O Mercado de Cervejas No Brasil

PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACE: FACULDADE DE ADMINISTRAO, CONTABILIDADE E ECONOMIA

VANESSA FERRARI

O MERCADO DE CERVEJAS NO BRASIL

Porto Alegre
2008.

II

VANESSA FERRARI


Dissertao apresentada como requisito para a obteno
do grau de Mestre pelo Programa de Ps-graduao da
Faculdade de Economia da Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul.

Orientador Dr Valter Jos Stlp

Porto Alegre
2008

III

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

F375m Ferrari, Vanessa
O mercado de cervejas no Brasil / Vanessa Ferrari. Porto
Alegre, 2008.
115 f.

Diss. (Mestrado em Economia) Fac. de Administrao,
Contabilidade e Economia, PUCRS
Orientador: Prof. Dr. Valter Jos Stlp

1. Economia. 2. Cerveja Indstria. 3. Gerao de
Emprego Brasil. 4. Polticas Pblicas. 5. Alcoolismo
Bibliotecria Responsvel: Dnira Remedi CRB 10/1779

IV

VANESSA FERRARI


Dissertao apresentada como requisito para a obteno
do grau de Mestre pelo Programa de Ps-graduao da
Faculdade de Economia da Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul.

Aprovada em _____ de ____________de ________.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Prof. Dr Augusto Mussi Alvim - PUCRS

_____________________________________
Profa. Dra Izete Pengo Bagolin - PUCRS

_____________________________________
Prof. Dr Luciano Benetti Timm - ULBRA

_____________________________________
Prof. Dr Valter Jos Stlp (Orientador)

V

DEDICATRIA

Aos meus pais, irmos e namorado por todo o carinho, amor e apoio
que sempre me dedicam. Vocs so a motivao para as minhas
conquistas.

VI

AGRADECIMENTOS

Primeiro a Deus por ter me instrudo nesta jornada e colocado em meu caminho s
pessoas que sempre me ajudaram.
Aos meus pais, irmos e namorado por terem entendido a minha ausncia nestes ltimos
dois anos.
Ao meu orientador, professor Dr Valter Jos Stlp, por ter me acompanhado nos passos
desta conquista.
Aos meus professores, colegas e aqueles que me deram oportunidade de apreender ao
seu lado.

VII

Tenha sempre em mente que tudo em sua vida no nasce pronto.
Apenas nasce. Sua crena e persistncia que vo
transformar sonhos em realidade.
(Autor desconhecido)

VIII

RESUMO

O presente estudo aborda as questes relacionadas indstria cervejeira, os
benefcios trazidos por ela como gerao de emprego e renda bem como os prejuzos para
a sociedade advindos do consumo exagerado do lcool. Desta forma, os benefcios de
polticas pblicas que aumentam a produo da cerveja so contrabalanados pelas
desvantagens provenientes do aumento do consumo de lcool. Por meio de uma metodologia
de sries temporais, so identificadas as principais variveis explicativas que interferiram no
consumo do produto no perodo de 1985 at 2006. Atravs dos resultados obtidos, possvel
identificar alternativas de polticas pblicas adequadas ao gerenciamento da relao entre a
arrecadao de impostos, gerao de emprego e renda proveniente do mercado cervejeiro
nacional e o custo social decorrente dos efeitos do lcool no organismo humano.
PALAVRAS-CHAVE: Cerveja, Alcoolismo e Custo Social.

IX

ABSTRACT

The present study boards the matters related to the brewer industry, the benefits brought
by it like employment and income generation as well as the damage for the society
brought by alcohol consumption. Thus, the benefits of public policies that increase the beer
production are counterbalanced by the disadvantages provided by the increase of alcohol
consumption. Through a methodology of temporal series, the main explanatory variables that
interfered in the product consumption during the period between 1985 up to 2006 are
identified. Through the obtained results it is possible to identify policy options adequate
public to manage the relationship between taxes collection, employment generation, and
income generation originating from the national brewer market, and the social cost due to the
alcohol effects in the human body.
KEY WORDS: Beer, Alcoholism and Social Cost.

X

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Diviso do mercado brasileiro de cervejas no ano de 1995.....................................06
Figura 2 Diviso do mercado brasileiro de cervejas no ano de 2005.....................................07
Figura 3 Representao e identificao da cadeia produtiva da cerveja................................15
Figura 4 Estrutura central da cadeia produtiva da cerveja.....................................................16
Figura 5 Fluxograma do processo genrico de produo da cerveja.....................................19
Figura 6 Volume e valor de venda da cerveja por tipos de lojas entre os anos de 2000 /
2001...........................................................................................................................................23
Figura 7 Utilizao da capacidade instalada do mercado de bebidas no Brasil: 03/00
03/06..........................................................................................................................................25
Figura 8 Evoluo da concentrao de mercado da indstria cervejeira...............................32
Figura 9 Balana comercial....................................................................................................35
Figura 10 Composio do preo da cerveja...........................................................................36
Figura 11 Carga tributria mundial da cerveja em 2004 com relao ao PIB per capita.......37
Figura 12 Quantidade consumida X faixa etria %...............................................................43
Figura 13 Classificao das bebidas alcolicas mais consumidas %.....................................44
Figura 14 Freqncia de consumo X gnero %.....................................................................46
Figura 15 Bebedores em binge...............................................................................................47
Figura 16 Tipos de Bebida Alcolica segundo o gnero.......................................................47
Figura 17 Beber em binge entre os adultos............................................................................49
Figura 18 Beber em binge adultos variao com a idade em %......................................49
Figura 19 Adultos que beberam pelo menos uma das bebidas em binge no ano de 2006 em
%...............................................................................................................................................50
Figura 20 Freqncia de dirigir alcoolizado nos ltimos 12 meses em %..........................54
Figura 21 Freqncia de dirigir depois de beber 3 doses ou mais em %............................55

XI

Figura 22 Modelo de consumo de lcool, resultados intermedirios e conseqncias no
longo prazo................................................................................................................................64
Figura 23 Comportamento da srie .......................................................................................79
Figura 24 Representao grfica do quadro 21......................................................................82

XII

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Participao no mercado de cervejas por marca em jan/2007...............................08
Quadro 2 Maiores fabricantes de cerveja no mundo..............................................................09
Quadro 3 Consumo de cerveja no Brasil entre os anos de 1985 at 2006.............................22
Quadro 4 Composio em R$ do preo final mdio de venda da cerveja no ano de 2004....27
Quadro 5 Principais resduos slidos gerados na indstria cervejeira...................................29
Quadro 6 Elasticidade preo demanda cruzada entre as marcas............................................34
Quadro 7 Freqncia de consumo X gnero..........................................................................43
Quadro 8 Relaes de consumo de lcool.............................................................................44
Quadro 9 Tipos de Bebida X classe socioeconmica............................................................45
Quadro 10 Local onde mais bebeu adultos: gnero idade regio em %.......................51
Quadro 11 Efeitos do lcool no organismo............................................................................51
Quadro 12 Local do consumo do lcool antes da ltima situao de beber e dirigir em
%...............................................................................................................................................55
Quadro 13 Passageiro de motorista alcoolizado....................................................................56
Quadro 14 Nmero de carros licenciados no pas..................................................................57
Quadro 15 Vtimas de morte por causas externas do ano de 1999, autopsiadas no IML-SP.58
Quadro 16 Distribuio das mortes por acidente de trnsito em relao presena de
alcoolemia positiva e ao sexo da vtima....................................................................................58
Quadro 17 Aprovao de medidas preventivas aumento ou diminuio (n=2.346) em %.71
Quadro 18 Aprovao de medidas preventivas aumento ou diminuio (n=2.346) em %.71
Quadro 19: Teste de Raiz Unitria sobre as variveis..............................................................79
Quadro 20: Variveis includas na funo demanda por cerveja e os efeitos obtidos..............80
Quadro 21: Simulao da variao na demanda por cerveja decorrente do preo do
produto......................................................................................................................................81
Quadro 22 Simulao do dficit no PIB decorrente do consumo..........................................82

XIII

Quadro 23 Simulao da variao no consumo decorrente do preo da aguardente.............83
Quadro 24 Simulao da variao no consumo decorrente do preo do salrio mnimo......83
Quadro 25 Sries temporais.................................................................................................102

XIV

SUMRIO

1. INTRODUO..................................................................................... 01

2. O MERCADO BRASILEIRO DE CERVEJAS ................................ 05
2.1 Consideraes Iniciais ...................................................... 05
2.2 Histria das Principais Cervejarias Brasileiras ............... 10
2.3 Cadeia Produtiva da Cerveja............................................. 14
2.4 Matrias-primas Utilizadas no Processo de Fabricao da
Cerveja...................................................................................... 17
2.5 Classificao dos Tipos de Cerveja ................................. 20
2.6 Consumo de Cerveja no Brasil ......................................... 21
2.7 Canais de Distribuio e Comercializao....................... 22
2.8 Investimentos em Marketing no Setor.............................. 25
2.9 Formao do Preo de Venda da Cerveja no Brasil ........ 26
2.10 Principais Aspectos Ambientais da Indstria Cervejeira27
2.11 Concentrao Industrial no Setor Cervejeiro................. 31
2.12 Elasticidade-Preo Cruzada da Demanda no Mercado
Cervejeiro................................................................................. 33
2.13 Exportaes e Importaes de Cerveja.......................... 35
2.14 Tributao no Setor Cervejeiro Nacional ....................... 35
2.15 Bens Substitutos.............................................................. 38

XV

2.16 Projeo de Gerao de Empregos e Arrecadao de
Impostos no Setor ................................................................... 39
3. ALCOOLISMO ..................................................................... 41
3.1 Consideraes Iniciais ...................................................... 41
3.2 O Consumo Alcolico do Brasileiro Adulto..................... 42
3.3 O Consumo Alcolico do Adolescente Brasileiro........... 45
3.4 Perfil do Beber em "Binge" no Brasil ............................... 48
3.5 Problemas Relacionados ao Beber Abusivamente ......... 51
3.6 Beber X Dirigir.................................................................... 53
3.7 lcool e Gravidez............................................................... 59
3.8 Relao entre o lcool o Trabalho e a Previdncia Social59
3.9 Violncia X Alcoolismo...................................................... 60
3.10 Efeitos da Publicidade Sobre o Consumo Alcolico..... 62
3.11 Polticas Pblicas de Combate ao lcool ...................... 64
3.11.1Apoio da Populao s Polticas Pblicas Sobre o Uso de
Bebidas Alcolicas ......................................................................... 70
3.12 Custo Social da Cerveja para o Pas .............................. 72

4. IMPACTOS SOCIAIS DE MUDANAS NO VALOR DOS
IMPOSTOS SOBRE A CERVEJA... ...................................................... 75
4.1 Metodologia........................................................................ 75
4.1.1 Modelo Economtrico ............................................................ 76
4.2 Resultados da Estimativa da Demanda............................ 81
4.3 Anlise dos Impactos das Mudanas no Valor dos Impostos
Sobre o Consumo de Cerveja................................................. 84

5. CONCLUSO....................................................................................... 86

XVI

REFERNCIAS ........................................................................................ 91

ANEXOS .................................................................................................... 95

1. INTRODUO

Este estudo pretende examinar o funcionamento do mercado cervejeiro nacional atravs
de informaes que permitam identificar os pontos relevantes para o desempenho do setor.
Conjuntamente, pretende-se compreender os efeitos nocivos do consumo alcolico, em
especial da cerveja, sobre a sociedade. Neste caso, o grande desafio desta pesquisa analisar
como incentivos manuteno das empresas cervejeiras podem beneficiar a sociedade pela
gerao de renda e emprego, mas por outro lado, trazer prejuzos sociedade pelo aumento do
consumo de lcool.
Dentre as alternativas para intervir no crescimento do mercado cervejeiro, est
possibilidade de aumento dos impostos sobre as bebidas alcolicas, o que acaba por
influenciar diretamente o preo da cerveja e conseqentemente a capacidade do poder de
compra da populao. Conforme constatado pela Organizao Mundial da Sade (OMS), em
estudos desenvolvidos em diversos pases, o aumento da taxao e do preo das bebidas
alcolicas resulta em diminuio do consumo e, assim, dos problemas sociais relacionados ao
lcool.
Alm da tributao, muitos pases realizam campanhas por meio da comunicao de
massa e de programas de educao em escolas sobre os riscos da bebida. Os estudos da OMS
mostram que esses esforos realmente aumentam o conhecimento e as atitudes em relao ao
alcoolismo e aos riscos sade, mas no mostraram redues constantes na taxa de consumo
de lcool ou redues nos danos relacionados. Pequenas intervenes para reduzir o consumo
de bebidas alcolicas no nvel pessoal por meio de sesses educacionais e orientao
psicossocial em ambientes de cuidados bsicos de sade reduzem o uso de bebidas alcolicas
entre os consumidores em 13% a 34%, mas a adeso fraca e a baixa cobertura podem
compensar substancialmente esses ganhos.

2

Diante da dificuldade em compreender as conseqncias do consumo de cerveja sobre a
sociedade, este trabalho se justifica como um subsdio na captao da importncia das
intervenes governamentais para atenuar os efeitos deste mercado sobre a populao. Os
objetivos so apresentados a seguir:

Objetivo geral:

Estudar o mercado brasileiro de cervejas e avaliar os prs e contras, sob o ponto de vista
social, de incentivos indstria brasileira deste produto.

Objetivos especficos

a) Apresentar um panorama geral do mercado cervejeiro nacional;
b) Apresentar um panorama geral dos problemas sociais causados pelo consumo de lcool;
c) Estimar a funo de demanda por cerveja no Brasil;
d) Analisar os benefcios e custos sociais de alternativas de polticas pblicas visando
gerao de emprego e renda no setor cervejeiro.

Sendo assim, este estudo prope-se a analisar a indstria cervejeira no s como um setor
produtivo da economia, mas tambm considerar os efeitos que o consumo do seu produto
pode causar sociedade. A anlise ser fundamentada em estudos sobre o tema desenvolvidos
no Brasil e no exterior.
Em pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001), em
parceria com o Instituto Brasileiro do Vinho IBRAVIN foi analisada a cadeia da uva e do
vinho na serra gacha, sendo constatado que a cerveja o principal produto substituto do
vinho. Este fato foi constatado em todos os centros consumidores pesquisados, enfatizando a
necessidade em se relacionar o estudo do vinho ao da cerveja. Essa concluso advm do fato
de que elasticidade-preo cruzada positiva, embora menor que a elasticidade-preo da
demanda. Nesse caso, conforme constatado, uma reduo de 10% no preo da cerveja
tenderia a reduzir o consumo de vinho fino em 6,2% (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 2001).
Triches, Siman e Caldart (2004) analisaram a cadeia produtiva da uva e do vinho da Serra
Gacha e estimaram por meio do mtodo economtrico de Dados de Painel a funo demanda
por vinhos finos. Os resultados indicaram que a cadeia altamente estruturada e que os
principais atores esto organizados numa linha de integrao vertical. Foi contatada uma

3

elasticidade da demanda em relao ao preo do vinho estimada em 0,9 e a elasticidade em
relao renda de 4,9. Estes dados servem para justificar o motivo pela qual o mercado
consumidor de vinhos estar localizado, sobretudo, nos estados brasileiros mais ricos.
O Programa Brasileiro de Desenvolvimento de Aguardente de Cana (PBDAC) elaborou
uma pesquisa fazendo uma viso crtica do mercado de cachaa, analisando alguns pontos
desfavorveis (Fonte: PBDAC, 1996). A principal constatao da pesquisa foi imagem
negativa do produto, em especial entre as mulheres. Constatou-se que a aguardente sofre uma
ameaa constante de bens substitutos, em particular da cerveja que apresenta uma imagem
agradvel aos consumidores, em nveis de preos mais baixos que de outras bebidas.
Ao analisarem o setor de bebidas no Brasil, Rosa, Consenza e Leo (2006) constaram
ligao direta entre o aumento do nvel de renda per capita da populao brasileira e do
consumo de cerveja. Verificaram tambm que o mercado brasileiro de cerveja composto em
sua maioria pela populao jovem e de baixo poder aquisitivo. As classes C, D e E so
responsveis por mais de 70% do consumo total e as mulheres, atualmente, j respondem por
cerca de 1/3 do consumo brasileiro de cervejas.
Arajo (2001), com o objetivo de avaliar os efeitos sociais do aumento da concentrao
industrial no mercado de cervejas no Brasil, estimou a perda de bem-estar resultante da
estrutura de mercado vigente para o setor. Atravs de um modelo economtrico com sistemas
de equaes simultneas, colocados sob uma estrutura de painel, foram estimadas as
elasticidades-preo e a elasticidade-preo cruzadas da demanda por cerveja no pas. Os
resultados obtidos na regresso foram empregados a um modelo de variaes conjeturais
desenvolvido para oligoplio, constatando-se que o aumento da concentrao industrial
fornece uma medida de perda de bem-estar para a sociedade brasileira.
Wyllie e Cysne (2001) estimaram as elasticidades-preo e preo-cruzadas da demanda do
mercado de cervejas no Brasil a partir de um modelo de variaes conjecturais desenvolvido
para oligoplio. Constatou-se uma medida de perda de bem-estar para a sociedade como
proporo da receita total do setor diante da estrutura vigente na economia brasileira. Tal
medida foi calculada para diferentes valores do parmetro de variao conjetural, indicando
que as perdas associadas ao exerccio do poder de mercado so significativas.
Em seu relatrio de 2007, Ending the Tobacco Problem: A Blueprint for the Nation
(Acabando com o Problema do Tabaco: Um Projeto para a Nao), o Instituto de Medicina da
Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos recomenda aumentar os impostos dos
cigarros nos estados com baixos ndices e o imposto federal sobre os cigarros e ajust-los de
acordo com a inflao, a fim de reduzir o consumo de cigarros e arrecadar fundos para o

4

controle do tabaco. O relatrio declara que um aumento no imposto federal teria o duplo
propsito de reduzir o consumo e arrecadar mais fundos para os programas de controle de
tabaco. Dessa forma, o comit acredita que os impostos sobre o tabaco deveriam ser
aumentados substancialmente pelo menos na ordem de $1,00 por mao.
O Relatrio de 2000 do Ministrio da Sade dos EUA, Reducing Tobacco Use
(Reduzindo o Uso do Tabaco), constatou que aumentar o preo dos produtos de tabaco
diminuiria o consumo deste, principalmente entre crianas e jovens, e que os aumentos de
impostos levariam a melhoras significativas da sade em longo prazo. Sua anlise das
pesquisas existentes concluiu que aumentar os impostos sobre o tabaco uma das mais
eficazes estratgias de controle e preveno do tabaco.
Considerando como base os resultados obtidos nos trabalhos relacionados ao tema, este
estudo composto de quatro captulos alm deste inicial referente introduo.
No captulo 2 ser descrito o mercado cervejeiro no Brasil, sua evoluo e sua
importncia para economia. Efetuar-se- uma anlise do mercado cervejeiro nacional,
segundo a interpretao das empresas do setor, em termos de arrecadao de impostos,
gerao de emprego e renda.
Em contraponto, no captulo 3 so analisados os danos sociais relacionados ao consumo
de bebidas alcolicas, principalmente da cerveja, para a populao brasileira.
No captulo 4 apresentado estimativa da funo de demanda por cerveja no Brasil,
descrevendo-se os resultados gerados por esta estimativa.
No ltimo captulo sero analisados os impactos de polticas visando expanso do setor,
tanto sob o enfoque de gerao de renda e emprego como em termos de malefcios que o
consumo exagerado de lcool causa populao brasileira.
2. O MERCADO BRASILEIRO DE CERVEJAS

2.1 Consideraes Iniciais
O presente captulo apresenta um quadro do mercado cervejeiro nacional, a partir do
enfoque da indstria de cervejas. Numa anlise introdutria so descritas a evoluo do setor
e a histria das primeiras cervejarias no Brasil. Em um segundo momento, descrito o
funcionamento da cadeia produtiva da cerveja, alm das principais matrias-primas utilizadas
para o acionamento desta cadeia. Posteriormente, so apresentados os principais tipos de
cervejas produzidas, assim como os nveis de consumo no pas e os principais canais de
distribuio e comercializao do produto.
Nos itens 8 e 9 deste captulo possvel identificar que o consumo da cerveja, apesar de
pouco mensurvel, fortemente influenciado pelos efeitos das polticas de marketing e pela
diferenciao do produto. Nas ltimas sees do captulo so abordadas questes relacionados
ao crescimento da indstria cervejeira nacional, aspectos ambientais, o oligoplio presente no
setor, o desempenho da balana comercial, a tributao sobre o produto, alm da descrio
dos dois principais bens substitutos e dos empregos gerados no setor.
O mercado consumidor brasileiro de cerveja caracterizado predominantemente por ter
uma populao jovem (61% entre 25 e 44 anos), que em virtude do seu baixo poder aquisitivo
faz com que o consumo per capita (por volta de 51,9 litros/habitante em 2006) ainda seja
considerado relativamente baixo, principalmente levando-se em considerao a tropicalidade
do pas. Como exemplo, o consumo do Reino Unido chega a ser de 97 litros/ano. O consumo
brasileiro foi incrementado a partir do Plano Real, quando na poca totalizava apenas 38 litros
por ano (Fonte: Sindicerv
1
, 2006).

1
Sindicerv: Sindicato das Indstrias Cervejeiras.

6

Assim como ocorre no Brasil, aonde 4 empresas dominam o mercado, mundialmente, o
aumento do grau de concentrao tambm foi utilizado como forma de sobreviver ao baixo
crescimento do consumo. Segundo o Global Brands Handbook 1999, em 1997, as dez
maiores marcas de cerveja detinham 29% do mercado mundial (em 1992 detinham 27%). No
ano de 2002, as 10 maiores indstrias cervejeiras concentravam 54% do volume produzido
mundialmente. Este nvel de concentrao elevou-se em 2004, com a fuso da Interbrew com
a AmBev e da Molson com a Coors. Com o nvel de concentrao, em 2004, as 10 maiores
cervejarias do mundo produziram aproximadamente 58,8% do mercado total (Fonte: Instituto
Lafis, 2006).
No Brasil, a participao do mercado das pequenas empresas do setor aumentou de 1,5%
em 1995 para 8,9% em 2005. Em contrapartida, houve um incremento de 12% no volume
comercializado deste produto no mesmo perodo (Fonte: Sindicerv).
Basicamente, no existe no pas uma representao padro de oligoplio no setor, mas
sim uma diversidade de situaes de mercado bem maior. Dentre elas o oligoplio compacto
em que duas ou trs firmas dominam todo o mercado cervejeiro nacional, conforme figura 1.
No ano de 1995, apenas 2 empresas (AmBev = ao somatrio das empresas Brahma e
Antarctica, ainda no fundidas na poca) dominam o mercado nacional de cervejas.

Diviso do Mercado Brasileiro de Cervejas: 1995
15%
5%
78%
2%
Kaiser/Molson
Schincariol
Ambev
Outras Marcas

Figura 1: A Diviso do Mercado Brasileiro de Cervejas no ano de 1995.
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Sindicerv (2007).

Representantes de oligoplios, estas empresas sempre preferiram no competir via

7

preos, e a participao no mercado de cada firma geralmente foi determinada pelo
desenvolvimento do produto e pela propaganda
2
(as indstrias cervejeiras sempre foram um
dos principais anunciantes do pas). Isso se deve a dois fatores bsicos: ao desenvolvimento
de novos produtos e ao fato das campanhas publicitrias serem mais difceis de serem
copiadas do que os cortes em preo. Alm disso, estes oligopolistas sempre possuram
recursos financeiros suficientes para se engajarem no desenvolvimento de novos produtos e
em gastos com propaganda.
Baseando-se na teoria da demanda quebrada do monoplio, o preo adotado sempre foi
relativamente rgido, pois uma firma que est completando uma variao de preo presume
que sua concorrente ir copiar um corte de preo e ir ignorar um aumento de preos. A
liderana de preos, em determinado momento, sempre envolveu um acordo informal entre os
oligopolistas de acompanhar qualquer variao de preo iniciada por uma firma designada.
O mercado se comportou de forma estvel, at que no ano de 2003 a empresa Schincariol
atravs de uma estratgia agressiva em preos e marketing, aumentou sua participao no
mercado de 5,4% em 1995 para 12,6% em 2005, conforme mostra a figura 2, listada abaixo.
Diviso do mercado brasileiro de cervejas: 2005
9%
13%
68%
10%
Kaiser/Molson
Schincariol
Ambev
Outras Marcas

Figura 2: A Diviso do Mercado Brasileiro de Cervejas no ano de 2005.

2
Segundo Kotler (2000, pg 597), o objetivo da propaganda deve surgir de uma anlise completa da situao do
mercado. Se a classe do produto estiver madura, a empresa for lder no mercado e o uso da marca for baixo, o
objetivo adequado seria estimular mais o uso. Se a classe do produto for nova, a empresa no for lder no
mercado, mas a marca for superior da lder de mercado, ento o objetivo adequado seria convencer o mercado
da superioridade da marca.

8

O aumento do nvel de participao no mercado da Schincariol via reduo de preos
baseando-se no modelo de demanda quebrada (acordo informal) fez com que as demais
empresas do setor, que sempre adotaram preos padronizados entre seus concorrente (tit-for-
tat
3
), precisassem reduzir seus preos e a conseqente lucratividade.
Alm da diviso por empresas, este mercado pode ser dividido por produto (marca), uma
vez que para manter a fidelidade dos clientes as empresas do setor dispem ao consumidor um
portiflio de produtos bastante diversificado, conforme demonstrado no quadro 1.

Participao de Mercado %

Ano 1992 1993 1994 1995 2002 2003 2004 2005
Mercado (MI Hc
4
) 47,70 50,90 65,00 80,00 84,10 82,20 84,70 90,00
Ambev 85,50 81,70 80,30 78,50 68,40 67,20 66,20 68,30
Brahma 37,40 35,20 33,30 31,40 21,80 20,90 19,80 20,40
Skol 14,10 15,00 16,80 15,20 32,30 32,80 31,60 32,60
Antarctica 34,00 31,50 30,20 31,90 14,30 11,60 13,00 13,60
Bohemia n.i
5
n.i n.i n.i n.i 1,90 1,80 1,70
Kaiser 11,50 13,60 13,90 14,60 15,40 13,30 10,90 8,90
Schincariol 2,10 3,80 4,70 5,40 9,60 11,10 13,10 12,60
Outras Marcas 0,90 0,90 1,10 1,50 6,70 8,40 9,80 10,20
Petrpolis n.i n.i n.i n.i n.i n.i 3,60 5,20
Cintra n.i n.i n.i n.i 1,60 1,70 1,60 1,40
Outras n.i n.i n.i n.i 5,10 6,80 4,60 3,60
Quadro 1: Participao no Mercado de Cerveja por Marca em jan/2007.

Como pode ser observado no quadro acima, a AmBev possui o maior portiflio, assim
como os produtos de maior aceitabilidade pelo consumidor: as cervejas Brahma e Antarctica.

3
A ao de uma empresa est condicionada a ao de outra empresa, ou seja, se todas as empresas cervejeiras
mativerem o mesmo nvel de preo dos seus produtos, a tendncia de que todas aumentem seus lucros.
Contudo, se uma das empresas resolve deixar de participar e diminui os seus preos, a cooperao no ser mais
possvel e todas iro competir entre si.
4
MI Hc = milhes de hectolitros;
5
n.i = no informado.

9

Com relao a variaes na demanda, o consumo de cerveja no Brasil apresentou
crescimento praticamente constante na dcada de 1985 a 1995, com exceo do ano de 1992,
no qual o poder de compra da populao foi fortemente comprimido em funo das quedas
sucessivas de renda per capita brasileira, resultado da implementao do Plano Collor, o qual
confiscou a poupana de milhares de brasileiros, diminuindo assim a liquidez do mercado.
Com o Plano Real em 1994 e o conseqente aumento do poder de compra da populao,
a demanda por cerveja reagiu, pois incorporou novos consumidores, principalmente do
tradicional mercado de aguardente. A produo retomou a trajetria de crescimento atingindo
80 milhes de hectolitros
6
e consumo per capita recorde de 50 litros/ano em 1995. Aps este
boom, a dcada seguinte (1995 a 2005), no entanto, no apresentou o mesmo bom
desempenho para o setor. Com nveis de consumo praticamente estagnados, a variao do
consumo entre 1995 e 2004 foi de apenas 6%, com consumo subindo de 80 para 85 milhes
de hectolitros e com consumo per capita estacionado em torno dos 50 litros/ano (Fonte:
Sindicerv), o que evidencia uma forte relao entre as variaes na renda e o incremento
nacional no consumo de cerveja, sendo que as linhas de variao do consumo total e per
capita acompanham a aumento na renda nacional, a partir de 1994.
O Brasil se posicionou no mercado como um dos quatro maiores fabricantes de cerveja
do mundo em 2005, com um volume anual de cerca de 9,020 milhes de litros, conforme
demostra o quadro 2 listado abaixo.
Pases 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
China 17,300 18,500 22,313 22,700 23,558 25,405 29,100 30,615
Estados Unidos 23,300 23,256 23,220 23,300 23,456 23,130 23,330 23,024
Alemanha 11,170 11,280 11,043 10,850 10,840 10,599 10,619 10,545
Brasil 8,164 8,040 8,260 8,450 8,441 8,220 8,500 9,020
Rssia 3,253 4,320 5,490 6,300 7,020 7,320 8,520 8,920
Mxico 5,466 5,726 5,781 6,230 6,370 6,642 6,848 7,250
Japo 7,179 7,151 7,099 7,103 6,930 6,497 6,549 6,343
Reino Unido 5,665 5,785 5,528 5,680 5,667 5,801 5,891 5,602
Espanha 2,499 2,585 2,641 2,774 2,786 3,068 3,068 3,250
Polnia 2,022 2,250 2,400 2,414 2,610 2,730 2,770 2,900
frica do Sul 2,564 2,570 2,450 2,250 2,440 2,500 2,500 2,590
Paises Baixos 2,399 2,450 2,507 2,523 2,490 2,512 2,383 2,456
Canad 2,278 2,295 2,307 2,392 2,137 2,344 2,313 2,316
Coria do Sul 1,408 1,669 1,644 2,000 1,885 1,980 2,016 1,702

6
1 Hectolitro (hc) equivale a 100 litros.

10

Repblica Checa 1,829 1,795 1,792 1,788 1,818 1,855 1,875 1,607
Venezuela 1,569 1,700 1,859 2,181 1,600 1,500 1,800 2,200
Blgica 1,411 1,458 1,473 1,504 1,570 1,565 1,741 1,727
Ucrnia 683 850 1,027 13,100 1,490 1,665 1,729 2,370
Austrlia nd nd Nd nd 1,748 1,726 1,691 1,709
Frana 1,981 1,987 1,893 1,887 1,812 1,810 1,680 1,639
Tailndia 931 1,050 1,154 1,232 1,252 1,524 1,614 1,703
Colmbia 1,830 1,600 1,350 1,345 1,200 1,507 1,600 1,650
Romnia 1,023 1,112 1,112 1,211 1,147 1,251 1,400 1,524
Itlia 1,219 1,218 1,258 1,278 1,259 1,367 1,313 1,226
Filipinas 1,269 1,240 1,400 1,200 1,100 1,270 1,300 1,350
Argentina 1,240 1,200 1,200 1,240 1,399 1,273 1,280 1,370
Outros 20,592 20,988 20,922 9,495 20,298 20,852 21,783 10,853
Total 130,243 134,074 139,123 142,428 144,323 147,913 155,212 147,461
Quadro 2: Maiores Fabricantes de Cerveja do Mundo
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Instituto Lafis apud Sindicerv , Alaface, Brewers of Europe,
Joh. Barth & Sohn (site) / (e) estimativa Joh Barth, (a) Joh. Barth citando como fonte Alaface (2007).

2.2 Histria das Principais Cervejarias Brasileiras

A histria das principais cervejarias do pas, segundo as prprias empresas, definiu-se a
partir dos anos 30 do sculo XX, pois nesta poca comeou a ser estabelecido o conceito de
marca para a indstria cervejeira, j que, at aquele momento, muitas cervejas eram lanadas
para o mercado sem nome prprio. Neste momento passam a destacar-se duas empresas no
mercado nacional: a Brahma e a Antarctica.
A Brahma foi fundada em 1888 pelo imigrante suio Joseph Villiger. A empresa, ento
instalada na cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, adotando o mesmo nome que um
deus da ndia
7
. Aps algumas fuses e aquisies, a Brahma era, no incio da dcada de 30,
uma empresa bem estruturada e voltada para o futuro. A aposta em novas tecnologias e
publicidade criou uma grande afinidade entre a empresa e os consumidores, sendo que, em
1934, a Brahma Chopp era a cerveja mais consumida no pas. Nesse ano, a produo alcanou
os 30 milhes de litros de cerveja.

7
O deus Brahma muito venerado junto das guas do lago de Pushkar, na ndia. Diz a crena local que aquele
que a se banhar ter todos os seus pecados perdoados, por piores que estes sejam.

11

Em 1954, a empresa havia se tornado uma das maiores cervejarias do Brasil, com 6
fbricas e 1 maltaria em laborao. Para continuar a expandir-se, a empresa elaborou um
plano de distribuio que abrangeu as reas mais afastadas dos grandes centros urbanos, e em
1968 inaugurou, no Rio Grande do Sul, a Estao Experimental de Cevada para testes de
novas variedades de cevada cervejeira, adaptadas ao clima e ao solo da regio. Em 1971,
atravs da Cervejaria Astra S.A., a companhia concretiza uma forte aliana para a fabricao e
distribuio dos seus produtos no Norte e Nordeste do Brasil.
Os anos 80 so marcados como o perodo em que a Brahma direcionou seus
investimentos ao mercado de refrigerantes. Todavia, a origem cervejeira nunca foi
negligenciada pela empresa, sendo que em 1980, com a exportao da Brahma Beer (Brahma
Chopp), a revista The Washingtonian a elegeu como a melhor cerveja importada dos EUA.
Para aumentar a sua participao no mercado cervejeiro, a empresa adquiriu nesta dcada o
controle acionrio das Cervejarias Reunidas, Skol, Caracu S.A. Alm da aquisio da cerveja
Skol, Chopp Claro Skol, da cerveja em lata Ouro Fino (destinada exportao) e da cerveja
Caracu, a companhia deu continuidade sua linha de produtos, elaborados em 7 fbricas
espalhadas por todo o Brasil.
A dcada de 90 representou um perodo de crescimento para a empresa, gerando a
necessidade de expandir o parque fabril. No incio de 1996 inaugurada a Filial Rio de
Janeiro, no bairro de Campo Grande - RJ. Tratava-se da maior fbrica de cerveja da Amrica
Latina, com capacidade de produo de 12 milhes de hectolitros por ano. igualmente
iniciada a construo de mais 2 unidades fabris: uma correspondente Cervejaria guas
Claras (Viamo - Rio Grande do Sul) e a outra no municpio de Estncia, Aracaj.
A histria da Antarctica desenvolveu-se em separado da Brahma. A firma consolidou-se
aps indefinies e mudanas contnuas nos primeiros anos, tornando-se uma das maiores
empresas brasileiras do setor das bebidas. A ltima grande convulso aconteceu em 1940, ano
em que os proprietrios da Companhia Antrctica Paulista, Antonio e Helena Zerrener,
faleceram e no deixaram herdeiros. A companhia passou ento por diversos gestores, at ser
adquirida por vrios investidores e se transformar na Companhia Antarctica Paulista
Indstria Brasileira de Bebidas e Conexos, com fbricas em Bom Retiro (Cerveja Progresso e
cerveja preta) e na Mooca (cervejas claras e conexos). Esta reformulao da empresa
permitiu-lhe crescer e ficar mais fortalecida, propiciando o aumento da sua participao no

12

mercado atravs de uma sucesso de aquisies, sendo talvez a de maior relevncia a da
Cervejaria Adritica, instalada em Ponta Grossa - PR.
Em 1960, a Antarctica completou 75 anos de histria, possuindo uma capacidade
produtiva de 3,9 milhes de hectolitros/ano, nmero que engloba cervejas e refrigerantes. Para
eliminar focos de competio no mercado, a Antarctica adquiriu o controlo acionrio de
algumas empresas, como o caso da cervejaria Bohemia, marca essa que ainda hoje faz parte
do portiflio da AmBev. Com as constantes aquisies, a Antarctica tornou-se um gigante
industrial, sendo que a dcado de 80 direcionada internacionalizao da companhia,
iniciando-se ento a exportao de produtos para a Europa, sia e Estados Unidos.
A comercializao de produtos para outros pases obrigou a um aumento na produo de
bebidas. Para conseguir igualar a relao entre oferta e demanda, a dcada de 90 marcada
pela aquisio de mais fbricas e a abertura de novas filiais, alm da renovao das linhas de
produto, como a Kronenbier, uma das primeiras cervejas sem lcool do mercado brasileiro.
Alm desta, muitas outras surgem, novas ou apenas renovadas: Antarctica Bock, Polar, Polar
Pilsen, Bavria Premium, Antarctica Pilsen Extra em long neck. Destaca-se nesta poca o
acordo entre a companhia e a gigante cervejeira norte-americana Anheuser-Busch no sentido
de ser constituda a Budweiser Brasil, que objetivava a distribuio da cerveja Budweiser nos
postos de revenda da Antarctica e, em troca, a venda do Guaran Antarctica nos Estados
Unidos.
A Companhia de Bebidas das Amricas (AmBev) resultou da fuso das histricas
Companhia Antarctica Paulista e Companhia Cervejaria Brahma. Aps longos meses de
negociaes, as empresas chegaram a um acordo, criando, assim, a 5 maior empresa de
bebidas do mundo. Contudo, no foi apenas no setor cervejeiro que a AmBev direcionou suas
atividades: atravs de aquisies e fortes campanhas publicitrias lanou novos produtos em
mercados pouco tradicionais, como o grande investimento feito em Portugal e Porto Rico para
a introduo do Guaran Antarctica nesses pases. Aliou-se tambm a empresas importantes,
como a argentina Quilmes, a peruana Embotelladora Rivera ou a equatoriana Cerveceria
SurAmericana, fato que lhe permitiu penetrar com mais facilidade a alguns pases das
Amricas do Sul e Central. A companhia chegou ainda a adquirir as uruguaias Salus e
Cympai (produtora das marcas Nortea e Prinz). A nvel interno, foram apresentados trs
novos produtos: a Skol Beats, a Bohemia escura e a Bohemia Weiss.

13

O mercado no havia absorvido por completo a juno da Brahma com a Antarctica
quando ocorreu a unio entre a AmBev e a Interbrew. Anunciada em 2004, a criao da
INBEV, uma empresa com mais de 200 marcas no seu portiflio, empregaria cerca de 85.000
pessoas, estando presente em 32 pases. A INBEV atualmente a maior empresa cervejeira do
mundo, tendo vendido cerca de 202 milhes de hectolitros de cerveja e 31,5 milhes de
hectolitros de refrigerantes s em 2004.
A histria da Schincariol comea em 1939, atravs da sua fundao pelo imigrante
italiano Primo Schincariol na cidade paulista de Itu. Durante muitos anos a empresa manteve-
se a um nvel regional, s se destacando a partir de 1989, ano em que comeou a produzir a
sua primeira cerveja, tipo pilsen. Hoje, a Schincariol possui 7 fbricas, que produzem mais de
2,1 bilies de litros de cerveja por ano. A sua linha de produtos formada por cervejas,
chopp, refrigerantes e gua mineral e estes so distribudos em todo o territrio brasileiro,
para alm de vrios pases do Mercosul, sia e Europa. Em 2003, a empresa lanou a All
Beer, uma marca prpria dos supermercados Carrefour, resultante de intensas negociaes
entre as duas firmas. A diversidade de cervejas da Schincariol inclui a Nova Schin, a Primus,
a Glacial e a NS2. Sua ltima unidade industrial construda localiza-se em Igrejinha - RS e
resultante de um investimento de R$ 170 milhes. Apenas nesta planta industrial so
produzidos 150 milhes de litros de cerveja e 50 milhes de litros de refrigerante e gua
mineral por ano, com gerao de 300 empregos diretos e 2,4 mil indiretos.
A Kaiser
8
iniciou suas atividades em 1980, ano em que Luiz Otvio Possas Gonalves,
um dos principais acionistas do grupo Gonalves-Guarany, proprietrio de duas grandes
engarrafadoras de Coca-Cola no estado de Minas Gerais desde 1947, passou a perder
gradualmente a sua participao no mercado de refrigerantes em virtude de as duas marcas
lderes do mercado de cervejas praticarem um tipo de venda que praticamente obrigava o
comerciante a comprar guaran e soda da empresa que tambm lhe vendia cerveja. Para
resolver esse problema, Luiz Gonalves optou por fabricar cerveja. Direcionando todo o
capital de que dispunha para construir uma nova cervejaria em Divinpolis - MG, a Kaiser
rapidamente conseguiu colocar a sua primeira garrafa no mercado, a 2 de Abril de 1982. O
rpido sucesso que a empresa teve em Minas Gerais possibilitou a expanso da estrutura com
novas fbricas em Mogi-Mirim SP e Nova Iguau RJ. No final de 1983, a Kaiser j

8
Este nome foi escolhido devido ao seu significado em alemo (Imperador), por ser uma palavra de
pronunciao fcil, e por associar imagem da marca a tradio dos antigos cervejeiros alemes.

14

distribua seus produtos para os grandes mercados de So Paulo, Paran, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Esprito Santo. Nessa mesma poca, a tradicional cervejaria
holandesa Heineken, uma das maiores exportadoras de cerveja do mundo, passou a dar
assistncia tcnica Kaiser, e em 1984, a Coca-Cola Internacional entrou na sociedade, ao
comprar 10% da cervejaria, convencida que o mercado brasileiro apresentava caractersticas
incomparveis ao resto do mundo. Em 1986, a marca Kaiser j estava em Gois, na regio de
Braslia e Mato Grosso. Posteriormente, em setembro de 87, foi criada uma nova unidade em
So Paulo, na cidade de Jacare, o que reforou o abastecimento na regio.
Em 2002 viria a ocorrer uma grande alterao no capital social da empresa, j que a
canadense Molson Inc. adquiriu a companhia por US$ 765 milhes. A operao envolveu a
aquisio das Cervejarias Kaiser Brasil S.A, Cervejarias Kaiser Pacatuba S.A., Cervejarias
Kaiser Nordeste S.A. e Cervejarias Kaiser Gois S.A., com a transferncia de 100% das aes
da Bavaria Ltda, ficando somente a denominao Cervejarias Kaiser Brasil S.A. Apenas 4
anos depois a Kaiser voltou a ser novamente comprada, desta vez pela mexicana Femsa que
adquiriu 68% do capital da empresa, permanecendo 15% com a Molson e 17% com a
Heineken. Hoje, a Kaiser possui 10 fbricas, gerando cerca de 2300 empregos diretos e 620
indiretos.

2.3 Cadeia Produtiva da Cerveja

Segundo Castro (2002) a cadeia produtiva, um sistema constitudo por um grande
nmero de elementos e processos interligados e interativos, incluindo sistemas produtivos,
fornecedores de insumos e servios, indstrias de processamento e transformao, e agentes
de distribuio e comercializao, que propiciam a oferta de bens e servios aos consumidores
finais. Esse conjunto de processos e de instituies ligadas por objetivos comuns constitui um
sistema que, por sua vez, engloba outros sistemas menores ou subsistemas.
Diante deste contexto, torna-se importante caracterizar o papel das instituies e das
organizaes. As instituies, segundo North (1991), representam o conjunto de regras com as
quais as interaes dos agentes econmicos so modeladas. Elas caracterizam os incentivos de
troca no campo poltico, social e econmico. Por conseqncia, as mudanas institucionais
influenciam diretamente a maneira pelas quais as sociedades so desenvolvidas no decorrer
do tempo. Essas mudanas resultam de alteraes de regras formais ou informais provocadas
por presses de grupos de interesse e por decises polticas ou judiciais. Estas, por sua vez,

15

so caracterizadas por um processo complexo, porque tendem a ocorrer de forma marginal e
contnua. Sendo assim, a eficincia de uma determinada cadeia verificada ao longo do tempo
fundamentalmente influenciada pelo grau de envolvimento das instituies.
Na figura 03 ilustrada a cadeia produtiva da cerveja com os seus ambientes
organizacional e institucional e seus principais componentes e fluxos. O papel das instituies
sejam elas reguladoras ou de pesquisa e desenvolvimento bem como dos fornecedores de
insumos e de equipamentos, entre outros, pode se constituir em elos de impulso ou de
estrangulamento para o desempenho da cadeia. Portanto, o ponto inicial na identificao da
cadeia produtiva da cerveja, em sua forma linear, estabelecido pelos elos dos fornecedores
de insumos, que so: lpulo, cevada, leveduras, embalagens de vidro, embalagens de
alumnio, entre outros.
Os componentes intermedirios e finais da cadeia caracterizam-se pelos produtores de
cerveja, passando pelas redes de atacadistas, distribuidores e os consumidores finais.

Na Figura 04, em uma representao mais ampliada, possvel identificar a estrutura
central da cadeia produtiva da cerveja, composta por elos enumerados em ordem crescente.
Ambiente Organizacional
Fornece-
dores
de
insumos
Produto-
res de
Cerveja
Ataca-
distas
Distri-
buidores
Consu-
midores
Finais
T 1 T 2 T 3 T 4
Ambiente Institucional

Figura 3: Representao e identificao da Cadeia Produtiva da Cerveja.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Instituto Lafis (2007).

Nota:
Fluxo de Materiais Fluxo de Capital T = Transaes Componente da Cadeia Produtiva

16

As relaes entre os elos das cadeias so demonstradas por meio de setas. Os elos bsicos da
cadeia central so caracterizados pelas matrias-primas nacionais e internacionais, pelas
empresas que produzem a cerveja, os distribuidores diretos, distribuidores terceirizados e o
consumidor final. Entre essas duas pontas esto os canais de comercializao e de distribuio
de matrias-primas, passando pelas unidades de processamento e de industrializao e
novamente distribuio dos produtos at o comrcio atacadista e varejista.

- gua
- Alumnio
- Cevada
- Leveduras
- Lpulo
- Vidro

Industrializao
da Cerveja

3
Distribuidor
Prprio

4
Distribuidor
Terceirizado

5
2
Matrias-primas:
- Nacionais
- Internacionais
1
Consumo
Local
7

Tradicional
8
Consumidor Final
9
Figura 4: Estrutura Central da Cadeia Produtiva da Cerveja (Fonte: Elaborao Prpria).
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Instituto Lafis (2007).

Auto-
Servio

6

17

2.4 Matrias-primas Utilizadas no Processo de Fabricao da Cerveja

O malte, matria-prima bsica para a produo da cerveja, produzido a partir da cevada
em processo de germinao. O consumo aproximado de malte pelas cervejarias brasileiras
de 1 milho de toneladas ao ano, sendo que o Brasil produz 30% desse total e importa 70% do
restante que necessita. A produo nacional de 300 mil toneladas anuais concentra-se no Rio
Grande do Sul e no Centro-Oeste.
Em 2004, o Estado de So Paulo colheu sua primeira safra de 1 mil toneladas de cevada
cervejeira. A implantao da cultura no sudoeste do estado decorrente de um programa
iniciado em 1999 pela Maltearia do Vale (Taubat-SP) em parceria com a Coordenadoria de
Assistncia Tcnica Integral (Cati) e com a Embrapa para reduzir a importao de cevada. A
Maltearia do Vale uma das principais fornecedoras de malte para as cervejeiras nacionais,
consumindo 90 mil toneladas de cevada por ano, sendo que importa 60% deste total.
Como reflexo dos investimentos no setor, no ano de 2004, conforme divulgao da
AmBev, pela primeira vez foi possvel empresa adquirir toda a cevada que necessitou para
produzir malte no mercado nacional, reduzindo a sua exposio aos custos do dlar. A
empresa comprou 242 mil toneladas de cevada colhidas no Sul do Pas, 17% a mais que em
2003. Entre 70% e 80% do produto utilizado foi proveniente do Rio Grande do Sul. No ano de
2005, a rea plantada no Brasil cresceu 15%, ou 111 mil hectares de plantao de cevada.
Em 2006, os maiores exportadores de cevada para o pas foram Frana, Argentina,
Alemanha e Sucia. A cevada cervejeira segue o sistema de integrao utilizado na cultura do
fumo. Todos os insumos e sementes utilizados so fornecidos pelas maltarias (Brahma,
Antarctica, Agromalte de Guarapuava e Maltaria do Vale) aos produtores integrados que tm
garantida a venda vista de toda a produo. Esse sistema tem propiciado o crescimento
dessa cultura desde 1994. A produo tem ocupado a rea destinada ao trigo, que mais
suscetvel s geadas. Alm do melhoramento no processo tecnolgico da produo de cerveja,

18

a melhoria na produtividade dos insumos tambm tem sido buscada. A produo do lpulo em
rvores miniaturas
9
no Reino Unido consiste num exemplo.
Quanto s embalagens, as cervejas so comercializadas em embalagens descartveis
(vidro one way 350 ml e latas de 350 ml e 473 ml) e em embalagens retornveis (vidro 600
ml). Em 2003, a AmBev lanou a garrafa de 500 ml descartvel para a Skol. A participao
das embalagens retornveis no total comercializado na dcada de 1990 experimentou queda
acentuada, particularmente na segunda metade da dcada, caindo de 88,3% em 1994 para uma
participao de aproximadamente 68% em 1998.
10

Atualmente, o uso de embalagens retornveis ocupa 71% do total, sendo 67% no formato
de garrafas de vidro e 4% no formato de barril. As embalagens descartveis participam com
29%, sendo 26% em latas e 3% em garrafas long neck. A proposta de reduo contnua da
demanda por embalagens retornveis decorrente da clara preferncia das grandes redes de
supermercados pelas embalagens descartveis, com o objetivo de reduzir seus custos
operacionais.
Existe hoje um projeto de lei, apoiado pelo Sindicerv, que estabelece que um mnimo de
80% da produo de cerveja seja engarrafada em embalagens retornveis. Justifica a lei o fato
de que haveria reduo da gerao de lixo urbano e da embalagem retornvel reduzir em at
25% o preo final ao consumidor, alm do fato de a reciclagem solucionar apenas
parcialmente os problemas relacionados gerao de embalagens descartveis.
Com relao aos tipos de embalagens descartveis, o alumnio no causa os mesmos
problemas ao meio ambiente que o vidro, pois, com o aumento dos preos internos do
alumnio, a partir da desvalorizao do real em 1999, viabilizou-se a sua reciclagem. Segundo
a Associao Brasileira de Alumnio (Abal), 89% das latas de refrigerantes e cervejas foram
recicladas em 2004.
A figura 5 descreve, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(CETESB), o fluxograma de processo genrico da produo de cerveja, o qual est dividido

9
A rvore normal do lpulo tem cerca de 5,4 metros de altura e a nova variedade obtida por seleo natural
mede 2,4 metros.
10
A partir de 1999, o ritmo da substituio das embalagens retornveis pelas descartveis foi desacelerado em
funo da desvalorizao cambial e da elevao do custo do alumnio, matria-prima para a produo das latas.

19

em 4 etapas principais: maltaria, preparo do mosto, fermentao e envase, estas por sua vez
subdivididas em 19 fases.

Figura 5: Fluxograma de processo genrico da produo de cerveja.
Fonte: Cervejas e Refrigerantes (CETESB
11
, 2005, pg 26).

11
CETESB = Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental.

20

2.5 Classificao dos Tipos de Cerveja
Diferentes processos de fabricao e variao nos ingredientes utilizados produzem
diferentes tipos de cerveja. Pela legislao brasileira
12
, a cerveja pode ser classificada de
acordo com 5 itens:
a) Fermentao (alta e baixa):
Alta: quando, durante o processo em temperatura de 20 a 25C, a levedura flutua aps
fermentar o mosto gerando um produto de cor cobre-avermelhada, de sabor forte,
ligeiramente cido e teor alcolico entre 4 e 8%.
Baixa (larger): quando em temperaturas de 9 a 14C, o levedo fica depositado no fundo do
tanque. No entanto, esta distino vem se reduzindo com novas tecnologias, tanto nos
processos, como na microbiologia. Enquadra-se nessa definio a cerveja pilsen (cor clara e
baixo teor alcolico entre 3 e 5%), a mais consumida no mundo e tambm no Brasil, sendo
que, no pas, segundo as empresas do setor, o consumo desse tipo de cerveja chega a 98% do
total e o restante distribudo para as do tipo bock, light, malzbier e stout.
b) Extrato primitivo (mosto)
13
:
Fraca - 7 a 11%
Comum - 11 a 12,5%
Extra 12,5 a 14%
Forte - acima de 14%
c) Cor: clara e escura
d) Teor alcolico
Sem lcool - menos de 0,5% (percentual em peso)
Baixo 0,5 a 2% (percentual em peso)

12
Anexo 1: Legislao Brasileira para Cerveja.
13
Concentrado resultante do cozimento do malte, lpulo e cereais no maltados.

21

Mdio 2,0 a 4,5% (percentual em peso)
Alto 4,5 a 7,0% (percentual em peso) Teor de extrato (final)
14
:
Baixo - at 2%
Mdio - 2 a 7%
Alto - mais de 7%

O mercado de cervejas tambm pode ser segmentado em trs categorias, de acordo com
o preo do produto: premium price, standard (ou medium) e low price.

2.6 Consumo de Cerveja no Brasil

Segundo informaes do Sindicerv (2007) o mercado brasileiro de cerveja caracterizado
por ter um pblico alvo jovem (61% entre 25 a 44 anos) mas, em virtude do baixo poder
aquisitivo deste grupo, o consumo per capita (por volta de 51,9 litros/habitante em 2006)
ainda considerado relativamente baixo se comparado a outros pases (por exemplo, o
consumo per capita do Reino Unido chega a ser de 97 litros/ano
15
), principalmente levando-se
em conta sua tropicalidade.
As classes C e D so responsveis por 72% das vendas totais. Cerca de 56% do pblico
consumidor de cervejas do sexo masculino. O segmento de cervejas sem lcool responde
por 1% do mercado, mas apresenta um crescimento de cerca de 5% ao ano, mais que o dobro
do tradicional (2%), e movimenta mais de R$ 110 milhes por ano. A marca lder do
segmento a Kronenbier da AmBev. A Schincariol e a Guitts (Conveno Refrigerantes e
Cervejas) tambm possuem produtos no mercado, o quadro 3, demonstra o consumo de
cerveja no Brasil entre os anos de 1985 at 2006 (Fonte: Instituto Lafis, 2007).

14
Mosto adicionado de gua;
15
Fonte: Sindicerv.

22

Ano Consumo Total (milhes - hc
16
) Consumo Per Capita (l
17
)
1985 30,20 22,3
1986 43,80 31,60
1987 47,50 33,60
1988 48,00 32,40
1989 52,80 35,70
1990 54,50 36,10
1991 58,00 39,50
1992 47,70 32,00
1993 50,90 33,60
1994 65,00 42,30
1995 80,00 51,30
1996 80,00 50,60
1997 81,70 51,20
1998 81,60 50,40
1999 78,80 48,10
2000 82,30 49,50
2001 84,50 49,00
2002 84,10 48,20
2003 82,20 46,50
2004 84,70 46,60
2005 90,20 49,00
2006 97,00 51,90
Quadro 3: Consumo de Cerveja no Brasil entre os anos de 1985 at 2006
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Sindicerv apud BNDES (2007).

2.7 Canais de Distribuio e Comercializao

16
hc = hectolitro
17
L = Litro.

23

Segundo metodologia empregada pela AC Nielsen, os canais de comercializao de
cervejas podem ser classificados em trs grupos:
1. Bar (consumo local): estabelecimentos comerciais aparelhados para a oferta de cerveja a
ser consumida no prprio local de venda, tais como bares, lanchonetes, restaurantes e casas
noturnas. Nestes locais a cerveja refrigerada visando o consumo imediato (mercado a frio);
2. Tradicional - pontos de venda, como padarias, mercearias e armazns, onde no h
presena do vendedor para auxiliar na compra e o produto no consumido no local;
3. Auto-servio: estabelecimentos que contam com pelo menos uma caixa registradora e que
permitem que o consumidor se sirva sem a presena do vendedor (basicamente
supermercados e hipermercados).
Em geral, a estrutura de distribuio de cada um dos principais fabricantes de cervejas
apresenta semelhana entre si. Cerca de 20% a 25% da cerveja vendida distribuda
diretamente pelas empresas produtoras, enquanto que entre 70% a 75% distribuda via rede
terceirizada exclusiva. H um forte vnculo entre a capacidade de distribuio e a promoo
da marca, j que a venda se concentra no varejo, principalmente em bares, conforme
demonstra a figura 6:

Figura 6: Volume e Valor de Venda de Cervejas por Tipos de Lojas entre os anos de 2000/2001.
Fonte: Indstria Cervejeira Um Mercado em Crescente Transformao ( FAE BUSINESS apud AcNielsen 2003,
pg 51).

24

As vendas realizadas pelos bares no somente so as com maior relevncia em termos de
volume (50,6%), como tambm so as que representam maior valor (55,4%). J as vendas em
auto-servio aumentaram sua participao em 2001, mas no so to representativas na
composio do valor de venda. Contudo, deve ser considerado o aumento neste segmento nos
ltimos anos, sendo que no existem publicaes de dados para o setor. A diferena de
preos entre os canais bar tradicional e o de auto-servio pode chegar a 30%, segundo o
relatrio fornecido pela Secretaria de Acompanhamento Econmico (SEAE) para a discusso
do caso AmBev. A eficincia da logstica de distribuio um fator essencial de
competitividade num setor caracterizado por uma extensa rede de distribuio e pela produo
de bens de baixo valor agregado, pois os custos de distribuio representam entre 10% e 13%
do preo ao consumidor. Diante destas evidencias, ressalte-se que no suficiente ter uma
tima campanha de marketing e forte investimento em propaganda se a empresa no mantiver
um adequado abastecimento no ponto de venda. Este um dos grandes desafios deste setor.
Em termos de comercializao, a indstria de cerveja convive com duas questes
relevantes:

1. Sazonalidade: o consumo de seus produtos se concentra em perodos de temperaturas mais
quentes. Segundo divulgao do Sindicerv (2007) cerca de 40% da comercializao do
produto, no ponto de venda, ocorre entre os meses de dezembro e maro. Neste quesito,
destaque-se a estratgia da Kaiser, que para lidar com essa sazonalidade (entre os meses de
junho e agosto o consumo padro reduzido em mdia 30%), agiu de forma pioneira
lanando a Kaiser Bock, um produto com maior teor alcolico e cujo consumo prprio para
perodos de baixas temperaturas. Outras marcas posteriormente adotaram a mesma estratgia.
2. Estagnao do mercado brasileiro de cervejas: o mercado consumidor permaneceu
estagnado de 1995 a 2001, segundo dados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econmico e Social) e do Sindicerv. Estes dados revelam que em 1995 o consumo per capita
de cerveja no Brasil era de 50 litros por habitante, e em 2001 este nmero era de 50,3. As
principais estratgias adotadas pelas empresas para enfrentar esse desafio tm sido os
aumentos da concentrao de mercado (a fim de ganhar sinergias com as empresas
incorporadas, principalmente quanto a custos e logstica), o desenvolvimento de estratgias de
marketing de segmentao, e a consolidao da marca. Segundo a figura 7, abaixo, h uma
ociosidade no nvel de utilizao da capacidade produtiva, no s na produo de cervejas
como tambm de refrigerantes. Verifica-se, ainda, o incremento da demanda ocorrida entre os

25

meses de dezembro e maro ao longo dos anos, alm da habitual reduo do consumo entre os
meses de junho a agosto.
Fonte: Brasil Alimentos Bebidas e Fumo: Cerveja (Instituto Lafis, Apud Fundao Getlio Vargas, 2006, pg.
11).
Na figura acima possvel identificar a sazonalidade no mercado cervejeiro nacional
durante o perodo de baixas temperaturas, assim como, o incremente no consumo per capita
brasileiro a partir do ano de 2001.

2.8 Os Investimentos em Marketing no Setor

Outro aspecto importante no mercado de cervejas so os investimentos em propaganda e
marketing. As cervejarias fazem elevados investimentos voltados para a fixao da imagem
de uma determinada marca junto aos consumidores. Segundo dados divulgados pelas prprias
empresas atravs dos veculos de comunicao (imprensa), entre os meses de janeiro e agosto
de 2006 foram investidos R$ 383,9 milhes em campanhas do gnero, distribudo entre as
marcas Brahma (R$ 99,1 milhes), Skol (R$ 96,4 milhes), Nova Schin (R$ 79,8 milhes),
Kaiser (R$ 53,5 milhes), Antrtica (R$ 23,8 milhes), Bavria Premium (R$ 15,8 milhes) e
Bohemia (R$ 15,5 milhes).
Tanto Kaiser como Schincariol no so marcas amplamente aceitas pelos consumidores
de cerveja. A Kaiser, por exemplo, enfrentou problemas com a rejeio da marca, apesar de
Figura 7: Utilizao da Capacidade Instalada do Mercado de Bebidas no Brasil: 03/00. 03/06.

Bebidas: Nvel de Utilizao da Capacidade Instalada (%)
50
55
60
65
70
75
80
85
m
a
r
/
0
0
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
1
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
2
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
3
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
4
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
5
J
u
n
S
e
t
D
e
z
m
a
r
/
0
6

26

ser uma empresa com altos investimentos em publicidade, o que a fez perder mercado de
15,3% em 2002, para 10,9% em 2004. Sob o comando da mexicana Femsa, a marca est
procurando superar a faixa de mercado de 8,6% alcanada em 2006. O consumidor nacional
reconhece que Brahma, Antarctica e Skol todas da AmBev so marcas de primeira linha,
que praticam preos muito semelhantes. As marcas Kaiser e Schincariol, por sua vez, tm
preos inferiores aos das trs marcas lderes. Este comportamento demonstra que os preos
das cervejas Kaiser e Schincariol so tomados a partir da observao do comportamento de
preos das marcas lderes, caracterstica de um mercado oligopolista.
O principal desafio do marketing cervejeiro impedir que os consumidores entendam o
produto de marcas rivais como substitutos perfeitos. Para tanto, a necessidade de se criar uma
imagem saudvel da marca eminente. Segundo a agncia publicitria Y&R, itens
relevantes para o mercado de cerveja so: diferenciao, relevncia, estima e familiaridade
com a marca.
Quanto diferenciao do pblico-alvo, entre masculino e feminino, apesar da grande
diferena do volume consumido a favor dos homens, o apelo do marketing para as mulheres
(45% dos tomadores de cerveja, desconsiderando o volume consumido) apresenta um maior
potencial de desenvolvimento, visto que o grupo apresenta baixo nvel de fidelidade a uma
marca especfica. A Nova Schin apresenta alta notabilidade ao pblico feminino, sendo que a
marca investiu de forma bastante expressiva em publicidade e propaganda em 2005 e 2006,
objetivando este grupo. Por outro lado, os homens apresentam maior nvel de diferenciao
entre marcas, dando Bohemia posio de destaque (Fonte: Sindicerv, 2007).

2.9 A Formao do Preo de Venda da Cerveja no Brasil

O preo final da cerveja ao consumidor formado basicamente pelos seguintes fatores:
- Custo de produo;
- Margem dos distribuidores;
- Margem dos varejistas e
- Impostos.

27

Segundo levantamento feito pelo Sindicerv considerando as informaes fornecidas
pelas empresas do setor, os valores dos preos finais mdios da cerveja em larga escala no ano
de 2004 esto descritos no quadro 4, abaixo:
Por Unidade Garrafa Lata Long Neck
Fbrica 0,58 0,41 0,39
Distribuidores 0,22 0,14 0,14
Varejo 0,56 0,37 0,36
Impostos 0,58 0,38 0,33
Preo Final 1,94 1,30 1,22
Quadro 4: Composio em R$ do Preo Final Mdio de Venda da Cerveja no ano de 2004 - com Impostos e com
Embalagens
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Sindicerv (2007).

Ao analisar os gastos da indstria cervejeira, importante observar que ela convive com
uma estrutura de custos altamente influenciada pela cotao do Real, sendo que grande parte
do insumo envolvido em seu preparo importada (malte e lpulo) e os preos das matrias-
primas para a produo de embalagens respeitam a cotao internacional.
Para o ano de 2007, o setor trabalhou com estimativas de que o comportamento do preo
internacional do alumnio fosse menos voltil, uma vez que existe a percepo junto aos
investidores internacionais em commodities metlicas de que a oferta global do produto
poder estar mais capacitada a acompanhar os movimentos de expanso da demanda global.
Com relao ao cmbio, a valorizao do Real diante do Dlar, manteve favorvel a
compra de insumos importados, como o malte (que o Brasil importa em cerca de 70% do
consumido) e o lpulo (importado da Alemanha, EUA, Polnia ou Eslovquia).
Em suma, o setor ampliar seu dinamismo em termos de custos na medida em que: 1) a
carga tributria no alcance nveis impraticveis; 2) a cotao do Real no caia
repentinamente, encarecendo os preos dos insumos e o preo das matrias-primas; e 3) o
preo das embalagens, principalmente do alumnio, no mais apresente elevaes to
significativas como ocorridas nos ltimos anos.

2.10 Principais Aspectos Ambientais da Indstria Cervejeira

28

Em relao ao consumo de recursos naturais, o setor cervejeiro caracteriza-se como
consumidor de grande quantidade de gua, que, em geral, deve ser de excelente qualidade.
Alm disso, pela natureza de suas operaes, centradas na fermentao e repletas de etapas de
limpeza, grande a vazo de efluentes gerados, e com valores moderados ou elevados de
carga orgnica e slidos em suspenso de 1.200 a 3.000 mg/l de DBO
18
, e de 100 a 800 mg/l
de slidos suspensos. Desta forma, pode-se dizer que os principais pontos de ateno em
relao aos impactos ambientais do setor cervejeiro so devidos a estas caractersticas, como a
gerao de resduos slidos oriundos de etapas de filtrao antes e depois da fermentao,
odores da ETE
19
, gerao de efluentes dos sistemas de refrigerao, entre outros.

Insumos utilizados

a) Matrias - primas
Em geral, para a produo de cerveja, consome-se aproximadamente 15 kg de malte e
adjunto por hectolitro de cerveja. Quanto ao lpulo, a quantidade adicionada varia de acordo
com cada tipo de cerveja.
b) gua
O consumo de gua numa cervejaria varia numa ampla faixa, em funo principalmente
dos seguintes fatores: tipo de envase utilizado, tecnologia de pasteurizao, idade da planta,
nvel tecnolgico e aspectos operacionais (eficincia das operaes de limpeza de
equipamentos, pasteurizao, envase, etc.). A relao consumo de gua/produo de cerveja
varia tambm de modo bastante significativo conforme o porte das instalaes, sendo que a
tendncia geral que quanto menores as instalaes, maior o consumo relativo. De modo
bastante genrico, tem-se que o consumo total de gua numa cervejaria varia entre 4 e 10hc de
gua/hc de bebida. Segundo levantamento realizado pelo CETESB, junto s grandes
cervejarias do Estado de So Paulo, este ndice tem variado de 4 a 7 hc de gua/hc de bebida.
Um fator que, segundo informaes das empresas do setor o que influencia em grande
parte o consumo de gua o tipo de vasilhame onde se acondiciona a bebida. Algumas
plantas industriais trabalham exclusivamente com latas, que no necessitam ser lavadas,
enquanto outras trabalham exclusivamente com garrafas, as quais demandam grandes
quantidades de gua para remoo dos rtulos e limpeza, antes do enchimento.

18
DBO: Demanda Bioqumica de Oxignio;
19
ETE: Estao de Tratamento de Efluentes.

29

c) Energia
Na indstria cervejeira, consome-se energia em duas formas basicamente: calor de
processo, na forma de vapor, e energia eltrica. Algumas instalaes j tm utilizado sistemas
de cogerao para atender com uma nica fonte primria todas as necessidades de vapor e
eletricidade, em geral pela queima de gs natural.

Principais poluentes gerados

a) Resduos slidos
No processo cervejeiro, os resduos slidos so gerados principalmente nas etapas de
filtragem, envase e tratamento de gua e efluentes lquidos. Os principais resduos gerados
so: excesso de levedura, resduos do envase, pasta celulsica
20
, garrafas quebradas, terra
Diatomcea
21
, lodo e gros usados, sendo este ltimo o principal tipo de resduo, em relao
quantidade gerada. So aqueles resduos oriundos do aproveitamento do contedo dos gros
de malte, constitudos de restos de casca e polpa dos gros, misturados, em suspenso ou
dissolvidos no mosto. Embora de origem semelhante, dependendo da etapa onde so retirados
do mosto, possuem caractersticas fsicas e composio distinta, e, portanto, so separados em
trs tipos: bagao do malte
22
, trub grosso
23
, trub fino
24
.
Para uma planta de 170.000 hc cerveja/ ms, tm-se as taxas de gerao de resduos
slidos como apresentado no quadro 5:
Resduo Dados Canad, 1997 Dados Unio Europia, 1996

Bagao do malte 20 kg/hc cerveja 14 kg/hc cerveja, 80% gua, ou 125
130 kg/ 100kg malte, base seca.
Levedura adicional 3 l/hc cerveja 2 4 kg/hc. 10 15% massa seca.
Terra diatomcea 0,6 l/hc cerveja Trub: 0,2 a 0,4% do mosto, 15 20%
massa seca.
Cinzas 1,7 kg/hc cerveja _____
Poeira de Malte e gritz 0,25 kg/hc cerveja _____

20
Rtulos removidos na lavagem das garrafas retornveis so vendidos a empresas de reciclagem de papel;
21
Terra utilizada na clarificao, retirada, passa por um processo de secagem e posteriormente destinada para
aterros como material inerte;
22
Resduo gerado na filtrao do mosto aps a caldeira de mostura, antes da fervura;
23
Resduo tirado do whirlpool, na primeira filtrao aps o cozimento, composto de gordura vegetal e protenas
coaguladas;
24
Resduo obtido na segunda filtrao, composto de gordura vegetal, que sai misturado terra diatomcea e
parcelas de levedo.

30

Outros (carto, cacos
de vidro, plsticos, etc)
180 t/ ms _____
Quadro 5: Principais resduos slidos gerados na indstria cervejeira.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do CETESB (2005).

b) Efluentes lquidos
A indstria cervejeira gera quantidades significativas de efluentes, sendo que a
composio dos mesmos fortemente influenciada pelo tipo de cerveja fabricada, tipo de
levedura utilizada, qualidade dos processos de filtrao, tipo de aditivos eventualmente
acrescentados e eficincia dos processos de limpeza de equipamentos. Em decorrncia destes
fatores e da variabilidade de condies operacionais do processo cervejeiro, tanto a
composio como a taxa de gerao dos rejeitos deste setor produtivo muito varivel.
Quanto aos volumes, exceto pela gua incorporada, evaporada e presente nos resduos,
que totalizam de 1,3 a 1,8 hc cerveja, com mdia de cerca de 1,5 hc cerveja, todo o restante da
gua utilizada se torna efluente, ou seja, gera-se de 3 a 6 hc efluente/hc cerveja. A diviso da
gerao de efluentes em cada etapa do processo varia intensamente em volume e
caractersticas. Por exemplo, a lavagem de garrafas gera grandes volumes de efluente, mas
com reduzida carga orgnica. No entanto, a fermentao e filtragem geram apenas 3% do
volume de efluentes, mas so responsveis por 97% da carga orgnica total. Com relao
composio, os efluentes da indstria cervejeira apresentam, usualmente, alto potencial de
poluio pela sua carga orgnica, teor de slidos em suspenso e presena de fsforo e
nitrognio.

c) Emisses atmosfricas
As emisses atmosfricas de uma cervejaria so principalmente dos seguintes tipos. As
emisses de gases de combusto (CO, CO
2
, NO
2
, SO
2
, hidrocarbonetos, etc.), sendo que a
composio dos gases varia em funo do combustvel usado (lenha, leo, gs natural, etc.),
da tecnologia empregada e do sistema de controle de emisses acoplado aos equipamentos.
Dentre os gases acima, o CO
2
o nico que totalmente recuperado, com uso na
carbonatao da bebida. A emisso de poeira proveniente do recebimento e transporte de
malte, gritz, e outras matrias- primas, como a terra diatomcea. A emisso de poeira depende
do sistema de ensilagem, transporte e captao de ar da instalao. O odor ocorre na fervura
do mosto, onde entre 6 e 10% do mosto evaporado, emitindo alm de vapor dgua diversos
compostos orgnicos, fazendo deste processo a principal fonte de odores do processo
cervejeiro.

31

2.11 Concentrao Industrial no Setor Cervejeiro

As ocorrncias de monoplios e custos marginais constantes so relativamente pouco
freqentes no mundo real, e a tarefa de quantificao das perdas de Bem-Estar implica, via de
regra, em uma descrio modelar das estruturas de oligoplio. Em geral, e como de praxe, tais
descries podem ser to sofisticadas ou simples quanto se queira, conforme a preciso
permitida ou desejada para as estimativas. Os modelos de anlise do oligoplio mais
sofisticados so aqueles que fazem uso da Teoria dos Jogos, mais complicados de operar, mas
com construes bem mais prximas da realidade dos bastidores da concorrncia de mercado.

Em oligoplios com diferenciao do produto, emergem naturalmente os modelos cujas
estratgias dos competidores esto baseadas na escolha de preos, qualidade, propaganda e
servios. O fato que, neste contexto, os participantes defrontam-se com curvas de demanda
que tm inclinaes diferentes, no de todo independentes, mas que abrem espao para as
estratgias de preos. O modelo envolve conjecturas sobre as reaes de cada competidor em
funo de mudanas nas polticas de preos dos demais, demonstrando haver uma
equivalncia entre as regras de conjecturas em preos e a atuao das firmas no sentido de
manter uma situao de conluio.

Dentro desta estrutura de mercado existe a possibilidade de uma grande empresa possuir
uma substancial participao nas vendas totais, enquanto que um grupo de firmas menores
abastece o restante do mercado. A organizao de grande porte pode vir a atuar como
Empresa Dominante, escolhendo os preos capazes de maximizar seus prprios lucros. As
demais, que individualmente poderiam exercer apenas uma pequena influncia sobre o preo,
estariam atuando como perfeitos competidores, usado como base o preo fixado pela empresa
dominante e produzindo de acordo com ele (Pindicy e Rubinfeld, 2002).

No Brasil, a indstria cervejeira possui uma estrutura de oferta que caracterizada por
um oligoplio altamente concentrado. A figura 8 abaixo mostra a evoluo da concentrao
do mercado conforme o ndice de Herfindahl-Hirschiman (HHI)
25
.

25
Herfindahl-Hirschiman (HHI): ndice que avalia o grau de participao no mercado de todas as firmas de um
determinado setor. Sendo obtido atravs da soma das porcentagens das participaes de mercado elevadas ao
quadrado de todas as firmas na indstria, este ndice possibilita verificar o grau de concentrao do mercado. A
escala mxima de partipao de mercado de uma empresa monopolista 10.000, ou seja, 100% da participao
de mercado elevada ao quadrado.

32

Figura 8: Evoluo da concentrao de Mercado da Indstria Cervejeira
Fonte: Indstria Cervejeira no Brasil: Padres de Competio e Evoluo (Banco do Desenvolvimento do
Esprito Santo, 2004, pg. 9).

Numa escala entre 0 e 7000 (que representa os nveis de concentrao de mercado)
possvel identificar, entre os anos de 1993 e 1998, uma pequena movimentao de
desconcentrao do mercado, decorrente do aumento da participao de cervejarias de menor
porte, como a Schincariol e outras marcas de atuao regional.
Em 1999, ocorre um aumento de concentrao decorrente da fuso entre a Brahma e a
Antrtica. Em julho de 1999 as duas empresas fabricantes de cerveja, anunciaram
publicamente a inteno de realizar uma fuso, constituindo uma nova empresa, a AmBev. A
fuso entre as duas empresas se justificou como uma maneira de racionalizar o uso da
capacidade produtiva j instalada, concentrando a produo nas unidades mais eficientes e
encerrando as operaes nas unidades menos eficientes. O clculo projetado do ndice de HHI
para o perodo pr-fuso foi 3.211,23 e para o perodo ps-fuso 5.451,94, indicando que a
concentrao de mercado aumentaria. Aps a fuso a escala do ndice era alta, pois o mercado
j era caracterizado por um oligoplio, sendo que aps a fuso este ndice aumentou
decorrente de um maior ndice de concentrao em um nico oligopolista
26
. A AmBev
assinou com o CADE um termo de compromisso de desempenho com metas de reduo de

26
Em 30 de maro de 2000, o CADE Conselho Administrativo de Defesa Econmica aprovou a criao da
Ambev.

33

custos e ganhos de eficincia, que foram cumpridos por um perodo de cinco anos, sob pena
de pagamento de multa.
Mesmo com esta operao, o movimento de desconcentrao provocado pelo contnuo
crescimento da Schincariol e de novas marcas regionais e microcervejarias ocorreu a partir do
ano de 2003, conforme evidenciado na figura 8 acima. Entre elas, a AmBev a mais
representativa, possuindo expressiva presena dentro e fora do pas, estando presente em 14
pases e sendo a segunda maior fabricante mundial da PepsiCo. Hoje a AmBev a quarta
empresa em valor de vendas do Brasil, de acordo com a publicao 500 Maiores & Melhores
da Exame (2007). Foi a primeira empresa brasileira a atingir o status de Investment Grade,
classificado pela Standard and Poors como BBB, trs degraus acima do risco soberano, em
dezembro de 2004.

2.12 Elasticidade-Preo Cruzada da Demanda no Mercado Cervejeiro

A elasticidade refere-se ao grau de sensibilidade de uma varivel quando ocorre
alteraes em outra varivel. Esta, por sua vez, representa uma informao bastante til tanto
para as empresas quanto para a administrao pblica. Na discusso da fuso entre Brahma e
Antarctica, formando a AmBev, foram apresentados estudos, encomendados pelas requerentes
(a prpria AmBev e a opositora associao, Kaiser) para medir a rivalidade entre as marcas
de cerveja no mercado domstico. O estudo apresentado pela Kaiser, feito pela Pereira e
Associados (1999), foi desconsiderado por apresentar dificuldades metodolgicas. No estudo
desenvolvido pela Issler e Resende (1999), encomendado pela AmBev, atravs de uma
regresso linear, foi analisada a elasticidade preos cruzada da demanda entre as marcas
Brahma, Antarctica e Kaiser, no mercado de cerveja-garrafa e de cerveja-lata, a curto e longo
prazos, isto , quais seriam os substitutos diretos entre estas marcas.
O estudo constatou que as marcas Brahma, Antarctica e Skol possuem preos relativos
bastante semelhantes e que os preos das outras marcas relevantes ao segmento, Kaiser e
Schincariol, so razoavelmente diferentes. Preos semelhantes indicam que as marcas so
muito prximas, do mesmo modo, que preos distintos significam marcas distantes. Neste
caso o mercado de cervejas possui dois nichos: um formado por marcas com preos relativos
inferiores (Kaiser e Schincariol), que so substitutas entre si, e outro, formado por marcas
com preos mais altos, que tambm so substitutas entre si (Brahma, Antarctica e Skol). Os

34

resultados obtidos com o estudo da elasticidade preo demanda cruzada entre as marcas so
apresentados no quadro 6
27
:

Estimaes de Elasticidade-Cruzada da Demanda
Brahma Antarctica Kaiser

GARRAFAS CP LP CP LP CP LP
Brahma -1.31 -4.88 1.11 4.54 -0.001 -0.004
(estatstica t) (-2.76) (-2.39) (3.18) (2.96) (-0.004)* (-0.004)*
Antarctica -2.36 -4.34 1.62** 3.32** 0.20 0.38
(estatstica t) (-4.07) (-4.18) (3.64) (4.23) (0.73)* (0.72)*
Kaiser 0.85 2.05 0.14 0.33 -1.01 -2.60
(estatstica t) (1.45) (1.39) (0.33)* (0.34)* (-2.84) (-2.66)
LATAS CP LP CP LP CP LP
Brahma -1.37 -1.26 0.57 0.69 -0.60 -0.73
(estatstica t) (-5.26) (-3.87) (1.92)* (1.92)* (-2.70) (-2.72)
Antarctica 0.12 0.15 -0.66 -1.00 -0.32 -0.39
(estatstica t) (0.38)* (0.38)* (-1.53)* (-2.14) (-1.60)* (-1.64)*
Kaiser 1.87 2.98 1.25 1.99 -3.67 -6.49
(estatstica t) (4.74) (3.83) (2.65) (2.80) (-9.80) (-8.95)
(*) Hiptese nula no rejeitada a 95%;
(**) Resultado inconsistente com a lei da demanda;
Forma Funcional: Logaritmo- Logaritmo
Quadro 6: Elasticidade Preo Demanda Cruzada entre as Marcas
Fonte: Brasil Alimentos Bebidas e Fumo: Cerveja (Instituto Lafis apud Issler e Resende 2007, pg 18).
Os resultados divulgados deste estudo indicam que no mercado de cerveja-garrafa a
marca Brahma substitui a marca Antarctica, tanto no curto como no longo prazo. Os
resultados referentes marca Kaiser, mostram que no possvel aceitar a hiptese de que
esta seja um substituto para a marca Brahma ou Antarctica, no curto e longo prazo
28
.
J no mercado de cerveja-lata, a Kaiser pode ser considerada uma substituta das marcas
Antarctica e Brahma, mas a Brahma no substituta da Kaiser e da Antarctica, neste
mercado. Em sntese, as marcas da AmBev so substitutas entre si no mercado cerveja-garrafa
(86% do mercado como um todo), o que significa que qualquer alterao no preo de uma de
suas marcas ser compensada pelo aumento da demanda de outra marca pertencente ao seu
portiflio. No mercado de cerveja-lata, a concorrncia pode ser considerada mais aberta, com
a possibilidade da Kaiser ser substituta das marcas AmBev.

27
No quadro 6: CP = Curto Prazo e LP = Longo Prazo;
28
Os resultados referentes marca Antarctica no foram considerados estatisticamente confiveis, pois
apresentaram valores inconsistentes com a Lei de Demanda, no sendo significativos a um nvel de significncia
de 95%.

35

2.13 Exportaes e Importaes de Cerveja

Os dados da balana comercial da indstria cervejeira indicam a auto-suficincia da
produo para o abastecimento do mercado nacional. As importaes so compostas por
cervejas especiais, consumidas em estabelecimentos requintados, onde a bebida
harmonizada a pratos sofisticados. O preo mdio do litro da cerveja importada foi de US$
0,77 durante 2006 e o volume total foi de 4,86 milhes de litros, um acrscimo de 57% em
relao a 2005. A figura 9 demonstra o saldo da balana comercial do setor cerveja entre os
anos de 2000 at 2006.

As exportaes, por sua vez, so comandadas quase exclusivamente pela AmBev, com a
marca Brahma em destaque no mercado internacional. O crescimento do volume exportado
foi de 27% em 2006, totalizando 42,72 milhes de litros. O preo mdio de US$ 0,66/litro
indica o menor valor agregado do produto, mas que ainda gerou um saldo comercial positivo
de US$ 24,62 milhes, uma queda de 2,2% em relao a 2005.

2.14 Tributao no Setor Cervejeiro Nacional

Figura 9: Balana Comercial Fonte: Instituto Lafis, (2007).
abf/beb/plan1
Exportaes X Importaes de Cerveja
0
10
20
30
40
50
60
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
M
i
l
h
e
s

d
e

L
i
t
r
o
s
Exportaes importaes

36

Segundo informaes obtidas junto s principais organizaes cervejeiras no Brasil, para
que ocorra um crescimento maior no setor seriam necessrias alteraes na legislao
tributria atravs da elaborao de propostas que possibilitem a reduo da carga de tributos,
responsvel pela onerao da produo brasileira. Segundo dados obtidos junto ao Sindicerv,
baseando-se nas demonstraes contbeis das empresas cervejeiras, do faturamento bruto de
R$ 22,2 bilhes, registrado pelas indstrias brasileiras de cerveja no ano 2006, cerca R$ 10,3
bilhes foram destinados ao pagamento de tributos: R$ 2,4 bilhes referentes ao Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI), R$ 6,7 bilhes recolhidos ao Imposto sobre Circulao
de Mercadorias e Servios (ICMS) e outros R$ 1,2 bilhes destinados ao pagamento do Pis e
da COFINS. O valor da carga tributria correspondeu, portanto, a cerca de 46,40% do
faturamento e teve um reflexo de 35,54% no preo final ao consumidor. Conforme
divulgaes das Receitas Estaduais e Federal, a participao da cerveja na arrecadao dos
tributos indiretos a maior entre todos os setores da economia que se dedicam a bens de
consumo, superando at mesmo a carga incidente sobre tabaco e automveis. A figura 10
demonstra a composio do preo da cerveja, sendo que os impostos representam 30% do
custo total no preo do produto.
Composio do preo da cerveja
11%
30%
30%
29%
Distribuidor
Fbrica
Impostos
Varejo

Figura 10: Composio do Preo da Cerveja.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Sindicerv (2007).
Ao setor cervejeiro so impostas regras tributrias especiais, como a substituio
tributria mecanismo adotado no recolhimento do ICMS que obriga as fbricas a incluir, e

37

recolher de forma antecipada no montante apurado, os valores do imposto devido pelos
distribuidores e varejistas.
Considerando que a capacidade produtiva do pas (131,5 milhes de hectolitros, segundo
a Sindicerv) seja plenamente atingida, e que permaneam as mesmas propores de
arrecadao e nveis de preos da cerveja, h a expectativa de que se atinja um faturamento
bruto de R$ 30,10 bilhes, sendo que cerca R$ 13,96 bilhes sero destinados ao pagamento
de tributos: R$ 3,25 bilhes referentes ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), R$
9,08 bilhes recolhidos ao Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS), e
outros R$ 1,63 bilhes destinados ao pagamento do Pis e da COFINS.
A comparao da carga tributria brasileira com a de outros pases indica que, mesmo nos
pases no qual h maior poder aquisitivo, a carga tributria mais amena, impondo menores
custos aos produtores, permitindo que os seus produtos sejam mais competitivos nos
mercados nacionais e internacionais, conforme demonstra a figura 11.

Figura 11: Carga Tributria Mundial da Cerveja em 2004, com relao ao PIB per Capita (Fonte Sindicerv).
Fonte: Sindicerv: Faturamento e Arrecadao de Impostos (2007, pg. 2).

A figura acima indica que o percentual dos tributos cobrados nos pases com maior
PIB per capita menor do que os impostos cobrados nos pases com menor PIB per capita,
exceo do Reino Unido e do Japo.

38

Esses fatores fazem com que a indstria nacional ocupe uma posio desvantajosa em
relao aos concorrentes estrangeiros, cujas cargas tributrias so menores. Levando-se em
considerao os tributos incidentes sobre a produo e o consumo, em relao ao PIB, o
Brasil possui uma carga de 12,5%, maior portanto que a da Alemanha, e de 5,5% a dos
Estados Unidos.

2.15 Bens Substitutos
29

Aguardente

A aguardente (cachaa) produzida em quase todos os estados da Federao, destacando-
se Bahia, Cear, Gois, Minas Gerais, Paraba, Paran, Pernambuco, Rio de Janeiro e So
Paulo, sendo o ltimo o maior produtor de aguardente e aquele em que se localizam as
grandes empresas industriais, que so lderes do mercado.
A bebida amplamente consumida no mercado interno, especialmente nas classes C e D,
e em menor quantidade nas classes A e B. Segundo levantamento realizado pela consultora
Nielsen, citado por Carvalho e Fernandes (1997), a cachaa, depois da cerveja, a bebida
alcolica mais consumida no pas.
Para incrementar a produo do produto, em 1997, foi criado o Programa Brasileiro para
o Desenvolvimento da Cachaa (PBDAC), cujo principal objetivo promover a cachaa nos
mercados internos e externos, atravs do desenvolvimento tecnolgico e aperfeioamento da
mo-de-obra, visando garantia da qualidade e competitividade do setor. O PBDAC est
desenvolvendo uma campanha internacional para divulgao da bebida tpica do Brasil,
buscando valorizar a cachaa atravs da associao do produto imagem nacional.
Segundo Arajo (2002), o setor movimentou US$ 500 milhes em 2001, com a produo
nacional de 13 milhes de hectolitros, dos quais 11,1 milhes de litros foram exportados,
gerando receita de US$ 9,5 milhes.

Vinho

29
Bens substitutos (concorrentes): o consumo de um bem substitui o consumo de outro.

39

O vinho a terceira bebida alcolica mais consumida no pas. O consumo per capita no
ano de 2004 segundo a Embrapa situou-se em 1,76 litros (4,76% superior a 2003), mas,
mesmo assim, considerado baixo com relao ao consumo de outros pases. Neste mesmo ano
o consumo per capita de vinhos importados foi de 0,20 L, 33,3% superior ao ano anterior. A
rea de vinhedos no Brasil em 2004, segundo IBGE, foi de 70.531 hectares.
O Rio Grande do Sul, principal produtor, possua uma rea de 40.351 hectares, ou seja,
57,21% da rea total do pas, sendo que os anos subseqentes ao ano de 2004 caracterizam-se
por grandes investimentos na viticultura, notadamente em regies brasileiras no tradicionais.
A exemplo da cachaa (onde necessrio o cultivo da cana-de-acar) a cultura da videira
geradora de empregos e renda, notadamente em pequenas propriedades de agricultura
familiar.
A princpio, pode-se questionar se o vinho seria considerado um produto alimentcio,
pois, para efeito de aplicabilidade da legislao europia, este um produto alimentcio. No
Brasil perante a legislao do pas, o vinho considerado uma bebida alcolica e no um
alimento. Os produtores brasileiros vm tentando alterar essa classificao com o objetivo de
reduzir a carga tributria incidente sobre o produto
30
.
Um dos objetivos dos produtores com a reduo dos impostos sobre os vinhos aumentar
o consumo interno do produto, uma vez que o custo da bebida um dos principais entraves a
sua demanda, conforme constatado em pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2001), em parceria com o Instituto Brasileiro do Vinho IBRAVIN, com
consumidores de vinho dos principais centros do pas. Para aumentar o consumo, o estudo
indicou que, para capitais como Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro, seria
necessrio uma reduo de preo, e para as cidades como Belo Horizonte, Braslia, So Paulo
e Ribeiro uma maior divulgao e esclarecimento sobre os benefcios do vinho. Neste caso, a
inteno seria uma migrao de consumidores do mercado cervejeiro e de cachaas para o
mercado de vinhos.

2.16 Projeo de Gerao de Empregos e Arrecadao de Impostos no Setor

30
Em 29/08/2006, a Assemblia Estadual do Rio Grande do Sul aprovou o projeto de lei do deputado Estilac
Xavier, classificando o vinho como alimento funcional, o que reduziria a incidncia de ICMS de 12% para 7%.
Aps alguns dias, o ento governador Germano Rigotto vetou o projeto.

40

A produo brasileira de cerveja foi de 97 milhes de hectolitros em 2006. A fabricao
da cerveja feita em cerca de 70 fbricas e estima-se que a capacidade produtiva do pas
chegue a 131,5 milhes de hectolitros. No ano de 2006 foram gerados 150.000 empregos
diretos e indiretos (Fonte: Sindicerv).
Considerando que para uma produo de 97 milhes de hectolitros, em 2006, foram
gerados 150.000 empregos, utilizando mesma proporo de gerao de emprego e renda a
cada 1 milho-hc produzidos so gerados aproximadamente 1.546 empregos. Da mesma
forma se a capacidade produtiva do setor for plenamente atendida, o montante aproximado de
postos de trabalho gerado de 203.351 vagas.
A questo do emprego to relevante economia que um dos temas mais importante aos
formuladores de polticas de emprego diz respeito ao papel do setor pblico na dinmica do
mercado de trabalho. Neste caso, uma alternativa para movimentar a economia amplamente
defendida pelas empresas da indstria cervejeira incentivar o crescimento econmico
atravs do aumento do consumo de cervejas. Para tanto, seriam necessrios incentivos
governamentais como a reduo de impostos e conseqente aumento no nmero de empregos,
sendo uma alternativa para o governo assegurar o nmero de postos de trabalho gerados
atravs da imposio do aumento da proporcionalidade de empregos gerados.
O prximo captulo verifica os impactos sociais e econmicos do crescimento da
indstria cervejeira nacional. Sendo que essa anlise foi efetuada para o Brasil a partir de
estatsticas que relacionam o aumento do custo social brasileiro ao consumo de bebidas
alcolicas.

3. ALCOOLISMO

3.1 Consideraes Iniciais

Este captulo aborda o custo social do crescimento do consumo de bebidas alcolicas,
dentre as quais a cerveja. Todos os resultados apresentados foram obtidos atravs de
estatsticas e pesquisas sobre o tema, sendo que as informaes padro do captulo foram
todas obtidas no 1 Levantamento Nacional Sobre os Padres do Consumo de lcool na
Populao Brasileira
31
.
Introduzindo o captulo sero mostradas as estatsticas relevantes sobre os efeitos nocivos
do consumo de bebidas alcolicas, apresentando-as como um problema de sade pblica,
assim como o aumento do consumo do lcool entre os brasileiros. Em seguida estabelecido
o perfil das pessoas que bebem em grandes quantidades, alm dos efeitos relacionados ao
consumo abusivo, tais como: doenas causadas pelo consumo alcolico, acidentes de trnsito,
sade da criana gerada pela me alcolatra, aumento dos gastos do governo com a
Previdncia Social, entre outros.
Os ltimos pontos do captulo abordam os efeitos da publicidade sobre o consumo
alcolico, assim como as polticas pblicas de combate ao lcool, o apoio da populao a
estas polticas e o custo social da cerveja para a economia.
Dentre todas as drogas, o lcool a mais utilizada no mundo inteiro, sendo que o
consumo nocivo de bebidas alcolicas responsvel por cerca de 3% de todas as mortes que
ocorrem no planeta
32
, incluindo desde cirrose e cncer hepticos at acidentes, quedas

31
Trata-se de um diagnstico do consumo de lcool no Brasil, fornencendo subsdios para elaborao de
polticas pblicas relacionadas ao consumo abusivo das bebidas alcolicas. Foi elaborado pela Secretaria
Nacional Antidrogas Senad em parceria com a Universidade Federal do Estado de So Paulo Unifesp;
32
No Brasil, o alcoolismo responsvel por quase 75% de todos os acidentes de trnsito com mortes (Fonte:
DENATRAN), 39% de ocorrncias policiais (Fonte: Polcia Federal), 40% das consultas psiquitricas e 40% dos
acidentes de trabalho (Fonte: Previdncia Social).

42

intoxicaes e homicdios (Meloni e Laranjeira, 2004). No Brasil, especialmente a cerveja e a
aguardente fazem parte do contexto cultural como componente de socializao e tambm de
festividades. Ou seja, o consumo de bebidas alcolicas est inserido na cultura brasileira
como fato social no s aceito, mas freqentemente reforado. De acordo com dados de dois
estudos nacionais realizados pelo Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas
Psicotrpicas (CEBRID) da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), o consumo de
bebidas alcolicas tem aumentado e, conseqentemente, crescem os problemas que derivam
do seu uso. Em 2001, 68,7% da populao brasileira j havia utilizado algum tipo de bebida
alcolica pelo menos uma vez na vida, quatro anos depois, este consumo chegou a 74,6%.
Um aspecto importante das estatsticas que existem diferenas significativas entre
homens e mulheres. Um estudo recente do Banco Mundial (2002) sobre a Amrica Latina
demonstra como os homens tendem a beber mais e a ter maiores prejuzos em relao ao
lcool, enquanto as mulheres sofrem mais com a violncia relacionada a seu consumo. Esse
relatrio aponta uma srie de polticas que deveriam ser implementadas para diminuir o custo
social do lcool, levando-se em considerao as diferenas entre os gneros. Esses e muitos
outros estudos demonstram que o lcool um problema de sade pblica no Brasil e que
necessita de intervenes vigorosas por parte da sociedade e dos diferentes nveis de governo.

3.2 O Consumo Alcolico do Brasileiro Adulto

De acordo com o 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na
Populao Brasileira
33
, 52% dos brasileiros acima de 18 anos bebem (pelo menos 1 vez ao
ano). Entre os homens so 65% e entre as mulheres 41%. No outro lado esto os 48% de
brasileiros abstinentes, que nunca bebem ou que bebem menos de 1 vez por ano. No grupo
dos adultos que bebem, 60% dos homens e 33% das mulheres consumiram 5 doses ou mais na
vez em que mais beberam no ltimo ano. Do conjunto dos homens adultos, 11% bebem todos
os dias e 28% consomem bebida alcolica de 1 a 4 vezes por semana so os que bebem
muito freqentemente e freqentemente, conforme demonstrado no quadro 7:

33
Pesquisa realizada entre os meses de novembro de 2005 at abril de 2006, aonde foram realizadas 3.007
entrevistas, em 143 municpios brasileiros, de norte a sul do Pas.

43

Sexo Tipo de Bebedor
Feminino Masculino
TOTAL (%)
Muito Freqente (dirio) 2% 10% 6%
Freqente (bebe de 1 a 4 vezes por semana) 11% 28% 19%
Ocasional (bebe de 1 a 3 vezes por semana) 16% 19% 17%
Raramente (bebe menos de 1 vez por ms) 12% 8% 10%
Abstinente (bebe menos de 1 vez por ano) 59% 35% 48%
Quadro 7: Freqncia de Consumo X Gnero %
Fonte: Elaborado pela autora com base no 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool
na Populao Brasileira (2007).

Com relao freqncia com que se bebe a faixa etria que se abstm 79% maior entre
os brasileiros de 60 anos ou mais do que entre os jovens de 18 a 24 anos. Alm da freqncia
com que se bebe outro dado fundamental saber quanto se consome numa nica ocasio. As
mulheres mais velhas representam o grupo de menor consumo: at 2 doses. A literatura
internacional estabelece em 5 doses ou mais para os homens e 4 doses ou mais para as
mulheres, num nico episdio o limite do beber em binge, expresso que indica um
estado de consumo de risco, ou beber muitas doses num curto espao de tempo.
A figura 12 relaciona a quantidade de lcool consumida, a faixa etria e o nmero de
doses consumidas.
Quantidade Consumida conforme faixa etria
0
10
20
30
40
50
60
70
80
18 - 24
anos
25 - 34
anos
35 - 44
anos
48 - 59
anos
60 anos
acima
12 doses ou mais
5 a 11 doses
2 a 4 doses
at 2 doses

Figura 12: Quantidade Consumida X Faixa Etria.

44

Entre os estados brasileiros, os da Regio Sul so os que apresentam os maiores ndices
de consumo freqente, mas em outras regies (especialmente Nordeste, Centro-Oeste e
Norte) que os brasileiros bebem geralmente em maiores quantidades nas ocasies em que
consomem bebidas alcolicas. O quadro 8 relaciona quantidade de lcool consumida, a faixa
etria, a classe socioeconmica, o nmero de doses consumidas, o sexo e a regio do pas.
Gnero Faixa Etria Regio do Brasil Classe Econmica
Intensidade
de Beber M F
18 a
24
25 a
24
35 a
44
45 a
59
60
ou + N CO NE SE SUL A B C D E
Bebedor em
"binge" 133 42 48 94 88 110 80 9 11 75 70 32 2 26 84 69 15
Bebedor
freqente 209 126 48 76 102 75 84 15 29 89 161 58 10 57 130 119 23
Bebedor
menos
freqente 152 181 44 82 78 80 60 24 32 89 131 67 7 60 107 129 20
Menos
freqente 114 223 188 294 171 210 140 22 27 82 141 51 8 43 122 119 44
Abstnico 342 824 368 588 488 501 401 78 92 348 503 112 20 100 321 555 154
Total 950 1396 696 1135 927 977 766 147 191 682 1005 321 47 287 765 991 256
Quadro 8: Relaes de Consumo de lcool.

Entre as bebidas consumidas pelos entrevistados da pesquisa, a cerveja a mais
consumida em maiores quantidade e freqncia, correspondendo a 61% do consumo total,
conforme demonstra a figura 13.

Classificao das bebidas alcolicas mais
consumidas
2%
61%
25%
12%
Bebidas "ice"
Cerveja
Destilados
Vinho

Figura 13: Classificao das Bebidas Alcolicas mais consumidas
34
%.

34
A categoria cerveja incluiu a cerveja e o chope. Bebidas ice so destilados misturados com refrigerantes
ou sucos industrializados. Destilados incluem cachaa, usque, vodca, conhaque, rum.

45

Entre todas as classes socioeconmicas analisadas, a cerveja o produto mais consumido.
Contudo, importante identificar que na classe A o vinho apresenta consumo prximo
cerveja, e na classe E os destilados
35
representam uma posio de destaque como o segundo
produto mais consumido. As relaes de consumo so demonstradas no quadro 9.

Classe socioeconmica:
Consumo milhes-hc
Tipo de
bebida
Consumo Total: 2006
milhes-hc A B C D E
Vinho 40 11,60 8,00 7,53 7,23 5,42
Cerveja 97 15,42 21,25 22,28 20,57 17,48
Bebidas "ice" 3 0,91 1,36 0,45 0,45 -
Destilados 19 3,67 1,96 2,20 3,67 7,58
Total 159 32 33 32 32 30

Quadro 9: Tipos de Bebida X Classe Socioeconmica.

3.3 O Consumo Alcolico do Adolescente Brasileiro

O consumo de lcool entre os adolescentes brasileiros, apesar de no ser legalizado para
menores de 18 anos de idade, comea em mdia entre 13,9 a 15,3 anos, sendo que a
regularidade deste consumo, entre os que bebem, inicia-se entre 14,6 e 17,3 anos
36
. Pelas
particularidades desse grupo, a anlise dos padres de consumo inclui algumas variveis
muito importantes, como, e principalmente, a idade em que comeam a beber, o nmero de
doses que tomam em mdia a cada vez que bebem, e a quantidade de bebida ingerida nas
ocasies em que bebem muito.

Diferentemente do que ocorre na populao adulta, em que o nmero de bebedores
masculino bem maior que o feminino, entre os jovens, a distribuio das freqncias de

35
Entre os destilados, a cachaa (aguardente) a bebida mais consumida (66%), seguida pela vodka (28%),
usque (24%), conhaque (23%), rum (13%), entre outras bebidas (4%). No so apresentados os dados
relacionados s diferenas quanto a gnero, faixa etria e classe socioeconmica por causa do nmero
relativamente pequeno de bebedores quando feito esse tipo de diviso;

36
Segundo o 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao Brasileira.

46

consumo no apresenta diferena significativa entre os gneros, conforme evidenciado na
figura 14.

2%
0%
10%
6%
16%
14%
8%
11%
64%
69%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Muito Frequente
(todos os dias)
Freqente
(vezes/por
semana)
Ocasional (1-3
vezes / ms)
Raramente
(menos de 1
vez)
Abstinente
(menos de 1 vez
no ano)
Homens
Mulheres

Figura 14: Freqncia de Consumo X Gnero %.

Os malefcios ocasionados pelo lcool, atingem principalmente os bebedores em
binge
37
, sendo esta a prtica que mais deixa o adolescente exposto a uma srie de problemas
de sade e sociais. Os riscos vo desde acidentes de trnsito (evento mais comum e com
conseqncias mais graves) at o envolvimento em brigas, vandalismo e a prtica do sexo
sem camisinha.
A figura 15 demonstra uma estatstica importante entre os adolescentes que beberam (nos
ltimos 12 meses antes da pesquisa), que o percentual de 18% entre os adolescentes
bebedores em binge de 1 vez por semana ou mais.

37
Binge = beber em grandes quantidades.

47

Bebedores em Binge
51%
15%
12%
18%
4% Menos de 1 vez por ms
1 vez por ms
2 a 3 vezes por ms
1 vez por semana ou mais
No sabem

Figura 15: Bebedores em binge.

Assim como ocorre na populao adulta, entre os adolescentes a cerveja ou chope a
bebida alcolica mais consumida. Para chegar a essa concluso, cruzaram-se dados sobre a
quantidade de doses consumidas de cada bebida e a freqncia com que so consumidas
(figura 16).

5%
8%
10%
4%
32%
38%
53%
50%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Bebidas "ice" Destilados Vinho Cerveja
Tipos de bebidas alcolicas mais consumidas entre os jovens
Homens
Mulheres

Figura 16: Tipos de bebida alcolica segundo o gnero em %.

48

Grande parte dos jovens de 14 a 17 anos vive a transio de um estado de dependncia
dos pais para uma condio de autonomia pessoal. O uso de bebidas alcolicas, entre estes
adolescentes, intensifica-se medida que o lcool pode ser considerado um desinibidor, um
facilitador de relaes, uma forma de diminuir as crescentes tenses do cotidiano.
Em termos de tipo de bebida alcolica, a cerveja a bebida alcolica mais consumida
entre os jovens no Brasil. importante considerar dois fatores em relao cerveja, segundo
a literatura internacional: 1) que esse aumento no consumo aparentemente se d em adio
ao consumo de outras bebidas e no em substituio a elas (Carlini-Marlatt, 2001), e 2) a
exemplo do que ocorre com a populao brasileira, embora seja consumida por todas as faixas
etrias, a cerveja a bebida alcolica usada com mais freqncia pelos jovens estudantes
(Galdurz e cols., 1997).

3.4 Perfil do Beber em Binge no Brasil

O lcool a droga preferida dos brasileiros, segundo o Ministrio da Sade: 68,7% do
total, seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolticos, cocana, xaropes e
estimulantes, nesta ordem. No Pas, 90% das internaes em hospitais psiquitricos por
dependncia de drogas acontecem devido ao lcool (Fonte: Datasus).
Segundo o 1 Levantamento dos Padres de Consumo de lcool na Populao Brasileira
Adulta, do total desta, 28% j beberam em binge pelo menos 1 vez. Considerando uma
populao de 120 milhes de pessoas com 18 anos e acima, tem-se que 33,6 milhes de
adultos j beberam de forma abusiva pelo menos em uma ocasio. O beber abusivamente,
mesmo que esporadicamente, causa maiores custos sociais e de sade do que o uso contnuo e
dependente (Makela e cols., 2001; Miller e cols., 2005).
Dois tipos de problema, acidentes e violncia, merecem destaque em relao ao binge.
Dentre os acidentes destacam-se os de carro, quedas, atropelamentos, afogamentos. Vrios
tipos de violncia esto relacionados ao binge, como homicdios, roubo, violncia
domstica, agresses fsicas, violncia sexual, etc.
Da populao brasileira adulta, os homens so os que mais bebem em binge, conforme
indicado na figura 17.

49

40%
18%
25%
23%
35%
59%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Bebou em
"binge" no
ltimo ano
Bebeu mas no
em "binge"
No bebeu no
ltimo ano
Beber em "binge" entre os adultos
Homens
Mulheres

Figura 17: Beber em binge entre os adultos.

Segundo informaes obtidas na pesquisa, a quantidade dos adultos jovens que j
beberam em binge maior que os outros grupos analisados. Ou seja, o beber em grandes
quantidades um fenmeno que diminui com a idade. Consequentemente, a populao mais
jovem a mais vulnervel a apresentar maiores problemas com o lcool. As propores de
bebedores em binge por faixa etria so apresentadas na figura 18.

40%
23%
37%
37%
21%
42%
28%
27%
45%
20%
26%
54%
10%
22%
68%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
18 a 24
anos
25 a 34
anos
35 a 44
anos
45 a 59
anos
60 anos
ou mais
Beber em "binge" segundo a faixa etria
Bebeu em "binge" no ltimo ano
Bebeu mais no em "binge"
No bebeu no ltimo ano

Figura 18: Beber em binge adultos variao com a idade em %.

50


Entre as bebidas, a cerveja a mais consumida entre os que bebem grandes quantidades.
Em ambos os sexos, o consumo total representa 73% do total das bebidas. Um dado
interessante evidenciado o fato de o vinho representar uma proporo maior das doses em
binge para a mulher do que para o homem. No caso dos destilados, h evidncias
estatsticas para dizer o contrrio: ele representa uma proporo maior das doses em binge
nos homens do que nas mulheres (figura 19).

1%
2%
73%
75%
17%
4%
9%
19%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Bebidas "ice"
Cerveja
Destilados
Vinho
Perfil do consumo em "binge" entre os adultos brasileiros: 2006
Mulheres
Homens

Figura 19: Adultos que beberam pelo menos uma das bebidas em binge no ano 2006 - em %.

Do conjunto de adultos que beberam em binge no ano de 2006, 27% beberam em bares
ou em baladas. Os jovens beberam mais quando estavam no bar e na balada, enquanto os
mais idosos estavam em casa. Na Regio Sul, os adultos bebem menos no bar ou balada
(13%) e mais em festas (35%). A casa foi o segundo local mais utilizado pelas pessoas que
mais beberam em 2006 (23%). A relao entre o gnero, o local, a idade e a regio do beber
em binge descrita no quadro 10.

51

Quadro 10: Local onde mais bebeu adultos: gnero idade regio em %
Fonte: 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao Brasileira (2007, pg
27).

3.5 Problemas Relacionados ao Beber Abusivamente

Segundo a Secretaria Municipal de Transportes de So Paulo, os efeitos do lcool
(Etanol) sobre um indivduo com 70 kg de peso podem ser descritos como se segue no quadro
11.
EFEITOS DO LCOOL

DOSE (d/l
38
) EQUIVALENTE EFEITOS
2 a 3
1 copo cerveja, 1 clice
peq.vinho, 1 dose usque
ou de outra bebida
destilada
As funes mentais comeam a ficar
comprometidas. A percepo da
distncia e da velocidade so
prejudicadas.
3,1 a 5
2 copos cerveja, 1 clice
grande de vinho, 2 doses de
O grau de vigilncia diminui, assim
como o campo visual. O controle

38
d/l = decigramas por litro.

52

bebida destilada cerebral relaxa, dando a sensao de
calma e satisfao.
5,1 a 8
3 ou 4 copos de cerveja, 3
copos de vinho, 3 doses de
usque
Reflexos retardados, dificuldades de
adaptao da viso a diferenas de
luminosidade; superestimao das
possibilidades e minimizao de
riscos; e tendncia agressividade.
8,1 a 15
grandes quantidades de
bebida alcolica
Dificuldades de controlar automveis;
incapacidade de concentrao e falhas
de coordenao neuromuscular.
15,1 a 20
bebida alcolica
Embriaguez, torpor alcolico, dupla
viso.
20,1 a 50
bebida alcolica
Embriaguez profunda.
> 50
bebida alcolica
Coma alcolico.
Quadro 11: Efeitos do lcool no organismo
Fonte: Revista Planto Mdico: Drogas, Alcoolismo e Tabagismo apud Secretaria Municipal de Sade de So
Paulo (1998, pg. 67).

Segundo a OMS
39
, 17 milhes de brasileiros so dependentes do lcool, sendo que so
inmeros os efeitos causados ao consumidor exagerado, entre eles:

Os danos sade causados pelo uso do lcool:

O alcoolismo responsvel por 60 tipos de doenas diferentes que matam (Fonte:
OMS);
Nos ltimos 20 anos, 90% de todas as internaes hospitalares causadas por drogas
foram motivadas pelo lcool (Fonte: Cebrid
40
);
A dependncia ao lcool responde por 40% das consultas psiquitricas no Brasil
(Fonte: Cebrid);
Estudo coloca os efeitos alcoolismo para a sade no mesmo nvel do tabagismo e
hipertenso (Fonte: OMS).

Dano Social ao Pas ocasionado pelo consumo de bebidas alcolicas:

39
OMS = Organizao Mundial da Sade;
40
Cebrid - Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas.

53

A OMS estima que o dano social provocado pelo consumo de lcool no Brasil seja
da ordem de 7,3% do PIB.
Dados da OMS: os impostos gerados pelas indstrias de bebida equivalem em mdia a
3,5% do PIB brasileiro;
O dficit brasileiro entre os benefcios proveniente da indstria do lcool (impostos,
emprego e renda) e o dano social de 3,8 % do PIB (Fonte: OMS, 2003);
O oramento do Sistema nico de Sade (SUS) em 2004 foi de cerca de R$ 34 bilhes
(Fonte: SUS).

3.6 Beber X Dirigir

O artigo 165 do Cdigo de Trnsito Brasileiro determina que pena gravssima dirigir
sob a influncia de lcool em nvel superior a seis decigramas por litro de sangue. A pena para
esta infrao compreende multa, reteno do veculo e suspenso do direito de dirigir.

Mesmo
assim,

segundo estimativa do Departamento Nacional de Trnsito (Denatran), 20.039 pessoas
morreram no trnsito brasileiro em 2001. Isso com um contingente de motoristas
relativamente limitado, j que a frota de veculos brasileira estimada em menos de 32
milhes para 2001. Para efeito de comparao, em um dos pases mais motorizados do
mundo, os Estados Unidos, a frota de veculos em 2004 era de cerca de 235 milhes e o
nmero de vtimas fatais em acidentes de trnsito foi de 42 mil no mesmo ano. No ano de
2006 Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) atravs de um estudo aprofundado
constatou que o pas perde, por ano, R$ 22 bilhes em acidentes de carro nas rodovias
brasileiras
41
.
O Ministrio da sade estabelece que o nvel de lcool no sangue legalmente aceito para
dirigir no Brasil de 6d/l, o que corresponde a cerca de 2 a 3 doses de bebidas alcolicas
(dependendo de variveis como gnero e peso do indivduo). Retornando ao 1 Levantamento
Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao Brasileira, ao analisar a
freqncia do dirigir alcoolizado entre os brasileiros adultos que dirigem e que consumiram

54

alguma bebida alcolica no ano anterior ao estudo, verifica-se que praticamente a metade dos
homens e 87% das mulheres relatam nunca ter dirigido sobre o efeito do lcool. Contudo,
existe um grupo, de homens e mulheres, que muito freqentemente bebem e dirigem. Cerca
de 11% dos homens referem que mais da metade das vezes em que beberam acabaram
dirigindo sob o efeito do lcool. A Figura 20 apresenta a freqncia com que os indivduos
que declararam terem dirigido alcoolizados, nos ltimos 12 meses anteriores a pesquisa, o
fizeram depois de beber 3 doses ou mais vezes.

Frequncia de Dirigir Alcolizado segundo o gnero
9,90%
12,30%
11,50%
2,00% 2,60%
8,20%
86,40%
0,50%
53,50%
2,90%
0,70% 1,20%
4,30% 4,00%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Nunca
aconteceu
S uma vez 2 ou 3 vezes Algumas vezes Menos da
metade das
vezes
Mais da metade
das vezes
Quase todas as
vezes
Homens
Mulheres

Figura 20: Freqncia de dirigir alcoolizado nos ltimos 12 meses - em%.

Cerca de dois teros dessa populao (indivduos adultos que dirigem alcoolizados) j
dirigiram depois de consumir 3 doses de lcool ao menos 2 ou 3 vezes no ano anterior
pesquisa. Ou seja, daqueles que declararam ter dirigido sob o efeito do lcool, a maioria
bebeu mais do que o limite legal do Brasil nessas ocasies. O consumo de lcool de 3 doses
ou mais seguido do ato de dirigir nunca ocorreu em 17,6% dos casos, demonstrando o alto
ndice de pessoas que j beberam antes de dirigir figura 21:

41
O Seguro DPVAT (Danos Pessoais Veculos Automotores Terrestres) seguro obrigatrio - reembolsa aos
envolvidos em acidentes de trnsito em R$ 6.754,01 para indenizao por morte; at R$ 6.754,01 para invalidez
permanente e at R$ 1.524,54 por DAMS ( Reembolso de Despesas Mdicas e Hospitalares).

55

Freqncia de dirigir aps beber acima do permitido por lei
17,60%
18,30%
23,70%
19%
1,20%
6,50%
13,30%
Nunca aconteceu
S uma vez
2 ou 3 vezes
Algumas vezes
Menos da metade das vezes
Mais da metade das vezes
Quase todas as vezes

Figura 21: Freqncia de dirigir depois de beber 3 doses ou mais em %

Tambm foi perguntado aos entrevistados que haviam dirigido aps beber 3 ou mais
doses onde haviam bebido na ltima vez que o fizeram. Os resultados podem ser vistos no
quadro 12, abaixo. Um quarto dessas situaes ocorreu em bares e baladas. Essa informao
importante para que sejam implementadas polticas pblicas com medidas preventivas, tais
como o fechamento de bares aps 22:00 horas.
Local Total de adultos (%)
Bar/restaurante prximo escola ou faculdade 4
Bar/balada 26
Casa de amigo 20
Casa de parentes 14
Evento esportivo 2
Fazendo compras 1
Festa 17
Trabalho 1
Restaurante 1
Residncia 7
Outros 7

Quadro 12: Local do consumo do lcool antes da ltima situao de beber e dirigir - em %.

56

O quadro 13 demonstra a freqncia da carona com motoristas alcoolizados segundo o
gnero. Aqui ao exemplo do que ocorre ao dirigir alcoolizado, tambm os homens se expem
mais ao risco do que as mulheres 45% deles j foram carona de motorista alcoolizado ao
menos 1 ou 2 vezes (total da amostra: n = 2.346; total de homens: n = 950 e total de mulheres:
n = 1.396).

Quadro 13: Passageiro de motoristas alcoolizados - em %.
Fonte: 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao Brasileira (2007, pg.
32).

Os quadros 12 e 13 demonstram duas informaes bastante significativas: o alto ndice de
pessoas que bebem e dirigem, e o nmero elevado de pessoas que se dispem a serem caronas

57

de alcoolizados. Considerando que o Brasil uma sociedade motorizada, e o beber e dirigir
est associado a festas e comemoraes, a tendncia que, do ponto de vista de sade pblica,
ocorra um provvel aumento do nmero de acidentes com motoristas alcoolizados. O quadro
14 apresenta o nmero de carros licenciados no pas entre os anos de 1957 at 2006.

Ano Automveis Comerciais Leves Caminhes nibus Total
1959 14.371 41.988 37.211 3.159 96.729
1960 40.980 48.517 38.053 3.949 131.499
1970 308.024 66.390 38.167 4.123 416.704
1980 793.028 93.768 81.933 11.532 980.261
1990 532.791 128.431 41.313 10.091 712.626
2000 1.075.832 161.464 61.624 16.383 1.315.303
2005 1.325.333 208.461 77.366 15.358 1.626.518
2006 1.473.285 220.024 72.930 19.723 1.785.962

Quadro 14: Nmero de carros licenciados no pas.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Denatran (1959 2006).
.

No quadro acima, possvel verificar um aumento anual significativo de veculos
licenciados no pas, ou seja, considerando que boa parcela dos acidentes de trnsito est
relacionada ao lcool, a tendncia de que, se no houver polticas pblicas para beber e
dirigir, os nveis de acidentes venham a aumentar.
Na cidade de So Paulo, os profissionais da Unifesp avaliaram a dimenso do problema.
Em torno de 13% dos acidentes cujas vtimas sofreram algum tipo de trauma fsico esto
associados ao consumo abusivo de lcool. Entre os traumas sofridos esto desde contuses e
cortes superficiais, mais freqentes, at casos graves de politraumatismo. O estudo foi
desenvolvido com 518 pessoas atendidas no pronto-socorro do Hospital So Paulo (HSP).
Desse nmero, 493 passaram pelo teste de bafmetro. O trabalho integra um projeto da OMS
que escolheu centros de 12 pases, onde o HSP o nico representante no Brasil integrado ao
projeto. Em 13% dos 493 casos, o lcool apareceu como um dos fatores que provocaram o
acidente, sendo que esse nmero pode ser ainda maior, pois dos 56 pacientes que se

58

acidentaram por causa de terceiros, 64% suspeitavam que o causador das leses pudesse ter
ingerido bebidas alcolicas.
Embora no existam estatsticas nacionais, no Brasil, estudos pontuais e regionais
apontam ingesto de bebidas alcolicas como uma das principais causas de mortes por
causas externas. No estado de So Paulo, o Instituto Mdico Legal (IML) efetuou uma
retrospectiva de todas as autpsias realizadas no ano de 1999 (janeiro-dezembro) nos casos de
morte por acidentes de trnsito, mostrando que aproximadamente 50% destes bitos tiveram
relao com o uso de lcool (quadro 15).
Tipo de morte N.de casos %

Homicdios 5 284 49,16
Acidentes Trnsito 2 360 21,96
Morte Suspeita 1 232 11,46
Outros 1 045 09,72
Sem histria 420 03,91
Suicdios 408 03,80
Total 10 749 100,00
Quadro 15: Vtimas de morte por causas externas do ano de 1999, autopsiadas no IML-SP.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do SIMERS apud IML-SP (2006).

Com relao ao sexo, os dados do IML-SP demonstram que a incidncia de acidentes de
trnsito em relao presena de alcoolemia positiva
42
maior na classe masculina. Dos 2110
homens mortos no perodo, 49,9% apresentaram nveis de lcool no organismo acima do
permitido. Os resultados so descritos no quadro 16.

Alcoolemia Grupo geral Homens Mulheres

Negativos 1.251 (53%) 1.058 (50,1%) 193 (77,2%)
Positivos 1.109 (47%) 1.052 (49,9%) 57 (22,8%)
Total 2.360 2.110 250

Quadro 16: Distribuio das mortes por acidentes de trnsito em relao
presena de alcoolemia positiva e ao sexo da vtima.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do SIMERS apud IML-SP (2006, pg. 2).

42
Alcoolemia positiva a presena de lcool no organismo do indivdua em nvel acima ao permitido.

59

O beber e dirigir uma dificuldade sria vivenciada pela sociedade brasileira,
contudo, existem outros problemas que atingem a populao, conforme se verifica nas
prximas sees.

3.7 lcool e Gravidez

O uso de lcool durante a gravidez pode trazer inmeros problemas para a criana,
incluindo hiperatividade, dficits de ateno, aprendizado e memria. Diversos fatores podem
contribuir para o surgimento de problemas no feto: padro de consumo de lcool,
metabolismo materno, suscetibilidade gentica, perodo da gestao em que o lcool foi
consumido e vulnerabilidade das diferentes regies cerebrais da criana.
A mais grave das conseqncias relacionadas ao consumo de lcool durante a gestao
a Sndrome Fetal Alcolica (SFA) que foi descrita pela primeira vez por Jones e Smith em
1973. A criana com SFA apresenta algumas anormalidades faciais e exibe dficit intelectual,
problemas cognitivos e problemas comportamentais. Apesar de apresentar inmeras
limitaes intelectuais, a criana com SFA apresenta boa performance nos testes de
linguagem, mas ainda assim apresenta dificuldades nos testes de aritmtica e em seu
desenvolvimento scio-emocional. Outra grave conseqncia do uso de lcool durante a
gravidez o chamado Efeitos Relacionados ao lcool (ERA). Crianas que apresentam ERA
apresentam algumas das caractersticas dos pacientes com Sndrome Fetal Alcolica, mas
geralmente exibem melhor performance nos testes de inteligncia. Existem trs formas de
ERA - Parcial: crianas que apresentam algumas alteraes faciais e comprometimentos
neurolgicos; Malformaes Congnitas: crianas que apresentam uma ou mais
anormalidades congnitas, incluindo anormalidades cardacas, auditivas, renais e esquelticas;
Desordem Neuropsicomotoras: crianas que apresentam dficits em sua capacidade de
aprendizado, especialmente em aritmtica e em seu desenvolvimento scio-emocional.

3.8 Relao entre o lcool, o Trabalho e a Previdncia Social

60

Um alcolatra pode criar constrangimentos, problemas, e desentendimentos no ambiente
de trabalho, pois o alcoolismo responsvel por alto ndice de absentesmo, uma vez que a
falta ao trabalho decorrente de embriaguez bastante comum. Da mesma forma, os acidentes
de trabalho tm ligao em alto percentual com o beber imoderado dos empregados. At o
final do sculo passado, havia uma tendncia do Poder Judicirio a proteger o alcolatra,
determinando que as empresas dessem ao menos uma oportunidade de tratamento, e s com a
reincidncia no alcoolismo que a empresa deveria ento proceder com a demisso por justa
causa. Mas agora se percebe uma tendncia da Justia do Trabalho a confirmar o direito das
empresas em demitir o empregado por causa de embriaguez eventual ou em servio.
Segundo a Organizao Internacional do Trabalho (OIT), no Brasil, o lcool responsvel
por 50% das faltas ao trabalho e provocou 339 mil acidentes do trabalho que ocorreram no
pas em 2002. Apesar de ser considerado uma doena, o alcoolismo est tipificado na CLT
como motivo de falta grave, acarretando a demisso por justa causa
43
.
Os profissionais mais suscetveis dependncia alcolica, segundo o relatrio, so os
trabalhadores em fundies, cozinheiros, profissionais do ramo de bares e restaurantes e os
que atuam na construo civil. Alm dos prejuzos no ambiente de trabalho, outro problema
relevante ao alcoolismo, relacionado ao tema, o custo gerado Previdncia Social
44

decorrente de bebidas alcolicas. Como exemplo, na cidade de Florianpolis, Santa Catarina,
um estudo avaliou os pacientes encaminhados pela percia mdica do Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS), no perodo compreendido entre outubro de 1997 e maio de 1998,
os resultados indicam que 10% dos benefcios concedidos possuam relao sndrome de
dependncia do lcool. Deste total 71,43% representam indivduos com incapacidade
permanente ou indefinida para o trabalho.
Outro dado relevante sobre os custos sociais do lcool apresentado pelo Ministrio da
Sade do Brasil, atravs do Datasus
45
, os quais demonstram que no perodo (1993-1998) os

43
Artigo 482 da CLT a embriaguez habitual ou em servio constitui justa causa para resciso do contrato de
trabalho pelo empregador. No Tribunal Superior do Trabalho (TST), tanto a doutrina quanto a jurisprudncia
inclinam-se pela configurao de justa causa mesmo que a embriaguez em servio ocorra uma s vez;
44
Anexo 5: nmero de benefcios concedidos pela Previdncia Social entre os anos de 1980 e 2006;
Anexo 6: custo em R$ dos benefcios concedidos pela Previdncia Social entre os anos de 1980 e 2006;
45
Banco de dados do Sistema nico de Sade.

61

Transtornos Mentais foram a 4 causa de internao hospitalar, sendo suplantada apenas
pelas internaes por problemas respiratrios, problemas circulatrios e partos. Dentre as
426.602 internaes do ano de 1998, a proporo de pessoas com Transtornos Mentais
devido ao lcool foi de 20,6%.
3.9 Violncia X Alcoolismo
Pesquisa realizada no IML de So Paulo, durante um ano, revelou que de cada 100
corpos, 95 tinham lcool no sangue. Em 11 deles foram encontrados mais de 4 gramas de
lcool por litro de sangue, suficiente para matar. Para chegar ao resultado os pesquisadores
analisaram 19.230 laudos cadavricos feitos entre 1986 e 1993 no IML central de So Paulo.
Em 18.263 corpos - 95% do total, foi registrada a presena de lcool. Em 2.115 cadveres -
11% dos que tinham ingerido bebida, havia lcool suficiente para levar morte, ou seja, se
estas pessoas no tivessem morrido por outras causas, morreriam de qualquer forma pelo
lcool (Fonte: SIMERS apud IML-SP, 2006).
Em outra pesquisa realizada na cidade de So Paulo, restrita Zona Sul (1995),
os bares aparecem como o maior centro gerador de violncia. A maioria das mortes ocorrem
justamente nesses locais. A pesquisa mostrou, tambm, que o fator lcool mais relevante em
casos de violncia domstica. Cerca de dois teros dos casos de espancamento de crianas
ocorrem quando os pais agressores esto embriagados. O mesmo ocorre em brigas entre
marido e mulher.
evidente a relao entre o lcool e a violncia. Cidades que se preocuparam em reduzir
o uso abusivo de bebidas alcolicas, regulamentando horrio de funcionamento do comrcio
de venda desse tipo de bebida, fizeram cair o ndice de violncia, e vrias cidades brasileiras
obtiveram sucesso com essa poltica. Dentre elas o melhor exemplo Diadema, com
reconhecimento internacional e que j foi motivo de muitos estudos, inclusive por parte da
Universidade Federal de So Paulo.
Alguns dados comprovam que o Brasil um pas bastante violento, e que o lcool um
gerador de violncia:
- Segundo o Ministrio da Sade, o lcool o maior problema de sade pblica no pas
(Fonte: Ministrio da Sade);

62

- quase unanimidade entre os psiclogos, psiquiatras e outros profissionais da rea da sade
que o lcool a porta principal de entrada para o uso de outras drogas (Fonte: Cebrid);
- Dados da OMS mostram que o nmero de homicdio em um ano no Brasil maior do que o
nmero de mortes na guerra do Iraque, e que enquanto a populao brasileira no 3% da
populao mundial, o pas responsvel por 11% do nmero de homicdios ocorridos no
mundo (Fonte: OMS);
- Segundo o Ministrio da Sade, no Brasil a primeira causa de morte so as doenas
crdiovasculares, a segunda so as neoplasias e a terceira so as causas externas (violentas),
sendo que estas, entre os jovens, so a primeira causa de morte;
- A taxa de mortalidade de jovens brasileiros, est entre as dez mais altas do mundo (Fonte:
IBGE, 2006);
- Estudo realizado pelo Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) nos anos de
1997 e 1998, em treze estados brasileiros, revelou que 25,78% dos homicdios ocorrem na
madrugada;
- Estudo realizado no IML de Fortaleza concluiu que, no ano de 2006, 60% dos bitos
registrados naquele Instituto tinham relao com o lcool.

3.10 Efeitos da Publicidade sobre o Consumo Alcolico

Estudos cientficos sobre o efeito das propagandas nos consumidores de bebidas
alcolicas no Brasil so bastante restritos. Um estudo que coletou dados entre 1992 e 1994
encontrou que a freqncia da propaganda de lcool na televiso era maior que a freqncia
de outros produtos compatveis, como cigarros e bebidas no-alcolicas. Entre os temas mais
freqentemente exibidos constava o apelo a smbolos nacionais (carnaval, futebol, mulheres
bonitas, entre outros), conformidade s regras do grupo, relaxamento e humor (Pinsky e
Arajo, 1999).
A influncia da publicidade sobre o consumo de lcool, principalmente entre os jovens,
um assunto to relevante que esta uma preocupao de impacto global sobre as estratgias
de marketing e propaganda da indstria do lcool. Este fato deu origem a um encontro
internacional organizado pela OMS com especialistas de mais de 30 pases em Valncia,

63

Espanha, em maio/2002. Nesse encontro, um trabalho apresentou uma anlise inicial sobre a
situao das indstrias de lcool e de propaganda de bebidas alcolicas no Brasil,
principalmente no que se refere aos jovens bebedores (Pinsky, 2004). Entre outras evidncias,
essa pesquisa indicou que, embora alguns avanos tenham ocorrido em relao ao
desenvolvimento de leis mais rgidas sobre a propaganda, milhes de reais permanecem sendo
gastos apenas com a propaganda de bebidas alcolicas, em especial de cerveja. A grande
maioria das indstrias do setor (nacionais e multinacionais) expressa pouca preocupao com
seu papel nos problemas relacionados ao alcoolismo. No caso especfico dos jovens, as
empresas afirmam ser este o pblico alvo para os seus produtos, o que pode ser verificado por
grande parte das propagandas de lcool, em que os jovens e/ou temas concernentes a estes so
freqentemente exibidos.
Por muitos anos, investigaes procurando uma relao direta entre propaganda de lcool
e o consumo produzindo dados contraditrios: apesar de intuitivamente parecer lgico que
milhes gastos na promoo desses produtos visam o aumento do consumo agregado, essa
relao difcil de comprovar, e as indstrias alegam que seu objetivo simplesmente
promover a fidelidade ou troca de marcas, sem aumento total do consumo. Uma das razes
dessa dificuldade de obteno de resultados claros pelos pesquisadores deve-se prpria
natureza da propaganda, cujo efeito parece dar-se mais em decorrncia da contnua exposio
do que como produto de uma exposio nica (Partanen & Montonen, 1998). De fato, a
propaganda faz parte dos chamados quatro Ps das tcnicas efetivas de venda de produtos:
price (preo), place (praa), product (produto) e promotion (promoo).
Estudos recentes utilizando uma metodologia adequada conseguiram mostrar associaes
importantes entre a propaganda de bebidas alcolicas e o consumo de lcool, principalmente
entre os jovens. Uma das pesquisas mais interessantes investigou, longitudinalmente, o
impacto de apreciar propagandas de cerveja aos 18 anos com o consumo de lcool, e o auto-
relato de comportamento agressivo relacionado ao uso de lcool aos 21 anos (Casswell e
Zhang, 1998). Foram estudados 630 sujeitos, e a relao acima foi encontrada, indicando um
impacto especfico das propagandas de cerveja na televiso sobre o consumo. Outros dois
estudos, transversais, verificaram, atravs de modernas anlises estatsticas, respostas s
propagandas na televiso de bebidas alcolicas entre jovens de 10 a 17 anos (Wyllie e
Casswell., 1998a) e de 18 a 29 anos (Wyllie e Casswell., 1998b). Ambos os estudos
encontraram correlaes entre as respostas positivas s propagandas e o beber atual. O

64

primeiro estudo sugeriu que tanto o gostar quanto s freqncias de exposio s propagandas
aumentaram a freqncia do beber atual e a expectativa de beber no futuro. Muitos dos
entrevistados sentiram que as propagandas de lcool os encorajavam a beber, especialmente
os meninos de 10 a 13 anos, que aceitavam as propagandas como realsticas (Wyllie e
Casswell,1998a). A segunda pesquisa apontou que apreciar as propagandas de cerveja na TV
contribuiu para a quantidade de lcool consumida, o que por sua vez teve um papel no nvel
de problemas relacionados ao lcool. A concluso desse estudo d sustento hiptese que
aponta o gostar de propagandas de cerveja como tendo uma relao tanto direta quanto
indireta (atravs de crenas positivas) com a quantidade de lcool consumido (Wyllie e
Casswell., 1998b).

3.11 Polticas Pblicas de Combate ao lcool

O consumo de lcool um problema srio de sade pblica. Ele prejudica diretamente a
sade daqueles que bebem em excesso e contribui para comportamentos de risco que causam
leses e deficincias no prprio alcolatra e em outras pessoas. O consumo de lcool est
vinculado sade de longo prazo e s conseqncias sociais por meio de trs mecanismos
intermedirios: intoxicao, dependncia e efeitos biolgicos diretos, conforme demonstra a
figura 22:

Figura 22: Modelo de consumo de lcool, resultados intermedirios e conseqncias no longo prazo.
Fonte: DCP2, (captulo 47 figura 47.1).
EFEITOS
TXICOS
PADRES DE CONSUMO VOLUME CONSUMIDO
DEPENDNCIA
INTOXICAO
PROBLEMAS
SOCIAIS
CRNICOS
PROBLEMAS
SOCIAIS
AGUDOS
ACIDENTES
ou TRAUMAS
(DOENA AGUDA)
DOENA
CRNICA

65

As intervenes governamentais podem ter como objetivo a preveno de consumo de
bebidas como a cerveja, ou para atenuar seus efeitos. Algumas dessas intervenes operam no
nvel da populao, como medidas legislativas e impostos, maior rigor no cumprimento das
leis, e campanhas nos meios de comunicao de massas. Outras medidas so dirigidas
especificamente para os maiores consumidores para incentivar modificaes de
comportamento.
Assim como no caso do fumo, as polticas pblicas podem ter um efeito substancial no
consumo excessivo de lcool. O acrscimo da tributao do lcool aumenta o preo e
conseqentemente reduz o consumo. A restrio de vendas a um nmero limitado de pontos
de venda licenciados ou a restrio do horrio para venda de bebidas alcolicas podem
dificultar a obteno de lcool. Leis severas contra dirigir alcoolizado tambm desencorajam
o consumo excessivo, previnem acidentes de trnsito e podem reduzir as fatalidades no
trnsito em 7% (Fonte: Denatran). Quando a execuo do teste do bafmetro est includa, as
fatalidades e as leses no-fatais em acidentes podem cair em at 15% (Fonte: Polcia
Rodoviria Federal). Contudo, para tornar esses tipos de medidas pblicas eficazes,
consenso entre os rgos competentes que as leis e os regulamentos devem ser cumpridos,
seja por meio de policiamento adicional para reduzir o contrabando e a evaso de impostos ou
realizando testes de bafmetro aleatrios nos motoristas a fim de desencorajar a direo em
estado alcoolizado.
Quando essas medidas so eficazes, suspenses ou restries na propaganda de produtos
alcolicos removem as idias que incentivam o consumo de lcool; entretanto, os fabricantes
muitas vezes substituem estes por outros mtodos de marketing, como o patrocnio de eventos
esportivos. Conseqentemente, a restrio da propaganda, segundo estimativas da OMS, pode
s reduzir o consumo de alto risco de bebidas alcolicas em 1% a 3%.
Nas trs regies em que o consumo de lcool excessivo encontrado em mais de 5% da
populao Europa e sia Central, Amrica Latina e Caribe e frica Subsaariana as
intervenes governamentais mais eficazes so as que aumentam a tributao. As estratgias
de controle restantes (teste aleatrio do bafmetro, reduo do horrio de venda nos fins de
semana e uma ampla suspenso da propaganda) produziram efeitos na faixa de 200 a 400

66

AVAD
46
evitados por populao de 1 milho ao ano. Nas outras duas regies com taxas mais
baixas de consumo de bebidas alcolicas, especialmente entre a populao feminina, a carga
que evitvel por meio de tributao bastante reduzida. O custo-eficcia das intervenes
tambm varia bastante entre as regies, considerando que a tributao, as limitaes das
vendas no varejo e a suspenso de propaganda sejam as intervenes mais custo-efetivas nas
trs regies com maior predominncia de consumo elevado de bebidas alcolicas, essas
mesmas intervenes esto entre as de menor custo-eficcia nas outras regies em
desenvolvimento.
Em geral, os pases com maior predominncia de consumo alto do lcool devem reprimir
a demanda atravs da tributao
47
. Em lugares aonde o consumo excessivo de bebidas
alcolicas constitui uma carga menor para a sade pblica, outras estratgias de intervenes
que restrinjam o fornecimento ou a promoo de bebidas alcolicas parecem ser promissoras.
O consumo exagerado de lcool, juntamente com o fumo, responsvel por uma parte
relativamente grande e crescente da carga de doenas em pases de renda mdia e baixa.
Ambos demonstram que, para algumas condies de risco, as medidas de polticas pblicas
podem ter um custo-benefcio substancialmente maior do que o tratamento mdico
individualizado. Mostram tambm que boas polticas de sade tambm podem ser boas
polticas fiscais. O valor dessas intervenes multi-setoriais um tema comum nos captulos
que tratam de dependncias e se repete na anlise de intervenes para reduo de doenas
cardiovasculares, diabetes e leses por acidentes de trnsito.
Desde o incio de 2007, o governo brasileiro vem preparando uma ofensiva contra o
consumo nocivo de bebidas alcolicas. As medidas buscam conter os ndices de violncia e
acidentes de trnsito em conseqncia do uso abusivo do lcool, alm de tentar diminuir os
efeitos da bebida na sade dos brasileiros. O pacote envolve o Gabinete de Segurana
Institucional da Presidncia da Repblica, alm dos ministrios da Justia, Sade, Educao e
Cidades. A medida tem o apoio de instituies da sociedade civil de combate ao alcoolismo,
mas incomoda o setor publicitrio e artstico. A questo de sade pblica, na avaliao da
professora Sandra Cristina Pillon, da Universidade de So Paulo (USP). A especialista
orientou a pesquisa de mestrado da Escola de Enfermagem da USP de Ribeiro Preto com
1.014 motoristas entre agosto e novembro de 2006. O estudo chegou a resultados

46
AVAD = anos de vida perdidos por morte.

67

preocupantes: 72% dos motoristas entrevistados bebem nas estradas. Desse total, 31% j
sofreram acidentes de trnsito. A maioria (81%) era de caminhoneiros. Verificamos que 45%
bebem excessivamente, mais que trs doses por vez e pelo menos uma vez por semana
ingerem mais que cinco doses (Fonte: USP, 2007).
De acordo com os Alcolicos Annimos (AA), uma organizao no-governamental,
cerca de 10% da populao brasileira dependente de lcool. Em algumas regies, o nmero
chega a at 17%. Anualmente, so atendidos 6 mil grupos e 120 mil pessoas em todos os
estados brasileiros. No exterior, a ONG possui 3 milhes de participantes, em 150 pases. O
Brasil um pas onde os grupos de AA mais crescem, representando 18,4% dos membros de
AA fora dos Estados Unidos e Canad. Considerando ainda que apenas 5% dos membros que
entram em grupos de AA ficam mais do que um ano, o nmero total de dependentes que
circulavam pela instituio nos seus 50 anos de existncia no Brasil bastante representativo.
A entidade Narcticos Annimos, que tem poucos anos de Brasil, a entidade paralela que
mais cresce hoje, e estima-se que possua 600 grupos com 12.000 membros.

No Brasil, as estratgias sobre o uso de bebidas alcolicas envolvem aes como o
controle de publicidade e propaganda de destilados, vinhos e cerveja, e a proibio de venda
de bebida s margens das rodovias. As aes foram planejadas pelos ministrios da Justia e
da Sade e fazem parte do Programa Nacional de Segurana Pblica e Cidadania (Pronasci),
apelidado de PAC da Segurana. Na anlise das cervejarias nacionais, o controle de
publicidade no vai afetar o mercado, pois o setor acredita que a propaganda no define o
incremento nas vendas, apenas a escolha da marca. O Conselho Nacional de Auto-
regulamentao Publicitria (Conar) se manifestou contra a proposta do governo em nota
conjunta com outras representaes do setor. O Conar divulgou manifesto questionando a
competncia da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) para legislar sobre o
assunto, alm da referncia s limitaes da Anvisa em impor restries liberdade de
expresso comercial por meio de resolues. Dentro das polticas pblicas para solucionar a
questo do alcoolismo no Brasil, o Ministrio da Sade tem o papel de estabelecer as
diretrizes que iro direcionar as atividades do governo. So elas:

47
O anexo 4 descreve os efeitos da reduo da taxa tributria sobre bebidas alcolicas em Maurcio.

68

1. Reduzir o consumo global e pessoal, informando e estimulando o consumo seguro de
bebidas alcolicas.
Este objetivo est associado diminuio das situaes de vulnerabilidade e dos dados
sade em situaes de violncia associadas ao consumo de lcool.
2. Mudar o padro do uso nocivo, especialmente entre jovens.
O consumo excessivo de bebidas alcolicas entre jovens contribui decisivamente para
situaes de sexo desprotegido, acidentes de trnsito, alm de ampliar as chances do
desenvolvimento de dependncia e outros danos sade.
O tema consumo de lcool e jovens foi prioritrio para o Ministrio da Sade em 2007.
3. Proteger os segmentos mais vulnerveis da populao (jovens, indgenas e grvidas).
Alguns grupos populacionais tm relaes complexas com o lcool, necessitando de
respostas intersetoriais e de nfase preventiva, como o caso da populao
indgena.
4. Reduzir drasticamente a associao de acidentes/mortes no trnsito com o consumo de
bebidas alcolicas.
Segundo o Ministrio da Sade, metade dos acidentes de trnsito esto associados ao
consumo de bebidas alcolicas e estas ocorrncias atingem, em sua maioria, a populao
jovem.
5. Controlar a propaganda de bebidas alcolicas, especialmente da cerveja
48
.
Restriguir os horrios das propagandas, assim como os contedos dos anncios que
associam diretamente o consumo da bebida a esportes, ao sucesso e tambm sexualidade,
que induzem a um padro de consumo nocivo (beber excessivo).
6. Assegurar o acesso ao tratamento na rede pblica de sade (ateno bsica, ambulatrios e
Centros de Ateno Psicossocial e hospitais gerais).

48
A lei que adverte sobre os malefcios do lcool nas propagandas a de N 9.294 de 1996 (anexo 6).

69

A cobertura do atendimento pelo SUS para tratamento de doenas associadas ao uso do
alcol aumentou no pas nos ltimos anos. Contudo, preciso ser expandida para garantir a
acessibilidade em todos os nveis do sistema de sade.
7. Combater o estigma social relacionado aos dependentes de lcool.
Os dependentes de lcool necessitam de apoio e acolhimento por parte de familiares,
amigos e sociedade. A excluso social e do sistema de sade contribui para o agravamento da
situao destas pessoas, diminuindo as suas possibilidades de melhora.
8 Apoiar o Pacto Nacional pela Reduo de Acidentes e Violncia associados ao Consumo
de Bebidas Alcolicas.
Algumas medidas de fiscalizao e de restrio do acesso a bebidas alcolicas so
responsabilidade dos municpios (ex. venda para menores de 18 anos, proibio da venda de
bebidas alcolicas em postos de gasolina). O Ministrio da Sade pretende auxiliar
tecnicamente a elaborao de medidas municipais. O Pacto liderado pela Frente Nacional de
Prefeitos.
9. Implantar aes de reduo de danos relacionadas ao consumo de lcool: treinamento de
garons, promoo da sade, orientaes sobre o consumo seguro de lcool, estratgias de
preveno em eventos culturais, alternativas de transporte, fornecimento gratuito de gua
potvel em boates.
necessrio desenvolver estratgias para reduzir as conseqncias negativas decorrentes
do uso de lcool em locais onde este consumo realizado. So aes fundamentalmente
intersetoriais que devem incluir a participao de todos os segmentos envolvidos. Algumas
iniciativas neste sentido tm sido realizadas e tambm garantidas por meio de legislao
especfica.
10. Discutir estratgias eficazes de consenso para a restrio do acesso a bebidas alcolicas
(proibio de venda em postos de gasolina na cidade e em estradas estaduais, e prximo a
estabelecimentos de educao, cumprimento da legislao que impede a venda para menores
de 18 anos, regulamentao de horrios de funcionamento).

70

A diminuio de pontos de venda uma das medidas mais eficazes para reduzir o
consumo de bebidas alcolicas. Estas estratgias e seus objetivos devem ser discutidos na
comunidade local para garantir o apoio e, conseqentemente, seus resultados positivos.
O consumo de lcool e suas conseqncias tm um forte componente intersetorial para
constituir respostas eficazes. Por exemplo, diversificar as oportunidades de lazer e esportes
em comunidades com altos ndices de consumo de bebidas alcolicas uma estratgia que
pode auxiliar na reduo do consumo. Da mesma forma, o investimento em pesquisas que
possam avaliar o tratamento da rede pblica de sade, investigar estratgias que possam
auxiliar na reduo dos danos causados pelas bebidas alcolicas, e medir a eficcia das
estratgias adotadas parte essencial da poltica do lcool.
Conforme recomendado pela OMS, tambm para o Ministrio da Sade, uma estratgia
eficaz para reduzir o consumo de bebidas alcolicas aumentar os impostos destes produtos,
fazendo com que o preo final seja influenciado e acompanhe este novo aumento.

3.11.1 Apoio da Populao s Polticas Pblicas Sobre o Uso de Bebidas Alcolicas

O 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de lcool na Populao
Brasileira mediu pela primeira vez, no Brasil, a opinio da populao geral nacional sobre
diversas polticas relacionadas ao acesso, promoo, preveno do consumo e ao
tratamento do alcoolismo. Nenhum estudo nacional sobre o lcool havia, at o momento,
utilizado como base toda a populao, especificamente, para obter informaes sobre esse
tipo de opinio.
Algumas pesquisas internacionais j chegaram a identificar os grupos de indivduos mais
propensos a apoiar as polticas, a exemplo das mulheres, das pessoas casadas, dos mais velhos
e daqueles que tm baixo consumo de lcool. Ao revelar a aceitao pela populao brasileira
de medidas e programas potencialmente eficazes, o estudo, alm de indito, constitui uma
ferramenta til para a discusso de polticas pblicas sobre as bebidas alcolicas.
Cinco perguntas foram feitas com o objetivo de avaliar a opinio da populao sobre
restries propaganda de bebidas alcolicas. A grande maioria dos respondentes apoiou
medidas que de alguma forma fazem restries s propagandas. O quadro 17 descreve

71

algumas medidas adotadas pelo governo e a percepo da populao quanto aprovao de
medidas preventivas.

Aumentar Reduzir No alterar
1. Programas de preveno ao uso de
lcool em escolas.
92,80% 1,80% 5,4%
2. Programas de tratamento para o
alcoolismo.
92,50% 1,50% 6,0%
3. Campanhas publicitrias com o
patrocnio do governo federal.
86,90% 2,20% 10,90%
4. Impostos sobre bebidas alcolicas. 60,60% 11,60% 27,80%
5. Idade mnima legal de 18 anos
para a venda de bebidas alcolicas.
55,80% 4,10% 40,10%
Quadro 17: Aprovao de medidas preventivas aumento ou diminuio (n = 2346) - em%.

O que estes resultados demonstram que a populao brasileira favorvel utilizao
de uma srie de aes pblicas com o objetivo de regular o mercado do lcool. Existe a
percepo, por parte da populao, de que maiores controles sociais so necessrios para
estabelecer regras de comercializao e utilizao social do lcool. O quadro 18 demonstra o
grau de aprovao para a implantao de outras medidas preventivas.

Questionamento Sim No
1. Os programas de tratamento para alcoolismo deveriam ser
gratuitos e obrigatrios em postos de sade, ambulatrios da
rede pblica e hospitais gerais?
95,70% 4,30%
2. Deveria haver um aumento na fiscalizao dos
comerciantes em relao venda de bebidas alcolicas para
menores de idade?
94,80% 5,20%
3. Voc concorda com esta afirmativa: na maior parte do
Brasil muito fcil para uma criana ou adolescente menor
de 18 anos comprar bebida alcolica em qualquer ponto-de-
venda, mesmo sendo a venda a menores de idade proibida
por lei?
94,30% 5,70%

72

4. As propagandas de bebidas alcolicas deveriam reservar
um espao para mensagens de alerta sobre os riscos e
problemas causados pelas bebidas alcolicas?
93,80% 6,20%
5. Deveria haver mensagens de alerta sobre os riscos e
problemas causados pelas bebidas alcolicas nos rtulos das
garrafas ou latas, alm de j existirem Beba com
moderao?
93% 7%
6. Deveria haver mais esforos por parte dos
estabelecimentos para que continuem a servir bebidas
alcolicas a clientes que j esto bbados?
90% 10%
7. Deveria haver restrio de horrio para a venda de bebidas
alcolicas?
76,20% 23,80%
8. Deveria ser proibida a venda de bebidas alcolicas em
padarias, confeitarias e mercearias?
74,10% 25,90%
9. Deveria ser proibida a propaganda de bebidas alcolicas
na televiso, incluindo vinho, cachaa, cerveja ou chope,
usque, rum, vodka e outros tipos de destilados e
fermentados?
67,90% 32,10%
10. As companhias fabricante de bebidas alcolicas deveriam
ser proibidas de patrocinar eventos culturais e esportivos?
55,20% 44,80%
Quadro 18: Aprovao de medidas preventivas aumento ou diminuio (n = 2346) em %.

Segundo o prprio governo federal admite como exemplo do que ocorre em outras naes
em desenvolvimento, no Brasil, o sistema de controle de bebidas alcolicas na sade pblica
est em formao. Este fato decorre de razes histricas, culturais e tambm econmicas.
Os Ministrios da Sade das naes em desenvolvimento, na sua grande maioria dispem
de poucos recursos financeiros, agregando outras prioridades de sade pblica tais como a m
nutrio, saneamento bsico e doenas endmicas, que no afetam os pases desenvolvidos no
mesmo nvel. O desenvolvimento e as polticas de controle do lcool acabam por no ser,
conseqentemente, uma alta prioridade. A respeito das polticas de controle do lcool
especficas, a maioria destes pases no tem monoplio estatal sobre a produo ou a venda de
bebidas alcolicas. Os horrios de venda, regras de propaganda, limites de idade e ndice de
lcool no sangue permitido para dirigir um carro, para mencionar alguns exemplos, podem ser
legalmente prescritos, mas raramente ou eventualmente so reforados. Partido destes

73

pressupostos, quanto maior for o interesse da populao em regular este mercado, maior ser
o papel que ela ir exercer sobre o governo na definio de polticas pblicas aplicveis ao
mercado brasileiro do lcool, em especial ao consumo de cervejas.

3.12 Custo Social da Cerveja para o Pas

Algumas estatsticas apresentadas neste captulo so capazes de dimensionar o custo
social para a economia brasileira do alcoolismo em termos de mortes, acidentes, problemas no
trabalho e outros. Neste caso, se a quantidade consumida de bebidas alcolicas for reduzida,
em especial a de cerveja, ir reduzir o dano para a sociedade em 1milho/hc por ano.
Conforme apresentado, 61% do mercado consumidor de bebidas alcolicas no Brasil so
de cerveja. Neste caso, mantendo-se a proporcionalidade, a tendncia a reduo dos ndices
de vrios problemas sociais brasileiros apresentados no captulo:
Segundo estatstica apresentada, 13% dos acidentes cujas vtimas sofreram traumas
em So Paulo (IML-SP) no ano de 1999 estavam relacionadas ao lcool. Baseando-se na
demanda de cerveja registrada no pas em 2006 e que seja mantida a mesma proporo, se o
consumo de cerveja no Brasil reduzir-se em 1 milho/hc por ano (0,63% do total consumido),
o ganho percentual em termos de reduo de vtimas 0,08%.
Da totalidade de vtimas que sofreram traumas em So Paulo no ano de 1999 50%
dos acidentes com morte estavam relacionadas ao lcool. Uma reduo de 0,63% do total
consumido de cerveja no ano de 2006, utilizando mesma proporo em nvel nacional,
representa uma diminuio de 0,315% no percentual de acidentes com fatalidades no pas.
Da totalidade das faltas ao trabalho ocorridas no pas no ano de 2002, 50% estavam
associadas ao lcool. Sendo assim, a representatividade de no consumir 1milho/hc de
cervejas ocasiona um abatimento de 1,26% no percentual de faltas totais.
Outra informao relevante com relao influncia da cerveja no mercado de
trabalho o nmero de acidentes ocasionados pelo lcool: 339.000 em 2002. Sendo a cerveja
responsvel por 61% deste consumo, 206.790 tiveram ligao direta com este produto, ou
seja, uma diminuio de 1milho de hectolitros na demanda por cerveja representa uma
proporo de reduo de acidentes no trabalho de 2.135 casos.
A questo previdenciria um dos principais desafios da administrao pblica no
pas, pois o nvel de gerao de receita insuficiente para financiar as despesas. Considerando

74

o levantamento ocorrido em Florianpolis entre os anos de 1997/98 como referncia para o
Brasil, 10% dos benefcios concedidos pela Previdncia Social estavam atrelados ao lcool.
Neste caso uma reduo de 1milho de hectolitros do volume consumido de cerveja no pas
possibilita uma diminuio no nmero total de benefcios concedidos em 0,063%.
Considerando o levantamento da OMS para o ano de 2003, a relao entre a
arrecadao de impostos, gerao de emprego e renda proveniente da indstria do lcool e o
custo social de todos os problemas relacionados ao alcoolismo representam para o pas um
dficit de 3,8% do PIB. Neste caso, o custo de 1milho de hectolitros de cerveja
49
para a
economia R$149.988.648,60.
Experincias em outros pases j demonstraram que os danos e os custos sociais e
econmicos relacionados ao uso do lcool, em especial da cerveja, podem ser reduzidos. Para
isso so necessrias polticas capazes de diminuir a quantidade de lcool consumida e
estratgias conducentes mudana de comportamentos e contextos de consumo prejudiciais.

49
Considerando um PIB para o ano de 2006 de R$ 626.519.000.000 atualizado at outubro de 2007 segundo
metodologia da Revista Conjuntura Econmica FGV.
4. Impactos Sociais de Mudanas no Valor dos Impostos Sobre a Cerveja

A literatura apresentada no segundo captulo nos permite postular que os impostos sobre a
cerveja contribuem para a sua demanda, pois, influenciam diretamente o preo do produto. Com
base nesta constatao e aps a extensa anlise, ser abordado neste captulo a metodologia
utilizada para a estimao, que compreende uma anlise quantitativa do grau de relao existente
entre os impactos sociais decorrentes da mudana no valor dos impostos sobre a cerveja.
Introduzindo o captulo demonstrada a metodologia utilizada para estimar a demanda por
cerveja: variveis utilizadas, fonte de dados e perodo destas variveis, entre outros. Os
resultados da estimativa da demanda sero abordados no segundo ponto. Por fim, so
analisados os impactos sociais das mudanas no valor dos impostos sobre a cerveja.

4.1 Metodologia

A estimao ser obtida a partir de sries temporais, atravs de anlise economtrica
posvel testar se a srie temporal subjacente estacionria, sendo que neste caso a regresso
no espria. A metodologia ser utilizada depender da estacionaridade destas sries, para
verificar a estacionaridade dos dados necessrio observar a existncia de raiz unitria em
cada uma das variveis includas no modelo, o que ser efetuado utilizando o teste ADF
(augmented Dickey Fuller). Se as variveis forem estacionrias em nvel, ser utilizada a
metodologia dos Mnimos Quadrados Ordinrios. Contudo, se as variveis apresentarem raiz
unitria, ou seja, se no forem estacionrias ao nvel, a metodologia utilizada ser a dos
vetores auto-regressivos (VAR).
A principal vantagem de estudar sries temporais o fato delas acompanham uma
varivel ao longo do tempo, o que acaba por propiciar muitas observaes sobre cada varivel
da srie. Alm disso, mtodos de previso menos complexos normalmente permitem alcanar

76

total compreenso de suas suposies e limitaes e da interpretao de seus resultados.
Atravs da abstrao de regularidades contidas nos fenmenos observveis de uma srie
temporal, existe a possibilidade de se construir um modelo matemtico como uma
representao simplificada da realidade para o mercado cervejeiro nacional.
A suposio bsica de qualquer tcnica de previso de sries temporais que o valor
observado na srie fica determinado por um padro que se repete no tempo e por alguma
influncia aleatria. Isto significa que mesmo quando o padro exato que caracteriza o
comportamento da srie temporal tenha sido isolado, algum desvio ainda existir entre os
valores da previso e os valores realmente observados. Essa aleatoriedade no pode ser
prevista. Entretanto, se isolada, sua magnitude pode ser estimada e usada para determinar a
variao ou erro entre as observaes e previses realizadas.

4.1.1 Modelo Economtrico

A previso do consumo de cerveja no Brasil, afetado por variveis que interferem na
sua demanda ao longo do tempo. Segundo os estudos empricos apresentados no captulo
introdutrio, a cerveja o principal produto substitituto do vinho, comforme constataes em
pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001), em parceria com
o Instituto Brasileiro do Vinho IBRAVIN, e por Triches, Siman e Caldart (2004) ao
analisarem a cadeia produtiva da uva e do vinho da Serra Gacha. Considerando que a cerveja
uma varivel relevante para estimar a demanda por vinho, a tendncia que o vinho tambm
seja importante para estimar o consumo de cerveja.
O Programa Brasileiro de Desenvolvimento de Aguardente de Cana, ao elaborar uma
pesquisa sobre o mercado de cachaa, constatou que a cerveja um bem substituto
aguardente. Neste caso, a exemplo do vinho, considerando que a cerveja uma varivel
relevante para estimar o consumo por aguardente, a tendncia que a aguardente tambm
seja uma varivel importante para estimar o consumo de cerveja.
O mercado cervejeiro apresenta caractersticas semelhantes ao tabagista, sendo que, nos
seus relatrios de 2000 e 2007, o Ministrio da Sade dos Estados Unidos e o Instituto de
Medicina da Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos recomendam aumentar os

77

impostos dos cigarros a fim de reduzir o consumo destes e arrecadar fundos para o controle do
tabaco. Considerando que o comportamento do consumo de cerveja esteja atrelado ao preo
do prprio bem e dos seus bens substitutos, a tendncia que quanto maiores forem os preos
da cerveja em decorrncia do aumento dos impostos, menor ser o seu consumo.
Estudos empricos, como o apresentado por Rosa, Consenza e Leo (2006) na introduo,
constatam a ligao direta entre o aumento do nvel de renda per capita da populao
brasileira e do consumo de cerveja, assim como o baixo poder aquisitivo do mercado
consumidor. Neste caso, a varivel salrio mnimo relevante para explicar a demanda por
cerveja no Brasil, pois ela possibilita avaliar a renda da populao financeiramente menos
favorecida.
Para verificar o comportamente da demanda por cerveja em relao aos determinantes
descritos acima o objetivo deste captulo averiguar quais destas sries temporais so
relevantes para explicar o consumo de cerveja no Brasil. Em um primeiro momento ser
apresentada a funo a ser utilizada, alm de apresentar a metodologia que ser utilizada, para
que, num segundo momento, sejam realizados os testes empricos.
Com o objetivo de analisar a demanda por cervejas no Brasil e considerando os estudos
apresentados na introduo ser utilizada a seguinte funo:

Consumo = f (Cerveja, Vinho, Aguardente, Salrio) ( 1 )

onde:

Consumo = demanda por cerveja;
Cerveja = preo da cerveja;
Vinho = preo do vinho;
Aguardente = preo da aguardente;
Salrio = salrio mnimo.

Os preos da aguardente, da cerveja e do vinho foram obtidos no Centro de Estudos e
Pesquisas Econmicas IEPE - da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cuja coleta
feita mensalmente nos mercados de Porto Alegre, desde 1980, para estes itens com a
finalidade de calcular o ndice de inflao. O salrio mnimo foi obtido no banco de dados do
IPEADATA e, o consumo per capita de cerveja foi obtido no Sindicerv e Instituto Lafis,
ambas s instituies baseiam suas informaes em levantamentos realizados pela Embrapa e
pelo IBGE. Para efeitos de anlise, os valores das sries temporais utilizados na estimativa

78

referem-se srie temporal mensal do ms de janeiro de 1985 at dezembro de 2006, num
total de 264 observaes
50
. Os preos da cerveja, vinho e aguardente, foram corrigidos at
outubro de 2007 pelo ndice Geral de Preos - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da fundao
Getlio Vargas.
A forma funcional escolhida foi o modelo Log-Linear, pois a que melhor consegue
explicar o consumo de cerveja. Segundo o Critrio de Informao de Akaike (AIC) e do
Critrio de Informao de Schwarz (CIS), ao comparar um ou mais modelos, o preferido
aquele que apresenta menor valor. Opta-se ento por estes critrios, pois ambos impem uma
maior penalidade do que o R
2
ajustado ao acrscimo dos regressores da equao.
Para analisar se a especificao do modelo est correta, efetuado o Teste Reset onde,
neste caso, como o valor calculado de F significativo a 5%, pode-se aceitar a hiptese de
que a especificao do modelo est incorreta. Outros indcios ocorrem no exame visual dos
resduos, bem como o valor de d de Durbin-Watson que se encontra na zona de rejeio
indicando autocorrelao positiva. Neste caso, o novo modelo proposto exclui a varivel
Vinho, mesmo a cerveja conseguindo explicar a demanda por vinho conforme exposto no
captulo introdutrio, opta-se por excluir esta varivel, pelo fato da maior parcela dos
consumidores de cerveja estarem localizados entre as classes econmicas menos favorecidas e
o vinho ser uma bebida de valor agregado alto. A nova funo utilizada ser:

Consumo = f (Cerveja, Aguardente, Salrio) ( 2 )

onde:

Consumo = demanda por cerveja;
Cerveja = preo da cerveja;
Aguardente = preo da aguardente;
Salrio = salrio mnimo.

A partir da funo acima, possvel representar graficamente a srie, conforme
demonstrado na figura 22:

50
Anexo 3: Srie Temporal de janeiro de 1985 at dezembro de 2006.

79

-.8
-.4
.0
.4
.8
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06
Residual Actual Fitted

Figura 23: Comportamento da srie.
Fonte: Estimaes feitas pela autora, utilizando o software economtrico EViews 5.0.

Baseando-se, na figura acima, foi realizado o teste de raiz unitrio (ADF) para as
variveis, considerando que no grfico acima no h tendncia determinstica, o mesmo foi
realizado sem constante e sem tendncia. Os valores crticos para estabelecer a existncia ou
no de raiz unitria foram tabuladas por MacKinnon (1996).

Valores crticos Varivel de
Defasagens
Estatstica t
1% 2% 3%
Integrao
D(Consumo) 2 -27,73999 -2,574208 -1,942094 -1,615856 I ( 0 )
D(Consumo) 1 -3,757266 -2,574208 -1,942094 -1,615856 I ( 0 )
D(Cerveja) 2 -9,704192 -2,574320 -1,942110 -1,615846 I ( 0 )
D(Cerveja) 1 -8,853586 -2,574062 -1,942074 -1,615869 I ( 0 )
D(Aguardente) 2 -6,905199 -2,574396 -1,942120 -1,615839 I ( 0 )
D(Aguardente) 1 -11,41215 -2,573886 -1,942050 -1,615885 I ( 0 )
D(Salrio) 2 -10,36922 -2,574245 -1,942099 -1,615852 I ( 0 )
D(Salrio) 1 -9,047160 -2,574026 -1,942069 -1,615872 I ( 0 )

Quadro 19: Teste de Raiz Unitria sobre as variveis.
Fonte: Estimaes feitas pela autora, utilizando o software economtrico EViews 5.0.

Como nenhuma das variveis, apresentam raiz unitria, a metodologia utilizada para
estimar a funo 2 ser a dos Mnimos Quadrados Ordinrios.

Os resultados obtidos na regresso so listados na equao 3:

80

Log(Consumo) = 1,43 - 0,09 Cerveja + 0,15 Aguardente 0,001 Salrio ( 3 )
(-6,75) (9,09) (-4,53)

Pelo fato da forma funcional das variveis explicativas no ser exclusivamente
logartmica, em virtude dos resultados do Critrio de Informao de Akaike (AIC) e do
Critrio de Informao de Schwarz (CIS), no possvel estimar diretamente as elasticidades,
sendo que as estimativas so listadas abaixo:

Q = e
a +
1
PCerv. +
2
PAg. +
3
Sal.
( 4 )

Q = -0,09e
1,43 -0,09PCerv. + 0,15PAg. 0,001Sal.
( 5 )
dQ = e
1,43 -0,09PCerv. + 0,15PAg. 0,001Sal.
( 6 )
dP
Cerv
.

dQ = - 0,09 Q ( 7 )
dP
Cerv
.

pCerv.
= dQ P = - 0,09QP = -0,09P
Cerv
. ( 8 )
dP
Cerv
. Q Q

pAg.
= dQ P = + 0,15QP = + 0,15P
Ag.
( 10 )
dP
Ag
. Q Q

pSal.
= dQ P = - 0,01QP = - 0,01P
Sal
. ( 11 )
dP
Sal.
Q Q

O quadro 20 resume o efeito que cada varivel exerce sobre a demanda por cerveja a
partir de um aumento em cada uma delas:

Varivel Efeito
Demanda por cerveja (consumo) _______
Preo da cerveja (cerveja) Negativo
Preo da aguardente (aguardente) Positivo
Salrio Mnimo (salrio) Negativo
Quadro 20: Variveis includas na funo demanda por cerveja e os efeitos obtidos.
Fonte: Estimaes feitas pela autora, partir dos resultados obtidos no software economtrico EViews 5.0.

81

Com base nos resultados expressos no quadro acima possvel identificar que caso
objetive-se incentivar a demanda por cerveja, o preo deste produto deve diminuir e o preo
da aguardente aumentar, alm disso, o poder de compra da populao de baixa renda no pode
subir. Em contrapartida, se o objetivo for reprimir a demanda por cerveja, o preo deste
produto deve aumentar e o preo da aguardente diminuir, neste caso, o poder de compra da
populao de baixa renda precisa aumentar.

4.2 Resultados da Estimativa da Demanda

Elasticidade Preo da Cerveja com Relao ao Consumo de Cerveja

pcerv.
= dQ P = - 0,09QP = -0,09P
Cerv
. ( 11 )
dP
Cerv
. Q Q

A correlao entre o preo da cerveja e a quantidade demandada inversa, ou seja, a
uma alterao positiva nos preos corresponder uma variao negativa na quantidade
demandada. Supondo que o preo da cerveja aumente em 5% gradativamente atravs da
majorao progressiva dos impostos em 1,5% incidentes sobre o produto, permanecendo
inalterado o poder aquisitivo da populao e o preo de bens substitutos, o consumo ir
diminuir. Sendo assim, a arrecadao tributria tambm ir diminuir, mas no na mesma
proporo de reduo do consumo total, uma vez que os impostos sobre o produto sofreram
um pequeno aumento que reflete diretamente nos nveis de arrecadao. Com relao aos
empregos gerados no setor, os mesmos iro diminuir aos mesmos nveis de diminuio do
consumo total. Os resultados so demonstrados no quadro 21:

Preo da Cerveja R$/Litro Elasticidade Consumo Total: Milhes de Hc Arrecadao: Bilhes de R$ Nmero de Empregos no setor
2,93 100,00% 97,00 10,30 150.000
3,08 -27,69% 70,14 7,56 108.467
3,23 -29,07% 68,80 7,42 106.391
3,39 -30,53% 67,39 7,26 104.210
3,56 -32,05% 65,91 7,10 101.921
3,74 -33,66% 64,35 6,94 99.517
3,93 -35,34% 62,72 6,76 96.993
4,12 -37,11% 61,01 6,58 94.342
Quadro 21: Simulao da variao na demanda por cerveja decorrente do preo do produto.
Fonte: Elaborao pela autora com base em simulaes dos efeitos sobre a elasticidade da cerveja de aumentos
gradativos sobre o preo do produto.

82

A relao entre o consumo total de cerveja em milhes de hectolitros e o preo do
produto que obtida no quadro 21 mostrada na figura 23:

Considerando os resultados obtidos no quadro 21, possvel obter os efeitos dos
impostos sobre perspectivas da gerao de empregos no setor, nveis de acidentes do trabalho
e dficit entre a arrecadao de impostos, gerao de emprego e renda quando comparado ao
custo social do alcoolismo no pas. Os resultados so apresentados no quadro 22.

Consumo Total: Milhes de Hc Nmero de Empregos no setor
de acidentes de trabalho
relacionados cerveja Dficit do PIB: Bilhes de R$
97,00 150.000 206.790 14,55
70,14 108.467 149.533 10,35
68,80 106.391 146.670 10,15
67,39 104.210 143.664 9,95
65,91 101.921 140.508 9,73
64,35 99.517 137.194 9,50
62,72 96.993 133.714 9,26
61,01 94.342 130.060 9,00
Quadro 22: Simulao do dficit no PIB decorrente do consumo.

No caso, das demais variveis apresentadas no modelo, a correlao entre o preo da
aguardente e a quantidade demandada de cerveja positiva. Sendo assim, um aumento no
preo deste produto provoca uma elevao no consumo de cerveja. Supondo que o preo da
aguardente aumente 5% gradativamente, permanecendo inalterado o poder aquisitivo da
2,93 3,08
Consumo Total : milhes de hectolitros
3,23 3,39 3,56
Preo R$/ Litro
97
70,14
68,80
67,38
65,91
Figura 24: Representao Grfica do quadro 21.

83

populao e o preo da cerveja, o consumo desta ltima ir aumentar, conforme
demonstrado no quadro 23:

Preo da Aguardente R$/ Litro Elasticidade
Consumo Total de Cerveja: Milhes de
Hectolitros
3,76 100,00% 97,00
3,95 59,22% 154,44
4,15 62,18% 157,32
4,35 65,29% 160,33
4,57 68,55% 163,50
4,80 71,98% 166,82
5,04 75,58% 170,31
5,29 79,36% 173,98
Quadro 23: Simulao da variao no consumo decorrente do preo da aguardente.
gradativos sobre o preo da aguardente.

A correlao entre o salrio mnimo e a quantidade demandada de cerveja negativa.
Sendo assim, um aumento no poder aquisitivo da populao, em especial de baixa renda,
provoca uma reduo no consumo de cerveja. Supondo que o salrio mnimo aumente 5%
gradativamente, permanecendo inalterado o preo da cerveja e da aguardente, o consumo ir
diminuir, conforme demonstrado no quadro 24:

Salrio Mnimo R$/ Litro Elasticidade
Consumo Total de Cerveja: Milhes de
Hectolitros
370,58 100,00% 97,00
389,11 -38,91% 59,26
408,56 -40,86% 57,37
428,99 -42,90% 55,39
450,44 -45,04% 53,31
472,96 -47,30% 51,12
496,61 -49,66% 48,83
521,44 -52,14% 46,42
Quadro 24: Simulao da variao no consumo decorrente do preo do salrio mnimo.
gradativos sobre o salrio mnimo.

importante observar que outras variveis exgenas possam influenciar a demanda de
cervejas no Brasil, pois a varivel preo da cerveja, preo da aguardente e salrio mnimo no
conseguem explicar todos os fatores que influenciam o consumo pelo produto, como a srie
temporal dos gastos em propaganda das empresas do setor, entre outros.

84

4.3 Anlise dos Impactos das Mudanas no Valor dos Impostos Sobre o Consumo de
Cerveja

Entre as inmeras estratgias possveis que os governos de diferentes pases utilizam para
controlar os problemas relacionados ao consumo do lcool, o aumento dos preos atravs da
tributao incidente sobre as bebidas alcolicas, em particular a cerveja, tem sido a mais
utilizada. Isso no ocorre apenas porque os governos precisam aumentar sua arrecadao, mas
tambm porque esse tipo de regulao fcil de estabelecer atravs da lei, e tambm fcil
fiscaliz-la na prtica. Alm disso, esta uma medida de baixo custo e com retorno
significativo para a resoluo do problema social ocasionado pelo lcool. Estudos conduzidos
em diversos pases desenvolvidos e em alguns em desenvolvimento demonstraram que o
aumento do preo e da taxao sobre bebidas alcolicas resulta em diminuio do consumo e
dos problemas relacionados

(Barbor, Caetano e Casswell, 2003).
O efeito das mudanas de preo da cerveja sobre o seu consumo tem sido mais
extensamente estudado pelos governos dos pases do que qualquer outra medida. O estudo
economtrico proposto no trabalho mostra que o consumo de cerveja se comporta como
qualquer outro produto sujeito s leis da oferta e da demanda, ou seja, uma diminuio do seu
preo resulta em um aumento do consumo, e um aumento do preo leva a uma reduo do
consumo. O importante, neste caso, que governos podem regular a demanda por cerveja
atravs do controle dos preos, obtendo no apenas uma arrecadao proporcional maior, mas
tambm benefcios para a sade pblica.
Conforme demonstrado no 1 Levantamento Nacional sobre os Padres de Consumo de
lcool na Populao Brasileira, os jovens constituem um grupo particularmente sensvel a
mudanas do preo da cerveja. Alm disso, os bebedores em binge tendem a ser mais
sensveis s variaes de preo do que bebedores leves e espordicos, pois o preo da cerveja
mais representativo no seu oramento do que no oramento de bebedores casuais. Portanto,
estratgias de aumento de preo tendem a ser eficazes em reduzir tanto o consumo quanto os
problemas associados, e isso ocorre justamente nos grupos mais vulnerveis: o dos
adolescentes e o dos bebedores pesados.
Estimativas norte-americanas concluem que um aumento de 10% no preo de bebidas
alcolicas podem reduzir a probabilidade de se dirigir embriagado em 7% para homens e em
8% para mulheres, com redues ainda maiores nos menores de 21 anos

(Kenkel, 1993).

85

Vrios estudos desenvolvidos nos EUA tm examinado o impacto dos preos de bebidas
alcolicas em homicdios e outros crimes (incluindo seqestro, assaltos, furtos, roubo a
veculos, violncia domstica e abuso de crianas) e indicam que o aumento dos preos de
bebidas alcolicas diminui esses crimes

(Barbor, Caetano e Casswell, 2003).
No Brasil, o governo possui um papel importante por meio de instrumentos de poltica
tributria. Considerando que as empresas cervejeiras repassem os aumentos de impostos
sofridos ao preo dos produtos, o consumo de cerveja ir diminuir, conforme identificado no
quadro 21. Os impostos iro servir como instrumento de disciplina social um meio de
estimular a reduo na quantidade demandada de cerveja, resultante da variao no preo do
produto.

5. CONCLUSO

Este trabalho teve como objetivo, identificar o funcionamento do mercado cervejeiro
nacional, assim como os problemas sociais causados pelo alcoolismo. Considerou-se que a
relao entre o crescimento do mercado brasileiro de cervejas e os efeitos do lcool no
organismo um problema econmico, pois, da mesma forma que o potencial de arrecadao
de impostos, a gerao de empregos e de renda bastante significativa, o custo social de
manuteno dos efeitos das bebidas alcolicas muito expressivo. Diante dos fatos, este
trabalho demonstrou dois tipos de posicionamento para a interpretao de um mesmo
contexto.
A anlise emprica dos fatores que determinam a demanda pela cerveja constatou que ela
influenciada por alteraes no preo do produto, pelo aumento no preo do bem substituto e
por variaes na renda dos consumidores menos favorecidos economicamente. Neste caso, os
impostos e taxas sobre as bebidas constituem um instrumento relevante de poltica tributria,
na medida em que podem ser usados para majorao do preo do produto e para gerar receita
que possibilita financiar os custos sociais causados pelo lcool. Mais da metade da populao
geral adulta (56%) defende esta medida (Fonte: 1 Levantamento Nacional sobre os Padres
de Consumo de lcool na Populao Brasileira, 2007). Alm disso, conforme estudos
conduzidos em diversos pases, o aumento da taxao e do preo das bebidas alcolicas
resultou em diminuio do consumo e, conseqentemente, dos problemas relacionados ao
lcool.
Dentro deste contexto, a compreenso e o apoio da populao so elementos
imprescindveis para o planejamento, o direcionamento e a implementao de polticas
pblicas sobre o uso do lcool. Em um pas como o Brasil, em que a regulao do lcool

87

prxima a zero, e em um momento de aumento do nvel de conscientizao popular devido ao
incremento dos danos causados pelo lcool, est configurada a oportunidade para uma ao
poltica efetiva e transparente. Alm da adeso da opinio pblica, a adoo dessas polticas
pelos governantes deve estar baseada em evidncias cientficas e em consenso entre
especialistas e autoridades. Enquanto algumas medidas dependem da aprovao de lei pelo
Poder Legislativo, outras podem ser adotadas a partir de deciso poltica, de normas
regulamentadoras ou de atos administrativos do Poder Executivo.
Experincias em outros pases j demonstraram que os danos e os custos sociais e
econmicos relacionados ao uso do lcool podem ser reduzidos. Para isso so necessrias
polticas capazes de diminuir a quantidade de lcool consumida e estratgias conducentes
mudana de comportamentos e contextos de consumo prejudiciais.
Algumas pesquisas internacionais j chegaram a identificar os grupos de indivduos mais
propensos a apoiar as polticas, a exemplo das mulheres, das pessoas casadas, dos mais velhos
e daqueles que tm baixo consumo de lcool. Ao revelar a aceitao pela populao brasileira
sobre medidas e programas potencialmente eficazes, possvel constituir uma ferramenta til
para a discusso de polticas pblicas sobre as bebidas alcolicas.
A indstria da cerveja investe milhes em publicidade nos meios de comunicao de
massa e na indstria do esporte, transformando os meios de comunicao em parte interessada
na poltica do lcool. A aceitabilidade destes meios de comunicao pode influenciar a
opinio pblica de forma negativa s questes relacionadas ao lcool. Em contrapartida, os
meios de comunicao de massa podem ter uma grande influncia no debate poltico em nvel
nacional e local, sobre os efeitos pessoais e sociais da ingesto de cerveja e de outras bebidas
alcolicas. Podem, portanto, ser usados para alavancar diversas polticas do lcool, evitando
assim o custo da aquisio de espao na mdia para a contra-propaganda.
As informaes apresentadas nos captulos 2 e 3 deste trabalho evidenciam a relao
contracclica ocasionada pelo lcool. No primeiro destes captulos so expressos os benefcios
em termos de gerao de arrecadao de impostos, emprego e renda gerados pela indstria
cervejeira. Conforme mostrado, no ano de 2006 em um faturamento de R$ 22,2 bilhes,
registrado pelas indstrias brasileiras de cerveja foram arrecadados cerca R$ 10,3 bilhes em
impostos. Caso a capacidade produtiva do pas de 131,5 milhes de hectolitros (Fonte:
Sindicerv) possa vir a ser plenamente atingida, e que permanea a mesma proporo de
arrecadao e nveis de preos da cerveja, a expectativa de que se atinja um faturamento
bruto de R$ 30,10 bilhes, sendo que cerca R$ 13,60 bilhes sero destinados ao pagamento

88

de tributos. Por outro lado, considerando o levantamento da OMS para o ano de 2003, em que
a relao entre a arrecadao de impostos, a gerao de emprego, a renda proveniente da
indstria do lcool e a totalidade do custo social para o pas apresenta um dficit de 3,8% do
PIB. O custo de 1 milho de hectolitros de cerveja para a economia R$149.988.649,00,
sendo que o aumento de produo de 34,5
51
milhes de hectolitros pode gerar um custo social
de R$5.174.608.391,00.
Outro quesito interessante que relaciona os captulos 2 e 3 so os empregos gerados pelo
mercado cervejeiro nacional, na ordem das 150.000 vagas, o que contribui para amenizar
problemas sociais relevantes e possibilita atravs, da renda destas pessoas, movimentar outros
setores da economia. Considerando que para uma produo de 97 milhes/hc em 2006 foi
gerado este nvel de empregos, utilizando a mesma proporo de gerao de emprego e renda
a cada 1 milho de hectolitros produzidos so criados aproximadamente 1.546 empregos. Da
mesma forma, se a capacidade produtiva do setor for plenamente atendida, o montante
aproximado de postos de trabalho gerado de 203.351 vagas. O contraponto sobre a
influncia da cerveja no mercado de trabalho o nmero de acidentes do trabalho
ocasionados pelo lcool: 339.000 apenas no ano de 2002, sendo a cerveja responsvel por
61% deste consumo, um total de 206.790 casos tiveram ligao direta com este produto. Ou
seja, uma diminuio de 1milho de hectolitros na demanda por cerveja, representa uma
proporo de reduo de acidentes no trabalho de 2.135 casos.
Alm disso, a perda de capital humano ocasionada pela cerveja, como os casos dos
acidentes com bitos, tm como conseqncia maior para a sociedade a perda de capital
humano futura dos indivduos. Uma forma, ainda que simples, de estimar estas perdas para a
sociedade computar o potencial de produtividade que cada indivduo teria no futuro em
mdia a preos do dia. Uma forma econmica de fazer o de considerar que a produtividade
esperada futura seja equivalente ao PIB per capita, ou seja, a quantidade total de produo da
economia dividida pelo nmero de habitantes. Desta forma, os acidentes com bitos geram
uma perda futura equivale produo mdia de cada indivduo no ano. Assim, os acidentes
com bitos geram uma perda correspondente ao PIB per capita que cada indivduo iria
produzir em mdia no futuro. Considerando a estatstica do DENATRAN apresentada no
captulo 3, em que o nmero de vtimas fatais em acidentes de trnsito no ano de 2006 foi de

51
Capacidade produtiva do setor (131,5 milhes de hectolitros) Produo do ano de 2006 (97 milhes de
hectolitros) = Ociosidade de produo (34,5 milhes de hectolitros). Considerando o PIB registrado no ano de
2006.

89

1.108 pessoas, sendo que, deste total, 507 fatalidades foram decorrentes do consumo de
cerveja
52
, e considerando ainda que a idade mdia das vtimas e a diferena desta para a sua
aposentadoria aos 65 anos seja equivalente a 25 anos de perda de produo, o PIB per capita
de R$ 10.492,31
53
e a taxa de desconto considerada seja os juros de poupana de 6% ao ano, o
montante de perdas econmicas projetada R$ 22.831.040,50. Sendo assim, o custo de cada
emprego gerado no setor para a economia em termos de vtimas fatais no trnsito foi
R$152,21
54
.
Basicamente, a relao conflitante entre o desempenho do mercado cervejeiro nacional e
dos efeitos nocivos das bebidas alcolicas sobre a populao brasileira, apesar de complexa,
definiu-se como favorvel diminuio do consumo da cerveja e de outras bebidas alcolicas,
respaldadas no apoio da populao e atravs da implantao de medidas pblicas eficazes
para a resoluo do problema. Entre as alternativas apresentadas, no modelo economtrico
apresentado no captulo 4 possvel evidenciar a elasticidade do consumo diante da
majorao do preo da cerveja ao consumidor. Dentre as alternativas, a melhor atravs do
aumento dos impostos, sendo esta a mais recomendada, pois possvel atingir diretamente o
consumo do produto.
Os quadros 21 e 22 do captulo 4 demonstraram perspectivas decorrentes da majorao
dos impostos sobre a cerveja para a economia. Segundo informaes obtidas, uma diminuio
no consumo mdio de 28,18%, decorrente do aumento dos impostos em 1,5%, representa uma
diminuio na arrecadao em 27,29%. A perda mdia de 42.270 postos de trabalho no setor,
oriunda da reduo do consumo, compensada pela diminuio da mdia nacional de
acidentes de trabalho relacionados cerveja de 58.273 casos. Alm disso, ocorre uma
diminuio mdia no dficit entre os benefcios trazidos pela indstria cervejeira nacional e os
prejuzos sociedade decorrentes do consumo de cerveja em R$ 1,05 bilhes.
Para que seja obtido sucesso, o processo de criao da poltica do lcool no Brasil deve
ser o mais transparente possvel, e corresponder, da melhor forma, s necessidades dos
cidados que so os consumidores finais dessa poltica. Nas percepes de consumo do povo
brasileiro, a cerveja, assim como outras bebidas alcolicas, tem seu lugar em um contexto

52
Total de fatalidades (1.108) X Fatalidades relacionadas ao lcool (75%) = 831 X percentual de consumo de
cerveja entre as bebidas alcolicas (61%) = 507 vtimas;
53
PIB per capita foi atualizados at outubro/2007 R$ 10.492,31, conforme metodologia da Revista Conjultura
Econmica;
54
Perdas econmicas projetada no ano de 2006 (R$ 22.831.040,50) / nmero de empregos gerados no setor em
2006 (150.000) = R$ 152,21.

90

social, cultural e comunitrio. Portanto, o consumo pode ser modificado e problemas podem
ser reduzidos atravs de estratgias que alterem esse contexto. Tais esforos so considerados
como medidas de reduo de danos, j que partem de uma aceitao de que haver consumo
de bebidas alcolicas e procuram ento modificar ou limitar esse consumo ou o ambiente
onde esse consumo acontece, de forma a reduzir o potencial danoso. O consumo alcolico
no uma simples dificuldade que o pas enfrenta, antes um problema social complexo que
interfere na conduo das suas polticas pblicas. Por isso, este trabalho, conjuntamente com
outros estudos relacionados no captulo 1, forneceu subsdios para compreender o mercado
cervejeiro nacional e possibilitar a administrao das relaes conflitantes entre a cerveja e
alguns dos vrios problemas sociais brasileiros expostos no captulo 3.
Em suma, foram fornecidas informaes que possibilitam avaliar se vantajoso para o
pas gerar bilhes de reais em arrecadao de impostos, empregos e renda, atravs da
exposio da sociedade a diversos problemas ocasionados pela indstria do lcool, em
especial a cerveja. Ou ainda, se existem alternativas mais prticas e menos danosas para a
sociedade para movimentar a economia do que atravs do crescimento da indstria do lcool.
Pases em desenvolvimento tendem a reagir de forma favorvel a mercados que movimentem
a economia. Contudo, a indstria cervejeira no um mercado comum; ao contrrio, ele
requer intervenes governamentais que amenizem seus efeitos sobre toda a populao
brasileira.

REFERNCIAS

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95

ANEXO 1: LEGISLAO BRASILEIRA

DECRETO No 2.314, DE 4 DE SETEMBRO DE 1997.

Regulamenta a Lei n 8.918, de 14 de
julho de 1994, que dispe sobre a
padronizao, a classificao, o registro, a
inspeo, a produo e a fiscalizao de
bebidas.

TTULO II
DOS PADRES DE IDENTIDADE E QUALIDADE DE BEBIDAS
CAPTULO II
DAS BEBIDAS ALCOLICAS FERMENTADAS
SEO I
Das cervejas
Art . 64. Cerveja a bebida obtida pela fermentao alcolica do mosto cervejeiro oriundo do
malte de cevada e gua potvel, por ao da levedura, com adio de lpulo.
1 O malte de cevada usado na elaborao de cerveja e o lpulo podero ser substitudos por
seus respectivos extratos.
2 Parte do malte de cevada poder ser substitudo por cereais maltados ou no, e por
carboidratos de origem vegetal transformados ou no, ficando estabelecido que:
a) os cereais referidos neste artigo so a cevada, o arroz, o trigo, o centeio, o milho, a aveia e
o sorgo, todos integrais, em flocos ou a sua parte amilcea;
b) a quantidade de carboidrato (acar) empregado na elaborao de cerveja, em relao ao
extrato primitivo, no poder ser superior a quinze por cento na cerveja clara;
c) na cerveja escura, a quantidade de carboidrato (acar), poder ser adicionada at cinqenta
por cento, em relao ao extrato primitivo, podendo conferir ao produto acabado as
caractersticas de adoante;
d) na cerveja extra o teor de carboidrato (acar) no poder exceder a dez por cento do
extrato primitivo;
e) os cereais ou seus derivados sero usados de acordo com a classificao da cerveja quanto
a proporo de malte e cevada, em peso, sobre o extrato primitivo, estabelecido neste
Regulamento;
f) carboidratos transformados so os derivados da parte amilcea dos cereais obtidos atravs
de transformaes enzimticas;
g) os carboidratos (acares) de que tratam os itens "b", "c" e "d" , deste pargrafo, so a
sacarose (acar refinado ou cristal), acar invertido, glicose, frutose, maltose.
3 Malte o produto obtido pela germinao e secagem da cevada, devendo o malte de
outros cereais ter a designao acrescida do nome do cereal de sua origem.
4 Extrato de malte o resultante da desidratao do mosto de malte at o estado slido, ou
pastoso, devendo, quando reconstitudo, apresentar as propriedades do mosto de malte.
5 Mosto cervejeiro a soluo, em gua potvel, de carboidratos, protenas, glicdeos e sais
minerais, resultantes da degradao enzimtica dos componentes da matria-prima que
compem o mosto.
6 Mosto lupulado o mosto fervido com lpulo ou seu extrato, e dele apresentando os
princpios aromticos e amargos, ficando estabelecido que:

96

Regulamentao das Definies e Processo Produtivo da Cerveja

a) lpulo so cones de "Humulus lupulus", de forma natural ou industrializada, que permite
melhor conservao da cerveja e apura o gosto e o aroma caracterstico da bebida;
b) extrato de lpulo o resultante da extrao, por solvente adequado, dos princpios
aromticos e amargos do lpulo, isomerizados ou no, reduzidos ou no, devendo o produto
final estar isento de solvente.
7 Extrato primitivo ou original o extrato do mosto de malte de origem da cerveja.
Art . 65. Das caractersticas de identidade da cerveja dever ser observado o seguinte:
I - a cor da cerveja dever ser proveniente das substncias corantes do malte da cevada, sendo
que:
a) para corrigir ou intensificar a cor da cerveja ser permitido o uso de outros corantes
naturais previstos na legislao especfica;
b) na cerveja escura ser permitido o uso de corante natural caramelo.
II - para fermentao do mosto ser usada a levedura cervejeira como coadjuvante de
tecnologia.
III - a cerveja dever ser estabilizada biologicamente por processo fsico apropriado, podendo
ser denominado de Chope a cerveja no pasteurizada no envase.
IV - a gua potvel empregada na elaborao da cerveja poder ser tratada com substncias
qumicas, por processo fsico ou outro que lhe assegure as caractersticas desejadas para boa
qualidade do produto, em conjunto ou separadamente.
V - a cerveja dever apresentar, a vinte graus Celsius, uma presso mnima de urna atmosfera
de gs carbnico proveniente da fermentao, sendo permitida a correo por dixido de
carbono ou nitrognio, industrialmente puros.
Art . 66. As cervejas so classificadas:
I - quanto ao extrato primitivo em:
a) cerveja leve, a que apresentar extrato primitivo igual ou superior a cinco e inferior a dez e
meio por cento, em peso;
b) cerveja comum, a que apresentar extrato primitivo igual ou superior a dez e meio e inferior
a doze e meio por cento, em peso;
c) cerveja extra, a que apresentar extrato primitivo igual ou superior a doze e meio e inferior a
quatorze por cento, em peso;
d) cerveja forte, a que apresentar extrato primitivo igual ou superior a quatorze por centro, em
peso.
II - quanto cor:
a) cerveja clara, a que tiver cor correspondente a menos de vinte unidades EBC (European
Brewery Convention);
b) cerveja escura, a que tiver cor correspondente a vinte ou mais unidades EBC (European
Brewery Convention).
III - quanto ao teor alcolico em:
a) cerveja sem lcool, quando seu contedo em lcool for menor que meio por cento em
volume, no sendo obrigatria a declarao no rtulo do contedo alcolico;
b) cerveja com lcool, quando seu contedo em lcool for igual ou superior a meio por cento
em volume, devendo obrigatoriamente constar no rtulo o percentual de lcool em volume;
IV - quanto proporo de malte de cevada em:
a) cerveja puro malte, aquela que possuir cem por cento de malte de cevada, em peso, sobre o
extrato primitivo, como fonte de acares;
b) cerveja, aquela que possuir proporo de malte de cevada maior ou igual a cinqenta por
cento, em peso, sobre o extrato primitivo, como fonte de acares;

97

c) cerveja com o nome do vegetal predominante, aquela que possuir proporo de malte de
cevada maior do que vinte e menor do que cinqenta por cento, em peso, sobre o extrato
primitivo, como fonte de acares.
V - quanto fermentao;
a) de baixa fermentao;
b) de alta fermentao.
Art . 67. De acordo com o seu tipo, a cerveja poder ser denominada: "Pilsen", "Export",
"Lager", "Dortmunder", "Mnchen", "Bock", "Malzbier", "Ale", "Stout", "Porter",
"Weissbier", "Alt" e outras denominaes internacionalmente reconhecidas que vierem a ser
criadas, observadas as caractersticas do produto original.
Art . 68. A cerveja poder ser adicionada de suco e extrato de vegetal, ou ambos, que podero
ser substitudos, total ou parcialmente, por leo essencial, essncia natural ou destilado
vegetal de sua origem.
Art . 69. A cerveja que for adicionada de suco de vegetal, dever ser designada de "cerveja
com...", acrescido do nome do vegetal.
Art . 70. Quando o suco natural for substitudo total ou parcialmente pelo leo essencial,
essncia natural ou destilado do vegetal de sua origem, ser designada de "cerveja sabor de
..." acrescida, do nome do vegetal.
Pargrafo nico. Fica proibido o uso de aromatizantes, flavorizantes e corantes artificiais na
elaborao da cerveja.
Art . 71. A complementao dos Padres de Identidade e Qualidade dos produtos de que trata
esta Seo ser disciplinada por atos administrativos.

98

ANEXO 2: FUSES E AQUISIO NO MERCADO DE CERVEJA
ENVOLVENDO EMPRESAS ATUANTES NO PAS

- Fevereiro 2006: O grupo mexicano Femsa comprou a marca Kaiser, detentora de 8% do
mercado consumidor brasileiro na poca da transao (Valor US$ 68 milhes);

- Agosto 2006: A AmBev adquiriu do Grupo Bemberg mais 34,46% das aes da marca
Quilmes, dessa forma, a cervejaria brasileira passou a ter 97,16% das aes com poder de
voto. A AmBev passa a controlar a maioria do mercado argentino de cerveja, onde as marcas
Brahma e Quilmes apresentam um market-share superior a 80%. Para que o a fuso fosse
autorizada pelo rgo argentino de defesa da concorrncia, foi necessria a venda das marcas
Imperial, Palermo e Biecker, do portiflio da Quinsa (Valor US$ 1,2 bilhes);

- Fevereiro 2007: A AmBev anunciou a compra da cervejaria canadense Lakeport, com sede
em Hamiton, Ontrio. A companhia possuia aproximadamente 200 funcionrios (Valor: 171
milhes);

- Janeiro 2007: A Schincariol comprou a microcervejaria localizada em Campos do Jordo
(SP) com o intuito de ingressar no mercado das cervejas premium (Valor: no foi divulgado);

As informaes referentes evoluo dos investimentos no setor cervejeiro foram obtidas
a partir do relatrio encomendado pelas prprias empresas, baseando-se em informaes
fornecidas pelas mesmas. O Instituto Lafis, concluiu o estudo setorial em dezembro de 2006.

Grupo Albano Franco
- 2006: Investimento de R$ 140 milhes na construo de nova cervejaria, em Igarassu (PE).
Ambev
- 2000: Investimento de R$ 75 milhes no processo de integrao de sistemas operacionais,
distribuio e logstica;
- 2000: Ampliao da fbrica de Agudos (SP) atravs de um investimento de R$ 10 milhes;
- 2000: Investimento de R$ 12.5 milhes na filial da Antrtica, em Cuiab (MT), na aquisio
de mquinas e equipamentos e na ampliao da armazenagem.
- Dezembro 2001: Investimento de R$ 5 milhes na fbrica de cerveja em So Lus (MA);
- Abril 2003: Construo de nova planta industrial no Peru, com o investimento de US$ 38
milhes;
- Abril 2003: Investimento de US$ 50 milhes na construo de uma nova fbrica na
Guatemala;
- 2004: Investimentos em marketing atingiram o volume de R$ 370 milhes;

99

- 2005: O plano de adequao da linha de produo da fbrica em Jacare (SP), para a
exportao da cerveja Brahma, exigiu o investimento de R$ 10 milhes;
- 2005: O projeto de construo da unidade na Repblica Domenicana e a expanso da
maltaria no Uruguai exigiram investimentos de US$ 105 milhes;
- 2005/06: Investimentos de R$ 616 milhes para a ampliao da capacidade produtiva e
distribuio no mercado brasileiro;
- 2006/07: Ampliao da capacidade produtiva da fbrica de Lages (SC), o investimento total
previsto de de R$ 112 milhes;
- 2006/07: A empresa iniciou as obras da fbrica de garrafas de vidro, na cidade do Rio de
Janeiro (RJ), concluso est prevista para jun/07. O investimento na nova unidade de R$
160 milhes;
- 2006/07: A Quilmes, controlada pela AmBev, anunciou o investimento de US$ 28 milhes
na duplicao da capacidade de produo de cevada em sua unidade de Trs Arroyos,
provncia de Buenos Aires (ARG);
- 2007: A Quilmes/AmBev pretende investir US$ 120 milhes durante o ano para ampliar a
capacidade de produo das plantas de Tucumn, Quilmes e Zrate (ARG).
Aralco
- 2003 a 2005: A construo da unidade em Frutal (MG) exigiu R$ 60 milhes em
investimentos;
- 2004: Construo da fbrica de produo e envasamento de cerveja, em Santo Antnio do
Aracangu (SP). Investimento de US$ 5,7 milhes.
Allied Domecq
- 2004/05: Investimento de US$ 3.5 milhes na distribuio e fabricao de Bols Vodka e
Contreau, na fbrica de Garibaldi (RS).
Belco
- 2000: A cervejaria, localizada em So Manuel (SP), inaugurou sua segunda fbrica em
Santo Agostinho (PE). O Investimento anunciado foi de R$ 30 milhes.
Cintra
- 1998: Compra da fbrica desativada da Kaiser, em Mogi-Mirim (SP), por R$ 60 milhes;
- 2002: Concluso nas obras da fbrica de Barra do Pira (RJ), que exigiu o investimento de
R$ 250 milhes;
- 2003 a 2008: Projeo de gasto em marketing de R$ 150 milhes;
- 2003: Investimentos de 117.6 milhes na unidade de Pira (RJ);

100

- 2005 a 2007: O custo de ampliao da capacidade produtiva est orado em R$ 40 milhes
em investimentos at 2007.
Refrigerantes Conveno
- 2003/04: Construo da nova unidade de cervejas e refrigerantes, no estado do Rio Grande
do Sul, exigiu R$ 100 milhes em investimentos.
Indstria Nacional de Bebidas (Colnia)
- 2005: Investimentos na expanso, distribuio e marketing foram anunciados, mas seu
volume no foi divulgado.
Lokal Bier
- 2004: Investimento de R$ 24 milhes na ampliao da fbrica de Terespolis (RJ).
Cervejaria Petrpolis
- 2004: Ampliao das duas unidades da empresa em 30%, o volume de investimentos no
divulgado;
- 2005: Investimento de US$ 18.8 milhes em uma nova linha de latas e em novos tanques de
fabricao. A unidade destino do investimento no foi divulgada;
- 2007 a 2011: Projeto de construo de duas novas unidades, no estado da Bahia e Minas
Gerais, destina-se R$ 600 milhes de investimentos.
Schincariol
- 2003: Gasto de R$ 120 milhes em marketing na divulgao da Nova Schin;
- 2004: construo da unidade em Igrejinha (RS) foram destinados R$ 170 milhes em
investimentos;
- 2004: Gasto de R$ 180 milhes em marketing;
- 2004/05: Foram investidos R$ 229 milhes na construo da unidade de Benevides (PA);
- 2005: Anunciados investimentos de R$ 600 milhes em ampliao da produo, distribuio
e marketing;
- 2005: Investimento de R$ 100 milhes na construo da nova unidade de Campo Grande
(MS);
- 2006: Projeto de construo da quinta fbrica na regio Norte-Nordeste (a cidade-sede no
foi divulgada) para reforar seu posicionamento na regio. O investimento destinado foi de
R$ 135 milhes.
Refrigerantes Xereta
- 2002/03: Investimento de R$ 20 milhes na construo de sua fbrica de cerveja.

101

Eisenbahn
- 2002/03: Com o investimento de R$ 1.5 milho, a cervejaria catarinense (Blumenau) iniciou
sua produo. Trs ampliaes posteriores consumiram mais R$ 1 milhes.
Kaiser (Femsa)
- 2002: O investimento em marketing foi de R$ 180 milhes, 30% superior ao de 2001;
- Maro 2003: A remodelao da produo exigiu investimentos da ordem de R$ 65 milhes;
- 2003: Investimento de R$ 4,5 milhes na construo de uma nova fbrica em Ribeiro Preto
(SP), no local onde foi fechada a antiga;
- 2004: Fechado o acordo de venda da Kaiser para o grupo Femsa. Foram destinados
campanha publicitria e marketing investimentos de R$ 180 milhes.
Dado Bier
- 2005: Investimento de R$ 1 milho na ampliao da capacidade produtiva de sua fbrica em
Porto Alegre (RS).

102

ANEXO 3: EQUAO DE DEMANDA PARA CERVEJA NO BRASIL

O modelo foi estimado pelo autor atravs das sries temporais listadas no quadro 25:

Sries Temporais

Perodo
Consumo Per
Capita (LT)
Cerveja
(R$ / LT)
Vinho
(R$ / LT)
Aguardente
(R$ / LT)
Salrio Mnimo
(R$)
1/1/1985 2,04 4,83 18,02 2,40 273,68
1/2/1985 2,04 4,73 19,32 2,38 246,67
1/3/1985 2,04 4,72 18,87 2,36 224,36
1/4/1985 1,82 4,53 20,18 2,56 206,62
1/5/1985 1,82 4,45 21,67 2,58 385,48
1/6/1985 1,82 4,60 22,65 2,77 355,82
1/7/1985 1,67 5,18 23,15 3,01 323,25
1/8/1985 1,67 4,95 23,90 2,94 289,62
1/9/1985 1,67 4,88 25,77 2,92 263,08
1/10/1985 1,82 5,42 25,92 3,00 238,62
1/11/1985 1,82 5,58 23,45 3,04 376,41
1/12/1985 2,04 6,32 24,05 2,92 325,19
1/1/1986 2,90 5,72 21,52 2,78 282,75
1/2/1986 2,90 5,50 20,08 2,77 251,40
1/3/1986 2,90 5,37 21,10 2,82 326,51
1/4/1986 2,58 5,45 21,32 2,88 325,12
1/5/1986 2,58 5,35 21,95 2,88 321,66
1/6/1986 2,58 5,33 22,35 2,86 318,58
1/7/1986 2,37 5,55 24,08 2,84 315,72
1/8/1986 2,37 6,52 24,58 2,81 311,26
1/9/1986 2,37 6,60 24,32 2,78 307,60
1/10/1986 2,58 6,52 23,98 2,75 303,25
1/11/1986 2,58 6,37 25,38 2,73 293,60
1/12/1986 2,90 5,87 34,98 2,52 273,71
1/1/1987 3,08 6,28 37,82 2,88 281,17
1/2/1987 3,08 5,50 36,22 3,95 246,77
1/3/1987 3,08 8,05 36,28 4,08 305,86
1/4/1987 2,74 6,70 42,55 3,67 252,86
1/5/1987 2,74 5,87 33,35 3,02 246,41
1/6/1987 2,74 4,95 26,50 2,58 243,77
1/7/1987 2,52 5,60 24,43 2,46 221,75
1/8/1987 2,52 5,27 23,65 2,52 211,02
1/9/1987 2,52 4,95 21,90 2,37 239,92
1/10/1987 2,74 4,58 22,23 2,21 238,02
1/11/1987 2,74 4,92 27,25 2,06 235,34
1/12/1987 3,08 5,40 28,25 1,95 247,79
1/1/1988 2,97 5,90 24,18 1,93 260,35
1/2/1988 2,97 5,88 21,05 1,78 263,78
1/3/1988 2,97 5,37 18,97 1,72 263,98
1/4/1988 2,65 4,85 16,63 1,49 259,56

103

1/5/1988 2,65 4,22 15,38 1,31 263,42
1/6/1988 2,65 3,50 14,65 1,51 256,37
1/7/1988 2,43 3,20 17,12 1,95 250,13
1/8/1988 2,43 3,32 16,88 1,82 259,14
1/9/1988 2,43 3,00 17,08 1,60 248,90
1/10/1988 2,65 4,47 18,82 1,60 245,58
1/11/1988 2,65 3,92 16,33 1,64 249,04
1/12/1988 2,97 3,58 13,93 1,55 254,51
1/1/1989 3,27 3,80 12,15 1,34 252,68
1/2/1989 3,27 4,57 15,63 2,16 255,22
1/3/1989 3,27 4,38 15,93 2,25 241,00
1/4/1989 2,92 4,17 15,15 2,20 223,02
1/5/1989 2,92 3,45 14,38 1,94 243,51
1/6/1989 2,92 3,22 14,32 2,14 277,42
1/7/1989 2,68 3,15 22,55 2,36 271,83
1/8/1989 2,68 2,93 19,65 2,20 262,81
1/9/1989 2,68 3,13 18,03 2,09 249,30
1/10/1989 2,92 3,17 19,60 2,46 274,91
1/11/1989 2,92 4,12 17,10 2,35 270,34
1/12/1989 3,27 5,05 16,27 2,38 252,72
1/1/1990 3,31 4,77 17,45 2,47 244,77
1/2/1990 3,31 4,98 20,47 2,05 219,62
1/3/1990 3,31 4,40 19,00 2,10 220,97
1/4/1990 2,95 4,42 20,35 2,67 192,70
1/5/1990 2,95 4,05 17,97 3,31 179,57
1/6/1990 2,95 3,68 20,45 3,15 168,89
1/7/1990 2,71 3,75 17,47 2,72 190,67
1/8/1990 2,71 4,08 15,90 2,53 180,32
1/9/1990 2,71 4,35 14,95 2,40 183,68
1/10/1990 2,95 4,27 13,70 2,26 170,29
1/11/1990 2,95 4,77 16,68 1,92 188,82
1/12/1990 3,31 6,02 17,02 1,75 168,14
1/1/1991 3,62 5,98 16,17 2,63 193,89
1/2/1991 3,62 5,27 17,32 1,92 208,03
1/3/1991 3,62 5,08 16,67 1,74 199,02
1/4/1991 3,23 4,57 15,78 1,85 189,53
1/5/1991 3,23 4,23 15,18 2,28 177,66
1/6/1991 3,23 3,77 16,45 2,31 160,30
1/7/1991 2,96 3,62 17,50 2,12 142,94
1/8/1991 2,96 3,72 17,83 1,94 123,63
1/9/1991 2,96 4,07 17,52 1,98 264,18
1/10/1991 3,23 4,12 17,97 1,80 218,19
1/11/1991 3,23 4,50 17,57 1,91 172,51
1/12/1991 3,62 4,87 17,43 1,92 138,95
1/1/1992 2,93 4,85 15,08 2,39 252,33
1/2/1992 2,93 4,62 15,53 2,28 202,70
1/3/1992 2,93 3,98 17,33 2,48 166,67
1/4/1992 2,61 4,63 22,12 2,67 137,93
1/5/1992 2,61 5,07 22,52 2,46 265,32
1/6/1992 2,61 5,12 20,52 2,37 219,54
1/7/1992 2,40 5,53 20,67 2,51 179,83
1/8/1992 2,40 5,37 20,38 2,48 146,95

104

1/9/1992 2,40 5,12 20,75 2,10 269,10
1/10/1992 2,61 5,62 21,05 2,66 213,45
1/11/1992 2,61 5,67 21,00 2,87 173,69
1/12/1992 2,93 5,27 20,10 2,44 138,31
1/1/1993 3,08 5,95 20,48 2,60 257,26
1/2/1993 3,08 5,50 19,28 2,57 206,16
1/3/1993 3,08 4,82 19,23 2,45 220,85
1/4/1993 2,74 4,55 21,82 2,67 172,04
1/5/1993 2,74 4,62 20,53 2,58 262,24
1/6/1993 2,74 3,90 17,45 2,78 201,15
1/7/1993 2,52 4,05 18,70 2,77 215,66
1/8/1993 2,52 4,18 17,15 2,55 192,90
1/9/1993 2,52 3,90 15,83 2,42 246,88
1/10/1993 2,74 4,15 16,45 2,43 230,41
1/11/1993 2,74 4,85 16,67 2,48 211,65
1/12/1993 3,08 4,67 16,62 2,64 191,92
1/1/1994 3,88 4,37 16,18 3,02 238,03
1/2/1994 3,88 3,75 16,32 3,01 220,56
1/3/1994 3,88 2,58 17,47 2,84 181,04
1/4/1994 3,46 3,93 20,67 2,89 180,22
1/5/1994 3,46 4,47 22,07 3,01 181,61
1/6/1994 3,46 4,77 26,82 3,45 175,79
1/7/1994 3,17 5,07 26,67 3,61 196,90
1/8/1994 3,17 4,58 23,60 3,16 193,32
1/9/1994 3,17 4,38 24,13 3,20 205,98
1/10/1994 3,46 4,45 22,55 3,75 200,34
1/11/1994 3,46 4,40 21,72 3,63 194,58
1/12/1994 3,88 4,65 20,93 3,54 191,32
1/1/1995 4,70 5,48 20,20 3,45 188,61
1/2/1995 4,70 5,03 21,28 3,45 186,72
1/3/1995 4,70 4,47 20,22 3,20 183,74
1/4/1995 4,19 4,68 20,92 2,86 179,28
1/5/1995 4,19 4,77 21,72 2,98 250,84
1/6/1995 4,19 4,43 20,75 3,03 245,49
1/7/1995 3,85 4,38 19,30 3,02 239,60
1/8/1995 3,85 4,43 19,65 3,01 237,18
1/9/1995 3,85 4,93 21,20 2,77 234,43
1/10/1995 4,19 4,92 21,35 2,82 231,20
1/11/1995 4,19 4,90 20,83 2,82 227,76
1/12/1995 4,70 4,93 20,68 2,81 224,06
1/1/1996 4,64 4,70 19,12 2,91 220,84
1/2/1996 4,64 4,72 19,73 2,89 219,28
1/3/1996 4,64 4,42 19,93 2,86 218,65
1/4/1996 4,13 4,72 19,73 2,69 216,63
1/5/1996 4,13 4,47 18,67 2,85 239,56
1/6/1996 4,13 4,37 17,17 2,78 236,42
1/7/1996 3,80 4,18 16,33 2,80 233,62
1/8/1996 3,80 3,95 15,65 2,84 232,46
1/9/1996 3,80 3,80 16,32 2,86 232,41
1/10/1996 4,13 4,07 16,42 2,77 231,53
1/11/1996 4,13 4,15 16,65 2,76 230,74
1/12/1996 4,64 4,25 16,68 2,85 229,98

105

1/1/1997 4,69 4,32 16,37 2,84 228,14
1/2/1997 4,69 4,38 17,23 2,74 227,11
1/3/1997 4,69 4,28 15,98 2,49 225,58
1/4/1997 4,18 4,22 16,88 2,66 224,24
1/5/1997 4,18 4,00 16,62 2,61 239,99
1/6/1997 4,18 3,88 16,28 2,51 239,15
1/7/1997 3,84 3,83 16,10 2,61 238,72
1/8/1997 3,84 3,75 16,83 2,77 238,79
1/9/1997 3,84 3,85 17,37 2,72 238,55
1/10/1997 4,18 3,88 17,45 2,74 237,87
1/11/1997 4,18 3,85 17,72 2,72 237,51
1/12/1997 4,69 4,12 17,35 2,65 236,16
1/1/1998 4,62 4,17 17,32 2,49 234,17
1/2/1998 4,62 4,00 17,15 2,65 232,92
1/3/1998 4,62 3,90 17,93 2,65 231,78
1/4/1998 4,12 4,03 18,12 4,38 230,74
1/5/1998 4,12 4,03 18,33 4,37 248,18
1/6/1998 4,12 3,93 18,23 4,38 247,81
1/7/1998 3,78 3,83 17,52 4,28 248,51
1/8/1998 3,78 3,78 17,68 4,13 249,73
1/9/1998 3,78 3,83 18,92 4,15 250,51
1/10/1998 4,12 3,92 19,75 4,19 250,23
1/11/1998 4,12 3,97 19,78 4,19 250,68
1/12/1998 4,62 3,85 20,45 3,97 249,64
1/1/1999 4,41 3,83 20,33 3,95 248,02
1/2/1999 4,41 3,83 19,58 3,78 244,86
1/3/1999 4,41 4,07 19,90 3,82 241,77
1/4/1999 3,93 4,10 20,98 3,97 240,64
1/5/1999 3,93 3,97 21,72 3,91 251,62
1/6/1999 3,93 3,80 21,03 3,85 251,44
1/7/1999 3,61 3,72 20,15 3,81 249,60
1/8/1999 3,61 3,77 20,45 3,62 248,23
1/9/1999 3,61 3,78 21,30 3,84 247,27
1/10/1999 3,93 3,72 20,00 3,84 244,92
1/11/1999 3,93 3,80 19,50 3,73 242,64
1/12/1999 4,41 3,65 21,13 4,11 240,85
1/1/2000 4,54 3,52 21,33 4,07 239,39
1/2/2000 4,54 3,60 22,03 4,04 239,27
1/3/2000 4,54 3,63 23,90 4,09 238,96
1/4/2000 4,04 3,60 25,62 4,20 265,08
1/5/2000 4,04 3,57 26,15 4,10 265,21
1/6/2000 4,04 3,57 24,38 4,07 264,42
1/7/2000 3,71 3,58 24,72 3,94 260,80
1/8/2000 3,71 3,48 23,23 3,77 257,68
1/9/2000 3,71 3,47 23,63 4,44 256,57
1/10/2000 4,04 3,52 24,30 4,55 256,16
1/11/2000 4,04 3,53 24,22 4,53 255,42
1/12/2000 4,54 3,45 23,97 4,38 254,03
1/1/2001 4,49 3,55 24,80 4,34 252,08
1/2/2001 4,49 3,53 24,63 4,45 250,85
1/3/2001 4,49 3,48 24,28 4,49 249,66
1/4/2001 4,00 3,42 24,02 4,32 295,12

106

1/5/2001 4,00 3,45 24,15 4,14 293,45
1/6/2001 4,00 3,50 22,70 3,85 291,70
1/7/2001 3,68 3,47 22,12 3,99 288,50
1/8/2001 3,68 3,55 22,87 4,07 286,24
1/9/2001 3,68 3,52 22,90 4,19 284,99
1/10/2001 4,00 3,47 22,97 4,11 282,33
1/11/2001 4,00 3,50 22,78 4,08 278,74
1/12/2001 4,49 3,68 22,30 4,07 276,69
1/1/2002 4,42 3,68 23,18 4,06 273,76
1/2/2002 4,42 3,70 22,70 4,40 272,91
1/3/2002 4,42 3,75 25,55 4,56 271,23
1/4/2002 3,94 3,75 26,02 4,33 299,33
1/5/2002 3,94 3,65 26,17 4,30 299,07
1/6/2002 3,94 3,65 27,23 4,16 297,25
1/7/2002 3,62 3,57 26,37 4,21 293,87
1/8/2002 3,62 3,55 25,27 4,02 291,37
1/9/2002 3,62 3,48 25,85 3,81 288,97
1/10/2002 3,94 3,37 25,22 3,62 284,50
1/11/2002 3,94 3,35 23,80 3,41 275,17
1/12/2002 4,42 3,38 24,53 3,65 267,94
1/1/2003 4,26 3,28 24,47 3,78 261,48
1/2/2003 4,26 3,22 24,20 3,81 257,72
1/3/2003 4,26 3,17 24,02 3,60 254,23
1/4/2003 3,80 3,15 25,15 3,75 300,93
1/5/2003 3,80 3,18 26,22 3,95 297,98
1/6/2003 3,80 3,17 25,68 3,95 298,16
1/7/2003 3,49 3,33 25,22 3,84 298,04
1/8/2003 3,49 3,45 24,98 3,96 297,50
1/9/2003 3,49 3,35 25,20 3,90 295,08
1/10/2003 3,80 3,43 25,85 3,89 293,94
1/11/2003 3,80 3,38 25,73 3,87 292,85
1/12/2003 4,26 3,37 24,92 3,88 291,28
1/1/2004 4,27 3,33 24,80 3,81 288,88
1/2/2004 4,27 3,38 23,52 3,76 287,76
1/3/2004 4,27 3,30 23,70 3,76 286,13
1/4/2004 3,81 3,12 25,00 3,72 284,96
1/5/2004 3,81 3,03 24,75 3,70 307,48
1/6/2004 3,81 3,00 24,23 3,64 305,95
1/7/2004 3,50 3,00 23,68 3,44 303,73
1/8/2004 3,50 2,97 23,30 3,39 302,22
1/9/2004 3,50 2,95 24,37 3,58 301,71
1/10/2004 3,81 2,90 26,40 3,52 301,20
1/11/2004 3,81 2,85 26,18 3,48 299,88
1/12/2004 4,27 2,78 25,02 3,49 297,32
1/1/2005 4,49 2,93 24,93 3,61 295,63
1/2/2005 4,49 3,02 23,88 3,64 294,34
1/3/2005 4,49 2,92 22,23 3,49 292,21
1/4/2005 4,00 2,80 22,43 3,49 289,57
1/5/2005 4,00 2,78 22,38 3,61 331,80
1/6/2005 4,00 2,73 21,62 3,49 332,16
1/7/2005 3,68 2,82 21,07 3,53 332,06
1/8/2005 3,68 2,85 20,83 3,69 332,06

107

1/9/2005 3,68 2,87 21,15 3,74 331,57
1/10/2005 4,00 2,85 20,88 3,70 329,66
1/11/2005 4,00 2,82 20,82 3,68 327,89
1/12/2005 4,49 2,78 21,32 3,75 326,58
1/1/2006 4,76 2,87 21,08 3,85 325,34
1/2/2006 4,76 2,93 20,80 3,80 324,60
1/3/2006 4,76 3,02 20,98 3,99 323,72
1/4/2006 4,24 3,17 21,93 4,02 377,22
1/5/2006 4,24 3,15 22,02 4,05 376,73
1/6/2006 4,24 3,08 21,52 4,08 377,00
1/7/2006 3,89 3,05 20,32 3,98 376,58
1/8/2006 3,89 3,07 20,03 3,99 376,66
1/9/2006 3,89 3,05 21,12 3,88 376,06
1/10/2006 4,24 2,93 20,87 3,79 374,45
1/11/2006 4,24 2,92 20,75 3,77 372,88
1/12/2006 4,76 2,93 20,72 3,76 370,58
Quadro 25: Sries Temporais (Fonte: Sindicerv, Instituto Lafis, Ipea, Revista Conjultura Econmica).

108

ANEXO 4: REDUO DA TAXA TRIBUTRIA E A CARGA DE
DOENAS RESULTANTES EM MAURCIO

Maurcio, uma ilha-nao no Oceano Indico, tem uma populao de cerca de 1 milho de
pessoas. O turismo o terceiro setor em termos de receita em moeda forte. Em junho de 1994,
o governo baixou drasticamente os impostos alfandegrios sobre bebidas alcolicas
importadas para 80% das taxas que variavam de 200% para vinho at 600% para whisky e
outras bebidas (Abdool, 1998). O governo fez a mudana sob presso da indstria hoteleira,
que reclamava que os turistas no estavam comprando bebidas alcolicas suficientes devido
aos altos preos (Lee, 2001). Outros motivos dados para a mudana foram para reduzir as
importaes extra-oficiais do exterior e para disponibilizar bebidas alcolicas melhores e mais
refinadas para a populao local. Apesar de poucas evidncias para apoiar o ponto de vista,
havia reclamaes na discusso pblica de que bebidas alcolicas de melhor qualidade
trariam menos problemas sade.
Os efeitos da mudana foram sentidos principalmente pelos habitantes e no pelos
turistas, conforme descrito a seguir:
As prises por dirigir com nveis de lcool no sangue acima do limite, feitas principalmente
em conexo com acidentes de trnsito, aumentaram em 23% entre 1993 e1997.
As internaes de casos de alcoolismo no hospital psiquitrico da ilha cresceram muito em
1994. A taxa de 1995 foi mais do que o dobro da taxa de 1993, e a taxa subiu novamente um
pouco em 1996 e 1997. Os mdicos especialistas em Maurcio concordam que os pacientes
com problemas de alcoolismo respondem por uma parcela crescente de internaes em alas de
medicina geral e agora representam entre 40% e 50% da ocupao dos leitos (Abdool,1998).
As taxas de mortalidade ajustadas por idade em 100.000 habitantes por doena crnica do
fgado e cirrose aumentaram de 32,8 nos homens e 4,0 nas mulheres em 1993 para 42,7 para
homens e 5,3 para mulheres em 1996 (WHO 1999, 2000).
Embora as estatsticas disponveis sejam limitadas, a reduo das taxas de importao de
bebidas alcolicas teve claramente um efeito negativo substancial na sade dos habitantes da
ilha. Portanto, a requisio de medidas de controle de bebidas alcolicas feita pelo governo
em 1997 especificamente novos alvars para instalaes licenciadas, aumento dos impostos
de consumo sobre bebidas alcolicas e limitaes do horrio de abertura dos bares no
foram uma surpresa. Os impostos das bebidas alcolicas foram ligeiramente aumentados no
oramento de 1999/2000 (Departamento de Estado Norte-Americano, 1999). Contudo, uma

109

anlise da equipe do Banco Mundial que no levou em considerao os efeitos na sade
solicitou nova reduo das taxas mximas das tarifas, identificando Maurcio como tendo um
preconceito anticomercial com base na estrutura dos impostos de cigarros e bebidas
alcolicas.
Fonte: DCP2, captulo 47, p. 900.

110

ANEXO 5: NMERO DE BENEFCIOS CONCEDIDOS PELA
PREVIDNCIA SOCIAL ENTRE OS ANOS DE 1980 E 2006:

Ano Total
1980

1.541.682
1981 1.726.731
1982 1.702.776
1983 1.824.511
1984 1.680.329
1985 1.688.678
1986 1.572.074
1987 1.482.585
1988 1.427.977
1989 1.559.560
1990 1.390.693
1991 1.418.004
1992 1.987.130
1993 2.445.565
1994 2.081.153
1995 1.926.778
1996 2.179.875
1997 2.356.952
1998 2.346.817
1999 2.250.731
2000 2.949.149
2001 2.856.334
2002 3.867.564
2003 3.545.376
2004 3.993.529
2005 3.955.724
2006 4.238.816
Total 61.997.093
Quadro 12: Nmero de Benefcios concedidos pela Previdncia Social entre os anos de 1980 e 2006 (Fonte:
DATAPREV).

111

ANEXO 6: CUSTO EM R$ DOS BENEFCIOS CONCEDIDOS PELA
PREVIDNCIA SOCIAL ENTRE OS ANOS DE 1980 E 2006:

Ano Total em R$
1980 0,00
1981 0,01
1982 0,01
1983 0,03
1984 0,07
1985 0,21
1986 0,57
1987 1,34
1988 7,26
1989 112,55
1990 2.503,63
1991 16.074,13
1992 416.904,59
1993 8.851.644,93
1994 218.888.664,85
1995 430.149.406,93
1996 537.959.796,91
1997 669.771.526,85
1998 654.698.650,35
1999 613.836.420,44
2000 896.535.757,02
2001 970.615.974,49
2002 1.468.356.780,71
2003 1.598.961.990,05
2004 1.883.543.519,10
2005 2.076.160.709,18
2006 2.454.718.849,02
Total 14.483.485.295,23
Quadro 13: Custo em R$ dos benefcios concedidos pela previdncia social entre os anos de 1980 e 2006
Fonte: (DATAPREV).

112

ANEXO 7: LEGISLAO BRASILEIRA

DECRETO No 2.018, DE 1 DE OUTUBRO DE 1996.

Regulamenta a Lei n 9294, de 15 de
julho de 1996, sobre as Restries ao Uso e
Propaganda de Produtos Fumgeros,
Bebidas Alcolicas, Medicamentos, Terapias
e Defensivos Agrcolas, nos Termos do 4
do ART.220 da Constituio Federal.

ART.1 - O uso e a propaganda de produtos fumgeros, derivados ou no do tabaco, de bebidas
alcolicas, de medicamentos e terapias e de defensivos agrcolas esto sujeitos s restries e
condies estabelecidas por esta Lei, nos termos do 4 do ART.220 da Constituio Federal.
Pargrafo nico. Consideram-se bebidas alcolicas, para efeitos desta Lei, as bebidas
potveis com teor alcolico superior a treze graus Gay
Lussac.
ART.2 - proibido o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro
produto fumgero, derivado ou no do tabaco, em recinto coletivo, privado ou pblico, salvo
em rea destinada exclusivamente a esse fim, devidamente isolada e com arejamento
conveniente.
1 - Incluem-se nas disposies deste artigo as reparties pblicas, os hospitais e postos de
sade, as salas de aula, as bibliotecas, os recintos de trabalho coletivo e as salas de teatro e
cinema.
2 - vedado o uso do produtos mencionados no "caput" nas aeronaves e veculos de
transporte coletivo, salvo quando transcorrida uma hora de viagem e houver nos referidos
meios de transporte parte especialmente reservada aos fumantes.
ART.3 - A propaganda comercial dos produtos referidos no artigo anterior somente ser
permitida nas emissoras de rdio e televiso no horrio compreendido entre as vinte e uma e
as seis horas.
1 - A propaganda comercial dos produtos referidos neste artigo dever ajustar-se aos
seguintes princpios.
I - no sugerir o consumo exagerado ou irresponsvel, nem a induo ao bem-estar ou sade,
ou fazer associao a celebraes cvicas ou religiosas;
II - no induzir as pessoas ao consumo, atribuindo aos produtos propriedades calmantes ou
estimulantes, que reduzam a fadiga, ou a tenso, ou qualquer efeito similar;
III - no associar idias ou imagens de maior xito na sexualidade das pessoas, insinuando o
aumento de virilidade ou feminilidade de pessoas fumantes;

113

IV - no associar o uso do produto prtica de esportes olmpicos, nem sugerir ou induzir seu
consumo em locais ou situaes perigosas ou ilegais;
V - no empregar imperativos que induzam diretamente ao consumo;
VI - no incluir, na radiodifuso de sons ou de sons e imagens, a participao de crianas ou
adolescentes, nem a eles dirigir-se.
2 - A propaganda conter, nos meios de comunicao e em funo de suas caractersticas,
advertncia escrita e/ou falada sobre os malefcios do fumo, atravs das seguintes frases,
usadas seqencialmente, de forma simultnea ou rotativa, nesta ltima hiptese devendo
variar no mximo a cada cinco meses, todas precedidas da afirmao "O Ministrio da Sade
Adverte":
I - fumar pode causar doenas do corao e derrame cerebral;
II - fumar pode causar cncer do pulmo, bronquite crnica e enfisema pulmonar;
III - fumar durante a gravidez pode prejudicar o beb;
IV - quem fuma adoece mais de lcera do estmago;
V - evite fumar na presena de crianas;
VI - fumar provoca diversos males sua sade.
3 - As embalagens, exceto se destinadas exportao, os psteres, painis ou cartazes,
jornais e revistas que faam difuso ou propaganda dos produtos referidos no ART.2 contero
a advertncia mencionada no pargrafo anterior.
4 - Nas embalagens, as clusulas de advertncia a que se refere o 2 deste artigo sero
seqencialmente usadas, de forma simultnea ou rotativa, nesta ltima hiptese devendo
variar no mximo a cada cinco meses, inseridas, de forma legvel e ostensivamente destacada,
em uma das laterais dos maos, carteiras ou pacotes que sejam habitualmente comercializados
diretamente ao consumidor.
5 - Nos psteres, painis, cartazes, jornais e revistas, as clusulas de advertncia a que se
refere o 2 deste artigo sero seqencialmente usadas, de forma simultnea ou rotativa, nesta
ltima hiptese variando no mximo a cada cinco meses, devendo ser escritas de forma
legvel e ostensiva.
ART.4 - Somente ser permitida a propaganda comercial de bebidas alcolicas nas emissoras
de rdio e televiso entre as vinte e uma e as seis horas.
1 - A propaganda de que trata este artigo no poder associar o produto ao esporte olmpico
ou de competio, ao desempenho saudvel de qualquer atividade, conduo de veculos e a
imagens ou idias de maior xito ou sexualidade das pessoas.
2 - Os rtulos das embalagens de bebidas alcolicas contero advertncia nos seguintes
termos: "Evite o Consumo Excessivo de lcool".
ART.5 - As chamadas e caracterizaes de patrocnio dos produtos indicados nos artigos 2 e
4, para eventos alheios programao normal ou rotineira das emissoras de rdio e televiso,
podero ser feitas em qualquer horrio, desde que identificadas apenas com a marca ou
"slogan" do produto, sem recomendao do seu consumo.

114

1 - As restries deste artigo aplicam-se propaganda esttica existente em estdios,
veculos de competio e locais similares.
2 - Nas condies do "caput", as chamadas e caracterizaes de patrocnio dos produtos
estaro liberados da exigncia do 2 do ART.3 desta Lei.
ART.6 - vedada a utilizao de trajes esportivos, relativamente a esportes olmpicos, para
veicular a propaganda dos produtos de que trata esta Lei.
ART.7 - A propaganda de medicamentos e terapias de qualquer tipo ou espcie poder ser
feita em publicaes especializadas dirigidas direta e especificamente a profissionais e
instituies de sade.
1 - Os medicamentos andinos e de venda livre, assim classificados pelo rgo competente
do Ministrio da Sade, podero ser anunciados nos rgos de comunicao social com as
advertncias quanto ao seu abuso, conforme indicado pela autoridade classificatria.
2 - A propaganda dos medicamentos referidos neste artigo no poder conter afirmaes
que no sejam passveis de comprovao cientfica, nem poder utilizar depoimentos de
profissionais que no sejam legalmente qualificados para faz-lo.
3 - Os produtos fitoterpicos da flora medicinal brasileira que se enquadram no disposto no
1 deste artigo devero apresentar comprovao cientfica dos seus efeitos teraputicos no
prazo de cinco anos da publicao desta Lei, sem o que sua propaganda ser automaticamente
vedada.
4 - Toda a propaganda de medicamentos conter obrigatoriamente advertncia indicando
que, a persistirem os sintomas, o mdico dever ser consultado.
ART.8 - A propaganda de defensivos agrcolas que contenham produtos de efeito txico,
mediato ou imediato, para o ser humano, dever restringir-se a programas e publicaes
dirigidas aos agricultores e pecuaristas, contendo completa explicao sobre a sua aplicao,
precaues no emprego, consumo ou utilizao, segundo o que dispuser o rgo competente
do Ministrio da Agricultura e do Abastecimento, sem prejuzo das normas estabelecidas pelo
Ministrio da Sade ou outro rgo do Sistema nico de Sade.
ART.9 - Aplicam-se aos infratores desta Lei, sem prejuzo de outras penalidades previstas na
legislao em vigor, especialmente no Cdigo de Defesa do Consumidor, as seguintes
sanes:
I - advertncia;II - suspenso, no veculo de divulgao da publicidade, de qualquer outra
propaganda do produto, por prazo de at trinta dias;
III - obrigatoriedade de veiculao de retificao ou esclarecimento para compensar
propaganda distorcida ou de m-f;
IV - apreenso do produto;
V - multa de R$ 1.410,00 (um mil quatrocentos e dez reais) a R$ 7.250,00 (sete mil duzentos
e cinqenta reais), cobrada em dobro, em triplo e assim sucessivamente, na reincidncia.
1 - As sanes previstas neste artigo podero ser aplicadas gradativamente, e, na
reincidncia, cumulativamente, de acordo com as especificidades do infrator.

115

2 - Em qualquer caso, a pea publicitria fica definitivamente vetada.
3 - Consideram-se infratores, para efeitos deste artigo, os responsveis pelo produto, pela
pea publicitria e pelo veculo de comunicao utilizado.
ART.10 - O Poder Executivo regulamentar esta Lei no prazo mximo de sessenta dias de sua
publicao.
ART.11 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.
ART.12 - Revogam-se as disposies em contrrio.

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FACE: FACULDADE DE ADMINISTRAO, CONTABILIDADE E ECONOMIA

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