Coragem é agir com o coração
De Fred Elboni
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Sobre este e-book
COR (coração) +AGEM (do verbo agir) = CORAGEM (agir com o coração)
Coragem não tem nada a ver com pular de paraquedas, falar em público ou enfrentar um adversário poderoso.
Experimentamos a verdadeira coragem quando revelamos o que está dentro de nós e expressamos nossos sentimentos e desejos mais profundos: quando convidamos uma pessoa para sair, dividimos o que sentimos, escolhemos um caminho profissional, defendemos uma causa.
A coragem nos abre para o que realmente importa na vida: conexões baseadas na verdade e no amor.
Mas como ser verdadeiro e vulnerável nesse mundo de perfeccionismo, cobranças e comparações constantes?
Este é o tema deste livro.
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Coragem é agir com o coração - Fred Elboni
Capítulo 1
TODO MUNDO QUER SER ACEITO
Quase todo mundo tem uma lembrança de um episódio doloroso de rejeição ou de não aceitação. A minha mais antiga é de quando eu tinha 7 anos. Minha mãe e eu havíamos nos mudado de São Paulo, onde nasci, para a cidade natal dela, Blumenau, logo após meus pais se separarem. Eu deixei para trás uma rotina conhecida em família, rodeado de amigos, para morar só com minha mãe, longe do meu pai, num lugar estranho, com pessoas desconhecidas.
Minha primeira impressão de Blumenau foi de que era uma cidade mais fria em todos os sentidos. Sem amigos na vizinhança ou no colégio, eu me senti perdido, sem referências. Quem seriam meus novos colegas, com quem eu iria brincar ou fazer um lanche na hora do recreio?
Nos primeiros dias de aula, fiquei em silêncio, apenas observando a movimentação, tentando identificar onde eu poderia me encaixar, quem seriam meus possíveis amigos e as pessoas a quem eu poderia contar as coisas que passavam na minha cabeça. Sentei na terceira fileira, na esperança de que, ficando no meio, fosse mais fácil ser visto, me integrar e me enturmar.
Tentei conversar algumas vezes com uma menina que sentava ao meu lado, depois com o menino de cabelos compridos atrás de mim, mas os olhares pouco convidativos foram me deixando cada vez mais reservado. Tudo bem, é possível que eu estivesse falando em um momento errado, durante alguma explicação da professora, mas minha prioridade naquele momento era fazer amizades. A questão era urgente.
Percebi que muitos dos meus colegas de turma estavam combinando de ir à casa uns dos outros logo no primeiro final de semana após o início das aulas. Os grupos estavam formados muito antes da minha chegada, as amizades vinham dos pais e se estendiam às crianças. Diante disso, a primeira coisa que pensei foi que minha mãe deveria se aproximar das mães dos meus colegas de classe, mas logo descartei essa ideia. Eu sabia que não fazíamos parte da nata
daquela sociedade e não tínhamos dinheiro para fazer os mesmos programas que aquelas famílias faziam ou frequentar os mesmos locais. Além do mais, minha mãe trabalhava o dia inteiro, e eu não podia preocupá-la com algo tão pequeno
. Ou seja, eu que fizesse meus próprios amigos.
No início, acreditei que eu não demoraria muito para me enturmar. Era uma vantagem ser de outra cidade, outros ares, com outras histórias para contar, pensei. Ledo engano. Os olhares e os sorrisos não eram recíprocos, o papo não fluía, e pouco a pouco fui perdendo a confiança. Apesar de tímido, eu sempre consegui superar isso e explorar meu lado extrovertido, especialmente quando me sentia confiante. Parece contraditório que uma mesma pessoa carregue timidez e extroversão dentro de si? Pois saiba que elas convivem muito bem. Porém, por ser novo no colégio e não ter tido uma aceitação com a rapidez que atenderia às minhas expectativas, minha timidez foi crescendo. Eu me retraía mais e mais, o que parecia antipatia. Isso, por sua vez, me afastava ainda mais das pessoas. Um círculo vicioso se instaurou: quanto mais minha ansiedade por fazer amigos crescia, mais quieto e retraído eu ficava, o que não ajudava nem um pouco a atrair os amigos que eu tanto queria.
Fui me sentindo cada vez mais sozinho. Todo dia de manhã, a caminho do colégio, eu tentava bolar alguma maneira de me sentir parte daquele ambiente, encontrar uma forma de fazer amizades sendo quem eu era. Numa dessas caminhadas matutinas, surgiu uma ideia: escrever um bilhete, simples e direto, pedindo que o menino que sentava perto de mim fosse meu amigo. Foi tão ingênuo, mas tão honesto, que na hora achei uma ideia brilhante.
Percorri o restante do caminho a passos firmes, sorrindo, animado para pôr meu plano em prática. Ao chegar à escola, fui direto para a sala, sentei na minha carteira, peguei uma caneta azul daquelas simples (que toda hora estouravam dentro da mochila) e escrevi exatamente assim para o garoto: Quer ser meu amigo?
Quando escrevi, com as minhas letras pouco simétricas porém bem-intencionadas, eu nem pensei na possibilidade de receber um não. Estava confiante, feliz, decidido. Resolvi me abrir ao ineditismo do que poderia acontecer. No entanto, coloquei minha expectativa de alegria nas mãos de outra pessoa sem ao menos conhecê-la.
A resposta não chegou. Nem no fim da aula, nem no fim do dia. Ele simplesmente me ignorou. Os anos se passaram e nunca toquei no assunto.
EXISTE ALGO PIOR QUE A DOR DA REJEIÇÃO?
A história, apesar de sua dor dilacerante, não pode ser apagada, mas se for encarada com coragem não precisa ser revivida.
– Maya Angelou
Se você é como eu, doeu um pouco ler essa história. A rejeição não é um sentimento fácil de ser digerido. Quando estendemos a mão para alguém que não nos estende a sua de volta, nos sentimos menosprezados, desprezados por quem gostaríamos de ter por perto.
Além da profunda dor de não nos sentirmos aceitos por aqueles com quem temos (ou queremos ter) um laço afetivo, a rejeição acaba nos levando a fazer uma avaliação pior de nós mesmos. Descarregamos toda essa frustração na maneira como nos enxergamos e como achamos que o mundo nos vê.
Quando sentimos na pele a dor de sermos rejeitados, fazemos de tudo para evitar que ela aconteça novamente. Fugimos de emoções e situações parecidas por medo de que aquela dor se repita. O medo se torna uma presença constante, como se todas as outras pessoas também fossem nos rejeitar, como se todas as nossas atitudes fossem dignas de serem refutáveis. Incorremos em uma generalização a partir de poucos episódios traumáticos, associando-os a todas as circunstâncias que possuem semelhança com aqueles eventos