O segredo - As aventuras do caça-feitiço - vol. 3
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Sobre este e-book
Numa noite escura e fria, o Caça-Feitiço recebe uma visita inesperada e indesejável. Tom não sabe por que o estranho perturbou tanto o seu mestre, que anuncia a partida imediata para sua casa de inverno em Anglezarke. A casa é desolada, assustadora, situada perto das trevas e com um porão lotado de feiticeiras e ogros aprisionados.
À medida que os meses de inverno transcorrem, Tom começa a descobrir dados sobre o passado do seu mestre e a identidade do misterioso visitante que, aparentemente, é inimigo declarado do Caça-Feitiço.
Estarão as sombras do passado alcançando seu mestre? Que perigos ameaçarão Tom quando os segredos que seu mestre tenta esconder finalmente forem revelados?
O segregro, como os livros anteriores, transcorre no Condado, desta vez no Sul, próximo à sinistra charneca de Anglezarke. Os lugares descritos saíram da imaginação do autor, mas o túmulo no alto do sítio, conhecido como a Broa, é um famoso ponto de referência em Lancashire. Há 20 anos, o autor passou ali uma noite fria e enfrentou uma tremenda ventania. Caiu uma tempestade violenta nessa noite!
Em uma visita à escola do condado de Anderton, em 2004, Joseph Delaney prometeu a um grupo de crianças que incluiria a aldeia de Adlington em um futuro livro. Foi o que fez, e a alameda Babylon, ao lado da escola, é onde está situada a serralheria de Andrew, o irmão ficcional do Caça-Feitiço.
Joseph Delaney
Joseph DELANEY is the author of the internationally best-selling The Last Apprentice series, which is now a major motion picture, Seventh Son. He is a former English teacher who lives in the heart of boggart territory in Lancashire, England. His village has a boggart called the Hall Knocker, which was laid to rest under the step of a house near the church.
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Avaliações de O segredo - As aventuras do caça-feitiço - vol. 3
328 avaliações14 avaliações
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5I continue to enjoy this series. In this one, the reader finds out more about the Spook's back story and Tom conquers his fears (mostly) and becomes stronger. The story moves quickly and keeps the reader engaged.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5It's hard not to enjoy these books. They have a mix of of action, horror, and Gothic atmosphere that is just simply too hard to pass up once you read one of them. Thomas Ward's adventures as the seventh son of a seventh son continue, forming a story arc that only gets more intriguing as it goes on.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5More Spook's Business This is the 3rd installment of the The Last Apprentice/ Wardstone Chronicles series. The Spook and his apprentice Tom, go to Anglezarke to spend the winter and deal with more Spook's business. They are faced with a failed, out-of-control, apprentice-turned Necromancer, one of the Spook's old flames who is also a Lamia witch and an irritating Boggart set on destruction. Tom also deals with some family issues and life changes in this one.
All of the books so far have been pretty action packed and very entertaining. I'm listening to the audio books and they are fairly short so you can breeze right through them. I'm kind of disappointed though that my library doesn't have an audio version of the next book, Attack of the Fiend, so looks like I'll have to read it. I've gotten so use to the voices of the characters, Tom, the Spook & Alice, that it won't be the same without the narration. : ( - Nota: 5 de 5 estrelas5/5Yes! I adore this. Only so far is the setting up of the plot. Delaney is one of the only authors I've came across in some time that takes 90 pages to set this up. I'm really wondering what this character Morgan's agenda is?
Not only does Alice insert herself into the thick of the situation. Tom has had a lot to deal with in this installment of the series. It was a bit depressing by many of the events. I did find the settings of this book very realistic and interesting. The bitter harshness and barrenness of the landscape of the bound Lamia witches was disgusting. I, in a way couldn't sympathize with Meg, a Lamia witch.
I found myself baffled by the character Morgan. This man was utterly delusional. Completely obsessed with summoning the old winter god Golgoth. I was reminded by the Great Loaf being compared to a fairy mound.
I really hope that anyone who reads gets the chills, and enjoys this thrilling spooky installment. - Nota: 3 de 5 estrelas3/5I enjoyed books 1 and 2 enough to plan on finishing the series, but I had a hard time finishing this installment. Characters' abilities to think and act seemed too driven by the need for suspense and drama. For instance, the feral witch is weak and slow without nourishment. She is also slow when sated, because it suits the author. Thomas sometimes acts independently when it suits, and other times obeys without thought or struggle. I got very impatient with the author's manipulations. It doesn't make for good story telling.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5Another good read. I really enjoy the ambivalence of Alice and Meg, although Tom is a bit clueless about Morgan's threat.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5Tom is about to experience his first winter as the Spook's apprentice and take his first trip to Anglezarke, the Spook's winter home. Anglezarke is nothing like Chipenden, it is a dangerous and cold place where the dark is felt the strongest. It's going to be a long winter.When a stranger appears on the Spook's doorstep darkness follows and secrets that have been long buried will surface to bring havoc to Tom and those he cares most about. But the Spook is not the only one who has been keeping secrets, Tom risks loyalty to the Spook and his friendship with Alice when forced to keep secrets of his own.The Spook's Secret will reveal a whole new perspective to the Spook that will leave you guessing as to who and what to believe. The darkest story yet in this richly chilling and exciting series, The Wardstone Chronicles is a series that can not be overlooked for a witty, dark and thrilling read. Each book just gets better and better...
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5SUMMARY: The Last Apprentice: Night of the Soul Stealer is about a boy named Tom
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5Much, much, MUCH better than the Spook's Curse, thank goodness! In this third installment of the Wardstone Chronicles, Thomas Ward and his master, the Spook, head over to Anglezarke for the winter season. While there, Tom uncovers more secrets about the Spook's shady past, including a menacing former apprentice bent on destroying the Spook - and the whole County. Delaney's flair for descriptions has returned full force! Like in The Spook's Apprentice, the setting played a substantial role in the shaping of the story, and Delaney has an obvious knack for truly illustrating each scene. - One of the things I didn't like about its immediate predecessor was the impertinent and condescending tone of the story - in other words, there was way too much of an agenda. Here, for the most part, we go back to a basic story: there's action, there are revelations, there's character development, there's intrigue and suspense, and true to the series' overall nature, a bit of horror too. Now I will say that the Designated Supernatural Creature of this story is almost identical to the Designated Supernatural Creature of The Spook's Curse: a mysterious and seemingly all-powerful spirit-figure that is likened to a pagan god. That bit of repetition was a drawback, as was the Spook's continued crabbiness to all things "churchy". - But the bread-and-butter of Spook's Secret lies in the revelations: we learn so much about the Spook's past here and it's a rollercoaster of a story, too. There were so many twists and turns (like on a rollercoaster - only without the tummyache) that every time I thought I had things figured out, I found myself mistaken. I liked the Spook, then I hated him, then I liked him again, etc. - The best characters, though, are Tom and Alice. Tom especially goes through so much in this book, and it's so enjoyable to watch him mature! I'm ready for him to start aging, though. The three books so far have amounted to only a year's time and I personally like series books to get a bit more sequential: 1 year between each installment seems ideal, not one-right-after-the-other. I think going into Book #4 he'll be 14...hopefully. I want him to grow up! - So much, much better than The Spook's Curse, but still not as good as Apprentice. The series lacks a Main Villain character, so there seems like a lack of focus...idk, that may just be me. And Delaney still is really ambiguous when it comes to philosophical stuff... and that gets on my nerves. For example, he's got this godlike spirit that is powerful enough to "snuff out your soul," yet he's pretty much at the beck-and-call of human summonings? That's awkward, Mr. Delaney! Make up your mind! Oh, well. Mr. Delaney probably knows that I'll keep reading the series anyway, cause I'm a sucker for Tom Ward, haha. On to the next!
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5This is the third book in the Last Apprentice series by Joseph Delaney. This was an excellent book and a great follow up to the first two books.In this book Gregory and Tom move to the Spook's winter home after being contacted by a man named Morgan, who is a former apprentice of the Spook's. In Gregory's winter home Tom learns many more secrets about Gregory's past and finally gets to meet the mysterious Meg. Things get more dangerous than Tom ever expected when Morgan starts to dabble in some seriously dangerous magic. Can Tom and Gregory make it through the winter and survive?This book was great. Easy to read, well-written, fast-paced, and suspenseful. This was a great "horror" book for kids. Tom is a likable character that you can't help rooting for and Alice is also very engaging. Meg made for an interesting addition to the book too. It was great to learn more about Gregory's past and it was also wonderful to spend more time with Tom's Mam.I eagerly await the next book. What will happen next as the dark continues to rise? What will Tom find in the secret room that Mam has left him? Will Alice be able to stay on the path of the light? I am excited to find out. I love these books there are just such a nice pleasant, and spooky, read.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5This book was pretty good. I think in this book, you found out more about the Spook's personal life. In this book, the Spook, Tom and Alice moved to the Spook's winter home in Anglezarke. But before they left, the Spook recieved a mysterious letter from Morgan, a failed apprentcie of the Spook. The letter deeply disturbed the Spook, and Tom is curious about why. When they get to their winter home, Tom discovers yet another thing about the Spook. Meg, a lamia witch, and the Spook's past love, is free to roam the house. Soon one thing leads to another, and Tom is in trouble again!
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5While I haven't finished reading this book yet, I have read the first two of the series, and while they are on the dark side, and I can't read all of them without some books in between, these books are gripping. The black and white illustrations by Patrick Arrasmith compliment the book so well. This is yet another British piece of work. I must say a Golden Age seems to be in progress for children's literature in Britain, and while this is for mature children, or more appropriately young adults, it is wonderful. It's a scary read for young children.
- Nota: 3 de 5 estrelas3/5A change of scenery and an encounter with one of the Spook's old apprentices lead to more secrets being unearthed about the Spook's past. Tom still hasn't learned to do as he's told, and bad decision-making abounds.
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5I've truly enjoyed this series. It feels original and fresh. It is also chilling, yet not too scary. I like the fact that Tom is not perfect. He makes mistakes, but is always willing to take responsibility for them.
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O segredo - As aventuras do caça-feitiço - vol. 3 - Joseph Delaney
Marie
O PONTO MAIS ALTO DO CONDADO
É MARCADO POR UM MISTÉRIO.
CONTAM QUE ALI MORREU UM HOMEM
DURANTE UMA GRANDE TEMPESTADE, QUANDO
DOMINAVA UM MAL QUE AMEAÇAVA O MUNDO.
DEPOIS, O GELO COBRIU A TERRA E, QUANDO
RECUOU, ATÉ AS FORMAS DOS MORROS E OS
NOMES DAS CIDADES NOS VALES TINHAM
MUDADO. AGORA, NO PONTO MAIS ALTO DAS
SERRAS, NÃO RESTA VESTÍGIO DO QUE OCORREU
NO PASSADO, MAS O NOME SOBREVIVEU.
CONTINUAM A CHAMÁ-LO DE
WARDSTONE,
A PEDRA DO GUARDIÃO.
O VISITANTE INESPERADO
Era uma noite escura e fria de novembro, e Alice e eu estávamos sentados à lareira da cozinha com o meu mestre, o Caça-feitiço. O tempo não parava de esfriar e eu sabia que qualquer dia o Caça-feitiço decidiria que estava na hora de partirmos para sua casa de inverno
na desolada charneca de Anglezarke.
Eu não tinha pressa de viajar. Era aprendiz do Caça-feitiço desde a primavera apenas e nunca vira a casa de Anglezarke, mas a curiosidade, com certeza, não estava tirando o meu sossego. Eu me sentia confortável e aquecido ali em Chipenden, onde teria preferido passar o inverno.
Levantei os olhos do livro de verbos latinos que estava tentando aprender e os olhos de Alice encontraram os meus. Ela estava sentada em um banquinho perto da lareira. Sorriu para mim e retribuí seu sorriso. Alice era a outra razão por que eu não queria partir de Chipenden. Era a pessoa mais próxima de uma amiga com quem eu já convivera, e nos últimos meses tinha salvado a minha vida em várias ocasiões. Eu realmente apreciava sua companhia. Ela tornara a solidão da vida de um caça-feitiço mais suportável. Meu mestre, porém, me havia dito que, em breve, ela iria nos deixar. Ele jamais confiara em Alice porque a garota pertencia a uma família de feiticeiras. Achava também que ela começaria a me distrair das minhas aulas, e assim sendo, quando o Caça-feitiço e eu fôssemos para Anglezarke, ela não nos acompanharia. A pobre Alice não sabia disso e eu não tinha coragem de lhe contar, e por enquanto estava apenas aproveitando mais uma das nossas preciosas noites juntos em Chipenden.
Esta, no entanto, acabou sendo a nossa última do ano: enquanto Alice e eu líamos sentados à luz das chamas e o Caça-feitiço cochilava em sua cadeira, o toque do sino com que o convocavam rompeu a nossa paz.
Ao som indesejável, meu coração foi parar nas botas. Só podia significar uma coisa: serviços de caça-feitiço.
Ninguém jamais passava do portão da casa dele. Primeiro porque teria sido estraçalhado pelo seu ogro de estimação que guardava os jardins. Então, apesar da pouca claridade e do vento frio, era minha obrigação descer até o círculo dos salgueiros onde ficava o sino para ver quem pedia ajuda.
Eu estava me sentindo aquecido e confortável depois de um jantar mais cedo e o Caça-feitiço deve ter percebido minha relutância em descer. Balançou a cabeça como se estivesse desapontado comigo, seus olhos verdes faiscando ferozes.
— Vá lá embaixo, rapaz — rosnou. — É uma noite de mau tempo e seja quem for não vai querer ficar esperando!
Quando me levantei e apanhei a capa, Alice me deu um breve sorriso de solidariedade. Sentia pena de mim, mas era também perceptível que estava feliz de poder continuar ali sentada, aquecendo as mãos enquanto eu tinha que sair naquele vento inclemente.
Fechei bem a porta dos fundos ao passar e, carregando uma lanterna na mão esquerda, atravessei a passos largos o jardim oeste e desci o morro, o vento fazendo o possível para arrancar a capa das minhas costas. Por fim, cheguei aos salgueiros, no cruzamento de duas estradinhas rurais. Estava escuro, e a minha lanterna projetava sombras inquietantes, os troncos e ramos se entrelaçando e formando pernas, braços, garras e caras de gnomos. Por cima da minha cabeça, os galhos nus dançavam e sacudiam ao vento, produzindo um som triste e lamurioso, como o de um banshee irlandês, o espírito que agoura uma morte iminente.
Essas coisas, porém, não me preocupavam muito. Já estivera antes naquele lugar depois de anoitecer, e nas minhas viagens com o Caça-feitiço já topara com coisas que fariam seus cabelos ficarem em pé. Portanto, não iria me incomodar com sombras; esperei que alguém muito mais nervoso do que eu viesse ao meu encontro. Provavelmente, o filho de um sitiante enviado pelo pai afligido por fantasmas e desesperado para obter ajuda; um rapaz que estaria apavorado só de parar a um quilômetro da casa do Caça-feitiço.
Não era, contudo, um rapaz que estava em pé entre os salgueiros, e parei admirado. Ali, sob a corda do sino, havia um vulto alto, de capa preta e capuz, que segurava um bastão na mão esquerda. Era outro caça-feitiço!
O homem não se mexeu, por isso fui ao seu encontro, parando a uns dois passos de distância. Tinha os ombros largos e era ligeiramente mais alto do que meu mestre, mas não vi quase nada do seu rosto porque o capuz encobria suas feições. Ele falou, antes que eu pudesse me apresentar:
— Com certeza, ele está se aquecendo ao pé da lareira enquanto você está aqui no frio — disse o estranho, com a voz carregada de sarcasmo. — Continua o mesmo!
— O senhor é o sr. Arkwright? — perguntei. — Sou Tom Ward, aprendiz do sr. Gregory...
Era um bom palpite. Meu mestre, John Gregory, era o único caça-feitiço que eu conhecia pessoalmente, mas eu sabia que havia outros, e que o mais próximo era um tal Bill Arkwright, que exercia seu ofício para além de Caster e cobria as áreas fronteiriças do norte do Condado. Então, era muito provável que aquele homem fosse o Arkwright — embora eu não pudesse imaginar por que estaria vindo visitar o meu mestre.
O estranho afastou o capuz do rosto, revelando uma barba negra, salpicada de fios brancos, e uma cabeleira densa e rebelde, grisalha nas têmporas. Seus lábios sorriam, mas seus olhos continuavam duros e frios.
— Quem eu sou não é da sua conta, garoto. Mas seu mestre me conhece o suficiente!
E, dizendo isso, meteu a mão dentro da capa, puxou um envelope e entregou-o a mim. Eu o revirei, examinando-o rapidamente. Fora lacrado com cera e estava endereçado a John Gregory.
— Muito bem, vá andando, garoto. Entregue-lhe a carta e avise que nos reencontraremos em breve. Estarei esperando por ele em Anglezarke!
Obedeci, enfiei o envelope no bolso da calça, mais do que satisfeito de ser dispensado, porque não me sentia à vontade na presença daquele desconhecido. Depois de me virar e dar alguns passos, a curiosidade me fez olhar para trás. Para minha surpresa, não havia sinal do homem. Embora não tivesse havido tempo para mais do que alguns passos, ele já desaparecera entre as árvores.
Intrigado, me afastei depressa, ansioso por voltar para casa e sair do vento frio e cortante. Fiquei imaginando o que conteria a carta. Percebera um tom de ameaça na voz do desconhecido e, pelo que dissera, não me parecera que ele e meu mestre teriam um encontro agradável!
Com esses pensamentos girando na cabeça, passei pelo banco onde o Caça-feitiço me dava aulas quando o tempo estava suficientemente ameno e cheguei às primeiras árvores do jardim oeste. Ouvi, então, uma coisa que me fez prender a respiração de medo.
Um urro de raiva, de perfurar os tímpanos, ecoou da escuridão sob as árvores. Era tão feroz e aterrorizante que me imobilizei. Era um rosnado entrecortado que podia ser ouvido a quilômetros de distância, e eu já o conhecia. Sabia que era o ogro de estimação do Caça-feitiço se preparando para defender o jardim. Mas do quê? Haveria alguém me seguindo?
Virei-me e ergui a lanterna examinando, ansioso, a escuridão. Talvez o desconhecido estivesse às minhas costas! Eu não enxergava nada, por isso apurei os ouvidos, procurando captar o menor som. Ouvi apenas o vento sussurrando entre as árvores e o latido distante de um cão em algum sítio. Por fim, satisfeito por não estar sendo seguido, continuei o meu caminho.
Mal acabara de dar o primeiro passo, tornei a ouvir o rugido raivoso, dessa vez bem mais próximo. Os pelinhos da minha nuca ficaram arrepiados e senti muito mais medo, porque percebi que a fúria do ogro era dirigida a mim. Mas por que estaria enraivecido comigo? Eu não fizera nada errado.
Fiquei absolutamente parado, sem me atrever a dar mais um passo, temendo que o menor movimento pudesse fazê-lo me atacar. Era uma noite fria, mas o suor brotava na minha testa e me senti realmente vulnerável.
— Sou eu, o Tom! — gritei, finalmente, para as árvores. — Não há nada a temer. Estou levando uma carta para o meu mestre...
Ouvi em resposta um rosnado, dessa vez bem mais brando e distante, e, depois de alguns passos hesitantes, prossegui apressado. Quando cheguei a casa, o Caça-feitiço estava parado à porta dos fundos, empunhando o bastão. Ouvira o ogro e saíra para investigar.
— Você está bem, rapaz? — perguntou.
— Estou — gritei. — O ogro se enfureceu, mas não sei por quê. Agora já se acalmou.
Com um aceno de cabeça, o Caça-feitiço voltou para dentro de casa, encostando seu bastão atrás da porta.
Quando, por fim, eu o segui à cozinha, encontrei-o parado de costas para a lareira, aquecendo as pernas. Tirei o envelope do bolso.
— Tinha um desconhecido lá embaixo vestido como um caça-feitiço — informei, estendendo-lhe o envelope. — Não quis me dizer quem era, mas pediu para lhe entregar isto...
Meu mestre se adiantou e puxou o envelope da minha mão. Imediatamente a vela na mesa começou a bruxulear, o fogo quase se extinguiu na lareira e uma friagem repentina invadiu a cozinha, sinais de que o ogro continuava nem um pouco satisfeito. Alice mostrou-se assustada e quase caiu do banquinho. O Caça-feitiço, no entanto, de olhos arregalados, rasgou o envelope e começou a ler.
Quando terminou, fechou a cara e enrugou a testa, aborrecido. Resmungando alguma coisa baixinho, atirou a carta à lareira, onde ela pegou fogo e se enrolou enegrecida antes de cair no fundo da grelha. Olhei-o espantado. Seu rosto revelava fúria e ele parecia tremer da cabeça aos pés.
— Vamos partir para a minha casa em Anglezarke amanhã cedo, antes que o tempo piore — disse ele com rispidez, olhando diretamente para Alice —, mas você só irá nos acompanhar parte do caminho, garota. Vou deixar você perto de Adlington.
— Adlington? — repeti. — É onde o seu irmão Andrew está morando, não é?
— É, rapaz, é, mas ela não vai ficar com Andrew. Há um casal de sitiantes nos arredores da aldeia que me deve alguns favores. Eles tiveram muitos filhos, mas infelizmente apenas um sobreviveu. E, para aumentar a tragédia, uma filha morreu afogada. Atualmente, o rapaz trabalha longe de casa a maior parte do tempo, a saúde da mãe está começando a fraquejar e seria bom que ela pudesse contar com alguma ajuda. Então, essa será a sua nova casa.
Alice olhou para o Caça-feitiço, seus olhos se arregalando de espanto.
— Minha nova casa? Isso não é justo! — exclamou. — Por que não posso ficar com o senhor? Não fiz tudo que me pediu?
Alice não saíra da linha desde o outono, quando o Caça-feitiço a deixara morar conosco em Chipenden. Ganhara o próprio sustento, copiando alguns livros da biblioteca do Caça-feitiço, e me contara um bom número de coisas que a tia, a feiticeira Lizzie Ossuda, lhe ensinara para eu as registrar, ampliando assim os meus conhecimentos sobre a cultura das feiticeiras.
— É, garota, você fez o que eu pedi, não tenho queixas — respondeu o Caça-feitiço. — O aprendizado para se tornar um caça-feitiço é difícil, e a última coisa de que Tom precisa é ser distraído por uma garota como você. Não há lugar para uma mulher na vida de um caça-feitiço. Na verdade, esta é a única coisa que temos em comum com os padres.
— Mas por que tudo isso de repente? Tenho ajudado Tom, não o distraí! — protestou Alice. — E não poderia ter trabalhado com maior aplicação. Alguém lhe escreveu dizendo o contrário? — quis saber, zangada, apontando para a lareira onde caíra a carta queimada.
— Quê? — perguntou o Caça-feitiço, erguendo as sobrancelhas intrigado, mas em seguida percebeu a que se referia Alice. — Não, claro que não. Mas o conteúdo de uma carta particular não é da sua conta. Enfim, já decidi — disse ele, fixando nela um olhar duro. — Portanto, não precisamos continuar discutindo. Você começará uma vida nova. Será uma boa oportunidade para encontrar o seu lugar no mundo, garota. E será também a sua última chance!
Sem dizer mais uma palavra nem me olhar, Alice deu as costas e subiu a escada, pisando com força para se recolher. Levantei-me para segui-la e lhe oferecer algum consolo, mas o Caça-feitiço me mandou ficar.
— Espere aqui, rapaz! Precisamos conversar antes de você subir essa escada; portanto, sente-se.
Obedeci e me sentei junto à lareira.
— Nada que você disser vai me fazer mudar de ideia! Aceite isto agora e tudo será mais fácil — disse o Caça-feitiço.
— Pode ser — respondi —, mas havia maneiras melhores de dizer isso a Alice. Com certeza, o senhor poderia ter lhe dado a notícia um pouco mais gentilmente.
— Eu tenho mais com que me preocupar do que com os sentimentos de garotas — respondeu o Caça-feitiço.
Não adiantava discutir com ele quando estava assim, por isso poupei meu fôlego. Eu não estava satisfeito, mas não havia nada que pudesse fazer. Sabia que meu mestre tomara a decisão havia semanas e não iria mudá-la agora. Pessoalmente, eu não entendia por que ele precisava ir a Anglezarke. E por que íamos partir tão subitamente? Era alguma coisa ligada ao desconhecido e o que estava escrito na carta? O ogro reagira de modo estranho também. Era porque sabia que eu ia levando a carta?
— O estranho afirmou que veria o senhor em Anglezarke — eu disse sem pensar. — Ele não me pareceu muito amigável. Quem era?
O Caça-feitiço me encarou e, por um momento, pensei que não fosse me responder. Então, balançou novamente a cabeça e resmungou alguma coisa baixinho antes de falar.
— Chama-se Morgan e, no passado, foi meu aprendiz. Um aprendiz fracassado, eu poderia acrescentar, embora tenha estudado comigo durante quase três anos. Você mesmo sabe que nem todos os meus aprendizes se formam. Ele simplesmente não estava à altura do ofício e ficou com raiva, só isso. Você não o verá quando estivermos lá, mas se o vir, fique longe. Ele é pura encrenca, rapaz. Agora, suba: como já disse, vamos viajar amanhã muito cedo.
— Por que precisamos passar o inverno em Anglezarke? — perguntei. — Não poderíamos ficar aqui? Não teríamos mais conforto nesta casa? — Aquilo simplesmente não fazia sentido.
— Você já fez perguntas suficientes para um dia! — disse o Caça-feitiço, sua voz revelando irritação. — Mas vou lhe dizer o seguinte. Nem sempre fazemos coisas porque queremos. E se é conforto que você quer, então está no ofício errado. Goste ou não goste, as pessoas precisam de nós, particularmente quando anoitece. Somos necessários, por isso vamos. Agora, vá se deitar. E nem mais uma palavra!
Aquela não era a resposta completa que eu esperara, mas o Caça-feitiço tinha uma boa razão para tudo que fazia e eu era apenas um aprendiz que tinha muito a aprender. Então, concordei obediente e fui me deitar.
O ADEUS A CHIPENDEN
Alice estava sentada na escada em frente ao meu quarto me esperando. A vela ao seu lado projetava sombras fugidias na porta.
— Não quero ir embora daqui, Tom — disse ela se levantando. — Tenho sido feliz aqui. Essa tal casa de inverno seria a segunda opção melhor. O Velho Gregory não está me tratando direito!
— Lamento e concordo com você, Alice, mas ele já decidiu. Não tem nada que eu possa fazer.
Notei que ela havia estado chorando, mas não sabia o que acrescentar. De repente, Alice pegou a minha mão esquerda e apertou-a com força.
— Por que ele sempre tem que agir assim? — perguntou. — Por que detesta tanto as mulheres e as garotas?
— Acho que elas o magoaram no passado — expliquei com brandura. Recentemente eu ficara sabendo de umas coisas sobre meu mestre, mas até aquele momento guardara-as para mim. — Olhe, Alice, vou lhe contar uma coisa, mas tem de me prometer que não contará a mais ninguém e jamais deixará o Caça-feitiço saber que eu lhe contei!
— Prometo — sussurrou ela de olhos arregalados.
— Você se lembra de quando voltamos de Priestown e ele quase a colocou na cova?
Alice assentiu. Meu mestre resolvia o problema das feiticeiras malevolentes prendendo-as, vivas, em covas. Ia fazer o mesmo com Alice, embora ela realmente não merecesse esse tratamento.
— Você lembra o que gritei? — perguntei-lhe.
— Não ouvi muito bem, Tom. Eu estava me debatendo aterrorizada, mas sei que o que você disse foi importante, porque ele mudou de ideia. Sempre lhe agradecerei pelo que fez.
— Eu disse que ele não tinha posto a Meg em uma cova; portanto, não devia fazer isso com você!
— Meg? — interrompeu-me Alice. — Quem é Meg? Nunca ouvi falar dela antes...
— Meg é uma feiticeira. Li tudo sobre ela em um dos diários do Caça-feitiço. Quando ele era moço se apaixonou por Meg. E acho que ela partiu o coração do meu mestre. E mais, ela continua viva em algum lugar de Anglezarke.
— Meg de quê?
— Meg Skelton...
— Não! Deve ser engano. Veio do estrangeiro, a Meg Skelton veio do estrangeiro. Faz anos que voltou para a terra dela. Todo mundo sabe disso. Era uma feiticeira lâmia e quis voltar a viver com o povo dela.
Eu tinha aprendido muito sobre feiticeiras lâmias em um livro da biblioteca do Caça-feitiço. A maior parte vinha da Grécia, terra onde minha mãe também tinha vivido, e, em seu estado selvagem, elas se alimentavam de sangue humano.
— Bom, Alice você tem razão, ela não nasceu no Condado, mas o Caça-feitiço diz que ela continua morando aqui e que vou conhecê-la este inverno. Pelo pouco que sei, talvez ela esteja até morando na casa dele...
— Não seja bobo, Tom. Isso é muito pouco provável, não acha? Que mulher de juízo perfeito moraria com ele?
— Ele não é tão ruim assim, Alice — lembrei. — Nós dois estamos vivendo na casa dele há semanas e temos sido bem felizes!
— Se a Meg estiver morando na casa dele em Anglezarke — disse Alice, com um sorriso maldoso no rosto —, não se surpreenda se estiver enterrada em uma cova.
Retribuí seu sorriso.
— Bem, vamos descobrir quando chegarmos lá — respondi.
— Não, Tom. Você vai descobrir. Eu estarei morando em outro lugar. Esqueceu? Mas não é tão mau assim, porque Adlington é perto de Anglezarke. É só uma caminhada mínima, e você poderia ir até lá me visitar, Tom. Você faria isso? Assim eu não me sentiria tão sozinha...
Embora não tivesse certeza se o Caça-feitiço me deixaria visitá-la, eu queria que ela se sentisse melhor. De repente, lembrei-me de Andrew.
— E o Andrew? Ele é o único irmão do Caça-feitiço que sobrou, e está morando e trabalhando em Adlington agora. Com certeza, morando tão perto, meu mestre vai querer fazer uma visita de vez em quando. E, provavelmente, me levará junto. Apareceremos com frequência na aldeia, tenho certeza, então haverá muitas oportunidades para nos vermos.
Alice sorriu e soltou minha mão.
— Então, não deixe de fazer isso, Tom. Vou ficar esperando por você. Não me desaponte. E obrigada por me dizer aquelas coisas sobre o Velho Gregory. Apaixonado por uma feiticeira, hein? Quem poderia imaginar que fosse capaz disso?
Em seguida, ela apanhou a vela e subiu a escada. Eu ia, de fato, sentir saudades de Alice, mas arranjar uma desculpa para vê-la talvez fosse mais difícil do que eu afirmara. O Caça-feitiço seguramente desaprovaria. Não tinha tempo para mulheres e me alertara em várias ocasiões que tomasse cuidado com elas. Eu contara a Alice o suficiente sobre meu mestre, talvez até demais, mas tinha havido muitas outras mulheres no passado do Caça-feitiço, além da Meg. Ele também se envolvera com uma tal Emily Burns, que já era noiva de um dos seus irmãos. O irmão estava morto, mas o escândalo dividira a família e causara muitos problemas. Diziam que Emily também vivia perto de Anglezarke. Toda história tem dois lados e eu não pretendia julgar o Caça-feitiço até saber mais a respeito; contudo, já era o dobro das mulheres que a maioria dos homens do Condado tinha em uma vida inteira; o Caça-feitiço, sem dúvida, vivera um bocado!
Fui para o meu quarto e pus a vela sobre a mesinha de cabeceira. Próximo à sua base havia muitos nomes rabiscados por aprendizes anteriores. Alguns tinham concluído com sucesso o aprendizado com o Caça-feitiço: o nome de Bill Arkwright estava ali no canto superior esquerdo. Muitos haviam fracassado antes de completar o tempo de treinamento. Alguns tinham até morrido. O nome de Billy Bradley estava no canto oposto. Fora o aprendiz imediatamente anterior a mim, mas cometera um engano e um ogro arrancara seus dedos. Billy morrera de choque e hemorragia.
Examinei atentamente a parede naquela noite. Pelo que sabia, todos que tinham morado naquele quarto haviam gravado seus nomes, inclusive eu. O meu era muito pequeno porque não sobrara muito espaço, mas estava ali. No entanto, pelo que eu estava vendo, faltava um nome. Examinei a parede cuidadosamente para me certificar, e eu tinha razão: não havia nenhum Morgan
gravado na parede. Por quê? O Caça-feitiço tinha dito que o rapaz havia sido seu aprendiz; então, por que não acrescentara seu nome?
Que havia de tão diferente com Morgan?
Na manhã seguinte, depois de um rápido café da manhã, fizemos as malas e nos preparamos para partir. Pouco antes de sairmos, voltei rapidamente à cozinha para me despedir do ogro de estimação do Caça-feitiço.
— Obrigado por todas as refeições que preparou — eu disse para o ar.
Não estava muito seguro se o Caça-feitiço teria gostado dessa ida especial à cozinha para agradecer: ele estava sempre falando que não se devia dar intimidade aos empregados
.
Enfim, sei que o ogro apreciou o elogio, porque, mal terminei de falar, ouvi um ronronar satisfeito embaixo da mesa da cozinha e tão sonoro que os tachos e panelas começaram a vibrar. Em geral, o ogro permanecia invisível, mas ocasionalmente assumia a forma de um gatão ruivo.
Hesitei, reuni coragem e acrescentei, sem saber muito bem qual seria a reação do ogro ao que eu tinha a dizer:
— Lamento ter enraivecido você ontem à noite. Eu só estava cumprindo a minha obrigação. Foi a carta que o incomodou?
O ogro não falava; portanto, não iria me responder com palavras. O instinto me fizera perguntar aquilo. Uma sensação de que era o mais correto.
De repente, desceu uma corrente de ar pela chaminé, um leve cheiro de fuligem, e um pedaço de papel saiu voando da lareira e caiu em cima do tapete à minha frente. Aproximei-me e o apanhei. Estava queimado nas bordas e parte dele se desfez entre meus dedos, mas eu sabia que era o que tinha restado da carta entregue por Morgan.
Havia apenas algumas palavras no papel chamuscado, e estudei-as algum tempo para conseguir decifrá-las.
Devolva o que me pertence ou vou fazê-lo se arrepender de ter nascido. Comece por
Era só o que havia escrito, mas o bastante para eu entender que Morgan estava ameaçando meu mestre. A que estaria se referindo? O Caça-feitiço tinha tirado alguma coisa dele? Alguma coisa que legitimamente lhe pertencia? Eu não