Adiei começar essa “matéria” até quanto pude, mas é chegado o dia do fechamento e preciso encará-la. Na verdade, assim que soube que faria a revista em seu lugar, pai, eu tive a certeza de que precisaria convidar alguns de seus grandes amigos da área, para que eles pudessem contar as histórias de vocês e, com elas, ter a chance de fazer mais uma despedida. De antemão, desculpo-me com aqueles a quem releguei, pois seria impossível colocar todos neste conteúdo. Cada texto que recebi, encheu, ainda mais, o meu coração de amor. Todos se dedicaram, em um momento de extrema fragilidade, para tentar demonstrar o que você significou na vida de cada um, como você foi o responsável por mudar trajetórias e impulsionar carreiras. Você foi um gigante, um verdadeiro desbravador da gastronomia e dos vinhos. Teve suas confrarias fora do país, recebeu prêmios, mas é inestimável a sua contribuição para o Brasil gastronômico. Sempre em busca de novos talentos, que pudessem fazer a diferença, um apaixonado, entusiasta incansável dessa área.
Em casa, como filho, marido, pai, irmão, sogro, genro, tio foi a pessoa de maior coração que todos já conheceram. Nascido no dia 12 de outubro, tinha mesmo a alma de uma criança e se iluminava ao lado de outra. Sempre pronto para “assumir” o problema do outro, sim, porque você fazia virar seu o problema e não media esforços para resolvê-lo. Você foi a pessoa mais leal e confiável de nossa vida. Como foi importante para você que sua família estivesse sempre plena e feliz. Isso lhe tirava o sono. Como era importante para mim nossas trocas, diárias, mesmo que fossem para falar de amenidades. Você sempre confortava o meu coração.
Pai, você e a mamãe nos ensinaram demais, prepararam a mim e a meus irmãos para a vida, nos orientaram em tudo o que puderam, nos fizeram pessoas honestas, com um coração parecido com o de vocês. Mas, faltou-nos ensinar a viver sem você. Está impossível, de verdade, sem o seu sorriso, suas piadinhas infames, seus resmungos, sem assistir aos jogos com você ou receber seus vídeos tentando fazer nossos cachorros, o Dexter e o Abel, serem amigos. Precisou você ir, para que começasse um a defender o outro, acredita? Agora eles não se desgrudam e ficam cuidando de nós.
Depois do meu discurso na festa da Prazeres da Mesa, uma semana após a sua partida, as pessoas já perceberam que, se deixarem, escrevo por horas sobre você. Mas preciso dar espaço aos profissionais da gastronomia, que tanto são gratos a você. Por aqui, na sua família, continuamos sentindo um orgulho enorme de tudo o que você representa, no tempo presente sim, porque, para nós, você vai sempre representar. Eu, que morria de orgulho de ir às suas premiações, assistir às suas entrevistas, e ouvir as pessoas lhe elogiando, estou confortando o meu coração com as inúmeras homenagens que você tem recebido, com as mensagens de pessoas tocadas por você. Estamos lhe levando em nossos corações, pai, a mamãe, o JP, o Ju, eu e toda a nossa família. Prometemos levar adiante o seu legado de vida e sermos felizes, como você sempre idealizou.
Antes de passar a bola para essa galera de peso que escreveu sobre você, quero lhe contar que achei o meu caderninho, aquele que eu carregava comigo quando íamos aos restaurantes. Eu devia ter uns 10 anos e já queria seguir os seus passos. Escrevia sobre cada detalhe dos pratos, do restaurante, e sempre visitava o banheiro, lembra? Ao final, dava uma nota à casa e já planejava as nossas próximas descobertas. Nunca vou me esquecer do dia em que você disse: “Filha, vai fazer medicina. Jornalismo não dá dinheiro, só trabalho. Olha a minha vida, nunca tenho tempo, estou sempre em fechamento, é isso o que você quer?” É isso, pai, sempre quis ser parecida com você, que só foi motivo de orgulho. Agora, segura o coração daí do céu, que esses chefs capricharam. Alguns escolheram seus pratos preferidos em seus restaurantes, outros relembraram histórias engraçadas, mas todos, já estão cheios de saudade. Nós amamos você!
ALDER LOPES
REI DAS CARNES (SOROCABA, SP)
Tive um primeiro encontro natural com