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O quintal de Joaquina: Poesias
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O quintal de Joaquina: Poesias
E-book302 páginas1 hora

O quintal de Joaquina: Poesias

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Sobre este e-book

Poemas de Sérgio Perazzo. Em viagem a Portugal, o autor, ao ver os quintais lusitanos em uma viagem de trem, lembra do quintal de sua avó, Joaquina, no Rio de Janeiro. A emoção e a saudade provocam a escrita do poema que nomeia o livro. "Percorrendo este quintal, entre um poema e outro, repeti, de propósito, em versos diferentes, algumas palavras, formas de expressão, metáforas, ditongos, fonemas, exclamações, com novas combinações, rimas, não rimas e sabores, novos significados, como pegadas que pontuassem um pequeno itinerário na terra do quintal de Joaquina. Mapa poético com medo de me perder na trajetória encurvalada do tempo. Luz relativa." (Perazzo).
IdiomaPortuguês
EditoraFiloCzar
Data de lançamento13 de out. de 2021
ISBN9786587117706
O quintal de Joaquina: Poesias

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    O quintal de Joaquina - Sergio Perazzo

    Sergio Perazzo

    O QUINTAL DE JOAQUINA

    Poesias

    São Paulo

    FiloCzar

    2021

    Copyright © 2019 by FiloCzar

    Editores: César Mendes da Costa e Monica Aiub da Costa

    Revisão: Monica Aiub da Costa

    Projeto Gráfico: Fernanda Aiub

    FiloCzar

    Rua Durval Guerra de Azevedo, 511

    Parque Santo Antônio – São Paulo – SP

    CEP: 05852-440

    Tels.: (11) 5512-1110 – 99133-2181

    E-mail: [email protected]

    www.editorafiloczar.com.br

    Clara

    estrelas

    floração

    nuvens

    redemoinho

    cata-vento

    adolescência

    Rosana

    Sempre

    Para o Nando

    que se foi sem avisar

    Para o Paulo

    que ficou comigo

    vendo o jogo do Vasco

    pela janela do hospital

    AGRADECIMENTOS:

    Aos companheiros da Sobrames

    (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores)

    de novo.

    Aos meus editores, Monica e César.

    À Cecilia e à Rosa, pela logística e incentivo.

    SUMÁRIO

    NOTA DO AUTOR

    DO ARRIMO DA JURA DE SÃO TOMÉ

    SOMBRA

    URGÊNCIA

    POEMA DO SACO DE VÔMITO

    APENAS

    O ARTESÃO DE PALAVRAS

    RODOVIA COLOMBO

    CONTOPOEMA

    IBERO-AMÉRICA

    IBERO-AMÉRICA

    O QUINTAL DE JOAQUINA

    EVOÉ MOMO!

    A GORDA DE ALGODÃO

    CORREDOR

    POR TER VIVIDO

    BEM-ME-QUER

    PONTEPOENTE

    DE DEUS

    FOGO!

    MARIA-FUMAÇA

    AMPLO ESPECTRO

    PÓS-GRADUADO

    DOMADOR

    CUÍCA

    FLORADA

    ECOS DA CHUVA

    MARE NOSTRUM

    ESTÁTUA EQUESTRE

    CONVITE

    O CEGO DO METRÔ

    RUGA

    GOYA

    DE A A Z

    PÁSSAROS E ASAS

    RIGOR MORTIS

    SUBURBIA

    ASTROLOGIA

    TIO CHIQUINHO

    SINAIS

    ILE-DE-FRANCE

    PADARIA

    GOTA

    O SOBREVIVENTE DE HIROSHIMA

    SER FELIZ

    STRIPER

    GLOSSÁRIO DA MALANDRAGEM

    LUVA

    AO SOM DE BALALAICAS

    LUTHIER

    PIMENTA E PERFUME

    TRIO

    ALMOÇO

    QUARTO DE HOTEL

    CICLISTAS

    SOL DE INVERNO

    FORMAS DE SOLIDÃO

    LAVA-LOUÇAS DA PAIXÃO

    A FADISTA NUA

    LUZ ACESA

    DOR RENASCIDA

    COMO DEVORAR COM PELE E OSSO UMA DONZELA INCAUTA

    JANELAS

    FILHOS DE NINGUÉM

    O MAR SOU EU

    BICHO

    SEM FERMENTO

    SONHO ATEMPORAL

    SONETO DESCONJUNTO DE UM RESTO DE SONO

    POLIANA

    RIO REVISITADO

    DESENCAIXES

    OS DE ABRIL

    AO MEU AMOR DE JULHO A JULHO

    NEM TÃO CEDO, NEM TÃO TARDE

    QUANDO

    NA NOITE

    SEIVA

    ORA PRO NOBIS

    ALBATROZ

    MULHER A LA VINICIUS

    LÁGRIMAS, RISO, OFERENDAS

    ÚTERO, IGARAPÉS, VELAS, NAVEGAÇÕES

    MAIS VALIA

    PAREDES

    NO RÁDIO DO CARRO

    DE MINAS

    NÃO FAÇA DO VERSO UMA AVENTURA CURTA

    MANHÃS E TARDES

    VIDA, POESIA E PROSA

    SOBRE O AUTOR

    NOTA DO AUTOR

    Joaquina por si só era um poema. Esta minha avó materna loura e de intensos olhos azuis passou a infância pisando em uvas e nuvens nos tonéis de vinho de uma quinta em Portugal.

    Ainda menina veio morar perto do Jóquei Clube no Rio de Janeiro, ao lado do Jardim Botânico, onde ainda se erguia a Palmeira Imperial plantada pelo próprio D. João VI. Diz a História.

    Em 1920 era operária numa fábrica de tecidos como no samba de Noel, pertinho da loja de ferragens onde trabalhava o moço que seria o meu avô.

    Seu pai proibiu que participasse de um concurso de canto. Não era coisa para moça de família. Que pena! Ganharia de barbada.

    De pura alegria e, talvez, por vingança, vivia a cantar com sua voz límpida e afinada no reino em que era soberana, a cozinha de sua casa. Era lá que eu passava horas a fio escutando encantado, também aprendendo a cantar e beliscando sobras de massa de bolo, de pastel, de rosquinhas portuguesas, filhoses, num clima de contos de fadas em plena era do rádio que, aliás, ficava ligado o dia inteiro na Rádio Nacional.

    Passou o tempo. Cresci. Joaquina morreu bem velhinha com todos os dentes e os olhos azuis.

    Em 2001 conheci, enfim, Portugal de mil histórias, viagens da imaginação, para onde, apesar do desejo, minha avó nunca mais voltou.

    Estava em Póvoa do Varzim, terra natal de Eça de Queiroz, num congresso ibero-americano de psicodrama. Fui conhecer Braga, cidade vizinha onde nasceu Joaquina.

    Viajava de trem pelos seus arredores quando, de repente, fui tomado por uma emoção imensa. A linha férrea passava pelos fundos das casas. Por seus quintais. Reconheci nestes quintais lusitanos o quintal carioca da casa da minha avó no bairro do Jardim Botânico. Era neste quintal que eu brincava diariamente e que hoje não existe mais, engolido por um prédio de apartamentos de classe média alta.

    Estava lá, em Braga, intacto, o quintal de Joaquina. A saudade da minha avó tinha transplantado para o Rio um pedaço de Portugal. Pelo menos assim viu meu coração. Como nunca estive na Suécia, na Turquia, no Japão, não sei se todos os quintais do mundo se parecem. Talvez sim, talvez não, se assim não fosse quem sabe não se chamassem quintais. Ou talvez fosse só a minha saudade a colorir a memória.

    Na volta escrevi um poema, O quintal de Joaquina. Vem daí o título do livro.

    Talvez porque eu conheça tão pouco do mundo, a minha imaginação viaja por mim. Nos meus 12 ou 13 anos, uma lição do livro de francês, no ginásio, descrevia minuciosamente os prédios e monumentos da Place de la Concorde, que eu sabia de memória, embora até hoje eu não conheça Paris. Só de fotos, de livros e de filmes.

    Para ilustrar uma parcela destas minhas viagens imaginárias, selecionei aqui dois e-mails que enviei para dois amigos.

    O primeiro, para o Pedro (Pedro Henrique Bernardes Rondon), amigo de muitos anos, também psiquiatra e colega de turma de faculdade, irmão há quase meio século, que chega a saber de cor poemas de Guerra Junqueiro e a gramática de trás pra diante.

    Neste e-mail falo um pouco da poesia Do arrimo da jura de São Tomé, que abre este livro:

    Não leia este e-mail antes de ler a poesia de São Tomé que te mandei.

    Você sabe que sou um homem tão urbano quanto você. Se vou a algum sítio ou chácara me atrapalho até com um simples besouro. O linguajar regional eu conheço mais de literatura e de ambulatórios médicos que o conhecimento rico e aprofundado do Guimarães Rosa, tema de nossas conversas no hospital. Tudo isso para dizer que com esta poesia eu quis fazer uma brincadeira e uma experiência. Daí São Tomé. Ver para crer.

    A linguagem é pretensamente regional. Caipira. Não é difícil entender duzinferno, sombração, penadas, etc. No entanto, contei, primeiro, com o fato de que o brasileiro raramente vai ao dicionário e que o tom geral da poesia e o seu ritmo absorvem as palavras desconhecidas apenas pelo seu som e cada um compõe um sentido próprio dentro de sua cabeça. É como um acorde, em que se ouve o conjunto de sons e não nota por nota discriminadas.

    E assim semeei palavras que inventei simplesmente e que não têm sentido nenhum e que por isso não estão no dicionário: coricó(esta ainda guarda relação com galo); aricó, boió(justificadas pela proximidade com aboio); sobrancê, sobrançá(lembrando um pouco o som de comando das quadrilhas de festas juninas); colangê, colanjá, carenca de corungá, longéu(parentesco com os sons da poesia); tribinités açordados(a única açorda que eu conheço é comida portuguesa); paralimo, torniqueados, etc.

    O próprio título é completamente maluco e sem relação com o texto propriamente dito, a não ser o seu significado paralelo de ver para crer referente à forma como construí a poesia e que o leitor não pode adivinhar nem deduzir só pelo seu arranjo de palavras.

    Eu acho que o homem de cidade vai engolir sua ignorância regional sem nem mesmo beber água. O de Minas vai achar que é linguagem de Mato-Grosso. O de Mato-Grosso, Goiás. E assim por diante.

    Mostrei para uma colega de consultório, que é nordestina, e perguntei chocado: Você que é de lá de cima não sabe o que é ‘paralimo de jiraus’? Estou me divertindo com esta história até hoje.

    O segundo e-mail escrevi para a Mirela (Mirela Duran Boccardo), amiga muito mais jovem e que poderia ser minha filha, ex-aluna muito querida, portanto, um pouco filha mesmo. É uma resposta à pergunta que ela me fez, O que inspirou o poeta?, quando lhe enviei A fadista nua, uma das últimas deste livro:

    Minha inspiração é a mais variada coisa. Desta vez, veio à minha cabeça um título somente:A fadista nua. Por que? Não sei. No dia seguinte me vieram juntos A mosca azul de Machado de Assis e O corvo de Edgard Allan Poe. Assim isolados.

    Coloquei no papel só isso. Depois resolvi juntar os três elementos, sentei e comecei a construir a poesia.

    Juntei coisas do fado: Teus olhos castanhos têm encantos tamanhos, são pecados meus(Olhos castanhos); Maria Severa, a primeira fadista portuguesa; Ai, Mouraria, que fala da Rua das Palmas do bairro Mouraria, onde moram ou moravam os mouros em Lisboa; Uma casa portuguesa, com certeza(Casa portuguesa, que não é bem um fado por sua alegria destoante).

    Acrescentei coisas da vida e da cultura portuguesas: os palácios de Sintra, que têm chaminés incríveis; o Jardim da Preta, que é o jardim cercado de muros de um destes palácios;

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