e se
mantém em torno de um acontecimento – a maternidade.
Durante o séc. XX acentua-se ainda mais a dimensão da importância do amor materno, a mulher
passa a ser igualmente responsável por “cuidar do inconsciente e da saúde emocional dos filhos”
(Maldonado, 1981, p. 18). Surge ainda aquilo a que muitos referem como “bebélogia”, a ciência
que estuda exaustivamente o bebé sobre todas as formas e em todos os seus estados. Bigeargeal
(1985) é de opinião que nos anos 70 do século XX, se promove a ideia da “mamã divina, bebé
maravilhoso” e os anos 80 divulgam a crença do “bebé profeta, mamã discípula”.
Em jeito de conclusão pode-se afirmar que a gravidez continua a ser uma experiência do próprio
corpo, desligada de posteriores responsabilidades e consequências, cuja referência dominante se
situa na existência de uma feminilidade que nem sempre se conforma às normas da maternidade,
a qual, como já se viu, é imbuída de uma dimensão social e cultural, por mérito da tecnologia,
das legislações e dos discursos que privilegiam a criança em devir, e que é capaz de escamotear
os antigos limites do corpo e estabelecer-se, mau grado qualquer afirmação de feminilidade. É
então chegado o momento de pensar o feminino e o materno individualmente e como conceitos
autónomos, que em alguns momentos se cruzam, mas que noutros se distanciam.
VIDA EMOCIONAL
A vida emocional do ser humano começa muito antes do nascimento.
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O estudo da vida emocional dos fetos e bebés, numa íntima interacção com o pensamento das
suas mães, é de uma extraordinária e surpreendente precocidade. Obrigando-nos a questionar as
consequências da mesma no desenvolvimento da criança, mas também do que se pode e deve
considerar como “normal” ou “patológico”, logo de interesse dos campos de estudo da
Psicologia e Psicopatologia. É, aliás, o tema preferido da moderna Psicologia da Criança.
Na confluência desta abordagem observa-se uma cada vez maior constatação que o meio
envolvente desempenha um papel importantíssimo no desenvolvimento do sujeito enquanto ser
individual. Colocando-se, aqui, a tónica na importância das primeiras relações (relações
precoces), nomeadamente a relação com a mãe (ou objecto cuidador; falando-se a este nível de
vinculação).
RELAÇÃO PRECOCE
Globalmente, pode-se afirmar que, frente a uma mãe e a um bebé em interacção se observa
claramente a evolução da linguagem materna: a mãe transforma o seu monólogo verbal em
diálogo imaginário, traduzido pelos tempos de espera que corresponderiam às respostas do bebé
– logo resposta imaginária do bebé – como pré-figuração de um futuro diálogo. Esta evolução
não é exclusiva da actividade da mãe mas função do próprio bebé: ele não é um ser passivo, ao
contrário da convicção de muitos dos autores percursores da moderna Psicologia, segundo os
quais o bebé é uma “tabula rasa”, mas alguém que acompanha e modela o comportamento
materno, ao mesmo tempo que potencia as suas próprias capacidades.
O bebé possui, à nascença, um conjunto de competências, tais como: resposta diferenciada à voz
e ao rosto humano (segue-o e prefere-o a outros estímulos), acuidade auditiva e olfactiva (que o
levam a discriminar e preferir o odor do leite materno e isto apenas com 5 a 7 dias de vida), e a
capacidade motora (que lhe permite alcançar e tocar objectos que estejam dentro do seu campo
de visão).
Isto é tanto mais extraordinário quanto se constata que já anteriormente, ao próprio nascimento,
ele evidencia um conjunto de competências – designadas de competências fetais – das quais se
distinguem as manifestações sensoriais: o feto reage a um raio único de luz projectado
directamente sobre o ventre materno (o que sugere a existência de aptidões visuais), às pressões
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manuais efectuadas sobre a região epigástrica da mãe, as quais desencadeiam movimentos fetais
(o que remete para uma sensibilidade táctil) e ingere o dobro das quantidades habituais de
líquido amniótico no qual é injectada sacarina (o que evidencia aptidões gustativas).
Experiências como as De Casper, sobre memória fetal, são bem ilustrativas que o bebé reage,
igualmente, a estímulos auditivos.
Trevarthen, por seu turno, considera que “existe uma capacidade de captar o interesse e as
expressões do outro e de exprimir as suas próprias intenções de forma a ser compreendido”.
Então, se isto é verdadeiro no que respeita ao elemento – mãe –, como é que as coisas se passam
em relação ao bebé?
E, tal como afirma Stern (1977), assiste-se a um bailado constante e harmonioso em que a mãe e
o bebé procuram seguir-se um ao outro, num eterno movimento, numa dança sem atropelos.
Fica-se face a uma sincronia que se expressa da seguinte forma: “a maior parte do jogo consiste
tanto em ultrapassar as fronteiras superiores e inferiores como em integrar respeitando os
limites próprios”.
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Mas, para que este bailado possa ter lugar é necessário que ambos os elementos da díade
possuam as competências básicas fundamentais, só assim podem interagir activamente neste
processo.
Por parte da mãe tem que haver todo um conjunto de comportamentos sociais (ao nível da
expressão do rosto, do olhar, da vocalização e dos movimentos da cabeça e do rosto) os quais se
destinam a estimular a atenção e a provocar a interacção com o bebé – estes comportamentos são
universalmente caracterizados pelo exagero, quase caricatural das expressões maternas –, no
tempo e no espaço e pelo carácter estereotipado do seu reportório.
Para conversar com o bebé a mãe volta-o para si, a aproximadamente 20 centímetros, e
envolvendo-o com o seu olhar e estimula-o para a interacção, começando, geralmente, com uma
expressão inicial de surpresa, acompanhada de variações de timbre de voz e de um olhar
persistente e prolongado.
As aproximações e os jogos do “cucu” constituem a melhor forma de manter o bebé num nível
“óptimo de atenção”.
RUDIMENTOS NEUROFISIOLÓGICOS
Sabe-se que o bebé possui à nascença de um sistema visuo-motor que lhe permite ver e seguir
objectos em movimento desde que estes estejam no seu “limitado” campo de visão. Inicialmente,
como defesa (da sobre-estimulação), o bebé só consegue percepcionar objectos situados a cerca
de 20 centímetros dos seus olhos. A partir da 6ª semana, passa a ser capaz de fixar e manter
(suster) o olhar da mãe, e os seus próprios olhos “alargam-se” ficando, em determinadas
situações mais brilhantes. A mãe sente nessa altura e, pela primeira vez, que o bebé a olha nos
olhos e que comunica, de facto, com ela, o que assume um valor muito importante e especial de
interacção.
Quando mais tarde o olhar do bebé se alarga ainda mais, até mais ou menos 3 metros, então, já
consegue seguir a mãe sempre que ela se desloca. Verifica-se um evidente aumento da rede de
comunicação e o bebé passa a ter o poder de controlar as informações visuais que deseja receber,
socorrendo-se de determinados movimentos da cabeça e dos olhos (consegue um auto-controlo e
auto-regulação gradualmente maior): ao virar bruscamente a cabeça é entendida pela mãe como
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um sinal de recusa e de desejo de por fim à interacção. Pelo contrário, o seu sorriso permite a
continuação do jogo, dado o poderoso carácter de elemento “positivo” da interacção.
Facilmente se percebe, neste momento, que desde o nascimento que o bebé e a mãe interagem
numa complementaridade cúmplice, por sequências de comunicação marcadas por sucessivos
feed-backs que conduzem ao equilíbrio desejado ou desejável.
Este processo envolve uma relação directa entre estimulação e atenção (subjacente a estas a
percepção). Assiste-se, então, ao progressivo aumento da atenção à medida que o nível de
estimulação tende para o seu máximo. E uma profunda diminuição (quebra) da atenção quando o
limiar de estimulação está abaixo ou excedeu o limiar de tolerância.
Por exemplo, uma mãe perturbada irá adoptar estratégias de comunicação também elas
perturbadas e o bebé irá “aprender” os modelos deficientes de comunicação, o que pode originar
uma perturbação ao nível do desenvolvimento (e.g., mães profundamente deprimidas; mães que
utilizam uma comunicação paradoxal; incapazes de “lerem as necessidades e comunicação do
bebé; etc.).
Citam-se ainda a título de exemplo os casos paradoxais de mães perturbadas na sua função
maternal, que apenas são capazes de oferecer estimulação eficaz ao seu bebé quando sentem que
ele se magoa ou que está, de algum modo, a sofrer.
INTERACÇÃO MÃE/BEBÉ
Stern (1977) observou interacções sociais entre adultos e bebés em casa, em laboratório, em
creches, em parques, nos transportes públicos (metropolitano, autocarro), em qualquer sítio onde
esta observação se proporcionasse, com o objectivo de melhor compreender como é que, no
curto espaço de tempo, que são os primeiros 6 meses de vida, o bebé se transforma num “ser
humano social”.
Considerando ele, que estes 6 primeiros meses de vida é a primeira fase da aprendizagem das
coisas humanas, neste curto espaço de tempo, o bebé terá aprendido a convidar a mãe para
brincar e iniciou e estabeleceu com ela uma interacção, ter-se-á transformado num perito em
manter e modular a sequência de uma troca social e já se encontra de posse de um código – os
sinais – para poder, como já se referiu anteriormente, terminar ou evitar um encontro
interpessoal, ou “para colocar esse código temporariamente num ‘padrão de retenção’ dessa
aprendizagem”.
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interacção social: o comportamento tanto do bebé como da mãe, que vai desde a forma à
estrutura, à definição e à funcionalização.
A mãe e o bebé, quer tenham ou não consciência, “sabem” muito mais, que qualquer observador,
sobre as suas próprias interacções sociais. A mãe está envolvida num processo natural, de uma
imensa complexidade, com o bebé, mas para o qual eles estão preparados por muitas gerações de
evolução. Esta interacção desenrola-se sob o primado da intuição.
O processo sistemático de observação de uma mãe em interacção com o seu bebé obriga os
investigadores ao estabelecimento de metodologias de trabalho de recolha de informação e à
criação de grelhas de observação, dado que o ritmo de interrelação da díade é quase sempre
demasiado rápido. Se pretendem aperceber-se da totalidade dos movimentos e subtilezas e
dinâmica relacional envolvidos, têm de utilizar toda uma diversidade de instrumentação
tecnológica (nomeadamente, gravadores, câmaras de filmar, etc.) para poderem registar a
situação, para posterior visionamento ou audição.
Por exemplo, quando se trata de um filme da interacção, este é, posteriormente, passado vezes
sem conta, até que se consiga analisar e retirar todos os elementos da sequência interactiva.
Pode-se afirmar que este é um trabalho que implica perseverança, minúcia e isenção e que tem
como objectivo específico o desvendar dos elementos mais subtis do comportamento de
comunicação, para isso podem gastar-se horas com o (re)visionamento de sequências que, em
tempo real, tiveram a duração escassos segundos.
Da análise dos momentos cruciais de interacção social, por exemplo, aqueles jogos que se
verificam intra-mamada (dentro de uma mesma mamada) – os chamados “jogos livres” – são das
experiências mais importantes na primeira fase de aprendizagem do bebé.
Ao fim dos primeiros seis meses o bebé já integrou alguns esquemas do rosto humano, voz e
tacto e dentro destas categorias ele é capaz de diferenciar o rosto, voz e movimentos específicos
da pessoa que mais cuida dele – regra geral, a mãe. Já “recebeu” os padrões temporais do
comportamento humano e o significado das diferentes mudanças e variações de tempo e ritmo.
Aprendeu as pistas sociais e convenções que têm efeito mútuo para iniciar, manter, terminar ou
mesmo evitar interacções com a mãe.
Aos poucos foi interiorizando uma representação mental, cada vez mais estável, da imagem da
mãe (inicialmente, é apenas seio, e aos poucos vai ganhando o rosto, o contorno e forma
corporal), passados alguns meses, após esta primeira fase de aprendizagem, vai-se diferenciando
claramente e tornando cada vez mais nítida a imagem da mãe, bem como das expressões faciais,
reacções aos seus “chamamentos”, postura corporal, ritmo e movimento ao andar, e neste
momento pode-se afirmar que o bebé já estabeleceu uma permanência de objecto, ou se se
preferir uma imagem duradoura (não parcial) da mãe quer esta esteja ou não presente. Por volta
do 8º mês surge a “angústia do estranho”, manifestação que confirma a permanência do objecto e
que, quando face a adultos estranhos vai reagir com a recusa em ir para o seu colo e choro se este
lhe pega.
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Para se ter uma ideia e compreensão precisa de como se processa esta primeira fase de
aprendizagem é necessário analisarem-se diversas dimensões, como por exemplo:
- Repertório comportamental facial, vocal e outros – habitualmente fornecidos pelo adulto que presta
cuidados ao bebé, na sua primeira, e mais importante experiência com o mundo de estímulos (e de
relacionamento) humano;
Para além deste, é ainda, necessário estudar-se o:
- Repertório de comportamentos e capacidades de percepção que o bebé possui para perceber e
(inter)agir no mundo do comportamento humano, em que se encontra inserido.
Infelizmente, nem sempre as coisas se processam de forma “saudável” pelo que é necessário
analisar-se, como é que a interacção pode falhar. A este nível, quando a interacção falha e o bebé
corre risco de ver comprometido o seu desenvolvimento, podem-se citar patologias graves do
foro psicológico, tais como: autismo primário e secundário, psicose infantil, neurose infantil. E a
par destes, há ainda um outro risco – o abandono – em que a mãe não é capaz de “correr o risco”
de ficar dependente de um ser que precisa do seu apoio e protecção para sobreviver.
ABANDONO
O abandono de uma criança, de um filho, de um bebé, é sem dúvida um gesto que reflecte uma
extrema “pobreza afectiva”, que indigna todos quantos têm conhecimento de tal “barbaridade”...
Mas ao adjectivar tal atitude está-se, desde logo, a entrar com juízos de valor, a moralizar e este
é um erro grave tão condenável quanto o próprio comportamento de abandono. Deve-se, pelo
contrário, tentar contextualizar e perceber os motivos subjacentes a uma atitude de tamanho
desespero e sofrimento.
Verifica-se então que por vezes, a atitude de abandono é fruto de um medo intenso e irracional
da mãe ficar dependente definitivamente, e para toda a vida, vinculada a alguém que não
desejou, que cresceu dentro de si como “um intruso em casa alheia”. Outras vezes, são as
condições de profunda miséria sócio-económica que levam a mãe a colocar-se na perspectiva de
uma esperança que é incapaz de viver.
Quase sempre se verifica que é a ausência de uma experiência de relação familiar gratificante,
durante a sua própria infância. Mas, acima de tudo, é a grande solidão e isolamento de quem não
aceita o risco de um “encontro”, pois este só é de facto possível quando nos (pré)dispomos a ser
modificados pelo poder de um sorriso e pela “fragilidade” de uma pequena mãozinha que
procura a nossa mão (o nosso apoio e amor incondicional...).
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Logo, falar em abandono e adopção remete para um passado que, no primeiro caso preparou a
separação e, no segundo, justifica o acolhimento assumido, na pobreza da falta de ligação
genética, com o filho que irá receber o seu nome.
VINCULAÇÃO E FILIAÇÃO
Para que haja vinculação é preciso que se verifique o sonho... um lento caminhar ao encontro da
realidade em que o imaginário aí terá de se enraizar para adquirir condição de durabilidade e ser
capaz de resistir à verdade do crescimento.
Quando se fala de realidades tão importantes quanto as capacidades do feto e do bebé, recém-
nascido, assim como do valor estruturante da gravidez (período gravídico) e do parto, mostra-se
o importantíssimo papel que este período de vida tem nas futuras relações afectivas. Mas não
pode existir filiação sem que se verifique a aceitação de que cada filho tem um destino próprio,
uma autonomia de que depende o seu estatuto enquanto pessoa.
Deste modo, pode-se afirmar que, a vinculação, é, pois, um concentrar de energia, o “abraço
apertado” que antecede e torna possível o afastamento equilibrado e saudável. Esta necessidade é
vivida pela mãe de uma forma muito concreta, aquando do trabalho de parto, nesse preciso
momento ela ajuda o filho, que até ali acolheu no seu útero, à expulsão. E que, instantaneamente,
o (re)acolhe para que o fluir do leite retome (restabeleça a um outro nível) a unidade
momentaneamente perdida. Tal como está atenta, para o amparar em caso de necessidade, nos
primeiros passos – dividida entre o receio de uma queda e o desejo de o ver caminhar sozinho.
E, deste modo, aos poucos, vai-lhe preparando o seu próprio caminho. Apesar disso, só atinge a
verdadeira filiação quando ele assume o comando do seu destino pessoal na segurança de um
passado que lhe deixou, bem presente, uma sólida e permanente ternura e capacidade de amar e
ser amado (deixar-se amar).
NASCIMENTO DA FAMÍLIA
Só quando se verifica esta passagem da vinculação à filiação se assiste ao nascimento, definitivo,
da família e que, precisamente por isso, mal se forma logo se devem ir criando acessos (portas e
estradas abertas) para os outros.
Mais do que uma fortaleza intransponível, uma muralha, a família constitui-se como o ponto de
partida onde se prepara a separação pela individualidade do sujeito, é o abrigo que torna viáveis
o encontro de todas as fraternidades, de todas as relações (intra e extra-familiares).
Contrariamente, uma mãe que abandona, impede que as imagens do filho se constituam como
uma experiência enriquecedora do corpo. Valoriza assim, o sofrimento, o incómodo, a mudança
de formas a que a gravidez obriga e condiciona. Justifica-se pela razão de que faz “um bem” ao
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filho e a si mesma, regressando à condição de “aparente” liberdade que usufruía antes da
gravidez.
ADOPÇÃO
O casal que adopta, passando do sonho directamente para o encontro (com o outro – o bebé) sem
o lento intermédio do corpo (processo gravídico), tem de impedir que a “esperança realizada”
impeça o eclodir da realidade. Isto é, o casal é chamado também ele, a aceitar o outro como ser
diferente (e independente), este é, de facto, o único percurso possível para alcançar a verdadeira
filiação.
Regra geral, exige-se ao casal que adopta (por razões de infertilidade ou esterilidade) a grande
pobreza de assumir a esterilidade biológica, e, paradoxalmente, a enorme riqueza, de
proporcionar um passado a quem só restava um futuro construído de incertezas.
Assim, após um longo caminho de desespero e frustração e, demasiadas vezes, humilhação, que
se pode arrastar por muitos e muitos anos, o casal é obrigado a submeter-se a uma avaliação
psicológica. E, de repente, sem aviso prévio, é confrontado com um filho que lhe é atirado para
os braços, mas que ainda não é definitivamente seu.
A par disso há ainda as indicações judiciais concretas tais como a legislação (do país em que a
criança é adoptada) em vigor e o método legal a seguir.
De referir ainda que, por melhor que seja a instituição de acolhimento das crianças abandonadas,
mal tratadas, órfãs, esta dificilmente conseguirá obviar a personalização que uma família
(biológica ou de adopção) proporciona ao bebé (criança) onde este se sente único e
insubstituível. Assim, toda e qualquer instituição, deve, antes de mais, ser percepcionada como
um local de colocação temporária, onde se permite a sobrevivência, sem grandes lesões
afectivas, antes do acolhimento pela família – biológica ou de adopção.
PAPEL DE “PAIS”
Brincar aos pais e aos filhos representa, para a criança que brinca, uma forma de conhecer os
pais sempre que se imaginam na sua pele, no seu lugar ou papel.
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Brincar é, então, conhecer e os filhos mostram ser bem mais ousados que os pais, pois é bem
mais fácil encontrar crianças a “fazer” de pais do que, inversamente, pais a “fazer” de filhos.
Até que ponto não se deveria incentivar mais os pais actuais, a descentrarem-se dos seus saberes,
dos seus conhecimentos, das suas experiências e, humildemente, aprenderem a ouvir o que a
criança tem a dizer? Deixar de serem adultos, por breves momentos, e voltar a ser criança, só
traz instantes de alegria e prazer, faz renascer em nós a criança que, por vezes, julgamos ter
desaparecido para sempre, e olhar a vida e os “crescidos” com os “olhos de uma criança”,
frequentemente proporciona um conhecimento (sabedoria) mais simples, é verdade, mas, nem
por isso, menos profundo.
Se o adulto tem a capacidade de, durante alguns minutos, da sua atarefada vida de corre-corre,
do dia a dia, “voltar a ser criança” e nessa perspectiva interagir como o seu filho pode obviar de
uma forma tão simples muitos dos desencontros dos chamados “conflitos de geração” – a criança
sentindo-se compreendida, “ouvida” vai interiorizar uma imagem mais positiva, não só dos pais,
como também dos adultos em geral.
No contexto de uma relação familiar pode-se considerar, regra geral, que os pais são, de algum
modo, prematuros e isto porque o nascimento dos filhos dentro dos pais se dá muito cedo na sua
vida.
ESTERILIDADE E INFERTILIDADE
A fertilidade é, então, uma realidade também emocional. De facto, há “esterilidades” que se
esbatem com a adopção de uma criança (e se “transformam” numa gravidez. No entanto não
podem ser consideradas apenas como “esterilidades psicológicas”, porque este é um fenómeno
de uma extraordinária complexidade, dada a grande diversidade de factores subjacentes, para
além disso, apelar apenas à “racionalidade” não só não resolve o problema – o obstáculo
emocional – como ainda o agrava ou adensa mais.
O que se constitui como doloroso, no plano emocional, para o ser humano é toda e qualquer
espera de algo que se deseja ou sonha muito, e que não seja contemplada com a realização do
sonho a que se aspira. A interrogação que agora se coloca é a seguinte: Será “anómalo” não
querer um filho?
Claro que não, muito pelo contrário, alguém que quer ter filhos e tudo faz para os evitar é um ser
consciente dos seus próprios limites e que ao optar por não gerar um filho está a obviar-lhe
sofrimento (pelo menos no seu imaginário).
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O que é realmente pouco saudável é querer ter um filho de uma forma “incontida e
desmesurada” – quase em desespero de causa – como se só assim conseguisse alcançar, o tão
almejado, bem-estar emocional de cada um dos pais.
O grande desafio do ser humanos decorre da capacidade de aprender, desde muito cedo a estar só
e não viver em solidão, a ser capazes de encarar a realidade da sua incompletude e reconhecer os
seus próprios limites pessoais (defeitos e qualidades) sem que isso o deprima. Só alguém que é
capaz de encarar a realidade de si mesmo, está preparado para o encontro e troca emocional com
os outros.
Um filho pode permitir o confronto com o melhor e o pior de si, com as suas fragilidades (de
ambos os membros do casal), caso ainda, não tenham tido esse confronto, se já fora ultrapassado
vai ser (re)vivido a um outro nível, bem mais profundo.
Um filho gerado nestas condições, não trará cadilhos (do ditado popular: Quem tem filhos tem
cadilhos), mas sim “a vida que nos separa de sermos felizes”. Os pais que tantas vezes sonharam
o seu filho mas que não podem gerá-lo, vivem, tantas e tantas vezes, esse desespero, vergonha,
tristeza (e mesmo raiva) – de ter que aceitar a dor de um luto tão irreparável.
Para além disso, e como se isso não fosse já o suficiente, em temos de sofrimento mental, ainda
têm que aprender a lidar e (sobre)viver com uma densidade de experiências que decorre da sua
esterilidade, e que origina por parte dos outros, fenómenos como “voyeurismo”, curiosidade (que
pode variar de: leve a mórbida), rivalidade, agressividade (mais ou menos camuflada).
Estas são formas mais ou menos camufladas de violência que geram dor, que se junta à dor de
não poder ter filhos, provocando, não raras vezes, situações de um profundo e incontornável
sofrimento emocional e psicológico que leva um ou ambos os membros do casal a depressões
profundas que se cristalizam e agravam (ainda mais) com o decorrer dos anos.
CONCLUSÃO
A disciplina de Psicologia V – dedicada aos temas da Psicologia da Gravidez e Maternidade e
Paternidade – quer-se uma disciplina que emocione profundamente e de forma irreversível, todos
aqueles que com ela têm contacto, já que aflora realidades de uma enorme beleza e ternura que
envolvem a parte mais sublime da humanidade – o bebé – que é simultaneamente o seu passado,
o seu presente mas, também, o seu futuro.
Aborda a questão do bebé sonhado, vivido na gravidez, corporizado e tornado realidade real no
olhar, amamentação, mas também no contacto de todo um corpo que se constitui como resposta
à fala, ao sorriso, à ternura.
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Bela ainda porque partindo de realidades tão adversas e cruéis como são os abandonos físicos e
emocionais, nos apresenta a esperança de uma “salvação”, representada pela adopção, pela prova
de uma generosidade e amor sem limites, vivificado pelos casais que se (pré)dispõem a aceitar
crianças com alguns riscos (o risco de não se ser aceite e amado pelo ser que se adopta; ou, o
risco de a criança ser portadora de uma qualquer enfermidade física ou psicológica, entre outros).
Com realidades tão marcantes como esta os conceitos que se propõe venham a ser estudados
nesta disciplina, ganham outra dimensão e significado: maternidade e paternidade não são mais
restritos aos filhos biológicos (a quem intuitivamente se deve amar), esterilidade e infertilidade,
vinculação e filiação, relação precoce, repertório (da mãe e do bebé), etc., passam a ser,
igualmente, um sinal de esperança para a evolução e perpetuação da própria sociedade, e de toda
a humanidade!
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