JFLASilveira
JFLASilveira
JFLASilveira
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
ABRIL 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
_____________________________
ABRIL 2019
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos que contribuíram para a conclusão desta importante etapa que
é o encerramento de minha graduação. Para isso, agradeço não só aqueles que auxiliaram na
elaboração e conclusão do presente trabalho, mas na minha constituição enquanto indivíduo.
Sendo assim, agradeço aos meus pais, Ligia e Paulo, pela formação, construção de valores,
pelo apoio e sacrifícios realizados que permitiram alcançar essa etapa. Agradeço, também, aos
meus irmãos Maria e Rafael, pelo companheirismo e pelos ensinamentos prestados. Não poderia
deixar de agradecer também à Ligia que, como uma segunda mãe, acompanha minha história desde
a entrada no Ensino Fundamental, com diversos ensinamentos e momentos compartilhados.
Dedico especial agradecimento à minha companheira Maria Gabrielle, que esteve ao meu
lado nos últimos 6 anos, me apoiando, me incentivando e colaborando na construção da pessoa que
sou hoje.
Agradeço aos alunos, professores e demais funcionários da UFRJ por todo o conhecimento,
aprendizado e troca ao longo da minha graduação. Em especial, gostaria de agradecer aos amigos
Daniel, Raphael e Vinicius pelo companheirismo e amizade e ao meu orientador, Ricardo Summa,
por todo conhecimento, dedicação e disponibilidade durante não só a construção desta monografia,
como nas aulas.
RESUMO
Este trabalho busca analisar o debate acerca do ciclo de crescimento baseado no consumo
financiado pelo crédito livre às famílias da economia brasileira no período entre 2003 e 2014, bem
como avaliar a sustentabilidade desse ciclo. Para isso, são apresentados modelos teóricos sobre o
impacto do consumo financiado pelo crédito no crescimento econômico e as políticas
implementadas pelo governo no período em questão, juntamente com um breve panorama da
conjuntura econômica brasileira no período em questão.
LISTA DE FIGURAS
7 Taxa de câmbio - efetiva real - INPC - exportações - índice (média 2010 = 100) p.
36
10 Taxa de crescimento do saldo das operações de crédito para pessoas físicas por
controle de capital p. 41
11 Saldo das operações de crédito com recursos livres a pessoas físicas em relação ao
PIB p. 42
13 Taxa média de juros real das operações de crédito com recursos livres - Pessoas
físicas - % a.a. 44
INTRODUÇÃO
Quando, em 2002, foi eleito Luiz Inácio Lula da Silva, para seu primeiro mandato
presidencial, muito foi questionado sobre quais seriam as políticas que o governo federal adotaria,
inclusive, instaurando grande medo em parte da sociedade. O que se observou, contudo, foi grande
respeito aos contratos internacionais e a manutenção do “tripé macroeconômico” como base das
políticas governamentais. Juntamente com essa estrutura, o governo federal implantou políticas
macroeconômicas de estímulo direto à Demanda Agregada. Foram englobados fatores como
redução da pobreza, consolidando um mercado doméstico consumidor; estímulos à Formação
Bruta de Capital Fixo e à construção civil e incentivos diretos ao consumo através da facilitação
do crédito.
tais medidas ou pelo esgotamento do ciclo, o processo virtuoso de crescimento foi interrompido e
as taxas de crescimento foram reduzidas, tornando-se negativas a partir de 2015.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos 2000
e 2015, a participação do consumo das famílias no PIB foi, em média, de 64%, enquanto o
investimento, consumo do governo e as exportações representaram, respectivamente, 20%, 19% e
12%1. Demonstrando, assim, a relevância do consumo das famílias para a determinação do PIB
brasileiro.
O primeiro capítulo apresenta quatro modelos teóricos, que visam explicar a relação do
crédito com o estímulo, positivo e negativo, no consumo das famílias. Sendo assim, está divido em
sete partes que apresentam e desenvolvem os modelos de Pariboni (2016) e Fagundes (2017), que
avaliam o impacto do crédito na Demanda Agregada e a sustentabilidade de ciclos de crescimento
baseados no crédito, a partir da teoria do supermultiplicador sraffiano, e de Kim Setterfield e Mei
(2013) e Barba e Pivetti (2012), que possuem os mesmos objetivos, porém, estruturados a partir da
hipótese de renda relativa de Dusenberry.
O terceiro capítulo expõe as políticas realizadas pelo governo federal que impactaram
diretamente na concessão de crédito livre, tanto pelo setor público, quanto setor privado, para as
famílias. Nesse capítulo é apresentado o debate sobre o esgotamento, ou não, do ciclo de
crescimento através do crédito, a luz dos conceitos apresentados pelos modelos teóricos discutidos
1
O total dos indicadores apresentados ultrapassam o valor de 100%, uma vez que compõem a Demanda Agregada.
Essa, por sua vez, é o resultado do PIB somado às importações, conforme será apresentado no primeiro capítulo do
presente trabalho.
12
no primeiro capítulo e as principais variáveis apontadas por eles. Por fim, na conclusão, o debate
exposto nos capítulos anteriores é sintetizado, apontando alguns obstáculos encontrados para a
elaboração de uma análise de sustentabilidade com maior eficiência frente aos estudos que
apresentados no presente trabalho.
13
Com vistas a basear as análises e discussões a serem feitas ao longo do presente trabalho,
este capítulo buscará apresentar alguns dos principais modelos para análise do impacto do crédito
na Demanda Agregada de uma economia, bem como avaliar a capacidade de sustentação de um
ciclo de endividamento. Nesse sentido, quatro modelos são sintetizados, sendo dois deles baseados
em uma tradição do supermultiplicador sraffiano (PARIBONI, 2016; FAGUNDES, 2017) e outros
dois sob o viés da renda relativa de Dusenberry (KIM, SETTERFIELD e MEI, 2013; BARBA e
PIVETTI, 2012).
O Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia é um dos principais indicadores para
qualquer análise macroeconômica. Ele pode ser estudado a partir de três óticas: Valor da Produção,
Dispêndio e Renda. Uma vez que o presente trabalho estará focado na relação entre o crescimento
do crédito e da economia brasileira entre os anos de 2003 e 2016, é preciso entender de que forma
o crédito impacta o consumo das famílias e, consequentemente, como ocorre a transmissão desse
impacto para o produto da economia. Dessa forma, as análises a serem realizadas no presente
trabalho partirão da ótica do Dispêndio, que pode ser analisada através da expressão a seguir.
Garegnani, em seu trabalho “Il problema della domanda effetiva nello sviluppo economico
italiano”, de 1962, introduz a primeira hipótese básica para os modelos de supermultiplicador
sraffiano, a partir da ideia de o investimento possuir uma parcela induzida pela renda e outra,
autônoma, derivada de inovações técnicas. A parcela dependente da renda possuiria o papel de
acelerador do crescimento, sendo determinado pelos gastos autônomos não-geradores de
capacidade, ou seja, que não geram capacidade produtiva, por não serem parte do investimento, e
14
que não são produtos das decisões de produção nem da financiados pela renda corrente, conforme
exposto por Fagundes (2017). No modelo, esses gastos são agregados na variável Z.
A segunda hipótese é a indução total do investimento, mesmo no curto prazo. Essa hipótese,
contudo, é apenas simplificadora e não essencial, como pode ser observado na exposição de
Fagundes (2017). Em todo caso, considerando essa condição, o investimento passa a ser
determinado conforme a expressão abaixo:
𝐼 = ℎ𝑌 (2)
𝑍
𝑌= (3)
𝑠−ℎ
ℎ′ −𝑠′
𝑔𝑌 = 𝑔𝑍 + (4)
ℎ−𝑠
𝑔𝐼 = 𝑔𝑍 + 𝑔ℎ (5)
𝑔𝐼 = 𝑔𝑍 (6)
conforme exposto em Fagundes (2017), é possível concluir que os gastos autônomos não-geradores
de capacidade determinam a dinâmica de crescimento da economia, sempre que a taxa de
investimento for constante.
Além disso, se a taxa 𝑔𝑍 é uma variável exógena ao modelo, não existe relação entre a taxa
de crescimento variáveis como propensão a poupar ou distribuição de renda. Esses fatores não
alteram a taxa de acumulação, mas o nível da renda agregada.
𝑌𝑡 = 𝐶𝑡 + 𝐼𝑡 + 𝐺𝑡 (7)
𝑍𝑡 = 𝐺𝑡 + 𝐶𝑡𝑎 + 𝐸𝑡 (9)
Caso haja uma taxa persistente de crescimento dos empréstimos, o produto de equilíbrio
será definido da seguinte maneira:
𝑐𝑎
𝑌𝑡𝑛 = 𝑠−𝑣(𝛿+𝑔
𝑡
𝑍) (12)
𝑡
A partir do modelo exposto, Pariboni (2016) deriva três consequências. A primeira é que,
como a propensão marginal a consumir dos capitalistas é pressuposta como menor, uma mudança
na distribuição de renda, que gere um aumento da parcela dos lucros, levará a uma redução da
demanda agregada, porém, isso não levará a uma redução na taxa de crescimento. Em segundo
lugar, um aumento da taxa de juros ou da taxa de amortização também terá o mesmo resultado. Por
último, um aumento permanente na taxa de crescimento dos empréstimos implicará em um
aumento na mesma magnitude na taxa de crescimento do consumo autônomo dos trabalhadores e
na taxa de acumulação de dívidas. Entretanto, neste último caso, a taxa de crescimento do produto
também cresce. (PARIBONI, 2017) De forma a sintetizar o modelo exposto, o quadro abaixo
apresenta as principais variáveis do modelo de Pariboni (2017).
17
A primeira premissa é que a amortização da dívida é determinada pelas famílias como uma
fração r do estoque da dívida. Além disso, o consumo autônomo das famílias é totalmente derivado
de novos empréstimos. Dessa forma, o consumo dos trabalhadores pode ser denotado como:
autônomo, enquanto as amortizações do estoque da dívida irão reduzir a renda disponível. Nesse
modelo, a aquisição líquida de ativos pode ser definida conforme equação abaixo.
𝑍𝑤 −𝑐𝑤 (𝑟+𝑖)𝐷
𝑌= (15)
𝑠−ℎ
𝑔𝐷 > 𝑐𝑤 𝑖 − 𝑠𝑤 𝑟 (17)
Sendo assim, uma redução na taxa de crescimento dos gastos autônomos (𝑔𝑍 ), significaria
uma redução na propensão dos trabalhadores a se endividar, ou dos bancos a emprestar, reduzindo
a geração de emprego e de renda. Além disso, dada a condição de sustentabilidade derivada da
equação (15), uma redução na taxa 𝑔𝑍 poderia levar a insustentabilidade do ciclo.
Se a taxa de amortização for nula ou positiva, porém, menor do que a taxa determinada
contratualmente, os trabalhadores não estarão amortizando a dívida conforme definido em contrato,
embora estejam pagando os juros. Sendo assim, possuirão comportamento Especulativo.
Por último, se a taxa de amortização for “negativa” e apenas maior ou igual que −𝑖, os
trabalhadores não estarão quitando os juros integralmente e, muito menos, amortizando o principal
da dívida. Dessa forma, possuirão comportamento Ponzi. É importante ressaltar o caso extremo,
onde 𝑟 = −𝑖. Nesse cenário, os trabalhadores não estão pagando nenhuma parcela dos juros e o
20
estoque da dívida crescerá em montante igual ao consumo autônomo mais os juros do estoque da
dívida.
Por fim, a partir do modelo desenvolvido, o autor conclui, através de estática comparativa,
que:
Sendo assim, as principais variáveis do modelo desenvolvido por Fagundes (2017) estão
expostas no Quadro 2.
Tendo como base a hipótese da renda relativa de Dusenberry, as decisões para tomada de
crédito ocorrem a partir de uma abordagem diferente da exposta no item I.1. Conforme proposto
pela teoria em questão, os trabalhadores de baixa e média renda possuem um consumo desejado
21
baseado, entre outros fatores, no consumo de outras famílias. Porém, como sua renda não permite
tal nível, se torna necessário o uso do crédito (KIM, SETTERFIELD E MEI, 2013).
O modelo estruturado por Kim, Setterfield e Mei (2013) baseia-se na heterogeneidade dos
consumidores, segregando-os em consumidores de alta renda, composto pelos capitalistas e
“trabalhadores ricos”, e de baixa renda, que são trabalhadores da produção e supervisores de nível
inferior. Assim, o crédito terá impacto, na medida em que os trabalhadores de baixa renda buscam
alcançar maiores patamares de consumo através do endividamento.
Neste modelo, é importante destacar também que os bancos funcionam apenas como
intermediários, uma vez que o crédito é financiado pelos depósitos feitos pelos consumidores de
alta renda e pelos próprios trabalhadores. Além disso, os bancos não recebem rendas por esse
serviço. Para a devida estruturação do modelo exposto, é importante evidenciar a segregação do
consumo, como se segue.
𝐶 = 𝐶𝑎 + 𝐶𝑏 + 𝐷 (18)
𝐶 = 𝛼(1 − 𝐶𝑏 ) + 𝛼𝐶 𝑑 + 𝐶𝑎 (20)
22
Nesse modelo, a busca por níveis mais elevados de consumo através do endividamento pode
levar à fragilidade financeira familiar, uma vez que uma elevação da renda no futuro que permita
a quitação do serviço da dívida não é garantida. Kim, Setterfiled e Mei (2013) argumentam que o
endividamento pode levar a diferentes resultados em relação à demanda agregada, dependendo da
relação entre o pagamento do serviço da dívida e a geração de uma poupança, e estruturam dois
cenários para melhor entendimento.
𝐷𝑡 𝐷 (1+𝑖)
= 𝑊𝑡−1(1+𝑤) − (𝑠 − 𝑘) (22)
𝑊𝑡 𝑡−1
𝐷𝑡
(𝑠 − 𝑘) ≥ (𝑖 − 𝑤) (23)
𝑊𝑡
O terceiro modelo apresentado foi elaborado por Kim, Setterfield e Mei (2013) que
utilizaram a hipótese da renda relativa de Dusenberry. Nesse modelo, a função-consumo passa a
depender não apenas da renda, mas também de outros fatores, como uma comparação com o
consumo de outros setores. Assim, os autores avançam nas motivações para tomada de
empréstimos e argumentam que os trabalhadores utilizariam o crédito para alcançar o consumo
desejado.
Por último, o modelo desenvolvido por Barba e Pivetti (2012) tem como objetivo, também,
determinar as condições de sustentabilidade do endividamento das famílias. Nesse caso, os autores
estruturam a relação de sustentabilidade, tendo como base de sua análise os mesmos princípios que
os apresentados no modelo de Kim, Setterfield e Mei (2013), ou seja, a hipótese da renda relativa.
Como resultado, Barba e Pivetti (2012), determinam a condição de sustentabilidade do
endividamento das famílias como uma relação entre as taxas de crescimento da renda e do
endividamento.
Sendo assim, o presente trabalho, ao longo dos próximos capítulos, buscará observar como
se comportaram as principais variáveis abordadas nos modelos acima durante o período de 2003 a
2015, na economia brasileira. Apresentando, também, a visão de diferentes autores sobre a relação
do crédito e do endividamento das famílias com os movimentos da economia brasileira e a tradução
de suas análises nos dados disponíveis para avaliação do assunto. Com o objetivo de sintetizar a
discussão exposta neste capítulo, o Quadro 5 - Principais contribuições dos modelos para a
discussão do presente trabalho expõe as principais contribuições de cada modelo, para a discussão
que será realizada nos demais capítulos deste trabalho.
Nesse mesmo período, o único momento em que não houve aumento do produto foi no ano
de 2009, quando eclodiu a crise do subprime nos Estados Unidos, levando o mundo inteiro a uma
grande crise mundial. Contudo, mesmo nesse ano, a queda foi de apenas 0,13%, e o crescimento
observado no ano seguinte foi de impressionantes 7,53%, apontando para uma rápida recuperação
nacional.
28
Ainda com relação ao crescimento no período entre 2004 e 2006, o grande afluxo de capitais
permitiu que o governo brasileiro passasse da posição de devedor, com um saldo da dívida externa
líquida do setor público consolido em, aproximadamente, 50 bilhões de dólares para a posição de
credor com, aproximadamente, 300 bilhões de dólares, segundo dados do Banco Central do Brasil,
conforme apresentado pelos autores.
Com tal alteração na posição do crédito internacional, o governo brasileiro, a partir do final
de 2005 tornou-se livre das exigências do FMI, conforme relatado por Serrano e Summa (2015).
Além disso, mesmo com o cenário de crise internacional a partir de 2008, o governo brasileiro foi
capaz de captar e acumular reservar internacionais, conforme Figura 3 - Reservas internacionais -
US$ (milhões), melhorando sua liquidez externa e capacidade de solvência. Dessa forma, devido,
incialmente, ao aumento das exportações e consequente captação de recursos internacionais, o
Brasil foi capaz gerar estabilidade e redução da dependência de liquidez internacional para
expansão.
Junto com a melhora das condições externas, o governo brasileiro inicia um processo de
estímulo ao crescimento baseado em dois principais pilares: consumo das famílias e política fiscal
expansionista. Acompanhando o movimento causado por esses fatores, é importante destacar o
30
Nesse sentido, em “Governos Lula: a era do consumo?”, estudo de João Sicsú (2017) que
analisa o período em questão, aborda a discussão sobre o principal fator para o crescimento entre
os anos de 2006 e 2010. O autor argumenta que o rótulo de “era do consumo” não surgiu de estudos
acadêmicos, mas de materiais elaborados pela mídia com o intuito de criticar as políticas adotadas
pelos governos Lula.
Para embasar seus argumentos, o autor apresenta os dados de variação real do consumo das
famílias e da formação bruta de capital fixo. Dados esses que, ao serem analisados, evidenciam
como, embora o consumo tenha crescido efetivamente, o investimento também cresceu, inclusive,
a taxas significativamente maiores em diversos momentos.
PIB 1,1 5,8 3,2 4,0 6,1 5,1 - 0,1 7,5 4,1
Investimento
- 4,0 8,5 2,0 6,7 12,0 12,3 - 2,1 17,9 6,7
(FBKF)
Consumo das
- 0,5 3,9 4,4 5,3 6,4 6,5 4,5 6,2 4,6
Famílias
O autor conclui em seu texto que o investimento executou papel tão importante quanto o
consumo das famílias para o crescimento da economia brasileira no período em questão, podendo,
então, ser utilizado o termo “era do investimento” de forma até mais precisa do que “era do
consumo”. Contudo, como desenvolvido no mesmo texto, Sicsú (2017) demonstra como o
consumo foi importante para geração do impulso inicial estimulador do investimento, consumo
esse originado do aumento da renda e popularização do crédito.
31
Figura 4 - Participação do Consumo das Famílias e da Formação Bruta de Capital Fixo no PIB
(2000 – 2014)
Tendo como base a figura acima, é possível verificar que as participações do consumo das
famílias (Cf) e da formação bruta de capital fixo (FBKF) no PIB mantiveram variação aproximada
de mesma dimensão, entre os anos de 2000 e 2014. É importante destacar o ano de 2009, quando
a participação do investimento no PIB retraiu, devido à crise internacional, e o consumo das
famílias cumpriu o papel de sustentar o nível da economia nacional, aumentando sua participação
de forma significativa.
Dessa forma, é notável como o consumo das famílias foi crucial para o ciclo de expansão
da economia brasileira, sustentando o crescimento do PIB. Afinal, conforme exposto por Sicsú
(2017), “não há lógica econômica que possa explicar o investimento que não é precedido pela
expectativa de consumo – que é formada em grande medida com base no consumo corrente.” Em
análise realizada por Dos Santos (2013), essa visão é reforçada, na medida em que aponta o
estabelecimento de ciclo virtuoso entre os aumentos nos rendimentos das famílias mais pobres, a
demanda de serviços de consumo e bens manufaturados e a geração de emprego e,
consequentemente, mais renda.
crescimento da formação bruta de capital fixo ocorre, dentre outros motivos, influenciado pela
necessidade de expansão da capacidade produtiva, evidenciada pelo aumento do investimento em
máquinas e equipamentos, e pela expansão da construção, principalmente movido pelas famílias,
inclusive por conta de programas como “Minha Casa, Minha Vida”2.
Com relação ao consumo das famílias, o governo Lula aplicou estratégias que
estimulassem, principalmente, as camadas mais baixas da sociedade através de políticas, que
incluem, aumento de renda e fornecimento de crédito. Assim, no início de seu primeiro mandato
instaurou políticas de reajustes de salários mínimos e concessão de linhas de crédito facilitadas.
Com relação as políticas de crédito, o tema será abordado no próximo capítulo do presente trabalho.
Sobre o aumento de renda, a alteração no perfil das famílias brasileiras é sensível, quando
analisados, por exemplo, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) entre
2001 e 2013, expostos em trabalho de Carvalho et al (2016). A Figura 5 apresenta a distribuição
percentual dos domicílios, por faixa de renda, entre 2001 e 2013, obtidos nas PNADs.
2
Segundo portal do Ministério das Cidades, o Programa Minha Casa, Minha Vida “É um programa do Governo
Federal que busca facilitar a conquista da casa própria para as famílias de baixa renda.” Esse programa destina-se a
famílias com renda mensal de até R$ 6.500,00 ou renda anual de R$ 78.000,00, para agricultores familiares e
trabalhadores rurais.
33
É possível observar que a partir de 2003 existe uma clara tendência de redução dos
domicílios com renda até R$ 400,00, bem como, de forma mais modesta, até 2006, domicílios com
renda entre R$ 400,00 e R$ 600,00. Em contrapartida, os domicílios com renda acima de R$
1.000,00 possuem um forte aumento, principalmente nas faixas de R$ 1.000,00 a R$ 1.600,00 e de
R$ 1.600,00 a R$ 3.000,00.
Corroborando essa análise, Serrano e Summa (2011) apontam que, embora desde o início
do século XXI o Índice de Gini apresentasse redução, a parcela salarial da renda também diminuía.
É apenas a partir de 2004 que a parcela salarial da renda volta a crescer, acentuando a redução do
Índice de Gini e apontando, inclusive, uma alteração no motor por trás da redução da desigualdade.
Conforme Figura 5 – Distribuição percentual dos domicílios, por faixa de renda (2001-2013) e
apontado pelos autores, até 2004, o que se observa é, principalmente, a redução da parcela das
famílias com rendas de trabalho elevadas, por isso, a aparente redução da desigualdade, em
conjunto com a redução da parcela salarial da renda.
Entretanto, a partir de 2004, a parcela salarial da renda inverte sua tendência, passando de
30,8% para 34,1%, no período entre 2004 e 2009, segundo Serrano e Summa (2011). Nesse
período, o Índice de Gini reduz de forma acelerada também. Os autores apontam que essa mudança
é decorrente dos aumentos do salário mínimo. Sinalizam também que a taxa de pobreza e de
pobreza extrema, que estavam estabilizadas em 35% e 15%, respectivamente, apresentam queda,
alcançando, aproximadamente, 20% e 7,5%, respectivamente.
Os autores avaliam também que, devido a aumento dos preços relativos, relação entre os
preços ao produtor e os preços ao consumidor, foi possível realizar o aumento dos salários reais
sem pressionar os lucros, atenuando o conflito distributivo. Por fim, destacam a relevância do
aumento da produtividade agrícola através da mecanização e elevação da participação do setor de
34
Para além do aumento do salário mínimo, o autor destaca, também, a expansão dos gastos
sociais, onde “[o gasto social direto] passa de 12,4% do PIB em 2003 para 15,3% do PIB em 2014”.
No âmbito dos gastos sociais realizados para Assistência Social, é importante destacar a relevância
do Programa Bolsa Família (PBF)3, que, no ano de 2015, alcançou a marca de 0,45% do PIB
(Secretaria da Fazenda Nacional, 2016).
Figura 6 – Gasto social do Governo Central – Gastos diretos e tributários – Brasil – 2002 a 2015 -
% PIB
3
Segundo portal do Ministério da Saúde, “O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa federal de transferência
direta de renda à famílias em situação de pobreza (renda entre R$70,01 a R$140,00 por pessoa) ou de extrema pobreza
(renda de até R$70,00 por pessoa), com a finalidade de promover seu acesso aos direitos sociais básicos e romper com
o ciclo intergeracional da pobreza. O Programa é realizado por meio de auxílio financeiro vinculado ao cumprimento
de compromissos na Saúde, Educação e Assistência Social - condicionalidades.”
35
Uma das políticas adotadas com esse objetivo, de acordo com o autor, se dá através da
administração da taxa de câmbio que, embora enfrentasse cenário internacional de extrema
volatilidade, foi capaz de manter a estabilidade do câmbio nacional, apresentando, inclusive,
depreciação do real, frente ao período de apreciação, entre 2002 e 2010. Essa política, contudo, não
foi capaz de reorientar a produção, induzindo a uma substituição de importações, pois, segundo
Carneiro (2017), a anterior apreciação da taxa de câmbio estimulou o aumento do coeficiente de
importação da indústria que apenas perdeu rentabilidade no curto prazo com a depreciação.
36
Figura 7 – Taxa de câmbio - efetiva real - INPC - exportações - índice (média 2010 = 100)
Serrano e Suma (2015), contudo, apresentam dados do IBGE que demonstram redução no
coeficiente de produto importado no Brasil no período de valorização do real e aumento no período
de desvalorização. Os autores apontam ainda que estudo realizado por Cláudio Hamilton dos
Santos, André Cieplinski, Débora Pimentel e Gustavo Bhering, em 2015, apresentam que a
elasticidade da taxa de câmbio é baixa, devido à presença marcante de produtos com baixa ou
nenhuma possibilidade de substituição.
Ainda com relação ao mercado externo, as exportações de bens e serviços, que foram de
suma importância para iniciar o processo de crescimento, apresentaram, entre 2011 e 2014, uma
redução em seu patamar de crescimento. Conforme apontado por Serrano e Suma (2015), alguns
economistas acreditam que essa redução é decorrente da apreciação do câmbio, ocorrida nos
governos Lula. Contudo, os autores argumentam que a causa para a alteração no padrão de
crescimento das exportações é decorrente da desaceleração do comercial mundial. Dessa forma, a
economia brasileira estaria sendo impactada por uma tendência global.
bilhão em 2014. Esse grande aumento é oriundo, conforme exposto pelo autor, de uma
generalização da concessão, uma vez que, a princípio, buscava auxiliar alguns setores industriais,
mas, posteriormente, incluíram outros setores.
Segundo Carneiro (2017), o resultado final dessa política foi de aumentar a lucratividade
das empresas, através da redução do custo salarial, com pequenos impactos na trajetória agregada
do emprego. Outro resultado foi um impacto fiscal negativo na ordem de 0,5%, decorrente do não
aumento da arrecadação através de outras alíquotas ou outros impostos. Porém, novamente sem
alcançar o principal objetivo de reorientação da estrutura produtiva.
Também sob a ótica dos salários, Serrano e Suma (2015) apontam a decisão do governo em
não aumentar o salário mínimo real em 2011, iniciando um ciclo de políticas contracionistas. Essas
políticas tinham como objetivo conter o crescimento da demanda agregada, permitindo alcançar o
superávit primário, mesmo com um cenário de desaceleração internacional.
Junto com a contenção do salário mínimo real, o governo realizou cortes no gasto e no
investimento público, gerando, inclusive, uma redução no valor nominal do investimento do
governo central e das estatais. Como alternativa ao investimento governamental, iniciou-se um
processo de criação de parcerias público-privadas, com concessões e financiamentos. Contudo,
mesmo com as desonerações fiscais, o investimento privado não apresentou a resposta esperada e
o resultado primário do governo, em 2014, tornou-se deficitário, como pode ser verificado na
Figura 8 - Resultado Primário do Governo Central entre 2004 e 201.
38
De toda forma, seja pelo esgotamento do ciclo, defendido por Carneiro (2017), ou por
pressões de diversos setores da sociedade, como exposto por Sicsú (2017), é evidente que houve,
após 2011, uma alteração da orientação na política macroeconômica brasileira, passando a adotar
medidas macroprudenciais e de ajuste fiscais, com impacto direto na contenção da demanda
agregada. Contudo, conforme exposto ao longo desse capítulo, as políticas não foram exitosas em
realizar a substituição da atuação governamental pelo privado, acarretando em estagnação.
No presente capítulo, serão expostas algumas das principais estratégias utilizadas pelo
governo para estimular o consumo através da disponibilização do crédito para as famílias, a luz
dos modelos apresentados no primeiro capítulo do presente trabalho. Ao final, são apresentadas
análises acerca da sustentabilidade do ciclo de crescimento via crédito.
Conforme exposto por Sicsú (2017), um fator decisivo para o aumento do crédito foi a
“bancarização” da população de baixa renda. O autor aponta que, juntamente com o PBF, entre
2003 e 2010, a instituição da Conta CAIXA Fácil “... permitiu o acesso ao mercado bancário de
aproximadamente 11 milhões de brasileiros” (Caixa apud SICSÚ, 2017). A expansão do mercado
bancário brasileiro é evidente ao observar a figura a seguir, uma vez que, de 2005 a 2015, houve
um incremento de cerca de 25% no percentual de adultos com relacionamento bancário em todo o
Brasil, segundo dados do BCB.
40
Figura 10 – Taxa de crescimento do saldo das operações de crédito para pessoas físicas por
controle de capital
Combinando as alterações destacadas acima, o crédito livre para pessoas físicas no Brasil
aumentou drasticamente, adquirindo grande importância para o estímulo do consumo das famílias
e, consequentemente, do investimento no ciclo de crescimento entre os anos de 2003 e 2010. O
crescimento desse saldo pode ser observado através da figura abaixo.
42
Figura 11 – Saldo das operações de crédito com recursos livres a pessoas físicas em relação ao
PIB
Para além das políticas expostas, Oliveira e Wolf (2016) argumentam que o cenário
internacional favorável, permitiu o relaxamento fiscal e monetário no governo Lula, mantendo-se
o “tripé macroeconômico”. Assim,
dos bancos, do capital mínimo exigido para empréstimo de longo prazo, dos impostos sobre
transações financeiras para crédito de consumo e aumento do pagamento mínimo de cartão de
crédito. Essas políticas buscavam conter a Demanda Agregada e a evolução da inflação, devido a
pressão de diversos setores da sociedade (VEJA, 2011).
Contudo, ao final de 2011, o governo inicia reorientação com políticas como queda da taxa
de juros e aumento da atuação direta dos bancos públicos. Segundo Camarotti (2011), a redução
da Selic em setembro de 2011, ocorreu devido a pressão da então presidente Dilma Rousseff, que
avaliava que a economia brasileira já indicava entrada em processo de desaceleração suficiente
para contensão do “risco inflacionário”.
O impacto das medidas citadas acima, podem ser observadas na figura abaixo, visto que
existe clara tendência de redução da taxa média de juros das operações de crédito livres para
pessoas físicas no período entre 2003 e 2013, com reversão após esse período. Importante destacar
o ano de 2009, quando houve pico, decorrente da crise do subprime, ocorrida nos Estados Unidos
e com reflexo em economias de todo o mundo, porém, a trajetória de queda é rapidamente
retomada. A exceção, em relação a queda pós 2009, ocorre apenas para a taxa média de juros real
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do cheque especial que apresenta relativa estabilidade entre 2004 e 2008 e posterior estabilidade
entre 2009 e 2013, em patamar mais elevado.
Figura 13 – Taxa média de juros real das operações de crédito com recursos livres - Pessoas
físicas - % a.a.
Segundo Pariboni (2017), a redução da taxa de juros gera aumento direto no nível da
demanda agregada, complementando, dessa forma, o efeito positivo causado pelo aumento das
operações de crédito e potencializando a estratégia utilizada para desenvolvimento da economia
brasileira.
Sobre o vínculo entre o consumo via crédito e a taxa de juros, em Schetinni et al (2011), os
autores apresentam o modelo macroeconométrico de maior escala desenvolvido entre 1999 e a
década de 2000, que busca a construção de uma função de consumo. O modelo em questão aponta
baixo efeito renda, bem como da taxa de juros, enquanto o crédito possui uma maior
preponderância na determinação do consumo. Na mesma medida, o modelo desenvolvido pelos
autores utilizando os dados disponíveis para os anos de 1995 e 2009, avalia que
Dessa forma, destaca-se a relevância do crédito e da taxa de juros, frente à renda disponível,
na determinação do consumo. Tais resultados em muito se assemelham às funções de Fagundes
(2017) e Kim, Setterfield e Mei (2014) apresentadas no primeiro capítulo do presente trabalho,
46
Sobre as operações de crédito por faixa de renda, o Relatório de Inclusão Financeira (RIF),
de 2015, apresentada as distribuições dos volumes de crédito segregados por modalidade e por
faixa de renda, para os anos de 2012 a 2014. Do RIF, cabe destacar que, nos três anos analisados,
cerca de 40 a 45% do volume de crédito através de cartão de crédito, seja parcelado ou rotativo, foi
tomado por pessoas com rendimento inferior à 3 salários mínimos, enquanto tomadores com renda
acima de 10 salários mínimos foram responsáveis por apenas 20% do volume, aproximadamente.
Para o cheque especial, os tomadores com renda de até 3 salários mínimos possuíam cerca de 20%,
enquanto os com renda acima de 10 salários mínimos eram responsáveis por quase 45% do volume
total.
Sendo assim, o que se observa é que o crédito pessoal consignado e cartão de crédito foram
mais utilizados por parte da população com menor renda, enquanto o crédito pessoal sem
consignação e o cheque especial foram mais utilizados pela população com maior renda. Contudo,
como não foram localizados dados anteriores, não é possível analisar a evolução dos indicadores
no período em questão.
Claudio Hamilton Dos Santos, em texto intitulado “Notas sobre as dinâmicas relacionadas
do consumo das famílias, da formação bruta de capital fixo e das finanças públicas brasileiras no
período 2004-2012”, apresenta que “a quantidade de pessoas físicas tomadoras (CPFs distintos)
identificadas com responsabilidade de pelo menos R$5 mil cresceu 155% entre 2005 e 2010 e
389%, se considerado o período de janeiro de 2003 a dezembro de 2010” (BACEN, apud DOS
SANTOS, 2013). O autor salienta que que não foi possível utilizar os dados para responsabilidades
abaixo de R$5 mil, pois não era obrigatória a identificação junto ao Banco Central.
nesse período. Através dos dados do SCN, é possível verificar que esse setor teve seu peso alterado
no consumo das famílias, passando de 4,06 em 2000, para 6,86 em 2013. Os autores atribuem esse
aumento ao acesso, pelas classes de renda mais baixas, à linhas de financiamento.
É importante destacar que os autores salientam que os resultados da POF, no geral, não
subestimam o crescimento do setor de serviços de intermediação financeira, observado no SCN,
nesse mesmo período. Ao mesmo tempo, o SCN apresenta uma redução nos alugueis imputados,
contudo, essa redução não está presente na POF. Essas diferenças ocorrem por questões
metodológicas das duas pesquisas e que, conforme apontado pelos autores, é um movimento
bastante verificado ao redor de todo o mundo, principalmente quando a inflação se acelera. Em
resumo, parte da diferença pode ser atribuída ao fato de o consumo das famílias no SCN ser obtido
através de um misto de método do resíduo com estimação direta da POF, enquanto os resultados
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da POF podem ser alterados de acordo com a análise dos setorialistas do IBGE, instituto
responsável pela pesquisa.
Contudo, conforme exposto no primeiro capítulo deste trabalho, para além do crescimento
de uma economia através do efeito do crédito no supermultiplicador sraffiano, é necessário
verificar se a estrutura em questão é sustentável. Haja visto que o crédito também pode atuar como
redutor do consumo, caso o crescimento da renda não seja suficiente para o cobrir os custos das
dívidas contraídas. Por isso, embora a expansão do crédito estivesse gerando crescimento da
economia brasileira, é importante verificar se também não estava direcionando a um
estrangulamento da mesma, conforme apontado por alguns autores.
Carneiro (2017) avalia que, devido ao acirramento do conflito distributivo, que impediu o
aumento de renda via redistribuição para pagamento do serviço da dívida, bem como o alto
comprometimento da renda da população brasileira, em conjunto com a redução da oferta de
crédito, o ciclo de crescimento esgotou na virada da década, forçando a reorientação da política
econômica.
De acordo com Serrano e Summa (2015), a redução da taxa de juros para crédito ao
consumidor não foi suficiente para manter o crescimento do consumo baseado no crédito. Os
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autores apontam ainda que, devido a redução do crescimento econômico, a taxa de criação de
empregos no setor formal reduziu, impactando, também, no surgimento de novos possíveis
tomadores de crédito.
Conforme aponta Pariboni (2017), a alteração dessas variáveis exógenas, como redução dos
gastos autônomos do governo, acabará por reduzir a taxa de crescimento da economia e aumentar
a relação dívida-renda, levando a insustentabilidade do ciclo. Essa relação pode ser observada na
figura 13, uma vez que, mesmo com a redução do endividamento das famílias, a partir de 2011, o
comprometimento da renda mantém-se estável, com leve redução apenas entre 2012 e 2013.
Entretanto, o estudo realizado por Guimarães (2016), utiliza dados agregados de renda, o
que pode não representar a real sustentabilidade do ciclo. Uma vez que as parcelas de trabalhadores
com rendas inferiores possuem maior propensão à consumir e que, segundo dados apresentados
neste capítulo e o modelo no qual a análise se baseia, esses trabalhadores também seriam os
principais tomadores de crédito, visto que buscam equiparar suas cestas de consumo com os
trabalhadores de alta renda. Dessa forma, seria necessário verificar se a renda dos tomadores de
créditos cresce em proporção suficiente para sustentar o crescimento do crédito.
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CONCLUSÃO
Neste trabalho foram apresentados modelos teóricos de relação entre Demanda Agregada e
crédito para famílias, bem como modelos para análise de sustentabilidade de ciclos de crescimento
baseados nessa modalidade de crédito. Isso pois, conforme apresentado, o crescimento brasileiro
ocorrido entre 2003 e 2010 foi diretamente influenciado por essa ferramenta. Para além disso, a
partir de 2011, a retração no crescimento também possui relação com as políticas referentes ao
crédito para famílias.
Sendo assim, foi observado que, graças a cenário externo favorável, o governo brasileiro
pode criar, a partir de 2003, as bases para a construção de um mercado doméstico consumidor
robusto e capaz de sustentar a economia brasileira. Contudo, alguns autores, como Carneiro (2017),
argumentam que não houve alteração da estrutura produtiva capaz de responder ao estímulo gerado,
o que levou ao esgotamento do ciclo a partir de 2010.
Carneiro (2017) argumenta também que a tentativa de alteração da estrutura social, iniciada
pelos governos Lula, geraram forte conflito distributivo, contribuindo para a desestabilização das
bases para o ciclo de crescimento virtuoso. Foi exposto também, a análise de Serrano e Summa
(2015), que argumentam que o esgotamento do ciclo foi causado justamente pelas políticas
macroprudenciais e pelo reajuste fiscal adotado pelo governo.
Para avaliar esse cenário, foram apresentados os estudos de Dos Santos (2013), Schettini et
al (2011) e Guimarães (2016), baseados em dados do Banco Central do Brasil, de pesquisas
realizadas pelo IBGE, como a POF e a PNAD, e do SCN. As informações dispostas por Guimarães
(2016) apontam para o cenário onde o ciclo de crescimento baseado no crédito não se encontrava
completamente esgotado quando o governo adotou as políticas macroprudenciais.
Contudo, para que fosse possível afirmar o ciclo realmente havia se esgotado, seria crucial
a capacidade de análise do endividamento e capacidade de solvências das famílias de forma
segregada por faixa de renda, uma vez que o endividamento e o consumo apresentam grandes
diferenças por faixa de renda.
Com os dados expostos no presente trabalho, é possível inferir que, embora houvesse um
aparente aumento do endividamento nos setores da sociedade com menor rendimento, também
houve aumento da renda dos mesmos, apontando, também, para sustentabilidade do ciclo.
Entretanto, os dados referentes ao endividamento das famílias não são disponibilizados de forma
segregada, impedindo que seja realizada a análise proposta de forma conclusiva.
Em todo caso, é evidente que houve, no período entre 2011 e 2014, um aumento da
inadimplência das pessoas físicas tomadoras de crédito livre, conforme dados do Banco Central do
Brasil, e que houve retração no consumo, revertendo o ciclo virtuoso de crescimento
experimentado até então. Como exposto, também, no terceiro capítulo do presente trabalho, após
a implementação das medidas macroprudenciais, mesmo com nova tentativa do governo federal
em estimular o crédito, o setor privado não respondeu na mesma intensidade e velocidade,
tornando-se um obstáculo para a retomada do ciclo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estrutural a partir de dados do Sistema de Contas Nacionais e da Pesquisa de Orçamentos
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2209, 2016.
DOS SANTOS, C.H. Notas sobre as dinâmicas relacionadas do consumo das famílias, da
formação bruta de capital fixo e das finanças públicas brasileiras no período 2004-2012. In:
CORRÊA, V. (org.) Padrão de acumulação e desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo. 2013
GARBER, Gabriel et al. Household Debt and Recession in Brazil. National Bureau of
Economic Research, 2018.
VEJA. “Inflação em 2010 tem a maior alta em seis anos”. 2011. Disponível em
<https://veja.abril.com.br/economia/inflacao-em-2010-tem-a-maior-alta-em-seis-anos/>.
Acessado em 24 mar. 2019